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Felipe Álvares
O
Rio Grande do Sul apresenta um mercado de música instrumental re- e Quarteto Gauderiando, são alguns de espetáculo. No estado são realiza- lenda, e nem imaginava que pudesse ter um autor. Foi
em sua história uma notável gional em nosso estado, despertando o exemplos desta leva de trabalhos auto- dos anualmente mais de 30 festivais de então que me apareceu o Chico Sosa com informações
produção de música instru- interesse de gravadoras e cativando um rais de música instrumental. música, entre os quais nestes apenas de suas pesquisas, apresentando-me um santa-marien-
mental. Desde o começo do século XX, seleto público em todo o Brasil. Nos últimos anos é possível notar dois privilegiam esse segmento, que é se ilustre, mas que eu desconhecia: João Cezimbra Ja-
já se encontram registros de trabalhos O instrumental gaúcho tem como um relevante crescimento deste seg- o Seival Instrumental na cidade de São cques. Isso não era um demérito apenas meu, mas de
que desenvolvem este gênero musical base para a construção de sua estéti- mento musical, por parte de artistas e Lorenço do Sul, e o Musicanto, em San- grande parcela da comunidade. Desde então passei a
no Estado, estes, com diversas tendên- ca musical a forte influência da música grupos que se propõem a desenvolver ta Rosa. me dedicar ao resgate da imagem do autor do texto
que deu origem ao que hoje continuamos a chamar de pelo Delci Taborda, com uma apresentação impecável A partir da definição do diretor Bebeto Badke,
cias, que vão da música regional à mú- argentina e uruguaia. Milongas, Cha- esse trabalho. Esses encontram espaços Apesar dessa constatação de carên-
Lenda de Imembuy. do Grupo Irapuá – o que pode ser conferido no disco foram sendo definidos os artistas que deram o ma-
sica erudita, passando pelo jazz e por mamés, Rancheiras, Chacareiras e Va- de atuação principalmente via projetos cia de espaços destinados à música ins-
No ano anterior, eu havia escrito uma comédia mu- que o grupo lançou tempos depois. ravilhoso acabamento da peça: arranjos geniais do
ritmos oriundos de países europeus. neiras se misturam aos Sambas e Bai- que incentivam a cultura (Lei Rouanet/ trumental regional rio-grandense, o es-
sical, Santa, com músicas do Otávio Segala. O diretor Muita água rolou por debaixo do viaduto do Itaim- Ricardo Freire, percussão liderada pelo Zé Everton,
A música instrumental “regional” ões brasileiros. Ainda em alguns casos Lic-estatual e municipal), e incentivo tado deve privilegiar esses artistas que
teatral João Pedro Gil e seu grupo de teatro Ditiram- bé até que o texto foi parar nas mãos do meu parceiro vocais e protagonistas: Gisele e Maninho para o ca-
rio-grandense tem, entre as décadas de é perceptível a presença de elementos vindo através de editais de grandes em- são dignos de grande orgulho para essa
bos, mais o Grupo Presença levaram a palco, com o Otávio Segala, que, em 1997, compôs as melodias para sal Imembuy-Morotin, Deborah Rosa para a matriarca
1960-70, um importante momento de do jazz e da música erudida. Assim, presas como a Natura, Petrobras, Caixa terra, e também entender que, apesar
Pedro Freire Jr. no papel principal. Foi um excelente a peça, pouco antes de viajar para o Japão. Depois dis- Ibotiquintã, Pedro Ribas para Acangatu e Piriska Gre-
fomentação e divulgação do gênero, no feito uma “terra de contrastes”, forma- Econômica Federal, entre outras. das dificuldades, o desenvolvimento
momento cultural, e eu me entusiasmei para produ- so, como terminara o meu doutorado, retornei às ativi- co como pajador. Sendo um espetáculo coreografado,
qual acordeonistas como Irmãos Ber- se esta música que faz do instrumento Sem contar com esses incentivos deste gênero está se consolidando, tan-
zir um outro texto. Foi aí que ocorreu de transformar dades na UFSM e também à luta sindical, na diretoria o grupo da Escola Royale, liderado pela Daniela Nas-
tussi, Itajaíba Mattana, Tio Bilia e Jea- uma voz, denunciando através dos sons culturais, a música instrumental de to ao considerar a produção artística
Imembuy em peça teatral, revigorado o interesse a par- da Sedufsm. Em 2001, assumi a Secretaria de Cultura cimento, e o pessoal da dança de rua, comandado por
nette se desatacam no cenário musical sua procedência. nosso estado fica praticamente sem existente, quanto a formação de um pú-
tir das esclarecedoras informações a respeito de seu do município, e, então, só em 2006 retomei o projeto Fernando Cerpa, deram o colorido e a dinâmica que
do estado. Nas décadas seguintes, 1980- Atualmente, este cenário vem ga- “pai nem mãe”, pois são raríssimos os blico atento e sensível a essa expressão
autor. Não era a primeira vez que eu me interessava para viabilizar uma apresentação no sesquicentenário o espetáculo pedia, numa gostosa mistura de estilos,
90, destacam-se grandes instrumentis- nhando novos e bons trabalhos que espaços para a viabilização desse tipo artística.
