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Organizações Internacionais e o empoderamento dos camponeses – Formação de lideranças camponesas – Marracuene 21 de Julho de 2008

As Organizações Internacionais e o empoderamento dos camponeses


Por: Amade Sucá e Filipe Pequenino
Texto escrito para discussão no curso internacional de formação de lideranças camponesas
21-22 de Julho de 2008

I. Introdução

Muito bom dia companheiras e companheiros de luta pela construção de uma sociedade mais
justa, solidária e próspera.

Nos foi proposto abordar o tema sobre organizações internacionais e a sua ligação com os
camponeses. Para melhor trazer o nosso pensamento sobre a questão estruturamos o nosso pensar
em 4 grandes linhas gerais: a conceitualização do termo organizações internacioanais, a descrição
breve de algumas organizações internacionais julgadas muito pertinentes para os camponeses, a
explicação da importância das organizações para as relações internacionais em geral e para os
camponeses de forma muito particular e sugerimos a abordagem que os camponeses devem ter
para com estas organizações em função do apresentado, isso na conclusão.

Gostaríamos de, logo a prior, enunciar que quando falamos de organizações internacionais no
presente documento não nos referimos a organizações internacionais estatuidas e dirigidas pela
sociedade civil. Estamos sim a falar de organizações constituidas por Estados independentes e
soberanos - actores do direito internacional.

Esperamos sinceramente que esta nossa singela e breve nota possa aclarar alguns aspectos que
nos ajudem a melhor reforçar a nossa união para melhor articularmos e engajarmo-nos
criticamente com as organizações internacionais de forma a contribuir para a construção de um
projecto alternativo de governação e de satisfação das necessidades sociais, culturais, ambientais,
económicas e políticas.

O texto que está a ler não apresenta uma estruturação científicamente rígida dai que em alguns
momento poderá notar a ausência de citações ou mesmo de rigor científico no tratamento de
alguns termos. Este facto foi propositado dada a intenção do próprio texto. O texto foi elaborado
baseado no nosso saber, na consulta bibliográfica, nos materiais da cadeira de organizações
internacionais lecionada no Instituto Superior de Relações Internacionais e em alguma busca na
internet. Por isso pedimos desde já a vossa indulgência quanto aos aspectos de rigor científico.

Por esta oportunidade nós agradecemos.

II. O que são organizações internacionais

Uma organização internacional é uma associação voluntária de sujeitos (Estados) do direito


internacional. As organizações internacionais são constituidas por mais de um membro (Estado)
e porque operam no âmbito internacional observam as normas internacionais. Estas normas,
estão estatuidas no chamado Direito Internacional que é o conjunto de normas que regula as
relações externas dos Estados. Este direito ao nível da sociedade das nações está prescrito na

1
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Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais
ou entre Organizações Internacionais1.

Também actuam na arena internacionais para além dos Estados outros actores tais como as
organizações internacionais. A organização internacional não se difere muito da organização
comun de camponeses ou de outro tipo de associações na medida em que ela apresenta:
membros, regulamentos de funcionamento, órgãos de direcção e com objectivos e estratégias
claras sobre como promover os seus intentos (missão). Contudo sublinhar mais uma vez que
organizações internacionais não são organizações não governamentais internacionais. As
organizações internacionais são constituidas por acordos, tratados e convenções. Estas
organizações uma vez constituidas e legalmente registadas adquirem personalidade jurídica
independente da dos seus membros. Quer dizer os actos e as obrigações legais que emanen de
seus actos não podem ser amputados aos seus membros mas sim a esta organização como um
todo/entidade. Quer dizer a organização internacional pode, ao nível internacional, contrair
obrigações e adquirir direitos em seu próprio nome, isso porque ela detém uma personalidade
jurídica como as dos seus membros apesar de ter mandatos e poderes diferenciados. Isto implica
em termos práticos que as organizações internacionais podem celebrar contratos com terceiros e
implementar programas em diversas áreas previamente acordadas pelos membros.

