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O DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA COLETIVA NA

INTERNET ATRAVÉS DA PRODUÇÃO COLABORATIVA:


WIKIPÉDIA.

Aline L. M. Magno
Universidade Estácio de Sá
Pós Graduação Lato Sensu em Mídias Digitais
alinelmm@gmail.com

Resumo: Este artigo tem como objetivo a observação do desenvolvimento da


inteligência coletiva na internet. Para tal serão analisadas as ferramentas de
produção colaborativa, características da web 2.0, com ênfase na Wikipédia,
uma enciclopédia online onde os verbetes são produzidos e editados por
qualquer pessoa que tenha acesso à rede mundial de computadores.

Palavras chave: Produção colaborativa, Inteligência coletiva, web 2.0,


Wikipédia.

1. INTRODUÇÃO

Através da internet, a sociedade cada vez mais dependente da tecnologia,


encontra a “válvula de escape” para sua necessidade de comunicar-se e de ser
visto. Nesse sentido a rede mundial de computadores vem evoluindo e se
transformando a fim de se adaptar à demanda de seus interagentes.

Atualmente a internet se encontra em sua versão denominada por Tim O´Reilly


como web 2.0, onde não somente compartilhar, mas principalmente colaborar
são suas principais características. Nas palavras de O´Reilly:

Web 2.0 é a revolução dos negócios na indústria da


computação causada pela mudança para a internet como
plataforma, e uma tentativa de entender as regras para obter
sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais
importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos
de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados
pelas pessoas. (Isso é o que eu em outro momento chamei de
inteligência coletiva.)1

1
O´REILLY,Tim. Web 2.0 Compact Definition: Trying Again
http://radar.oreilly.com/2006/12/web-20-compact-definition-tryi.html Acesso em: 10/09/2009.
Tradução da autora.
2

Essa nova versão permite que o interagente2 deixe de ser apenas receptor e
passe a ser também autor e/ou co-autor de toda a sorte de informações e
dados disponibilizados na rede mundial de computadores; e apresenta uma
característica marcante não antes vista que é a liberação do polo emissor 3.
Essa liberação é consequência do que André Lemos chama de "sociedade da
conexão", decorrente da passagem do PC (computador pessoal) para o CC
(computador conectado):

A conexão generalizada traz uma nova configuração


comunicacional onde o fator principal é a inédita liberação do
polo emissor - chats, fóruns, e-mails, listas, blogs, páginas
pessoais - o excesso, depois de séculos dominado pelo
exercido controle sobre a emissão pelos mass midia.4

A oportunidade de fazer repercutir mais facilmente a informação/conteúdo


desejado, isso é, sem depender de grandes difusoras ou distribuidoras, serve
como impulso para indivíduos que tem o quê dizer, não só produzam conteúdo,
mas principalmente o disponibilizem na internet.

Na definição de O´Reilly anteriormente citada, percebemos a presença da


expressão inteligência coletiva, um termo criado por Pierre Lévy para designar
a união das inteligências individuais de maneira compartilhada 5. Nas palavras
do autor “uma inteligência distribuída por toda a parte, incessantemente
valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva
6
das competências.” Isso é, ao compartilhar a informação ou conhecimento
que cada um possui, colabora-se para o desenvolvimento dessa inteligência

2
Terminologia proposta por Alex Primo em seu artigo intitulado Quão interativo é o hipertexto?
Da interface potencial à escrita coletiva de 2003, para denominar o agente que participa dos
processos de produção colaborativa através dos novos suportes tecnológicos de comunicação
como a internet e suas ferramentas, por exemplo. Tal termo é utilizado pelo autor em
contrapartida a outros dois bastante recorrentes de enfoque tecnicista: “usuário” e “receptor”, e
que limitam os indivíduos dentro de uma interação homem-máquina em detrimento do diálogo
homem-homem mediado tecnologicamente.
3
Idéia introduzida por André Lemos em seu artigo intitulado Cibercultura. Alguns pontos para
compreender a nossa época de 2003, que descreve a liberação do pólo emissor como uma
nova configuração comunicacional bidirecional sem controle do conteúdo. Ele diz que o
excesso de informação que encontramos atualmente na internet é derivada de uma
“emergência de vozes e discursos anteriormente reprimidos pela edição da informação pelos
mass media”
4
LEMOS, André. Cibercultura. Alguns pontos para compreender nossa época.Pág. 04
Disponível em http://www.andrelemos.info/artigos/cibercultura.pdf.
5
LÈVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 2. ed. São Paulo :
Loyola, 1999 Pág. 28
6
LÈVY, Pierre. Ibidem. Pág. 28
3

