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Bairro

da
Boavista

Passado Presente e
Futuro
Índice
Introdução ………………………………………………………………………………. Pág. 3
Localização Geográfica ………………………………………………………………. Pág. 4
A Origem do Bairro ………………………………………………………………….… Pág. 5
Ocupação das Casas …………………………………………………………………. Pág. 6
A Capela São José …………………………………………………………………….. Pág. 7
Habitação ……………………………………………………………………………….. Pág. 8
Gestão do Bairro 1941………………………………………………………………… pág. 11
O Fiscal…………………………………………………………………………………... pág. 12
As Ruas ………………………………………………………………………………….. Pág. 14
Espaços de Convivência ……………………………………………………………... Pág. 15
Casamentos e Baptizados da Época ………………………………………………. Pág. 16
Serviços Médicos ……………………………………………………………………… pág. 17
A Creche ………………………………………………………………………………… pág. 19
A Escola Primária ……………………………………………………………………… pág. 19
2ª Fase da Implantação 1945 – 1960 ……………………………………………….. Pág. 20
Assistência Pública …………………………………………………………………… pág. 22
3ª Fase da Implantação 1961 – 1970 ……………………………………………….. Pág. 23
4ª Fase da Implantação 1971 – 1975 ……………………………………………….. Pág. 25
Realojamento – 1979 a 2000 …………………………………………………………. Pág. 27
Gestão do Bairro ………………………………………………………………………. Pág. 29
PSP ……………………………………………………………………………………….. Pág. 31
Espaços Sociais ……………………………………………………………………….. Pág. 31
Eco-Bairro ………………………………………………………………………………. Pág. 33
Projecto Ser Maior – Programa Escolhas …………………………………………. Pág. 34
Quantos Vivem no Bairro? ……………………………………………………………pág. 34
Futuras Promessas …………………………………………………………………… pág. 34
Conclusão ………………………………………………………………………………. Pág. 36
Bibliografia ……………………………………………………………………………… pág. 37
Introdução

Foi proposto escolher um tema para um trabalho/projecto e eu escolhi o meu bairro.


Poderia ter escolhido muitos outros temas que entretanto passaram pela minha cabeça.
Como conheço um pouco da sua história foi esse o aspecto fundamental para eu ter
escolhido este tema apesar de não conhecer toda a história do bairro. Foi oportunidade
excelente, encontrei muita informação que desconhecia por completo e fiquei encantado
com o que descobri. Queria muito mais mas dadas as dificuldades para obter as
respostas por parte das entidades que gerem o bairro foi impossível acrescentar dados,
informações, estatísticas e outras.

Também fico a conhecer melhor o sítio onde eu cresci e vivo. Utilizo esta pequena
história para dar conhecer o bairro a outras pessoas que não o conhecem ou só ouvem
os telejornais a divulgarem desacatos que acontecem uma vez por acaso.
Foto 1 – Terreno do Bairro em 1938

Localização Geográfica

O Bairro da Boavista está localizado na Freguesia de Benfica a nordeste da cidade de


Lisboa, entre o Parque Florestal de Monsanto, o Estádio Pina Manique e a CRIL (Circular
Regional Interior de Lisboa).
No extremo poente da cidade, junto ao parque florestal, entre a estrada da circunvalação
(ex-estrada militar) e o complexo desportivo de Pina Manique foi implantado o Bairro da
Boavista.

Consta que os terrenos que eram propriedade de José Francisco de Melo Travassos
Valdez 4º Conde de Bonfim – titulo criado pela Rainha D. Maria II, por decreto de 4 de
Abril de1938, em favor de José Lúcio Travassos Valdez, 1º Barão Conde Bonfim.
O Bairro da Boavista pertence à Freguesia de Benfica e está situado a 2.2 km de
distância da sede da Junta e a 8.8 km dos Espaços do Conselho (câmara Municipal de
Lisboa). Em 1940 face a não existência de transportes públicos a população tinha que ir
a pé para o trabalho.

Em algumas zonas circundantes ao bairro ainda é possível observar nas placas com que
se referem ao Bairro da Boavista como “Bela Vista” / Boa Vista”. A paisagem seria bem
diferente da actual, podia-se ver os campos e a Serra de Sintra. O pôr-do-sol era
possível ser olhado em plenitude. Hoje estes campos deram origem a zonas industriais,
a novos parques habitacionais e às novas acessibilidades que em muito alteram a
paisagem e os modos de vida.

A Origem do Bairro

A origem do Bairro da Boavista remonta a 1938. Portugal era pouco industrializado, com
serviços tradicionais e domésticos e com uma das economias mais baixas da Europa.

Pela lei nº 28912 de 1938 foi criado o Programa de Casas Desmontáveis. Era uma nova
modalidade que com rapidez permitia fazer face às necessidades de realojamento. Após
a eliminação das zonas de barracas que foram criadas ao longo da cidade.

O Bairro foi destinado a populações com carências sociais, que habitavam


clandestinamente em zonas da cidade que, devido às obras públicas (viaduto Duarte
Pacheco e “Ponte Salazar”) foi necessário realoja-las.

A escritura desta primeira fase da construção do bairro foi marcada por: empreitada das
terraplanagens; esgotos; e pavimentação e foi orçamentada por 800 mil euros: Foi
concretizada a 13 de Junho de 1939, sendo as obras concluídas a medida que iam
sendo executadas as montagens das 488 casas.

O orçamento do material:
Empreitada Material Quantidade Custo
S. Portuguesa Fibrocimento Casas 488 2,688,533$
S. Portuguesa Fibrocimento Casas 488 2,688,533
Fabrica Portugal Camas 1108 *
Fabrica Portugal Mesas 1108 *
Fabrica Portugal Colchões 1124 *
TOTAL: 2,868,633$
* 180,100$ na compra das camas, mesas e colchões)
Ocupação das Casas

“No Bairro da Boavista foram construídas 488 casinhas, muito lindas, batidas pelo sol” –
Noticia Jornal A Voz.

Começou a ser ocupado no dia 8 de Dezembro de 1940, por antigos moradores das
diferentes zonas do parque florestal de Monsanto, vindo de barracas que a Câmara
Municipal de Lisboa mandou demolir… Procurou-se também que as famílias escolhidas
para viver no bairro fossem aquelas que pela sua situação económica não pudessem
pagar noutro sítio rendas mais altas.

Todos os Domingos de Dezembro e Janeiro (1940/41) continuavam vir para o bairro


grupos de 40 a 60 famílias, às quais se entregava logo a chaves das suas casas.

Em Outubro de 1941 o Bairro da Boavista foi notícia em vários jornais, devido ao seu
valor histórico que levou várias pessoas ilustres a visitarem o bairro, nomeadamente o
presidente da Câmara, Vereadores e Conde Bonfim. No mesmo mês a Câmara
Municipal de Lisboa comunicou à Comissão Administrativa que desejava fazer no dia 25
a inauguração oficial do Bairro.