Para que as organizações internacionais gozem do pleno direito elas devem apresentar
ractificação do tratado que as crias nos países membros. No acto da criação da mesma são
estabelecidos os regulamentos para que esta inicie suas funções.

III.Algumas organizações internacionais

São hoje inúmeras as organizações internacionais existentes. Nos nossos dias existem as que se
dedicam a acções no âmbito social, cultural, político, ambiental e afim. No entanto nós
centraremos a nossa atenção naquelas que julgamos terem maior preponderância para os
camponeses: a ONU e suas agências.
1. A Organização das Nações Unidas (ONU)
Esta organização internacional foi fundada oficialmente a 24 de Outubro de 1945, após o fim da
II guerra mundial2, em São Francisco, na Califórnia (Estados Unidos da América). Esta é a data
em que os 5 membros do conselho de segurança apresentaram a ractificação da carta que cria a
ONU, pelos seus países. Na altura estiveram presentes 51 países (os aliados3). Em 1945 nenhum
país africano tinha alcançado a sua independência – eram ainda colónias. Isto quer dizer que os
africanos não participaram na formulação dos objectivos, estratégias e estrutura da ONU. Esta
organização tem a sua sede em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. A ONU tem como
principal objectivo unir todas as nações do mundo em prol da paz e do desenvolvimento, com
base nos princípios de justiça, dignidade humana e bem-estar de todos. Com a independência,
1
Importa referir que este tratado foi assinado a 21 de Março de 1986 e completa a convenção de Viena sobre o
direito dos tratados, assinado em 1969. Enquanto que o segundo estabelecia que apenas os Estados é que detém o
monopólio da celebração de acordos internacionais, o primeiro indica que as organizações internacionais também o
podem faze-lo. Existe igualmente a convenção de Viena sobre relações internacionais (assinado em 1961) e a
convenção de Viena sobre relações consulares (assinado em 1963). No entanto estas não são objecto directo da
presente intervenção.
2
Esta teve lugar entre 1939 a 1945, essencialmente em território europeu.
3
Contra os paises que farmavam a potência dos eixos.

2
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outros Estados tornaram-se membros de pleno direito com excepção de alguns territórios ainda
não clara a sua definição por estar ainda em situação de conflito armado ou de reclamação
unilateral de autonomia. São exemplos a Somalilandia, o Taiwan, a Repúblic Democrática Árabe
Saharawi entre outros. A ONU tem também um membro com um estatuto especial de observador
que é a Santa Sê4. Depois de redigida a carta que formaliza a criação das Nações Unidas, esta foi
assinada a 26 de Junho de 1945. A ONU apresenta dentre vários méritos que detém a aprovação
da Declaração Universal dos Direitos Humanos que consagra entre outros aspectos a igualdade e
a liberdade de todo o ser humana. Esta declaração assinada em 1948 assinala este ano o seu 60º
aniversário onde todos nós somos chamados a contribuir para que cada cidadão tenha consciência
de seus direitos e deveres ao mesmo tempo chamando o Estado para que cumpra com as suas
obrigações de garantia da salvaguarda dos direitos humanos para todo e qualquer cidadão.
Referir ainda que antes da criação da ONU fora estabelecido em 1919 depois da I guerra
mundial5, uma outra organização internacional denominada por Sociedade das Nações ou Liga
das Nações. Tinha como seu principal objectivo promover a cooperação internacional e
conseguir a paz e a segurança mundial.
A ONU, dada a sua complexidade em face de abarcar todas as áreas do desenvolvimento está
estrutura em forma de sistema – chamado sistema da ONU. Este sistema está estruturado em 6
órgãos centrais:

1. Assembleia Geral
2. Conselho de Segurança
3. Conselho Económico e Social (ECOSOC)
4. Conselho de Tutela
5. Corte Internacional de Justiça e
6. Secretariado

Para além destes órgãos centrais a ONU tem ainda programas (PMA6, PNUD7, UNICEF8), outros
órgãos (ACNUDH9, ONUSIDA10), Institutos de pesquisa e análise (UNIDIR11, INSTRAW12),
comissões orgânicas (comissão do desenvolvimento rural), comissões regionais (comissão
económica para África-CEA), órgãos conexos (OMC), organismos especializados (FAO)

