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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural

CARINE MASSIERER

A economia e os desafios do Jornalismo Ambiental

Artigo final apresentado ao professor


Eduardo Filippi como pré-requisito para a
conclusão da disciplina Desenvolvimento
Socioeconômico, Território e Ambiente.

Porto Alegre
Dezembro de 2009

Texto disponibilizado pela autora para publicação em


http://jornalismoemeioambiente.wordpress.com/
A economia e os desafios do Jornalismo Ambiental

Carine Massierer1

Resumo:
A partir da apresentação das teorias da economia ambiental e da economia
ecológica avalio quais as contribuições destas para a construção do campo do
Jornalismo Ambiental. Apesar de ambas terem como foco a preocupação ambiental,
a corrente neoclássica faz uma tentativa de incorporação dos critérios de
sustentabilidade a partir da economia, enquanto a economia ecológica tenta ampliar
o escopo de análise buscando o aporte de outras disciplinas para que se tenha uma
visão holítica dos problemas ambientais. As teorias econômicas colocam em
questionamento os critérios do Jornalismo Ambiental de incorporação da visão
holística, de ampliação do número de fontes, de aprofundamento do conteúdo e da
abordagem qualificada pela imprensa, diante da lógica capitalista de construção das
notícias.

Palavras-chave:
Economia Ambiental, Economia Ecológica, Jornalismo Ambiental.

1 Introdução

A globalização e o desenvolvimento geraram uma redefinição dos direitos e


deveres, mudanças de atribuições na sociedade e a perda de poder por parte do
Estado-nação, que era quem estruturava, legislava e se preocupava em manter o
espaço público. Ao mesmo tempo, emergiram novas tendências econômicas,
culturais e sociais. A esfera pública passou então a se constituir como o princípio
organizador da sociedade moderna, na medida em que os debates parlamentares,
os processos judiciais e as administrações executivas requeriram publicidade para
que se estabelecessem conexões entre as estruturas de poder e os cidadãos.

Essas transformações, acompanhadas da fragmentação dos públicos, da


aparição de novos movimentos sociais e políticos e do poder instituído pelas
indústrias de comunicação e sua vinculação com os poderes de capital, resultaram

1
Jornalista, Especialista em Marketing pelo PPGA da UFRGS e Mestre em Comunicação e Informação pelo
PPGCOM/UFRGS. Atualmente vinculada a Emater/RS-Ascar. E-mail: cmassierer@yahoo.com.br
numa esfera pública que apóia-se nas informações publicadas por meio da
imprensa.

O jornalismo, então, auxilia na construção da problemática ambiental na


medida em que parte de um fato concreto que é retirado de seu contexto complexo
para ser ressignificado e apresentado ao público. Como afirma Hannigan (1995, p.
75), para que um problema ambiental seja visto como tal é preciso: autoridade
científica para validar as demandas, popularizadores que possam estabelecer as
pontes entre a ciência e os ambientalistas, o papel ativo da mídia, que apresenta o
problema como grave e novo, a dramatização do problema em termos simbólicos e
visuais, incentivos econômicos para tomar ações concretas e a emergência de uma
liderança institucional, que possa assegurar a legitimidade da definição do problema
ambiental assim como a continuidade da organização. Dessa forma, o conceito de
meio ambiente define-se historicamente no tempo e no espaço e à medida que se
relaciona com os aspectos políticos, econômicos, culturais e sociais, passando por
uma representação.

Os problemas ambientais têm se demonstrado como um desafio diário da


sociedade e para o campo do conhecimento. As ciências econômicas buscam
respostas que possam levar a uma relação mais harmônica entre meio ambiente e
sistema econômico, enquanto as ciências da comunicação passam a se preocupar
em compreender como o homem se relaciona e comunica diante das mudanças que
estão ocorrendo na sociedade contemporânea. Já o Jornalismo Ambiental se
preocupa em como as informações ambientais estão sendo construídas, veiculadas
e apreendidas pela sociedade.

