Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
CARINE MASSIERER
Porto Alegre
Dezembro de 2009
Carine Massierer1
Resumo:
A partir da apresentação das teorias da economia ambiental e da economia
ecológica avalio quais as contribuições destas para a construção do campo do
Jornalismo Ambiental. Apesar de ambas terem como foco a preocupação ambiental,
a corrente neoclássica faz uma tentativa de incorporação dos critérios de
sustentabilidade a partir da economia, enquanto a economia ecológica tenta ampliar
o escopo de análise buscando o aporte de outras disciplinas para que se tenha uma
visão holítica dos problemas ambientais. As teorias econômicas colocam em
questionamento os critérios do Jornalismo Ambiental de incorporação da visão
holística, de ampliação do número de fontes, de aprofundamento do conteúdo e da
abordagem qualificada pela imprensa, diante da lógica capitalista de construção das
notícias.
Palavras-chave:
Economia Ambiental, Economia Ecológica, Jornalismo Ambiental.
1 Introdução
1
Jornalista, Especialista em Marketing pelo PPGA da UFRGS e Mestre em Comunicação e Informação pelo
PPGCOM/UFRGS. Atualmente vinculada a Emater/RS-Ascar. E-mail: cmassierer@yahoo.com.br
numa esfera pública que apóia-se nas informações publicadas por meio da
imprensa.
2
Toda a pesquisa encontra-se na dissertação de mestrado defendida por Carine Massierer, com o título: O Olhar jornalístico
sobre o Meio Ambiente – Um estudo das rotinas de produção nos jornais Zero Hora e Correio do Povo. O estudo etnográfico
para observação da construção das matérias de meio ambiente ocorreu de 8 a 14 de outubro de 2006 em ZH, e de 16 a 22 de
outubro, em CP, no Rio Grande do Sul (BR).
transversal torna-se um grande desafio. A brevidade presente em todas as fases de
constituição de uma notícia pode ser considerada como um fator limitante, assim
como o espaço e as questões jurídicas e econômicas que envolvem os meios de
comunicação. Como afirma Dupas (2007), os meios de comunicação estão
fortemente ligados à interesses econômicos.
Os recursos naturais não são mercadorias e nem têm preços fixados pelo
mercado, como é possível ter uma resposta precisa com a introdução de tecnologias
de controle, se a relação entre o ser humano, o meio ambiente e a economia não é
estática? Deve-se levar em consideração também os fatores culturais e sociais que
estão constantemente influenciando os processos. Segundo Norgaard (1997, p.108),
os economistas ignoram como a distribuição, as instituições e o conhecimento
humano afetam os preços e, consequentemente, sua interpretação.
Para Cavalcanti (2003), atribuir preços aos recursos naturais é uma forma de
subestimação, mas a realidade impõe que se busque alguma forma de valoração:
“O perigo de atribuir-se valor monetário a bens e serviços ecológicos é
tanto de levar, por um lado, a que se acredite que eles valem aquilo que os
cálculos mostram, quanto de fazer, por outro, pensar que ativos naturais
possam ser assim somados a ativos construídos pelos humanos (ambos
referidos à mesma base em dinheiro) tornando-os substituíveis”
(CAVALCANTI, 2003, p. 153).
3
grifo meu
dinâmicas demográficas, percebe que o crescimento econômico pode não significar
qualidade de desenvolvimento e promove um retorno a ética dos clássicos.
Para Cavalcanti (2003, p.154) a economia ecológica deve ser vista não
como uma nova ciência ou disciplina e sim como uma empreitada. A diferenciação
apontada, por ele, com relação à economia ambiental, é de que a economia
ecológica implica uma mudança na percepção dos problemas de alocação dos
recursos e de como eles devem ser tratados e se propõe a revisão da dinâmica do
crescimento econômico. O autor ressalta ainda que a sustentabilidade das
interações entre sistemas econômicos (humanos) e ecológicos impõe a
“necessidade de uma visão holística – uma visão que vá além das fronteiras
territoriais normais das disciplinas acadêmicas”. Na avaliação de Cavalcanti (2003)
os sistemas ecológicos e econômicos são sistemas integrados.
