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Portaria/FUNAI nº 14, de 09 de janeiro de 1996 IV - QUARTA PARTE

Estabelece regras sobre a elaboração do Relatório Meio Ambiente:


circunstanciado de identificação e delimitação de Terras a) identificação e descrição das áreas imprescindíveis à
Indígenas a que se refere o parágrafo 6º do artigo 2º, do preservação dos recursos necessários ao bem estar
Decreto nº 1.775, de 08 de janeiro de 1996. econômico e cultural do grupo indígena;
O MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA, no uso de suas b) explicitação das razões pelas quais tais áreas são
atribuições e tendo em vista o disposto no Decreto nº 1.775, imprescindíveis e necessárias;
de 08 de janeiro de 1996, objetivando a regulamentação do V - QUINTA PARTE
relatório previsto no §6º do art. 2º do referido decreto; Reprodução Física e Cultural:
CONSIDERANDO que o decreto homologatório do Sr. a) dados sobre as taxas de natalidade e mortalidade do grupo
Presidente da República, previsto no art. 5º do Decreto nº nos últimos anos, com indicação das causas, na hipótese de
1.775, tem o efeito declaratório do domínio da União sobre a identificação de fatores de desequilíbrio de tais taxas, e
área demarcada e, após o seu registro no ofício imobiliário projeção relativa ao crescimento populacional do grupo;
competente, tem o efeito desconstitutivo do domínio privado b) descrição dos aspectos cosmológicos do grupo, das áreas
eventualmente incidente sobre a dita área (art. 231, 6 da CF); de usos rituais, cemitérios, lugares sagrados, sítios
CONSIDERANDO que o referido decreto baseia-se em arqueológicos, etc., explicitando a relação de tais áreas com a
Exposição de Motivos do Ministro de Estado da Justiça e que situação atual e como se objetiva essa relação no caso
esta decorre de decisão embasada no relatório concreto;
circunstanciado de identificação e delimitação, previsto no c) identificação e descrição das áreas necessárias à
parágrafo 6 do art. 2º, do Decreto nº 1.775, de 8 de janeiro de reprodução física e cultural do grupo indígena, explicando as
1996; razões pelas quais são elas necessárias ao referido fim;
CONSIDERANDO que o referido relatório, para propiciar um VI - SEXTA PARTE
regular processo demarcatório deve precisar, com clareza e Levantamento Fundiário:
nitidez, as quatro situações previstas no parágrafo 1º do art. a) identificação e censo de eventuais ocupantes não índios;
231 da Constituição, que consubstanciam, em conjunto e sem b) descrição da(s) área(s) por ele(s) ocupada(s), com a
exclusão, o conceito de “terras tradicionalmente habitadas respectiva extensão, a(s) data(s) dessa(s)
pelos índios”, a saber: (a) as áreas “por eles habitadas em ocupação(ções) e a descrição da(s) benfeitoria(s) realizada(s);
caráter permanente”, (b) as áreas “utilizadas para suas c) informações sobre a natureza dessa ocupação, com a
atividades produtivas”, (c) as áreas “imprescindíveis à identificação dos títulos de posse e/ou domínio eventualmente
preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem existentes, descrevendo sua qualificação e origem;
estar”, e (d) as áreas “necessárias à sua reprodução física e d) informações, na hipótese de algum ocupante dispor de
cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”; documento oriundo de órgão público, sobre a forma e
RESOLVE: fundamentos relativos à expedição do documento que deverão
Art. 1º. O relatório circunstanciado de identificação e ser obtidas junto ao órgão expedidor.
delimitação a que se refere o §6º do art. 2º do Decreto nº VII - SÉTIMA PARTE
1.775, de 8 de janeiro de 1996, devidamente fundamentado Conclusão e delimitação, contendo a proposta de limites da
em elementos objetivos, abrangerá, necessariamente, além de área demarcada.
outros elementos considerados relevantes pelo Grupo Art. 2º. No atendimento da Segunda à Quinta parte do artigo
Técnico, dados gerais e específicos organizados da forma anterior dever-se-á contar com a participação do grupo
seguinte: indígena envolvido, registrando-se a respectiva manifestação
I - PRIMEIRA PARTE e as razões e fundamentos do acolhimento ou da rejeição,
Dados gerais: total ou parcial, pelo Grupo Técnico, do conteúdo de referida
a) informações gerais sobre o(s) grupos(s) indígena(s) manifestação.
envolvido(s), tais como filiação cultural e linguística, eventuais Art. 3º. A proposta de delimitação far-se-á acompanhar de
migrações, censo demográfico, distribuição espacial da carta topográfica, onde deverão estar identificados os dados
população e identificação dos critérios determinantes desta referentes a vias de acesso terrestres, fluviais e aéreas
distribuição; eventualmente existentes, pontos de apoio cartográfico e
b) pesquisa sobre o histórico de ocupação de terra indígena logísticos e identificação de detalhes mencionados nos itens
de acordo com a memória do grupo étnico envolvido; do artigo 1º.
c) identificação das práticas de secessão eventualmente Art. 4º. O órgão federal de assistência ao índio fixará,
praticadas pelo grupo e dos respectivos critérios causais, mediante portaria de seu titular, a sistemática a ser adotada
temporais e espaciais; pelo grupo técnico referido no §1º do art. 2º do Decreto nº
II - SEGUNDA PARTE 1.775, de 8 de janeiro de 1996, relativa à demarcação física e
Habitação permanente: à regularização das terras indígenas.
a) descrição da distribuição da(s) aldeia(s), com respectiva Art. 5º. Aos relatórios de identificação e delimitação de terras
população e localização; indígenas, referidos no §6º do art. 2º do Decreto nº 1.775, de 8
b) explicitação dos critérios do grupo para localização, de janeiro de 1996, encaminhados ao titular do órgão federal
construção e permanência da(s) aldeia(s), a área por ela(s) de assistência ao índio antes da publicação deste, não se
ocupada(s) e o tempo em que se encontra(m) as atual(ais) aplica o disposto nesta Portaria.
localização(ções); Art. 6º. Esta Portaria entra em vigor na data de sua
III - TERCEIRA PARTE publicação.
Atividades Produtivas:
a) descrição das atividades produtivas desenvolvidas pelo NELSON A. JOBIM
grupo com a identificação, localização e dimensão das áreas (Of. Nº 7/96)
utilizadas para esse fim;
b) descrição das características da economia desenvolvida
pelo(s) grupo(s), das alterações eventualmente ocorridas na
economia tradicional a partir do contato com a sociedade
envolvente e do modo como se processaram tais alterações;
c) descrição das relações sócio-econômico-culturais com
outros grupos indígenas e com a sociedade envolvente;
DECRETO No 1.775, DE 8 DE JANEIRO DE 1996. III - desaprovando a identificação e retornando os autos ao
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição que órgão federal de assistência ao índio, mediante decisão
lhe confere o art. 84, inciso IV, e tendo em vista o dis posto no fundamentada, circunscrita ao não atendimento do disposto no
art. 231, ambos da Constituição, e no art. 2º, inciso IX da Lei § 1º do art. 231 da Constituição e demais disposições
n° 6.001, de 19 de dezembro de 1973, pertinentes.
DECRETA: Art. 3° Os trabalhos de identificação e del imitação de terras
Art. 1º As terras indígenas, de que tratam o art. 17, I, da Lei n° indígenas realizados anteriormente poderão ser considerados
6001, de 19 de dezembro de 1973, e o art. 231 da pelo órgão federal de assistência ao índio para efeito de
Constituição, serão administrativamente demarcadas por demarcação, desde que compatíveis com os princípios
iniciativa e sob a orientação do órgão federal de assistência ao estabelecidos neste Decreto.
índio, de acordo com o disposto neste Decreto. Art. 4° Verificada a presença de ocupantes não índios na área
Art. 2° A demarcação das terras tradicionalmente ocupadas sob demarcação, o órgão fundiário federal dará prioridade ao
pelos índios será fundamentada em trabalhos desenvolvidos respectivo reassentamento, segundo o levantamento efetuado
por antropólogo de qualificação reconhecida, que elaborará, pelo grupo técnico, observada a legislação pertinente.
em prazo fixado na portaria de nomeação baixada pelo titular Art. 5° A demarcação das terras indígenas, obedecido o
do órgão federal de assistência ao índio, estudo antropológico procedimento administrativo deste Decreto, será homologada
de identificação. mediante decreto.
§ 1° O órgão federal de assistência ao índi o designará grupo Art. 6° Em até trinta dias após a publicação do decreto de
técnico especializado, composto preferencialmente por homologação, o órgão federal de assistência ao índio
servidores do próprio quadro funcional, coordenado por promoverá o respectivo registro em cartório imobiliário da
antropólogo, com a finalidade de realizar estudos comarca correspondente e na Secretaria do Patrimônio da
complementares de natureza etno-histórica, sociológica, União do Ministério da Fazenda.
jurídica, cartográfica, ambiental e o levantamento fundiário Art. 7° O órgão federal de assistência ao í ndio poderá, no
necessários à delimitação. exercício do poder de polícia previsto no inciso VII do art. 1°
§ 2º O levantamento fundiário de que trata o parágrafo da Lei n° 5.371, de 5 de dezembro de 1967, disciplinar o
anterior, será realizado, quando necessário, conjuntamente ingresso e trânsito de terceiros em áreas em que se constate
com o órgão federal ou estadual específico, cujos técnicos a presença de índios isolados, bem como tomar as
serão designados no prazo de vinte dias contados da data do providências necessárias à proteção aos índios.
recebimento da solicitação do órgão federal de assistência ao Art. 8° O Ministro de Estado da Justiça expedirá as instruções
índio. necessárias à execução do disposto neste Decreto.
§ 3° O grupo indígena envolvido, representa do segundo suas Art. 9° Nas demarcações em curso, cujo decreto
formas próprias, participará do procedimento em todas as homologatório não tenha sido objeto de registro em cartório
suas fases. imobiliário ou na Secretaria do Patrimônio da União do
§ 4° O grupo técnico solicitará, quando for o caso, a Ministério da Fazenda, os interessados poderão manifestar-
colaboração de membros da comunidade científica ou de se, nos termos do § 8° do art. 2°, no prazo de noventa dias,
outros órgãos públicos para embasar os estudos de que trata contados da data da publicação deste Decreto.
este artigo. Parágrafo único. Caso a manifestação verse demarcação
§ 5º No prazo de trinta dias contados da data da publicação do homologada, o Ministro de Estado da Justiça a examinará e
ato que constituir o grupo técnico, os órgãos públicos devem, proporá ao Presidente da República as providências cabíveis.
no âmbito de suas competências, e às entidades civis é Art. 10. Este Decreto entra em vigor na data de sua
facultado, prestar-lhe informações sobre a área objeto da publicação.
identificação. Art. 11. Revogam-se o Decreto n° 22, de 04 de fevereiro de
§ 6° Concluídos os trabalhos de identificaç ão e delimitação, o 1991, e o Decreto n° 608, de 20 de julho de 1992.
grupo técnico apresentará relatório circunstanciado ao órgão
federal de assistência ao índio, caracterizando a terra indígena Brasília, 8 de janeiro de 1996; 175º da Independência e 108º
a ser demarcada. da República.
§ 7° Aprovado o relatório pelo titular do ó rgão federal de FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
assistência ao índio, este fará publicar, no prazo de quinze Nelson A. Jobim
dias contados da data que o receber, resumo do mesmo no José Eduardo de Andrade Vieira
Diário Oficial da União e no Diário Oficial da unidade federada
onde se localizar a área sob demarcação, acompanhado de
memorial descritivo e mapa da área, devendo a publicação ser
afixada na sede da Prefeitura Municipal da situação do imóvel.
§ 8° Desde o início do procedimento demarca tório até
noventa dias após a publicação de que trata o parágrafo
anterior, poderão os Estados e municípios em que se localize
a área sob demarcação e demais interessados manifestar-se,
apresentando ao órgão federal de assistência ao índio razões
instruídas com todas as provas pertinentes, tais como títulos
dominiais, laudos periciais, pareceres, declarações de
testemunhas, fotografias e mapas, para o fim de pleitear
indenização ou para demonstrar vícios, totais ou parciais, do
relatório de que trata o parágrafo anterior.
§ 9° Nos sessenta dias subseqüentes ao encerramento do
prazo de que trata o parágrafo anterior, o órgão federal de
assistência ao índio encaminhará o respectivo procedimento
ao Ministro de Estado da Justiça, juntamente com pareceres
relativos às razões e provas apresentadas.
§ 10. Em até trinta dias após o recebimento do procedimento,
o Ministro de Estado da Justiça decidirá:
I - declarando, mediante portaria, os limites da terra indígena e
determinando a sua demarcação;
II - prescrevendo todas as diligências que julgue necessárias,
as quais deverão ser cumpridas no prazo de noventa dias;
DECRETO Nº 7.056 DE 28 DE DEZEMBRO DE 2009. EDUCAÇÃO INDÍGENA
Aprova o Estatuto e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em DECRETO Nº 26, DE 4 DE FEVEREIRO DE 1991
Comissão e das Funções Gratificadas da Fundação Nacional
do Índio - FUNAI, e dá outras providências. Dispõe sobre a educação indígena no Brasil.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição que
lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, alínea “a”, da lhe confere o artigo 84, inciso IV, da Constituição, tendo em
Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 50 da Lei no vista o disposto na Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973 e
10.683, de 28 de maio de 2003, em cumprimento da Convenção nº 107, da Organização
DECRETA: Internacional do Trabalho, aprovada pelo Decreto nº 58.825,
Art. 1o Ficam aprovados o Estatuto e o Quadro Demonstrativo de 14 de julho de 1966, sobre a proteção da integração das
dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas da populações indígenas e outras populações tribais e semi-
Fundação Nacional do Índio - FUNAI, na forma dos Anexos I e tribais de países independentes,
II a este Decreto.
Art. 2o A letra “a” do inciso I do art. 1o do Decreto no 6.280, de DECRETA:
3 de dezembro de 2007, passa a vigorar com a seguinte Art. 1º Fica atribuída ao Ministério da Educação a competência
redação: para coordenar as ações referentes à educação indígena, em
“a) a Fundação Nacional do Índio - FUNAI, sete DAS 102.4 e todos os níveis e modalidades de ensino, ouvida a Funai.
quatro DAS 102.3;” (NR) Art. 3o Em decorrência do disposto Art. 2º As ações previstas no Art. 1º serão desenvolvidas pelas
no art. 1o, ficam remanejados, na forma do Anexo III a este Secretarias de Educação dos Estados e Municípios em
Decreto, os seguintes cargos em comissão do Grupo-Direção consonância com as Secretarias Nacionais de Educação do
e Assessoramento Superiores - DAS: Ministério da Educação.
I - da FUNAI para a Secretaria de Gestão, do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão: um DAS 101.4; e Brasília, 4 de fevereiro de 1991; 170º da Independência e 103º
dezessete DAS 102.1; e da República.
II - da Secretaria de Gestão, do Ministério do Planejamento, FERNANDO COLLOR
Orçamento e Gestão, para a FUNAI: cinco DAS 102.4; Jarbas Passarinho
dezesseis DAS 101.3; três DAS 102.3; trinta DAS 101.2; trinta Carlos Chiarelli
e três DAS 102.2; e dezessete DAS 101.1.
Art. 4o Os apostilamentos decorrentes da aprovação do
Estatuto de que trata o art. 1o deverão ocorrer no prazo de
vinte dias, contado da data de publicação deste Decreto.
Parágrafo único. Após os apostilamentos previstos no caput, o
Presidente da FUNAI fará publicar no Diário Oficial da União,
no prazo de trinta dias, contado da data de publicação deste
Decreto, relação nominal dos titulares dos cargos em
comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores -
DAS a que se refere o Anexo II, indicando, inclusive, o número
de cargos vagos, sua denominação e respectivo nível.
Art. 5o Ficam extintas todas as Administrações Executivas
Regionais e Postos Indígenas de que tratam os Decretos nos
4.645, de 25 de março de 2003, e 5.833, de 6 de julho de
2006, e criadas as unidades regionais na forma estabelecida
nos Anexos I e II.
