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NA PREVALÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO?
1. INTRODUÇÃO
Vale ressaltar que, mesmo contendo essa dinâmica de conflito político, a experiência
prática do “judicial review” não se tornou apta a ter uma estabilidade de caráter de
reconhecimento de legitimidade. Tal fato deveu-se, num ponto, a não consagração pela
constituição americana de norma outorgando ao seu Judiciário o papel de guardião da
constituição. Num outro aspecto, apesar dos freios delimitados por Thayer, a atuação da Corte
Suprema americana no caminhar do século passado foi de uma crescente politização
acarretando uma descompensação institucional em destaque com o Legislativo.
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Mundial a supremacia da Jurisdição constitucional, em razão de uma aparente neutralidade de
atuação considerando os instrumentais de interpretações constitucionais aplicadas, um certo
esmaecimento da questão de legitimidade. Questão esta, gize-se, mais uma vez, tão presente
no sistema do “judicial review” americano.
2. DIÁLOGO INSTITUCIONAL
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compreensão da contribuição constitucional canadense centra-se no fato de ter como
interlocutor o sistema do “judicial review” americano de modo a limitar a possibilidade de
ativismo judicial. Tal aspecto decorreria de que a citada “Carta de Direitos” do Canadá de
1982 abre dois instrumentos institucionais capazes de reconfigurar não só o princípio da
separação de poderes, como também, de limitar uma atuação mais ativa por parte do
Judiciário. Acresce a esse contexto, há estrutura institucional canadense ser um sistema
federativo acarretando, de forma natural, a aplicação desses instrumentos de aperfeiçoamento
da divisão de poderes em relação a prevalência dos dispositivos constitucionais. Além de
constatar a variável da “Carta de Direitos” de 1982 uma ruptura com o positivismo austiniano,
ela faculta com base nas suas seções 1º e, respectivamente, 33 uma interlocução entre o
Parlamento e a Corte Suprema canadense. A citada seção primeira estabelece a competência
ao Legislativo e nas suas ramificações provinciais um limite de direitos fundamentais
pautando, desse modo, as decisões da referida Corte Suprema. A seção 33 culmina com a
clásula do “não obstante” (“override”) balizando, nessa direção, qualquer decisão judicial.
São nesses parâmetros que se concentram a discussão tanto da teoria constitucional do Canadá
como de constitucionalista afeitos a encontrar uma alternativa democrática entre a força da
constituição e a postura de um dos poderes constitucionais. Kent Roach8 reconhece que a
“Carta de 1982” não é a revolução esperada por muitos e que muitos temiam. É de preferência
uma continuidade e enriquecimento de nosso sistema de “Common Law” e tradições
democráticas. Não há dúvida nenhuma que os instrumentais institucionais moldados em 1982
inovaram um exemplo de sistema de “common law” tendo como centro a estrutura
parlamentar e aproximando-se do Judiciário. Mas a questão que permanece, indaga-se, trouxe
avanço para o sistema democrático?
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Jeremy Waldron9 ou de alerta para os limites da proposta de diálogo institucional nas posturas
deLuc Trembley10 e Jeremy Webber.11 O núcleo central de críticas ao “constitucionalismo
cooperativo” desponta nos textos elaborados por Jeremy Waldron. Este estudioso pauta-se
como irradiador do questionamento quanto ao papel limitado a ser dado ao Legislativo na
discussão moral. A sua leitura reconhece, por conseqüência, uma maior abertura do legislador
no processo decisório sobre o aspecto da moralidade. Luc Trembley segue uma orientação
mais de descrever o modelo de diálogo institucional denotando que, nesse sistema, não
haveria devido aos instrumentos já citados da “Carta de Direitos” de 1982 a prevalência do
principio contramajoritário (Bickel) legitimador da supremacia do Judiciário. Assim, o autor
tece os seus comentários em torno do padrão da legitimidade. Reconhece, desse modo, de
saída, que o propalado modelo canadense traduz uma exacerbada retórica na sua natureza
institucional. Lembra, ainda, o estudioso que, na verdade, o diálogo institucional proposto no
Canadá enfraquece tanto o Legislativo atrelado às decisões judiciais como ao próprio
Judiciário restringido aos padrões das mencionadas seções 1º e, respectivamente, 33 da “Carta
de Direitos” de 1982. O importante na leitura da estrutura canadense de adequação do conflito
constitucional e a separação de poderes é distinção entre duas concepções de diálogos saber: a
de caráter deliberativa e a outra de conversação. Quanto a este, Luc Tremblay adverte que não
tem sentido prático de efeitos. Ao dedicar-se ao diálogo deliberativo, examina o
constitucionalista citado que ele deve estar pautado em condições. De forma perplexa,
Tremblay observa, afinal, que tipo de diálogo sai dessa aproximação entre o Legislativo e o
Judiciário no Canadá? De forma exemplificativa, o autor estudado nessa reflexão parte do
“princípio da responsabilidade judicial” para demonstras os limites do diálogo institucional.
