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Sinais do tempo The Boomerangomics

The Boomerangomics:
O preço de varrer o lixo para debaixo do tapete por João Moura

Uma ponte que não levava a lado nenhum: Hoje ninguém tem dúvidas que o Japão perdeu
Durante a grande depressão dos anos 30 do demasiado tempo e recursos a construir pontes
século passado Franklim D. Roosevelt aplicou que não levavam a lado nenhum sem conse-
um pacote de medidas anti crise que combina- guir despoletar a tão desejada retoma, enquanto
ram incentivos à economia, como programas de a situação se agravava.
criação de emprego; apoio às empresas e aos Até hoje o Japão não conseguiu superar essa
agricultores ou a atribuição de subsídio de de- crise, pois há bancos que receberam ajudas do
semprego, com a criação de novas instituições, governo, mas não sanearam dos balanços os
como sejam a Segurança Social; a Securities seus activos tóxicos, sempre na expectativa de
Exchange Commission (SEC); a criação de um uma nova valorização que não chegou e sem
Código e de um Tribunal do Trabalho e muitas que seja restabelecida a confiança por parte
outras que contribuíram decisivamente para dos mercados. E os mercados olham muito para
criar uma sociedade mais justa  mas não para os balanços dos bancos.
debelar a crise. A experiência mais bem sucedida deste género
Só em 1942 é que a total afectação do imenso aconteceu na Suécia no início dos anos 90 do
aparelho industrial americano ao esforço de século passado.
guerra garantiu a recuperação económica, o O governo sueco durante a crise financeira que
pleno emprego e a saída da crise. Esta inter- se seguiu ao rebentamento da bolha especula-
venção do Estado na economia foi posterior- tiva no mercado imobiliário criou a Autoridade
mente estudada por John Maynard Keynes que de Apoio ao Sistema Financeiro garantindo os
inspirado por Roosevelt criou o seu modelo pagamentos das 114 instituições do sistema
económico também conhecido por Keynesianis- financeiro que aderiram ao programa, a todos
mo. As políticas de pleno emprego defendidas os credores. Os accionistas, obviamente, não
por Keynes conduziram os EUA, bem como a estavam incluídos.
Europa Ocidental e o Japão, aos 25 anos doura- Com esta medida o Estado sueco garantiu a sal-
dos do capitalismo. Mas também as mais belas vaguarda do risco moral cortando liminarmente
histórias têm um fim. quaisquer expectativas futuras dos banquei-
Entre o final dos anos de 1970 e o inicio da dé- ros numa cobertura de prejuízos privados com
cada de 1980, Ronald Reagan e Margareth Tha- dinheiros públicos, como sucedeu no Japão e
tcher, doutrinados pelas ideias liberais de Milton acontece actualmente nos EUA e na Europa
Friedman, iniciaram o processo de desmantela- para descontentameto da opinião pública.
mento do Sistema Financeiro Mundial fundado Neste processo, o Nord Banken, então recém
em Bretton Woods que conduziu à actual desre- nacionalizado (hoje Banco Nordea) separou
gulamentação dos mercados financeiros. Ale- os activos tóxicos adquiridos pelo Estado sue-
gavam que os mercados regulados são menos co do seu Core Business, criando o primeiro
eficientes e que a busca do interesse individual Bad Bank, o Securum, onde o governo injectou
promove também o interesse colectivo. Apren- capital e nomeou uma equipa de gestores não
demos da pior maneira que isso não é verdade. comprometidos com os erros do passado.
Basta olhar para a degradação ambiental para O Estado sueco tornou-se assim dono de gran-
o perceber. Afinal, como John Maynard Keynes de parte da banca e da totalidade dos activos
dizia, "a mão invisível dos mercados precisa de tóxicos, que mais tarde, uma vez saneados os
ser corrigida pela mão visível dos Estados". balanços dos bancos num processo transparen-
No princípio dos anos 1990, o crash da Bolsa te que devolveu confiança aos mercados e com
de Toquio lançou o Japão numa crise profun- a progressiva recuperação dos mercados, voltou
da. O governo japonês interveio baixando as a privatizar.
taxas de juro e aumentando a despesa pública, O custo para os contribuintes suecos foi entre
nomeadamente despesas de investimento em 0% e 2% do PIB. (O plano Paulsson é de 5% do
grandes infra-estruturas que não criaram empre- PIB americano) E podia ter sido ainda melhor
go a prazo nem trouxeram o retorno esperado. para o contribuinte, se os activos nacionalizados ➤

