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objetualidade
Rascunho para comentrio em classe.
Olavo de Carvalho
Se Kant afirma que a cincia metafsica impossvel por lhe faltar um
objeto representvel na intuio, porque no meditou com suficiente
profundidade a noo mesma de objeto. A intuio de qualquer
objeto intuio de uma forma finita, cujas fronteiras com os outros
objetos nos revelam imediatamente os limites do seu conjunto de
possibilidades de ao e paixo. Olhando um gato, sabemos por
intuio que ele no pode voar. Se intuio faltasse por completo essa
informao, seria uma falsa intuio ou a intuio de uma aparncia
genrica de gato que no realmente um gato. Olhando um quadrado,
sabemos instantaneamente que no pode ser dividido em dois
quadrados por um nico segmento de reta e que cortado na diagonal
exata produzir dois tringulos issceles. Saber isso de imediato ter a
intuio do quadrado. A simples notao passiva da forma quadrada,
esvaziada de qualquer das propriedades inerentes a essa forma, no
ainda uma intuio: pura sensao, matria de uma intuio possvel
que se realizar no preciso momento em que o quadrado comece a
mostrar algo de sua constituio interna. A intuio no portanto
apenas a apreenso de uma forma esttica, mas a inteleco de um
sistema finito de possibilidades, a apreenso, por mais geral e vaga que
seja de incio, da frmula algortmica de um conjunto unitrio e
organizado de potncias, cuja forma integral perfaz exatamente a
identidade e a unidade do objeto de intuio. Ora, esse conjunto
intudo simultaneamente em duas claves: positiva e negativa. Positiva,
pela afirmao das potncias -- ou pelo menos de algumas delas -- que
se revelam na forma do objeto. Negativa, pelos limites que distinguem
essas potncias de outras potncias circundantes ou possveis, ausentes
no objeto, precisamente como no caso do gato que percebido
instantaneamente como bicho caminhante e no voador. Dito de outro
modo: a forma percebida de maneira instantnea e inseparvel como
conjunto articulado de possibilidades e de impossibilidades.