Parágrafo único. Os servidores com lotação nas unidades
extintas serão removidos para outras unidades da FUNAI ou
redistribuídos para outros órgãos, conforme a legislação
vigente.
Art. 6o O Ministro de Estado da Justiça poderá editar
regimento interno para detalhar as unidades administrativas
integrantes do Estatuto da FUNAI, suas competências e as
atribuições de seus dirigentes, conforme dispõe o art. 9o do
Decreto no 6.944, de 21 de agosto de 2009.
Art. 7o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 8o Ficam revogados os Decretos nos 4.645, de 25 de
março de 2003, e 5.833, de 6 de julho de 2006.

Brasília, 28 de dezembro de 2009; 188o da Independência e


121o da República.
ESTATUTO DA FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO - FUNAI c) Corregedoria;
CAPÍTULO I d) Ouvidoria; e
DA NATUREZA, SEDE E FINALIDADE e) Diretoria de Administração e Gestão;
Art. 1o A Fundação Nacional do Índio - FUNAI, fundação III - órgãos específicos singulares:
pública, instituída em conformidade com a Lei no 5.371, de 5 a) Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável; e
de dezembro de 1967, vinculada ao Ministério da Justiça, tem b) Diretoria de Proteção Territorial;
sede e foro no Distrito Federal, jurisdição em todo o território IV - órgãos colegiados:
nacional e prazo de duração indeterminado. a) Diretoria Colegiada;
Art. 2o A FUNAI tem por finalidade: b) Comitês Regionais; e
I - exercer, em nome da União, a proteção e a promoção dos c) Conselho Fiscal;
direitos dos povos indígenas; V - órgãos descentralizados: Coordenações Regionais; e
II - formular, coordenar, articular, acompanhar e garantir o VI - órgão científico-cultural: Museu do Índio.
cumprimento da política indigenista do Estado brasileiro,
baseada nos seguintes princípios: CAPÍTULO III
a) garantia do reconhecimento da organização social, DA DIREÇÃO E NOMEAÇÃO
costumes, línguas, crenças e tradições dos povos indígenas; Art. 7o A FUNAI será dirigida por uma Diretoria Colegiada,
b) respeito ao cidadão indígena, suas comunidades e composta por três Diretores e pelo Presidente que a presidirá.
organizações ; § 1o O Presidente da FUNAI e os Diretores serão nomeados
c) garantia ao direito originário e à inalienabilidade e à pelo Presidente da República, por indicação do Ministro de
indisponibilidade das terras que tradicionalmente ocupam e ao Estado da Justiça.
usufruto exclusivo das riquezas nelas existentes; § 2o A nomeação do Procurador-Chefe dar-se-á na forma da
d) garantia aos povos indígenas isolados do pleno exercício legislação em vigor, mediante aprovação prévia do Advogado-
de sua liberdade e das suas atividades tradicionais sem a Geral da União.
necessária obrigatoriedade de contatá-los; § 3o A nomeação e a exoneração do Auditor-Chefe deverão
e) garantia da proteção e conservação do meio ambiente nas ser submetidas, pelo Presidente da FUNAI, à aprovação da
terras indígenas; garantia de promoção de direitos sociais, Controladoria-Geral da União.
econômicos e culturais aos povos indígenas; § 4o O titular do cargo da unidade de correição é privativo de
f) garantia de participação dos povos indígenas e suas servidor público ocupante de cargo efetivo de nível superior,
organizações em instâncias do Estado que definem políticas que tenha, preferencialmente, formação em Direito e terá
públicas que lhes digam respeito; e mandato de dois anos, devendo sua nomeação ser submetida
III - administrar os bens do patrimônio indígena, exceto à prévia apreciação da Controladoria-Geral da União.
aqueles bens cuja gestão tenha sido atribuída aos indígenas
ou suas comunidades, consoante o disposto no art 29, CAPÍTULO IV
podendo também administrá-los por expressa delegação dos DOS ORGÃOS COLEGIADOS
interessados; Seção I
IV - promover e apoiar levantamentos, censos, análises, Da Diretoria Colegiada
estudos e pesquisas científicas sobre os povos indígenas, Art. 8o A Diretoria Colegiada é composta pelo Presidente da
visando a valorização e divulgação das suas culturas; FUNAI, que a presidirá, e por três Diretores.
V - acompanhar as ações e serviços destinados à atenção à § 1o As reuniões da Diretoria Colegiada serão ordinárias e
saúde dos povos indígenas; extraordinárias, estando presentes, pelo menos, o Presidente
VI - acompanhar as ações e serviços destinados a educação e dois membros.
diferenciada para os povos § 2o As reuniões ordinárias serão convocadas pelo Presidente
indígenas; e as extraordinárias pelo Presidente ou pela maioria dos
VII - promover e apoiar o desenvolvimento sustentável nas membros da Diretoria Colegiada, a qualquer tempo.
terras indígenas, em consonância com a realidade de cada § 3o A Diretoria Colegiada deliberará por maioria de votos,
povo indígena; cabendo ao Presidente, ainda, o voto de qualidade.
VIII - despertar, por meio de instrumentos de divulgação, o § 4o O Procurador-Chefe poderá participar das reuniões da
interesse coletivo para a causa indígena; Diretoria Colegiada, sem direito a voto.
IX - exercer o poder de polícia em defesa e proteção dos § 5o A critério do Presidente, poderão ser convidados a
povos indígenas. participar das reuniões da Diretoria Colegiada gestores e
Art. 3o Compete à FUNAI exercer os poderes de assistência técnicos da FUNAI, do Ministério da Justiça e de outros
jurídica aos povos indígenas, conforme estabelecido na órgãos e entidades da administração pública federal, estadual
legislação. e municipal, representantes de entidades não-
Art. 4o A FUNAI, na forma da legislação vigente, promoverá governamentais, bem como membros da Comissão Nacional
os estudos de identificação e delimitação, a demarcação, de Política Indigenista - CNPI, sem direito a voto.
regularização fundiária e registro das terras tradicionalmente § 6o Em caso de impedimento do membro titular, este será
ocupadas pelos povos indígenas. representado por seu substituto legal.
Parágrafo único. As atividades de medição e demarcação Seção II
poderão ser realizadas por entidades públicas ou privadas, Do Conselho Fiscal
mediante convênios ou contratos, firmados na forma da Art. 9o O Conselho Fiscal constituir-se-á de três membros, de
legislação pertinente, desde que o órgão indigenista não tenha notório conhecimento contábil, com mandato de dois anos,
condições de realizá-las diretamente. vedada a recondução, sendo dois do Ministério da Justiça,
Art. 5o A identificação de áreas destinadas à criação de entre os quais um será seu Presidente, e um do Ministério da
reservas indígenas dependerá de estudos para a Fazenda, indicados pelos respectivos Ministros de Estado e
descaracterização da ocupação tradicional e verificação das nomeados, juntamente com seus suplentes, pelo Ministro de
condições necessárias à reprodução física e cultural dos Estado da Justiça.
indígenas. Parágrafo único. O Conselho Fiscal reunir-se-á,
ordinariamente, quatro vezes por ano e, extraordinariamente,
CAPÍTULO II sempre que convocado pelo seu Presidente.
DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL Seção III
Art. 6o A FUNAI tem a seguinte estrutura organizacional: Dos Comitês Regionais
I - de assistência direta e imediata ao Presidente: Gabinete; Art. 10. A FUNAI instituirá Comitês Regionais para cada
II - órgãos seccionais: Coordenação Regional.
a) Procuradoria Federal Especializada; § 1o Os Comitês Regionais serão compostos pelos
b) Auditoria Interna; Coordenadores Regionais, que os presidirão, Assistentes
Técnicos, Chefes de Divisão e de Serviços e representantes Presidente com as Diretorias, unidades descentralizadas e
indígenas locais, na forma do regimento interno da FUNAI. público externo;
§ 2o Os Comitês Regionais reunir-se-ão ordinariamente uma III - planejar, coordenar e supervisionar as atividades de
vez por semestre e, extraordinariamente, por convocação do comunicação social;
Presidente ou da maioria dos membros. IV - apoiar a publicação e divulgação das matérias de
§ 3o O quorum para a realização das reuniões será de, no interesse da FUNAI;
mínimo, cinquenta por cento dos membros votantes e suas V - planejar, coordenar e supervisionar as atividades das
decisões serão tomadas por maioria simples de votos, à assessorias técnicas; e
exceção das situações que exijam quorum qualificado, de VI - secretariar as reuniões da Diretoria Colegiada.
acordo com o regimento interno. Seção III
§ 4o Havendo impedimento do membro titular, este será Dos Órgãos Seccionais
representado por seu substituto legal. Art. 15. À Procuradoria Federal Especializada, órgão de
§ 5o Os Comitês Regionais poderão, por intermédio do execução da Procuradoria-Geral Federal, compete:
Presidente ou por decisão de seu plenário, convidar outros I - representar judicial e extrajudicialmente a FUNAI;
órgãos e entidades da administração pública federal, estadual II - apurar a liquidez e certeza dos créditos, de qualquer
e municipal, técnicos, especialistas, representantes de natureza, inerentes às atividades da FUNAI, inscrevendo-os
entidades não governamentais, membros da sociedade civil e em dívida ativa, para fins de cobrança amigável ou judicial;
da CNPI para prestar informações e opinar sobre questões III - defender os interesses e direitos individuais e coletivos
específicas, sem direito a voto. indígenas, de acordo com o disposto no art. 35 da Lei no
6.001, de 19 de dezembro de 1973;
CAPÍTULO V IV - zelar pela observância da Constituição, das leis e dos atos
DAS COMPETÊNCIAS DOS ÓRGÃOS emanados dos Poderes Públicos, sob a orientação normativa
Seção I da Procuradoria-Geral Federal e da Advocacia-Geral da
Dos Órgãos Colegiados União;
Art. 11. À Diretoria Colegiada compete: V - exercer as atividades de consultoria e assessoramento
I - estabelecer diretrizes e estratégias da FUNAI; jurídicos no âmbito da FUNAI,
II - acompanhar e avaliar a execução dos planos e ações da aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 11 da Lei
FUNAI, bem como determinar as medidas de ajustes Complementar no 73, de 10 de fevereiro de 1993;
necessárias ao cumprimento dos seus objetivos; VI - fixar a orientação jurídica da FUNAI, auxiliando na
III - examinar e propor ações relacionadas à proteção territorial elaboração e edição de seus atos normativos e interpretativos,
e promoção dos Povos Indígenas; em articulação com os órgãos competentes da FUNAI;
IV - deliberar sobre questões propostas pelo Presidente ou VII - coordenar e supervisionar, técnica e administrativamente,
pelos membros da Diretoria Colegiada; as suas unidades regionais no âmbito da FUNAI; e
V - analisar e aprovar o plano de ação estratégica e a VIII - encaminhar à Procuradoria-Geral Federal pedido de
proposta orçamentária da FUNAI, estabelecendo metas e apuração de falta funcional praticada, no exercício de suas
indicadores de desempenho vinculados a programas e atribuições, por seus respectivos membros.
projetos; Art. 16. À Auditoria Interna compete:
VI - analisar e aprovar o plano de aplicação da renda do I - realizar auditoria de avaliação e acompanhamento da
Patrimônio Indígena a ser submetido à aprovação do Ministro gestão, sob os aspectos orçamentário, financeiro, contábil,
de Estado da Justiça; operacional, pessoal e de sistemas, objetivando maior
VII - analisar e aprovar relatório anual e prestação de contas eficiência, eficácia, economicidade, equidade e efetividade nas
com avaliação dos programas e ações na área de atuação da ações desenvolvidas pela FUNAI, consoante com o plano
FUNAI; anual de atividades da auditoria interna;
VIII - analisar e aprovar programa de formação, treinamento e II - proceder à avaliação dos procedimentos administrativos e
capacitação técnica para os servidores efetivos do quadro da operacionais, no que se refere à conformidade com a
FUNAI; legislação, regulamentos e normas a que se sujeitam;
IX - analisar e identificar fontes de recursos internos e III - avaliar e propor medidas saneadoras, voltadas para a
externos para viabilização das ações planejadas pela FUNAI; eliminação ou mitigação dos riscos internos identificados nas
X - analisar e aprovar o plano anual de fiscalização das terras ações de auditoria;
indígenas; e IV - desenvolver trabalhos de auditoria de natureza especial,
XI - analisar e aprovar as proposições remetidas pelos não previstos no plano de atividades de auditoria, assim como
Comitês Regionais. elaborar estudos e relatórios específicos, por demanda do
Art. 12. Aos Comitês Regionais compete: Conselho Fiscal e da Direção da FUNAI;
I - colaborar na formulação das políticas públicas de proteção V - proceder ao exame da prestação de contas anual da
e promoção territorial dos FUNAI e da renda do Patrimônio Indígena, emitindo parecer
Povos Indígenas; prévio;
II - propor ações de articulação com os outros órgãos dos VI - estabelecer planos, programas de auditoria, critérios,
governos estaduais e municipais e organizações não- avaliações e métodos de trabalho, objetivando maior
governamentais; eficiência, eficácia e efetividades dos controles internos;
III - colaborar na elaboração do planejamento anual para a VII - elaborar o plano anual de atividades de auditoria interna,
região; e relatório anual de atividades da Auditoria Interna, assim como
IV - apreciar o relatório anual e a prestação de contas da manter atualizado o manual de auditoria interna;
Coordenação Regional. VIII - coordenar as ações necessárias objetivando prestar
Art. 13. Ao Conselho Fiscal compete exercer a fiscalização da informações, esclarecimentos e justificativas aos órgãos de
administração econômica e financeira da FUNAI e do controle interno e externo;
Patrimônio Indígena. IX - examinar e emitir parecer sobre tomada de contas
Seção II especial, no que se refere ao cumprimento dos normativos a
Do Órgão de Assistência Direta e Imediata ao Presidente que se sujeita, emanados do órgão de controle externo; e
Art. 14. Ao Gabinete compete: X - prestar orientação às demais unidades da FUNAI, nos
I - assistir ao Presidente em sua representação social e assuntos inerentes à sua área de competência.
política e incumbir-se do preparo e despacho de seu Art. 17. À Corregedoria compete:
expediente pessoal; I - fiscalizar as atividades funcionais dos órgãos internos e
II - incumbir-se do preparo e despacho do expediente unidades descentralizadas;
institucional, bem como da articulação e interlocução do II - instaurar sindicâncias e processos administrativos
disciplinares;
III - aplicar as medidas de correição para a racionalização e IV - realizar a promoção e a proteção dos direitos sociais
eficiência dos serviços; e indígenas, em articulação com órgãos afins;
IV - manter registro atualizado da tramitação e resultado dos V - acompanhar as ações de saúde das comunidades
processos e expedientes em curso. indígenas e de isolamento voluntário desenvolvidas pelo
Art. 18. À Ouvidoria compete: Ministério da Saúde; e
I - encaminhar denúncias de violação dos direitos indígenas VI - acompanhar as ações de educação escolar indígena
individuais e coletivos; realizadas pelos Estados e Municípios, em articulação com o
II - contribuir na resolução dos conflitos indígenas; Ministério da Educação.
