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BAHIA
Marcos Queiroz*
Maria Raquel Mattoso Mattedi**
RESUMO EXECUTIVO1
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As informações aqui apresentadas referem-se à sistematização dos dados relativos aos Formulários de
Entrevistas aplicados nos domicílios que compuseram a amostra aleatória trabalhada. Além deste
instrumento de pesquisa foram preenchidas uma Ficha de Observação e desenhado um croqui dos
domicílios pesquisados.
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Até três salários mínimos.
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Bairros selecionados a partir do PEMAS-SSA: Engenho Velho da Federação; Uruguai; Pirajá;
Liberdade; Macaúbas; Lapinha/Soledade; Vale das Pedrinhas; Boca do Rio; Paripe; Mata Escura; São
Marcos; Pau da Lima; Praia Grande; Ondina e São Lázaro; Mussurunga; Castelo Branco; Nova Brasília e
Calabar.
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Salário Mínimo de Referência: R$ 260,00.
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para 46% dos casos se trata, ainda, de uma ocupação parcial, com possibilidades futuras
de ampliação (Gráfico 10). Observa-se também que cerca da metade dos domicílios, ou
seja, 49%, já apresentam uma expansão vertical da área ocupada. Mais da metade dos
domicílios (64%) visitados possuí um andar, enquanto cerca de um quarto, ou 25%, dois
andares. Apenas 55% das casas cadastradas têm a sua frente voltada diretamente para a
rua, sendo alto o número de casas geminadas, tanto do lado direito como do esquerdo,
correspondendo a 35% do total, em ambos os casos (Gráfico 11).
Quanto à localização dos domicílios nos terrenos, observa-se que 31,6% dos
domicílios ocupam o integralmente o terreno. Constatou-se que, do conjunto, 36% dos
domicílios se encontravam em situação de risco. Destes, 62% foram assim classificados
por estarem construídos em áreas íngremes ou de encostas; 25% próximos à linha de
alta tensão (Mata Escura) e, aproximadamente 6% (Baixa da Égua e Praia Grande), em
áreas de mananciais (Gráfico 12 ). Cerca de 68% dos moradores de encostas, não
utilizam qualquer tipo proteção contra deslizamentos de terra.
O estudo dos elementos arquitetônicos usados preferencialmente pelos
moradores na parte frontal da casa mostra que 16% dos domicílios possuíam alpendre
ou varanda; 16% muro ou cerca; 13% grades; 12% escadas de acesso; 4% platibandas e
1% usa combogós (Gráfico 13). Quanto às questões construtivas, podemos afirmar que
o índice de situações de risco, e de problemas técnicos, como se esperava, é muito
grande. Ainda que consideremos que nem todos os autoconstrutores possuem
experiência suficiente para detectar todos eles e nos informar sobre aqueles que a
simples observação não assinala. O número de entrevistados do sexo feminino, ou
esposas dos responsáveis de fato pela construção ocultou, ainda, um certo número de
falhas técnicas construtivas, mas para a meta deste trabalho os problemas detectados
foram grandes o suficiente para que alguma soluções sejam buscadas. Para que
conseguissem atender às suas demandas familiares, dentro das condições locais e
tentando chegar mais perto possível de seus anseios, os autoconstrutores precisaram
recorrer a soluções nada seguras em um grande número dos domicílios pesquisados. Em
outras situações o número de cômodos-quartos era insuficiente. E em outros, ainda,
havia quarto suficiente para os moradores dormirem, mas não para as demais atividades
domésticas de reprodução social.
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no mesmo bairro ou em outros. Do conjunto 16% possuía área útil superior a 70m2,
46% com área compreendida entre 41 e 70m2, e 38%, igual ou inferior a 40m2.
Apresentam-se a seguir, as figuras 15;16 e 17, relativas ao tempo de residência
da família no domicílio, ao tamanho do domicílio, ao local de moradia anterior da
família e à área útil da casa.