2. A organização mundial do comércio - OMC


A OMC é uma organização internacional enquadrada no sistema nas nações unidas. Ela tem a
sua sede em Genebra na Suiça. A OMC regulamenta as regras sobre o comércio internacional
(trocas comerciais entre países/nações). Como já fizemos alusão as organizações internacionais
discutem, propôem e sugerem aos membros (Estados) a adopção de tais medidas e políticas. Na
OMC os membros igualmente negoceiam e assinam acordos que só se tornam válidos depois de
4
A Santa Sé tem estatuto de Estado com poderes limitados.
5
Esta decorreu entre 1914 a 1918 e opunha a chamada triple entente da triple aliança.
6
Programa mundial da alimentação
7
Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento
8
Fundo das nações unidas para a infância
9
Alto comissariado das nações unidas para os direitos humanos
10
Programa conjunto das nações unidas sobre o HIV
11
Instituto das Nações Unidas para a formação e pesquisa
12
Centro de pesquisa internacional e instituto de formação para o avanço da mulher

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ratificados pelos parlamentos de cada Estado membro. Ai a política, norma ractificada passa a
regulamentar as actividades do comércio a nível internacional.
Permitam antes de alogar afirmar que o comércio internacional é extremamente relevante
porquanto ele permite a troca de bens e serviços entre países permitindo que os que produzem
algo possam igualmente terem acesso a aquilo que não produzem ou ainda que produzem sob
formas bastante danosas, quer para si assim como para o ambiente. Nos dias que corren dado o
avanço industrial, da tecnologia, do saber e da informação a troca de bens e serviços se tornou
um processo irreversível. A questão central é como é feito o comércio internacional. A quem as
actuais regras beneficiam e porquê. Ou melhor ainda como então alterar a injustiça das actuais
regras do comércio?
Voltando para a resenha histórica sobre a OMC dizer que esta surgiu do então Acordo Geral de
Tarifas e Comércio (GATT) que foi criado após a II Guerra Mundial como parte das instituições
multilaterais dedicadas à cooperação econômica internacional.
Foi em dezembro de 1945 que os Estados Unidos da América convidaram o início das
negociações para o estabelecimento de um acordo multilateral para a redução recíproca das
tarifas de comércio de bens, que até então era visto como um impedimento para a realização do
livre ccomércio. Foi assim que em 1948 é estabelecido o GATT que operou até 1994 quando fora
substituido pela OMC a 1 de Janeiro de 1995. Se cria a OMC porque o GATT apenas lidava com
questões ligadas às barreiras tarifárias e nunca fora effectivamente aceite pelos Estados o que fez
com que este operasse muitas vezes de forma semi-estruturada/formal. À OMC lhe coube a tarefa
de incluir todos os aspectos do comércio ao mesmo tempo que se enquadrava no âmbito do
sistema das nações unidas, ora em funcionamento.
No quadro das suas atribuições a OMC: gere os acordos que compõem o sistema multilateral de
comércio, serve de fórum para a negociação de acordos internacionais sobre comércio,
supervisiona a adoção dos acordos e implementação destes pelos Estados membros. A OMC gere
igualmente o sistema de resolução de controvérsias derivadas da aplicação das normas sobre o
comércio internacional.
As negociações na OMC são feitas em Rondas negociais. Uma ronda significa um conjunto de
aspectos que estão sendo negociados. Só depois de aprovada e encerrada a discussão do conjunto
de aspectos que fazem parte de uma dada ronda é que se passa para a ronda a seguir.
Actualmente decorre a Ronda de Doha (Agenda de Desenvolvimento de Doha) iniciada em 2001.
Na sua estrutura operacional a OMC realiza Conferências Ministeriais a cada dois anos. A
Conferência Ministerial escolhe um diretor geral com o mandato de quatro anos, atualmente o
Diretor geral é Pascal Lamy, que tomou posse em 01 de Setembro de 2005. Notar no entanto que
as negociações decorrem ao longo de todo o ano em Genebra, na Suiça com intervalos
intercalares. São negociados assuntos de comércio relacionados com os seguintes temas: medidas
tarifárias e não tarifárias, medidas antidumping, agricultura, serviços, propriedade intelectual,
medidas de investimento, solução de controvérsias, etc. Existe um Conselho Geral que
implementa as decisões alcançadas na Conferência e é responsável pela administração diária.
A OMC na sua actuação defende dois grandes princípios, a saber: a promoção do livre comércio
e a defesa da igualdade entre os Estados membros. Para que isso aconteça a OMC se guia por
fundamentalmente 5 princípios gerais:

