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Processo: 2004.82.00.012307-1
Natureza: Ação penal pública
Autor: MPF
Réus: Edmilson Marcondes dos Santos e Antônio José de Farias
S E N T E N Ç A1
RELATÓRIO
Consta da denúncia (f. 02-19) que o inquérito policial anexo à peça vestibular
constituiria parte de oitenta e oito procedimentos investigatórios instaurados para a
apuração da ocorrência de delitos no âmbito da PFN/PB. Diz o MPF que as principais
condutas praticadas pelos responsáveis – sempre mediante o recebimento de alguma
vantagem indevida como contraprestação – teriam sido as seguintes:
Salienta o MPF que o processo judicial instaurado para a apuração desse fato
(trata-se da ação penal n. 2003.82.00.010554-4, constando dos presentes autos, a f. 652-
749, cópia da denúncia) – considerado o “processo-mãe” – não contemplou a conduta de
todos os empresários beneficiados, que teriam fornecido vantagens indevidas em troca da
prática de (pelo menos) uma daquelas condutas irregulares acima noticiadas, dentre as
quais (destaca-se) a redução dos débitos tributários inscritos em dívida ativa para até um
Tratando do que seria o FATO 01, diz o Ministério Público em sua denúncia
que os débitos tributários inscritos em Dívida Ativa da União sob os números 42 2 97
001949-86, 42 2 98 000170-24 e 42 2 98 000171-05, todos em nome da empresa EPI –
EMPRESA PARAIBANA DE IRRIGAÇÃO, “foram fraudulentamente cancelados pelo ex-
servidor da Procuradoria da Fazenda Nacional, Ricardo Cezar Ferreira de Lima, matrícula n.
16503, conforme documentos de fls. 30/33”. Salienta que, conforme dados extraídos do
SERPRO, as citadas inscrições abrangem créditos de IRPJ relativos aos anos de 1989 a
1992, os quais teriam sido, por duas vezes, indevidamente cancelados pelo ex-servidor
Ricardo Cezar Ferreira de Lima, conforme tabela que apresenta na denúncia.
Referindo-se agora ao que chama de FATO 02, diz o MPF que as certidões
obtidas pelo denunciado Edmilson Marcondes dos Santos em nome da empresa EPI
EMPRESA PARAIBANA DE IRRIGAÇÃO LTDA. (CND’s n. 06155/97 e 01660/99) seriam
certidões de conteúdo falso, obtidas mediante fraude, conforme declaram os Ofícios n. 230
e 280/GAB/PFN/PB (f. 163 – inquérito). Além disso, o denunciado teria obtido a certidão n.
00597/98, subscrita por Antônio Tavares de Carvalho, em que se declarava a existência de
parcelamento em nome da empresa e a regularidade na respectiva quitação, o que se
revelou inverídico (cf. Ofício n. 280/GAB/PFN/PB – f. 163 – inquérito).
Edmilson Marcondes dos Santos apresentou sua defesa prévia (f. 1071-2),
negando a veracidade das acusações e indicando três testemunhas.
A testemunha Antônio Tavares de Carvalho foi dispensada pelo juízo (f. 1809)
após prorrogação do prazo requerido pela defesa para indicar-lhe o endereço sem que
houvesse qualquer manifestação.
Em alegações finais:
É o breve relato.
DECIDO.
FUNDAMENTAÇÃO
Desse modo, considero que ambos os delitos imputados aos réus sejam
conexos, vez que os últimos teriam sido praticados para garantir a execução do primeiro (o
que chamamos de conexão teleológica). A conexão, nesse caso, determina a modificação
da competência em favor do juízo federal, vez que a corrupção ativa teria sido praticada em
face de funcionário público federal (procuradores e servidores da Fazenda Nacional).
Além disso, consta dos autos que as certidões n. 1660/99 e n. 6155/97 foram
usadas perante a Delegacia Federal de Agricultura na Paraíba (f.162-7).
2 JOÃO BOSCO VIEIRA MARINHO afirmou que tinha conhecimento dos fatos exclusivamente pelo
que vira na imprensa. Trabalhou na empresa EPI do final dos anos 80 até o ano de 2001 mas não
tinha contato com as questões tributárias da empresa.