pela personagem símbolo de Santa Maria. Eu já havia de Santa Maria. A parceria com a Chilli foi fundamen- pensada por Badke. Para não esquecer o amigo que
tas como Albino Manique, Edson Dutra, contribuem para a formação de uma
escrito uma letra que foi musicada pelo Nelson Pessa- tal para isso: encaminhamos para as Leis de Incentivo, me socorreu a tempo, o Chico Sosa foi parar no palco,
Gilberto Monteiro, Oscar dos Reis, Luiz nova safra de música instrumental
no de Souza, o Canário, que chegou a ser apresentada a LIC-SM e a Lei Rouanet, do MinC, em 2007. Com o a caráter, como o próprio Cezimbra Jacques. Quem
Carlos Borges, Geraldo Flach e Renato gaúcha. Os violonistas Yamandu Cos- Felipe Álvares é músico graduado pela Universidade Federal de Santa Maria (RS). Atua
no palco da Tertúlia, quando ainda era realizada ali no parecer favorável da Funart, o apoio logístico do gabi- viu, sabe que a cidade ganhou um espetáculo digno de
Borguetti. ta, Marcello Caminha e Mauricio Mar- nos palcos e estúdios da música nativista rio-grandense, participando como músico de
Cine Glória, e infelizmente, inacreditavelmente, não nete do Deputado Paulo Pimenta, foi possível investir seu nome, feito por gente que adora este lugar chama-
Esses artistas ajudam a construir um ques, os acordeonistas Luciano Maia e apoio em shows, gravações e festivais. Além da música sulina, trabalha com música ins-
foi classificada. Uma excelente composição arranjada na possibilidade concreta de realizar o espetáculo. do Ibitory-retan – Terra da Alegria.
amplo e qualitativo repertório e formam Elias Rezende, e os grupos Quartcheto trumental, integrando o Quarteto Gauderiando.
ARQUIVO PESSOAL
tudo aquilo que não se via
no interior.
novidade
Vida e arte:
Um coração que sinônimo de artista
canta e andarilha Denise Coppeti
Vinícius Brum
No pequeno município de Alegria, localizado no interior do Rio
Grande do Sul, a infância dos pequenos filhos de imigrantes nunca Mas foi naqueles anos de magistério o primeiro O Cemitério dos Barbosas, 5665: Destino Philipson,
Um andarilho é sempre um viajante e, sendo assim, um descobridor, foi fácil. grupo de teatro. E a força da professora/patroa/amiga Jurema, Segredos...