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1. Princípio da Não-Discriminação. Ha a reter dois aspectos


1. o princípio da nação mais favorecida consagrado no Art. I do GATT- 1994, na
parte referente a bens, que significa que se um país conceder a um outro um dado
benefício terá obrigatoriamente que estender aos demais membros da OMC a
mesma vantagem ou privilégio.
2. O princípio do tratamento nacional contido no Art. III do GATT-1994, na parte
referente a bens, que impede o tratamento diferenciado aos produtos
internacionais para evitar desfavorecê-los na competição com os produtos
nacionais. Quer dizer sobre as regras do comércio internacional, uma vez que o
Estado adopte o princípio do comércio livre, os produtos internacionais devem
obter o mesmo tratamento que os produtos internos.
2. Princípio da Previsibilidade: garante a previsibilidade sobre as regras e sobre o
acesso ao comércio internacional por meio da consolidação dos compromissos tarifários
para bens e das listas de ofertas em serviços. O objectivo deste princípio é de impedir que
haja restrição ao comércio internacional.

3. Princípio da Concorrência Leal: é o princípio mais controverso. Este princípio


constante nos Art. VI e XVI do GATT-1994 visa garantir um comércio internacional
justo, sem práticas desleais, como os subsídios13.

4. Princípio da Proibição de Restrições Quantitativas: estabelecido no Art. XI do


GATT- 1994 impede que os países façam restrições quantitativas, isto é, imponham
quotas ou proibições a certos produtos internacionais como forma de proteger a produção
nacional14.

5. Princípio do Tratamento Especial e Diferenciado para Países em


Desenvolvimento: consagrado no Art. XXVIII e na Parte IV do GATT-1994 refere que
aos países em vias de desenvolvimento (ACP15) lhes possam ser atribuidas vantagens
tarifárias e medidas mais favoráveis no desenvolvimento das suas transacções comerciais
internacionais com outros Estados, mesmo que membros da OMC.

3. A Organização Mundial das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação -


FAO
A FAO é uma organização da ONU criada em 16 de Outubro de 1945 no Canadá e tem a sua
sede em Roma, na Itália. A FAO é a organização que por excelência se dedica ao
desenvolvimento da agricultura e ao provimento de alimentos dai o seu objectivo ser o de elevar
os níveis de nutrição e de desenvolvimento rural.
No seu mandato estão entre outras funções:

13
Subsídios refere-se ao valor e ajudas atribuidas pelos governos aos seus produtores de forma a que seus produtos
possam ter menores custos de produção e assim compitam favoravelmente no mercado internacional. A atribuição de
subsídios aos produtores cria o chamado dumping. Isto é produtos de um dado país produzidos com elevadas
ajudas/subsídios inunda o mercado do outro que não consegue atribuir tais subsídios. O resultado final é a
eliminação dos produtores do país que não atribui subsídios.
14
Referir que a OMC aceita o uso das tarifas como forma de protecção apenas em casos onde haja uma lista de
compromissos dos países estabelecendo o uso de tais quotas.
15
Africa, Caraibas e Pacífico

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- a realização de programas de melhoria da eficiência na produção para a satisfação das


necessidades humanas, elaboração, comercialização e distribuição de alimentos com vista a
revigorar a energia necessária para o desempenho das funções vitais e produtos agropecuários.
- a preparação dos países em desenvolvimento para fazer frente a situações de emergência/crise
alimentar.
- a promoção de investimentos na área da agricultura como forma de rentabilizar as técnicas para
o cultivo de plantas para diversos fins, o aperfeiçoamento da produção agrícola e da criação
(domesticação e produção) de animais para a satisfação das necessidades humanas e a
transferência de tecnologia aos países em desenvolvimento.
- o fomento da conservação dos recursos naturais, estimulando o desenvolvimento da pesca,
piscicultura e fontes de energia renováveis.