Sublinha “Juízes que são demandados a aferir a constitucionalidade dos atos do legislativo
devem seguir suas próprias convicções constitucionais”.12 Quanto a contribuição crítica de
Jeremy Webber ao sistema da “Carta de Direitos” de 1982 está, essencialmente, próxima do
pensamento de Waldron. Webber defende, de modo firme, o que se encontra em jogo é o
processo democrático no embate constitucional e se há prevalência de um dos poderes. Esse
estudioso australiano é bem claro na sua posição de não ser contra a um sistema como
“judicial review” e a modelos institucionais. De sua parte o que merece reiteração como fica
materializada, de modo efetivo para a sociedade, o quadro democrático. A sua visão traduz
numa leitura comparativa entre as estruturas políticas da Austrália e do Canadá. O ponto de
análise oferecido por Webber é mais o da dinâmica política, isto é, como atores políticos
atuam do que propriamente o exame da legitimidade. Seu questionamento quanto a “Carta de
Direitos” de 1982 estava voltada mais para um mapeamento “empírico” político e
jurisprudencial das seções 1º e 33 do citado documento de protetivo de direitos no Canadá. Na
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leitura de suas investigações reporta que a aplicação da seção 33 do “não obstante”
(“override”) sobre a decisão judicial mereceu apenas dezessete situações sendo elas mais
localizadas na Província do Quebec. Demonstra, assim, Webber não só o pouco alcance
institucional desses instrumentos do diálogo entre o Parlamento canadense e sua Corte
Suprema, como também, seu alcance mais regional.
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denominados “hard cases”, passíveis de não uma determinada resposta certa, como o da
célula tronco (a constitucionalidade do artigo 5º da Lei nº 11.150/2005), o da infidelidade
partidária e, por fim, o caso do Município Luís Magalhães (é a discussão em torno da Emenda
Constitucional nº 26/96 acrescentando o parágrafo 4º ao artigo 18 da Constituição Federal de
1988 disciplinando a necessidade de Lei Complementar para regular a criação e fusão de
municípios no Brasil) de avaliar a fundamentação democrática dessas referidas decisões. De
forma conclusiva, constatou-se que o Supremo Tribunal Federal atua de forma seletiva ou nos
casos do processo democrático (a criação dos municípios ou da infidelidade democrática) de
não auscultar segmentos da sociedade civil brasileira a esse respeito ou no caso da célula-
tronco, mesmo promovendo, audiência pública, tenta atuar em estabelecer condicionamentos
para a manipulação genética prevista no citado artigo 5º da Lei n 11.150/2005.
4. CONCLUSÃO
7
Referência bibliográfica para este artigo:
1
KELSEN, Hans. Jurisdição Constitucional. Tradução do alemão Alexandre Krug. Jurisdição Constitucional.
São Paulo. Editora Martins Fontes. 2003.
2
Thayer, Erza R. Judicial Legislation: its Legitimate function in the development of the Common Law in
JUDICIAL LEGISLATION: ITS LEGITIMATE FUNCTION IN THE DEVELOPMENT Of Common Law in
Havard Law Review Nov1891, Vol. 5 Issue 4, p172-201, 30p; (AN 15244372).
3
BICKEL, Alexander. The Least Dangerous Branch The Supreme Court at the Bar of Politics (organizada
por Richard W. Bauman e Tsvi Kahana). New Haven. Yale University Press. Segunda edição.1986.
4
ACKERMAN, Bruce. We the People Foundations Cambridge. The Belknap Press of Havard University
Press. 1995.
5
TUSHNET, Mark. Interpretation in Legislatures and Courts: Incentives and Institutional Design in The Least
examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge. Cambridge University
press. pp 355-378.
6
No tocante a esse ponto, vale lembrar que Ackerman reconhece, com o advento do “judicial review” um
dualismo de poder sendo um deles emando de fonte essencialmente democrática.
7
ROACH, Kent. The Supreme Court on Trial Judicial Activism of democratic dialogue Toronto. Irwin Law.
2001 e, também, veja o número especial de 2007 da revista canadense Osgoode Hall Law Journal, vol. 45 no. 1
dedicado ao tema do diálogo institucional.
8
ROACH. op.cit. página 254.
9
WALDRON, Jeremy. Principles of Legislation in The Least Examined Branch op.cit pp.15 a 32.
10
TREMBLAY, Luc. The Legitimacy of judicial review: The Limits of dialogue between courts a and
Legislatures in International Constitutional Law Journal vol. 3, number 4, 2005 pp. 617 – 648.
11
WEBBER, Jeremy. Institutional dialogue between courts and legislatures in the definition of fundamental
rights; lessons from Canada (and elsewhere) in hhtp://www.austlii.edu.au/au/journals/AJHR/2003/html (1 of 43)
23/1/2009 11.28;39 e, também, Democratic Decision Making as the First Principle of Contemporary
Constitutionalism in The Least examined Branch. Op.cit pp. 411: 43.
12
TREMBLAY. op.cit. pág 635.
13
VIEIRA, José Ribas e vários autores (org. Vanice Lírio do Valle). Ativismo Jurisdicional e o Supremo
Tribunal Federal. Curitiba. Editora Juruá. 2009 no prelo. E ver também verbete de autoria do autor citado
“Preâmbulo” in 20 anos da Constituição Federal de 1988 (org. Walber Agra). Rio de Janeiro. Editora Forense.
2009 no prelo. Nesse verbete mencionado, discute-se a questão democrática e a separação de poderes.
14
Veja www.supremoemdebate.blogspot.com de 2008 sobre o assunto.
15
Vide especificamente ALEXY, Robert. Teoria del discurso y derechos constitucionales. México, DF.
Distribuciones Fontamara. Primeira reimpressão 2007. páginas 89 a 103 sobre a conceituação da representação
argumentativa.
16
VIEIRA, José Ribas e vários autores. Revista Jurídica - Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, nova
série v. 1 n 3, Dez 2008.