um inventor de caminhos. E quem anda com o coração vai-se a reco- Vida de quem vive no interior, na roça, com muitos irmãos Fátima dizendo: você deveria fazer artes cênicas. En- Muita gente diz que a cultura em Santa Maria vai
lher impressões, catalogar fumaças, perscrutar signos, fazer da pulsa- e poucos recursos. Com pais que sempre incentivaram o estudo, tão o vestibular numa Universidade Federal, primeiro de mal a pior, que a cidade cultura é isso e aquilo. Mas
ção, do sangue, da terra e da alma o amálgama das notícias que reparte dizendo que seria a única herança que deixariam – a oportunidade o curso Filosofia, e depois, Artes Cênicas, uma turma se pararmos para olhar com um pouquinho de aten-
fraternamente com sua aldeia. de estudar. de vinte colegas. ção, enxergamos uma porção de gente lutando e tra-
Ao ouvir este Andarilho Coração que canta pela voz tranqüila e cris- Das lembranças que ficam: o cheiro da terra capinada, dos le- Na Universidade foram tempos novos, novas com- balhando pela arte e pela educação. As experiências
talina do Tuny Brum, parece que são múltiplas as vozes desse canto e gumes colhidos na hora, do pão da avó, das caminhadas de casa panhias, Casa do Estudante, bolsa no HUSM, o primei- no festival de cinema SMVC e no Santa Cena puderam
são infinitos os olhares que nos miram desde nossos rostos imersos na à escola, e não era perto. Em épocas sem transporte escolar, eram ro computador. Tempos de descobrir tudo aquilo que aprovar a quantidade de pessoas comprometidas com
poeira que nos despe e nos dá forma. Sua canção faz um inventário de dezesseis quilômetros por dia, ou, a carona do leiteiro, que em dias não se via no interior. Conhecimentos, desafios e opor- a cultura na cidade. Foram seis anos de conquistas ao
humanidades por dentro da paisagem de chuva dava uma colher de chá pra gurizada chegar até a escola. tunidades. Tudo aconteceu sem muito planejamento e lado de ótimos amigos e outros tantos grandes profis-
rural que ainda resiste neste lugar ao sul Ir na frente do caminhão – a primeira classe – só para as meninas. era pra ser assim mesmo, a vida tem seu próprio rumo, sionais.
da nossa cultura. Bem antes de inventarem as conhecidas pets de “refri”, quanta os caminhos foram me levando em uma direção que As experiências com o teatro infantil, o Pandorga
Tuny Brum, em sua argúcia cancio- sede ao voltar a pé em pleno verão, sem uma gota d’água. Entre eu jamais imaginaria. da Lua, a Escolinha da Gabi, As Invenções. Risos e
nista, vai tecendo os temas de seus par- estudar, plantar, colher, limpar, brincar e cuidar dos irmãos mais Em 2001 a formatura de gabinete, da turma origi- abraços inesquecíveis.
ceiros com rara sensibilidade: do aman- novos, a idéia de ser atriz nem passava pela cabeça, ainda mais nal só eu como formanda. Nesses anos todos, muitos personagens: mães, fi-
te incurável Zezé Torquato à Fome do pra quem não tinha acesso a bons livros ou qualquer tipo de arte. Foi a partir daí que surgiu a possibilidade de ficar lhas, esposas, Marias, Camilas, Carminelas, Tortilhas,
Tocaio Ferreira, do lirismo arrebatado Cinema, então, era coisa de outro mundo. Teatro só o do colégio e em Santa Maria, trabalhar na área cultural, mesmo sa- Laurindas, Anas, Gabis... mas no fundo, sempre a mes-
DIVULGAÇÃO
do Carlos Omar Vilela Gomes, da gau- que nunca passavam de jograis. bendo das dificuldades. ma Denise, com aquela inquietação de artista, de fazer
chidade do Érlon Péricles, tudo cabe A esperança de ter um futuro diferente era fazer magistério e O primeiro teste para o cinema resultou na expe- da vida uma arte, da arte uma profissão e da profissão
em suas melodias finamente acabadas e para isso precisava deixar a casa dos pais, e assim viver dois anos riência de atuar na grande tela, chance dada pelo sau- um sonho. Inquietação, de um dia poder levar de volta
surpreendentes. Ele sabe que a casa primordial é essencialmente irre- em um internato, e ainda dizer que queria ser freira só pra poder doso Sergio de Assis Brasil e sua Manhã Transfigura- para a pequena Alegria, um pouco de arte e sonho.
tornável, mas sua criação nos devolve-a no aqui e no agora em sua úni- estudar. Mas isso não durou muito - então mudar novamente de da. Depois foi mais fácil, parecia que ficar na frente da Para que outras meninas possam sonhar o que nunca,
ca e melhor possibilidade. Cada coração que o escutar há de perceber cidade, ser doméstica ou babá e por mais dois anos a batalha para câmera já não causava tanto estranhamento, seguiram eu mesma pude imaginar.
o universo andarilho que nos atravessa e inaugura os sóis e as luas de acabar o magistério. as participações em curtas, como: Cinzas da Historia,
cada emoção. Parodiando o imortal Antonio Augusto Ferreira: ...taí o
coração feito uma sanga: quem souber beber há de descobrir a sede...
Panorama
Karla Brunet viaja registrando o
mundo. A seguir, podemos observar
um pouco do seu trabalho desenvol-
vido nas cidades de Barcelona (Espa-
nha) e Salvador (Brasil).