III - promover a interação entre a FUNAI, povos, comunidades Art. 21. À Diretoria de Proteção Territorial compete:
e organizações indígenas, instituições governamentais e não I - formular, planejar, coordenar, implementar e acompanhar a
governamentais, nacionais e internacionais, que tratam dos execução das políticas de proteção territorial;
direitos humanos, visando prevenir, mediar e resolver as II - realizar estudos de identificação e delimitação de terras
tensões e conflitos para garantir a convivência amistosa das indígenas;
comunidades indígenas; e III - realizar a demarcação e regularização fundiária das terras
IV - contribuir para o desenvolvimento de políticas em prol das indígenas;
populações indígenas. IV - realizar o monitoramento nas terras indígenas
Art. 19. À Diretoria de Administração e Gestão compete: regularizadas e naquelas ocupadas por populações indígenas,
I - planejar, coordenar e supervisionar a execução das incluindo as isoladas e de recente contato;
atividades relacionadas com os sistemas federais de Recursos V - formular, planejar, coordenar e implementar as políticas de
Humanos, de Orçamento, de Administração Financeira, de proteção aos grupos isolados e recém contatados;
Contabilidade, de Informação e Informática, e de Serviços VI - formular e coordenar a execução das políticas a serem
Gerais no âmbito da FUNAI; implementadas nas terras ocupadas por populações indígenas
II - planejar, coordenar e acompanhar a execução das de recente contato, em articulação com a Diretoria de
atividades atinentes à manutenção e conservação das Promoção ao Desenvolvimento Sustentável;
instalações físicas, aos acervos e documentos e às VII - planejar, orientar, normatizar e aprovar informações e
contratações para suporte às atividades administrativas da dados geográficos, com objetivo de fornecer suporte técnico
FUNAI; necessário à delimitação, à demarcação física e demais
III - coordenar, controlar e executar financeiramente os informações que compõem cada terra indígena e o processo
recursos da renda indígena; de regularização fundiária;
IV - gerir o patrimônio indígena na forma estabelecida no art. VIII - disponibilizar as informações e dados geográficos, no
2o, inciso III; que couber, às unidades da FUNAI e outros órgãos ou
V - coordenar, controlar e executar os assuntos relativos a entidades correlatos; e
gestão de pessoas, gestão estratégica e recursos logísticos; IX - implantar medidas de vigilância, fiscalização e de
VI - supervisionar e coordenar a elaboração e a consolidação prevenção de conflitos em terras indígenas e retirada dos
dos planos e programas anuais e plurianuais, bem coma a invasores em conjunto com os órgãos competentes.
elaboração da programação financeira e orçamentária da Seção V
FUNAI; Dos Órgãos Descentralizados
VII - formalizar a celebração de convênios, acordos e outros Art. 22. Às Coordenações Regionais compete:
termos ou instrumentos congêneres que envolvam a I - realizar a supervisão técnica e administrativa das
transferência de recursos do Orçamento Geral da União e a coordenações técnicas locais e de outros mecanismos de
transferência de recursos da renda indígena, conforme a gestão localizados em suas áreas de jurisdição, bem como
legislação vigente; exercer a representação política e social do Presidente da
VIII - analisar a prestação de contas de convênios, acordos e FUNAI;
outros termos ou instrumentos congêneres celebrados com II - coordenar, controlar, acompanhar e executar as atividades
recursos do Orçamento Geral da União, da renda indígena e relativas à proteção territorial e promoção dos direitos
de fontes externas; socioculturais das populações indígenas;
IX - promover o registro, o tratamento, o controle e a execução III - executar atividades de promoção ao desenvolvimento
das operações relativas às administrações orçamentárias, sustentável das populações
financeiras, contábeis e patrimoniais dos recursos geridos pela indígenas;
FUNAI; IV - executar atividades de promoção e proteção social;
X - planejar, coordenar e supervisionar a execução das V - preservar e promover a cultura indígena;
atividades relativas à organização e modernização VI - apoiar a implementação de políticas voltadas à proteção
administrativa; territorial dos grupos
XI - coordenar, controlar, orientar, executar e supervisionar as indígenas isolados e recém contatados;
atividades relacionadas com a implementação da política de VII - apoiar a implementação de políticas de monitoramento
recursos humanos, compreendidas as de administração territorial nas terras indígenas;
de pessoal, capacitação e desenvolvimento; e VIII. executar ações de preservação ao meio ambiente; e
XII - coordenar as ações relativas ao planejamento estratégico IX - executar ações de administração de pessoal, material,
da tecnologia da informação e sua implementação no âmbito patrimônio, finanças, contabilidade e serviços gerais, em
da FUNAI, nas áreas de desenvolvimento dos sistemas de conformidade com a legislação vigente.
informação, de manutenção e operação, de infraestrutura, de § 1o Subordinam-se às Coordenações Regionais as
rede de comunicação de dados e de suporte técnico. Coordenações Técnicas Locais,
Seção IV cujas atividades serão definidas em regimento interno.
Dos Órgãos Específicos Singulares § 2o Na sede das Coordenações Regionais poderão funcionar
Art. 20. À Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento unidades da Procuradoria
Sustentável Compete: Federal Especializada.
I - promover políticas para o desenvolvimento sustentável das Seção VI
populações indígenas, em articulação com os órgãos afins; Do Órgão Científico-Cultural
II - promover políticas de gestão ambiental visando a Art. 23. Ao Museu do Índio compete:
conservação e a recuperação do meio ambiente, controlando I - resguardar, sob o ponto de vista material e científico, as
e mitigando possíveis impactos ambientais decorrentes de manifestações culturais representativas da história e tradições
interferências externas às terras indígenas, em articulação das populações étnicas indígenas brasileiras, bem como
com os órgãos ambientais; coordenar programas de estudos e pesquisas de campo, nas
III - promover o etnodesenvolvimento econômico, em áreas de Etnologia Indígena e Indigenismo e divulgar estudos
articulação com órgãos afins; e investigações sobre as sociedades indígenas;
II - planejar e executar a política de preservação, conservação Art. 27. A renda indígena é a resultante da aplicação de bens
e proteção legal dos acervos institucionais - etnográficos, e utilidades integrantes do Patrimônio Indígena.
textuais, imagéticos e bibliográficos - com objetivo cultural, § 1o A renda indígena será preferencialmente reaplicada em
educacional e científico; atividades rentáveis ou utilizada em programas de promoção
III - coordenar o estudo, pesquisa e inventário dos acervos aos indígenas.
visando produzir informações sistematizadas e difundi-las à § 2o Os bens adquiridos pela FUNAI, à conta da renda do
sociedade e em especial aos povos indígenas; Patrimônio Indígena, constituem bens deste Patrimônio.
IV - implementar ações voltadas para garantir a autoria e Art. 28. O arrolamento dos bens do Patrimônio Indígena será
propriedade coletiva dos bens permanentemente atualizado, procedendo-se à fiscalização
culturais das sociedades indígenas e o aperfeiçoamento dos rigorosa de sua gestão, mediante controle interno e externo, a
mecanismos para sua proteção; fim de tornar efetiva a responsabilidade dos seus
V - coordenar e controlar as atividades relativas à gestão de administradores.
recursos orçamentários e financeiros; e Art. 29. Será administrado pelos indígenas ou suas
VI - coordenar, controlar os contratos, licitações, convênios, comunidade os bens adquiridos por eles com recursos
ajustes e acordos, gestão de pessoal, serviços gerais, material próprios ou da renda indígena, ou que lhes sejam atribuídos,
e patrimônio, manutenção, logística e eventos no seu âmbito. podendo também ser administrados pela FUNAI, por expressa
delegação dos interessados.
CAPÍTULO VI Art. 30. O plano de aplicação da renda do Patrimônio
DAS ATRIBUIÇÕES DOS DIRIGENTES Indígena, distinto do orçamento da FUNAI, será anual e
Art. 24. Ao Presidente incumbe: previamente submetido à aprovação do Ministério da Justiça.
I - exercer a representação política da FUNAI; Art. 31. Responderá a FUNAI pelos danos causados por seus
II - formular os planos de ação da entidade e estabelecer as servidores ao Patrimônio Indígena, cabendo-lhe ação
diretrizes para o cumprimento da política indigenista; regressiva contra o responsável, nos casos de culpa ou dolo.
III - manter articulação com órgãos e entidades públicas e Seção II
instituições privadas; Do Patrimônio e Recursos da FUNAI
IV - gerir o Patrimônio Indígena e estabelecer normas sobre Art. 32. Constituem patrimônio e recursos da FUNAI:
sua gestão; I - o acervo de bens atuais e aqueles que venham a ser
V - representar a FUNAI judicial e extrajudicialmente, podendo adquiridos para uso próprio ou que lhe sejam transferidos com
delegar poderes e constituir mandatários; essa finalidade;
VI - decidir sobre a aquisição e alienação de bens móveis e II - as dotações orçamentárias e créditos adicionais;
imóveis da FUNAI e do Patrimônio Indígena, ouvido o III - as subvenções, auxílios e doações de pessoas físicas,
Conselho Fiscal; jurídicas, públicas ou privadas, nacionais, estrangeiras e
VII - assinar convênios, acordos, ajustes e contratos de âmbito internacionais;
nacional; IV - as rendas e emolumentos provenientes de serviços
VIII - ratificar os atos de dispensa ou de declaração de prestados a terceiros;
inexigibilidade das licitações, nos casos prescritos em lei; V - o dízimo da renda líquida anual do Patrimônio Indígena; e
IX - baixar instruções sobre o poder de polícia nas terras VI - outras rendas na forma da legislação vigente.
indígenas; Seção III
X - submeter à aprovação do Ministro de Estado da Justiça a Do Regime Financeiro e Fiscalização
proposta orçamentária da entidade; Art. 33. A prestação de contas anual da FUNAI, distinta da
XI - apresentar, trimestralmente, ao Conselho Fiscal, os relativa à gestão do Patrimônio Indígena, acompanhada do
balancetes da FUNAI e do Patrimônio Indígena e, anualmente, relatório das atividades desenvolvidas no período, será
as respectivas prestações de contas; submetida, com parecer do Conselho Fiscal, ao Ministério da
XII - ordenar despesas, inclusive da renda indígena; Justiça, que a encaminhará ao Tribunal de Contas da União.
XIII - empossar os membros do Conselho Fiscal; Art. 34. São distintas a contabilidade da FUNAI e a do
XIV - nomear e empossar os membros do Comitê Regional; Patrimônio Indígena.
XV - dar posse e exonerar servidores, conforme as legislações
vigentes; CAPÍTULO VIII
XVI - delegar competência; DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS
XVII - editar atos normativos internos e zelar pelo seu fiel Art. 35. A Fundação Nacional do Índio poderá firmar, com
cumprimento; e entidades públicas ou privadas, convênios, acordos ou
XVIII - supervisionar e coordenar as atividades das unidades contratos para obtenção de cooperação técnica ou financeira,
organizacionais da FUNAI, mediante acompanhamento dos visando à implementação das atividades de proteção e
órgãos da estrutura básica. promoção aos povos indígenas.
Art. 25. Ao Chefe de Gabinete, ao Procurador Chefe, aos Art. 36. Extinta a FUNAI, seus bens e direitos passarão à
Diretores, aos Coordenadores Gerais, ao Diretor do Museu e União, depois de satisfeitas as obrigações assumidas com
aos demais dirigentes incumbe planejar, coordenar e terceiros.
supervisionar a execução das atividades das unidades
organizacionais nas suas respectivas
áreas de competência.
Parágrafo único. Incumbe, ainda, aos Coordenadores
Regionais a representação política e social do Presidente nas
suas regiões de jurisdição.

CAPÍTULO VII
DO PATRIMÔNIO E DOS RECURSOS FINANCEIROS
Seção I
Dos Bens e Renda do Patrimônio Indígena
Art. 26. Constituem bens do Patrimônio Indígena:
I - as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas ou
suas comunidades;
II - o usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as
utilidades existentes nas terras ocupadas pelos indígenas ou
suas comunidades e nas áreas a eles reservadas; e
III - os bens móveis ou imóveis, adquiridos a qualquer título.
LEI Nº 6.001 - DE 19 DE DEZEMBRO DE 1973 TÍTULO I I
Dispõe sobre o Estatuto do Índio. Dos Direitos Civis e Políticos
TÍTULO I
Dos Princípios e Definições CAPÍTULO I
Art.1º Esta Lei regula a situação jurídica dos índio ou silvícolas Dos Princípios
e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a Art.5º Aplicam-se aos índios ou silvícolas as normas dos
sua cultura e integrá-los, progressiva e harmonicamente, à artigos 145 e 146, da Constituição Federal, relativas à
comunhão nacional. nacionalidade e à cidadania.
Parágrafo único . Aos índios e às comunidades indígenas se Parágrafo único. O exercício dos direitos civis e políticos pelo
estende a proteção das leis do País, nos mesmo termos em índio depende da verificação das condições especiais
que se aplicam os demais brasileiros, resguardados os usos, estabelecidas nesta Lei e na legislação pertinente.
costumes e tradições indígenas, bem como as condições Art.6º Serão respeitados os usos, tradições costumes das
peculiares reconhecidas nesta Lei. comunidades indígenas e seus efeitos, nas relações de
Art.2º cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem família, na ordem de sucessão, no regime de propriedade nos
como aos órgão das respectivas administrações indiretas, nos atos ou negócios realizados entre índios, salvo se optarem
limites de sua comparência, para a proteção das comunidades pela aplicação do direito comum.
indígenas e a preservação dos seus direitos; Parágrafo único. Aplicam-se as normas de direito comum às
I - estender aos índios os benefícios da legislação comum, relações entre índios não integrados e pessoas estranhas à
sempre que possível a sua aplicação; comunidade indígena, executados os que forem menos
II - prestar assistência aos índios e às comunidades indígenas favoráveis a eles e ressalvado o disposto nesta Lei.
ainda não integradas à comunhão nacional;
III - respeitar, ao proporcionar aos índios meio para seu CAPÍTULO I I
desenvolvimento, as peculiaridades inerentes à sua condição; Da Assistência ou Tutela
IV - assegurar aos índios a possibilidade de livre escolha dos Art.7º Os índios e as comunidades indígenas ainda não
seus meios de vida e subsistência; itegrados à comunhão nacional ficam sujeitos ao regime
V - garantir aos índios a permanência voluntária no seu tutelar estabelecido nesta Lei.
habitat, proporcionando-lhes ali recursos para seu §1º Ao regime tutelar estabelecido nesta Lei aplicam-se no
desenvolvimento e progresso; que couber, os princípios e as normas da tutela do direito
VI - respeitar, no processo de integração de índio à comunhão comum, independendo, todavia, o exercício da tutela da
nacional, a coesão das comunidades indígenas, os seus especialização de bens imóveis em hipoteca legal, bem como
valores culturais, tradições, usos e costumes; da prestação de caução real ou fidejussória.
VII - executar sempre que possível mediante a colaboração §2º Incumbe a tutela à União, que a exercerá através do
dos índios, os programas e projetos tendentes a beneficiar as competente órgão federal de assistência aos silvícolas.
comunidades indígenas; §8º São nulos os atos praticados entre índios não integrados e
VIII - utilizar a cooperação de iniciativa e as qualidades qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não
pessoais do índio, tendo em vista a melhoria de suas tenha havido assistência do órgão tutelar competente.
condições de vida e a sua integração no processo de Parágrafo único. Não se aplica a regra deste artigo no caso
desenvolvimento; em que o índio revele consciência e conhecimento do ato
IX - garantir aos índios e comunidades indígenas, nos termos praticado, desde que não lhe seja prejudicial, e da extensão
de Constituição, a posse permanente das terras que habitam, dos seus efetivos.
reconhecendo-lhes o direito ao usufruto exclusivo das Art.9º Qualquer índio poderá requerer ao Juízo competente a
riquezas naturais e de todas as utilidades naquelas terras sua liberação do regime tutelar previsto nesta Lei, investindo-
existentes; se na plenitude da capacidade civil, desde que preencha os
X - garantir aos índios o pleno exercício dos direitos civis e requisitos seguintes:
políticos que em fase da legislação lhes couberem. I - idade mínima de 21 anos;
Parágrafo único. Vetado. II - conhecimento da língua portuguesa;
Art.3º Para os efeitos de lei, ficam estabelecidas as definições III - habilitação para o exercício de atividade útil, na comunhão
a seguir discriminadas: nacional;
I - Índio ou Silvícola - É todo indivíduo de origem e IV - razoável compreensão dos usos e costumes da
ascendência pré-colombiana que se indentifica e é comunhão nacional.
intensificado como pertencente a um grupo étnico cujas Parágrafo único. O juiz decidirá após instrução sumária,
características culturais o distingem da sociedade nacional; ouvidos o órgão de assistência ao índio e o Ministério Público,
II - Comunidade Indígena ou Grupo Tribal - É um conjunto de transcrita a sentença concessiva no registro civil.
famílias ou comunidades índias, quer vivendo em estado de Art.10º Satisfeitos os requisitos do artigo anterior, e a pedido
completo isolamento em relação aos outros setores da escrito do interessado, o órgão de assistência poderá
comunhão nacional, quer em contatos intermitentes ou reconhecer ao índio, mediante declaração formal, a condição
permanentes, sem contudo estarem neles integrados. de integrado, cessando toda restrição á capacidade, desde
Art.4º Os índios são considerados: que, homologado juridicamente o ato, seja inscrito no registro
I - Isolados- Quando vivem em grupos desconhecidos ou de civil.
que se possuem poucos e vagos informes através de contatos Art.11º Mediante decreto do Presidente da República, poderá
eventuais com elementos da comunhão nacional; ser declarada a emancipação da comunidade indígena e de
II - Em vias de integração - Quando, em contato intermitente seus membros, quando ao regime tutelar estabelecido em lei;
ou permanente com grupos estranhos, conservem menor ou desde que requerida pela maioria dos membros do grupo e
maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam comprovada, em inquérito realizado pelo órgão federal
algumas práticas e modos de existência comuns aos demais competente, a sua plena integração na comunhão nacional.
setores da comunhão nacional, da qual vão vez mais para o Parágrafo único. Para os efeitos do disposto neste artigo,
próprio sustento; exigir-se-à o preenchimento, pelos requerentes, dos requisitos
III - Integrados- Quando incorporados à comunhão nacional e estabelecidos no artigo 9º.
reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que
conservem usos, costumes e tradições característicos da sua CAPÍTULO I I I
cultura. Do Registro Civil
Art.12º Os nascimentos e óbitos, e os casamentos civis dos
índios não integrados, serão registrados de acordo com a
legislação comum, atendidas as peculiaridades de sua
condição quanto à qualificação do nome, prenome e filiação.