Franklin Roosevelt: o Homem que inspirou o Keynesianismo


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The Boomerangomics

➤ tivessem sido reprivatizados mais tarde, pois imobiliário americano atingia o auge apresentou
as suas cotações depois da reprivatização ainda uma análise em que demonstrava que a relação
haviam de subir significativamente. histórica entre os preços e os respectivos ren-
“Mas o estigma do socialismo foi maior do que dimentos dos activos, medido pelo PER (Price
o instinto do lucro”, justifica-se agora Leif Pa- Earnings Ratio) se tinha quebrado, indicando
grotsky, que naquele tempo era líder da oposi- que o crescimento dos preços dos activos nos
ção o que não o impediu de apoiar o Governo últimos anos não estava a ser acompanhado por
sueco nesta missão de salvar a economia. A aumentos nos respectivos ganhos que o justi-
opinião pública sueca só apoiou o processo ficassem. Por outras palavras, estávamos em
porque os partidos se uniram na solução de um presença de outra bolha especulativa. Pouco
problema comum e sobretudo porque desde tempo depois rebentava a dita cuja e instalava-
o início todos entenderam que o critério que se a tempestade “Subprime” que em poucos
presidiria à utilização dos dinheiros públicos era meses se transformou num furacão à escala
minimizar o custo para o contribuinte. mundial.
Nos EUA e na UE a discussão em torno das Uma exuberância irracional, como lhe chama
orientações a dar aos estados que estejam inte- Robert J. Shiller, alimentada por uma deficiente
ressados em criar “Bad Banks” que reúnam os supervisão do sector financeiro, pela incapaci-
activos tóxicos, está a dividir os analistas. Com dade de medir o risco de crédito por parte dos
Milton Friedman John Maynard Keynes
razão. Isolar activos tóxicos, num caixote do lixo bancos, por excessos de confiança no mercado
único, “é trocar o dinheiro dos contribuintes por e por crenças emocionais sem base de susten-
lixo”, dizem os agraciados com o prémio Nobel tação científica, como o mito da eterna valoriza-
em economia, Joseph Stiglitz e Paul Krugman. ção a prazo dos imóveis, combinada com uma
Então, recapitulando: Se a solução proposta enorme desigualdade no acesso à informação
pelo modelo económico construído por John financeira, em prejuízo de quem compravam ca-
Maynard Keynes de baixar os juros e despejar sas, acções, ou participações em fundos pouco
dinheiro na economia não funciona e ainda por transparentes, foi o piparote que fez desabar o
cima existem alternativas eficazes, como a sue- edifício financeiro mundial como se de um cas-
ca, porquê que os políticos continuam a insistir telo de cartas se tratasse.
no keynesianismo para resolver as crises? Na opinião de Shiller não há democracia finan-
O homem que lê o futuro nas estrelas: Robert ceira, sem igualdade no acesso à informação,
J. Shiler, professor na Universidade de Yale, pelo que defende a criação de agências de
investigador, cronista do New York Times, escri- informação financeira subsidiadas pelos esta-