MÁRIO SOARES BORGES afirmou que não tinha conhecimento dos fatos narrados na denúncia, não
chegando sequer a tomar conhecimento do que teria sido o chamado “escândalo da PFN”. Trabalhou
no escritório de contabilidade de ANTÔNIO FARIAS, mas nunca teve acesso a dados tributários da
empresa EPI.
JOSÉ MARTINS DA COSTA disse não ter tido conhecimento dos fatos narrados na denúncia sequer
pela imprensa. Fora auxiliar administrativo da EPI e, embora fizesse pagamentos de DARF’s, afirmou
que não tinha conhecimento das questões tributárias da empresa.
GENILDO DE SOUSA COSTA, afirmou que tinha conhecimento do que tratava a imputação contida
na denúncia. Disse que o débito da empresa EPI estava sendo discutido judicialmente. Era diretor
administrativo-financeiro da EPI, afirmando que o responsável pela empresa era seu proprietário, o
réu EDMILSON MARCONDES DOS SANTOS. ANTÔNIO JOSÉ DE FARIAS era o único contador da
empresa.
ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU
Juiz Federal
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA
SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA
SEGUNDA VARA FEDERAL Página 12 de 23
depósitos não eram feitos por meios que facilitassem a identificação dos
depositantes. Outrossim, poucos dias após as reduções fraudulentas (sempre para
10%, 1,0% ou 0,1% do valor original), os débitos eram pagos pelo contribuinte e as
inscrições extintas em razão de pagamento – o que indicava a plena ciência dos
empresários beneficiados quanto ao exato momento das reduções fraudulentas.
Corrupção ativa
G) Por fim, a vítima não colaborou para o crime com o seu comportamento.
Assim, nos termos do CP, art. 333, parágrafo único, aumento a reprimenda
em 1/3 (um terço) e, desse modo, fixo a pena privativa de liberdade em 5 (cinco) anos e 4
(quatro) meses de reclusão, para cumprimento em regime inicial semi-aberto (CP, art. 33,
§2º, “b”).
G) Por fim, a vítima não colaborou para o crime com o seu comportamento.
dois anos previsto no art. 77 do Código Penal. Nessa linha, trago os seguintes precedentes
do Superior Tribunal de Justiça:
IV - Uma vez atendidos os requisitos constantes do art. 33, § 2º, "b", e § 3º, c/c o art.
59 do CP, quais sejam, a ausência de reincidência, a condenação por um período
superior a 4 (quatro) anos e não excedente a 8 (oito) e a existência de circunstâncias
judiciais totalmente favoráveis, deve o paciente cumprir a pena privativa de liberdade
no regime inicial semi-aberto (Precedentes).
V - Para que o réu seja beneficiado com a substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos, é indispensável o preenchimento dos requisitos objetivos e
subjetivos constantes do art. 44 do Código Penal, o que não ocorreu no caso
(Precedentes).
3. Ordem concedida. (HC 21681/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,
julgado em 17/06/2003, DJ 18/08/2003 p. 215) (grifado).
Observo que os crimes de corrupção ativa (CP, art. 333, parágrafo único) e
uso de documento ideologicamente falsificado (CP, arts. 304 c/c 299) foram praticados em
concurso material ou real de crimes e, dessa maneira, nos termos do que dispõe o art. 69 do
Código Penal, devem ser somadas as penas privativas de liberdade e as penas de multa
aplicadas.
DISPOSITIVO
b) Uma pena de multa de 120 (cento e vinte) dias-multa pela prática do crime
previsto no art. 333, parágrafo único, do CP (corrupção ativa) e uma pena de multa de 80
(oitenta) dias-multa pela prática do crime previsto no art. 304 c/c o art. 299 do CP (uso de
documento ideologicamente falso). Uma vez que, no concurso de crimes, as penas de multa
são aplicadas distinta e integralmente (CP, art. 72), consolido a pena de multa em 200
(duzentos) dias-multa, ficando estabelecido o valor do dia-multa em 1/2 (um meio) do salário
mínimo vigente na data do fato (1999), devidamente corrigido até o pagamento.
Custas ex lege.