“parte
As fotografias fizeram
de uma exposição aqui
em Salvador (BA) chamada
‘transições bcn<<>>ssa’.
São fotos feitas com câmera
de plástico lomo das cidades
de Barcelona e Salvador, são
um marco do meu período
de transição entre um país e
outro, uma cidade e outra.”
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10 .. Chiliguidum
Chiliguidum número 01
número 01 .. 2009
2009 número 01 . 2009 Chiliguidum . 11
12 .. Chiliguidum
12 Chiliguidum número 01 . 2009 número 01 . 2009 Chiliguidum . 13
ENTREVISTA Ao lado, cartum premiado no con-
curso do jornal Yomiuri Shimbum, de
Tóquio, em dezembro de 2005.
Palcos do Sul
ao longo do tempo, assim como a vida de uma árvore. ciação, análise e crítica para o artista e para o público.
contribuíram para a criação do seu próprio cancionei- Um dia, semente – o princípio de uma vida, de um Um privilégio de continuar cantando a riqueza desse
ro, estimulando o autoconhecimento e a descoberta da povo, de uma história. Quando vinga, imediatamente cancioneiro com gratidão e responsabilidade, através
sua identidade – a de missioneiro, fronteiriço, campei- de uma linguagem regional e universal, comprometi-
se liga ao seu local de origem. Cria raízes. Apesar de
ro, litorâneo, serrano e urbano. Acima de tudo huma- dos com o exercício da arte como cultura e educação e
ser fixa, nunca deixa de se aprofundar. Extrai do solo
No Sul mais sul do Brasil, incontáveis momentos, pessoas e lugares ao no, sensível e agradecido. Gaúcho e brasileiro. encarando as nossas expressões e manifestações mais
os elementos fundamentais para o seu crescimento e
longo do tempo foram palcos de muita música e poesia. Formas de arte Um gaúcho criativo e talentoso que cantou a felici- sinceras de hoje como contribuições para os futuros
se fortalece. (Aí está a tradição: a pesquisa da origem,
que expressaram, escreveram e registraram na história, na mente, na dade, a prenda minha, o amor, a saudade. O céu, o sol, frutos dessa infinita árvore cultural.
o estudo profundo, constante e contínuo da verdadeira
alma e no coração de muita gente a vivência, os costumes e os senti- o sul, as manhãs, o entardecer, as luas, as estrelas e as E, como o próprio nome diz, todas essas informa-
história da cultura de um povo). Junto a esse processo
mentos mais sinceros de um povo. Estes palcos nasceram da intenção noites mais azuis. As carretas, os bois, o cavalo, o ran- ções deságuam em um show rico e criativo, onde a
desenvolvem-se o caule e os ramos, cujas caracterís-
mais pura de quem amou sua história e sempre mostrou gratidão pelo cho, o rio, o açude, o campo, os homens de preto. As emoção, o prazer e a sensibilidade se unem a uma reu-
ticas podemos destacar força, flexibilidade, sustento,
pedaço de chão que herdou com tanta luta nesta aldeia global. origens, as cidades, o futuro, o tempo, o vento, a terra, nião de amigos e profissionais dispostos a se expressar
caminho e alimento para as folhas e frutos que virão.
As influências de outros povos foram bons ventos que passearam o fogo e o ar. Os Rodrigos, as Bibianas e os Cambarás, e viver a universalidade da autêntica música gaúcha
(Aí entra a importância do folclore: estudo e caminho
por estas terras. Sóis que nunca conheceram fronteiras, luas que sem- heróis e tradições, histórias e lendas, as mulheres que brasileira, reunidas num palco ímpar e plural: “Palcos
pre foram sinônimos de luz e inspiração, chuvas que regaram o solo da são belas, os verdes pampas e o mar. A infância, o guri, da evolução que provém das raízes e se expande atra-
vés dos galhos da diversidade cultural, servindo de do Sul”.