coletiva no meio digital. Pierre Lévy mostra como é importante a relação entre
as pessoas para o desenvolvimento do conhecimento:

As identidades tornam-se identidades de saber. As


conseqüências éticas dessa nova instituição da subjetividade
são imensas: que é o outro? É alguém que sabe. E que sabe
coisas que eu não sei. O outro não é mais um ser assustador:
como eu, ele ignora bastante e domina alguns conhecimentos.
Mas como nossas experiências não se justapõem ele
representa uma fonte possível de enriquecimento de meus
próprios saberes. Ele pode aumentar meu potencial de ser, e
tanto mais quanto mais diferir de mim. Poderei associar minhas
competências às suas, de tal modo que atuemos melhor juntos
do que separados. 7

Essa troca de informação de forma colaborativa estimula a participação de


quem acredita deter ou mesmo detém mais conhecimento sobre determinado
assunto, enriquecendo a rede que se forma em torno de determinado assunto.

Tal troca de informações no espaço virtual tem uma característica bastante


interessante que é não ficar preso somente a preponderância de um emissor
sobre os demais, como acontece com os veículos que centralizam a emissão,
onde a única versão que se conhece é a que o meio deseja que seja
conhecida. O modelo de web 2.0 facilita justamente a exposição de mais de
uma versão dos fatos, permitindo que seu leitor, interagente, decida qual delas
é a que tomará como ponto de vista ou mesmo se contribuirá com seu próprio.

Com a necessidade de compartilhar e produzir coletivamente no espaço virtual


surgem várias ferramentas com esse propósito. Esse é o objetivo desse
trabalho, analisar como essas ferramentas de produção colaborativa na
internet, mais precisamente o site Wikipédia8, uma enciclopédia colaborativa
online, colaboram com a construção da inteligência coletiva através da rede
mundial de computadores.

2. A CIBERCULTURA E OS NOVOS SUPORTES PARA COMUNICAÇÃO


7
LÈVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 2. ed. São Paulo :
Loyola, 1999 Pág. 27
8
http://www.wikipedia.org.
4

A rede mundial de computadores e as novas tecnologias digitais desenvolvem


uma relação espaço-temporal bastante diferente da que existia antes de seu
surgimento. Vejamos o caso do livro, ele foi e continua sendo uma das
principais fontes de informação e conhecimento. Segundo Marshall McLuhan:
“A página impressa era por si só uma forma de comunicação altamente
9
especializada (e espacializada).” Ao usar o termo espacializada, McLuhan
transmite a idéia de que a página impressa, o livro, são formas de comunicação
e transmissão de conhecimento que limitam seu acesso ao espaço físico,
geográfico. Para ter acesso ao livro é preciso estar dentro da limitação espacial
geográfica por ele delimitado. Isto é, não é possível que um mesmo livro (em
sua unidade) esteja em dois lugares diferentes ao mesmo tempo em formato
impresso. É nesse momento que a internet se diferencia e amplia o acesso à
informação. Através dela é possível sim que o conteúdo integral ou parcial de
um livro esteja em todos os lugares ao mesmo tempo, em formato digital. Essa
nova relação espaço-tempo é muito bem explicada por André Lemos quando
trata da cibercultura, cultura contemporânea marcada pelas tecnologias
digitais:

Vivemos uma nova conjuntura espaço-temporal marcada pelas


tecnologias digitais telemáticas onde o tempo real parece
aniquilar, no sentido inverso à modernidade, o espaço de lugar,
criando espaços de fluxos, redes planetárias pulsando no
tempo real, em caminho para a desmaterialização dos espaços
de lugar. Assim, na cibercultura podemos estar aqui e agir à
distância. A forma técnica da cibercultura permite a ampliação
das formas de ação e comunicação sobre o mundo. 10