Parágrafo único. O registro civil será feito a pedido do §1º A intervenção poderá ser decretada:
interessado ou da autoridade administrativa competente. a) para por termo à luta entre grupos tribais;
Art.13º Haverá livros próprios, no órgão competente de b) para combater graves surtos epidêmicos, que possam
assistência, para o registro administrativo de nascimentos e acarretar o extermino da comunidade indígena, ou qualquer
óbitos dos índios, da cessação de sua incapacidade e dos mal que ponha em risco a integridade do silvícola ou do grupo
casamentos contraídos segundo os costumes tribais. tribal;
Parágrafo único. O registro administrativo constituirá, quanto c) por imposição da segurança nacional;
couber, documento hábil para proceder ao registro civil do alto d) para a realização de obras públicas que interessem ao
correspondente, admitido, na falta deste, como meio desenvolvimento nacional;
subsidiário de prova. e) para reprimir a turbação ou esbulho em larga escala;
f) para exploração de riquezas do subsolo de relevante
CAPÍTULO I V interesse para a segurança e o desenvolvimento nacional;
Das condições de trabalho §2º A intervenção executar-se-à nas condições estipuladas no
Art.14º Não haverá discriminação entre trabalhadores decreto e sempre pór meios suasórios, dela podendo resultar,
indígenas e os demais trabalhadores, aplicando-se-lhes todos segundo a gravidade do fato, uma ou algumas das medidas
os direitos e garantias das leis trabalhistas e de previdência seguintes:
social. a) contenção de hostilidades, evitando-se o emprego de força
Parágrafo único. É permitida a adaptação de condições de contra os índios;
trabalho aos usos e costumes da comunidade a que pertencer b) deslocamento de grupos tribais de uma para outra área;
o índio. c) remoção de grupos tribais de uma outra área;
Art.15º Será nulo o contrato de trabalho ou de locação de §3º Somente caberá a remoção de grupo tribal quando de
serviços realizados com os índios de que trata o art.4º, I. todo impossível ou desaconselhável a sua permanência na
Art.16º Os contratados de trabalho ou de locação de serviços área sob intervenção, destinando-se à camunidade indígena
realizados com indígenas em processo de integração ou removida área equivalente à anterior, inclusive quanto às
habitantes de parques ou colônias agrícolas dependerão de condições ecológicas.
prévia aprovação do órgão de proteção ao índio, obedecendo, §4º A comunidade indígena removida será integralmente
quando necessário, a normas próprias. ressarcida dos prejuízos decorrentes da remoção.
§1º será estimulada a realização de contratos por equipe, ou a §5º O ato de intervenção terá a assistência direta do órgão
domicilio, sob a orientação do órgão competente, de modo a federal que exercita tutela do índio.
favorecer a continuidade da vida comunitária. Art.21° As terras espontânea e definitivamente abandonadas
§2º Em qualquer caso de prestação de serviços por indígenas por comunidade indígena ou grupo tribal reverterão, por
não integrados, o órgão de proteção ao índio exercerá proposta do órgão federal de assistência ao índio e mediante
permanentes fiscalização das condições de trabalho, ato declamatório do Poder Executivo, à posse e ao domínio
denunciados os abusos e providenciando as providencias a pleno da União.
aplicação das sanções cabíveis.
§3º O órgão de assistência ao indígena propiciará o acesso, CAPÍTULO I I
aos seus quadros, de índios integrados, estimulando a sua Das terras Ocupadas
especificação indigenista. Art.22° cabe aos índios ou silvícolas a posse permanente das
terras que habitam e o direito ao usufruto exclusivo das
TÍTULO I I I riquezas naturais e de todas as utilidades naquelas terras
Das Terras dos Índios existentes.
Parágrafo único. As terras ocupadas pelos índios, nos termos
CAPÍTULO I deste artigo, são bens inalienáveis da União (artigos 4º, IV, e
Das Disposições Gerais 198 da Constituição Federal)
Art.17° Reputam-se terras indígenas: Art.23° Considera-se pose do índio ou silvícola a ocupação
I - as terras ocupadas ou habitadas pelos silvícolas, a que se efetiva de terra, que, de acordo com os usos, costumes e
referem os artigos 4º, IV, e 198, da Constituição; tradições tribais, detém e onde habita ou exerce atividade
II - as áreas reservadas de que trata o Capítulo III deste Título; indispensável à sua subsistência ou economicamente útil.
III - as terras de domínio das comunidades indígenas ou de Art.24° O usufruto assegurado aos índios ou silvícolas
silvícolas. compreende o direito à posse, uso e percepção das riquezas
Art.18° As terras indígenas não poderão ser objeto de naturais e de todas as utilidades existentes nas terras
arrendamento ou de qualquer ato ou negócio jurídico que ocupadas, bem assim ao produto da exploração econômica de
restrinja o pleno exercício da posse direta pela comunidade tais riquezas naturais e utilidades.
indígena ou pelos silvícolas. §1º Incluem-se, no usufruto, que se estende aos acessórios e
§1º Nessas áreas, é vedada a qualquer pessoa estranha aos seus acrescidos, o uso dos mananciais e das águas dos
grupos tribais ou comunidades indígenas a prática da caça, trechos das vias fluviais compreendidos nas terras ocupadas.
pesca ou coleta de frutos, assim como de atividade §2º É garantido ao índio o exclusivo exercício da caça e pesca
agropecuárias ou extrativa. nas áreas por ele ocupadas, devendo ser executadas por
§2º vetado. forma suasória as medidas de polícia que em relação a ele
Art.19º As terras indígenas, por iniciativa e sob orientação do eventualmente tiverem que ser aplicadas.
órgão federal de assistência ao índio, serão Art.25° O reconhecimento do direito dos índios e grupos tribais
administrativamente demarcadas, de acordo com o processo à posse permanente das terras por eles habitadas, nos termos
estabelecido em decreto do Poder Executivo. do artigo 198, da Constituição Federal, independerá de sua
§1º A demarcação promovida nos termos deste artigo, demarcação, e será assegurado pelo órgão federal de
homologada pelo Presidente da República, será registrada em assistência aos silvícolas, atendendo à situação atual e ao
livro próprio do Serviço do Patrimônio da União (S.P.U) e do consenso histórico sobre a antigüidade da ocupação, sem
registro imobiliário da comarca da situação das terras. prejuízo das medidas cabíveis que, na omissão ou erro do
§2º Contra a demarcação processada nos termos deste artigo referido órgão, tomar qualquer dos Poderes da República.
não caberá a concessão do interdito possessório, facultado
aos interessados contra ela recorrer à ação petitória ou à CAPÍTULO I I I
demarcatória. Das Áreas Reservadas
Art.20° Em caráter experimental e por qualquer dos motivos Art.26° A União poderá estabelecer, em qualquer parte do
adiante enumerados, poderá a União intervir, se não houver território nacional, áreas distintas à posse e ocupação pelos
solução alternativa, em áreas indígenas, determinada a índios, onde possam viver e obter meios de subsistência, com
providência por decreto do Presidente da República. direito ao usufruto e utilização das riquezas naturais
indígenas, podendo organizar-se sob uma das seguintes TÍTULO I V
modalidades: Dos Bens e Renda do Patrimônio Indígena
a) reserva indígena; Art.39° Constituem bens do Patrimônio Indígena:
b) parque indígena; I - as terras pertencentes ao domínio dos grupos tribais ou
c) colônia agrícola indígena; comunidades indígenas;
d) território federal indígena; II - O usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as
Art.27° Reserva Indígena é uma área destinada a servir de utilidades existentes nas terras ocupadas por grupos tribais ou
habitat a grupos indígenas, com os meios suficientes à sua comunidades indígenas e nas áreas a eles reservadas.
subsistência. III - os bens móveis ou imóveis, adquiridos a qualquer titulo.
Art.28° Parque Indígena é a área contida em terra para posse Art.40° São titulares do patrimônio indígena:
dos índios, cujo grau de integração permita assistência I - população indígena do País, no tocante a bens ou rendas
econômica, educacional e sanitária dos órgãos da União, em pertencentes ou destinadas aos silvícolas, sem discriminação
que se preservem as reservas de flora e fauna e as belezas de pessoas ou grupos tribais;
naturais da região. II - o grupo tribal ou comunidades indígenas determinada,
§1º Na administração dos parques serão respeitadas a quanto à posse e usufruto das terras por ele exclusivamente
liberdade, usos, costumes e tradições dos índios. ocupadas, ou eles destinadas;
§2º As medidas de polícia, necessárias à ordem interna e à III - a comunidade indígenas ou grupos tribal nomeados no
preservação das riquezas existentes na área do parque, título aquisitivo da propriedade, em relação aos respectivos
deverão ser tomadas por meios suasórios e de acordo com imóveis.
interesse dos índios que nela habitam. Art.41° Não integram o Patrimônio Indígena:
§3º O loteamento das terras do parque indígena obedecerá ao I - as terras de exclusiva posse ou domínio do índio ou
regime de propriedade, usos e costumes tribais, bem como as silvícola, individualmente considerandos, e o usufruto das
normas administrativas nacionais, que deverão ajustar-se aos respectivas riquezas naturais e utilidades;
interesses das comunidades indígenas. II - a habitação, os moveis e utensílios domestico, os objetos
Art.29° Colônia agrícola é a área destinada à exploração de uso pessoal, os instrumentos de trabalho e os produtos da
agropecuária, administrada pelo órgão de assistência ao índio, lavoura, caça, pesca e coleta ou do trabalho em geral dos
onde convivam tribos acumuladas e membros da comunidade silvícolas.
nacional. Art.42° Cabe ao órgão de assistência a gestão do Patrimônio
Art.30° Território federal indígena é a unidade administrativa Indígena propiciando-se, porem a participação dos silvícolas e
subordinada à União, instituída em região na qual pelo menos dos grupos tribais na administração dos próprios bens, sendo-
um terço da população seja formado por índios. lhes totalmente confiado o encargo, quando demonstrem
Art.31° As disposições deste Capítulo serão aplicadas, no que capacidade efetiva para o seu exercício.
couber, às áreas em que a posse decorra da aplicação do Parágrafo único. O arrolamento dos bens do Patrimônio
artigo 198, da Constituição Federal. Indígena será permanentemente atualizado, procedendo-se à
fiscalização rigorosa de gestão, mediante controle interno e
CAPÍTULO I V externo a fim de tornar efetiva a responsabilidade dos seus
Das Terras de Domínio Indígena administradores.
Art.32° São de propriedade plena do índio ou da comunidade Art.43° A renda indígena é a resultante da aplicação de bens e
indígena, conforme o caso, as terras havidas por qualquer das utilidades integrantes do patrimônio Indígena, sob a
formas de aquisição do domínio, nos termos da legislação responsabilidade do órgão de assistência ao índio.
civil. §1º A renda indígena será preferencialmente reaplicada em
Art.33° O índio integrado ou não, que ocupe como próprio, por atividades rentáveis ou utilizada em programas de assistência
dez anos consecutivos, trechos de terras inferior a cinqüenta ao índio.
hectares, adquirir-lhe-á propriedade plena. §2º A reaplicação prevista no parágrafo anterior reverterá
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às principalmente em beneficio da comunidade que produziu os
terras do domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às primeiros resultados econômicos.
áreas reservadas de que trata esta Lei, nem às terras de Art.44° As riquezas do solo, nas áreas indígenas, somente
propriedade coletiva de grupo tribal. pelos silvícolas podem ser exploradas, cabendo-lhes com
exclusividade o exercício da garimpagem, faiscação e cata
CAPÍTULO V das áreas referidas.
Da Defesa das Terras Indígenas Art.45° A exploração das riquezas do subsolo nas áreas
Art.34° O órgão federal de assistência ao índio poderá solicitar pertencentes aos índios, ou domínio da União, mas na posse
a colaboração das Forças Armadas e Auxiliares da Polícia de comunidade indígenas, far-se-á nos termos da legislação
Federal, para assegurar a proteção das terras ocupadas pelos vigente, observando o disposto nesta Lei.
índios e pelas comunidades indígenas. §1º O Ministério do interior, através do órgão competente de
Art.35° Cabe ao órgão federal de assistência ao índio a defesa assistência aos índios, representará os interesses da União,
jurídica ou extrajudicial dos direitos dos silvícolas e das como proprietário do solo, mas a participação no resultado da
comunidades indígenas. exploração, as indenizações e a renda devida pela ocupação
Art.36° Sem prejuízos do disposto no artigo anterior compete à do terreno, reverterão em benéficos das índios e constituirão
União adotar as medidas administrativas ou propor, por fontes de renda indígena.
intermédio do Ministério Público Federal, as medidas judiciais §2º Na salvaguarda dos interesses do patrimônio Indígena e
adequadas à proteção da posse dos silvícolas sobre as terras do bem estar dos silvícolas, a autorização de pesquisa ou
que habitam. lavra, a terceiros, nas posses tribais, estará condicionada a
Parágrafo único. Quando as medidas judiciais previstas neste prévio entendimento com o órgão de assistência ao índio.
artigo, forem propostas pelo órgão federal de assistência, ou Art.46° O corte de madeira nas florestas indígenas
contra ele, a União será litisconsorte ativa ou passiva. consideradas no regime de preservação permanente, de
Art.37° Os grupos tribais ou comunidades indígenas são acordo com a letra g e §2º, do artigo 3º, do Código Florestal,
partes legítimas para a defesa dos seus direitos em juízo, está condicionado à existência de programas ou projetos, para
cabendo-lhes, no caso, a assistência do Ministério Público o aproveitamento das terras respectivos na exploração
Federal ou do órgão de proteção ao índio. agropecuário, na industria ou no reflorestamento.
Art.38° As terras indígenas são inusucapíveis e sobre elas não
poderá recair desapropriação, salvo o previsto no artigo 20.