No entanto, a partir do estudo feito por Massierer2 (2007) constatou-se que


para que meio ambiente se torne notícia, no Rio Grande do Sul, é preciso que o fato
ganhe existência pública, tenha relevância e seja factual. Propor então que o
assunto não seja tratado somente em momentos em que o tema é relacionado a
desastres em que não seja possível ignorar sua relevância, mas de forma

2
Toda a pesquisa encontra-se na dissertação de mestrado defendida por Carine Massierer, com o título: O Olhar jornalístico
sobre o Meio Ambiente – Um estudo das rotinas de produção nos jornais Zero Hora e Correio do Povo. O estudo etnográfico
para observação da construção das matérias de meio ambiente ocorreu de 8 a 14 de outubro de 2006 em ZH, e de 16 a 22 de
outubro, em CP, no Rio Grande do Sul (BR).
transversal torna-se um grande desafio. A brevidade presente em todas as fases de
constituição de uma notícia pode ser considerada como um fator limitante, assim
como o espaço e as questões jurídicas e econômicas que envolvem os meios de
comunicação. Como afirma Dupas (2007), os meios de comunicação estão
fortemente ligados à interesses econômicos.

Então seria possível ao Jornalismo Ambiental conquistar mais espaço frente


ao sistema econômico vigente nas empresas de comunicação e a um processo de
rotinização da construção das notícias ambientais? É esta inquietação que move
este artigo na busca da compreensão das diferentes correntes teóricas da economia
que tratam de meio ambiente, para avaliar até que ponto elas podem contribuir para
a construção do referencial teórico do Jornalismo Ambiental, bem como questionar o
posicionamento dos pesquisadores e suas linhas teóricas e o dos atores na busca
pelo repasse de uma informação ambiental qualificada ao público.

2 A economia e o meio ambiente

A economia tem suas origens na ética e na engenharia, no entanto, de


acordo com Sen (1999, p.20), houve um afastamento progressivo das discussões da
contribuição da economia e de sua função social para a institucionalização de um
comportamento em que o objetivo do exercício “é encontrar os meios apropriados de
atingi-los”. Há uma disjunção entre a economia e a ética.

A partir da separação entre economia e ética ao longo do tempo, o homem


também foi se afastando do meio ambiente. Os mercados, por sua vez, em busca de
eficiência, passaram a explorar o trabalho e a natureza. Meio ambiente tornou-se
objeto para servir ao progresso técnico e um problema, porque tem seu próprio
tempo, que é diferenciado do tempo do mercado, que está centrado na eficiência.

Conforme Dupas (2007), a lógica da produção atual e a direção dos seus


vetores tecnológicos contidos nos atuais conceitos de progresso global estão
levando a um ataque sem trégua ao meio ambiente, e esta é a ameaça mais grave à
humanidade neste início de século.
No entanto, a preocupação com as questões ambientais na área econômica
vem desde o final da década de 60, quando a degradação ambiental começou a
chamar a atenção da opinião pública e os movimentos sociais emergiram. Surge a
corrente neoclássica chamada de economia ambiental. A poluição passa a ser vista
como externalidade negativa no processo econômico e o foco está na alocação
ótima dos fatores de produção e na precificação dos recursos naturais.

A economia ambiental neoclássica, segundo Mueller (1996) baseia-se na


teoria da poluição (ou economia do meio ambiente) e na teoria dos recursos
naturais. Ambas estão voltadas a responder qual o padrão ótimo do uso de recursos
naturais, o que deve guiar o emprego ótimo de tais recursos naturais, qual a taxa
ótima de redução de recursos não renováveis e se os recursos naturais podem
estabelecer limites físicos ao crescimento econômico.

Como esclarece Togeiro de Almeida (1998, p. 33,34), a linha divisória entre


economia do meio ambiente e economia dos recursos naturais não é muito clara e
na literatura esta separação é freqüente sem um elo teórico preciso. Com relação a
teoria econômica da poluição, a autora afirma que uma das dificuldades é que o
instrumental utilizado não representa a real situação de mercado em que atuam os
poluidores. O outro problema é quanto à mensuração monetária dos danos
ambientais. Tanto os métodos da produção sacrificada quanto da disposição a pagar
possuem várias limitações.

Os recursos naturais não são mercadorias e nem têm preços fixados pelo
mercado, como é possível ter uma resposta precisa com a introdução de tecnologias
de controle, se a relação entre o ser humano, o meio ambiente e a economia não é
estática? Deve-se levar em consideração também os fatores culturais e sociais que
estão constantemente influenciando os processos. Segundo Norgaard (1997, p.108),
os economistas ignoram como a distribuição, as instituições e o conhecimento
humano afetam os preços e, consequentemente, sua interpretação.