Não somente o livro, que é usado como exemplo nesse trecho, mas também
toda a sorte de informação seja ela escrita, falada, visual ou multimídia se torna
disponível em âmbito global e simultâneo a milhares de pessoas conectadas à
internet através de seus computadores pessoais, em lan houses, ou mesmo
através de seus dispositivos de comunicação móveis (celulares smartphones).
Segundo André Lemos:
9
Sight, sound and the fury. In Rosenberg, Bernard and David M. White(org) Mass Culture – the
popular arts in America. Nova Iorque - EUA: The Free Press, 1957. pp.489-495.
Artigo disponível em: http://googlebordello.crushhumanity.org/sightsoundandthefury.html
Acesso em: 09/10/2009. Tradução da autora.
10
LEMOS, André. Cibercultura. Alguns pontos para compreender nossa época.Pág. 03
Disponível em http://www.andrelemos.info/artigos/cibercultura.pdf.
5

A nova dinâmica técnico-social da cibercultura instaura uma


estrutura midiática ímpar na história da humanidade onde, pela
primeira vez, qualquer indivíduo pode, a priori, emitir e receber
informação em tempo real, sob diversos formatos e
modulações (escrita, imagética e sonora) para qualquer lugar
do planeta.11

Sem dúvidas o aumento do número de computadores pessoais conectados à


internet a cada ano justifica não somente o acesso de cada vez mais pessoas a
essa grande rede de informações, mas principalmente sua figura de autor e co-
autor desse universo.

Os textos disponibilizados na internet têm como característica sua ligação com


vários outros textos, documentos, imagens, fotografias e vídeos, ao mesmo
tempo como se esses fossem complementos praticamente infinitos dele
mesmo. Esse formato textual característico das redes de computadores é o
chamado hipertexto que é na definição de Pierre Lévy:

A abordagem mais simples do hipertexto que, ínsito, não exclui


nem os sons nem as imagens, é a de descrevê-la, por
oposição a um texto linear, como um texto estruturado em
rede. O hipertexto seria constituído de nós (os elementos de
informação, parágrafos, páginas, imagens, seqüências
musicais etc.) e de ligações entre esses nós (referencias,
notas, indicadores, “botões” que efetuam a passagem de um
nó a outro). 12

O autor Alex Primo também fala sobre o hipertexto, mas o classifica de duas
formas diferentes: o hipertexto potencial e o hipertexto colaborativo.

“Enquanto no hipertexto potencial apenas o leitor se modifica,


permanecendo o produto digital com suas características
originais, no hipertexto cooperativo todos os envolvidos
compartilham a invenção do texto comum, à medida que
exercem e recebem impacto do grupo, do relacionamento que
constroem e do próprio produto criativo em andamento.”13

11
LEMOS, André. Cibercultura. Alguns pontos para compreender nossa época.Pág. 03
Disponível em http://www.andrelemos.info/artigos/cibercultura.pdf.
12
LÉVY, Pierre. O que é virtual. 1ª Ed. São Paulo: Editora: Editora 34, 1996. Pág. 25
13
PRIMO, Alex. Quão interativo é o hipertexto? : Da interface potencial à escrita coletiva.
Fronteiras: Estudos Midiáticos, São Leopoldo, v. 5, n. 2, p. 125-142, 2003 Pág. 15
6

A possibilidade trazida pela web 2.0 de colaboração por parte do interagente


também é prevista por Lévy em sua análise sobre a hipertextualização de
documentos:

De acordo com uma segunda abordagem, complementar, a


tendência contemporânea à hipertextualização dos
documentos pode ser definida como uma tendência à
indistinção, à mistura das funções de leitura e de escrita. 14

Isto é, o texto deixa de ser somente um objetivo de leitura e passa a ser um


objeto de escrita, de produção.

