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O papel das áreas técnicas e dos níveis centrais é definir princípios e diretrizes das
políticas em cada um dos campos específicos. A partir daí devem apoiar as outras esferas
de gestão na definição das melhores estratégias para enfrentar os problemas de saúde, de
acordo com esses princípios e diretrizes, de acordo com as especificidades e as políticas de
cada local.
As áreas técnicas dos níveis centrais de governo (federal, estadual e até municipal,
no caso das metrópoles) trabalham com dados gerais, que possibilitam identificar a
existência dos problemas, mas não permitem compreender sua explicação. Esse olhar, o
que permite compreender a especificidade da gênese de cada problema, é necessariamente
local. Portanto, necessariamente tem de haver o diálogo entre a área técnica e a gestão local
para a elaboração de estratégias adequadas para o enfrentamento mais efetivo dos
problemas. Assim, ao analisar um problema nacional de maneira contextualizada,
descobrimos a complexidade de sua explicação e a necessidade de intervenções articuladas.
Tomando como exemplo a hanseníase: numa oficina estadual, com a presença de
gestores estaduais e municipais, de representantes da área técnica, de instituições
formadoras e do controle social, percebeu-se que havia problemas de várias naturezas
envolvidos na explicação da situação da hanseníase. Problemas de gestão do sistema, de
organização da atenção, de falta de conhecimentos técnicos suficientes, de falta de diálogo
com os movimentos sociais.
Alguns eram problemas gerais (baixa resolubilidade da atenção básica, falta de
retaguarda especializada acessível para acompanhamento das equipes da atenção básica,
população migrante ao longo do ano sendo atendida por serviços que funcionam como se
atendessem a uma população estável, etc.), outros eram problemas específicos
(capacitações realizadas de maneira central não atingiam os médicos – que não se deslocam
para a capital por terem mais de um vínculo de trabalho; insegurança das equipes de saúde
para as abordagens terapêuticas) etc.
Cada um desses problemas exige estratégias específicas: de pactuação entre
gestores, de mudança da lógica de organização de determinadas atividades etc. Somente
alguns desses problemas serão abordados mediante atividades de formação e mesmo essas
não poderão ser padronizadas: o curso inicial de 40 horas (classicamente realizado)
possibilita preparar as equipes para fazer diagnóstico; para assegurar capacidade de
acompanhamento e tratamento, outras estratégias são desejáveis (discussão de casos,
acompanhamento periódico das equipes, estabelecimento de relações mais fluidas de apoio
técnico etc.). Isso implica reconfiguração da maneira de operar da área técnica estadual,
novas estratégias de articulação etc. Ao caminhar ainda mais em direção ao local, outras
naturezas de problema serão identificadas e novas estratégias serão necessárias.
A Educação Permanente permite revelar a complexidade e a articulação das
explicações dos diferentes problemas e torna evidente a necessidade de estratégias
múltiplas, que para serem propostas e implementadas necessitam articulação com a gestão
do sistema. Ou seja, para operar de maneira eficaz, a educação permanente necessita ser
tomada como uma estratégia de gestão – para que os necessários recursos de poder sejam
mobilizados para enfrentar problemas de natureza diversa.