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A Economia na era das redes, depois da primeira onda.

Outubro de 2002

"Eu so aquelle occulto e grande cabo


A quem chamais vós outros Tormentorio,
Que nunca a Ptolomeu, Pomponio, Estrabo,
Plinio, e quantos passaram, fui notorio:
Aqui toda a africana costa acabo
Neste meu nunca visto promontorio,
Que pera o polo antartico se extende,
A quem vossa ousadia tanto offende."

Canto V, verso L, de Os Lusíadas


(Luís de Camões)

Não se assustem senhores com os alarmistas de plantão: Wall Street não se


tornará um perigo para a atual fase de prosperidade da economia norte-
americana e, por tabela, para a economia mundial. O que está ocorrendo é
uma natural correção de rumo, esperada desde o início deste processo por
todos os que têm uma base mínima de conhecimento sobre os fatores que
impulsionam a chamada ´Nova Economia´, que de nova não tem nada, nem
o espírito superficial, especulativo e muitas vezes irresponsável dos
chamados analistas financeiros.

Como se sabe, o atual ciclo de crescimento da economia norte-americana já


tem mais de dez anos. São diversos os fatores que deflagraram este
processo. Mas o que mais nos interessa é o principal deles: o acelerado
desenvolvimento das redes de comunicação cuja síntese, mas não ainda o
fator mais importante, é a Internet. Desde o final dos anos setenta, as redes
de comunicação tiveram um impulso tecnológico comparável ao que o
domínio da energia teve para a era industrial. Saímos de circuitos
analógicos fixos para tecnologias que comutam pacotes digitais de
informação.

Na economia norte-americana, a mais desregulamentada e por isso mesmo


a mais organizada do mundo, o efeito imediato deste avanço foi o início da
introdução das redes de comunicação nas empresas. Começando pelo
mercado financeiro e os setores mais organizados e sofisticados da
economia, tendo como objetivos básicos, num primeiro momento, reduzir
custos humanos e acelerar os processos operacionais vigentes. Assim que
esta fase começou a se consolidar, os efeitos passaram a ser sentidos em
outras áreas, na medida em que as redes de comunicação internas das
empresas induziam verdadeiras revoluções nos processos operacionais e ao
mesmo tempo permitiam formas jamais pensadas de controle de estoques,
relação com fornecedores e principais famílias de clientes em alguns
setores. Além disso, alavancaram definitivamente a utilização da
informação como insumo básico para a produção de riquezas.

Isso fez com que alguns paradigmas mudassem radicalmente. Uma


comparação possível é com o processo de expansão da economia mundial
no século XV.O jogo das trocas, para usar o tratamento do historiador
Fernand Braudel em sua magistral análise da história do capitalismo, estava
saturado no mundo de então cujo principal espaço era a bacia do
Mediterrâneo. Portugal, na porta do Atlântico, naturalmente investiu na
necessária expansão usando esse espaço, então pouco explorado. Durante
séculos avançou pela borda conhecida, o "bombordo", de onde se via a
costa da África. O objetivo era dobrar o Cabo das Tormentas e com isso
abrir as portas para um novo surto de expansão, de crescimento do jogo das
trocas. Sob os auspícios do Infante Dom Henrique, Bartolomeu Dias foi
autor deste fato heróico abrindo as portas para uma nova era de esperança.
Daí a renomeação do cabo para "Boa Esperança".

Estamos de novo numa dessas fases da história marcadas pela conquista de


novas fronteiras para o crescimento econômico e o progresso em todos os
sentidos da humanidade. A única diferença é que, agora, a expansão não é
mais no espaço físico, é no espaço virtual. E isso já se faz sentir na
velocidade em que a base monetária circula, passa de mão em mão, o que é
também fator de riqueza. Estamos, ainda, na fase das tentativas para
estabelecer o rumo definitivo para esta arrancada. E estes períodos são
extremamente propícios para a ação dos oportunistas e dos especuladores.
Apesar do espetacular avanço das tecnologias digitais nos últimos anos, a
estrada ainda não está pronta. Assim como, antes de atravessar o Cabo das
Tormentas no século XV, o Estado português teve que investir mais de um
século em aquisição de conhecimento e tecnologia, nós também, agora,
teremos que investir na aquisição de conhecimento e de tecnologia.