A Construção - Analisando-se o tempo de construção dos domicílios estudados
verifica-se uma correspondência entre o tempo da construção e o tempo de residência
nos domicílios, uma vez que é muito comum a família morar no local durante o período
em que a casa está sendo erguida, fato este que pode se manifestar de forma diferente
quando as habitações são adquiridas via mercado imobiliário formal. Do total, 67% dos
domicílios possuíam pilares de sustentação feitos de concreto, sendo insignificante o
uso de outros materiais, tais como bloco cerâmico ou madeira, entretanto, chama
atenção o fato de que 33% das construções não usam pilares. O tipo de fundação mais
comumente usada é a sapata (52%), embora tenham sido encontrados outros tipos tais
como a alvenaria de pedra (12%); o radier (26%); e outros sistemas (7%) não
especificados (Gráfico 19).
Em geral usa-se a pintura como revestimento das paredes internas, embora não sejam
proporcionalmente poucos (29%) os casos de paredes não revestidas (Gráfico 20).
Quanto ao material do piso, o mais comumente encontrado foi o cimento, usado por
mais da metade (54%) das casas, todavia, também a cerâmica é usada com certa
freqüência, correspondendo a 36% do conjunto (Gráfico 21). Não deixa de chamar
atenção, porém, uma proporção de 5% de moradias com piso “terra batida”. O material
mais usado para a construção das paredes é o bloco cerâmico, correspondendo a 94%
do total. Para a cobertura, o eternit e a laje de concreto são os materiais mais usados,
correspondendo a 58% e 29%, respectivamente. O material para a construção das
moradias nunca é adquirido de uma única vez, e para 61% do conjunto de construtores é
sempre comparado à vista e no próprio bairro. Poucos fazem uso do crédito (19%) e
outros combinam as duas formas, à vista e a prazo (18%), de acordo com a
possibilidade financeira de cada um.
O transporte do material adquirido representa um custo adicional, sendo que
praticamente a metade não dispõe de recursos para fazer frente ao mesmo. Cerca da
metade dos construtores transportam o material por conta própria, à mão ou auxiliados
por carrinhos. Do conjunto, 37% assumem o custo do transporte, pagando carreto para o
estabelecimento comercial ou para particulares (Gráfico 22). A inexistência ou
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outras formas, incluindo as que seguem: doação pelo poder público; doação por
particulares; herança familiar; troca e/ou através do processo de invasão. Considerando
tempo de aquisição do lote, observa-se que 74% do total já o fizeram há mais de 10
anos, sendo que destes, 24% há mais de 30 anos. Conforme foi visto anteriormente,
observou-se uma grande compatibilidade entre tempo de residência e tempo de
construção e, agora, com o tempo de aquisição dos lotes. Para 44% do conjunto o
terreno foi adquirido diretamente nas mãos do loteador e para 23%, através de
intermediários que facilitaram o processo de aquisição. Apenas cerca de 2% o
adquiriram através de uma imobiliária, porém não é desprezível o índice daqueles que o
adquiriram através de outras formas que não as anteriormente citadas, chegando a
aproximadamente 31% do total. A tabulação dessas outras formas citadas mostra que
para 65,5% o terreno foi recebido através de doações, para 15,5% através de herança e
para 12,1 através de invasão. Indagados ainda sobre se as aquisições foram realizadas à
vista ou a prazo, tem-se, 26% no primeiro caso e 47% no segundo, totalizando 73%
(Gráfico 26). Quanto ao pagamento do Imposto Territorial sobre Terrenos Urbanos –
IPTU, a pergunta foi dirigida aos 274 construtores, independentemente destes terem
sido anteriormente enquadrados na condição de proprietários legais, informais ou de
não proprietários. Assim, obteve-se que 80% dos casos considerados não o pagam,
sendo que apenas 20% o fazem (Gráfico 27).
