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procurar uma teologia da salvação em Tiago é o mesmo que procurá-la no Sermão do Monte ou em Provérbios. O
VALOR DE TIAGO COMO FONTE DE PREGAÇÃO EM NOSSO TEMPO Creio que o maior problema da Igreja em
nosso tempo é de ordem cristológica. Os tempos presentes nos apresentam uma questão curiosa: um Cristo fraco e
demônios fortes. A pessoa é de Cristo, mas fica endemoninhada. É de Cristo, tem o Espírito Santo, mas está cheia de
maldições: do nome, das palavras proferidas por outros, etc. O evangelho é mostrado como insuficiente e o poder de
Cristo é incapaz de encher a vida da pessoa. Ela precisa de gurus para quebrar suas maldições, como na Igreja Católica
se necessita de um sacerdote. Na realidade, é a doutrina do sacerdócio universal de todos os salvos, que está sendo
negada. O sacerdotalismo católico-medieval está ressuscitando no baixo-carismatismo. Tudo isto deriva de uma visão
incompleta da obra de Cristo. Cristo está perdendo o impacto sobre a Igreja, que está mais fascinada por demônios
que por ele. Não exagero. Quantos sermões vocês ouvem na televisão sobre a pessoa de Jesus, e quantos sobre a
obra de demônios? Numa livraria evangélica, certa vez, procurei um livro sobre Cristologia e não achei um sequer. Mas
contei 42 sobre demônios, guerra espiritual, maldições, etc. Parte disto é obra do misticismo contemporâneo. Só que o
misticismo está centrado em demônios porque estão dão mais ibope do que Cristo. Como efeito secundário do
movimento nova era, estamos vendo entidades espirituais em tudo. Uma jovem me perguntou se podia comer acarajé,
na Bahia. Perguntei-lhe qual era a questão. Ela ouvira dizer que as mães de santos colocam um demônio em cada
acarajé. Outra me indagou sobre a homeopatia porque soubera que na manipulação nas farmácias se colocam
demônios nos remédios. Este misticismo exacerbado se aliou com o estrelato do demônio que começou com filme O
exorcista e pegou uma Igreja sem doutrina, sem fundamentos bíblicos, mais preocupada com sentimentos e sensações
do que com conteúdo. Uma Igreja que se vale mais do marketing do que da teologia. E faz um estrago. Temos muita
espiritualidade e pouca ética. Como pode ser isto? Tiago nos ajuda a colocar os pés no chão. Nós vivemos neste
mundo. Somos a Igreja Militante, apesar do triunfalismo que mostra a Igreja Triunfante já aqui na terra. Se a Igreja
Militante quiser ser Igreja triunfante, aqui na terra, corre o risco de desaparecer. Ouçamos Kierkegaard: Aqui no mundo
não é o lugar da tua Igreja triunfante, mas somente da Igreja militante. Mas, se esta combater, ninugém a poderá
jamais expulsar do mundo, porque tu te fazes dela fiador. Se, ao contrário, ela cisma dever triunfar neste mundo: ai
demim, ela então é culpada se lhe subtrais a tua assistência, se ela desaparece, pois que se confundiu com o mundo.
Estejas tu com tua Igreja militante, de modo que jamais a contecer a acontecer (e esta é a única maneira possível)
que ela seja cancelada da face da terra por ter-se tornado Igreja triunfante [8]. A Igreja corre risco. Quer deixar de ser
Militante para ser Triunfante. Está trocando o testemunho pelas finanças, pelo poderio material. Está mais focada na
matéria e na grandeza aos olhos humanos do que na vida autêntica, não artificial, segundo os olhos de seu líderes,
mais empresários que homens de Deus. Prevalece hoje a mega-igreja e não a comunhão dos santos em busca da
Canaã celestial. Isto é um perigo. Tiago precisa ser redescoberto como material de pregação para as igrejas. É esta a
proposta da primeira palestra. Mostrar que Tiago está sendo esquecido injustamente e deve ser redescoberto como
possuidor de conceitos altamente necessários para a Igreja. O MATERIAL DE TIAGO PARA O PÚLPITO
CONTEMPORÂNEO Em quê Tiago pode falar à Igreja de hoje. Se ocupasse nossos púlpitos, que diria ele aos
membros de nossas igrejas? Fosse falar num encontro de pastores, que diria ele? Em nossos púlpitos, que nos diria
ele? Verberaria contra a espiritualidade descarnada, enfatizando a necessidade de fé evidenciada por obras (Tg 2.14-
26). Este é um dos grande males da Igreja contemporânea. Vida cristã passou a ser algo que acontece num
determinado dia, num determinado lugar, sob o comando de determinadas pessoas. Vida cristã é o que fazemos num
momento chamado de “culto”. Achamos que participar de um culto e cantar corinhos ingênuos, fazendo
um ar beatífico é o maior sinal de sermos cristãos. A fé se mostra nas obras. “Pelos frutos os
conhecereis”, disse Jesus (Mt 7.20). Não foi “pelo seu louvor os conhecereis”, mas “pelos
seus frutos”. Uma Igreja sem obras, com uma fé intimizada, sem objetividade no mundo, é uma incoerência.
