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OS BISPOS DO BAZAR – UMA ANÁLISE DE PARADIGMAS

PARA EMPRESAS DE DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE

Cid Rodrigues de Andrade


Escola Politécnica de São Paulo
Av. Prof. Luciano Gualberto, Cidade Universitária, São Paulo, SP.

Abstract
This paper focuses on the strategical decisions about software industry firms
development model. It concerns the effects of model selection in software industry. It
claims that open model represents a risk to closed model based firms. The paper proposes
that software firms must redesign yours strategical planning. The analysis takes as its
starting points a literature revision and companies opinions.

Keywords: Strategical decisions, development model, Free Software

1. Introdução (Fundamentos e literatura)


Este artigo pretende analisar as estratégias para definição de modelo de
desenvolvimento na indústria de produção de software, em particular em relação ao
paradigma do software livre.
A indústria clássica de desenvolvimento de software é composta de empresas que atuam
em determinados mercados de acordo com seu porte. As grandes empresas, em geral,
trabalham com produtos voltados à produção em escala mundial. Estes produtos podem ser
desde software básico até aplicações de uso específico, mas desenvolvidas de modo a
atingir um grande número de usuários. Um exemplo de software básico é o sistema
operacional. Já no caso de aplicação específica temos as ferramentas de Computer Aided-
Design (CAD) ou Enterprise Resource Planning (ERP). As pequenas empresas costumam
atender a necessidades customizadas de clientes de pequeno e médio porte, desenvolvendo
suas soluções sob encomenda. Entre elas encontra-se uma faixa intermediária com
características de produtos das pequenas, mas produzindo com ganhos de escala, porém
mais modestos do que os ganhos das grandes empresas.
O esforço requerido dentro desta indústria clássica para o desenvolvimento de software
básico é de tal monta que inviabilizaria a concorrência de pequenas empresas sob o mesmo
paradigma. Destarte, estes produtos eram, até pouco tempo, exclusividade das grandes
empresas produtoras de software. Por outro lado, se softwares de ERP das grandes
empresas teriam condições de atingir, a princípio, qualquer porte de cliente, vemos também
que os seus custos de licenciamento e implantação não os tornam atraentes para pequenos e
mesmo médios clientes. Nesta área as pequenas e médias empresas de software encontram
seu campo de atuação.
Para a compreensão desta indústria é importante analisarmos as teorias econômicas que
estudaram a Inovação Tecnológica e a gestão empresarial da Tecnologia de Informação.

2. Métodos
Este artigo é, basicamente, uma revisão de literatura em três áreas. A primeira,
desenvolvida anteriormente, refere-se a questões de microeconomia, em especial as
vinculadas com Inovação Tecnológica e Concorrência. Outra área de leitura foi a de
Estratégia Empresarial, em especial a focada em Tecnologia de Informação. A terceira área
é a de um modelo de desenvolvimento de software que pretende instalar um novo
paradigma neste mercado: o de Software Livre.
Contudo, para poder ter compreensão mais abrangente dos problemas aqui tratados,
encaminhei um breve questionário a quarenta software-houses aleatoriamente selecionadas
a partir de buscas em websites de busca e anúncios de revistas especializadas. O objetivo
foi testar este questionário para uma pesquisa mais ampla a ser realizada em outros
trabalhos.
Dos questionários enviados, houve o retorno de 7,5% deles, ou seja, três questionários.
Embora eles não sejam representativos do ponto de vista estatístico, as respostas ali
presentes serviram para o desenvolvimento de outro questionário e para obtenção de alguns
dados sobre os quais podem ser realizar algumas conjecturas.