Para Cavalcanti (2003), atribuir preços aos recursos naturais é uma forma de
subestimação, mas a realidade impõe que se busque alguma forma de valoração:
“O perigo de atribuir-se valor monetário a bens e serviços ecológicos é
tanto de levar, por um lado, a que se acredite que eles valem aquilo que os
cálculos mostram, quanto de fazer, por outro, pensar que ativos naturais
possam ser assim somados a ativos construídos pelos humanos (ambos
referidos à mesma base em dinheiro) tornando-os substituíveis”
(CAVALCANTI, 2003, p. 153).

Assim, a percepção da extensão real da degradação e seu impacto


econômico e ambiental é dificultada pelos subsídios de técnicas destinadas a
recuperar ou manter até certo ponto as condições de produção. Estas técnicas, por
sua vez, levam a uma internalização dos custos de poluição, fazendo com que a
degradação passe a ser um fator individualizado de responsabilização e as ações
coletivas tornam-se mais raras, uma vez que as pessoas “pagam um preço por
poluir”3. Norgaard (1997, p.120) ressalta que “[...] a tomada de decisões coletivas
não precisa ser justificada nas áreas em que o comportamento individual impõe
custos a outros”.

Além disso, a economia ambiental parece estar muito mais preocupada em


comprovar as inúmeras vantagens dos instrumentos econômicos do que em avaliar
se empiricamente as evidências são comprováveis ou não. Então, como precisar em
uma análise econômica quanto dos problemas ambientais são causados pela ação
do homem ou pela própria natureza? Togeiro de Almeida (1998, p.28) afirma que a
intervenção governamental, “tão execrada pelos neoclássicos, parece ser
necessária quando se trata de problemas relacionados ao meio ambiente”. Isso
porque o livre funcionamento do mercado não consegue dar conta de ajustar os
preços no que se refere ao uso de recursos naturais.

Devido às limitações da corrente neoclássica da economia ambiental, surge,


a partir do fim dos anos 80 e início dos anos 90 a corrente teórica da economia
ecológica (ECOECO). Este sistema combina conceitos provenientes das ciências
naturais e das ciências sociais, valorizando a muldisciplinaridade. Passa também a
considerar outras variáveis como o institucionalismo e a valorização dos saberes
tradicionais, defende o valor intrínseco da natureza, integra o capital social e as

3
grifo meu
dinâmicas demográficas, percebe que o crescimento econômico pode não significar
qualidade de desenvolvimento e promove um retorno a ética dos clássicos.

Conforme Andrade (2008) a principal diferença entre as correntes está na


hipótese ambiental adotada, pois para a neoclássica o meio ambiente é neutro e
passivo e o seu instrumental está voltado para a mensuração dos impactos
negativos causados pelo sistema econômico. “A preocupação central é o bem-estar
dos indivíduos, e o estado geral do meio ambiente está em segundo plano”, salienta
o autor. Já a economia ecológica rejeita a visão neoclássica - porque considera que
ela leva a uma análise parcial e reducionista das interfaces entre economia e meio
ambiente – e procura integrar várias perspectivas teóricas para se enfrentar a
problemática ambiental.

Para Cavalcanti (2003, p.154) a economia ecológica deve ser vista não
como uma nova ciência ou disciplina e sim como uma empreitada. A diferenciação
apontada, por ele, com relação à economia ambiental, é de que a economia
ecológica implica uma mudança na percepção dos problemas de alocação dos
recursos e de como eles devem ser tratados e se propõe a revisão da dinâmica do
crescimento econômico. O autor ressalta ainda que a sustentabilidade das
interações entre sistemas econômicos (humanos) e ecológicos impõe a
“necessidade de uma visão holística – uma visão que vá além das fronteiras
territoriais normais das disciplinas acadêmicas”. Na avaliação de Cavalcanti (2003)
os sistemas ecológicos e econômicos são sistemas integrados.