Não serão necessários cem anos de investimento, mas o espaço a ser


percorrido tem o mesmo significado. A velocidade do mundo
contemporâneo é outra, assim como o volume de investimentos e o impacto
dos novos processos no mundo conhecido. É esta correção de rumos que
está ocorrendo no momento. A exuberante economia norte-americana e seu
principal vetor, que é a riqueza de seus cidadãos, estão descobrindo que a
estrada não está pronta e que por isso o valor atribuído às StarMedias da
vida; às "ponto com", com suas promessas mirabolantes de resultados que
virão, mas em outro tempo. O futuro será delas, o presente é das empresas
de infra-estrutura. As responsáveis pelas bússolas, pelos sextantes, pelas
velas, por todos os requisitos técnicos para tornar esse mundo futuro
possível. Ainda não é o tempo das caravelas, as "ponto com" do nosso
tempo.

No curto prazo, as empresas que se valorizarão são os construtores das


ferramentas, da estrutura da estrada, a Internet e seus sucedâneos: os
fabricantes de roteadores, chaveadores, servidores, softwares de suporte e
aplicação, além da própria estrutura da estrada em si que são as fibras
ópticas e sua canalização.

O crescimento da disponibilidade de capacidade de comunicação, a banda


passante, só tem paralelo na também espetacular queda cada vez mais
visível de seus custos. Padrões de tarifação hoje em voga, como tempo de
conexão e distância, serão cada vez menos importantes na definição do
custo total da transmissão de informações. O meio de comunicação será o
que o mar era para as caravelas e estará disponível para todos que
souberem manejá-lo e utilizá-lo em seu proveito.

Todos estes avanços espetaculares não teriam o menor sentido sem o


computador pessoal, outra conquista básica e outro campo no qual teremos
que investir ainda algum tempo em aquisição de conhecimento e
desenvolvimento de tecnologia. Conhecimento no sentido de utilização da
ferramenta pelo público e tecnologia no seu sentido estrito, de "conjunto de
conhecimentos, especialmente princípios científicos, que se aplicam a um
determinado ramo de atividade" e cujo desenvolvimento barateia a
ferramenta e facilita a sua utilização pelo público em geral.

O que a capacidade de organização e tratamento da informação pelo


computador pessoal trouxe aos indivíduos é inestimável. Foi o que
possibilitou, de fato a participação ativa de uma grande parcela da
sociedade no processo através das redes de comunicação. A tendência é que
o computador pessoal agregue mais e mais serviços domésticos,
terminando por incorporar nosso telefone, fax, organização e execução de
tarefas, agenda e lazer - onde se incluem música, imagem e interação.

Claramente, esta indústria também continuará se valorizando, mesmo que


hoje a maior parte da humanidade ainda não tenha acesso ao seu produto, o
computador, e a pequena parcela que já o possui se utiliza dele com o medo
que nos causa o desconhecimento. O frenético desenvolvimento a que
assistiremos nos próximos anos fará com que o preço desta ferramenta
despenque aceleradamente e a tornará totalmente amigável até para os
analfabetos.

Enquanto isso, o mercado estará em sua fase inicial de formação. É isso


que os "otários" manejados pelos analistas de mercado estão descobrindo e
é por isso que estamos vivendo a drástica mudança de rumos, que se traduz
nas bruscas flutuações da Nasdaq. Não é mais possível valorizar as
empresas "ponto com" por múltiplos de receita. Os analistas e bancos de
investimento, que realizam seu lucro na operação de venda do resultado
futuro, não conseguem convencer os investidores, que teoricamente são os
companheiros de viagem dos construtores das empresas que comporão o
futuro, que as estapafúrdias projeções de receitas poderão vir a se realizar
no curto prazo.

Fazendo outro paralelo histórico, estamos no mesmo ponto em que o gênio


português estava quando chegou à terra que chamaram de Vera Cruz, em
1500. O foco continuava na Ásia e não haviam nem excedentes humanos
nem vontade política para colonizar a terra descoberta. A expansão do
Império Espanhol e as notícias de ouro e prata no Oeste do continente
descoberto despertaram o interesse do Estado português que, através do seu
gênio para a expansão geográfica mapeou nos 30 anos seguintes o Peabiru,
o conjunto de caminhos indígenas que lhes permitiam ir do Atlântico aos
Andes, ao Pacífico e à Amazônia. Foi esta formidável rede que permitiu a
expansão do domínio português sobre o Brasil nos 300 anos subsequentes,
primeiro através do bandeirismo e depois através do próprio Estado
brasileiro.