TÍTULO V TÍTULO VII
Da Educação, Cultura e Saúde Disposições Gerais
Art.47° É assegurado o respeito ao patrimônio cultural das Art.60°. Os bens e rendas do Patrimônio Indígena gozam de
comunidades indígenas, seus valores artísticos e meios de plena isenção tributária.
exploração. Art.61°. São extensivos os interesses do Patrimônio Indígena
Art.48° Estende-se à população indígena, com s necessárias os privilégios da Fazenda Pública, quanto à impenhorabilidade
adaptações, o sistema de ensino em vigor no País. de bens, rendas e serviços, ações especiais; prazos
Art.49° A alfabetização dos índio far-se-á na língua do grupo a processuais, juros e custas.
que pertençam, e em português, salvaguardado o uso da Art.62°. Ficam declaradas a nulidade e a extinção dos efeitos
primeira. jurídicos dos atos de qualquer natureza que tenham por objeto
Art.50° A educação do índio será orientada para a integração o domínio, a posse ou a ocupação das terras habitadas pelos
na comunhão nacional mediante processo de gradativa índios ou comunidades indígenas.
compreensão dos problemas gerais e valores da sociedade §1º Aplica-se o dispositivo neste artigo às terras que tenham
nacional, bem como do aproveitamento das suas aptidões sido desocupadas pelos índios ou comunidades indígenas em
individuais. virtude de ato ilegítimo de autoridade e particular.
Art.51° A assistência aos menores, para fins educacionais, §2º Ninguém terá direito a ação ou indenização contra a
será prestada, quando possível, sem afastá-los do convívio União, o órgão de assistência ao índio ou os silvícolas em
familiar ou tribal. virtude da nulidade e extinção de que trata este artigo, ou de
Art.52° Será proporcionada ao índio a formação profissional suas conseqüências econômicas.
adequada, de acordo com seu grau de culturação. §3º Em caráter excepcional e a juízo exclusivo do dirigente do
Art.53° O artesanato e as indústrias rurais serão estimulados, órgão de assistência ao índio, será permitida a continuação,
no sentido de elevar o padrão de vida do índio com a por prazo razoável, dos efeitos dos contratos de arrendamento
conveniente adaptação às condições técnicas nomeadas. em vigor da data desta Lei, desde que a sua extinção acarrete
Art.54° Os índios têm direito aos meios de proteção à saúde graves conseqüências sociais.
facultados à comunhão nacional. Art.63°. Nenhuma medida judicial será concedida liminarmente
Parágrafo único. Na infância, na maternidade, na doença e na em causas que envolvam interesse de silvícolas ou do
velhice, deve ser assegurada ao silvícola especial assistência Patrimônio Indígena, sem prévia audiência da União e do
dos poderes públicos, em estabelecimentos a esse órgão de proteção ao índio.
destinados. Art.64°. Vetado
Art.55° O regime geral da previdência social será extensivo Parágrafo único. Vetado.
aos índios, atendidas as condições sociais, econômicas e Art.65°. O Poder Executivo fará, no prazo de cinco anos, a
culturais das comunidades beneficiadas. demarcação das terras indígenas, ainda não demarcadas.
Art.66°. O órgão de proteção ao silvícola fará divulgar e
TÍTULO VI respeitar as normas da Convenção 107, promulgada pelo
Das Normas Penais Decreto nº 58.824, de 14 de julho de 1966.
Art.67°. É mantida a Lei nº 5.371, de 05 de dezembro de 1967.
CAPÍTULO I Art.68° . Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação,
Dos Princípios revogadas as disposições em contrário.
Art. 56°. No caso de condenação de índio por infração penal, a
pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o juiz atenderá Brasília, 19 de dezembro de 1973; 152º da Independência e
também ao grau de integração silvícola. 85º da República.
Parágrafo Único. As penas de reclusão e de detenção serão EMÍLIO G. MÉDICI
cumpridas, se possível, em regime especial de semiliberdade, Alfredo Buzaid
no local de funcionamento do órgão federal de assistência aos Antônio Delfim Netto
índios mais próximo da habitação do condenado. José Costa Cavalcanti.
Art.57°. Será tolerada aplicação, pelos grupos tribais, de Publicado no Diário Oficial de 21 de dezembro de 1973.
acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou
disciplinares contra os seus membros, desde que não
revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer
caso a pena de morte.

CAPÍTULO II
Dos Crimes Contra os Índios
Art.58° . Constituem crimes contra os índios e a cultura
indígena:
I - escarnecer de cerimônia, rito, uso, costumes ou tradição
culturais indígenas, vilipendiá-los ou perturbar, de qualquer
modo, a sua prática. Pena - detenção de um a três meses;
II - utilizar o índio ou comunidade indígena como objeto de
propaganda turística ou de exibição para fins lucrativos. Pena
- detenção de dois a seis meses;
III - propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e a
disseminação de bebidas alcoólicas, nos grupos tribais eu
entre índios não integrados. Pena - detenção de seis meses a
dois anos;
Parágrafo único. As penas estatuídas neste artigo são
agravadas de um terço, quando o crime for praticado por
funcionário ou empregado do órgão de assistência ao índio.
Art.59°. No caso de crime contra a pessoa, o patrimônio ou os
costumes, em que o ofendido seja índio não integrado ou
comunidade indígena, a pena será agravada de um terço.
PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA AOS POVOS INDÍGENAS ................................................................................ ...................
DECRETO Nº 3.156, DE 27 DE AGOSTO DE 1999. ......................................" (NR)
Dispõe sobre as condições para a prestação de assistência à "Art. 17. À Diretoria de Assistência compete promover e dirigir,
saúde dos povos indígenas, no âmbito do Sistema Único de em nível nacional, as ações de assistência aos índios nas
Saúde, pelo Ministério da Saúde, altera dispositivos dos áreas de proteção aos grupos indígenas isolados, de
Decretos nºs 564, de 8 de junho de 1992, e 1.141, de 19 de execução das atividades relativas à prestação, conservação e
maio de 1994, e dá outras providências. recuperação do meio ambiente de atividades sociais
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribuições que produtivas, assim como apoiar e acompanhar as ações das
lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, da Constituição, e tendo comunidades indígenas, desenvolvidas pelo Ministério da
em vista nos arts. 14, inciso XVII, alinea " c ", 18, inciso X e Saúde." (NR)
28-b da Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998, Art 6º Os arts. 1º, 2º e 6º do Decreto nº 1.141, de 19 de maio
DECRETA: de 1994, passam a vigorar com a seguinte redação:
Art 1º A atenção à saúde indígena é dever da União e será "Art. 1º As ações de proteção ambiental e apoio às atividades
prestada de acordo com a Constituição e com a Lei nº 8.080, produtivas voltadas às comunidades indígenas constituem
de 19 de setembro de 1990, objetivando a universidade, a encargos da União." (NR)
integralidade e a equanimidade dos serviços de saúde. "Art. 2º As ações de que trata este Decreto dar-se-ão
Parágrafo único. As ações e serviços de saúde prestados aos mediante programas nacionais e projetos específicos, de
índios pela União não prejudicam as desenvolvidas pelos forma integrada entre si e em relação às demais ações
Municípios e Estados, no âmbito do Sistema Único de Saúde. desenvolvidas em terras indígenas, elaboradas e executadas
Art 2º Para o cumprimento do disposto no artigo anterior, pelos Ministérios da Justiça, da Agricultura e do
deverão ser observadas as seguintes diretrizes destinadas à Abastecimento, do Meio Ambiente e da Cultura, ou por seus
promoção, proteção e recuperação da saúde do índio, órgãos vinculados e entidades supervisionadas, em suas
objetivando o alcance do equilíbrio bio-psico-social, com o respectivas áreas de competência legal, com observância das
reconhecimento do valor e da complementariedade das normas estabelecidas pela Lei nº 6.001, de 19 de dezembro
práticas da medicina indígena, segundo as peculiaridades de de 1973." (NR)
cada comunidade, o perfil epidemiológico e a condição "Art. 6º A Comissão Intersetorial será constituída por:
sanitária: I - um representante do Ministério da Justiça, que a presidirá;
I - o desenvolvimento de esforços que contribuam para o II - um representante do Ministério da Agricultura e do
equilíbrio da vida econômica, política e social das Abastecimento;
comunidades indígenas; III - um representante do Ministério da Saúde;
II - a redução da mortalidade, em especial a materna e infantil; IV - um repersentante do Ministério do Meio Ambiente;
III - a interrupção do ciclo de doenças transmissíveis; V - um representante do Ministério da Cultura;
IV - o controle da desnutrição, da cárie dental e da doença VI - um representante do Ministério das Relações Exteriores;
periodental; VII - um representante da Fundação Nacional do Índio;
V - a restauração das condições ambientais, cuja violação se VIII - um representante da Fundação Nacional da Saúde;
relacione diretamente com o surgimento de doenças e de IX - dois representante da Sociedade Civil, vinculados a
outros agravos da saúde; entidades de defesa dos interesses das comunidades
VI - a assistência médica e odontológica integral, prestada por indígenas." (NR)
instituições públicas em parceria com organizações indígenas Art 7º Ficam remanejados, na forma deste artigo e do Anexo I
e outras da sociedade civil; a este Decreto, da Fundação Nacional do Índio - FUNAI para a
VII - a garantia aos índios e às comunidades indígenas de Fundação Nacional de Saúde - FUNASA, um DAS 101.4; dois
acesso às ações de nível primário, secundário e terciário do DAS 101.3; vinte e quatro DAS 101.1 e quarenta e nove FG-1.
Sistema Único de Saúde - SUS; Parágrafo único. Em decorrência do disposto no caput deste
VIII - a participação das comunidades indigenas envolvidas na artigo, os anexos LXVIII e LXXIV ao Decreto nº 1.351, de 28
elaboração da política de saúde indígena, de seus programas de dezembro de 1994, passam a vigorar na forma dos anexos
e projetos de implementação; e II e III a este Decreto.
IX - o reconhecimento da organização social e política, dos Art 8º A FUNASA contará com Distritos Sanitários Especiais
costumes, das línguas, das crenças e das tradições dos Indígenas destinados ao apoio e à prestação de assistência à
índios. saúde das populações indígenas.
Parágrafo único. A organização das atividades de atenção à § 1º Os Distritos de que trata este artigo serão dirigidos por um
saúde das populações indígenas dar-se-á no âmbito do Chefe DAS 101.1 e auxiliados por dois Assistentes FG-1.
Sistema Único de Saúde e efetivar-se-á, progressivamente, § 2º Ficam subordinadas aos respectivos Distritos Sanitários
por intermédio dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, Especiais Indígenas as Casas do Índio, transferidas da FUNAI
ficando assegurados os serviços de atendimento básico no para a FUNASA, cada uma delas dirigida por um Chefe FG-1.
âmbito das terras indígenas. § 3º Ao Distrito Sanitário Especial Indígena cabe a
Art 3º O Ministério da Saúde estabelecerá as políticas e responsabilidade sanitária sobre determinado território
diretrizes para promoção, prevenção e recuperação da saúde indígena e a organização de serviços de saúde
do índio, cujas ações serão executadas pela Fundação hierarquizados, com a participação do usuário e o controle
Nacional de Saúde - FUNASA. social.
Parágrafo único. A FUNAI comunicará à FUNASA a existência § 4º Cada Distrito Sanitário Especial Indígena terá um
de grupos indígenas isolados, com vistas ao atendimento de Conselho Distrital de Saúde Indígena, com as seguintes
saúde específico. atribuições:
Art 4º Para os fins previstos neste Decreto, o Ministério da I - aprovação do Plano Distrital;
Saúde poderá promover os meios necessários para que os II - avaliação da execução das ações de saúde planejadas e a
Estado, Municípios e entidades governamentais e não- proposição, se necessária, de sua reprogramação parcial ou
governamentais atuem em prol da eficácia das ações de total; e
saúde indígena, observadas as diretrizes estabelecidas no art. III - apreciação da prestação de contas dos órgãos e
2º deste Decreto. instituições executoras das ações e serviços de atenção à
Art 5º Os arts. 2º e 17 do Anexo I ao Decreto nº 564, de 8 de saúde do índio.
junho de 1992, passam a vigorar com a seguinte redação: § 5º Os Conselhos Distritais de Saúde Indígena serão
"Art. 2º A FUNAI tem por finalidade: integrados de forma partidária por:
V - apoiar e acompanhar o Ministério da Saúde e a Fundação I - representantes dos usuários, indicados pelas respectivas
Nacional de Saúde nas ações e serviços destinados à atenção comunidades; e
à saúde dos povos indígenas;
II - representantes das organizações governamentais
envolvidas, prestadores de serviços e trabalhadores do setor
de saúde.
Art 9º Poderão ser criados, pelo Presidente da FUNASA, no
âmbito dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas,
Conselhos Locais de Saúde, compostos por representantes
das comunidades indígenas, com as seguintes atribuições:
I - manifestar-se sobre as ações e os serviços de saúde
necessários à comunidade;
II - avaliar a execução das ações de saúde na região de
abrangência do Conselho;
III - indicar conselheiros para o Conselho Distrital de Saúde
Indígena e para os Conselhos Municipais, se for o caso; e
IV - fazer recomendações ao Conselho Distrital de Saúde
Indígena, por intermédio dos conselheiros indicados.
Art 10. As designações dos membros dos Conselhos Distritais
de Saúde Indígena e dos Conselhos Locais de Saúde serão
feitas, respectivamente, pelo Presidente da FUNASA e pelo
Chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena, mediante
indicação das comunidades representadas.
Art 11. A regulamentação, as competências e a instalação dos
Distritos Sanitários especiais Indígenas serão feitas pelo
Presidente da FUNASA, até a publicação do novo Estatuto e
do regimento Interno da Fundação.
Art 12. Os cargos em comissão e as funções de confiança
integrantes das unidades descentralizadas da FUNASA serão
providos, exclusivamente, por servidores do Quadro de
Pessoal Permanente, ativo ou inativo, da Fundação Nacional
de Saúde ou, excepcionalmente, do Ministério da Saúde.
§ 1º Além da exigência estabelecida no caput deste artigo,
deverão ocupar, ou ter ocupado, no caso de servidor inativo,
cargo permanente de nível superior e ter experiência mínima
de cinco anos em cargo de direção ou função de confiança no
Ministério da Saúde ou em suas entidades vinculadas, os
ocupantes dos seguintes cargos:
I - Coordenador Regional da FUNASA;
II - Diretor doInstituto Hélio Fraga;
III - Diretor do Instituto Evandro Chagas; e
IV - Diretor do Centro Nacional de Primatas.
§ 2º Executam-se das disposições deste artigo:
I - os servidores que, na data da publicação deste Decreto, se
encontrem no exercício dos mencionados cargos e funções; e
II - as nomeações de advogados para os cargos em comissão
de Assessor Jurídico das unidades descentralizadas da
FUNASA, até a realização de concurso público específico.
Art 13. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art 14. Ficam revogados os arts. 11, 12, 13 e 14 do Decreto nº
1.141, de 19 de maio de 1994, e os Decretos nºs 1.479, de 2
de maio de 1995, 1.779, de 9 de janeiro de 1996; e 2.540, de
8 de abril de 1998.

Brasília, 27 de agosto de 1999; 178º da Independência e 111º


da República.
FERNANDO HENIQUE CARDOSO
José Carlos Dias
José Serra
Martus Tavares
OS ÍNDIOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 regionais.
Este documento traz os artigos da CF/88 que estão § 2.º O ensino fundamental regular será ministrado em língua
relacionados à situação dos índios brasileiros. portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a
Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, aprendizagem.
constitui-se em Estado democrático de direito e tem como Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos
fundamentos: direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e
I - a soberania; apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
Art. 3.º Constituem objetivos fundamentais da República manifestações culturais.
Federativa do Brasil: § 1.º O Estado protegerá as manifestações das culturas
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de participantes do processo civilizatório nacional.
discriminação. Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de
Art. 4.º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
relações internacionais pelos seguintes princípios: conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
III - autodeterminação dos povos; memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a brasileira, nos quais se incluem:
integração econômica, política, social e cultural dos povos da I - as formas de expressão;
América Latina, visando à formação de uma comunidade II - os modos de criar, fazer e viver;
latino-americana de nações. III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico
nos termos seguintes: e científico.
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e § 1.º O poder público, com a colaboração da comunidade,
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e
Art. 20. São bens da União: desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. preservação.
