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da
Boavista
Passado Presente e
Futuro
Índice
Introdução ………………………………………………………………………………. Pág. 3
Localização Geográfica ………………………………………………………………. Pág. 4
A Origem do Bairro ………………………………………………………………….… Pág. 5
Ocupação das Casas …………………………………………………………………. Pág. 6
A Capela São José …………………………………………………………………….. Pág. 7
Habitação ……………………………………………………………………………….. Pág. 8
Gestão do Bairro 1941………………………………………………………………… pág. 11
O Fiscal…………………………………………………………………………………... pág. 12
As Ruas ………………………………………………………………………………….. Pág. 14
Espaços de Convivência ……………………………………………………………... Pág. 15
Casamentos e Baptizados da Época ………………………………………………. Pág. 16
Serviços Médicos ……………………………………………………………………… pág. 17
A Creche ………………………………………………………………………………… pág. 19
A Escola Primária ……………………………………………………………………… pág. 19
2ª Fase da Implantação 1945 – 1960 ……………………………………………….. Pág. 20
Assistência Pública …………………………………………………………………… pág. 22
3ª Fase da Implantação 1961 – 1970 ……………………………………………….. Pág. 23
4ª Fase da Implantação 1971 – 1975 ……………………………………………….. Pág. 25
Realojamento – 1979 a 2000 …………………………………………………………. Pág. 27
Gestão do Bairro ………………………………………………………………………. Pág. 29
PSP ……………………………………………………………………………………….. Pág. 31
Espaços Sociais ……………………………………………………………………….. Pág. 31
Eco-Bairro ………………………………………………………………………………. Pág. 33
Projecto Ser Maior – Programa Escolhas …………………………………………. Pág. 34
Quantos Vivem no Bairro? ……………………………………………………………pág. 34
Futuras Promessas …………………………………………………………………… pág. 34
Conclusão ………………………………………………………………………………. Pág. 36
Bibliografia ……………………………………………………………………………… pág. 37
Introdução
Também fico a conhecer melhor o sítio onde eu cresci e vivo. Utilizo esta pequena
história para dar conhecer o bairro a outras pessoas que não o conhecem ou só ouvem
os telejornais a divulgarem desacatos que acontecem uma vez por acaso.
Foto 1 – Terreno do Bairro em 1938
Localização Geográfica
Consta que os terrenos que eram propriedade de José Francisco de Melo Travassos
Valdez 4º Conde de Bonfim – titulo criado pela Rainha D. Maria II, por decreto de 4 de
Abril de1938, em favor de José Lúcio Travassos Valdez, 1º Barão Conde Bonfim.
O Bairro da Boavista pertence à Freguesia de Benfica e está situado a 2.2 km de
distância da sede da Junta e a 8.8 km dos Espaços do Conselho (câmara Municipal de
Lisboa). Em 1940 face a não existência de transportes públicos a população tinha que ir
a pé para o trabalho.
Em algumas zonas circundantes ao bairro ainda é possível observar nas placas com que
se referem ao Bairro da Boavista como “Bela Vista” / Boa Vista”. A paisagem seria bem
diferente da actual, podia-se ver os campos e a Serra de Sintra. O pôr-do-sol era
possível ser olhado em plenitude. Hoje estes campos deram origem a zonas industriais,
a novos parques habitacionais e às novas acessibilidades que em muito alteram a
paisagem e os modos de vida.
A Origem do Bairro
A origem do Bairro da Boavista remonta a 1938. Portugal era pouco industrializado, com
serviços tradicionais e domésticos e com uma das economias mais baixas da Europa.
Pela lei nº 28912 de 1938 foi criado o Programa de Casas Desmontáveis. Era uma nova
modalidade que com rapidez permitia fazer face às necessidades de realojamento. Após
a eliminação das zonas de barracas que foram criadas ao longo da cidade.