O repórter deve ser capaz de juntar as pontas para mostrar o nexo entre
assuntos tradicionalmente desconectados na colcha de retalhos do
noticiário cotidiano. Uma teia de significados precisa ser alinhavada para
possibilitar uma compreensão pública do fenômeno urbano (BELMONTE,
2004, p.16-17).
4
É importante destacar que, para o embasamento da pesquisa de análise de conteúdo desenvolvida pelo autor, foram
realizadas entrevistas com jornalistas vinculados à produção de matérias sobre meio ambiente, e com editores, para
complementar as informações sobre os perfis dos quatro jornais (STRAUCH, 2002, p.28 e 29).
5
Tradução livre da autora.
Para que o meio ambiente tenha uma abordagem qualificada na imprensa,
outro critério do Jornalismo Ambiental, os jornalistas
6
Tradução livre da pesquisadora.
momentos, pelos valores/notícia, pela organização jornalística e pelas rotinas
estabelecidas e os jornalistas não seguem os critérios do Jornalismo Ambiental.
Segundo Massierer (2007), por um lado os jornais têm uma política editorial voltada
à preocupação com o meio ambiente e procuram dar espaço para a temática desde
que ela seja factual e de interesse público, por outro, os jornalistas precisam
respeitar as regras da organização que refletem na elaboração da notícia,
principalmente quando a matéria envolve fatores econômicos e jurídicos, que podem
comprometer as empresas.
4 Considerações
7
Este novo formato de jornalismo, conhecido também como Jornalismo Comunitário ou Jornalismo Público
surgiu a partir da crítica incessante e implacável aos media, no fim nos anos 1980, nos Estados Unidos, em
razão da qualidade da cobertura eleitoral de 1988.
do valor e da riqueza. Abramovay (2004) aposta nos cidadãos como agentes dos
processos de transformação social, assim como eu.
Referências
BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo ambiental: navegando por um conceito e por uma
prática. Portal de Comunicação em Agribusiness e Meio Ambiente. Disponível em:
<http://www.agricoma.com.br/agricoma/artigos/jornalismo_ambiental/ artigo1.php>. Acesso
em: abr. 2007.
CAPRA, Fritjof. Alfabetização Ecológica: o desafio para a Educação do século 21. In:
TRIGUEIRO, André (Org.). Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão
nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. São Paulo; Cultrix, 1982.
GIRARDI, Ilza Maria Tourino. O jornalismo ambiental nos cursos de jornalismo. In: JACKS,
Nilda et al. Tendências na comunicação: 4. ed. Porto Alegre: L&PM, 2001.
HANNIGAN, John A. A Sociologia ambiental: a formação de uma perspectiva social.
Lisboa, Instituto Piaget, 1997.
MASSIERER, Carine. O olhar jornalístico sobre o meio ambiente: um estudo das rotinas
de produção nos jornais Zero Hora e Correio do Povo. Porto Alegre: 2007. 229 f.
NELSON, Peter. Dez dicas práticas para a reportagem sobre o meio ambiente. Brasília:
WWF, 1994.
SEN, Amartya. Sobre ética e economia. São Paulo, Companhia das Letras, 1999, 143p.
STRAUCH, Manuel Christoph. Meio Ambiente nos jornais de Porto Alegre: um panorama
da abordagem ambiental no Correio do Povo, Jornal do Comércio, O Sul e Zero Hora. 2002.
68 f. Monografia desenvolvida na disciplina Projeto Experimental em Relações Públicas I,
UFRGS, Departamento de Comunicação Social, Faculdade de Biblioteconomia e
Documentação, Porto Alegre, 2002.
TOGEIRO DE ALMEIDA, Luciana. Política ambiental: uma análise econômica. São Paulo,
Fundação Editora da UNESP, 1998, 192p.
TRIGUEIRO, André. Meio ambiente na idade mídia. In: TRIGUEIRO, André (Org.). Meio
Ambiente no Século 21: 21 especialistas falam da questão nas suas áreas de
conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.