§ 2.º A faixa de até cento e cinqüenta quilômetros de largura, § 2.º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão
ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de da documentação governamental e as providências para
fronteira, é considerada fundamental para defesa do território franquear sua consulta a quantos dela necessitem.
nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei.
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: CAPÍTULO VIII
XIV - populações indígenas; Dos Índios
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social,
XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
riquezas minerais; competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: todos os seus bens.
XI - a disputa sobre direitos indígenas. § 1.º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas
V - defender judicialmente os direitos e interesses das atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos
populações indígenas; recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus
econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de usos, costumes e tradições.
fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este § 2.º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
determinante para o setor público e indicativo para o setor destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o
privado. usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos
§ 3.º O Estado favorecerá a organização da atividade nelas existentes.
garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do § 3.º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os
meio ambiente e a promoção econômico-social dos potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas
garimpeiros. minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com
§ 4.º As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades
terão prioridade na autorização ou concessão para pesquisa e afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados
lavra dos recursos e jazidas de minerais garimpáveis, nas da lavra, na forma da lei.
áreas onde estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo § 4.º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e
com o art. 21, XXV, na forma da lei. indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.
Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos § 5.º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas
minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem terras, salvo, ad referendum do Congresso Nacional, em caso
propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população,
aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao ou no interesse da soberania do País, após deliberação do
concessionário a propriedade do produto da lavra. Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o
§ 1.º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o retorno imediato logo que cesse o risco.
aproveitamento dos potenciais a que se refere o caput deste § 6.º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os
artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse
ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das
ou empresa brasileira de capital nacional, na forma da lei, que riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas
estabelecerá as condições específicas quando essas existentes, ressalvado relevante interesse público da União,
atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a
indígenas. nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias
fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum derivadas da ocupação de boa-fé.
e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e § 7.º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174,
§§ 3.º e 4.º. Estima-se que só na bacia amazônica existissem 5.600.000
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são habitantes. Também em termos estimativos, os lingüistas têm
partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus aceito que cerca de 1.300 línguas diferentes eram faladas
direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos pelas muitas sociedades indígenas então existentes no
os atos do processo. ADCT território que corresponde aos atuais limites do Brasil.
Art. 67. A União concluirá a demarcação das terras indígenas Dezenas de milhares de pessoas morreram em conseqüência
no prazo de cinco anos a partir da promulgação da do contato direto e indireto com os europeus e as doenças por
Constituição. eles trazidas. Doenças hoje banais, como gripe, sarampo e
coqueluche, e outras mais graves, como tuberculose e varíola,
Brasília, 5 de outubro de 1988. vitimaram, muitas vezes, sociedades indígenas inteiras, por
Ulysses Guimarães, Presidente não terem os índios imunidade natural a estes males.
Mauro Benevides, 1.º Vice-Presidente Em face da ruptura demográfica e social promovida pela
conquista européia, foi sugerido que os padrões de
organização social e de manejo dos recursos naturais das
A ORIGEM DOS POVOS AMERICANOS populações indígenas que atualmente vivem no território
brasileiro não seriam representativos dos padrões das
Os habitantes do continente americano descendem de sociedades pré-coloniais.
populações advindas da Ásia, sendo que os vestígios mais Esse é um ponto controvertido entre os pesquisadores, pois
antigos de sua presença na América, obtidos por meio de ainda não há dados suficientes advindos de pesquisas
estudos arqueológicos, datam de 11 a 12,5 mil anos. Todavia, arqueológicas, bioantropológicas e de história indígena
ainda não se chegou a um consenso acerca do período em enfocando o impacto do contato europeu sobre as populações
que teria havido a primeira leva migratória. nativas para que se possa fazer tal afirmativa.
Os povos indígenas que hoje vivem na América do Sul são O atual estado de preservação das culturas e línguas
originários de povos caçadores que aqui se instalaram, vindo indígenas é conseqüência direta da história do contato das
da América do Norte através do istmo do Panamá, e que diferentes sociedades indígenas com os europeus que
ocuparam virtualmente toda a extensão do continente há dominaram o território brasileiro desde 1500. Os primeiros
milhares de anos. De lá para cá, estas populações contatos se deram no litoral e só aos poucos houve um
desenvolveram diferentes modos de uso e manejo dos movimento de interiorização por parte dos europeus.
recursos naturais e formas de organização social distintas
entre si. O deslocamento da população
Não existe consenso também, entre os arqueólogos, sobre a Quando se observa o mapa da distribuição das populações
antigüidade da ocupação humana na América do Sul. Até há indígenas no território brasileiro de hoje, podem-se ver
alguns anos, o ponto de vista mais aceito sobre este assunto claramente os reflexos do movimento de expansão político-
era o de que os primeiros habitantes do continente sul- econômica ocorrido historicamente.
americano teriam chegado há pouco mais de 11 mil anos. Os povos que habitavam a costa leste, na maioria falantes de
No Brasil, a presença humana está documentada no período línguas do Tronco Tupi, foram dizimados, dominados ou
situado entre 11 e 12 mil anos atrás. Mas novas evidências refugiaram-se nas terras interioranas para evitar o contato.
têm sido encontradas na Bahia e no Piauí que comprovariam Hoje, somente os Fulniô (de Pernambuco), os Maxakali (de
ser mais antiga esta ocupação, com o que muitos arqueólogos Minas Gerais) e os Xokleng (de Santa Catarina) conservam
não concordam. Assim, há uma tendência cada vez maior de suas línguas. Curiosamente, suas línguas não são Tupi, mas
os pesquisadores reverem essas datas, já que pesquisas pertencentes a três famílias diferentes ligadas ao Tronco
recentes vêm indicando datações muito mais antigas. Macro-Jê.
Os Guarani, que vivem em diversos estados do Sul e Sudeste
HÁ 500 ANOS brasileiro e que também conservam a sua língua, migraram do
Oeste em direção ao litoral em anos relativamente recentes.
Há cinco séculos, os portugueses chegaram ao litoral As demais sociedades indígenas que vivem no Nordeste e
brasileiro, dando início a um processo de migração que se Sudeste do País perderam suas línguas e só falam o
estenderia até o início do século XX, e paulatinamente foram português, mantendo apenas, em alguns casos, palavras
estabelecendo-se nas terras que eram ocupadas pelos povos esparsas, utilizadas em rituais e outras expressões culturais.
indígenas. A maior parte das sociedades indígenas que conseguiram
O processo de colonização levou à extinção muitas preservar suas línguas vive, atualmente, no Norte, Centro-
sociedades indígenas que viviam no território dominado, seja Oeste e Sul do Brasil. Nas outras regiões, elas foram sendo
pela ação das armas, seja em decorrência do contágio por expulsas à medida em que a urbanização avançava.
doenças trazidas dos países distantes, ou, ainda, pela
aplicação de políticas visando à "assimilação" dos índios à O ÍNDIO HOJE
nova sociedade implantada, com forte influência européia.
Embora não se saiba exatamente quantas sociedades Hoje, no Brasil, vivem cerca de 460 mil índios, distribuídos
indígenas existiam no Brasil à época da chegada dos entre 225 sociedades indígenas, que perfazem cerca de
europeus, há estimativas sobre o número de habitantes 0,25% da população brasileira. Cabe esclarecer que este dado
nativos naquele tempo, que variam de 1 a 10 milhões de populacional considera tão-somente aqueles indígenas que
indivíduos. vivem em aldeias, havendo estimativas de que, além destes,
Números que servem para dar uma idéia da imensa há entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indígenas,
quantidade de pessoas e sociedades indígenas inteiras inclusive em áreas urbanas. Há também 63 referências de
exterminadas ao longo desses 500 anos, como resultado de índios ainda não-contatados, além de existirem grupos que
um processo de colonização baseado no uso da força, por estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena
meio das guerras e da política de assimilação. junto ao órgão federal indigenista.

A chegada do europeu O que é ser índio


O impacto da conquista européia sobre as populações nativas
das Américas foi imenso e não existem números precisos Os habitantes das Américas foram chamados de índios pelos
sobre a população existente à época da chegada dos europeus que aqui chegaram. Uma denominação genérica,
europeus, apenas estimativas. As referentes à população provocada pela primeira impressão que eles tiveram de
indígena do território brasileiro em 1500 variam entre 1 e 10 haverem chegado às Índias.
milhões de habitantes. Mesmo depois de descobrir que não estavam na Ásia, e sim
em um continente até então desconhecido, os europeus
continuaram a chamá-los assim, ignorando propositalmente as Qualquer grupo social humano elabora e constitui um universo
diferenças lingüístico-culturais. Era mais fácil tornar os nativos completo de conhecimentos integrados, com fortes ligações
todos iguais, tratá-los de forma homogênea, já que o objetivo com o meio em que vive e se desenvolve. Entendendo cultura
era um só: o domínio político, econômico e religioso. como o conjunto de respostas que uma determinada
Se no Período Colonial era assim, ao longo dos tempos, sociedade humana dá às experiências por ela vividas e aos
definir quem era índio ou não constituiu sempre uma questão desafios que encontra ao longo do tempo, percebe-se o
legal. Desde a independência em relação às metrópoles quanto as diferentes culturas são dinâmicas e estão em
européias, vários países americanos estabeleceram diferentes contínuo processo de transformação.
legislações em relação aos índios e foram criadas instituições O Brasil possui uma imensa diversidade étnica e lingüística,
oficiais para cuidar dos assuntos a eles relacionados. estando entre as maiores do mundo. São 215 sociedades
Nas últimas décadas, o critério da auto-identificação étnica indígenas, mais cerca de 55 grupos de índios isolados, sobre
vem sendo o mais amplamente aceito pelos estudiosos da os quais ainda não há informações objetivas. 180 línguas, pelo
temática indígena. Na década de 50, o antropólogo brasileiro menos, são faladas pelos membros destas sociedades, as
Darcy Ribeiro baseou-se na definição elaborada pelos quais pertencem a mais de 30 famílias lingüísticas diferentes.
participantes do II Congresso Indigenista Interamericano, no No entanto, é importante frisar que as variadas culturas das
Peru, em 1949, para assim definir, no texto "Culturas e línguas sociedades indígenas modificam-se constantemente e
indígenas do Brasil", o indígena como: "(...) aquela parcela da reelaboram-se com o passar do tempo, como a cultura de
população brasileira que apresenta problemas de inadaptação qualquer outra sociedade humana. E é preciso considerar que
à sociedade brasileira, motivados pela conservação de isto aconteceria mesmo que não houvesse ocorrido o contato
costumes, hábitos ou meras lealdades que a vinculam a uma com as sociedades de origem européia e africana.
tradição pré-colombiana. Ou, ainda mais amplamente: índio é No que diz respeito à identidade étnica, as mudanças
todo o indivíduo reconhecido como membro por uma ocorridas em várias sociedades indígenas, como o fato de
comunidade pré-colombiana que se identifica etnicamente falarem português, vestirem roupas iguais às dos outros
diversa da nacional e é considerada indígena pela população membros da sociedade nacional com que estão em contato,
brasileira com quem está em contato". utilizarem modernas tecnologias (como câmeras de vídeo,
Uma definição muito semelhante foi adotada pelo Estatuto do máquinas fotográficas e aparelhos de fax), não fazem com
Índio (Lei nº. 6.001, de 19.12.1973), que norteou as relações que percam sua identidade étnica e deixem de ser indígenas.
do Estado brasileiro com as populações indígenas até a A diversidade cultural pode ser enfocada tanto sob o ponto de
promulgação da Constituição de 1988. vista das diferenças existentes entre as sociedades indígenas
Em suma, um grupo de pessoas pode ser considerado e as não-indígenas, quanto sob o ponto de vista das
indígena ou não se estas pessoas se considerarem indígenas, diferenças entre as muitas sociedades indígenas que vivem no
ou se assim forem consideradas pela população que as cerca. Brasil. Mas está sempre relacionada ao contato entre
Mesmo sendo o critério mais utilizado, ele tem sido colocado realidades socioculturais diferentes e à necessidade de
em discussão, já que muitas vezes são interesses de ordem convívio entre elas, especialmente num país pluriétnico, como
política que levam à adoção de tal definição, da mesma forma é o caso do Brasil.
que acontecia há 500 anos. É necessário reconhecer e valorizar a identidade étnica
específica de cada uma das sociedades indígenas em
Identidade e diversidade particular, compreender suas línguas e suas formas
tradicionais de organização social, de ocupação da terra e de
As populações indígenas são vistas pela sociedade brasileira uso dos recursos naturais. Isto significa o respeito pelos
ora de forma preconceituosa, ora de forma idealizada. O direitos coletivos especiais de cada uma delas e a busca do
preconceito parte, muito mais, daqueles que convivem convívio pacífico, por meio de um intercâmbio cultural, com as
diretamente com os índios: as populações rurais. diferentes etnias.
Dominadas política, ideológica e economicamente por elites
municipais com fortes interesses nas terras dos índios e em As línguas indígenas
seus recursos ambientais, tais como madeira e minérios,
muitas vezes as populações rurais necessitam disputar as A língua é o meio básico de organização da experiência e do
escassas oportunidades de sobrevivência em sua região com conhecimento humanos. Quando falamos em língua, falamos
membros de sociedades indígenas que aí vivem. Por isso, também da cultura e da história de um povo. Por meio da
utilizam estereótipos, chamando-os de "ladrões", "traiçoeiros", língua, podemos conhecer todo um universo cultural, ou seja,
"preguiçosos" e "beberrões", enfim, de tudo que possa o conjunto de respostas que um povo dá às experiências por
desqualificá-los. Procuram justificar, desta forma, todo tipo de ele vividas e aos desafios que encontra ao longo do tempo.
ação contra os índios e a invasão de seus territórios. Há várias maneiras de se classificar as línguas. Os lingüistas
Já a população urbana, que vive distanciada das áreas atuais consideram como mais apropriada a classificação do
indígenas, tende a ter deles uma imagem favorável, embora tipo genético. Eles só recorrem a outros tipos de classificação
os veja como algo muito remoto. Os índios são considerados a quando não há dados suficientes para realizar a classificação
partir de um conjunto de imagens e crenças amplamente por meio do critério genético.
disseminadas pelo senso comum: eles são os donos da terra Na classificação genética, reúnem-se numa mesma classe as
e seus primeiros habitantes, aqueles que sabem conviver com línguas que tenham tido origem comum numa outra língua
a natureza sem depredá-la. São também vistos como parte do mais antiga, já extinta. Desta forma, as línguas faladas pelos
passado e, portanto, como estando em processo de diversos povos da Terra são agrupadas em famílias
desaparecimento, muito embora, como provam os dados, nas lingüísticas, e estas famílias são reunidas em troncos
três últimas décadas tenha se constatado o crescimento da lingüísticos, sempre buscando a origem comum numa língua
população indígena. anterior.
Só recentemente os diferentes segmentos da sociedade Embora o português seja a língua oficial no Brasil, deve haver
brasileira estão se conscientizando de que os índios são seus por volta de outras 200 línguas faladas regularmente por
contemporâneos. Eles vivem no mesmo país, participam da segmentos da população. Um exemplo são os descendentes
elaboração de leis, elegem candidatos e compartilham de imigrantes italianos, japoneses etc., que em determinados
problemas semelhantes, como as conseqüências da poluição contextos falam a língua materna.
ambiental e das diretrizes e ações do governo nas áreas da Ainda hoje, muitos índios falam unicamente sua língua,
política, economia, saúde, educação e administração pública desconhecendo o português. Outros tantos falam o português
em geral. Hoje, há um movimento de busca de informações como sua segunda língua. O lingüista brasileiro Aryon
atualizadas e confiáveis sobre os índios, um interesse em Dall'Igna Rodrigues estabeleceu uma classificação das línguas
saber, afinal, quem são eles. indígenas faladas no Brasil, sendo esta a mais utilizada pela
comunidade científica que se dedica aos estudos pertinentes AS SOCIEDADES
às populações indígenas.