A escritura desta primeira fase da construção do bairro foi marcada por: empreitada das
terraplanagens; esgotos; e pavimentação e foi orçamentada por 800 mil euros: Foi
concretizada a 13 de Junho de 1939, sendo as obras concluídas a medida que iam
sendo executadas as montagens das 488 casas.
O orçamento do material:
Empreitada Material Quantidade Custo
S. Portuguesa Fibrocimento Casas 488 2,688,533$
S. Portuguesa Fibrocimento Casas 488 2,688,533
Fabrica Portugal Camas 1108 *
Fabrica Portugal Mesas 1108 *
Fabrica Portugal Colchões 1124 *
TOTAL: 2,868,633$
* 180,100$ na compra das camas, mesas e colchões)
Ocupação das Casas
“No Bairro da Boavista foram construídas 488 casinhas, muito lindas, batidas pelo sol” –
Noticia Jornal A Voz.
Começou a ser ocupado no dia 8 de Dezembro de 1940, por antigos moradores das
diferentes zonas do parque florestal de Monsanto, vindo de barracas que a Câmara
Municipal de Lisboa mandou demolir… Procurou-se também que as famílias escolhidas
para viver no bairro fossem aquelas que pela sua situação económica não pudessem
pagar noutro sítio rendas mais altas.
Em Outubro de 1941 o Bairro da Boavista foi notícia em vários jornais, devido ao seu
valor histórico que levou várias pessoas ilustres a visitarem o bairro, nomeadamente o
presidente da Câmara, Vereadores e Conde Bonfim. No mesmo mês a Câmara
Municipal de Lisboa comunicou à Comissão Administrativa que desejava fazer no dia 25
a inauguração oficial do Bairro.
No dia 25 de Outubro, como já tinha sido determinado pela Câmara Municipal de Lisboa,
realizou-se a inauguração do bairro, assim como de todos os serviços de assistência à
população (Posto Médico, Igreja, Posto do Fiscal, Mocidade Portuguesa, entre outros)
que nele existiam. Esta inauguração teve a presença do Chefe de Estado Marechal
Óscar Carmona.
O Povo durante o dia acorreu na sua maioria para receber as personalidades vindas da
cidade para visitaram o seu bairro.
Em dia de inauguração, os moradores tiveram
direito a uma sessão de cinema que se destinava a
veicular a ideologia do regime.
A Capela foi inaugurada pelo Sr. Cardeal Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira, bem
como os equipamentos de saúde, assistência, instituições centrais do bairro. Todos estes
serviços iam desenvolvendo uma função assistencial, apresentando um importante
modelo de valores para a população.
“A Igreja ou capela de São José era
bastante bonita e rodeada por diversas
flores entre os quais chorões.” Maria de
Lurdes e Luís Rainho.
Habitação
Desde 1940 até à actualidade, os moradores têm na sua mente a magia do Sr. Conde
Bonfim e da sua simpatia e generosidade.
“… O terreno pertencia ao Conde de Bonfim e destinava-se a construir casas para
alojar as populações de outros bairros…” Cardina Santos, 72 anos.
“… O bairro surgiu porque foi uma Condessa que deu as casas ao podres e diziam
que após cinco anos a viver na casa, a casa passava a ser das pessoas, facto que
nunca chegou a acontecer...” Maria Odete de 71 anos.
« (...) cada casa tem à entrada 7 metros de terreno que alguns moradores converteram
em hortas e outros em jardim (…)» - Jornal Novidade, 26-10-1941.
As casas do bairro tinham três tipologias, cada uma definida por uma cor. Na tipologia T1
foram construídas 44 casas, a casa era constituída por um quarto, uma pequena sala, a
área total da casa média 15m2. As casas com a tipologia T2 mediam cerca de 20 m2 e eram
de cor verdes, já com dois quartos e uma sala. As casas de tipologia T3 mediam 24m2, e
foram construídas 180. Eram atribuídas a casais com filhos de sexos diferentes. As áreas
eram tão reduzidas que as divisões não permitiam a colocação de portas interiores.