No dia 25 de Outubro, como já tinha sido determinado pela Câmara Municipal de Lisboa,
realizou-se a inauguração do bairro, assim como de todos os serviços de assistência à
população (Posto Médico, Igreja, Posto do Fiscal, Mocidade Portuguesa, entre outros)
que nele existiam. Esta inauguração teve a presença do Chefe de Estado Marechal
Óscar Carmona.

O Povo durante o dia acorreu na sua maioria para receber as personalidades vindas da
cidade para visitaram o seu bairro.
Em dia de inauguração, os moradores tiveram
direito a uma sessão de cinema que se destinava a
veicular a ideologia do regime.

Foto 2 – Sessão de Cinema

«(…) Na sua maioria casais jovens e crianças foram os primeiros habitantes do


Bairro da Boavista que na noite da inauguração oficial do mesmo mereceram uma
sessão de cinema, oferta do regime político (…)».
Jornal Novidades, 26 – 10 – 1941.

A Capela São José

A capela em dia de inauguração do


bairro foi escoltada pela Legião da
Mocidade Portuguesa. «(…) Mal se
apeou, o Chefe de Estado foi o
entusiasticamente aclamado pela
população do bairro que se
aglomerou junto da capela para
Foto 3 – Inauguração da Igreja aclamar (…)» - Jornal Novidades,
26 – 10 – 1941.

A Capela foi inaugurada pelo Sr. Cardeal Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira, bem
como os equipamentos de saúde, assistência, instituições centrais do bairro. Todos estes
serviços iam desenvolvendo uma função assistencial, apresentando um importante
modelo de valores para a população.
“A Igreja ou capela de São José era
bastante bonita e rodeada por diversas
flores entre os quais chorões.” Maria de
Lurdes e Luís Rainho.

«(…) Depois dos cumprimentos, Sr.


General Carmona, acompanhado pelo Sr.
Cardeal Patriarca e das entidades oficiais,
deu entrada na igreja admirando com o Foto 4 – Centro Paroquial
maior interesse os três altares na sua
simplicidade e beleza (…)» - Jornal Diário Noticias, 26-10-1941

«(…) Toda a comitiva seguiu depois o


Chefe de estado que penetrou na Capela
vistosamente florida, em cujos altares se
vêm imagens anteontem benzidas pelo
Pároco local (…)» - Jornal Diário Noticias,
26-10-1941

Foto 5 – No interior da Igreja

Habitação

Desde 1940 até à actualidade, os moradores têm na sua mente a magia do Sr. Conde
Bonfim e da sua simpatia e generosidade.
“… O terreno pertencia ao Conde de Bonfim e destinava-se a construir casas para
alojar as populações de outros bairros…” Cardina Santos, 72 anos.

“… O bairro surgiu porque foi uma Condessa que deu as casas ao podres e diziam
que após cinco anos a viver na casa, a casa passava a ser das pessoas, facto que
nunca chegou a acontecer...” Maria Odete de 71 anos.

« (...) cada casa tem à entrada 7 metros de terreno que alguns moradores converteram
em hortas e outros em jardim (…)» - Jornal Novidade, 26-10-1941.

Obedecendo à topografia específica do terreno, as habitações ocuparam o corpo central


e lateral do bairro. Construídas em “lusalite”, segundo o modelo de “casas
desmontáveis”, foram implantadas em banda, as pequenas casas tinham um terreno com
pouco metros quadrados, como quintal abertos para a rua, para possibilitar o isolamento
e simultaneamente a convivência ao ar livre – a frente de uma dava para as traseiras de
outras. Estas características foram transmitidas pelo modelo defendido pelo Estado
Novo.

“O bairro parecia um jardim… Existiam


só casas de lusalite… nas janelas
haviam um canteiro com flores. Cada
casa tinha um quintal com uma cerca de
madeira e também cancela também de
madeira (não podia ser muito alta).”
Inácia Mendes, 91 anos.

Foto 6 – Rua Rainha D. Maria

As casas do bairro tinham três tipologias, cada uma definida por uma cor. Na tipologia T1
foram construídas 44 casas, a casa era constituída por um quarto, uma pequena sala, a
área total da casa média 15m2. As casas com a tipologia T2 mediam cerca de 20 m2 e eram
de cor verdes, já com dois quartos e uma sala. As casas de tipologia T3 mediam 24m2, e
foram construídas 180. Eram atribuídas a casais com filhos de sexos diferentes. As áreas
eram tão reduzidas que as divisões não permitiam a colocação de portas interiores.
“Púnhamos cortinas a separar os quartos…”
“Tinham que dormir três e quatro na mesma cama, outros em divãs na sala.” Memórias
de avós.

As casas foram atribuídas às famílias de acordo com o seu agregado familiar. Cada
tipologia estava separada por cores, os mais idosos e os da segunda geração recordam
a sua localização como sendo o bairro azul, bairro verde e bairro vermelho que por sua
vez se subdividia em duas zonas – bairro vermelho de cima (junto ao actual Estádio Pina
Manique) e o bairro vermelho de baixo (junto ao actual Parque de Campismo), este
último com maior número de conflitos, por ter casas de tipologias T4 com a área de 28
m2, que eram atribuídas aos casais com maiores números de filhos.

As casas foram atribuídas já mobiladas oferecidas pelo município. Era mobiliário rústico
alentejano, pintado conforme a cor da sua habitação. A cortina das janelas tinha riscas
variado conforme a sua tipologia. Também o município ofertou aos moradores a água e a
luz, ou seja, o consumo era gratuito (tinham apenas um número de horas para utilizar, e
não podiam exceder o consumo estipulado).

As casas tinham mobiliário próprio: na


sala havia uma mesa, quatro cadeiras, um
armário, uma prateleira em madeira. No
quarto havia uma cama, uma mesa-de-
cabeceira em ferro e o colchão era de
serapilheira e palha.

Foto 7 – Interior das Casas

Pode observar-se a estreiteza da sala. Parece desligada da


realidade dos seus moradores, que sendo famílias
numerosas em breve viram as suas casas já mobiladas e
sobreocupadas.
A zona de higiene dispunha de sanita, lavatório e duche suspenso por um balde de
alumínio pintado.

Foto 8 - Balde do duche


Todos os equipamentos sociais de apoio (Capela, Centro de
Assistência Social, Posto Médico) foram construídos, em plano superior às habitações.
Nos dois pólos laterais opostos foram construídos dois largos, onde ficaram sediadas as
instalações das instituições de controlo social, nomeadamente a Legião Portuguesa, a
Mocidade Portuguesa e o Posto do Fiscal, assim como as duas Escolas de Ensino
Primário, a masculina nº. 125 (actualmente o Clube Desportivo Lisboa e Águias) e a
feminina nº. 126 (actualmente o Clube Social e Desportivo).