Diria também que não podemos fazer acepção de pessoas, como disse em 2.1-9. Há comunidades cristãs que fazem
claramente distinção social. Algumas chegam a ser guetos de uma classe média que se julga importante e que amoldou
o evangelho às suas expectativas sociais. Um dos nossos grandes problemas hoje é “diferencialidade”.
Como apregoamos nossa diferença! Há igrejas que, mesmo recebendo uma pessoa de outra igreja da mesma fé e
ordem, exige dela que vá para uma classe especial, porque aquela igreja é diferente. Uma espécie de classe de
reeducação. Em outras palavras: “somos melhores que sua igreja e você precisa aprender nossa cultura
particular”. Vaidade, orgulho, mundanismo. Igrejas e denominações que se julgam acionistas majoritárias do céu
e das promessas de Deus. Tiago falaria da “língua solta”, doença comum em nosso meio e que ele
mencionou em 3.1-12 e 4.11. Como se fala mal da vida alheia nas comunidades cristãs! Como se ataca a reputação dos
outros! Muito dos bastidores eclesiásticos e denominacionais em nada difere dos bastidores do mundo.
Particularmente, em 30 anos de ministério, sofri mais com a língua dos irmãos e dos “colegas” do com a
dos incrédulos. Estes sempre me respeitaram. Os crentes e colegas, já perdi a conta.... Falaria da avareza social de
muitas igrejas, como fez em 5.1-6. Há igrejas buscando riquezas e fugindo do sofrimento. Querem o trono sem a cruz. É
novamente a questão de Militante e não Triunfante. Mas falo, agora, da vista grossa à bandalheira social deste país. Da
orgia com verbas públicas sendo usadas para projetos fantasmas, ranários fantasmas, etc. O pobre depende
hospitais de baixa qualidade. Soa-me estranho ver governantes de outros estados, quando têm problemas graves de
saúde, virem a S. Paulo para se tratarem. Por que não se tratam nos hospitais que dão para seu povo? Uma classe
política que vive nababescamente, votando salários miseráveis para o povo. Esta mesma classe, muitas vezes, é
adulada por igrejas que cortejam o poder público. Votos são trocados por tijolos ou concessões outras. Tiago lembraria
uma frase em Amós 6.6: não vos afligi com a ruína de José”. Os zés da vida não são considerados. Esta avareza
social seria mostrado em salários miseráveis pagos a zeladores e funcionários de igrejas. Em direitos trabalhistas
que igrejas e instituições evangélicas negam a seus funcionários. No escamoteamento que se faz para se driblar leis
que trazem benefícios. Tiago falaria do perigo das riquezas. A Igreja de Laodicéia era rica, mas aos olhos de Jesus era
http://www.ibcambui.org.br/ibc Fornecido por IBCambuí! Produzido em: 12 December, 2006, 16:30
Igreja Batista do Cambuí
mendiga (é este o sentido do termo grego lá empregado). Muitas outras coisas Tiago falaria e nos seria incômodo. Nos
o ouviríamos ou faríamos como Ananias, o sumo sacerdote em Jerusalém, que segundo Flávio Josefo, mandou
apedrejá-lo [9]?
[1] STOTT, John. Homens Com Uma Mensagem. Campinas: Editora Cristã Unida, 1996, p. 18 [2] LUTERO,
Martinho. Da Liberdade do Cristão – Prefácio à Bíblia (Edição Bilíngüe). S. Paulo: Fundação da Editora Unesp, 1997,
p. 81. [3] GEORGE, Timothy, in “A Right Strawy Epistle: Reformation Perspective on James”. Louisville:
Review and Expositor – A Baptist Theological Journal, vol. LXXXIII, no. 3, 1986, p. 371 [4] CHAMPLIN, R. N. .
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. S. Paulo: Editora e Distribuidora Candeia, 1991, vol. 6. P. 536. [5]
METZGER, Bruce. The New Testament, Its Background, Growth, and Content. Nashville: Abingdon Press, 1965, p.
252. [6] BAXTER, Sidlow J. Examinai as Escrituras – Atos a Apocalipse. S. Paulo: Edições Vida Nova, 1989, p.
309. O itálico é de Baxter. [7] CRABTREE, A . R. Introdução ao Novo Testamento. Rio de Janeiro: Casa Publicadora
Batista, 4ª ed., 1963, p. 316. [8] KIERKEGAARD, Sören. Das Profundezas – Preces. S. Paulo: Paulinas, 1990, p.
83 [9] BAXTER, op. cit., p. 307.