“Púnhamos cortinas a separar os quartos…”
“Tinham que dormir três e quatro na mesma cama, outros em divãs na sala.” Memórias
de avós.
As casas foram atribuídas às famílias de acordo com o seu agregado familiar. Cada
tipologia estava separada por cores, os mais idosos e os da segunda geração recordam
a sua localização como sendo o bairro azul, bairro verde e bairro vermelho que por sua
vez se subdividia em duas zonas – bairro vermelho de cima (junto ao actual Estádio Pina
Manique) e o bairro vermelho de baixo (junto ao actual Parque de Campismo), este
último com maior número de conflitos, por ter casas de tipologias T4 com a área de 28
m2, que eram atribuídas aos casais com maiores números de filhos.
As casas foram atribuídas já mobiladas oferecidas pelo município. Era mobiliário rústico
alentejano, pintado conforme a cor da sua habitação. A cortina das janelas tinha riscas
variado conforme a sua tipologia. Também o município ofertou aos moradores a água e a
luz, ou seja, o consumo era gratuito (tinham apenas um número de horas para utilizar, e
não podiam exceder o consumo estipulado).
A gestão do Bairro da Boavista foi passada para uma Comissão Administrativa local, que
é autónoma nas suas decisões.
Esquema estrutural de serviços e funções:
Comissão Administrativa
dos Bairros de Casas 1 Presidente (Vereador)
Desmontáveis 1 Tesoureiro (Chefe de Repartição D.S.F)
1 Secretário (Comandante da P.M)
1 Encarregado de Serviço
Secretaria-geral 1 Coadjutor de Enc. Serviço
1 Amanuense
«(…) 1 – Um fiscal
2 – Um vigilante
3 – Dois jardineiros
4 – Uma servente de limpeza; (…)»
O Fiscal
As famílias que não cumpriam os regulamentos eram transferidas para bairros ainda
mais afastados da cidade.
“O fiscal era o Sr. Ribeiro, polícia da Câmara, e não deixava parar ninguém na rua.
Por vezes havia capoeiras nos quintais, mas quando o fiscal descobria eram
destruídas” (Maria, 89 anos)
Outra figura relevante das ruas era o vigilante que entre funções “vigiava” para
comunicar ao fiscal:
«(…) Nas ruas: Evitar que as pessoas transitem pelos relvados e ajardinamentos, após
várias vezes avisados comunicar ao fiscal.
Impedir que a rapaziada jogue à bola nas ruas o que torne prejudiciais os espaços dos
outros, incluindo discussões provocadas pela bola.
Ao notar qualquer discussão procurar pôr-lhe termo, quando não consiga chamar o fiscal
ou dar-lhe conhecimento, desde que na altura o não encontre;
Evitar que os inquilinos lancem lixo ou resíduos para as ruas.
Evitar que os inquilinos estendam roupa á porta ou conservem no logradouro papeis,
trapos ou outras sucatas;
Ter em atenção o pouco cuidado dos inquilinos que deixam luzes acesas, torneiras
abertas (se bem que mais difícil de verificar).»
As Ruas
A sua toponímia fazia lembrar um jardim: rua das Maravilhas, Margaridas, Manjericos,
Narcisos, Violetas, Jacintos, Verbenas, Girassóis, Açucenas, Lírios, Dálias, Pasquilhas,
Madressilvas, Verónica, Hortênsias e Perpétuas. Existia também a rua dos Bons Dias,
Casadinhos e Saudades.
As ruas com nome de flores eram cortadas ao trânsito por serem estreitas, com calçada
à portuguesa e inclinação ao centro, de modo a escoar as águas fluviais que escorriam,
vindas da serra.
Nas ruas eram decoradas em dias festivos, nomeadamente as festas religiosas nas
quais as procissões por elas passavam, tendo sido a primeira procissão realizada no ano
de 1942.
