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http://dn.sapo.pt/2008/04/30/opiniao/babel_e_outras_confusoes.html
Escrevem os mesmos autores que, se este liberalismo ortográfico "constituirá um problema para
falantes nativos do português, a situação é ainda mais grave para falantes que aprendam o português
como língua segunda. E essa é a situação em que muitas crianças e adultos dos novos países de
expressão oficial portuguesa aprendem o português".
Por outro lado, explicam que "na variedade europeia do português actua um processo fonológico
sensível à posição do acento, que altera o timbre das vogais não acentuadas".
Este processo não actua sobre um conjunto de excepções, entre elas as dos vocábulos que apresentam
uma consoante etimológica que nem sempre se pronuncia.
"No caso do português europeu, a presença de uma consoante etimológica constitui, portanto, de um
modo geral, uma instrução que indica que se está perante um caso excepcional em que o timbre da
vogal não é alterado" (ibid., p. 35).
Isto é, não segue aquela tendência geral. De outro modo, leríamos com e fechado anti-setico, defetivo,
dialetal, espetral, ceticismo, impercetível, recetação, recetáculo...
Disto resulta evidente a essencialidade das consoantes "mudas" para o timbre das vogais em Portugal e
nos PALOP, mesmo que algumas palavras de uso mais corrente já tenham adquirido uma pronúncia que
as dispensaria, uma vez que, não obstante isso poder acontecer nalguns casos, é impossível elaborar
uma regra geral que os especifique com segurança.
Tais consoantes são a "forma de indicar a abertura dessas vogais" (C. Cunha e Lindley Cintra, Nova
Gramática..., 9.ª ed., p. 74). Ninguém diz, e muito menos os defensores do Acordo, como assegurá-la
se não for assim...
O Acordo de 1945 já elimina as consoantes c e p nos casos em que são invariavelmente mudas nas
pronúncias portuguesa e brasileira (adjuncto, adstricto, aqueducto, absorpção, esculptor...)
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c) após as vogais a, e ou o, quando não seja invariável o seu valor fonético e ocorram a seu favor outras
razões, tais a tradição ortográfica, a similaridade do português com as demais línguas românicas, e
ainda quando influem no timbre das referidas vogais;
d) quando, embora mudos, devam harmonizar-se com formas afins (abjecto/ / abjecção, carácter /
caracteres / didáctico / /didactismo, insecto / insecticida...).
Todos estes casos correspondem pois a outras tantas e importantes razões para a manutenção das
consoantes referidas.
Aos defensores do Acordo não interessam questões culturais, como a da ligação à matriz românica, nem
questões de homogeneidade gráfica entre palavras afins. Colocam-se numa perspectiva diferente. E
entendem que, não sendo o c ou o p pronunciados, eles se tornaram sempre dispensáveis.
Isto significa que consideram o timbre das vogais referidas já estabilizado, quando em inúmeros casos
não está. E saúdam o caos de Babel como um progresso...
É a altura de recordar a análise da CNALP: "É evidente que, de imediato, e nesta área estrita da grafia
consonântica e do apoio que presta à recuperação de um supra-sistema vocálico comum, o português
europeu seria de longe o mais sacrificado na coerência fonológica interna, na inter-compreensão e na
facilidade de aprendizagem por povos estranhos à comunidade lusofalante" (Boletim da CNALP, 1989, p.
123). |
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