A Gestão do Bairro 1941

A gestão do Bairro da Boavista foi passada para uma Comissão Administrativa local, que
é autónoma nas suas decisões.
Esquema estrutural de serviços e funções:

Comissão Administrativa
dos Bairros de Casas 1 Presidente (Vereador)
Desmontáveis 1 Tesoureiro (Chefe de Repartição D.S.F)
1 Secretário (Comandante da P.M)

1 Encarregado de Serviço
Secretaria-geral 1 Coadjutor de Enc. Serviço
1 Amanuense

Posto Fiscal 1 Fiscal


Brº. Boavista 1 Vigilante
Q. das Furnas 2 Jardineiros
Q. da Calçada 1 Servente de Limpeza

Esta Comissão elaborou um Regulamento Interno e nele se podiam encontrar as normas


que deviam ser obrigatoriamente cumpridas pela população, é de referir a sabedoria do
Estado Novo, determinando o modo de viver, pensar, sentir, agir, e da sua cultura.
A Comissão Administrativa determinou o modelo de vida e exerceu o controlo social,
determinou os regulamentos, normas de conduta e habitabilidade, fez a fiscalização,
vigilância, punição, e reparações nas habitações e instituições.
Dispunha de um Posto Fiscal sediado no Largo Rainha D. Leonor, junto das instalações
da Legião Portuguesa, com os seguintes elementos de trabalho.

«(…) 1 – Um fiscal
2 – Um vigilante
3 – Dois jardineiros
4 – Uma servente de limpeza; (…)»
O Fiscal

O Fiscal tinha as seguintes funções:


«(…) 1 – Cobrar dos inquilinos de 1 a 8 de cada mês, as rendas das suas moradias e os
excessos de consumo de água.
2 – Não permitir que os inquilinos recebam em suas casas quaisquer pessoas que não
façam parte do seu agregado familiar, sem a devida autorização da Comissão
Administrativa.
3 – Não consentir que os moradores possuam cães, gatos ou criação no interior das
suas residências.
4 – Não permitir (…) que transgridam qualquer postura municipal e muito especialmente
que façam lume fora da chaminé; que efectuem as construções ou mesmo vedações
sem autorização prévia da C.M.L; que estendam roupa fora do local próprio (estendal do
bairro); que andem na rua com os pés descalços; que efectuem no bairro a venda
ambulante de quaisquer produtos que se encontrem à venda no respectivo mercado; que
tenham capoeiras sem prévia autorização, que peçam esmola.
5 – Não consentir que os inquilinos tenham nas suas moradias telefonias ou alterem a
instalação eléctrica.
6 – Não permitir que os inquilinos tenham na sua moradia lâmpadas de voltagem
superior a 25W.
7 – Apreender a todos os inquilinos o material eléctrico que não seja o da primitiva
instalação. (…)»

As famílias que não cumpriam os regulamentos eram transferidas para bairros ainda
mais afastados da cidade.
“O fiscal era o Sr. Ribeiro, polícia da Câmara, e não deixava parar ninguém na rua.
Por vezes havia capoeiras nos quintais, mas quando o fiscal descobria eram
destruídas” (Maria, 89 anos)

O Fiscal do bairro conhecido pelas alcunhas: Grafonola, Arsénio e Bigodinho tinha ao


seu encargo 488 habitações, poder-se-á perguntar como podia um fiscal com ajuda de
um vigilante exercer tão rígidas funções de controlo social. Por certo recorrendo a uso da
vizinhança como controladores.

Entre muitas outras acções competia ainda o fiscal:

«(…) Enviar diariamente, para secretaria uma comunicação onde conste


- Vidros partidos em moradias
- Admissão de novos inquilinos
- Transferências de casas entre os novos inquilinos
- Recepção de móveis que tenham sido enviados pela C.A para qualquer moradia
- Saída de móveis da casa de inquilinos para a arrecadação da C.A
- Comunicar em relação mensal à C.A. e ao Centro Social, as moradas das casas que
tenham visto em mau estado de limpeza e conservação.
- Obrigar o inquilino a repor os materiais partidos (vidros, portas, janelas, etc.)
- Comunicar em relação mensal à C.A as moradas das casas que julguem necessário
receber beneficiação. (…)»

Outra figura relevante das ruas era o vigilante que entre funções “vigiava” para
comunicar ao fiscal:

«(…) Nas ruas: Evitar que as pessoas transitem pelos relvados e ajardinamentos, após
várias vezes avisados comunicar ao fiscal.
Impedir que a rapaziada jogue à bola nas ruas o que torne prejudiciais os espaços dos
outros, incluindo discussões provocadas pela bola.
Ao notar qualquer discussão procurar pôr-lhe termo, quando não consiga chamar o fiscal
ou dar-lhe conhecimento, desde que na altura o não encontre;
Evitar que os inquilinos lancem lixo ou resíduos para as ruas.
Evitar que os inquilinos estendam roupa á porta ou conservem no logradouro papeis,
trapos ou outras sucatas;
Ter em atenção o pouco cuidado dos inquilinos que deixam luzes acesas, torneiras
abertas (se bem que mais difícil de verificar).»

As Ruas

Os eixos estruturantes do tráfego eram a Rua Rainha D. Maria I, estrutura central do


núcleo habitacional e considerada a avenida principal (actualmente chama-se a rua do
comercio), terminando em frente à Capela.

Duas ruas paralelas demarcavam zonas significativas:


a) Rua Rainha D. Brites onde se situam os serviços (religiosos, assistenciais e de
saúde), o lavadouro e o mercado.
b) Rua Rainha D. Catarina, ligando os dois largos
c) Largo Rainha Santa Isabel onde se situava a Escola Masculina (nº. 125)
d) Largo Rainha Santa Leonor, com bancos e árvores como o anterior, nele se
situava a Escola Feminina (nº. 126) e o Posto Fiscal da C.M.L. / Centro da
Mocidade Portuguesa.

A sua toponímia fazia lembrar um jardim: rua das Maravilhas, Margaridas, Manjericos,
Narcisos, Violetas, Jacintos, Verbenas, Girassóis, Açucenas, Lírios, Dálias, Pasquilhas,
Madressilvas, Verónica, Hortênsias e Perpétuas. Existia também a rua dos Bons Dias,
Casadinhos e Saudades.

As ruas com nome de flores eram cortadas ao trânsito por serem estreitas, com calçada
à portuguesa e inclinação ao centro, de modo a escoar as águas fluviais que escorriam,
vindas da serra.
Nas ruas eram decoradas em dias festivos, nomeadamente as festas religiosas nas
quais as procissões por elas passavam, tendo sido a primeira procissão realizada no ano
de 1942.