Espaços de Convivência
Em pólos apostos, acima do plano das habitações, existiam dois espaços geradores de
convivência e conflitualidade: o mercado e os tanques de lavagem de roupa que são
referidos por todos que os utilizavam, fazendo fila para conseguir espaço para utilizar.
“Entrei a trabalhar para creche na esfrega (1968), para marcar 3 tanques onde
colocávamos fraldas, lavávamos e estendíamos o dia inteiro”. Luísa Albuquerque.
Mas no lavadouro era necessário cumprir regras rigorosas que eram controladas pelo
vigilante.
Serviços Médicos
« (…) Nomeado o médico, foi necessário mobilar o gabinete clínico e comprar o material
indispensável.
A obra das mães, instituição sediada no bairro, prontificou-se a adquirir o mobiliário e o
material precisos e as consultas médicas iniciaram-se a 21 de Janeiro 1941 (…)»
« (…) Até ao mês de Novembro a assistência médica foi feita por um único clínico que
tinha em média 33 consultas por dia e 4 visitas domiciliárias (…) as consultas eram
bissemanais e nos outros dias faziam-se todos os tratamentos de enfermagem indicados
pelo médico (…) os doentes recorriam ao posto clínico em tão grande quantidade que foi
necessário limitar o número de admissões a cada consulta… os tratamentos de
enfermagem (injecções e pensos) aumentaram de tal modo que pouco mais foi possível
fazer (…)»
(…) Os serviços do Dispensário Médico funcionaram 2 vezes por semana, tendo havido
uma frequência média de 21 doentes. Houve 9 óbitos sendo 5 homens e 4 mulheres
(…)»
Em 1942 deu-se inicio às consultas de Pré-Natal, nesse mesmo ano viviam 800 famílias
no bairro.
«(…) Serviços Médicos:
a. Consulta Pré-Natal
b. Maternidade
« (…) Esta pequena maternidade foi, sem dúvida, uma das obras de assistência mais
interessantes realizadas no bairro, pois que tanto sob o ponto de vista higiénico como
moral, veio trazer grandes vantagens às famílias pobres (…) não oferece as vantagens
de outras maternidades (…)»
O quadro em baixo refere-se às consultas pré-natais efectuadas na maternidade do
bairro, sem que se refira o
Ano Consulta Pré - Natal
1942 117 número de partos.
1943 149
1944 139
1945 153 Em 1943 a maternidade do
1946 223 bairro fez 69 partos, tendo em
1947 140
média 6 nascimentos por mês.
1948 188
1949 120
total: 1229
A Creche
“(…) Com quanto a Casa de Trabalho já dê grande satisfação pelo seu bom
funcionamento, um facto há que vem perturbar a ordem: as crianças de idade escolar
ou jardim-de-infância que aí são guardadas na ausência da mãe (…)”
A Escola Primária
De acordo com as filosofias da época foram implantadas no bairro duas escolas
primárias, a Masculina nº. 125 e a Feminina nº. 126. Questionada em 1998, a população
não guardava memórias da sua frequência, isto porque devido às dificuldades
económicas, ao analfabetismo e ao desemprego, a frequência da escola não era
reconhecida como prioritária.
Igualmente nesta zona foram destinados terrenos, que podiam ser alugados pelos
moradores, para hortas e quintais com criação de animais; alguns dispunham de poços
que os locatários mandavam abrir (“Os quintais tinham hortas bem arranjadas e bonitas e
também tinham poços” - Cardina Santos, 72 anos).
Neste ano, no prolongamento destes terrenos para a zona norte, junto ao actual Estádio
Pina Manique, surgiu, por incentivo do capelão da Igreja de S. José e da D. Maria
Santos, assistente social no bairro de 1942 a 1946, um campo de futebol. Em breve se
criou também o Clube Desportivo Lisboa e Águias, que foi inscrito na federação
Portuguesa de Futebol no dia 03-01-1945.