3. Resultados
A primeira grande contribuição na área de Inovação Tecnológica foi estabelecida por
Schumpeter (1942), ao afirmar que, a despeito dos desejos dos economistas, as grandes
empresas contribuem mais para a criação de um padrão de vida elevado do que para seu
rebaixamento. Esta afirmação levou a uma série de estudos sobre a importância da grande
empresa e da empresa monopolista no cenário econômico. Mas estas grandes empresas (e
todos nós) devemos ter presente que Schumpeter não deixava de avisar que “o capitalismo
é, pela própria natureza, uma forma ou método de mudança econômica, e não apenas nunca
está, mas nunca pode estar, estacionário”. Ele ilustra ainda um cenário onde a abertura de
novos mercados e o desenvolvimento organizacional revolucionam a estrutura econômica a
partir de dentro, destruindo a velha e gerando uma nova, incessantemente. Assim sendo, é
mais relevante avaliar como o capitalismo cria e destrói as estruturas do que como elas são
administradas. Schumpeter ainda esclarece que a concorrência baseada em novas
mercadorias, tecnologias, fontes de oferta e tipos de organização é tão mais eficiente do
que a concorrência por preço “como um bombardeio comparado a se forçar uma porta”. E
para ele esta concorrência age não apenas quando existe de fato, mas também quando é
meramente uma ameaça onipresente.
Schumpeter ainda propõe que haveria dois modelos sob os quais são erigidas as
inovações tecnológicas. Um modelo é o de pequenas empresas inovadoras fundadas por
empreendedores essencialmente inovadores. Outro modelo é o da grande empresa com
condições de grandes investimentos em P&D.
De acordo com Possas (2002), a visão de concorrência de Schumpeter é conhecida
como concorrência schumpeteriana e caracteriza-se “pela busca permanente de
diferenciação por parte dos agentes, por meio de estratégias deliberadas, tendo em vista a
obtenção de vantagens competitivas que proporcionem lucros de monopólio, ainda que
temporários”. A concorrência é, portanto, um processo de revolução de estruturas e criação
de oportunidades e não um processo de ajustamento em direção a um suposto equilíbrio de
concorrência perfeita. Possas destaca como as estratégias competitivas das empresas – no
que se referem a inovação, investimento, preços e outros – e as estruturas de mercado
geram uma dinâmica industrial que transforma a configuração da indústria, em termos de
produtos, processos e rentabilidade.
Esta abordagem foi retomada nas últimas décadas por alguns economistas, em especial,
Nelson e Winter (1982) que adotam uma perspectiva “evolucionária” da teoria
microeconômica. Eles introduzem noções de busca de inovações, procedidas pelas
empresas a partir de estratégias, e de seleção de resultados realizada pelo mercado. Este é
visto como um ambiente de seleção por excelência.
Outra contribuição vem de Lundvall (1988). Ele afirma que as empresas não são a fonte
exclusiva de inovações, pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Estas inovações seriam
favorecidas por todo um cenário que ele denomina Sistema Nacional de Inovação. Este
sistema seria composto por empreendedores, laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) das grandes empresas, cientistas, universidades, governos e mesmo usuários finais
por intermédio de mecanismos como clubes de usuários.
Também destaco Malerba e Orsenigo (1997) que informam como diferentes setores
apresentam características distintas na forma como introduzem inovações tecnológicas.
Eles partem do trabalho de Schumpeter, que ilustra como as grandes empresas, com seu
conhecimento acumulado, competência em P&D, capacidade de financiamento tornam-se
preponderantes na inovação tecnológica e criam relevantes barreiras de entrada em suas
indústrias. Eles propõem que, na indústria de software, existe uma larga variedade de
oportunidades e soluções tecnológicas em potencial e boas condições de apropriação de
vantagens competitivas relacionadas à inovação. Eles indicavam que, na época, as
oportunidades estavam geograficamente concentradas na região conhecida como Vale do
Silício.
Outra visão da qual não podemos prescindir é a de Hasenclever e Tigre (2002) que
destacam os dois modelos de Schumpeter sobre a empresa inovadora. Aqueles dois
modelos podem coexistir e os autores citam como exemplo desta coexistência a criação da
Microsoft, que revolucionou os padrões da indústria de software e introduziu significativas
barreiras à entrada.
Entretanto, Hasenclever e Tigre (2002), demonstram que alguns autores como G. Dosi
sugerem que estes regimes, em geral, representam a evolução de uma indústria. O modelo
empreendedor surge na emergência da indústria. Porém, na fase da maturidade, a inovação
tecnológica é uma arma concorrencial, capaz de derrubar certas barreiras à entrada e criar