- Em Março, dia 19 dedicado a São José


- Após a Páscoa, a Visita do Compasso
- Em Maio, no dia 15 dedicada a Nossa Senhora de Fátima

Espaços de Convivência

Em pólos apostos, acima do plano das habitações, existiam dois espaços geradores de
convivência e conflitualidade: o mercado e os tanques de lavagem de roupa que são
referidos por todos que os utilizavam, fazendo fila para conseguir espaço para utilizar.

O mercado que vemos na imagem abaixo, sofreu um incêndio em 1950 (actualmente o


mercado já não existe).

Os tanques de lavagem colectiva


eram geridos e utilizados pelas
mulheres. Estas deslocavam-se para
o lavadouro e tinham que ficar junto
dele até a roupa secar. Os filhos que
não frequentavam a escola teriam que
as acompanhar, brincando pelas
zonas contíguas.
Foto 9 – Praça do bairro

“Entrei a trabalhar para creche na esfrega (1968), para marcar 3 tanques onde
colocávamos fraldas, lavávamos e estendíamos o dia inteiro”. Luísa Albuquerque.
Mas no lavadouro era necessário cumprir regras rigorosas que eram controladas pelo
vigilante.

Abaixo estão descritas informações relativas ao regulamento de serviço interno da


Comissão de Administração dos Bairros de Casas Desmontáveis:
«(…) b) Lavadouro e estendal – não consentir que pessoas estranhas ao bairro os
utilizem e evitar que as moradoras lancem papéis, trapos e outras coisas para os canais
que conduzem a água para o esgoto, ou até mesmo para o pavimento, a fim de se evitar
a obstrução; não consentir que os garotos se pendurem nos arames do estendal e nos
suportes dos mesmos, o que é prejudicial (…)»

Casamentos e Baptizados da época

O Estado Novo ao considerar a família como


cédula base queria-a legalizada segundo o
ritual sacramental da Igreja Católica. Assim
determinava que os casais para residir no
bairro teriam que ser obrigatoriamente
casados.

“Para se morar neste bairro era obrigatório


casar pela igreja, quem não o fizesse era posto
na rua” Memória de Inácia Mendes de 91 anos.

Para exemplo de todos, era conveniente que o


casamento do vigilante se realizasse em
primeiro lugar.

Foto 10 – Certidão de Matrimónio


«(…) No dia 26 de Outubro foi celebrada a primeira missa e realizou-se o casamento do
vigilante, o Ministro das Finanças e a sua esposa formam os padrinhos de casamento do
vigilante, o conde Bonfim testemunhou o momento.

Foto 11 – Conde com


Bonfim e os noivos
Uma semana depois, o Sr. Bispo de Helenopole, D. Manuel
Trindade presidiu á cerimónia de 14 casamentos na Capela São José.

Pelos recortes de jornais da época poder-se-á verificar a presença de altas figuras de


sociedade ligadas a cargos de Administração Pública a apadrinhar os enlaces
matrimoniais, com o nome do Sr. Conde de Bonfim que consta na quase totalidade dos
casamentos na época.

Serviços Médicos

« (…) Nomeado o médico, foi necessário mobilar o gabinete clínico e comprar o material
indispensável.
A obra das mães, instituição sediada no bairro, prontificou-se a adquirir o mobiliário e o
material precisos e as consultas médicas iniciaram-se a 21 de Janeiro 1941 (…)»

Tendo o bairro começado a ser habitado em 1940, verifica-se que o trabalho de


acolhimento e de inspecção sanitária era intenso e já se registava falta de recursos
humanos.

« (…) Até ao mês de Novembro a assistência médica foi feita por um único clínico que
tinha em média 33 consultas por dia e 4 visitas domiciliárias (…) as consultas eram
bissemanais e nos outros dias faziam-se todos os tratamentos de enfermagem indicados
pelo médico (…) os doentes recorriam ao posto clínico em tão grande quantidade que foi
necessário limitar o número de admissões a cada consulta… os tratamentos de
enfermagem (injecções e pensos) aumentaram de tal modo que pouco mais foi possível
fazer (…)»

Relatório de actividades sociais do bairro ao ano 1942 e 1943, assinalados pela


assistente social.
Outros tratamentos 203
Socorros de urgências 37
Visitas 32
Leite distribuído no Posto 30 kg
outras farinhas 58kg

(…) Os serviços do Dispensário Médico funcionaram 2 vezes por semana, tendo havido
uma frequência média de 21 doentes. Houve 9 óbitos sendo 5 homens e 4 mulheres
(…)»

Para o transporte de doentes em urgência os serviços de assistência e saúde recorriam


aos Bombeiros Voluntários de Lisboa, visto não haver transportes públicos, nem carros
de aluguer.

Em 1942 deu-se inicio às consultas de Pré-Natal, nesse mesmo ano viviam 800 famílias
no bairro.
«(…) Serviços Médicos:
a. Consulta Pré-Natal
b. Maternidade

« (…) Esta pequena maternidade foi, sem dúvida, uma das obras de assistência mais
interessantes realizadas no bairro, pois que tanto sob o ponto de vista higiénico como
moral, veio trazer grandes vantagens às famílias pobres (…) não oferece as vantagens
de outras maternidades (…)»
O quadro em baixo refere-se às consultas pré-natais efectuadas na maternidade do
bairro, sem que se refira o
Ano Consulta Pré - Natal
1942 117 número de partos.
1943 149
1944 139
1945 153 Em 1943 a maternidade do
1946 223 bairro fez 69 partos, tendo em
1947 140
média 6 nascimentos por mês.
1948 188
1949 120
total: 1229

A Creche

Em 1943 a Comissão Administrativa foi alertada para a necessidade de uma creche no


bairro. Esta nasceu no mesmo ano, e teve a sua primeira morada na Casa de Trabalho
(que dependia do Centro Social e Paroquial). A Casa de Trabalho não se revelou, no
entanto, perfeitamente preparada para a acolher:

“(…) Com quanto a Casa de Trabalho já dê grande satisfação pelo seu bom
funcionamento, um facto há que vem perturbar a ordem: as crianças de idade escolar
ou jardim-de-infância que aí são guardadas na ausência da mãe (…)”

Eram acolhidas na Casa de Trabalho crianças cujas mães frequentavam actividades de


formação ou eram apoiadas pelo Centro Social no sentido da inserção laboral. Era
concedida prioridade de admissão em
casos de “incúria da mãe” ou por indicação
médica.

A Escola Primária
De acordo com as filosofias da época foram implantadas no bairro duas escolas
primárias, a Masculina nº. 125 e a Feminina nº. 126. Questionada em 1998, a população
não guardava memórias da sua frequência, isto porque devido às dificuldades
económicas, ao analfabetismo e ao desemprego, a frequência da escola não era
reconhecida como prioritária.