“(…) As portas e janelas não têm vidros, tendo em seu lugar trapos e papéis para
evitar que a água entre… este estado de abandono cria um espírito de revolta, pois
muitos deles vieram de «bairros de latas» para agora habitarem casas em piores
condições do que as que tinham (…)”
“No local dos actuais pombais existia um pavilhão onde davam a sopa aos pobres
(sopa e pão). No Natal era rancho melhorado.” Maria Odete Santos, 61 anos.
“ A menina Aida, que morava na rua D. Catarina, era quem dava a sopa do Barroso e
o pão, eram dadas senhas às pessoas e isto era tudo dado pela Santa Casa.”
Habitação
Foram neste período construídas 38 casas de alvenaria, com um piso, com telhado de
fibrocimento (T2 – 18 casas e T3-20 casas), implantadas em banda continua com
pequenos logradouros para as traseiras, abandonando-se a filosofia de transitoriedade
subjacente ao inicio do bairro.
Esta nova fase de construção melhora os materiais no interior, mas mantém:
- O aspecto exterior;
- As áreas reduzidas;
- A precariedade de condições de impermeabilidade e insonorização;
- A ausência de portas interiores.
Da década de 60, a população do bairro aumentou cerca de 50 %, devido a famílias que
vieram de diversos locais da cidade de Lisboa. Era imperioso para continuar a renovação
da cidade, “limpar” em especial a zona de Alcântara onde se preparava a construção da
primeira Ponte sobre o Tejo.
As populações transferidas para o bairro, não tendo comum a origem da história, vieram
determinar profundas alterações no núcleo original. Geraram-se inicialmente processos
de rejeição que iam ou não sendo revolvidos se as populações recém-chegadas se
fossem “aculturando”. Surge, assim, o conceito de “filho do bairro” que ainda permanece
sempre que é necessário justificar um direito.
Foi construído pela Câmara Municipal de Lisboa um Salão de Festas que a população
designava por “Os Unidos”, onde se realizavam festas de casamentos, baptizados e o
acolhimento dos soldados vindos da guerra
Na década de 1960 as ruas eram animadas com desfiles de Carnaval (na Rua Rainha D.
Catarina) e pelos Santos Populares com o concurso da melhor rua enfeitada.
“Os santos populares eram um acontecimento muito bonito.” Maria Alice, 78 anos.
Habitação
Em 1971 foram construídos mais 510 fogos em terrenos do parque florestal estendendo-
se até à circular interna de Monsanto,
situados acima da zona de implantação dos
Serviços de Apoio Social. São pequenas
moradias unifamiliares de rés-do-chão e
primeiro andar (T1 a T4) construídas em
alvenaria, com estrutura de betão e
cobertura de fibrocimento, igualmente em
banda contínua, mantendo os pequenos Foto 16 – Alvenaria
logradouros. As rendas técnicas praticadas
eram de 285$00 (T1), 484$00 (T2), 605$00 (T3), 725$00 (T4).
Foi designado por “Bairro Novo da Boavista” com as ruas numeradas (ex. Rua 1, Rua 2,
etc.).
“Os meus pais vieram para o bairro, logo no princípio, mas como não quiseram
casar foram expulsos. O meu pai fez um buraco na estrada da Circunvalação (foi
ai que fui atropelada). Quando foi a revolução eu meti-me numa casa com os
meus filhos e já não sai de lá, foi a tropa e a UDP que me ajudaram.” Memórias de
uma avó com 63 anos.
“A minha mãe morava na rua das violetas nº. 43 E foi posta fora do bairro porque
a minha irmã andou à tareia com a filha da vizinha. As duas (a minha mãe e a
vizinha) foram expulsas do bairro – fizeram uma barraca na Estrada da
Circunvalação, mas no 25 de Abril viemos morar para o bairro e ocupamos duas
casas” Memórias de Delfina filha da Irene Peixeira.