As línguas são agrupadas em famílias, classificadas como Os índios sobrevivem. Não apenas biologicamente, mas
pertencentes aos troncos Tupi, Macro-Jê e Aruak. Há também do ponto de vista das tradições culturais, segundo
Famílias, entretanto, que não puderam ser identificadas como comprovam estudos recentes, os quais demonstram que a
relacionadas a nenhum destes troncos. São elas: Karib, Pano, população indígena vem aumentando rapidamente nas últimas
Maku, Yanoama, Mura, Tukano, Katukina, Txapakura, décadas. Hoje, as 215 diferentes sociedades somam cerca de
Nambikwara e Guaikuru. 358 mil pessoas, que falam 180 línguas distintas. Os índios
Além disso, outras línguas não puderam ser classificadas vivem nos mais diversos pontos do território brasileiro e
pelos lingüistas dentro de nenhuma família, permanecendo representam, em termos demográficos, um pequeno
não-classificadas ou isoladas, como a língua falada pelos percentual da população de 150 milhões de habitantes do
Tükúna, a língua dos Trumái, a dos Irântxe etc. Brasil. Todavia são um exemplo concreto e significativo da
Ainda existem as línguas que se subdividem em diferentes grande diversidade cultural existente no País.
dialetos, como, por exemplo, os falados pelos Krikatí, Os seus antepassados contribuíram com muitos aspectos de
Ramkokamekrá (Canela), Apinayé, Krahó, Gavião (do Pará), suas diversificadas culturas para a formação do que
Pükobyê e Apaniekrá (Canela), que são, todos, dialetos atualmente se chama Brasil: um país de vasta extensão
diferentes da língua Timbira. territorial, cuja população é formada pelos descendentes de
Há sociedades indígenas que, por viverem em contato com a europeus, negros, índios e, mais recentemente, também de
sociedade brasileira há muito tempo, acabaram por perder sua imigrantes vindos de países asiáticos, que mesclaram suas
língua original e por falar somente o português. De algumas diferentes línguas, religiões e tradições culturais em geral,
dessas línguas não mais faladas ficaram registros de grupos propiciando a formação de uma nova cultura, fortemente
de vocábulos e informações esparsas, que nem sempre marcada por contrastes.
permitem aos lingüistas suficiente conhecimento para Mais da metade da população indígena está localizada nas
classificá-las em alguma família. De algumas outras línguas, regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, principalmente na
não ficaram nem resquícios. área da Amazônia Legal. Mas há índios vivendo em todas as
Estima-se que cerca de 1.300 línguas indígenas diferentes regiões brasileiras, em maior ou menor número, com exceção
eram faladas no Brasil há 500 anos. Hoje são 180, número dos estados do Piauí e Rio Grande do Norte.
que exclui aquelas faladas pelos índios isolados, uma vez que Mesmo no Piauí, existem grupos de pessoas que vivem no
eles não estão em contato com a sociedade brasileira e suas interior do estado as quais vêm se auto-identificando como
línguas ainda não puderam ser estudadas e conhecidas. indígenas e começam a reivindicar o reconhecimento como
Ressalte-se que o fato de duas sociedades indígenas falarem indígenas junto à FUNAI.
línguas pertencentes a uma mesma família não faz com que Muitos dos nomes usados para designar as sociedades
seus membros consigam entender-se mutuamente. Um indígenas que vivem no Brasil não são autodenominações
exemplo disso se dá entre o português e o francês: ambas são destas sociedades. Foram imensas as dificuldades de
línguas românicas ou neolatinas, mas os falantes das duas comunicação entre os europeus e os nativos da terra, bem
línguas não se entendem, apesar das muitas semelhanças como, muito mais tarde, entre os funcionários do órgão
lingüísticas existentes entre ambas. indigenista oficial e mesmo entre os antropólogos e os índios,
É importante lembrar que o desaparecimento de tantas motivadas pelo não-entendimento das línguas faladas.
línguas representa uma enorme perda para a humanidade, Assim sendo, é comum que uma sociedade indígena seja
pois cada uma delas expressa todo um universo cultural, uma conhecida por uma denominação que lhe foi atribuída
vasta gama de conhecimentos, uma forma única de se aleatoriamente pelos primeiros indivíduos que entraram em
encarar a vida e o mundo. contato com ela ou pela denominação dada pelos inimigos
tradicionais. Ela é quase sempre pejorativa. E há, ainda,
Índios isolados sociedades que receberam nomes diferentes em épocas
diversas.
Alguns povos indígenas, desde a época do Descobrimento, Portanto, a mesma sociedade indígena pode ser conhecida
mantiveram-se afastados de todas as transformações por vários nomes e eles nem sempre são escritos da mesma
ocorridas no País. Eles mantêm as tradições culturais de seus forma. Isto depende de convenção feita pelos não-índios, uma
antepassados e sobrevivem da caça, pesca, coleta e vez que os falantes originais das línguas indígenas eram
agricultura incipiente, isolados do convívio com a sociedade ágrafos, isto é, não conheciam a escrita.
nacional e com outros grupos indígenas. Existe uma "Convenção para a grafia dos nomes tribais"
Os índios isolados defendem bravamente seu território e, estabelecida pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA)
quando não podem mais sustentar o enfrentamento com os em 1953. Embora muitos aspectos desta convenção sejam
invasores de seus domínios, recuam para regiões mais respeitados pelos antropólogos até hoje, há outros aspectos
distantes, na esperança de lograrem sobreviver escondendo- que nunca foram seguidos.
se para sempre.
Pouca ou nenhuma informação se tem sobre eles e, por isso, História e política indigenista
sua língua é desconhecida. Entretanto, sabe-se que alguns
fatores são fundamentais para possibilitar a existência futura
desses grupos. Entre eles, a demarcação das terras onde A Funai e o Estatuto do Índio foram criados num momento
vivem e a proteção ao meio ambiente, de forma a garantir sua histórico em que predominavam, ainda, as antigas e
sobrevivência física e cultural. equivocadas idéias evolucionistas sobre a humanidade e seu
No processo de ocupação dos espaços amazônicos, o desenvolvimento através de estágios. Uma ideologia
conhecimento e o dimensionamento das regiões habitadas por fortemente etnocêntrica. Por isso, a Constituição do Brasil da
índios isolados são fundamentais para que se possa evitar o época estabelecia a figura jurídica da tutela e considerava os
confronto e a destruição desses grupos. índios como "relativamente incapazes".
Há na FUNAI, desde 1987, uma unidade destinada a tratar da Mesmo reconhecendo a diversidade cultural entre as muitas
localização e proteção dos índios isolados, cuja atuação se dá sociedades indígenas, a Funai tinha o papel de integrá-las, de
por meio de sete equipes, denominadas Frentes de Contato, maneira harmoniosa, à sociedade nacional. Considerava-se
atuando nos estados do Amazonas, Pará, Acre, Mato Grosso, que essas sociedades precisavam "evoluir" rapidamente, até
Rondônia e Goiás. serem integradas à sociedade nacional, o que equivale, na
prática, a negar a diversidade.
Ainda assim, o Estatuto do Índio representou um avanço em
relação à política indigenista praticada anteriormente pelo SPI.
Estabeleceu novos referenciais no que diz respeito à definição
das terras ocupadas tradicionalmente pelos índios, bem como
o prazo de cinco anos para que todas as terras indígenas do Embora os índios detenham a posse permanente e o "usufruto
país fossem demarcadas. Prazo que acabou não sendo exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos"
cumprido. existentes em suas terras, conforme o parágrafo 2º do Art. 231
O Estatuto também assegurou aos índios seu acesso ao da Constituição, elas constituem patrimônio da União. E, como
quadro de pessoal da Funai, como forma de lhes possibilitar a bens públicos de uso especial, as terras indígenas, além de
participação efetiva na implementação de programas e inalienáveis e indisponíveis, não podem ser objeto de
projetos destinados às suas comunidades. utilização de qualquer espécie por outros que não os próprios
Essa nova política indigenista implantada pelo regime índios.
autoritário da ditadura militar continuou ambígua, entretanto,
quanto ao reconhecimento da especificidade cultural dos POR QUE DEMARCAR
índios, pois propunha-se a proteger as diferentes culturas
indígenas ao mesmo tempo em que objetivava sua integração
à sociedade brasileira. O processo de demarcação é o meio administrativo para
Dessa maneira, dava continuidade à arraigada visão explicitar os limites do território tradicionalmente ocupado
evolucionista que sempre norteou as relações com as pelos povos indígenas. É dever da União Federal, que busca,
populações nativas da América, desde a chegada dos com a demarcação das terras indígenas: a) resgatar uma
colonizadores europeus ao continente. A tutela só reforçou a dívida histórica com os primeiros habitantes destas terras; b)
relação paternalista e intervencionista do Estado para com as propiciar as condições fundamentais para a sobrevivência
sociedades indígenas, mantendo-as submissas e física e cultural desses povos; e c) preservar a diversidade
dependentes. cultural brasileira, tudo isto em cumprimento ao que é
O processo de democratização do Estado brasileiro, durante a determinado pelo caput do artigo 231 da Constituição Federal.
década de 1980, permitiu e incentivou a ampla discussão da Sempre que uma comunidade indígena possuir direitos sobre
chamada questão indígena pela sociedade civil e pelos uma determinada área, nos termos do § 1º do Artigo 231 da
próprios índios, que começaram a se conscientizar e a se CF, o poder público terá a atribuição de identificá-la e delimitá-
organizar politicamente, num processo de participação la, de realizar a demarcação física dos seus limites, de
crescente nos assuntos de seu interesse. Nas discussões e registrá-la em cartórios de registro de imóveis e protegê-la.
atividades políticas que envolveram o período de elaboração Estes atos estão vinculados ao próprio caput do artigo 231 e,
da Constituição da República Federativa do Brasil, por isso mesmo, a União não pode deixar de promovê-los.
promulgada em 1988, foi intensa a atuação de entidades civis As determinações legais existentes são, por si só, suficientes
dedicadas à causa indígena, bem como de entidades para garantir o reconhecimento dos direitos indígenas sobre
constituídas pelos próprios índios. as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios,
A Constituição de 1988 veio mudar as concepções ideológicas independentemente da sua demarcação física. Porém, a ação
vigentes, na medida em que reconheceu a permanente demarcatória é fundamental e urgente enquanto ato
diversidade e especificidade cultural dos índios. Também governamental de reconhecimento, visando a precisar a real
legitimou qualquer processo judicial movido por eles através extensão da posse indígena a fim de assegurar a proteção
do Ministério Público, que está encarregado de defendê-los dos limites demarcados e permitir o encaminhamento da
judicialmente. questão fundiária nacional.
Como conseqüência, a mudança exigia uma reformulação dos
mecanismos de ação do Estado com relação às populações A IMPORTÂNCIA DA DEMARCAÇÃO
indígenas, para adequar-se à nova situação. Mas a demora na
regulamentação do próprio texto constitucional e na efetivação A regularização das terras indígenas, por meio da
das imprescindíveis mudanças continua permitindo e demarcação, é de fundamental importância para a
facilitando a permanência da antiga política. sobrevivência física e cultural dos vários povos indígenas que
Em seus mais de 30 anos de existência, a Funai passou por vivem no Brasil, por isso, esta tem sido a sua principal
diversas reformas administrativas, encontrando-se, hoje, em reivindicação. Sabe-se que assegurar o direito à terra para os
processo de reestruturação, a fim de cumprir as índios significa não só assegurar sua subsistência, mas
determinações da Constituição e adequar suas ações de também garantir o espaço cultural necessário à atualização de
forma a atender melhor às necessidades e aspirações das suas tradições.
populações indígenas. Outro aspecto a ser mencionado, e que está em evidência nos
dias atuais, é o fato de que a defesa dos territórios indígenas
O QUE É TERRA INDÍGENA garante a preservação de um gigantesco patrimônio biológico
e do conhecimento milenar detido pelas populações indígenas
"Para os povos indígenas, a terra é muito mais do que simples a respeito deste patrimônio.
meio de subsistência. Ela representa o suporte da vida social Por exemplo, as sociedades indígenas da Amazônia
e está diretamente ligada ao sistema de crenças e conhecem mais de 1.300 plantas portadoras de princípios
conhecimento. Não é apenas um recurso natural - e tão ativos medicinais e pelo menos 90 delas já são utilizadas
importante quanto este - é um recurso sócio-cultural" comercialmente. Cerca de 25% dos medicamentos utilizados
(RAMOS, Alcida Rita - Sociedades Indígenas). nos Estados Unidos possuem substâncias ativas derivadas de
Vale lembrar que o reconhecimento dos índios enquanto plantas nativas das florestas tropicais. Por isso a preservação
realidades sociais diferenciadas, na Constituição Federal, não dos territórios indígenas é tão importante, tanto do ponto de
pode estar dissociado da questão territorial, dado o papel vista de sua riqueza biológica quanto da riqueza cultural.
relevante da terra para a reprodução econômica, ambiental, Distribuídos por diversos pontos do País e vivendo nos mais
física e cultural destes. diferenciados biomas - floresta tropical, cerrado etc. - os povos
Tanto assim que o texto constitucional trata de forma indígenas detêm um profundo conhecimento sobre seu meio
destacada este tema, apresentando, no parágrafo 1º do artigo ambiente e, graças às suas formas tradicionais de utilização
231, o conceito de terras tradicionalmente ocupadas pelos dos recursos naturais, garantem tanto a manutenção de
índios, definidas como sendo: aquelas "por eles habitadas em nascentes de rios como da flora e da fauna, que representam
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades patrimônio inestimável.
produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos A proteção das terras indígenas é, portanto, uma medida
ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a estratégica para o País, seja porque se assegura um direito
sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes dos índios, seja porque se garantem os meios de sua
e tradições". Terras que, segundo o inciso XI do artigo 20 da sobrevivência física e cultural, e ainda porque se garante a
CF, "são bens da União" e que, pelo §4º do art. 231, são proteção da biodiversidade brasileira e do conhecimento que
"inalienáveis e indisponíveis e os direitos sobre elas permite o seu uso racional.
imprescritíveis". A efetivação do direito territorial indígena e a preservação
dessas populações em seus locais tradicionais tem sido, e COMO É FEITA A DEMARCAÇÃO?
continua sendo, nos tempos atuais, uma garantia da
integridade dos limites territoriais brasileiros. É exemplo Ainda que o processo de regularização das terras indígenas
irrefutável a posição tomada pelos Kampa (ou Ashaninka) da seja conhecido como demarcação, esta é apenas uma das
TI Kampa do Rio Amônia - AC, os quais, mesmo se fases administrativas do processo, conforme indicado no
indispondo com os parentes do lado peruano, acionaram, no quadro anterior.
final do ano 2000, as autoridades brasileiras e deram todo o As linhas-mestras do processo administrativo de demarcação
apoio possível à suspensão da retirada de madeira e abertura das terras indígenas estão definidas na Lei nº 6.001, de
de mais uma rota ao trafico internacional de drogas em seu 19/12/1973, que é conhecida como Estatuto do Índio, e no
território. Decreto nº 1.775, de 08/01/1996. Esta legislação atribui à
FUNAI o papel de tomar a iniciativa, orientar e executar a
SITUAÇÃO ATUAL demarcação dessas terras, atividade que é executada pela
Diretoria de Assuntos Fundiários (DAF).