3. A WIKIPÉDIA COMO FERRAMENTA DE PRODUÇÃO COLABORATIVA


NA INTERNET

Como dito anteriormente, várias ferramentas foram desenvolvidas a fim de


suprir a demanda gerada por usuários ávidos por interação e efetiva
participação no conteúdo desenvolvido na web: blogs, fóruns de discussão,
chats, plataformas de colaboração e compartilhamento online de textos, por
exemplo. Uma das ferramentas de produção e colaboração hipertextual na
internet é o site Wikipédia, que funciona como uma grande enciclopédia onde
os verbetes são produzidos e editados por todos, através de um software
colaborativo chamado wiki , um “programa que permite que páginas na web
sejam criadas e colaborativamente editadas usando um simples navegador
web”15 , isso é, a partir de seu próprio browser, sem a necessidade de nenhuma
outra ferramenta o interagente pode fazer parte da autoria de uma enciclopédia
desenvolvida com a idéia do coletivismo, da colaboração, da interação.

Segundo John Broughton, autor de um livro dedicado ao tema: A Wikipédia


começou formalmente em janeiro de 2001, como um projeto para produzir uma
enciclopédia de conteúdo livre onde qualquer um pode contribuir 16. Seu objetivo
assim como o das enciclopédias impressas é o de organizar e estruturar todo o
conhecimento disponível para facilitar assim seu resgate. Alex Primo e Raquel
Recuero confirmam a afirmativa acima:
14
LÉVY, Pierre. O que é virtual. 1ª Ed. São Paulo: Editora: Editora 34, 1996. Pág. 26
15
http://en.wikipedia.org/wiki/Wiki_software Acesso em: 10/10/2009 Tradução do autor.
16
Broughton,John. Wikipedia: The missing manual. 1ª edição, Califórnia - Estados Unidos,
2008. Pag.xvii. Tradução da autora.
7

O objetivo do projeto é produzir uma enciclopédia que reúna o


conhecimento humano em profundidade e abrangência. Pode-
se encontrar raízes do ideal de coletar e organizar o
conhecimento disponível na construção da biblioteca de
Alexandria e no trabalho dos enciclopedistas do século XVIII.17

Uma das maiores diferenças entre a Wikipédia e as enciclopédias impressas é


que a segunda é feita a partir da reunião de vários especialistas, e a primeira é
feita por cada um e por todos os interagentes, pessoas comuns ou até mesmo
profundos conhecedores de determinado assunto que acreditam ter algo a
acrescentar, colaborar em determinado verbete. Tal idéia confirmada por Alex
Primo e Raquel Recuero: Esta enciclopédia online inova justamente por ser
redigita em colaboração não por um grupo de especialistas, mas por qualquer
internauta disposto a participar da construção do projeto.18 Sendo assim,
qualquer um pode ser tornar um enciclopedista com o mesmo objetivo
daqueles da biblioteca de Alexandria, o de coletar e organizar o conhecimento
humano em profundidade19 construindo assim, uma grande enciclopédia
oriunda da inteligência coletiva.

Outra importante característica que diferencia a Wikipédia das outras


enciclopédias convencionais impressas é o fato de justamente não ser
impressa, isto é, ser toda desenvolvida em formato de hipertexto, e
armazenada em servidores web. Segundo Alex Primo e Raquel Recuero:

Como não se trata de um conjunto de volumes impressos, a


Wikipédia – que pode ser acessada de qualquer computador
conectado à rede – não precisa ser armazenada por cada
pessoa. Tendo em vista sua estrutura digital, sua extensão
tampouco é limitada. Ou seja, ela está aberta à constante
ampliação e inclusão de novos artigos a qualquer momento e
por quem quer que seja. 20

17
PRIMO, Alex e RECUERO, Raquel. Hipertexto colaborativo: uma análise da escrita a partir
dos blogs e da Wikipédia. Revista FAMECOS – Porto Alegre – n°22 – dezembro 2003. Pág. 59
Disponível em
http://revcom2.portcom.intercom.org.br/index.php/famecos/article/viewFile/233/177
Acesso em 19/10/2009.
18
PRIMO, Alex e RECUERO, Raquel. Ibidem. Pág 59.
19
PRIMO, Alex e RECUERO, Raquel. Ibidem. Pág 59
20
PRIMO, Alex e RECUERO, Raquel. Hipertexto colaborativo: uma análise da escrita a partir
dos blogs e da Wikipédia. Revista FAMECOS – Porto Alegre – n°22 – dezembro 2003. Pág. 59
Disponível em
http://revcom2.portcom.intercom.org.br/index.php/famecos/article/viewFile/233/177
8