Outra parte destes fogos foram ocupados por familiares dos moradores, e outros que,
vivendo fora do bairro, nele se instalaram por oportunismo.
Após a revolução de Abril a quebra de normas veio determinar a instabilidade, a
insegurança e a perda de identidade. Sem as instituições de controlo social a população
passou a alterar profundamente as condições urbanísticas que já se encontravam em
adiantada fase de degradação:
“ Foi uma loucura. A ordem era rasgar e queimar tudo que havia, muitas coisas
foram roubadas.” Memórias de Populares.
Habitação
Como era necessário realojar de imediato para poder demolir e de seguida construir no
local, os 80 fogos de 1978 foram construídos em terrenos do parque florestal e
receberam letras A, B, C e D para sua designação; acolheram famílias que habitavam o
“bairro vermelho de baixo”.
De seguida construi-se um bloco de 4 prédios, com lojas, nelas funcionam o Centro de
Acolhimento Infantil - SCML, Serviços de Saúde e os Serviços da Paróquia de São José.
Entre 1980/1984 foram construídos e atribuídos no bairro 13 lotes de cinco pisos sem
elevador, com um total de 230 fogos de diversas tipologias (T1 a T3).
Esta construção decorreu do âmbito do realojamento local, abrangendo famílias que
residiam numa parte da zona do “bairro velho”.
Gestão do bairro
Conselho
Administração
AD EF
OMI CCR Administração Engenharia e
? ? Directa Fiscalização
GB
Gabinete de Bairro
Boavista
O
parque edificado no Bairro da Boavista é em 1998 de 520 moradias unifamiliares e de
1039 fogos em edifícios.
«As rendas que praticamos em todos os bairros são sempre inferiores à renda técnica;
consequentemente são sempre baixas e calculadas em função do rendimento familiar,
estando indexadas a este… os moradores dos bairros municipais não deverão esquecer
o privilégio que têm por viverem em habitações com boa qualidade e bem localizadas em
Lisboa. Por isso deverão tratar os seus bairros e integrarem-se na sua vivência, lutando
pela sua conservação e valorização.» Presidente da Gebalis
Ao longos dos anos a Gebalis tem vindo a fechar casas na alvenaria quando os antigos
moradores tiveram oportunidades para ir uma casa melhor e mais espaçosa.
No entanto, existem muitos casos de pedidos de famílias que vivem nas alvenarias a
mais de dois anos esperam casa. E o prazo é de 120 dias, 60 dias avaliam se tem ou
não direito uma casa maior, os outros 60 dias é tratar das burocracias as e estipular uma
renda. Nas casas das alvenarias estas famílias pagam entre 1 a 50 euros, depois ter
passado para as novas casas o valor aumenta cerca de 150% ou até mais. As rendas
são avaliadas mediante o ordenado global da família.
Em exemplo: Uma família no seu global ganho 1000 euro mensais. Mas tendo pessoas
doentes, ou vários filhos a estudar ou outra situação que a Gebalis acha que devem
abaixar a percentagem da renda abaixam, se não fica com 25% do ordenado global.
PSP
Espaços Sociais
Este edifício tem elevador mas nunca funcionou, nem a CM - Lisboa nem a JF- Benfica
não querem ficar em carregue pela manutenção do elevador. Actualmente continua
parado sem qualquer utilização.
Escola básica nº 125 do Bairro da Boavista está situada na parte superior do bairro.
Actualmente tem 350 crianças a frequentar a pré-escolar e o ensino básico.
O Centro de Acolhimento Infantil está a funcionar a mais de duas décadas nas caves dos
lotes 52 e 53. Neste momento tem 100 crianças desde os 6 meses de idade até aos 5
anos.
