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Resumo
A valoração das dimensões não materiais da vida social está se tornando um eixo comum entre muitos
estudiosos contemporâneos, todos uníssonos na promulgação de uma sociedade antiutilitarista, mais inclusiva e
democrática. Sob o conceito de dom, dádiva, economia social, terceiro setor, tais estudos são movidos pelas
conseqüências devastadoras do atual ambiente econômico, cujo sinal mais evidente se faz sentir com a
ampliação da exclusão social. A idéia-força que fundamenta tais conceitos está na possibilidade de resgatar os
valores capazes de fortalecer os vínculos sociais, a partir de uma perspectiva inclusiva. Como situar o
cooperativismo a partir dessas discussões? Qual a capacidade de resposta do cooperativismo diante das
grandes inquietações contemporâneas? Situando o cooperativismo a partir das tensões que lhe obrigam a
responder as crises do "welfare state", do “trabalho” e das “solidariedades clássicas” (o que lhe confere um
caráter utópico de transformação social) e, ao mesmo tempo de responder, de forma competitiva e criativa, as
demandas crescentes de um mercado globalizado (o que lhe imprime um caráter econômico e utilitarista de
empresa) este trabalho pretende discutir a tensão vivenciada pelo cooperativismo na contemporaneidade. Serão
destacados os conceitos de “dádiva”, “paradigma do dom”, “economia social”, “terceiro setor”, capazes de
potencializar novos projetos de emancipação social. Tal perspectiva ganha relevância ao permitir que se situem
os limites do cooperativismo na concepção de uma nova sociabilidade.
Resumen
La valorización de las dimensiones no materiales de la vida social se está volviendo un eje común entre muchos
estudiosos contemporáneos, todos unísonos en la promulgación de una sociedad antiutilitarista, más inclusiva y
democrática. Bajo el concepto de donativo, dádiva, economía social, tercer sector, tales estudios son movidos
por las consecuencias devastadoras del actual ambiente económico, cuyo signo más evidente se hace sentir con
la ampliación de la exclusión social. La idea motora que fundamenta tales conceptos está en la posibilidad de
rescatar los valores capaces de fortalecer los vínculos sociales, a partir de una perspectiva inclusiva. ¿Cómo
situar el cooperativismo a partir de estas discusiones? ¿Cuál es la capacidad de respuesta del cooperativismo
frente a las grandes inquietudes contemporáneas? Situando el cooperativismo a partir de las tensiones que le
obligan a responder a las crisis del "welfare state", del “trabajo” y de las “solidaridades clásicas” (lo que le
confiere un carácter utópico de transformación social) y, al mismo tiempo responder, de forma competitiva y
creativa, a las demandas crecientes de un mercado globalizado (lo que le imprime un carácter económico y
utilitarista de empresa) este trabajo pretende discutir la tensión vivida por el cooperativismo en la
contemporaneidad. Serán destacados los conceptos de “dádiva”, “paradigma del donativo”, “economía social”,
“tercer sector”, capaces de potenciar nuevos proyectos de emancipación social. Tal perspectiva gana relevancia
al permitir que se sitúen los limites del cooperativismo en la concepción de una nueva sociabilidad.
Résumé
La valorisation des dimensions non matérielles de la vie sociale est en train de devenir un axe commun entre
plusieurs études contemporaines qui sont toutes en accord avec la promulgation d’une société anti-utilitaire plus
inclusive et démocratique. Sous le concept de donation, don, économie sociale et du secteur tertiaire, ces études
sont poussées par les conséquences dévastatrices de l’ambiance économique actuelle qui se fait sentir
davantage avec l’amplification de l’exclusion sociale. L’idée motrice où repose ces concepts a la possibilité de
Abstract
The valuation of the non-material dimensions of social life is becoming the common axis of a society which is anti-
utilitarian, more inclusive and democratic. Under the concept of gift, given, social economy, the third sector, such
studies are propelled by the devastating consequences of the present economic environment which most evident
signal is seen with the growth of social exclusion. The strength-idea that encapsulates such concepts is settled in
the possibility of rescuing values capable of strengthening the social ties starting from an inclusive perspective.