Foto 12 – Alpendre da Escola primária


“(…) Quando tinha 9 anos a minha mãe
tirou-me da escola. Andava à monda da ceifa de trigo nos campos do outro lado da
estrada, ganhava como as mulheres, 2$50, só quem trabalhava muito é que recebia
3$50.” (Adélia Craveiro, 75 anos)

Para complemento da acção doutrinária da escola, era obrigatória a frequência das


actividades da Mocidade Portuguesa. Depois das aulas os rapazes do bairro
participavam nos trabalhos de florestação da Serra de Monsanto.

Um relatório mensal da Comissão Administrativa descreve detalhadamente a


problemática que os rapazes do bairro apresentavam na sua generalidade: abandono
escolar, mendicidade, ociosidade e actos de roubo/furto.

2ª Fase de Implantação – 1945 a 1960


Foto 13 – Planta do Bairro de 1960

A partir, sobretudo dos anos 40, começa o fenómeno de ocupação de terrenos


camarários que haviam sido expropriados para outros fins.
O insucesso dos bairros de alojamento provisório feitos com materiais precários conduziu
à alteração do modelo de construção de bairros para alojamento de famílias pobres. O
Decreto-lei nº. 34486 De 1945 propunha a sua integração nos planos de urbanização já
existentes com a construção das casas definitivas mantendo-se na primeira fase
unifamiliares.
Verificou-se assim, a segunda fase de implantação do Bairro da Boavista (1945) que
inicialmente era destinado ao realojamento temporário dos habitantes do Parque de
Monsanto.
As casas construídas na 1ª fase de implantação davam sinais de deterioração.

As novas habitações, igualmente construídas em lusalite, mas já com revestimento


interior em estuque para reforçar os materiais, foram implantadas em banda contínua
sem alvéolos, distribuídas por dois quarteirões. As casas passaram a ter uma segunda
porta para o quintal das traseiras. É nesta
fase que surge a casa de tipologia quatro. Tipologia Número de Casas
T. 1 76
O bairro, que deveria ter carácter provisório,
T. 2 35
foi então ampliado com mais 220 casas.
T. 3 109

Estas moradias foram implantadas a partir da


Rua Rainha D. Catarina, até então no limite do
bairro a poente, e estenderam-se numa faixa
de terreno existente até à estrada da
circunvalação. As frentes da primeira banda
davam para a Rua Rainha D. Catarina com

Foto 14 – Rua Rainha D. Catarina


degraus de acesso à entrada, devido ao desnível do terreno; as vias de separação eram
já mais largas.

Igualmente nesta zona foram destinados terrenos, que podiam ser alugados pelos
moradores, para hortas e quintais com criação de animais; alguns dispunham de poços
que os locatários mandavam abrir (“Os quintais tinham hortas bem arranjadas e bonitas e
também tinham poços” - Cardina Santos, 72 anos).

Neste ano, no prolongamento destes terrenos para a zona norte, junto ao actual Estádio
Pina Manique, surgiu, por incentivo do capelão da Igreja de S. José e da D. Maria
Santos, assistente social no bairro de 1942 a 1946, um campo de futebol. Em breve se
criou também o Clube Desportivo Lisboa e Águias, que foi inscrito na federação
Portuguesa de Futebol no dia 03-01-1945.

«(…) É da sua iniciativa um campo de futebol que correspondia a um legítimo


anseio da mocidade do bairro… Era uma maneira de atrair a juventude para o
desporto (…)»

As casas destinavam-se prioritariamente à transferência de famílias que viam aumentado


o seu núcleo familiar com o nascimento de mais filhos. No entanto, só poderiam merecê-
lo se não tivessem registo de castigos pelo fiscal do bairro. As rendas eram de 80, 90 e
100 escudos para as diferentes tipologias.

Um relatório datado de 1958 relatava o estado de deterioração destas habitações:

“(…) As portas e janelas não têm vidros, tendo em seu lugar trapos e papéis para
evitar que a água entre… este estado de abandono cria um espírito de revolta, pois
muitos deles vieram de «bairros de latas» para agora habitarem casas em piores
condições do que as que tinham (…)”

Estas habitações permaneceram até 1996, agravando-se o seu estado de deterioração.


À medida que se tornava possível o realojamento, estas casas foram demolidas para
construir novas habitações.
Assistência Pública

Em 1958, a SCML planeou “remodelar o sector da assistência alimentar substituindo a


então «sopa dos podres» por refeitórios, com redução dos centros de produção e
aumento dos postos de distribuição de sopa e pão”.
Terá sido provavelmente a partir desta alteração que surgiu no bairro um posto de
distribuição de sopa e pão, no local dos actuais pombais, conhecida por “Sopa do
Barroso”:

“No local dos actuais pombais existia um pavilhão onde davam a sopa aos pobres
(sopa e pão). No Natal era rancho melhorado.” Maria Odete Santos, 61 anos.

“ A menina Aida, que morava na rua D. Catarina, era quem dava a sopa do Barroso e
o pão, eram dadas senhas às pessoas e isto era tudo dado pela Santa Casa.”

3ª Fase da Implantação – 1961 a 1970

Habitação

Foram neste período construídas 38 casas de alvenaria, com um piso, com telhado de
fibrocimento (T2 – 18 casas e T3-20 casas), implantadas em banda continua com
pequenos logradouros para as traseiras, abandonando-se a filosofia de transitoriedade
subjacente ao inicio do bairro.
Esta nova fase de construção melhora os materiais no interior, mas mantém:
- O aspecto exterior;
- As áreas reduzidas;
- A precariedade de condições de impermeabilidade e insonorização;
- A ausência de portas interiores.
Da década de 60, a população do bairro aumentou cerca de 50 %, devido a famílias que
vieram de diversos locais da cidade de Lisboa. Era imperioso para continuar a renovação
da cidade, “limpar” em especial a zona de Alcântara onde se preparava a construção da
primeira Ponte sobre o Tejo.

As populações transferidas para o bairro, não tendo comum a origem da história, vieram
determinar profundas alterações no núcleo original. Geraram-se inicialmente processos
de rejeição que iam ou não sendo revolvidos se as populações recém-chegadas se
fossem “aculturando”. Surge, assim, o conceito de “filho do bairro” que ainda permanece
sempre que é necessário justificar um direito.

Encontrando-se este bairro na 3ª fase de implantação, verifica-se que se mantém as


condições de isolamento da fase inicial, o que determina, em parte, as dificuldades de
inserção social.

“Não havia autocarros, só eléctricos em Benfica e Algés. Tínhamos de ir a pé até


ao transporte.” Maria Odete Santos, 72 anos.

Só em 1969 este isolamento foi quebrado com o início da passagem de transportes


públicos dentro do bairro (autocarro nº. 11 da Carris).

