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Texto: MAESTRI, Mário. “O gaúcho era gay?”. In. MELLO, Caren.

Quando o arco-íris
assombra. Arquipélago – Revista de livros e idéias. Porto Alegre: IEL, 2006.

Breve análise histórica acerca do hipotético gaúcho histórico homossexual.

O autor começa com o relato de dois casos de homofobia e covardia: um ativista gay no
desfile em comemoração à Semana Farroupilha, em 2002, foi agredido pelos demais
participantes por carregar a bandeira do arco-íris; e um rapaz expulso de um CTG de
Passo Fundo, em 2005, por usar um brinco na orelha.

Tais atos materializam a angústia do movimento tradicionalista diante da simples su-


gestão de que o gaúcho do passado … tenha conhecido, mesmo marginalmente, orien-
tação homossexual. Afinal, esse personagem mítico é sempre tido como muito, mas
muito macho – tanto, que essa macheza desbragada terminou virando motivo de joco-
sidade geral.

Assim, a questão que se impõe aqui é a seguinte: o gaúcho do passado … poderia ter
sido, eventualmente, gay?

Pode-se afirmar que a gauchada, como qualquer população masculina, em qualquer


local e época, era constituída por uma maioria heterossexual e uma minoria homossexu-
al. Tal afirmação é feita independentemente de qualquer estudo histórico sobre o as-
sunto, posto que, de acordo com especialistas, de quatro a quatorze por cento da popu-
lação masculina seria homossexual, … divergindo sobre as origens genéticas, psicoló-
gicas, sociais, etc. do fenômeno. Enquanto isso, o impulso homossexual derivativo nas-
ceria comumente do isolamento de população do mesmo sexo. As orientações sexuais
profundas e derivativas materializam-se no contexto de inúmeras e complexas deter-
minações sociais, culturais, etc.

Assim, o objetivo central do texto é desvelar como o gaúcho homossexual teria vivido
sua orientação homoerótica, nos diversos espaços geográficos e de tempo. Essa questão
torna-se ainda mais complexa devido ao fato de dispormos de informação histórica
positiva que pode sugerir … que as práticas homoeróticas não fossem incomuns entre a
população gaúcha heterossexual, devido precisamente às características singulares da
forma de vida e de produção desse habitante do pampa sul-americano.

Nessa altura do texto, o autor cita dois relatos feitos sobre o gaúcho, datados das primei-
ras décadas do século XIX: um escrito por José Feliciano Fernandes Pinheiro, nascido
em Santos, publicado sob o título de Anais da Província de São Pedro, e o outro do fran-
cês Nicolau Dreys, chamado Notícia descritiva da província do Rio Grande de São Pe-
dro do Sul.

O primeiro, após falar muito mal do povo dos pampas, propõe nada menos que, devido
à inércia da estância, o seu habitante conheceria a moleza, a ociosidade e a devassidão,
causas de miséria e, muita atenção, da baixa multiplicação da espécie humana.

Na mesma linha de raciocínio, o segundo propõe que o gaúcho literalmente não gostava
de mulher, devendo-se a isso sua baixa proliferação; para o francês, fenômeno positi-
vo, devido à fereza daquele tipo social.

Claro que tais afirmações não podem ensejar conclusões definitivas, mas servem de base
para o estudo.

O termo gaúcho denota um sujeito errante, vagabundo, sem raízes. Esse sujeito é neces-
sariamente homem – não existe gaúcha.

Com o tempo, o gaúcho foi incorporado à fazenda, como peão. Entretanto, estes dois
termos não devem ser confundidos. Foi só a partir de 1870 que o gaúcho foi definitiva-
mente apealado pela necessidade econômica à fazenda.

Se, nos campos abertos, o gaúcho podia fazer-se acompanhar por uma companheira,
em geral uma china, … ele era aceito na fazenda pastoril apenas como trabalhador
sem laços familiares.

Na fazenda, quem acasalava normalmente eram o fazendeiro, o capataz e o posteiro,


assegurando a baixa reprodução da mão de obra livre e escravizada necessária à pro-
dução pastoril. Já o peão permanecia solteiro, dormindo no galpão, ao pé do fogo ou,
mais tarde, em pequenos dormitórios coletivos.

A produção pastoril latifundiária e extensiva exigia escasso emprego de mão de obra,


determinando muito baixo acasalamento e reprodução dos trabalhadores livres - uma
realidade imposta pelo fazendeiro em detrimento das necessidades e anseios, consci-
entes e inconscientes, do gaúcho-peão.

Dreys estava certo em falar do gaúcho sem mulher, mas não ao sugerir que este não ti-
vesse simpatia pelo gênero feminino.

Todos esses fatores certamente causaram uma forte tensão na vida erótica dos peões e
gaúchos heterossexuais, raízes das conhecidas práticas zoofílicas.

Os tradicionalistas chegam a falar com carinho sobre tais práticas, mas desesperam-se
diante da simples menção a comportamentos homoeróticos. Isso deve-se em parte à fal-
sa associação necessária da homossexualidade masculina a comportamentos femini-
nos. Contudo, a feminização é apenas uma das formas de vivência da homossexualidade
masculina, dentre tantas outras. Ou seja: Trata-se, aqui, muito mais de um problema de
gênero do que, propriamente, de sexualidade.

É crível que o hipotético gaúcho homossexual vivesse ou reprimisse ... suas orientações
profundas, sem jamais deixar de ser e de se comportar como o gaúcho que era - sem
jamais deixar de ser muito, mas muito macho.

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