criatividade e o agradável canto dos pássaros que embalaram a alma e o moço e o veterano, a gaita, o pandeiro, a rabeca e o
a imaginação do gaúcho, recebidas como contribuição e estímulo para violão. Os bailes, as danças, o churrasco e o chimarrão, sustentação, estímulo e alimento para o grande fruto
o desenvolvimento da história e a construção de uma nova cultura – a o cusco amigo, a bicharada. Da semeadura à colheita, que é a arte e cuja flexibilidade desta forte estrutura
do gaúcho brasileiro. do esquilador ao ginete, do jogo de truco ao jogo de impede que outros ventos a derrube). Uma árvore as- Ricardo Freire é músico, compositor, tecladista, ar-
fole, “– A la pucha, tchê! Pára Pedro! Quanta coisa pra sim é sombra, alimento e abrigo para quem acampa ao ranjador e diretor musical (www. ricardovfreire.com).
se cantar! Oh de casa, só falta dizer agora que até Deus seu redor, uma fonte inesgotável de renovação do ar, Elias Monteiro é cartunista, ilustrador e autor de
é gaúcho!” da arte e da vida. livros infantis.
FRANCIELE COCCO
Muitos dos novos proprietários dessas do Sul, entre outras, é nos cineclubes
salas têm procurado fazer parcerias di- que o público encontra o filme na tela
retas com diretores, cineclubes, centros e consegue dar vazão à sua vontade
DIVULGAÇÃO
culturais, escolas e faculdades. Dessa de assistir a filmes e discutir sobre eles
forma, procuram diversificar suas pro- com outras pessoas. Ser cineclubista é
gramações, antes apenas restritas à uma filosofia de vida. É nesses espaços
imposição dos grandes grupos distri- que vemos os filmes, sim como entrete-
buidores, essencialmente americanos. nimento, mas para muito além, um ato
Ao encontro disso, está o movimento de reflexão, de provocação e de concor-
cineclubista brasileiro, que, em 2008, dância ou não com aquilo que está na Pré-estréia do filme “Netto e
Uma nova forma de assistir filmes celebra 80 anos de atividades, mar-
cando sua trajetória pela abertura das
tela. Além disso, vindo ao encontro da
tradição cineclubista, cada vez mais es-
o Domador de Cavalos”, em
outubro de 2008, no Cineclube
telas para a cinematografia brasileira e ses têm promovido o contato direto do Lanterninha Aurélio, da CESMA.
Luiz Alberto Cassol também para demais cinematografias público com diretores, atores, produto-
que não recebem espaço de exibição, res, formando uma cadeia de reflexão
demonstrando sua política alternativa constante e provocativa. Elias. Por outro lado, Santa Maria ficou do numa dessas salas, em parceria com
Com o advento da internet, houve quem do século que recém termina, algo pior ao mercado. E numa forma completa- Em Santa Maria, temos uma situa- sem sala de cinema comercial por qua- o longa-metragem “Valsa para Bruno
falasse que os jornais e livros poderiam foi decretado: o fechamento desses mente contrária à das salas tradicionais, ção muito especial que ilustra o que foi se um ano e foram os cineclubes que Stein”, do cineasta Paulo Nascimento,
acabar. Porém, o hábito de comprar espaços. Pois a magia da sala escura fazem com que as pessoas escolham o dito até aqui. Dois cineclubes mantém mantiveram o hábito de assistir filmes que foi rodado em Caçapava do Sul.
um jornal em uma banca ou ir até uma e o ato de ir ao cinema vão continuar filme que desejam ver e participem das suas atividades semanais: o Cineclube numa grande sala escura junto com ou- Após o lançamento, os filmes ficaram
livraria para escolher um livro é abso- existindo. Sempre! E um dos principais programações. Agora as cidades de pe- UNIFRA, com sessões todos os sába- tras pessoas. No início de 2008, a em- três semanas em cartaz e demonstra-
lutamente insubstituível. No caso de fatores para que isso aconteça são os queno e médio porte percebem e ado- dos e o Cineclube Lanterninha Aurélio, presa Movie Arte Cinemas reabriu as ram que o público deseja ver e refletir
assinantes de revistas ou jornais, a ima- cineclubes. tam em suas rotinas o ato de ir a um projeto cultural da Cooperativa dos duas salas do Santa Maria Shopping. Os sobre produções locais que o aproxi-
gem dos impressos na entrada da porta A partir do início do novo século, cineclube e isso ecoa na sociedade e Estudantes de Santa Maria – CESMA, diretores da empresa, Beto Rodrigues e mem de histórias, cenários e paisagens
é um momento de fascínio que marca eles voltaram com força. Principalmen- faz com que a abertura das novas salas com sessões todas as quartas, e que, Cícero Aragon, que também atuam em que fazem parte de seu cotidiano. Os
as manhãs. Da mesma forma, o ato de te, nas cidades de pequeno e médio comerciais procurem abrir espaço para em 2008, juntamente com a Coopera- entidades do audiovisual gaúcho, abri- cineclubes sinalizam o caminho faz al-
assistir filmes em salas de cinema, faz porte pelo país, os cineclubes têm sido novas programações, invertendo a lógi- tiva, está comemorando 30 anos de ati- ram os espaços com novas propostas gum tempo. O caminho começa a ser
algum tempo, teve seu fim decretado. a grande alternativa para que o público ca dos grandes grupos que impõem o vidades. Vários lançamentos de filmes de parcerias e um conceito de respeito compartilhado. O público agradece.