outras, provocar o desaparecimento de certos concorrentes e gerar outras turbulências que,
como dito por Schumpeter, revolucionem as estruturas da indústria.
A análise da literatura demonstra a importância de se compreender a concorrência. Para
agir de maneira propositiva e manter a longevidade de uma empresa, é necessário
estabelecer uma estratégia que permita à empresa diferenciar-se das demais e obter
vantagens competitivas.
Os participantes do modelo de produção de software conhecido como software livre
adotaram um posicionamento estratégico que lhes permitiu atingir altos níveis de
excelência de seus produtos e lhes permitiu competir de forma inusitada com empresas de
grande porte já estabelecidas nesta indústria. Entretanto, o fundamento da vantagem
competitiva obtida por este modelo não é consensual, em parte devido a ser baseado em um
modelo de negócios de tal forma distinto do comum até o seu surgimento, que ainda hoje
causa estranhezas. As mudanças que este modelo está impondo à indústria de produção de
software ainda estão em andamento e tornaram-se visíveis ao mercado somente em 1998,
sendo muito recentes, portanto. Nesta época a IBM demonstrou a intenção de investir um
bilhão de dólares no GNU/Linux, tornando-o mais conhecido fora do ambiente técnico e
acadêmico. É irônico que o Bazar se fez mundialmente conhecido somente quando os
bispos desta Catedral foram visitá-lo.
Apesar deste modelo permitir apropriações tipicamente capitalistas, parcela
considerável de sua força advém de uma fonte que subverte alguns valores deste sistema
econômico. Isto leva o mercado a repensar suas estratégias competitivas. Se, por exemplo,
analisarmos a proposição de Laurindo e Carvalho (2004), de que a intensidade das forças
competitivas é inversamente proporcional ao potencial de lucro em uma dada indústria,
qual seria a intensidade daquelas forças se um dos atuantes desta indústria agisse de forma
a, aparentemente, abrir mão de seu lucro (e até mesmo de seu faturamento)?
Os sistemas operacionais, pacotes de aplicativos de escritório e ferramentas de
desenvolvimento compõem parcela expressiva deste mercado, do ponto de vista de
faturamento e visibilidade. Nesta área não é numerosa a quantidade de concorrentes, o que
lhes permite tomarem ações que visem aumentar a participação no mercado com objetivos
monopolistas. Assim as empresas que obtivessem este monopólio conseguiriam exercer
considerável domínio neste mercado.
Como esta indústria tinha este caráter, ela adquiriu um perfil mais concentrado do que a
maioria das indústrias de seus clientes podendo exercer forte poder de negociação sobre
eles. Este poder é majorado por ser baseado em produto que se tornou um insumo vital à
produtividade de seus clientes.
Existe, contudo, uma tendência destes produtos serem pouco diferenciados entre si,
possibilitando torná-los em commodities. Isto diminui a capacidade de algum participante
monopolizar este mercado, forçando quem tiver esta intenção a elevar as barreiras de
entrada de forma a garantir sua posição. Esta elevação ocorreu por meio da existência de
barreiras de saída expressivas e da própria força que um monopólio adquire
intrinsecamente.
De forma até certo ponto surpreendente, ocorreu que diante do alto risco na obtenção de
retornos, o modelo de software livre surgiu como se abrisse mão destes retornos. Destarte,
as barreiras de entrada se tornam pouco significativas uma vez que seu poder de
intimidação ao surgimento de novos concorrentes ocorre em um aspecto ao qual estes não
são sensíveis. Esta estratégia competitiva fornece aos alinhados ao software livre uma
posição favorável nesta indústria.
Raymond (2000a) propõe que o modelo de software livre pode ser visto como um
sistema adaptativo impelido por uma dinâmica baseada na força dos membros das
comunidades que o compõem. Esta força é gerada por valores que poderiam ser
considerados incomuns, uma vez que, em geral, só podem ser explicados por intermédio da
busca de status social reconhecido por seus pares e obtido não pelo uso da força ou da
apropriação da capacidade de realizar trocas comerciais. Este status é obtido pela
participação ativa e disponibilização do fruto de suas capacidades para a comunidade.
É relevante notarmos que parte preponderante da força dos competidores que agem sob
o modelo tradicional advém de uma tendência dos clientes desta (e de outras) indústrias se
deixarem influenciar pela força que a manutenção do status-quo tem na tomada de decisão
de compra dos produtos.
Contudo, o modelo de software livre adquire notoriedade e visibilidade pelo
antagonismo com o modelo denominado “proprietário” e que eu prefiro denominar de
modelo fechado. Estabeleceu-se entre estes modelos uma relação dialética. Como tal, ela se