Portanto, a Wikipédia não limita à questão espaço-temporal que as versões


impressas têm de estarem delimitadas fisicamente a um só lugar de cada vez e
principalmente à questão da correção ou complementação em tempo real.
Seguindo a citação anterior:

Se o impresso demanda uma versão final a ser produzida em


escala, e cada atualização exige a compra de nova edição para
substituição da anterior, a Wikipédia não tem versão final, nem
edição obsoleta (mesmo porque a cada momento ela pode ser
atualizada). 21

O conceito de atualização que se destaca como uma grande diferença em


relação às versões impressas, apresentado na citação acima, é de simples
compreensão: a enciclopédia impressa tem sua edição lançada e é comprada
por um grande número de pessoas. Alguns meses depois se descobre um erro
em determinado verbete. O proprietário só terá conhecimento de tal erro se
comprar a próxima edição corrigida ou quando e se receber uma errata da
editora responsável pela publicação dos volumes. Na Wikipédia esse tipo de
situação jamais acontece, pois a correção do erro se dá de forma automática,
isso é não depende de grandes esforços para que a correção torne-se pública,
e principalmente a percepção do erro acaba sendo mais rápida, pois o número
de interagentes (consumidores) é infinitamente maior e esses têm a permissão
de fazer as correções, as atualizações necessárias no momento em que se
deparam com ela.

Com sua proposta de ser uma grande enciclopédia com conteúdo gratuito e
produzido de forma colaborativa a Wikipédia vem crescendo a cada ano desde
seu lançamento em 2001. O número de artigos, em inglês, inicialmente era de
19.700 chegando a mais de três bilhões em Outubro de 2009 como pode ser
visto no gráfico abaixo.

21
PRIMO, Alex e RECUERO, ibidem. Pág. 59
9

Fonte: www.wikipedia.org (acesso em 24/10/2009)

O Wikipédia tem sua versão em mais de 250 idiomas, cada uma delas é
gerenciada separadamente por vários interagentes que aceitam a proposta
colaborativa do projeto e que dispõe uma grande variedade de informações em
um só website. Seu domínio é um dos mais visitados em todo o mundo, no 6°
lugar no período de produção deste artigo22·, o 1º lugar entre os sites de busca
orgânica23 e 3° lugar entre os sites de busca regulares, atrás somente do
Google.com e do Yahoo.com.

Outro importante ponto a ser discutido em torno da Wikipédia em relação à


produção colaborativa é a questão da autoria. Partindo do princípio que tal
enciclopédia é feita de forma aberta e colaborativa, e que um verbete pode ser
escrito e livremente editado por qualquer pessoa disposta a contribuir a
qualquer momento, a autoria não é de ninguém e é de todo mundo ao mesmo
tempo. Alex Primo e Raquel Recuero explicam:

... logo após editar um texto disponível e colocar no botão de


salvamento, a página é atualizada automaticamente no site,
sem que o autor da versão anterior (ou qualquer outra pessoa)
precise aprovar a modificação. Nesse sentido, ninguém possui
a posse definitiva sobre texto nenhum. Ou melhor, os textos
são de todos, são da comunidade 24
22
Fonte: http://www.alexa.com/topsites. Acesso em 22/10/2009.
Alexa Internet Inc. é um serviço de Internet pertencente à Amazon que mede quantos usuários
de Internet visitam um site da web. (fonte: http://pt.wikipedia.org/)
23
As buscas orgânicas são aquelas que trazem como resultado apenas conteúdo relevante aos
termos buscados e que não foi pago para aparecer ali. Sites como Google e Yahoo retornam
ao usuário resultados que além de orgânicos podem ser pagos também, através de seus
programas de links patrocinados como o Google Adsense e o Yahoo! Search Marketing, onde o
dono de um determinado site paga uma quantia para que tal endereço apareça como retorno
de busca relacionada a determinadas palavras chave de seu interesse.
24
PRIMO, Alex e RECUERO, Raquel. Hipertexto colaborativo: uma análise da escrita a partir
dos blogs e da Wikipédia. Revista FAMECOS – Porto Alegre – n°22 – dezembro 2003. Pág. 58
10