Tudo isso dito em função da televisão e, tenha acesso ao universo do cinema. que deve ser visto. Isso é uma compro- acontecem no Lanterninha Aurélio. Para e aproximação com o público. Permito-
hoje, do avanço das novas mídias e da Isso é uma revolução cultural. Mais do vação de que o conceito de cineclube, ficar num exemplo, bem recentemente, me um exemplo bem pessoal para de-
Joel Cambraia, protagonista do comodidade de assistir filmes em casa. que isso. Essa forma diferente de exibi- um local onde as pessoas se encontram em outubro, o filme “Netto e o Doma- monstrar isso. Em junho, recebi o convi- Luiz Alberto Cassol é Diretor de ci-
curta-metragem “Fome de Quê?” Nas salas comerciais de cinema, a partir ção da convencional sala de cinema tem para assistir e debater cinema, irá se dor de Cavalos”, de Tabajara Ruas, teve te para que um curta que dirigi, “Fome nema e publicidade, Vice-Presidente
(Santa Maria, 13min, 2008, 35mm). da segunda metade dos anos noventa provocado um movimento contrário ao perpetuar. Em algumas cidades gaú- pré-estréia com a presença do diretor e de quê?”, que teve todas as suas cenas do CNC (Conselho Nacional de Cine-
chas como Santa Maria, Pelotas, Santa dos atores Sirmar Antunes e Evandro gravadas em Santa Maria, fosse lança- clubes Brasileiros).
Vida de
Sinfônica de Santa Maria estou desde 1988, mas já a Orquestra Sinfônica de Santa Maria, a primeira or-
era músico da Orquestra desde 1978. A partir de 88, questra existente no interior do Estado. A Orquestra
passei a reger, sob a orientação do Maestro Frederico é uma escola de formação de músicos, forma músicos
Richter e ocasionalmente guiado por outros maestros para o país e mundo. A música faz parte da minha vida,
Maestro
visitantes, convidados da Universidade. A vida de ma- ou a minha vida faz parte da música.
estro é agitada, mas a desempenho com muito gosto.
É preciso dedicação, disciplina, pois a maior e mais Aline Haas
importante parte do trabalho do maestro vem antes do Maestro Enio Guerra é professor da UFSM e re-
Ao centro,
Maestro Enio
Guerra.
Vancouver é uma cidade de culturais são promovidas nas lhares de visitantes. Um valor Entretanto, apesar de ser
médio porte considerada ruas. Em várias estações do justo para uma arte de ótima uma excelente oportunidade
um pólo cultural no Canadá. skytrain (metrô) podem ser en- qualidade. artística, a população santa-
A cidade, que tem cerca de contradas, diariamente, pesso- A um custo bem mais bai- mariense não valoriza a cultu-
550 mil habitantes, possui as que ganham a vida com a xo (ingresso zero) e com um ra. Enquanto em Vancouver se
mais de 20 galerias de arte e arte naquele espaço, contando número reduzido de obras, paga entre $5,00 e $20,00 para
museus, sendo uma delas a apenas com a colaboração da Santa Maria possui a mesma visitar uma exposição (aproxi-
VancouverArtGallery, a quinta população. oportunidade artística. Anu- madamente R$8,00 e R$35,00
ACERVO ORQUESTRA SINFÔNICA DE SANTA MARIA
maior galeria de arte do país. De 17 de maio a 7 de se- almente, em setembro ou hoje), em Santa Maria poucos
A cultura aqui é muito va- tembro de 2008, a Vancouver outubro, a Chili Produções participam de um evento cul-
lorizada, a programação cul- ArtGallery sediou uma expo- Culturais promove o Cartucho tural gratuito.
tural é vasta e a população sição de Cartuns: Krazy. Com – Encontro dos Cartunistas
participa ativamente. Além um ingresso que variava entre Gaúchos, demonstrando o
das exposições em museus e $5,00 e $20,00, a exposição quanto a produtora está ante- Aline é formada em Relações Públicas e atualmente faz intercâmbio
galerias, diversas atividades contou com a presença de mi- nada na arte mundial. em Vancouver no Canadá.