A FAO desenvolve ainda assistência para países subdesenvolvidos, providencia informação


sobre nutrição, comida, agricultura, florestamento e pesca, fornece aconselhamento a governos
sobre agricultura e alimentação, serve como um fórum para discutir e formular políticas nos
principais assuntos relacionados a agricultura e alimentação.

4. O Banco Mundial
O Banco Mundial é uma agência do sistema das Nações Unidas criada, junto com o FMI, a 1 de
Julho de 1944 pela conferência de Bretton Woods com o objectivo de sustentar a orden
económica e financeira mundial. O Banco Mundial16 quando foi criado tinha como seu principal
objectivo financiar a reconstrução dos países devastados durante a II guerra mundial. No entanto
com o passar do tempo seus objectivos foram incorporando outras dimensões de tal forma que
hoje o Banco Mundial se empenha na luta contra a pobreza de um modo geral. Fa-lo através do
financiamento, alocação de empréstimos e fornecimento ao acompanhamento técnico aos países
em vias de desenvolvimento na realização de seus projectos de desenvolvimento sócio
económico. Os recursos do Banco provém das quotas dos países membros e dos reembolsos dos
fundos alocados. Os Estados Unidos são o maior acionista com direito a 16,41% dos votos,
seguido pelo Japão (7,87%), Alemanha (4,49%), Reino Unido (4,31%) e França (4,31%). O
restante dos votos é distribuído entre os outros países membros. O Banco mundial é uma das
instituição que financia governos com taxas de juro muito baixas e com períodos de reembolso
bastante amplos.

5. O Fundo Monetário Internacional - FMI


O Fundo Monetário Internacional é uma organização internacional que como o Banco Mundial
foi estabelecido na reunião de Bretton Woods em 194417 e tem sua sede em Washington, nos
Estados Unidos da América. O FMI tem como principal função assegurar o bom funcionamento

16
Referir que existe o chamado Grupo Banco Mundial que incorpora para além do banco internacional de
reconstração e desenvolvimento-BIRD e da associação internacional do desenvolvimento-AID (que são as duas
instituições que formam o banco mundial) tem também pela corporação financeira internacional-IFC, agencia
multilateral para a garantia do investimento -AMGI e o centro internacional para a alocação do investimento e
resolução de disputas –CIADI.
17
Esta conferência teve lugar em Julho em Bretton Woods, New Hampshire, nos Estados Unidos da America sob
designação de Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas

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do sistema financeiro mundial pela monitoria das taxas de câmbio18 e da balança de


pagamentos19, através de assistência técnica e financeira. O FMI ambiciona a existência de uma
cooperação monetária global que assegure a estabilidade financeira, facilite o comércio
internacional, promova altos níveis de emprego e desenvolvimento econômico sustentável, para
além de reduzir a pobreza. O FMI objetiva evitar que os desequilíbrios nas balanças de
pagamentos e nos sistemas cambiais dos países membros possam prejudicar a expansão do
comércio e de fluxos de capitais internacionais. O Fundo favorece a progressiva eliminação das
restrições cambiais nos países membros e concede recursos temporariamente para evitar ou
remediar desequilíbrios na balança de pagamentos. Contudo referir que estes fundos só são
alocados quando os Estados membros que assim o solicitem se comprometam a implementar as
reformas sugeridas no quadro dos programas de ajustamento estrutural. Para isso o FMI planeia e
monitora tais programas de ajustamento estrutural e oferece assistência técnica e treinamento
para os países membros.
O FMI, oficialmente criado em 1945 engloba todos os países membros da ONU 20 e tem como
objectivos centrais, dentre outros:

- a promoção da cooperação monetária internacional, fornecendo um mecanismo de consulta


e colaboração dos problemas financeiros;

- o favorecimento da expansão equilibrada do comércio, proporcionando níveis elevados de


emprego, trazendo desenvolvimento dos recursos produtivos;

- o oferecimento da ajuda financeira aos paises membros em dificuldades econômicas,


emprestando recursos com prazos limitados;

- a contribuição para a instituição de um sistema multilateral de pagamentos e promoção da


estabilidade dos câmbios.

IV. Porquê razão são importantes as organizações internacionais para os camponeses


O sistema internacional existe desde a tempos remotos21 e a troca de correspondência e relações
entre povos de diferentes territórios foi, é e sempre será relevante na medida em que o ser
humano é um ser social que precisa de conviver junto com outros seres da mesma especie. Ainda
nesta esteira referir que as relações internacionais permitem a complementaridade e a ajuda
mútuo entre os povos para a melhoria da resposta aos problemas quer indivuais como colectivos
das respectivas populações.

Como aludido anteriormente as organizações internacionais são actores do direito internacional.


Isto quer dizer que as normas que regulam as relações internacionais podem então ser emanadas
18
Refere-se ao valor da troca de moeda nacional pela moeda estrangeira e vice versa.
19
Balança de pagamentos refere-se à descrição das relações comerciais de um dado país com o resto do mundo. É a
oparação de registo total de dinheiro que entra e sai de um pais em forma de importações e exportações de produtos,
de serviços, de capitais e de transferências comerciais.
20
Com excepção de Cuba, Coreia do Norte, Mónaco, Andorra, Liechtenstein, Tuvulo e Nauru.
21
Como marco genérico podemos colocar o tratado de Westfalia assinado a 24 de Outubro de 1648 na Alemanha
como tendo sido aquele que estabelece a paz entre os Estados (europeus) e serve de marco para o direito
internacional na medida em que reconhece a igualdade soberana dos Estados e inicia com algumas medidas de
relacionamento entre Estados; completada mais tarde com as convenções de Viena.

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pelos Estados assim como pelas organizações internacionais. Hoje com o processo de integração
regional e a necessidade cada vez mais premente do trabalho colectivo os Estados estão
gradualmente a delegar a capacidade lesgislativa internacional aos organismos internacionais,
dado estes englobarem mais actores internacionais. E, porque as normas internacionais uma vez
aprovadas tem um impacto directo nas nossas vidas surge então o racional da necessidade do
nosso engajamento com estas instituições.

É do senso comum que as relações entre seres humanos é movida por interesses (quer
económicos, políticos, sociais ou culturais). Geralmente os interesses das partes são inteiramente
para a satisfação das necessidades do seu sujeito. Só que no encontro entre os diversos sujeitos
tais interesses podem inplicar tensões e conflitos na medida em que a satisfação do interesse de
um pode significar o impedimento da satisfação do interesse do outro na sua plenitude. Daí
decore a necessidade das negociações para que os interesses de todos possam ser satisfeitos
mesmo que não na sua total plenitude. Mas porque os interesses também são apresentados por
categoria hierárquica, existem porém aqueles cujos Estados (as partes) não cedem na sua
negociação – os chamados interesses nacionais. Para os alcançar, manter e promover os sujeitos
acabam desenvolvendo acções que podem significar total violação dos interesses do outrém.
Outro senão é que a categorização dos interesses é bastante volátil por parte dos Estados e nem
sempre se apresenta com total transparência. Existem porém interesses nacionais claramente
definidos e indiscutíveis – como a manutenção da independência nacional.

É no desenvolvimento das negociações para a concertação de interesses que surge a questão


central de todo o debate – a questão do poder. Poder é definido como sendo o direito de
deliberar/decidir, agir, mandar e de exercer a autoridade, a soberania e a influência/força sobre
outrém. Quem detém o poder detém a primazia de impor sua vontade sobre os demais e a estes
lhes compete a sua aceitação dada a sua incapacidade alternativa para a desobediência. Isso pode
ser feito através do uso da força/pujança social, económica, militar e/ou política.