CONSIDERAÇÕES FINAIS - A pesquisa Manifestações da Autoconstrução
na Cidade de Salvador, aqui sintetizada procurou, em um primeiro nível de abordagem,
traçar o perfil do responsável pela autoconstrução – o construtor – que, através de um
processo freqüentemente longo, algumas vezes interminável, e sempre muito sacrificado
do ponto de vista econômico, assume a responsabilidade de erguer um espaço que sirva
de abrigo para si e sua família. Os motivos que levam a tal determinação em geral
referem-se à incapacidade deste segmento social em acessar o mercado capitalista de
terras e de habitação urbanas. Conforme assinala Bonduki (2004), (...) “Autoconstruir
em loteamentos precários e distantes, sem infra-estrutura e transporte, não seria
alternativa massiva se houvesse outra opção”.
Assim, o perfil do informante assemelha-se ao de grande parte da população
pobre da cidade do Salvador. A grande maioria, cerca de 42% do conjunto investigado,
não chegou a completar o ensino fundamental, desenvolvendo atividades produtivas de
baixa qualificação e, portanto, também de baixa remuneração. Observe-se que 64%
dessa população dispunham, na ocasião do levantamento, de um rendimento mensal
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familiar de até dois salários mínimos. Do ponto de vista ocupacional 50% não estavam
trabalhando naquela ocasião sendo que destes, aproximadamente, 20% haviam
procurado emprego no mês anterior ao da pesquisa de campo (julho 2005),
caracterizando, segundo definição do IBGE o chamado desemprego aberto. Os demais
(30%) encontravam-se sem trabalho, porém, sem sair em busca do mesmo.
Dos que estavam trabalhando, apenas 31% o faziam na condição de assalariados,
porém, nem todos, com registro em carteira conforme preconiza a Consolidação das
Leis Trabalhistas – CLT. Do conjunto, 48,5% trabalhavam na condição de autônomos e
15,4% na condição de “biscateiros”, o que totaliza 64% da população total trabalhando
por conta própria, na maioria dos casos, em condições precárias. Chama atenção o fato
de que 25% dos domicílios abrigavam algum tipo de atividade produtiva nas
dependências do domicílio. Esta situação denota a existência de uma economia definida
por Kraychete (2000) como economia dos setores populares no âmbito da qual se
configura um circuito de pessoas pobres trabalhando para outras pessoas pobres no
próprio domicílio (KRAYCHETE, 2002).
Considerando-se a inserção dos assentamentos pesquisados em relação aos seus
respectivos bairros, observaram-se algumas situações diferenciadas. Em geral os
assentamentos mais centrais e antigos em relação àqueles mais novos e periféricos,
encontram-se em condições mais apropriadas quanto ao acesso à infra-estrutura urbana
e aos serviços básicos. Entretanto, observou-se também uma maior densidade domiciliar
nestes assentamentos do que naqueles mais afastados da área central da cidade. O caso
da Baixa da Égua é exemplar nesse sentido, pois neste assentamento chegou-se a
registrar 8,8 pessoas por domicílio.
Considerando o saneamento básico, por exemplo, a falta de abastecimento de
água chegou a índices bastante elevados em São Marcos (40%); Campinas de Pirajá
(59%) e Vila Verde – Mussurunga (100%); quanto ao esgotamento sanitário, o mesmo
pode ser dito para os assentamentos de São Marcos (94%), Pirajá (64%) e Dom Avelar
(39%). Também para 57% do total, a coleta de lixo é feita, ou irregularmente, ou em
algum local do bairro, nem sempre próxima aos domicílios.
Quanto às questões construtivas, podemos afirmar que o índice de situações de
risco e de problemas técnicos, como se esperava, é muito grande. Sem dúvida os
principais fatores que condicionam o desenho das habitações autoconstruídas em
Salvador, como em quase todo lugar, foram: 1) o fator econômico, 2) a disponibilidade
de recursos materiais (para a construção) e 3) a experiência do autoconstrutor com a
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(*) Coordenador da Pesquisa pela UFBA: Marcos Queiroz, Arquiteto Urbanista com Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo/UFBA.
(**) Coordenadora da Pesquisa pela UNIFACS: Maria Raquel Mattoso Mattedi, socióloga com Mestrado
em Ciências Sociais/UFBA.
REFERÊNCIAS
BONDUKI, Nabel. Origens da Habitação Popular no Brasil. 4a ed. São Paulo: Estação
Liberdade, 2004, 344p.