Isso é um texto publicado na Wikipédia pode ser alterado através do simples


clicar de um botão destinado a edição, e ser complementado, reescrito ou
mesmo editado por outra pessoa diferente da que deu início a um verbete, e
assim sucessivamente mantendo o conteúdo atualizado de tal forma que
jamais poderá ser comparada a uma edição impressa, e perdendo a questão
fixa da autoria para uma espécie de autoria compartilhada, onde todos são
donos de tal texto. Para Alex Primo e Raquel Recuero:

... em virtude de sua abertura à intervenção, os internautas não


podem ser chamados de meros usuários ou leitores, na medida
em que podem se torna co-autores quando quiserem. A autoria
não fica aqui relegada à mera opção entre caminhos potenciais
abertos por um webmaster, que ocuparia uma posição
hierarquicamente superior (mantendo para si a posso pelo
produto digital e o privilégio de alterar o hipertexto e seu
conteúdo escrito). Ou seja, não se trata apenas de leitura ativa
e criativa, mas também de legítima redação.25

Estruturas colaborativas como as que utilizam a plataforma Wiki, por exemplo,


reafirmam o conceito de web 2.0 apresentado no início desse artigo, pois
mostram que a posição superior do dono ou responsável pelo site, aquele que
dita quem terá ou não acesso à produção e veiculação do conteúdo é
substituída pela importância igualitária entre todos os interagentes.

A Wikipédia é um site que se destaca nos resultados e na amplitude de seu


alcance no ponto de vista da produção colaborativa no atual momento da já
discutida Web 2.0. Mas com tantas pessoas diferentes redigindo e editando a
Wikipédia, surge a discussão sobre a qualidade dos verbetes. Seriam esses
válidos, embasados teoricamente, escritos de forma idônea? Em seu livro
sobre o Wikipédia, John Broughton faz esse mesmo questionamento:

Por que esperar artigos de qualidade se todo mundo – o


professor universitário e o estudante de 12 anos do ensino
médio – têm direitos iguais de edição? Não irão os religiosos e
teóricos extremistas e partidários tomar o controle de artigos
controversos? Não se tornará o vandalismo constante

Disponível em
http://revcom2.portcom.intercom.org.br/index.php/famecos/article/viewFile/233/177
Acesso em 19/10/2009.
25
PRIMO, Alex e RECUERO, Raquel. Ibidem pág 59
11

afastando os bons editores? Como podem dezenas de


milhares de pessoas trabalharem juntas quando não há
hierarquia para oferecer direção e resolver disputas?
Essas questões apontam para as inevitáveis desvantagens do
modelo “qualquer um pode editar” para criar uma enciclopédia
online. ”26

Certamente esse excesso de liberdade de edição na Wikipédia, é considerado


um ponto crítico por muitas pessoas. Mas o que não é analisado pelos críticos
é o fato de que a Wikipédia é um site que prioriza a ética, isto é, estimula
sempre a seus editores a citarem fontes, usarem notas de rodapé e referências
e sugerirem bibliografia em seus verbetes. Sobre tal discussão, John
Broughton acrescenta:

A Wikipédia sempre será um trabalho em andamento, não um


produto finalizado. O que os cético não percebem, no entanto,
é que deixar qualquer um editar provou ser uma força incrível.
Em um mundo onde bilhares ou mais de pessoas têm acesso a
internet, milhões de pessoas contribuíram com a Wikipédia, e
esse número cresce a cada dia. Como resultado, a vasta
maioria dos milhões de artigos em todas as diferentes
Wikipédia são pelo menos de qualidade razoável apesar de
muitos um pouco pequenos. 27

Ao clicar no botão “editar” disponível nos verbetes, o usuário que não é


devidamente registrado no site é encaminhado a uma página onde, antes do
campo de edição em si do verbete, apresenta uma caixa de texto em destaque
que apresenta as regras básicas para edição de artigos e um hiperlink em
destaque para o “Guia de edição para novos usuários”, isto é, uma lista de
regras a serem seguidas por aqueles que preferiram não se cadastrar e
editarão a Wikipédia como anônimos.

