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http://www.ionline.pt/conteudo/38179-por-amor-deixaram-ser-padres-mas-nao-abandonaram-igreja
Escolheram ser padres, mas desistiram ao fim de algum tempo. Por amor
ou por decepção com as "coisas" da Igreja
Amor Na noite antes de ser baptizado a mãe teve uma revelação. Sonhou que o
oitavo filho, Fernando, ia ser padre. A pequena aldeia de Seixo Mira, que agora tem
pouco mais de mil habitantes, era, na década de 1940, a que mais padres dava à
diocese de Coimbra. "Era uma espécie de vocação colectiva", recorda Fernando
Neves, agora com 64 anos. A aldeia era tão pequenina que todos os caminhos iam
dar à igreja. Por isso cresceu habituado ao convívio com as dezenas de
seminaristas da terra e, "fruto do ambiente religioso que se vivia na paróquia, o
encaminhamento para a vida religiosa foi quase natural".
O celibato manteve-se e Fernando Neves também não quis esperar. Mudou-se para
a paróquia de Maria Isabel e começaram de imediato a construir casa, numa
propriedade dos pais dela. Casaram quando Fernando tinha a idade de Cristo: 33
anos. Voltou à universidade, para tirar o curso de Línguas e Literaturas Modernas,
e, mais de 30 anos depois, continuam juntos. "E felizes." Têm dois filhos e dois
netos. Fernando tem 64 anos, ajuda na igreja de Palhaça, lidera o coro e trata das
reuniões de preparação para o baptismo dos fiéis.
Voltou para a Portugal e foi ordenado padre em 1995. "A minha ordenação não era
muito consensual porque se dizia que o meu estilo de opinião e a minha atitude não
se adequavam à comunidade. Lutava pelas minhas convicções e era um patinho
feio", confessa. Foi mandado para o Seminário de Viseu, quando o que sonhava era
partir para o México ou para as Filipinas em missão. "Mas havia uma hierarquia e
um voto de obediência a respeitar." Por esta razão teve mesmo de ficar em Viseu,
onde trabalhava sobretudo com jovens.
Conseguiu emprego num lar de idosos e voltou a cruzar-se com uma amizade que
manteve por correspondência durante vários anos: Maria José, uma estudante
universitária que conhecera em Viseu, anos antes, através do trabalho que fazia
com grupos de jovens. Não teve medo quando percebeu que estava apaixonado.
"Casaram em Maio de 2006 e há dois anos partiram juntos em missão para África.
Entretanto, Fernando Félix retomou a ligação à Igreja: é jornalista a tempo inteiro
nas revistas "Além-Mar" e "Audácia".