tor, especialista em mercados e gestão do risco, dos. É preciso explicar às pessoas que as taxas
responde a esta questão com uma simplicidade de juro (também) sobem e que os preços dos
comovente: “Porque os políticos adoram gastar imóveis... também descem. Curiosamente, os
dinheiro que não é deles e o modelo Keynesia- programas informáticos usados pelos bancos
Bernard Madoff Ben Bernanke
no fornece-lhes os argumentos necessários”. americanos para calcular as prestações das hi-
Em Portugal continua a discutir-se o novo potecas, não previam sequer a possibilidade de
aeroporto, a 3ª ponte sobre o Tejo, o TGV e há os preços dos imóveis sofrerem a prazo “cresci- ➤ um modesto esquema “Ponzi” - uma espécie to pela vigarice nacional, embora sem querer
quem não entenda a razão: A SLN, a holding mentos” negativos. de Dona Branca à americana - que originou parecer proteccionista. Em Espanha alguém que
que detinha o BPN até à sua nacionalização Che Guevaras do sec. XXI ou candidatos ao a maior fraude financeira de sempre: 50 mil ainda não perdeu o sentido de humor criou o
comprou 6.000 hectares em Alcochete, pasme- Prémio Nobel da Burla e da Trafulhice? A fal- milhões de dólares, uma marca notável que site www.vivamadoff.com que apresenta Madoff
se, poucos dias antes de o Governo anunciar a ta de informação sobre o risco associado a cada infelizmente vai ser batida pelo montante que como o Che Guevara do sec. XXI e o reinventa
sua decisão sobre a localização do novo aero- veículo de investimento, somada à progressiva ainda se irá apurar relativo ao desvio algures na pele do herói anti capitalista que desferiu o
porto. Parece que são bruxos! desregulamentação do sistema financeiro ori- ao longo da hierarquia militar americana de, maior ataque de sempre ao sistema... pelo lado
Quem também parece que é bruxo é Robert J. ginou um cocktail explosivo quando combinada literalmente, paletes de dinheiro, destinado à de dentro. Vendem t-shirts, claro. Com uma
Shiller, autor dos livros “Irrational Exuberance” com a pressa de ganhar dinheiro fácil que levou reconstrução do Iraque. Em Portugal o governo marca mais modesta surge Sir Allen Stanford,
e “Subprime Solution”, entre. Em 2005 chamou muitos investidores institucionais e individuais criou um regime de excepção para obras na Texano, residente Nas Ilhas Virgens (EUA),
à atenção para a bolha especulativa que se em todo o mundo, a colocar o seu dinheiro, em Saúde, Educação e Energia até cinco milhões que adquiriu dupla nacionalidade, tornando-se
vinha a formar no NASDAQ, a bolsa de empre- muitos casos as poupanças de uma vida de de euros... que passam a estar dispensados de cidadão de Antigua e Barbuda - não confundir
sas tecnológicas dos EUA. O crash veio logo trabalho nas mãos de pessoas como Bernard concurso público, mas eu duvido que consigam com a vizinha Barbados, onde se diz que Vale e
a seguir. Em 2007 quando a bolha do mercado Madoff. Afinal o pseudo génio da finança tinha ➤
fazer melhor do que Madoff, com todo o respei- Azevedo terá tudo preparado para dar o salto. ➤