3 Os desafios do Jornalismo Ambiental

A incorporação da visão holística, também é um dos principais critérios


requeridos pelos jornalistas e pesquisadores que trabalham na construção do
referencial teórico do Jornalismo Ambiental. Trigueiro (2003, p.77) afirma que, num
mundo moderno onde o conhecimento encontra-se fragmentado em áreas que
muitas vezes não se comunicam, é necessário que os profissionais da mídia
promovam a discussão ambiental por meio do resgate do “sentido holístico e do
caráter multidisciplinar que permeia todas as áreas do conhecimento”.
O sentido holístico e o caráter multidisciplinar fundamentam-se no
pensamento sistêmico onde tudo é visto de maneira interligada, formando um
sistema de múltiplas interações. Considerando-se que vivemos numa sociedade que
tem como base o pensamento cartesiano faz-se necessário romper com as barreiras
impostas por este modelo, em que a natureza é tomada como algo inesgotável, e
não em interação com o homem, para repensar em termos de relações, padrões e
contexto. O pensamento sistêmico tem como pressuposto que “todo organismo –
animal, planta, microrganismo ou ser humano – é um todo integrado, um sistema
vivo” (CAPRA, 2003, p. 23). A partir do pensamento sistêmico surge a teoria da
complexidade.

Pena-Vega (2003, p.79) avalia que um dos principais desafios da teoria da


complexidade consiste em promover a reflexão sobre a constituição deste método
que rompe com a idéia de um conhecimento fragmentário, hiperdividido e
compartimentado. “Trata-se de um esforço de compreensão multidimensional, isto é,
de pensar com a singularidade, com a localidade, com a temporalidade, ou seja, não
mais esquecer a totalidade integrativa”.

A contextualização é essencial para que se possa compreender a


complexidade de relações que envolvem o meio ambiente, principalmente em
tempos de globalização. “Essa reforma que comporta o desenvolvimento da
contextualização do conhecimento reclama ipso facto a complexificação do
conhecimento”, afirma o autor (MORIN, 2002, p.152).

Belmonte (2004) traz justamente esta preocupação com a trama da


complexidade de relações que envolvem o meio ambiente para o jornalismo, quando
aponta as dificuldades de compreensão e de readequação das informações
ambientais, que são complexas, para uma linguagem jornalística que segue regras
de produção permeadas pela cultura profissional dos jornalistas, pela forma de
organização do trabalho e pelos processos de produção.

O repórter deve ser capaz de juntar as pontas para mostrar o nexo entre
assuntos tradicionalmente desconectados na colcha de retalhos do
noticiário cotidiano. Uma teia de significados precisa ser alinhavada para
possibilitar uma compreensão pública do fenômeno urbano (BELMONTE,
2004, p.16-17).

No entanto, Strauch4 (2002, p.16) ressalta as dificuldades encontradas para


a construção de notícias nesta área justamente porque “os problemas ambientais
possuem contextos históricos, sociais, políticos e econômicos intrincados e são de
difícil cobertura. Exigem preparo e esforço dos jornalistas”. As notícias de meio
ambiente são, em geral, retiradas de seu contexto, e perdem a totalidade da
explicação científica, restando uma relação de causa e efeito simplista, que leva as
pessoas a conclusões erradas, evitando que identifiquem o problema como sendo
ambiental.

A falta de profundidade nas matérias sobre meio ambiente se deve à


complexidade deste campo e às dificuldades enfrentadas no jornalismo de ter que
apresentar as co-relações com os fatores econômicos, políticos, culturais e sociais
em um curto espaço, como ressalta Bacchetta:

Se considerarmos o meio ambiente como um conjunto de sistemas naturais


e sociais habitados pelo homem e demais seres vivos existentes no planeta
e dos quais obtêm seu sustento, o jornalismo ambiental é um dos gêneros
5
mais amplos e complexos do jornalismo (BACCHETTA, 2000, p.18).

Outro desafio do Jornalismo Ambiental é a ampliação do número de fontes


da área a serem consultadas, para que as matérias não fiquem centradas somente
nas opiniões daqueles que representam o poder instituído. Nelson (2004, p.18)
salienta que a melhor maneira de o jornalista ter certeza de que está fazendo uma
cobertura confiável de um tópico complexo “é checar as informações com o máximo
de fontes possível”. O autor salienta ainda que, em vez de ter somente fontes
ambientais vinculadas ao governo, os jornalistas podem procurar pautas nas
universidades, junto a funcionários públicos, parlamentares e organizações Não-
Governamentais (ONGs).