A degradação das habitações iniciais e a sobre ocupação veio manifestar a fragilidade


do sistema de poder e sinais de mudança foram surgindo no bairro, tendo sido destruído
o lavadouro e o estendal público, passando a população a usar o direito de lavagem de
roupa nas suas residências.

O comércio local foi-se desenvolvendo


exteriormente ao mercado, com a
instalação de leitaria, mercearia e a surgiu
no bairro uma feira semanal.
Foto 15 – Feira do bairro

Foi construído pela Câmara Municipal de Lisboa um Salão de Festas que a população
designava por “Os Unidos”, onde se realizavam festas de casamentos, baptizados e o
acolhimento dos soldados vindos da guerra

Na década de 1960 as ruas eram animadas com desfiles de Carnaval (na Rua Rainha D.
Catarina) e pelos Santos Populares com o concurso da melhor rua enfeitada.

“Os santos populares eram um acontecimento muito bonito.” Maria Alice, 78 anos.

4ª Fase de Implantação – 1971 a 1975

Habitação

Em 1971 foram construídos mais 510 fogos em terrenos do parque florestal estendendo-
se até à circular interna de Monsanto,
situados acima da zona de implantação dos
Serviços de Apoio Social. São pequenas
moradias unifamiliares de rés-do-chão e
primeiro andar (T1 a T4) construídas em
alvenaria, com estrutura de betão e
cobertura de fibrocimento, igualmente em
banda contínua, mantendo os pequenos Foto 16 – Alvenaria
logradouros. As rendas técnicas praticadas
eram de 285$00 (T1), 484$00 (T2), 605$00 (T3), 725$00 (T4).

Foi designado por “Bairro Novo da Boavista” com as ruas numeradas (ex. Rua 1, Rua 2,
etc.).

Esta nova fase destinava-se a permitir


desdobramentos às famílias, que já na 3ª
geração, viviam em sobrelotação.
Em 1972 foi definido pela C.M.L. que o realojamento de famílias residentes em bairros
degradados teria que ser realizado nessa mesma área, condicionando-se assim a
entrada de novos habitantes; havia que realojar primeiro os moradores no bairro visto as
suas habitações se encontrarem muito degradadas.

Foto 17 – Casas novas


Após o Golpe de estado de 25 de Abril de 1974 verificou-
se uma invasão maciça no bairro e a ocupação desorganizada destas moradias. Estas
foram ocupadas com o apoio dos militares U.D.P. (segundo memórias populares).

“Os meus pais vieram para o bairro, logo no princípio, mas como não quiseram
casar foram expulsos. O meu pai fez um buraco na estrada da Circunvalação (foi
ai que fui atropelada). Quando foi a revolução eu meti-me numa casa com os
meus filhos e já não sai de lá, foi a tropa e a UDP que me ajudaram.” Memórias de
uma avó com 63 anos.

“A minha mãe morava na rua das violetas nº. 43 E foi posta fora do bairro porque
a minha irmã andou à tareia com a filha da vizinha. As duas (a minha mãe e a
vizinha) foram expulsas do bairro – fizeram uma barraca na Estrada da
Circunvalação, mas no 25 de Abril viemos morar para o bairro e ocupamos duas
casas” Memórias de Delfina filha da Irene Peixeira.

Outra parte destes fogos foram ocupados por familiares dos moradores, e outros que,
vivendo fora do bairro, nele se instalaram por oportunismo.
Após a revolução de Abril a quebra de normas veio determinar a instabilidade, a
insegurança e a perda de identidade. Sem as instituições de controlo social a população
passou a alterar profundamente as condições urbanísticas que já se encontravam em
adiantada fase de degradação:

- Pela construção de anexos nos logradouros e estreitamento das vias públicas;


- Pela ausência de obras de beneficiação e conservação que se arrastavam por longa
data;
- Pela ausência de conservação dos jardins e espaços públicos;
- Pelo aumento de número de pessoas em cada habitação, com a esperança de
adquirirem novos fogos com o desdobramento.
Encontrando-se devolutas as instalações da Legião Portuguesa, da Mocidade
Portuguesa e o Posto Fiscal foram igualmente ocupadas. O clube “Os Unidos” deixou o
barracão de festas e ocupou o Centro da Mocidade Portuguesa, no largo Rainha D.
Leonor, convertendo-se no “Clube Social e Desportivo do Bairro da Boavista” em 17
Junho de 1974.

“ Foi uma loucura. A ordem era rasgar e queimar tudo que havia, muitas coisas
foram roubadas.” Memórias de Populares.

Tendo resistido ao tempo e às mudanças permanecem alguns móveis antigos e uma


pequena parte da louça, peças da Viúva Lamego, eram utilizadas nas refeições dos
dirigentes e do pessoal de serviço.

Realojamento – 1976 a 2000

Habitação

Esta fase, ainda em curso, iniciou-se em 1976, com a demolição de 90 barracas no


bairro vermelho de cima (quarteirão norte) e de 90 barracas no bairro vermelho de baixo
(quarteirão Sul). Foram construídos 80 fogos de unidades habitacionais de imóveis de 3
andares, igualmente em banda.
As duas escolas existentes encontravam-se igualmente degradadas e inadequadas. Foi
iniciada a construção de um bloco escolar para viabilizar a transferência de funções
(actualmente escola Básica nº. 125 está situada na Rua 4), foram conquistando terrenos
à Serra chegando à circular interna de Monsanto.

Como era necessário realojar de imediato para poder demolir e de seguida construir no
local, os 80 fogos de 1978 foram construídos em terrenos do parque florestal e
receberam letras A, B, C e D para sua designação; acolheram famílias que habitavam o
“bairro vermelho de baixo”.
De seguida construi-se um bloco de 4 prédios, com lojas, nelas funcionam o Centro de
Acolhimento Infantil - SCML, Serviços de Saúde e os Serviços da Paróquia de São José.
Entre 1980/1984 foram construídos e atribuídos no bairro 13 lotes de cinco pisos sem
elevador, com um total de 230 fogos de diversas tipologias (T1 a T3).
Esta construção decorreu do âmbito do realojamento local, abrangendo famílias que
residiam numa parte da zona do “bairro velho”.

Na década de 1980 a segunda rua foi aberta à Circular Interna de Monsanto,


possibilitando o escoamento de trânsito pelas diversas vias de acesso a Lisboa.
Foi construído posto da Policia Segurança
Pública.
O bairro apenas pode dispor de uma farmácia
no ano 1991, que foi instalada num pequeno
contentor, justificando uma situação provisória.