No final da década de 1970, a questão indígena passou a ser O procedimento atual para a identificação e delimitação,
tema de relevância no âmbito da sociedade civil. demarcação física, homologação e registro de terras
Paralelamente os índios iniciaram os primeiros movimentos de indígenas está estabelecido e balizado no Decreto nº 1.775,
organização própria, em busca da defesa de seus interesses e de 8/01/1996, que "dispõe sobre o procedimento
direitos. Diversas organizações indígenas e entidades de administrativo de demarcação das terras indígenas", definindo
defesa de direitos promoveram amplo debate, visando a claramente o papel do órgão federal indigenista, as diferentes
assegurar a demarcação das terras dos índios e a realizar fases e sub-fases do processo, bem como assegurando
reflexão crítica sobre a política de integração. Ao mesmo transparência ao procedimento, por meio de sua publicidade.
tempo em que estes se organizavam politicamente, no sentido Registra-se que o procedimento administrativo para a reserva
de defender os direitos à posse das terras indígenas, passou- de terras destinadas à proteção de grupos indígenas, prevista
se a debater as bases de uma nova política indigenista, no art. 26 da Lei nº 6.001/73, conta com rito diferente do
fundamentada no respeito às formas próprias de organização aplicado às terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
sociocultural dos povos indígenas. As modificações estabelecido pelo Decreto nº 1.775/96.
significativas na maneira de encarar e tratar as sociedades Aquém e além desse processo, a Fundação Nacional do Índio
indígenas, estabelecidas na Constituição Federal foram, - FUNAI, conta com duas outras atribuições, ditadas pelo
portanto, fruto do processo de redemocratização do País - na Decreto nº 1.775/96, quanto à proteção das terras
questão indígena, representado pelo movimento que visava a tradicionalmente ocupadas pelos indígenas: a) o poder de
assegurar o direito à posse das terras indígenas e pela crítica disciplinar o ingresso e trânsito de terceiros em áreas nas
à política de integração.Esses foram os fatos recentes que quais se constate a presença de índios isolados, ou que
possibilitaram a aceleração dos trabalhos de demarcação e estejam sob grave ameaça; e b) a extrusão dos possíveis não-
regularização das terras indígenas no Brasil. O quadro legal índios ocupantes das terras administrativamente reconhecidas
específico e explícito, os procedimentos técnicos bem como indígenas.
definidos e a parceria no processo demarcatório - seja com Os critérios para se identificar e delimitar uma terra indígena, o
organismos governamentais nacionais e internacionais, não- que é realizado por um grupo de técnicos especializados,
governamentais ou com representantes das próprias estão definidos no Decreto nº 1775/96 e na Portaria nº 14/MJ,
comunidades indígenas interessadas - têm garantido maior de 9/01/1996, a qual estabelece "regras sobre a elaboração do
legitimidade, consistência e celeridade aos trabalhos de relatório circunstanciado de identificação e delimitação de
demarcação das terras indígenas.A superfície das 488 terras Terras Indígenas".
indígenas, cujos processos de demarcação estão O início do processo demarcatório se dá por meio da
minimamente na fase "DELIMITADA", é de 105.673.003 identificação e delimitação, quando é constituído um grupo
hectares, perfazendo 12,41% do total do território brasileiro. técnico de trabalho, composto por técnicos da FUNAI, do
Outras 123 terras ainda estão por serem identificadas, não INCRA e/ou da secretaria estadual de terras da localização do
sendo suas possíveis superfícies somadas ao total indicado. imóvel. A comunidade indígena é envolvida diretamente em
Registra-se, ainda, que há várias referências a terras todas as sub-fases da identificação e delimitação da terra
presumivelmente ocupadas por índios e que estão por serem indígena a ser administrativamente reconhecida. O grupo de
pesquisadas, no sentido de se definir se são ou não técnicos faz os estudos e levantamentos em campo, centros
indígenas. O quadro a seguir aponta com detalhes a situação de documentação, órgãos fundiários municipais, estaduais e
das 611 terras indígenas do País quanto ao seu procedimento federais, e em cartórios de registro de imóveis, para a
administrativo de regularização. elaboração do relatório circunstanciado de identificação e
delimitação da área estudada, resultado que servirá de base a
todos os passos subseqüentes. O resumo do relatório é
SITUAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS publicado no Diário Oficial da União, diário oficial do estado
(Resumo Geral) federado de localização da área, sendo cópia da publicação
afixada na sede municipal da comarca de situação da terra
Nº de T.I's % em revisão
estudada.
EM ESTUDO 123 ---- 0 Os estudos antropológicos e os complementares de natureza
DELIMITADA 33 1,66 1.751.576 etno-histórica, sociológica, jurídica, cartográfica, ambiental e o
levantamento fundiário, realizados nesta fase, deverão
DECLARADA 30 7,67 8.101.306 caracterizar e fundamentar a terra como tradicionalmente
HOMOLOGA ocupada pelos índios, conforme os preceitos constitucionais, e
27 3,40 3.599.921 apresentar elementos visando à concretização das fases
DA
subseqüentes à regularização total da terra. É com base
REGULARIZA
398 87,27 92.219.200 nestes estudos, que são aprovados pelo Presidente da
DA
FUNAI, que a área será declarada de ocupação tradicional do
TOTAL 611 100 105.672.003 grupo indígena a que se refere, por ato do Ministro da Justiça -
portaria declaratória publicada no Diário Oficial da União -
reconhecendo-se, assim, formal e objetivamente, o direito
originário indígena sobre uma determinada extensão do
território brasileiro.
Desde o início do processo demarcatório até 90 dias da
publicação do resumo do relatório nos Diários Oficiais da
União e do Estado, podem os interessados apresentar
contestações, as quais também serão analisadas pelo pessoal Os estudos e levantamentos procedidos sobre as ocupações
técnico da FUNAI, podendo o seu presidente optar pelo não-indígenas são analisados e julgada a boa fé quanto à
reestudo da área proposta ou pela sua confirmação, dando-se implantação das mesmas, por meio da Comissão Permanente
então continuidade ao procedimento. de Sindicância, instituída pelo Presidente da FUNAI, que
Os estudos e pareceres referentes às contestações, ao serem divulga a decisão através de Resolução publicada no Diário
aprovados pela FUNAI, são em seguida encaminhados para o Oficial da União. O pagamento das benfeitorias derivadas das
Ministério da Justiça, que faz a análise da proposta ocupações de boa fé se dá com base em programação
apresentada pelo órgão indigenista, referente aos limites da orçamentária disponibilizada para esta finalidade pela União.
terra indígena, e das razões apresentadas pelos contestantes. Segundo o disposto no art. 4º do Decreto nº 1.775/96, os
Após a aprovação dos estudos feitos pela FUNAI por parte do ocupantes não-indígenas retirados da terras indígenas têm
Ministério da Justiça, a terra é declarada de ocupação prioridade no reassentamento fundiário feito pelo INCRA,
tradicional do grupo indígena especificado, indicando a observada a legislação pertinente.
superfície, o perímetro e os seus limites, sendo inclusive O procedimento para a identificação e demarcação de terras
determinada a sua demarcação física. indígenas tem procedimentos transparentes, todas as suas
A demarcação física é a fase em que se materializam, em etapas são públicas. Publica-se no DOU a portaria de
campo, os limites da terra indígena, conforme determinado na constituição do grupo técnico encarregado dos estudos de
portaria declaratória expedida pelo Ministério da Justiça. Nesta identificação e delimitação; o resumo do relatório
fase, faz-se uma estimativa dos custos necessários à caracterizando a terra indígena a ser demarcada é publicado
demarcação das terras declaradas, escolhe-se a modalidade no Diário Oficial da União e no Diário Oficial da unidade
de demarcação, executa-se a demarcação propriamente dita e federada onde se localizar a área sob demarcação,
também a fiscalização e recebimento dos serviços acompanhado de memorial descritivo e mapa da área, além
executados, conforme a seguir especificado: do que a publicação é afixada na sede da Prefeitura Municipal
I - As terras indígenas são limitadas por: 1) Acidentes naturais em que se situa o imóvel, conforme determina o parágrafo 7º
(rios, córregos, igarapés, lagos, orlas marítimas); 2) Estradas do artigo 2º do Decreto nº 1.775/96; a portaria declaratória do
e 3) Linhas secas, assim denominadas onde o limite não é MJ e o decreto homologatório do Presidente da República são
definido por acidentes geográficos ou estradas. publicados no DOU.
I.1 - Ao longo dos acidentes naturais não é executado trabalho Somado a isso, o citado Decreto nº 1.775/96, no parágrafo 8º
de topografia, pois os limites já são claros e bem definidos em do artigo 2º, assegura aos estados e municípios em que se
campo, sendo que, para a elaboração dos mapas, lançamos localize a área em demarcação, e aos demais interessados,
mão dos dados existentes nas cartas topográficas, com as manifestar-se, seja para pleitear indenizações ou para
devidas verificações em campo através de GPS de demonstrar vícios, totais ou parciais, do relatório, pelo período
navegação. que vai do início da demarcação até noventa dias após a
I.2 - Ao longo de estradas, a demarcação é feita por meio de mencionada publicação, o que, por assegurar transparência
levantamento topográfico e geodésico e implantação de ao processo e permitir o contestatório, levou o atual governo a
marcos e placas indicativas, sendo que geralmente não é revogar o Decreto nº 22, de 04/02/1991, substituindo-o pelo
necessária a abertura de picadas, pois estes limites também já Decreto nº 1.775/96.
estão materializados em campo.
I.3 - Ao longo das linhas secas, a demarcação é feita por meio NÃO BASTA SÓ DEMARCAR
de levantamento topográfico e geodésico e implantação de
marcos e placas indicativas, sendo necessária a abertura de
picadas com três metros de largura. A demarcação administrativa é apenas a primeira medida
II - As placas indicativas são implantadas acompanhando os visando à proteção das terras indígenas. Concluído este
marcos e nos locais onde ocorrem vias de acesso à terra processo, são necessárias outras ações, visando tanto a
indígena. prevenir como a sanar as situações de exploração econômica
III - Os marcos, confeccionados em concreto, são implantados indevida e a reintegração de posse de territórios pelos índios.
ao longo das linhas secas num intervalo de, no máximo, 01 km Além disso, existem as questões que envolvem a proteção
e trazem, na sua parte superior, um pino de bronze com a dos bens culturais e que se referem à valorização da
inscrição Ministério da Justiça, FUNAI, número e tipo do identidade étnica, sem o que não é possível assegurar a
marco, ano da demarcação e a observação "Protegido por cidadania para os índios.
Lei". É preciso, depois de demarcadas e garantidas as terras,
IV - O resultado final da demarcação é apresentado em mapa assegurar, para cada povo ou comunidade que habite uma
e memorial descritivo, elaborados dentro das normas da terra indígena, um processo próprio de desenvolvimento,
cartografia internacional, apresentando limites que contam adequado à realidade e ao anseio deste povo ou comunidade.
com coordenadas geográficas precisas. Quanto ao dever do Estado, ele tem a função de facilitar,
V - Todos os trabalhos de demarcação são realizados de fomentar e possibilitar que esta escolha torne-se uma
acordo com o Manual de Normas Técnicas para Demarcação realidade, constituindo este o grande desafio que a FUNAI
de Terras Indígenas, da FUNAI. hoje tem pela frente.
VI - A Diretoria de Assuntos Fundiários (DAF) da FUNAI, por Nesse sentido, uma das necessidades referentes à
meio de sua Coordenação-Geral de Demarcação (CGD), é reestruturação do órgão indigenista é justamente essa, ou
responsável pela normatização, execução e fiscalização dos seja, viabilizar a substituição do velho modelo de indigenismo,
trabalhos de demarcação de terras indígenas no Brasil. De caracterizado pelo paternalismo e clientelismo, e no qual os
posse do material técnico da demarcação, realiza-se a índios são tratados como uma realidade genérica (índio
preparação da documentação para confirmação dos limites genérico) e em vias de desaparecimento, por um novo
demarcados, que corresponde à homologação, o que se dá indigenismo, em que as diferentes realidades sejam
por meio da expedição de um decreto do Presidente da contempladas por diferentes formas de planejamento e
República. experiências indigenistas.
O processo administrativo de regularização de uma terra Assim, as ações do órgão indigenista voltadas para assegurar
indígena termina com o seu registro no Cartório Imobiliário da os direitos dos índios estão sendo repensadas, no sentido de
Comarca onde o imóvel está situado e na Secretaria de que sua concepção, planejamento e execução tenham em
Patrimônio da União (SPU) do Ministério da Fazenda. vista sociedades diferenciadas da nacional, bem como
Quando é constatada a presença de ocupantes não-índios na diferentes entre si, pois na questão da especificidade dos
terra indígena, são realizadas, na fase de identificação e programas e projetos destinados a estes povos e
delimitação, levantamentos fundiários, socioeco-nômicos, comunidades é vital a concretização de políticas
documentais e cartoriais, bem como a avaliação das regionalizadas.
benfeitorias edificadas em tais ocupações. Outro desafio é assegurar a participação das populações
indígenas, sem o que não é possível garantir a manutenção
dos territórios já regularizados, pois só por meio de um
processo de conscientização a respeito de seus direitos e por
intermédio de medidas de caráter preventivo é que serão
criados os meios para que possam ser evitadas novas
invasões e explorações indevidas de suas terras.

ALGUMAS IDÉIAS ERRÔNEAS SOBRE A DEMARCAÇÃO

Por muito tempo se quis impedir ou protelar a demarcação das


terras indígenas, com a desculpa de que se estaria pondo em
risco a segurança nacional, tese que acabou sendo
desmentida com o tempo, pois, ao contrário, o avanço nas
medidas de regularização destas terras serviu para assegurar
o direito dos índios, para pôr fim a conflitos pela posse da
terra, os quais muitas vezes se estendiam por décadas, e para
garantir a integridade territorial brasileira. É preciso lembrar
que as terras indígenas são patrimônio da União,
diversamente da grande quantidade de terras de particulares
que estão sendo transferidas para estrangeiros, a exemplo
das madeireiras asiáticas.
Mais recentemente, alguns segmentos da população brasileira
contrários aos direitos indígenas passaram a afirmar que os
índios teriam "terras demais". Este argumento serve para
confundir a opinião pública e reforçar o conflito com a enorme
legião de trabalhadores rurais sem terras existente no Brasil.
Acresce-se que as terras devolutas e ocupadas nos padrões
dos não-índios são mais do que suficientes para a produção
de alimentos requeridos pelo País.
A idéia que se procura propagar com esse tipo de
argumentação é a de que, com a regularização das terras
indígenas, estaria-se reduzindo a quantidade de terras
disponíveis para a agricultura e outras atividades econômicas,
resultando em escassez de terras para os trabalhadores rurais
não-indígenas. Por trás deste argumento agrega-se a crença
de que as terras indígenas são improdutivas, o que já está há
muito desmentido. Registra-se como exemplo que, sendo
paralisada a produção indígena, no mercado local da
Amazônia Legal haverá, indubitavelmente, fome, mesmo que
haja disponibilidade de abastecimento vindo de fora da área.
Os custos estariam fora da capacidade financeira da
população e as vias de acesso são um empecilho ao pronto
abastecimento.
Além disso, estatísticas elaboradas pelo Incra mostraram
claramente que, somando-se as terras aproveitáveis e não-
exploradas existentes em todos os estados do Brasil, atingiu-
se um total de 185 milhões de hectares, o que corresponde,
aproximadamente, ao dobro de todas as terras indígenas.
Logo, é a extrema concentração da propriedade fundiária em
mãos de poucos membros da sociedade brasileira e sua má
ou falta de utilização que levam a larga margem da população
rural a não dispor de terras para trabalhar, e não a grande
extensão dos territórios indígenas.
Além disso, o montante dos imóveis rurais cadastrados pelo
Incra corresponde a menos de 70% do território nacional,
havendo, ainda, 255 milhões de hectares de terras não-
discriminados ou cadastrados pelo órgão fundiário. Isto
significa que, mesmo ressalvando-se as áreas urbanas e
aquelas destinadas à proteção ambiental, ao uso das forças
armadas etc., resta muita terra para a expansão das
atividades econômicas, sem que seja necessário proceder à
invasão do habitat das populações indígenas.
Assim, o reconhecimento dos limites das terras dos índios não
inviabiliza o desenvolvimento do meio rural. Sobre isto existem
dados, segundo os quais "as terras indígenas não
obstaculizam a expansão das atividades agrícolas ou
pecuárias, uma vez que as terras indígenas constituem parte
menor do estoque de terras que poderia ser destinado a
programas governamentais de colonização e/ou reforma
agrária" (OLIVEIRA, João Pacheco: Terras Indígenas no
Brasil, CEDI/Museu Nacional, 1987).

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