É este o tempo que estamos vivendo. As barreiras que os novos


desbravadores têm que vencer são equivalentes às enfrentadas pelos
desbravadores daquela época. Como agora, foi se formando uma nova
mentalidade baseada nas conquistas da economia dominante, nas
conquistas do Estado português. E ninguém abre mão do poder de graça, o
que explica os conflitos que se foram formando entre os autores da
conquista e o poder instituído, tanto naquela época quanto hoje. Na versão
atual, este conflito se dá entre os detentores do poder na economia física,
que têm medo do futuro ainda que este medo signifique a perda da
oportunidade de continuar indo adiante, e os agentes que intuíram o
processo de mudança.

Todos estes revolucionários avanços tecnológicos levaram o ambiente de


negócios a se caracterizar pelo que o laboratório de mídia do MIT, o Media
Lab cujo papel na economia contemporânea é semelhante ao da Escola de
Sagres na economia européia do século XV, chamou de "movimento das
grandes convergências". São elas: a convergência entre pesquisa e
desenvolvimento; a convergência entre redes de comunicação e mercados,
cada vez mais difíceis de se distinguir; a convergência entre precificação e
mecanismos de relação comercial com o mercado; a convergência entre
design e engenharia; a convergência entre produto e serviço; a
convergência entre conteúdos e transações; a convergência entre front e
back office. Quem trabalha em empresas virtuais de informação desde a
década de oitenta vive esta situação em toda a sua plenitude, assim como
muitas das empresas construtoras da infra-estrutura.

É evidente que estes movimentos têm impactos ainda impossíveis de serem


mensurados em toda a sua magnitude na estrutura da economia conhecida.
Isso se acentua porque existem dois tipos clássicos de profissionais: os que
focaram sua formação na conquista de ferramentas que lhes permitiriam
dominar estruturas conhecidas e maduras e os que focaram sua formação na
aquisição do conhecimento que lhes permitiria acompanhar processos.
Naturalmente, o primeiro tem mais dificuldade para se conscientizar do que
Walter Bender, diretor do Media Lab, nos explica: "há duas revoluções
fermentando. A primeira é uma revolução de comunicação interpessoal. A
segunda revolução nao é de tecnologia, mas de epistemologia e
aprendizado. Construcionismo, aprender fazendo; é a revolução de Dewey,
Piaget e Papert. O aprendizado acontece melhor não no espaço formal da
sala de aula. Ele acontece em aplicações concretas. Eis porque devemos
buscar construir ambientes para fazer". Não é esta a lógica do mundo
tradicional de negócios, mundo acostumado com empreendimentos com
break-even point e pay backs previsíveis. E o primeiro profissional se
formou com esta preocupação.

Foi este cenário em formação que permitiu os negócios milionários nestes


primeiros anos da era das redes de comunicação. Negócios montados em
equivalentes dos barcos venezianos e genoveses. Negócios calcados no
desconhecimento do público e na sua natural curiosidade pelo novo e que
por questões circunstanciais puderam ser altamente alavancados neste
primeiro momento. Mas negócios vazios, negócios que não suportam uma
análise mais criteriosa. Ainda assim, também eles acabarão por dar a sua
contribuição ao processo. Aplicativos, idéias novas que serão assimiladas
pelas caravelas do futuro, quando a estrada estiver pronta e sustentar de
fato ações em larga escala de comércio virtual e outras formas de relação
econômica que surgirão nos próximos quinze anos, o tempo necessário para
a era das redes sair da sua primeira infância, passar pela adolescência e
entrar finalmente na fase de amadurecimento.
Mas o futuro será montado pelos desbravadores. Pelos que tiveram
coragem de ir em frente com empresas virtuais não oportunistas. Com
empresas que se aproveitaram e se aproveitam destes primeiros anos de
estrada esburacada, o conjunto de tecnologias que compõem hoje a
Internet, e de um veículo precário, os atuais computadores, para organizar
conteúdos que podem acelerar todo o processo ao serem utilizados pelos
setores mais estruturados e sofisticados da nossa sociedade. Oferecendo
cada vez mais os aplicativos interativos para formar as chamadas
comunidades de interesse procurando agregar valor ao chamado comércio
virtual. É este o modelo de negócio possível para as "ponto com", as
caravelas do futuro, equipadas com velas latinas a prova de todos ventos,
com o sextante e a bússola para manterem firmemente o rumo na direção
do futuro.

Bons ventos!

(*) Rodrigo Lara Mesquita é jornalista, diretor da Radiumsystems.


(www.peabirus.com.br)

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