4
É importante destacar que, para o embasamento da pesquisa de análise de conteúdo desenvolvida pelo autor, foram
realizadas entrevistas com jornalistas vinculados à produção de matérias sobre meio ambiente, e com editores, para
complementar as informações sobre os perfis dos quatro jornais (STRAUCH, 2002, p.28 e 29).
5
Tradução livre da autora.
Para que o meio ambiente tenha uma abordagem qualificada na imprensa,
outro critério do Jornalismo Ambiental, os jornalistas

[...] deverão mudar, e seu modo de pensar, fragmentário, deverá tornar-se


holístico, desenvolvendo uma nova ética profissional baseada na
consciência social e ecológica. Em vez de se concentrar em apresentações
sensacionalistas de acontecimentos aberrantes, violentos e destrutivos,
repórteres e editores terão de analisar os padrões sociais e culturais
complexos que formam o contexto desses acontecimentos, assim como
noticiar as atividades pacíficas, construtivas e integrativas que ocorrem em
nossa cultura (CAPRA, 1982, p.400).

E o jornalismo deve passar, de acordo com Bacchetta, a considerar os


efeitos da atividade humana, da ciência e da tecnologia sobre o planeta e a
humanidade:
O jornalismo ambiental […] deve contribuir para a difusão de temas
complexos e para a análise de suas implicações políticas, sociais, culturais
e éticas. É um jornalismo que procura desenvolver a capacidade das
pessoas para participar e decidir sobre a sua forma de vida na Terra, para
6
assumir em definitivo sua cidadania planetária (BACCHETTA, 2000, p.19)

É fundamental então que se faça uma reflexão sobre a qualidade das


informações ambientais repassadas pela imprensa uma vez que, segundo Girardi
(2001, p.60), “o jornalismo ambiental informa, forma e faz um papel educativo,
cumprindo com a missão de contribuir com a construção da cidadania, desde a
perspectiva local à perspectiva planetária”.

As notícias constituem-se, dessa forma, como parte essencial de um


processo mais amplo que é o de tomada de decisão e de conscientização das
pessoas para a preservação do meio ambiente, como afirma Canuto:

[...] somente com a comunicação será possível conscientizar a


população, segmentos representativos da sociedade civil e os governos de
que o atendimento às necessidades e aspirações do presente sem
comprometer a possibilidade de atendê-las no futuro é uma tarefa de toda a
sociedade mundial, não só de uma pessoa, organização e de um só país
(CANUTO, 1996, p.117).

No entanto, na imprensa do Rio Grande do Sul, como constatou Massierer


(2007), as matérias de meio ambiente tem sua construção afetada, em todos os

6
Tradução livre da pesquisadora.
momentos, pelos valores/notícia, pela organização jornalística e pelas rotinas
estabelecidas e os jornalistas não seguem os critérios do Jornalismo Ambiental.
Segundo Massierer (2007), por um lado os jornais têm uma política editorial voltada
à preocupação com o meio ambiente e procuram dar espaço para a temática desde
que ela seja factual e de interesse público, por outro, os jornalistas precisam
respeitar as regras da organização que refletem na elaboração da notícia,
principalmente quando a matéria envolve fatores econômicos e jurídicos, que podem
comprometer as empresas.

Isso faz com que o Jornalismo Ambiental - seguindo os critérios expostos


acima que são ligados a teoria da ecologia profunda - entre num embate com o
sistema capitalista de construção da notícia vigente nos principais jornais do Estado
e do país. Como é que uma matéria que foi veiculada sem aprofundamento, sem
trazer elementos que possam contribuir para que o leitor entenda a complexidade de
relações que envolvem as questões ambientais pode contribuir para conscientização
dos leitores através de uma visão sistêmica?

4 Considerações

Avaliei que a economia ambiental não tem um aporte teórico e metodológico


que possa contribuir para os estudos em Jornalismo Ambiental. Isso porque o
Jornalismo Ambiental tem seus critérios fundamentados na ecologia profunda. No
entanto, as pesquisas feitas pelos economistas servem para questionar até que
ponto o pensamento dos ambientalistas centrado na preservação de forma integrada
não é prejudicial para a manutenção do meio ambiente? A tentativa dos economistas
de se utilizarem do economicismo para quantificar a degradação ambiental é uma
tentativa plausível diante das exigência da sociedade contemporânea de se
precificar os recursos naturais, de se buscar a valoração para a partir de então se
definirem políticas coletivas ou individuais de uso e conservação.
Porém, não trazer para esta avaliação os aspectos culturais e sociais pode
nos levar a conclusões equivocadas. Dessa forma a Jornalismo Ambiental se
aproxima mais da economia ecológica na medida que busca um conceito:

[...] que extrapole o do jornalismo científico tradicional (comprometido com


uma parcela significativa da comunidade científica que tem privilegiado a
continuidade das suas pesquisas, sem contextualizar as suas
repercussões), que não se confunda, em nenhuma hipótese com o
jornalismo econômico (impregnado pelo canto de sereia do modelo
agroexportador da revolução tecnológica a qualquer preço e da apologia
das aplicações rentáveis do capital financeiro) e que não se apoie no
jornalismo cultural, quase sempre tipificado pelo diálogo surdo das elites
(BUENO, 2007, on-line).