24 . Chiliguidum número 01
dezembro de. 2009
2008 número 01 . 2009 Chiliguidum . 25
MÁUCIO
Rose Carneiro
Eduardo Guedes Pacheco
Carrinhos
ARQUIVO CHILI
de lomba
Projeto Escolinha da
Gabi: uma parceria
UFSM/MEC.
Em tempos de avanços tecno- existência saudável. Presente ças dos nossos bairros periféri- são convidados a conhecer to e das suas potencialidades,
lógicos, velocidade de infor- em tantas falas, discursos, pu- cos. É importante ressaltar que lugares, pessoas, situações, possam ter nas suas próprias
mação, mudanças de hábitos blicações e oportunidades de não estamos negando a im- culturas e sonhos, além da mãos as decisões que se refe-
e costumes, um dos mais an- propaganda, a educação e a portância do aprendizado de possibilidade da criação de rem às suas vidas. Para que isto
tigos desafios da humanidade saúde são aspectos que mere- matemática ou ciências, mas outros mundos, outras reali- possa acontecer, é fundamen-
persiste em fazer parte do ce- cem um cuidado especial dos o desenvolvimento integral do dades. Também é através da tal que elas tenham a chance
nário contemporâneo. dirigentes políticos nas suas ser humano acontece quando imaginação que os envolvidos de exercitar suas formas de
A nossa sociedade ainda ações administrativas. Não é este é provocado a pensar o exercitam suas capacidades pensar, seus imaginários e sua Uma tábua e quatro rolimãs. Isso bastava para criar um carrinho
não conseguiu suprimir a po- necessário lembrar da impor- mundo através dos diversos cognitivas em uma prática que criatividade. O contato com a e descer as ladeiras das ruas e calçadas. O tempo passou, o brin-
breza em grande escala. Um tância destes serviços para o aspectos que o compõem. A exige a participação coletiva e arte pode contribuir de forma quedo foi ganhando outras formas. Há 4 anos o Projeto Recriar
número significativo de seres bem-estar de uma população. arte se apresenta, nesta pers- coloca em movimento senti- singular com estes propósitos. – Carrinhos de Lomba, do Curso de Desenho Industrial da Uni-
humanos não tem acesso aos Mas, tão importante quanto, pectiva, como uma lingua- mentos, sensações e emoções, Desta forma, propiciar arte, versidade Federal de Santa Maria (RS), realizou o primeiro evento
benefícios que o mundo atual o acesso ao fazer artístico se gem expressiva que pode ter tornando este fazer um exercí- criar palcos acessíveis, apre- para reviver as aventuras de brincar com um carrinho de lomba.
oferece para aqueles que têm apresenta como uma forma as suas funções voltadas para cio integral de desenvolvimen- sentar, criar, cantar, encenar, Anualmente, a proposta envolve os acadêmicos na pesquisa de
um poder econômico que pos- indispensável para que possa- além dos momentos de lazer. to humano. pintar se colocam como aspec- brinquedos antigos. Durante a disciplina, eles desenvolvem pro-
sa sustentar a aquisição de bens mos produzir inclusão social O fazer artístico pode se apre- Incluir socialmente não se tos fundamentais e indispensá- jetos de design, fazendo uma releitura de Carrinhos de Lomba,
e serviços. Tão real quanto as no nosso país. São passados os sentar como uma possibilidade refere a criar uma massa de veis na formação das crianças tendo como objetivos novas soluções técnicas e novas propostas
novas relações econômicas, tempos em que se acreditava de entender e interferir nas re- pessoas com capacidade de da nossa cidade. conceituais. Ao final do semestre, os brinquedos são levados à rua
políticas e sociais que emer- que somente o contato com alidades das quais as pessoas compra, mas, sim, oferecer para a interação com a comunidade, e não tem idade para brincar,
gem da presente realidade é a áreas de conhecimento volta- fazem parte. Além de ser um oportunidades de que estas crianças e adultos se divertem nos carrinhos dos mais diferentes
falta de acesso de uma grande das para o desenvolvimento da alimento indispensável para a possam se desenvolver en- formatos: frigideira, banheira, tênis, entre muitas outras maluqui-
parte da população a situa- razão eram significativas para imaginação, pois é através do quanto seres pensantes e que, Eduardo Guedes Pacheco é ces criativas. Depois do evento, os brinquedos são doados para
ções fundamentais para uma o desenvolvimento das crian- seu fazer que os participantes através do seu desenvolvimen- músico e educador. instituições sociais e se transformam na alegria da gurizada.