Em 1987, foi assinado o “Programa de


Intervenção de Médio Prazo – PIMP”, visando
a C.M.L. a construção de habitação destinada à
erradicação de barracas.
O projecto de realojamento local da zona
designada por “bairro velho da Boavista” foi
retomado no âmbito deste projecto, com a
previsão da construção de 759 fogos. Esta foi
Foto 18 – Presidente da Câmara, Dr. efectuada por fases, em diversas empreitadas,
João Soares que implicaram a prévia desafectação das parcelas dos
terrenos necessários à construção.
Assim. No âmbito do PIMP, entre 1988-1996:
- Foram demolidos 557 fogos “velhos” (erradicação total) e abrangidas pelo projecto as
famílias residentes.
- Foram construídos 30 lotes, designados por números, com um total de 541 fogos, com
diversas tipologias (T1 a T4). Destes lotes, 18 são de cinco pisos, seis dos quais com
elevador. Os restantes 12 lotes vieram substituir o núcleo central do velho casario, dando
origem a dois quarteirões quadrangulares pontualizados por imóveis de 7 andares em
banda, criando no seu interior um espaço lúdico. No exterior apresentam espaços (no
R/c) destinados a todo o equipamento comercial e serviços já existentes no bairro (PSP,
Delegação da Junta, Farmácia, Mercearia, Leitaria, Mercado).
No ano 1990 o candidato a Primeiro-Ministro pelo PS, Dr. António Guterres visita o Bairro
da Boavista para inaugurar a delegação da Junta de Freguesia de Benfica, a funcionar
num pré-fabricado.

Gestão do bairro

No dia 1 de Maio de 1997, a Câmara Municipal de Lisboa para fazer face às


necessidades actuais da gestão da habitação de bairros municipais criou Gebalis –
Empresa Gestão dos Bairros Municipais de Lisboa, Empresa Pública, que conforme
afirma o vereador Vasco Franco:

“(…) Trata-se de uma empresa municipal, com um funcionamento muito descentralizado


e ágil, que permite elevados níveis de eficácia na gestão dos novos bairros construídos
no âmbito dos programas de erradicação de barracas”.

A sua missão como empresa é a gestão, manutenção e modernização dos bairros


municipais promovendo a integração social dos seus moradores, tendo como principais
objectivos:
- Melhorias da imagem dos bairros;
- Conservação dos edifícios e dos espaços exteriores.
- Desenvolvimento social.
- Promoção da qualidade de vida.
- Pleno exercício da cidadania.
Organograma da Gebalis

Conselho
Administração

DAF Director Geral DE


Direcção Administrativa Direcção de Engenharia
e Financeira
DIL
Direcção de
Intervenção Local
PFEP OSR
e Observatório de
CT Satisfação Residencial
FSE Coordenação
Técnica

AD EF
OMI CCR Administração Engenharia e
? ? Directa Fiscalização

GB
Gabinete de Bairro
Boavista
O
parque edificado no Bairro da Boavista é em 1998 de 520 moradias unifamiliares e de
1039 fogos em edifícios.

As receitas desta empresa provêm quase exclusivamente de uma percentagem das


rendas atribuídas a cada fogo.

Sobre as rendas é uma nova atitude dos respectivos moradores.

«As rendas que praticamos em todos os bairros são sempre inferiores à renda técnica;
consequentemente são sempre baixas e calculadas em função do rendimento familiar,
estando indexadas a este… os moradores dos bairros municipais não deverão esquecer
o privilégio que têm por viverem em habitações com boa qualidade e bem localizadas em
Lisboa. Por isso deverão tratar os seus bairros e integrarem-se na sua vivência, lutando
pela sua conservação e valorização.» Presidente da Gebalis

Ao longos dos anos a Gebalis tem vindo a fechar casas na alvenaria quando os antigos
moradores tiveram oportunidades para ir uma casa melhor e mais espaçosa.
No entanto, existem muitos casos de pedidos de famílias que vivem nas alvenarias a
mais de dois anos esperam casa. E o prazo é de 120 dias, 60 dias avaliam se tem ou
não direito uma casa maior, os outros 60 dias é tratar das burocracias as e estipular uma
renda. Nas casas das alvenarias estas famílias pagam entre 1 a 50 euros, depois ter
passado para as novas casas o valor aumenta cerca de 150% ou até mais. As rendas
são avaliadas mediante o ordenado global da família.

Em exemplo: Uma família no seu global ganho 1000 euro mensais. Mas tendo pessoas
doentes, ou vários filhos a estudar ou outra situação que a Gebalis acha que devem
abaixar a percentagem da renda abaixam, se não fica com 25% do ordenado global.

PSP

Em 1999 foi Inauguração a 43ª Esquadra PSP


no Bairro da Boavista, O ministro da
Administração Interna, Jorge Coelho,
acompanhado pelo presidente da Câmara
Municipal de Lisboa, João Soares, e pelo
Comandante Geral da PSP, Gonçalves Amaro,
um pouco antes da inauguração da nova
esquadra do Bairro da Boavista.
Foto 19 – Inauguração da esquadra
da PSP

Espaços Sociais

No local onde esteve instalado o jardim-de-infância


da década 40, nos finais 1997 foi iniciada uma
construção que se esperava ser destinada aos
equipamentos de infância, porém a placa de

Foto 20 – Recorte de Jornal


identificação da obra referia uma construção para as instalações de centro de Dia,
Associação de reformados, ATL – Putos Traquinas e uma creche. Este equipamento
sofreu vários atrasos, após de três anos, já em 2001 abriu as portas. Mas a meio gás,
devido o ramal da electricidade ser das obras e não aguentava a carga, só foi substituída
durante 2006.

Este edifício tem elevador mas nunca funcionou, nem a CM - Lisboa nem a JF- Benfica
não querem ficar em carregue pela manutenção do elevador. Actualmente continua
parado sem qualquer utilização.

Actualmente estes espaços estão a ser utilizados pelas seguintes entidades:

- Centro Dia da SCML com apoio aos idosos


- Centro de Saúde da SCML com apoio as famílias da SCML
- Serviços de Apoio à Família e a Comunidade da SCML (famílias em risco)
- Associação Templos Livres “Putos Traquinas” (Tempos – Livres)
- Delegação da Junta de Freguesia de Benfica
- Projecto Ser Maior - Programa Escolhas (crianças e jovens)

E ultimamente foi instalado o Gabinete de Inserção Profissional, este espaço é gerido


pela Junta de Freguesia de Benfica e funcionará no 1º andar no Centro Social e
Polivalente do Bairro da Boavista, em Lisboa sito na rua Rainha Dona Brites.

Têm como objectivo apoiar jovens e adultos desempregados na definição ou


desenvolvimento do seu percurso de inserção ou reinserção no mercado de trabalho, em
estreita articulação com o Centro de Emprego de Pedralvas em Benfica e em parceria
com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).