Este poder que nos aludimos é exercido entre várias formas através do estabelecimento de
normas internacionais que regulam as relações entre os actores internacionais.

Na procura de satisfazer as nossas necessidades estabelecemos prioridades e estas porque podem


estar em discordância com os interesses dos outros devemos aceitar a negociação ou o diálogo.
Esta negociação deve primariamente visar a conciliação dos interesses cientes que nenhuma das
partes deverá assambarcar todos os benefícios. No entanto dadas as relações desiguais do poder
urge fazer alianças e ter posicionamentos que englobem o maior número possível de defensores.
Estes posicionamento devem visar a alternação e/ou o estabelecimento de novas normas que
regulem as acções ao nível internacional. É neste âmbito que defendemos a colectivização dos
esforços para a mudança de políticas de forma a que estas reflictam os interesses dos mais
pobres, excluidos e marginalizados, com especial atenção para a mulher e criança.

Sublinhar que o primeiro campo de actuação deve ser sempre o nível local (comunidade, distrito,
província e Estado). Centramos mais a nossa abordagem no nível internacional pelo simples
facto do tema ser - as organizações internacionais.

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Portanto hoje a satisfação nas nossas necessidades e interesses é realizada de forma sistemática
através de um processo de implementação de procedimentos (leis, normas, políticas) acordadas
quer pelos Estados assim como pelas organizações internacionais. Porque o estabelecimento de
tais normas implica um conflito permanente de interesses então ha que negociar com as partes
interessadas. Mas também porque esta negociação não está insenta de relações de poder
desiguais interessa munir-se de instrumentos de poder. As técnicas são várias mas dois aspectos
centrais nos sobressaiem: o conhecimento e o capital.

O companheiro e comandante Che Guevara22 dissera que “a maior e mais revolucionária ambição
do homem deve ser ver-se liberto da sua alienação mental”. Quer dizer a aquisição do
conhecimento é de tal extrema importância que só e somente ele nos pode permitir o
desenvolvimento de alternativas viáveis para a construção de um outro mundo – o mundo da
justiça e da equidade social. O saber nos permite conhecer os amigos e os inimigos. O
conhecimento nos permite identificar o que ha de bom no inimigo e o que há de ruim. O
conhecimento nos alimenta e nos torna cada vez mais forte e convictos da nossa luta e da
necessidade de continuar caminhando. O conhecimento nos une e nos fortalece.

O outro factor chave é o capital. Capital a significar valor monetário ou bens e serviços que
possuimos e que nos podem permitir adquirir e satisfazer as necessidades e os interesses que
almejamos. Para a acumulação do capital e seu possível reinvestimento o trabalho é o elemento
chave. Contudo para que tudo isso se materialize deve existir um ambiente que permita
oportunidades justas e equitativas para que todos possam exercer tal trabalho e possam
dignamente usufruir dos benefícios do seu esforço. É qui onde reside o centro da nossa
intervenção: as organizações internacionais são importantes para os camponeses e o contributo
crítico dos camponeses é fundamental para as organizações internacionais.

Os camponeses são cidadão com direitos e obrigações. Os camponeses, como classe


trabalhadora, necessita de: matéria prima, instrumentos de produção, mercado e capital. Quer
dizer os camponeses não são uma entidade isolada. Os camponeses precisam de interagir com o
mundo (com os processadores, com os consumidores, com o meio ambiente, com os legisladores,
etc). É nessa interacção, com vista a mudança de políticas e promoção de interesses de sua classe
que os camponeses devem interagir com as organizações internacionais. Indicamos as Nações
Unidas e suas agências: o Banco Mundial, o FMI, a FAO e a OMC como sendo algumas das
quais os camponeses têm maiores interesses em ver que estas estabeleçam normas que concorram
para a satisfação das suas necessidades e interesses. Ignorar estas instituições seria imprudente.
As organizações da sociedade civil para a sua actuação carecem de aprovação pelos respectivos
Estados e não são actores in structus sensus do direito internacional. Quer dizer não são membros
de plenos direitos das organizações internacionais. Isto é não votam e nem podem ser eleitos para
cargos de liderança destas organizações – dado estas serem organizações governamentais.
Contudo podem e devem influenciar as suas decisões.