torna mais clara quanto mais estes modelos se contrapõem e antagonizam-se mutuamente,
mas tende a se tornar inócua se um dos modelos se tornar preponderante na indústria.
Os modelos de desenvolvimento aqui discutidos são chamados por Raymond (1998) de
Catedral e Bazar, no clássico “The Cathedral and the Bazaar”. Ele propõe uma dicotomia
onde software pode ser desenvolvido por uma pequena equipe de especialistas em um
ambiente fechado, como em uma catedral (o modelo fechado), ou por desenvolvedores em
qualquer lugar do mundo, por intermédio de livre colaboração, de uma forma quase
caótica, como em um grande bazar (modelo de software livre). Para ele, o Bazar se
comporta como uma coleção de agentes autônomos tentando maximizar a utilidade de um
processo que produz uma ordem espontânea auto-evolutiva mais elaborada e eficiente que
qualquer quantidade de planejamento centralizado seria capaz de fazer. Porém os
desenvolvedores não estariam movidos por objetivos comumente estudados pela economia
clássica, mas por uma intangível satisfação de seus próprios egos. Essa satisfação advém
do respeito obtido pela comunidade de desenvolvedores e usuários e pelo prazer pessoal
obtido por intermédio da reação de seus pares a seu comportamento aparentemente
altruísta, como ressalta Raymond (2000a) em “Homesteading the Noosphere”.
A Cware (S.I.) expõe que outros fatores além do reconhecimento entre desenvolvedores
leva ao sucesso do modelo Bazar. Afirma-se que para entender a dinâmica deste modelo, é
necessário compreender as forças que impelem os movimentos de software baseados em
comunidades. O artigo afirma que estas forças são como uma tempestade. Uma tempestade
seria um complexo padrão climático aparentemente caótico, mas que na realidade
demonstra ser um padrão bem organizado de forças e condições.
Contudo, Cavalier (1998) afirma que o número de participantes que fazem contribuições
efetivas do Bazar afeta o sucesso do empreendimento.
Raymond (2000b) aprofunda sua visão em “The Magic Cauldron”. Nele o autor
demonstra que um software não deve ser precificado como se fosse um produto fruto de
uma atividade fabril. Ele destaca que em suas entrevistas foi levado a um cenário que
permite afirmar que os desenvolvedores não tem seus salários diretamente relacionados
com o preço de venda de seus softwares. Ele afirma que “software é uma indústria de
serviços sob a persistente e infundada ilusão de ser uma indústria de manufatura”.
Desta forma ele afirma que a software livre começa a despontar não apenas como um
paradigma tecnológico, mas também como uma mudança na ordem econômica. O fato de
produzir software de acordo com o modelo de Bazar destaca um modelo de software pago
por serviços e desestrutura o modelo de precificação do software fechado. Seus estudos
levam a indicar que a transição deste modelo não irá afetar os desenvolvedores tanto
quanto aos investidores que financiam o modelo da Catedral. Ele observa que é falsa a
impressão que o modelo Bazar afetaria drasticamente a carreira dos desenvolvedores. Essa
impressão vem de um cenário no qual todos os softwares seriam livres, o que eliminaria o
valor de mercado dos softwares e, conseqüentemente, não haveria mais recursos para
remuneração dos desenvolvedores. Contudo, a remuneração destes não está correlacionada
com o preço de venda dos softwares. Além disso a demanda pelo desenvolvimento e
manutenção não declinaria neste cenário. O que mudaria, isso sim, é o modelo de
financiamento ao desenvolvimento de software e a fonte de receitas.
Ao examinar os motivos pelos quais uma empresa pode ser levada a produzir sob o
modelo de código fechado, Raymond (2000b) chega a diversos cenários. Ele afirma que ao
abrir a fonte de um produto, o ganho com confiabilidade e desenvolvimento colaborativo,
alavancando o valor dos serviços como suporte e customização, supera as perdas pelo
preço de venda. Além do mais, as despesas com desenvolvimento precisam ser vistas como
“sunk costs” (custos irrecuperáveis) que não mudarão em um modelo ou outro. Pelo
contrário, no modelo de Bazar os custos de desenvolvimento são compartilhados entre os
participantes. A conclusão de Raymond é que as empresas devem “disponibilizar a receita
e abrir um restaurante”.
Kuwabara (2000) afirma que qualquer movimento de cunho social requer um poder ao
qual se contrapor, e que essa representação de poder seria, neste caso, a Microsoft. O poder
e a influência desta empresa, associado com os altos custos e restrições de licenciamento
geraria um clima de insatisfação propício ao surgimento de movimentos alternativos. O
surgimento da Internet favoreceu a união deste grupo em torno de um objetivo comum. O
Bazar não seria simplesmente um agrupamento de pessoas motivados unicamente por