26
Broughton,John. Wikipedia: The missing manual. 1ª edição, California -Estados Unidos ,2008.
Pag.xvii. Tradução da autora.
27
Broughton,John. Ibidem Pag.xvii. Tradução da autora.
12

Figura 1 – Página de edição de verbetes para usuários não cadastrados.

É importante ressaltar que a Wikipédia, como outras ferramentas de produção


colaborativa na internet, também determina alguns limites para que seja
minimizado o risco de mau uso ou vandalismo da mesma. A determinação de
status hierárquico a determinados interagentes, merecedores de tal função, é
uma das formas de manter a ordem e a qualidade. Alex Primo discute essa
questão:

É preciso notar que a “arquitetura de participação” pode impor


certos condicionamentos à coletividade. Os sistemas de gestão
de reputações e avaliação de comentários no Slashdot28 e a
proteção ou semi-proteção29 de certos verbetes por
administradores na Wikipédia apresentam formas de regulação
da produção da coletividade. Como se discutiu alhures (Primo,
2005b), os ambientes abertos de cooperação online atraem
não apenas colaboradores comprometidos com a produção
e circulação de bens públicos, mas também aproveitadores
(free-riders) e vândalos. Para evitar ou contornar prejuízos, os
sistemas de regulação citados atribuem o status de moderador
ou administrador30 a qualquer participante com um histórico de
colaboração regular. Esses interagentes ganham poderes de
julgamento de textos e participantes, podendo bloqueá-los ou
até mesmo eliminá-los. Esses recursos e a hierarquia
desenvolvida não prejudicam o trabalho colaborativo e a
evolução e abertura do processo colaborativo. 31

28
http://slashdot.org/ Site que agrega notícias normalmente relacionadas a tópicos de
tecnologia, enviadas por seus interagentes.
29
http://en.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Semi-protection_policy Acesso em:
20/11/2009
30
http://en.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Administrators#Protected_pages Acesso
em: 20/11/2009
31
PRIMO, Alex. O aspecto relacional das interações na Web 2.0. Revista da Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação E-Compos - Agosto de 2007 –
13

É importante ressaltar que a Wikipédia não se trata somente de uma


enciclopédia online editada de forma colaborativa, mas principalmente de uma
comunidade com membros ativos dispostos a manter o projeto funcionando da
melhor forma possível. Esse é um dos grandes motivos pelo qual o número de
verbetes vandalizados é muito baixo, pois sempre existe alguém disposto a
encontrar, corrigir tal problema e tomar as medidas cabíveis. Desta forma fica
mais fácil assegurar que, mesmo que pequeno, ou sem aprofundamento
científico, o verbete ao menos transmita uma explicação correta para o mesmo.
O autor John Broughton cita alguns pontos que tornam isso possível:

• Uma grande porcentagem das edições para Wikipédia são


feita com boa fé - isso é, por pessoas tentando aprimorar
artigos, não vandalizá-los. Quando ocorre vandalismo, o
mesmo tende a permanecer muito rapidamente, pois existem
muitos editores construtivos para concertá-lo.
• A Wikipédia tem um grande número de regras sobre seu
processo que encoraja colaboração e construção de consenso
de quê informação vai nos artigos. Quando as pessoas
seguem essas regras, o resultado são artigos de qualidade.
• Uma grande porcentagem de editores segue as regras, e
quando outros apontam seus erros, eles estão dispostos a se
auto-corrigir. Aqueles editores que acham as regras da
Wikipédia problemáticas normalmente a deixam por si próprios.
• Finalmente, existem alguns editores com autoridade especial
para fazer cumprir as regras. Essa autoridade é concedida pela
comunidade de usuários, através de processos definidos.”32