As políticas e as normas estabelecidas pelas organizações internacionais (aprovadas pelos


Estados membros) apresentam um caracter vinculativo para todos os Estados que assim o
aceitaram (ractificaram). Uma vez ractificado os cidadãos (ou Estados) são obrigados a

22
Comandante revolucionário, nascido na Argentina a 14 de Junho de 1928 formou-se em medicina mas logo cedo
demontrou capacidade para escrever e dedicar sua vida pela luta da causa nobre dos povos: a liberdade.

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cumprirem com tais normas. Isso tem implicação directa na forma como os camponeses
pretendem praticar a agricultura, alimentar-se, vestir, comprar e vender suas mercadorias e
governar-se.

A mudança de políticas destas organizações internacionais é que vai permitir que elas agem de
acordo com os interessess defendidos pelos camponeses e promovam o desenvolvimento
sustentável e equitativo.

V. Conclusão

As organizações internacionais são organismos governamentais que regulam as actividades a


nível internacional para, primariamente, os Estados membros. Fazem-no através do
estabelecimento de normas nas diversas áreas sob seu mandato: financeira, comercial, produção
de alimentos, meio ambiente, etc. Porque os camponeses são cidadãos com interesses necessitam
de interagir com outros sectores para a salvaguarda das suas necessidades. Para que isso aconteça
a negociação com as partes envolvidas (governos e organizações internacionais) é fundamental.
Para que a negociação seja frutífera é preciso construir o poder de negociação. Este poder
implica o domínio do conhecimento e a posse do capital (produzir, processar, vender e reinvestir
na produção).

Para os movimentos sociais de camponeses, enquanto que reconhecendo a radicalidade de seus


posicionamentos, julgamos relevante a adopção de uma estratégia de aliança (inside and outside
strategy) com os que abordam a estratégia de engajamento crítico com as organizações
internacionais.

Assim, julgamos que para que tal engajamento crítico (lobby e advocacia) tenha lugar os
seguintes momentos são chaves:
1. Participar das reuniões ministeriais da OMC
2. Tomar parte das conferências regionais (a cada 2 anos) e internacionais de alto
nível da FAO
3. Participar da monitoria da efectividade dos programas do Banco Mundial e do
FMI
Para que isso se torne possível os camponeses organizados devem promover a política de
alianças com movimentos e organizações que comunguem dos mesmos valores mesmo que não
em termos de estratégias de intervenção. Devem estabelecer contactos com representantes destas
organizações internacionais nos países e ao nível regional e internacional.

A luta continua!

Campanheiras e companheiros
O nosso fraterno abraço e muito obrigado.

Amade Sucá e Filipe Pequenino

VI. Bibliografia

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Organizações Internacionais e o empoderamento dos camponeses – Formação de lideranças camponesas – Marracuene 21 de Julho de 2008

1. Landes, David S (1999 ). A Riqueza e a Pobreza das Nações. Porque são algumas tão
ricas e outras tão pobres. Trad. Lucínia Azambuja.Trajectos. Gradiva
2. Nova História, 9º ano, Porto Editora, Natércia Crisanto, Isabel Simões, J. Amado Mendes
3. NASSER, Rabih Ali. A OMC e os Países em Desenvolvimento.Ed.Aduaneiras.2003.
São Paulo.
4. PANTHER Harvill (2000). Ernesto Che Guevara. The African Dream. The diaries of
the revolucionary war in the Congo. Trad. Patrick Camiller.
Internet:
1. http://pt.wikipedia.org/
2. http://www.un.org/
3. http://www.worldbank.org/
4. http://www.fao.org/
5. http://www.imf.org/
6. http://www.wto.org/

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