Gebalis, neste momento tem ao seu encargo no Bairro da Boavista 1500 (+/-), através do
presidente da Gebalis, Dr. Luís Marques a estatística média é 3.5 moradores por cada
casa. Quer dizer que no bairro da Boavista vivem 5250 pessoas.
Eco - Bairro
A Câmara Municipal de Lisboa quer implantar no bairro, um eco bairro.
A Câmara trabalhou-o durante 2 anos no projecto Eco – Bairro para o Bairro da Boavista
Recentemente foi apresentado na Comunidade Europeia, no próximo mês de Janeiro de
2010 será dado uma resposta. Se apoiam ou não o projecto.
Este ano foi a Associação Cativar & Mudar que avançou com a candidatura do projecto
Ser Maior. Foi um dos 320 projectos aprovados do Programa Escolhas Este projecto vem
dar continuidade ao trabalho desenvolvido desde a 1ª Geração do Programa Escolhas
(2001) no Bairro da Boavista. Um dos objectivos deste projecto é promover a inserção
escolar, profissional e social de crianças e jovens, diminuindo o insucesso, absentismo e
abandono escolar, e aumentando a qualificação escolar e profissional.
Pois, não sei… Através da Junta de Freguesia de Benfica não sabem. Tento falar com a
Gebalis, dão uma media de 3.5 por fogo. E por fim o Instituto Nacional Estatística
realizou os sensos 2001 porta a porta, mas só avaliam por freguesia e não por zonas.
Futuras Promessas
Na sequência da visita em campanha eleitoral do presidente da Câmara Municipal de
Lisboa, Dr. António Costa prometeu alguns equipamentos aos moradores. A construção
da praça. Por ser um bairro isolado e de deslocarem para zonas longes a criação duma
praça era ideal para dar resposta aos vendedores ambulantes
Duas creches, o bairro tem uma mais não consegue dar resposta aos pedidos dos
moradores.
Também a Igreja São José vai ser demolida para crescer o Centro Paroquial. Incluindo
uma casa mortuária
Este projecto retrata um pouco a história do Bairro da Boavista desde o seu nascimento
até actualidade.
Este bairro foi criado para acolher várias famílias dos mais diversos pontos da cidade de
Lisboa que viviam em autênticas barracas. Outras tiveram que sair das suas casas para
dar início ao viaduto Eduardo Pacheco e mais tarde à ponte 25 de Abril que nessa altura
se chamava ponte de Salazar.
O Bairro foi construído por fases. No primeiro ano foram 488 casas. Começou-se por
casas de lusalite que actualmente não existem. Hoje o bairro é composto por vários
prédios. Existem pouco mais de 1500 casas, mas prevê-se que o número aumente com
as obras que vão ser realizadas na Alvenaria.
Através dos moradores mais antigos pudemos ver que ainda existe o “assombramento”
dos fiscais, pessoas regidas… Gostavam ver tudo perfeito.
Aqui existem vários serviços sociais, como por exemplo o Centro de Dia, Associações
Desportivas, Associações de Lazer, Espaços Jovens, uma Creche entre outras.
Actualmente existe unidade de saúde da SCML mas não atende toda a população. A
grande maioria tem de ser atendida em Benfica. Futuramente será criado o Centro de
Saúde nos terrenos junto da igreja do bairro para dar respostas a falta de cuidados
médicos.
Neste bairro vivem cerca de 12 mil pessoas em números redondos que as entidades
competentes têm medo em assumir. Tentei saber dados reais mas nenhuma tem esses
dados nem estatísticas.
Bom, é isto o Bairro da Boavista!
Bibliografia
Tese doutoramento Dra. Maria Manuela Pedro Ferreira com Tema: Um Jardim de
Infância em Mudança com a Comunidade – correio electrónico: manela.ferreira@sapo.pt
Ana Paula Figueiredo (moradora do bairro) – Textos, fotos e toda ajuda na criação deste
projecta – e-mail: ana.paula.figueiredo@hotmail.com