O desejo de colaborar com o desenvolvimento da inteligência coletiva, de um


espaço virtual próprio para a construção do mesmo é um dos fatores que
motiva também aos interagentes freqüentes do Wikipédia a manter o projeto
em ordem. Através de pesquisas com usuários cadastrados da enciclopédia
online, Susan Bryant, Andrea Forte e Amy Bruckman constataram que:

Todas as primeiras edições feitas no Wikipédia pelos


entrevistados envolviam tópicos sobre os quais tinham alguma
especialização pessoal. Inicialmente o objetivo de suas
atividades na Wikipédia era de encontrar informações sobre
seus próprios interesses e algumas vezes consertaram
omissões ou fraquezas. 33
Pág 18
32
PRIMO, Alex. O aspecto relacional das interações na Web 2.0. Revista da Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação E-Compos – Ago/2007 – Pág 18
33
BRYANT, Susan L., FORTE Andrea, BRUCKMAN Amy. Becoming Wikipedian:
Transformation of Participation in a Colaborative Online Encyclopedia. Proceedings of GROUP:
International Conference on Supporting Group Work, Sanibel Island, FL. Pág.04. Tradução da
autora. Disponível em http://www.cc.gatech.edu/~asb/papers/bryant-forte-bruckman-
group05.pdf Acesso em: 10/11/2009
14

Pode-se perceber que os interagentes do Wikipédia inicialmente não chegam


até ela para colaborar, mas para buscar determinada informação de seu
interesse. No entanto, é interessante observar que ao entrarem em contato
com algum conteúdo que julgam errado ou incompleto, tomam a ação de editá-
lo / corrigi-lo. Ainda de acordo com Susan Bryant, Andrea Forte e Amy
Bruckman os interagentes que mais colaboram dentro do Wikipédia, chamados
pelas autoras de wikipedians, reconhecem a importância do projeto para o
desenvolvimento da inteligência coletiva e trabalham para a mesma:

Muitos wikipedians vêem seu trabalho como a contribuição


para um bem maior, oferecendo conhecimento para todo o
mundo. Quando perguntados por que contribuem com a
Wikipédia, muitos wikipedians reconheceram os objetivos
abrangentes, o apelo de comunidade e contribuição para a
sociedade.34

Tais constatações podem não garantir que o conteúdo presente na Wikipédia


seja relevante do ponto de vista acadêmico, mas demonstram a preocupação
dos interagentes desse site / ferramenta de produção colaborativa com o
desenvolvimento da inteligência coletiva. Segundo Pierre Lévy, a inteligência
coletiva é construída por esforço das partes envolvidas, é o reconhecimento de
que o outro sabe algo que um outro não e vice e versa, e que juntar esses
saberes, esse conhecimentos é melhor que deixá-los separados. É exatamente
dessa forma que a Wikipédia funciona e seus interagentes trabalham: para
manter a Wikipédia funcionando da melhor forma possível para que o máximo
de pessoas possa tirar proveito da mesma para construir seu conhecimento e
colaborar com a construção do coletivo.

Considerações finais

Através do desenvolvimento desse artigo foi possível perceber a importância


que as novas ferramentas de produção colaborativa características da web 2.0
têm para o desenvolvimento da inteligência coletiva. Podemos aqui observar
também sua característica social no sentido de colaborar para a
democratização do espaço virtual e dos suportes digitais para a liberação do

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group05.pdf Acesso em: 10/11/2009
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pólo emissor. Sites como o Wikipédia que são inteiramente produzidos e


desenvolvidos de forma colaborativa mostram que é possível manter um
espaço virtual livre para interação e troca de informações entre seus
interagentes, sem grandes riscos de banalização e vandalismo, pois os
mesmos percebem sua importância para o sucesso do projeto e reconhecem
seu lugar como autores e co-autores e, portanto, devem zelar por esse espaço,
seguir suas regras e dessa forma contribuir para o crescimento de uma
ferramenta de colaboração e produção coletiva que parte do todo, feita por
todos e para todos.
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Referências Bibliográficas

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BRYANT, Susan L., FORTE Andrea, BRUCKMAN Amy. Becoming


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