reconhecimento mútuo, mas por oposição à Microsoft e ao modelo de código fechado.
Ironicamente, quanto mais forte a Microsoft se tornava, mais fortes eram os movimentos
antagônicos a ela. Esta relação dialética se acirraria até que a Microsoft perdesse sua força
ou mudasse de foco. Ele compara a fase atual do desenvolvimento de software livre, em
especial o Linux, com a fase de transição de estados da matéria. Ele nos lembra que o
instante no qual um corpo muda de estado é denominado Fase de Transição. Nesta fase um
sistema está instável e dinâmico, num prenúncio de que uma situação nova está em
germinação. É um período onde estes sistemas têm características de ambos estados, aquele
que está sendo abandonado e o que está se avizinhando. Kuwabara chama esta fase de
Limite do Caos. Ele traz a idéia de que os altos níveis de qualidade e desempenho obtidos
pelo Linux são frutos das propriedades de interações locais que se agregam em um
processo evolucionário com padrões de auto-organização. O autor corrobora com a posição
de Eric Raymond de que existe um Jogo de Reputações, do qual os hackers participam ao
se dedicar a projetos de software livre em busca de status social. Na comparação com o
método de Catedrais, o método Bazar é visto não como um feliz acidente, mas como um
método confiável e aplicável de modo geral.
As software-houses que responderam ao questionário enviado são todas
desenvolvedoras, exclusivamente, de software de código fechado. Todas afirmam que suas
receitas são derivadas do preço de venda de licenças, o que justificaria a escolha deste
modelo. Uma delas destacou que produz softwares para serem executados em sistema
operacional de código fechado, pois seus clientes necessitam da responsabilidade civil que
a empresa de desenvolvimento deste sistema operacional pode oferecer.
Contudo, todas afirmaram que o modelo do Bazar oferece riscos à continuidade de suas
operações. Apesar disto, não faz parte dos planos de negócios das mesmas virem a
desenvolver software sob o modelo de livre.
Indagadas sobre qual seria o impacto para suas empresas se um produto substituto ao
delas chegasse ao mercado tendo sido desenvolvido como software livre, elas apresentaram
duas posições distintas. Enquanto uma acredita que perderia totalmente seu mercado, a
outra sente-se menos ameaçada, devido à fidelização de seus clientes.
Porém, é conveniente destacar que, em geral, estas empresas demonstram que utilizam
softwares livres, apropriando-se das vantagens técnicas e econômicas destes.
Convém destacar uma passagem de “Homesteading the Noosphere” que apresenta um
risco que deve ser conhecido pela empresas cujo modelo de desenvolvimento seja o
fechado. Após concluir que os desenvolvedores se empenham em projetos de software livre
à busca de status social obtido pelo reconhecimento entre os pares, Raymond diz que esta
análise tem mais implicações do que as óbvias. Ele fala que se um desenvolvedor se
envolver com um projeto muito semelhante a algum já existente, ele não terá grande
destaque, e seu reconhecimento seria menor. O mesmo ocorreria se ele fundasse um projeto
tão distinto dos outros que ninguém compreendesse ou notasse. Também haveria pouco
interesse em competir com projetos de grande sucesso, como é o caso do servidor de
conteúdo web Apache. Portanto existe uma tendência dos projetos surgirem na
“vizinhança” dos existentes.
Este fato faz com que haja um padrão previsível na criação de projetos. Na década de 70
do século XX, os projetos eram de “inutilitários” e programas de demonstração. A década
seguinte teve como foco as ferramentas de desenvolvimento e para Internet. A década de
90 teve a atenção voltada para sistemas operacionais, de tal forma que nela vimos o
surgimento do GNU/Linux. Em cada caso, um nível novo e mais difícil de problemas é
atacado quando o anterior já está resolvido.
A próxima categoria de softwares que seria desenvolvida no início do século XXI, na
visão de Raymond, seria a de aplicativos, softwares para usuários não-técnicos e ele ilustra
esta visão destacando o desenvolvimento do Gimp, programa para manipulação de
imagens, e das interfaces gráficas KDE e Gnome. Além destes exemplos vale destacar os
esforços que foram voltados à produção de jogos e programas de entretenimento neste
período.
Com o estabelecimento de casos de sucesso nesta área e o crescimento do GNU/Linux
no mercado corporativo, devem começar a surgir projetos cada vez mais audaciosos para
automação comercial, uma área onde a maioria das pequenas software-houses atua. Ao se
analisar a quantidade de projetos da comunidade de software livre, aqueles voltados para
esta área já surgem logo atrás dos utilitários de sistema, ferramentas de Internet e de
desenvolvimento, entretenimento e bancos de dados.

