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Lana Bleicher1
Dentistas.
Boa parte daquilo que nos vem à mente quando pensamos em fábricas é uma
herança de Taylor (1856 – 1915) e de Ford (1863 – 1947). Taylor introduziu o
controle dos tempos e movimentos e Ford consolidou a produção em série. Quando
falamos em fordismo estamos nos referindo a uma forma de organizar o trabalho,
pautada pelo parcelamento do trabalho, pela fragmentação das funções e pela
extrema especialização do trabalhador (Antunes, 2000). Chaplin retratou este
processo de trabalho no filme Tempos Modernos (1936).
Muito tempo depois das formulações de Taylor e Ford para o trabalho industrial,
houve uma tentativa de apropriação deste referencial pela Odontologia. Nos anos 70
e 80 do século XX diversos estudos sobre os tempos e movimentos do trabalho
odontológico foram realizados. A chamada Odontologia Simplificada procurou
eliminar tudo o que fosse supérfluo e contra-produtivo, maximizando a produtividade
do dentista. O parcelamento do trabalho também foi intensificado, havendo uma
delegação de algumas funções do dentista para o então Técnico em Higiene Dental
(atual Técnico em Saúde Bucal) e para o antigo Atendente de Consultório Dentário
(hoje Auxiliar em Saúde Bucal). Entretanto, o trabalho em saúde não é tão
facilmente fragmentado como ocorre na fábrica. Ou seja, aquilo que faz de uma
ocupação uma profissão de acordo com Freidson – o controle sob seu trabalho, a
autonomia – permanecia.
Esta crise referida por Zanetti não foi sentida apenas pelos dentistas. O ciclo de
prosperidade econômica foi interrompido com a crise do petróleo nos anos 70. No
campo político, foi este o fértil terreno para o avanço do neoliberalismo. No campo
da organização do trabalho, outras formas foram pensadas para superar o fordismo:
eis que surge o toyotismo.
Matos (2006) relata sua experiência pessoal de como tal cenário afetou e afeta a
prática odontológica:
Trabalho e gênero
Esta é também uma realidade para a Odontologia. Estudos apontam (Silva, Morais,
Nuto, 1998; Moimaz, Saliba, Blanco, 2003) para uma crescente feminização da força
de trabalho e a inserção da mulher no mercado de trabalho odontológico se faz sob
piores condições. Moimaz, Saliba e Blanco (2003) encontraram em Araçatuba que
44% das cirurgiãs-dentistas entrevistadas afirmavam que a renda obtida pelo
exercício profissional não era suficiente para suas necessidades, embora a
metodologia empregada não tivesse por objetivo comparar com a situação dos
dentistas do sexo masculino. Também foi constatado que 37% das profissionais que
tinham filhos haviam reduzido a carga de trabalho após o nascimento deles,
sugerindo correspondência com as observações de Hirata e Préteceille (2002) de
que o trabalho em tempo parcial é desempenhado majoritariamente por mulheres.
As autoras chamam a atenção para o fato de que esta modalidade de trabalho
“induz uma forte precariedade quanto à carreira, aos rendimentos, às perspectivas
de formação e às possibilidades de representação” (Hirata, Préteceille, 2002, p. 64).
Precarização
Druck e Borges afirmam que os indicadores apontam, a partir do início dos anos 90,
um processo de quádrupla precarização: do trabalho, da saúde, do emprego e dos
sindicatos. Em relação à organização do trabalho (este texto não aprofundará as
demais dimensões do processo), a principal política tem sido a terceirização que
consiste no repasse ou a transferência de uma atividade a um ‘terceiro’, a um ‘outro’,
que deve(ria) se responsabilizar pela relação empregatícia e, portanto, pelos
encargos e direitos trabalhistas (Druck; Borges, 2007, p. 3. Grifos no original).
Uma extensa gama de formas anômalas pode ser acrescentada à tipologia original:
do trabalho por porcentagem ao aluguel de turnos em consultórios pertencentes a
outros; das “falsas” cooperativas, que consistem tão somente em intermediação de
mão de obra, às empresas do “eu sozinho” - situação em que o trabalhador se vê
obrigado a assumir personalidade jurídica para prestar serviços a empresas; e,
ainda diversas outras formas de terceirização.
No tocante à renda mensal, observa-se que 10,28% informou receber renda mensal
de até 5 salários mínimos. A maioria dos dentistas (66,35%) declarou auferir no
máximo 15 SM. De acordo com o DIEESE, o salário mínimo necessário em outubro
de 2006 era R$ 1.510,00, embora este valor não tenha sido definido como ponto de
corte na categorização.
Conclusão
Referências