Paris, je t’aime!
bém a rue Mouffetard, de traçado irregular e comércio
das mil e uma noites. Ou os espetáculos do Théatre de
La Ville (lá onde a Sarah Bernardt se consagrou!) na
place du Châtelet. Depois é só escolher entre as mais
de 200 cervejas do Trappiste para encerrar a noite,
acompanhado de batatas fritas e mexilhões.
Bebeto Badke Bloom e percorrer as ruas da minha Paris. Na época Pois é, tanto texto e até agora não falei de cafés,
em que o grande escritor irlandês escreveu Ulisses, boulevards, Champs Elysées e Moulin Rouge. A mi-
a terra ainda era um planeta a ser descoberto. Hoje, nha praia é outra. É no Sena. Se você quer saber mais
basta um clique no Google Earth e cá estamos nós pas- sobre a Paris que quase não se conhece, eu sugiro um
seando por Dublin. Ou Paris. Aproveito as facilidades filme fora dos padrões: é Paris, Je T´aime (será que
da virtualidade e aconselho uma pass(e)ada pelo site preciso traduzir?). São histórias curtas sobre a cidade,
A proposta de escrever sobre um passeio cultural da prefeitura de Paris (www.paris.fr), com versão em contadas por diferentes diretores de países distintos.
em Paris é, no mínimo, insólita. Como descrever em espanhol. É só ir até o link sobre cultura e conferir as Se eu fosse um deles, a Paris que eu amo seria a capital
palavras e fixar no papel as impressões sobre uma principais atrações. Uma barbada! da cultura, da diversidade e da tolerância. Pois é, sou
cidade milhares de vezes retratada, pintada, filmada, Bueno, a idéia é que eu dê meus pitacos. Começo um romântico! Afinal, ainda precisamos acreditar em
cantada, declamada e fotografada? Talvez só o Rio de pelo óbvio: o Museu do Louvre (www.louvre.org) que alguma coisa. Eu aposto na força do ser humano, que
Janeiro tenha merecido tamanha distinção, ou New eu jamais cansei de visitar. Se você tiver apenas 30 construiu Paris. Um dia, aqui no Brasil que eu amo,
York, New York. Eu sempre digo que, se Deus criou minutos, força no aplique: veja a Mona Lisa (La Gio- também chegaremos lá!
o Rio – e que o Cristo Redentor me proteja –, o ho- conde para os français!), a Vênus de Milo e o Escriba
mem fez Paris. Mas nem sempre essas criaturas eram Sentado. Se for fanático pelo Egito, Roma e Grécia, fi-
francesas. Napoleão, por exemplo, nasceu na ilha de que uma tarde inteira. Se você for como eu, e adorar os
Córsega – região que até hoje luta para ser indepen- retratistas belgas e holandeses, acrescente mais umas Bebeto Badke é Jornalista, produtor e diretor de
dente. Catarina de Médicis, que fez história, filhos que duas horas. E se gostar de castelos medievais, não per- espetáculos, professor universitário, assessor de
se tornaram reis de França (três!) e mandou construir ca o Louvre Medieval, descoberto durante as escava- imprensa e mestre em Ciências da Comunicação.
as Grandes Galerias do Louvre por mero capricho, era ções da pirâmide de vidro que causou tanta discussão
“Creio que só fui convidado a escrever sobre a Cidade-Luz
italiana – florentina, é claro, o berço da Renascença!! no final dos anos 80. Pronto: você ficou um dia inteiro
porque morei lá durante cinco anos. E fiz todos os passeios
Enfim!! Todo esse longo intróito é mera descul- lá dentro e nem cruzou com o Tom Hanks do Código
que recomendo. Só ao Louvre fui mais de 20 vezes!”
pa. Eu poderia imitar James Joyce, criar um Leopold da Vinci. Livro e filme são uma bobagem!
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