Where does cooperatives role stand considering these discussions? What is the responding capacity of the
cooperatives role before the huge contemporary lack of tranquility? Placing the cooperatives role starting from
tensions that oblige it to answer to the crisis of the “welfare state”, of “work” and of “classic solidarity” (which
grants it with an utopian characteristic of social transformation) and at the same time to answer competitively and
creatively the growing needs of a global market (which gives to it an enterprise characteristic of economy and
utilitarianism) this work intends to discuss the tension cooperatives role has been through in contemporary times.
The concepts of “gift”, “given paradigm”, “social economy”, “third sector” which aspects are able to augment new
projects of social emancipation will be highlighted. Such perspective reaches relevancy when it allows the limits of
cooperatives role to be established in the conception of a new sociability.
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Offe (1989), analisando algumas possíveis É possível constatar que o desejo de uma
estratégias de superação da atual crise do sociedade mais democrática - mais inclusiva e
trabalho, conclui que as associações e as menos excludente - repousa, entre os diversos
cooperativas poderiam se constituir uma autores mencionados, na idéia de uma vida
alternativa de criação de emprego no contexto associativa onde as pessoas passam, em
atual pelo fato de se identificarem como “uma comum, comandar o seu próprio destino sem a
forma de trabalho social, caracterizada pela necessidade de uma intermediação efetiva de
liberdade de entrada e saída, pela ampla poder. Todos eles se reportam a uma maior
autonomia na programação das atividades, participação democrática como pressuposição
assim como por reivindicações e garantias de do fortalecimento da sociedade civil e à criação
rendimentos (...)” sem subordinação a um de uma nova sociabilidade sedimentada na
empregador público ou privado. Offe (1989) cooperação.
identifica tais formas de organização como
relativas à “produção comunitária”, “economia As cooperativas, pela sua natureza
dual” ou “setor voluntário não lucrativo” (Offe, democrática na condução das atividades, pela
1989:109). primazia das pessoas e do trabalho sobre o
capital, pela autonomia em relação ao Estado
VI –Bibliografia
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NOTES
1
Professora do Departamento de Educaçao de UFRPE, Coordenadora de ensino do Programma de
Associativismo par Ensino, Pesquisa e extensao (PAPE) do Departamento de educaçao da UFRPE, Doutora em
Sociologia UFPE, mlp@elogica.com.br
2
A dádiva, ainda que presente em todos os tempos, ganhou consistência no discurso sociológico a partir do
Essai sur le don: forme et raison de l´échange dans societès archaïques de Marcel Mauss (1923-1924), onde foi
exaltada a tripla obrigação de dar, receber, retribuir (Caillé, 2002). Os estudos dessa repousam também na
importância atribuída a Georg Simmel, este considerado co-fundador do paradigma do dom”(Idem).
3
A críticas que situam os limites da idéia de economia social e terceiro setor, especialmente no que diz respeito
às promessas de uma maior inclusão e democratização social já foram objeto de análise em trabalho anterior e
não serão mais aqui discutidas. Ver, sobre o assunto, Pires, 1999, Boivin & Fortier, 1998).
4
Maiores informações ver Tedesco & Campos, 2001; Singer & Souza, 2000.
5
Vale ressaltar que, para Rosanvallon, a idéia de inserção constitui a pedra angular para uma nova “invenção
social”. Isso implicaria um repensar de um novo tipo de emprego; o que estaria contido numa “compreensão
alargada dos direitos sociais .
6
Em trabalho anterior, já discutimos que as cooperativas se movem em um campo de tensão em que os
imperativos éticos e morais típicos de seu doutrinário exigem que sejam capazes de trazer respostas às crises
do "welfare state" e das “solidariedades clássicas”, através de práticas mais inclusivas, democráticas e
alternativas ao modelo capitalista dominante. Do mesmo modo, imperativos econômicos exigem um
comportamento empresarial pautado em critérios quantificáveis de produtividade, eficiência e capitalização que
tendem a aproximar o modelo de organização das cooperativas ao das grandes firmas capitalistas, sugerindo,
inclusive, uma uniformização das práticas gerenciais e financeiras. Essa tendência de análise ganha dimensão
através dos estudos sobre “Nova geração de cooperativas” (Pires, 1999; Pires & Cavalcanti, 2000, Martinez &
Pires, 2000, 2002).
7
Estas cooperativas, que vêm se popularizando particularmente no Quebec a partir da Segunda metade dos
anos 1990, destinam-se especialmente a prestação de serviços à domicílio para pessoas idosas e doentes
(Sécretariat...1999 apud Pires, 1999)