4. Conclusão
A discussão do tema serviu para esclarecer como o modelo de desenvolvimento do
Bazar tem suas repercussões econômicas, além das meramente técnicas. Diante da visão
schumpeteriana da destruição criativa, torna-se imperativo às empresas desta indústria
consolidar seu posicionamento estratégico diante de um competidor que usa outras táticas
neste jogo.
Denotamos deste trabalho que o modelo Bazar traz riscos para as empresas que se
encastelarem no modelo Catedral, sem procurar nenhuma forma de diferenciação. Por
outro lado, as que optarem por desenvolver seus produtos como software livre, precisam
desenhar sua estratégia com muito cuidado, pois estarão se utilizando de um modelo de
negócios que remunera seus esforços de maneira particularmente distinta da que elas vêm
utilizando.
Qual seria, em compensação, a probabilidade de sucesso dos primeiros projetos na área
de automação comercial? De acordo com os modelos de Raymond, há de se esperar que
algum desenvolvedor, à procura de seu status social, deva se lançar nesta seara e obter
sucesso, ao contrário de alguns que podem não consegui-lo. Contudo, em seguida a este
projeto, a disponibilização de outros semelhantes torna-se-ia uma questão de tempo.
Para que esta discussão possa prosseguir, urge dar continuidade à elaboração de outro
questionário que possa ser distribuído a uma gama maior de empresas de desenvolvimento
de software e cuja análise de resultados possa ser mais produtiva.
Outro estudo valioso seria pesquisar nas bases públicas de projetos de software livre
sobre a data de criação dos projetos e cruzar estes dados com sua categorização, fazendo
um mapa do ciclo de cada categoria.
A análise teórica tende a ser mais completa com a inclusão das visões de Marsili sobre
os padrões de Regime Tecnológico, o que espero fazer em breve. O que já não me atrevo,
mas espero que alguém o faça, é rever o tratado de Lundvall sobre o Sistema Nacional de
Inovação, propondo um Sistema Global de Inovação.

5. Referências Bibliográficas

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