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➤ Sir Allen Stanford fez desaparecer 8 mil mi- os países mais endividados, como Portugal,
lhões de dólares dos depositantes do Stanford podem num futuro próximo deixar de conseguir
Bank, provando que afinal a tradição dos piratas financiar-se autonomamente nos mercados in-
das Caraíbas ainda é o que era.  ternacionais e a crise ameaça matar à nascença
O Helicóptero do dinheiro: A crise económica qualquer ideal de coesão solidária para a UE.
ameaça transformar-se rapidamente numa com- A Desunião Europeia, a Próxima Bolha
binação perigosa de depressão com deflação, ou Recordar o Passado em Bretton-Woods:
como a que sucedeu nos EUA nos anos 1930 O consenso nacional que permitiu a recupera-
ou no Japão nos anos 1990. A contracção da ção da economia sueca deveria ser a semente
economia, nomeadamente do consumo conduz inspiradora da resolução desta crise. Infelizmen-
ao pânico entre os comerciantes, que acumu- te a Europa não tem um líder capaz de agregar
lando stocks, estendem a época dos saldos. O esforços numa politica comum.
adiamento das decisões de consumo baseado No final da 1ª Guerra Mundial, a Alemanha
na expectativa de que amanhã o preço será derrotada, foi miseravelmente humilhada pelos
(ainda) mais baixo é o mote de entrada numa vencedores, permitindo que germinassem as
espiral deflacionista. Neste cenário, denomina- sementes do ressentimento e do ódio que ha-
do “armadilha de liquidez” por Milton Freedman, viam de conduzir à ascensão do nazismo e teve
esgotadas as munições da política monetária como corolário a 2ª Guerra.
que não pode descer as taxas de juro (nomi- Já o plano Marshall de reconstrução da Europa,
nais) abaixo de zero a equação só se resolve após a Segunda Grande Guerra, foi um gesto
incentivando o consumo de forma a gerar pres- solidário que incluiu a reconstrução da Alema-
sões inflacionistas que combatam a deflação. O nha derrotada e garantiu mais de 60 anos de
problema é que a liquidez injectada pelos ban- paz e prosperidade na Europa.
cos centrais no sistema bancário não chegam A ilação é óbvia: não será o cada um por si e
aos particulares nem às empresas, porque não salve-se quem puder – que irá degenerar ine-
havendo confiança entre os bancos, o Mercado vitavelmente em proteccionismos saloios – a
Monetário Interbancário deixa de funcionar e os resolver a crise global, pelo contrário, só um
bancos, tal como a generalidade dos agentes NEW DEAL GLOBAL em que cada indivíduo,
económicos, manifestam uma voraz preferência cada empresa e cada estado, se comprometa a
por liquidez para fazer face a prejuízos ou para fazer a sua parte... pelo bem de todos. Mesmo
comprar concorrentes em dificuldades, razão que esse bem comum implique o fim dos paraí-
pela qual a solução proposta por Friedman se sos fiscais, o fim do sigilo bancário, a criação de
chama “Dinheiro de Helicóptero” e consiste em um Banco Central Mundial ou a criação de uma
fazer o dinheiro chegar aos bolsos das pes- moeda para o comércio internacional que não
soas sem passar pelos bancos, como se um pode ser o dólar, porque a avaliar pelo dese-
helicóptero lançasse o dinheiro dos céus. As quilíbrio das contas entre os EUA e a China, o
medidas usadas pelos estados para o conseguir dólar é apenas... A PRÓXIMA BOLHA A RE-
são diversas: Subsidiar preços, comprar papel BENTAR. Curiosamente a China defende que
comercial às empresas, baixar os impostos, essa “moeda” estável poderiam ser os Direitos
aumentar os incentivos à criação de empregos de Saque Especiais junto do FMI, uma velha
e à formação profissional, entre outras medidas ideia de Keynes derrotada em Bretton-Woods
que garantam o crescimento do consumo e da em 1944, tal como uma outra bem actual que
inflação. Provavelmente será esta a opção de consistia em co-responsabilizar os países pelos
Ben Bernanke, presidente da Reserva Federal desequilíbrios  das suas balanças em vez de,
dos EUA, que atende pela alcunha de Helicopter como actualmente acontece, o esforço ter de
Ben, por ser um público defensor desta medi- ser todo feito pelo país deficitário. n

da. A emissão de moeda para comprar títulos   


de dívida pública pode ser uma alternativa a P.S. O Boomerang é um objecto de arremesso criado
considerar. Os EUA e a Inglaterra já o fazem. O para voltar sempre à mão do arremessador sem nunca
Banco Central Europeu está impedido de o fazer atingir o alvo. O Boomerangomics, é um conceito que
pelos Tratados Europeus, mas se houver con- projecta o preço a pagar no futuro pelo lixo que varre-
senso é possível e desejável fazê-lo, até porque mos hoje para debaixo do tapete.

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