Este conceito ainda está em construção e a economia ecológica pode


contribuir para a fundamentação do Jornalismo Ambiental, na medida em que
combina conceitos provenientes das ciências naturais e das ciências sociais e
oferece um instrumental analítico mais condizente com os critérios de
sustentabilidade e com a preservação da vida no planeta. A proposta da economia
ecológica busca superar o caráter reducionista presente nas análises de cunho
neoclássico.

Já o Jornalismo Ambiental busca a superação do reducionismo


característico da representação dos fatos que acontece por meio da imprensa. A
transversalidade do tema ambiental e a possibilidade de conscientização para a
preocupação com a construção de uma vida sustentável deve caminhar em dois
sentidos. Por um lado, é preciso colocar em prática um jornalismo que seja marcado
fundamentalmente pela participação, onde os cidadãos passam a ter a possibilidade
de discutir assuntos importantes para sua vida diária como o meio ambiente. Trata-
se de lutar por um jornalismo preocupado com os direitos e deveres dos cidadãos e
que possa recuperar alguns elementos da profissão lembrados com saudosismo por
aqueles que ainda permanecem na redação, mas sentem falta da procura pela
notícia nas ruas por meio do contato com a comunidade e de um texto mais criativo
e ousado. De outro, também, é necessário que a sociedade assuma sua
preocupação pelas questões ambientais e passe a exigir em todas as esferas ações
que possam contribuir para a sustentabilidade da vida e do jornalismo por meio da
veiculação de matérias dotadas de uma visão sistêmica.
Nesse contexto, os jornalistas têm um papel fundamental, já que
demonstraram, em entrevista à pesquisadora, o interesse em tornar as matérias
ambientais mais complexas e estarem cientes da importância social desta profissão.
No entanto, em razão do tempo, da disponibilidade de espaço e de terem que
cumprir ainda com outras tarefas que estão pré-definidas para eles dentro da rotina
diária da redação, os jornalistas acabam sendo desestimulados por mais que
tenham a intenção subjetiva de fazerem com mais qualidade as matérias e
aprofundarem mais o conteúdo.

Os fatores que ainda causam embaraço ao jornalista, quer sejam referentes


ao ambiente da redação ou externos, como a economia de mercado e as questões
políticas e sociais, com o tempo passam a abrir espaço para um novo jornalismo,
neste caso o cívico ou público, que busca que as temáticas recebam maior atenção,
o que permitirá também maior aprofundamento das matérias mais relevantes para
que a atenção da sociedade seja focada sobre elas.

Como Traquina e Mesquita (2003)7, acredito que o Jornalismo Cívico têm


aspectos que convergem na prática diária das redações para o Jornalismo
Ambiental, assim como a economia ecológica. No entanto, as mudanças no
jornalismo e os movimentos de preservação, individualmente, não conseguirão
conduzir para um mundo mais seguro e humano. É necessário também alterações
no estilo de vida e nas expectativas de crescimento econômico, visando a melhoria
da qualidade de vida da maioria, além da redistribuição global da riqueza, o que
deve ser uma preocupação permanente de cada cidadão.

Porém, como promover uma mudança no sistema econômico fundamentado


no capitalismo? A questão central é que lutar contra esse sistema, que bem ou mal
mantém a máquina econômica em movimento, é atacar os próprios princípios do
capitalismo em um momento em que nenhum outro sistema aparece como
alternativa real. As redes sociais estão ganhando cada vez mais espaço nas
economias contemporâneas e poderiam levar a uma mudança na forma de criação

7
Este novo formato de jornalismo, conhecido também como Jornalismo Comunitário ou Jornalismo Público
surgiu a partir da crítica incessante e implacável aos media, no fim nos anos 1980, nos Estados Unidos, em
razão da qualidade da cobertura eleitoral de 1988.
do valor e da riqueza. Abramovay (2004) aposta nos cidadãos como agentes dos
processos de transformação social, assim como eu.

Referências

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aos mercados de biodiesel: parcerias entre grandes empresas e movimentos sociais.
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