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SEGUNDA-FEIRA
– Trabalho e oração.
O Senhor procura-os no meio da sua tarefa quotidiana, tal como fez com os
Magos ao chamá-los por meio daquilo que lhes podia ser mais familiar: o brilho
de uma estrela; tal como o Anjo chamou os pastores de Belém, enquanto
cumpriam o seu dever de guardar o rebanho, para que fossem adorar o
Menino-Deus e acompanhassem Maria e José naquela noite...
Desde o momento em que nos decidimos a ter Cristo por centro da nossa
vida, tudo o que fazemos é afectado por essa decisão. Devemos perguntar-nos
se somos conscientes do que significa termos sido chamados para crescer na
amizade com Jesus Cristo precisamente no lugar em que estamos.
II. O SENHOR PROCURA-NOS e envia-nos ao nosso ambiente e à nossa
profissão. Mas quer que agora esse trabalho quotidiano seja diferente.
“Escreves-me na cozinha, junto ao fogão. Está começando a tarde. Faz frio. A
teu lado, a tua irmãzinha – a última que descobriu a loucura divina de viver a
fundo a sua vocação cristã – descasca batatas. Aparentemente – pensas – o
seu trabalho é igual ao de antes. Contudo, há tanta diferença! – É verdade:
antes “só” descascava batatas; agora, santifica-se descascando batatas”4.
Para nos santificarmos através dos afazeres do lar, das gazes e das pinças
do hospital (com esse sorriso habitual para os doentes!), no escritório, na
cátedra, dirigindo um tractor, limpando a casa ou descascando batatas..., o
nosso trabalho deve assemelhar-se ao de Cristo – a quem pudemos
contemplar na oficina de José há poucos dias – e ao trabalho dos Apóstolos
que hoje, no Evangelho da Missa, vemos ocupados em pescar. Devemos fixar
a nossa atenção no Filho de Deus feito Homem enquanto trabalha e perguntar-
nos: que faria Jesus no meu lugar? Como realizaria as tarefas que me
absorvem?
O Evangelho diz-nos que o Senhor fez tudo bem feito5, com perfeição
humana, sem coisas mal acabadas. Entregaria as encomendas no prazo
combinado; arremataria o seu trabalho de artesão com amor, pensando na
alegria dos seus clientes ao receberem peças simples, mas perfeitas; chegaria
cansado ao fim do dia... Além disso, Jesus executou ainda as suas tarefas com
plena eficácia sobrenatural, pois ao mesmo tempo, com esse trabalho,
realizava a redenção da humanidade, unido a seu Pai por amor e com amor, e
unido aos homens por amor deles também6.
III. PARA UM CRISTÃO que vive de olhos postos em Deus, o trabalho deve
ser oração, pois seria uma pena que só descascasse batatas, em vez de
santificar-se enquanto as descasca bem; deve ser uma forma de estar com o
Senhor ao longo do dia.
Orar é conversar com Deus, elevar a alma e o coração até Ele para louvá-lo,
agradecer-lhe, desagravá-lo, pedir-lhe novas ajudas. Pode-se fazê-lo por meio
de pensamentos, de palavras, de afectos: é a chamada oração mental, que
deve estar presente nas próprias orações vocais. Mas pode-se fazê-lo ainda
através de acções capazes de mostrar a Deus quanto o amamos e quanto
necessitamos d’Ele. Neste sentido, também é oração todo o trabalho bem
acabado e realizado com senso sobrenatural8, isto é, com a consciência de se
estar colaborando com Deus na perfeição das coisas criadas e de se estar
impregnando todas elas com o amor de Cristo, completando assim a sua obra
de redenção realizada não só no Calvário, mas também na oficina de Nazaré.
O cristão que estiver unido a Cristo pela graça converte as suas obras rectas
em oração. Mas o valor dessa oração que é o trabalho dependerá do amor que
puser ao realizá-lo, isto é, da intenção com que o executar. Quanto mais
actualizar a intenção de convertê-lo em instrumento de redenção, não só o
realizará com outra perfeição humana, como será maior a ajuda que prestará a
toda a Igreja.