O G.I.P. desenvolve as seguintes actividades:

- Informação profissional para jovens e adultos desempregados;


- Apoio à procura activa de emprego;
- Acompanhamento personalizado dos desempregados em fase de inserção ou
reinserção profissional;
- Encaminhamento para ofertas de qualificação;
- Divulgação e encaminhamento para medidas de apoio ao emprego, qualificação e
empreendedorismo;
- Divulgação de programas comunitários que promovam a mobilidade no emprego e na
formação profissional no espaço europeu;
- Motivação e apoio à participação em ocupações temporárias ou actividades em regime
de voluntariado, que facilitem a inserção no mercado de trabalho;
- Outras actividades consideradas necessárias aos desempregados inscritos nos Centros
de Emprego;
- Captação de ofertas de entidades empregadoras:
(Temos informações importantes para as empresas)
- Controlo de apresentação periódica dos beneficiários das prestações de desemprego;
- Divulgação de ofertas de emprego e actividades de colocação

Escola básica nº 125 do Bairro da Boavista está situada na parte superior do bairro.
Actualmente tem 350 crianças a frequentar a pré-escolar e o ensino básico.

O Centro de Acolhimento Infantil está a funcionar a mais de duas décadas nas caves dos
lotes 52 e 53. Neste momento tem 100 crianças desde os 6 meses de idade até aos 5
anos.

Gebalis, neste momento tem ao seu encargo no Bairro da Boavista 1500 (+/-), através do
presidente da Gebalis, Dr. Luís Marques a estatística média é 3.5 moradores por cada
casa. Quer dizer que no bairro da Boavista vivem 5250 pessoas.

Eco - Bairro
A Câmara Municipal de Lisboa quer implantar no bairro, um eco bairro.

O que é um Eco - Bairro?


Eco – Bairro, é utilizar o que temos mais acessível, com por exemplo a água, o sol e o
vento. Todos em nossas casas gastamos alguns litros de agua, estes e outros podem ser
aproveitados na criação de depósitos de agua no subsolo, toda a agua vai escoar para
lá, a agua será filtrada e a reaproveitada para sistema de rega. Também colocando
painéis solares nos lotes, ou eólicas.

A Câmara trabalhou-o durante 2 anos no projecto Eco – Bairro para o Bairro da Boavista
Recentemente foi apresentado na Comunidade Europeia, no próximo mês de Janeiro de
2010 será dado uma resposta. Se apoiam ou não o projecto.

O primeiro Eco – Bairro é Vauban na Alemanha e levou 10 anos a ser construído!


Deveremos começar a fazê-lo em Lisboa, de forma sustentada e programada. A
adaptação face à nossa realidade, desde que cumpridos os requisitos base de um eco
bairro, deve ser equacionada para respectiva implementação.

Projecto Ser Maior – Escolhas

Este ano foi a Associação Cativar & Mudar que avançou com a candidatura do projecto
Ser Maior. Foi um dos 320 projectos aprovados do Programa Escolhas Este projecto vem
dar continuidade ao trabalho desenvolvido desde a 1ª Geração do Programa Escolhas
(2001) no Bairro da Boavista. Um dos objectivos deste projecto é promover a inserção
escolar, profissional e social de crianças e jovens, diminuindo o insucesso, absentismo e
abandono escolar, e aumentando a qualificação escolar e profissional.

Quantos Vivem no bairro?

Pois, não sei… Através da Junta de Freguesia de Benfica não sabem. Tento falar com a
Gebalis, dão uma media de 3.5 por fogo. E por fim o Instituto Nacional Estatística
realizou os sensos 2001 porta a porta, mas só avaliam por freguesia e não por zonas.

Futuras Promessas
Na sequência da visita em campanha eleitoral do presidente da Câmara Municipal de
Lisboa, Dr. António Costa prometeu alguns equipamentos aos moradores. A construção
da praça. Por ser um bairro isolado e de deslocarem para zonas longes a criação duma
praça era ideal para dar resposta aos vendedores ambulantes

Colocação de posto de correios, porque muitos idosos tem de ir a Benfica levantar as


suas reformas.

Criação do Centro de Saúde no Bairro da Boavista, a mais próxima fica a 3 km de


distância, para chegar até lá tem de ser de autocarro.

Duas creches, o bairro tem uma mais não consegue dar resposta aos pedidos dos
moradores.

Também a Igreja São José vai ser demolida para crescer o Centro Paroquial. Incluindo
uma casa mortuária

Criação dum grupo de escuteiros no bairro.


Conclusão

Este projecto retrata um pouco a história do Bairro da Boavista desde o seu nascimento
até actualidade.

Este bairro foi criado para acolher várias famílias dos mais diversos pontos da cidade de
Lisboa que viviam em autênticas barracas. Outras tiveram que sair das suas casas para
dar início ao viaduto Eduardo Pacheco e mais tarde à ponte 25 de Abril que nessa altura
se chamava ponte de Salazar.

O Bairro foi construído por fases. No primeiro ano foram 488 casas. Começou-se por
casas de lusalite que actualmente não existem. Hoje o bairro é composto por vários
prédios. Existem pouco mais de 1500 casas, mas prevê-se que o número aumente com
as obras que vão ser realizadas na Alvenaria.

Através dos moradores mais antigos pudemos ver que ainda existe o “assombramento”
dos fiscais, pessoas regidas… Gostavam ver tudo perfeito.

Aqui existem vários serviços sociais, como por exemplo o Centro de Dia, Associações
Desportivas, Associações de Lazer, Espaços Jovens, uma Creche entre outras.
Actualmente existe unidade de saúde da SCML mas não atende toda a população. A
grande maioria tem de ser atendida em Benfica. Futuramente será criado o Centro de
Saúde nos terrenos junto da igreja do bairro para dar respostas a falta de cuidados
médicos.

Neste bairro vivem cerca de 12 mil pessoas em números redondos que as entidades
competentes têm medo em assumir. Tentei saber dados reais mas nenhuma tem esses
dados nem estatísticas.
Bom, é isto o Bairro da Boavista!

Bibliografia

Tese doutoramento Dra. Maria Manuela Pedro Ferreira com Tema: Um Jardim de
Infância em Mudança com a Comunidade – correio electrónico: manela.ferreira@sapo.pt

Ana Paula Figueiredo (moradora do bairro) – Textos, fotos e toda ajuda na criação deste
projecta – e-mail: ana.paula.figueiredo@hotmail.com

Gebalis `EM – www.gebalis.pt


- Outro Bairro

Câmara Municipal de Lisboa (vários departamentos) – www.cm-lisboa.pt

Arquivo Santa Casa Misericórdia de Lisboa – www.scml.pt

Arquivo Municipal - http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/


- Arquivo Fotográfico

Agencia Lusa - http://fotos.sapo.pt/lusa


Arquivo Fotográfico

Junta de Freguesia de Benfica – www.jf-benfica.pt

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