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O (ecologicamente) insustentável déficit público americano

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais
e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE
E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Já virou lugar comum dizer que a população dos Estados Unidos da América leva um padrão
de vida muito superior às suas próprias capacidades e possui um consumo tão elevado e ao
mesmo tempo tão poluidor que está muito acima da capacidade da natureza do país garantir a
sua renovação. O americano médio emite cerca de 20 toneladas de CO2 por ano (contra 4,2
toneladas da média mundial) e possui uma pegada ecológica de 9,2 hectares globais - gha
(contra a média mundial de 2,7 gha). Se este padrão fosse generalizado para toda a população
mundial, precisaríamos de muitos planetas para dar conta dos recursos necessários para
manter este modo de vida.

Nas décadas imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, o “American way of life” era,
em grande parte, o resultado da produtividade da economia dos EUA e da amplitude da
riqueza dos recursos naturais do país. Em 1950, com uma população de cerca de 150 milhões
de habitantes e uma forte tradição democrática, superávits na balança comercial e
investimentos crescentes no resto do mundo, os EUA pareciam destinados a ter um padrão de
vida mais elevado, uma moeda sólida e uma vocação para liderar economicamente e
culturalmente o mundo.

Contudo, a história não segue um padrão monotônico e linear. Os Estados Unidos foram
deteriorando a sua economia e o seu meio ambiente na medida em que elevavam os seus
gastos militares em função da Guerra Fria, da corrida espacial e de guerras quentes na Coreia,
no Vietnam, etc. Na década de 1960 a balança comercial ficou deficitária. Na década de 1980,
no período do governo Reagan, os EUA deixaram de ser o maior credor e passaram a ser o
maior devedor externo do mundo. Também a dívida interna passou a crescer em função dos
contínuos orçamentos deficitários. Com o maior crescimento econômico dos anos de 1990 e
um certo corte nas despesas militares (em função da distensão pós queda do Muro de Berlin e
fim da URSS) o governo Bill Clinton chegou a ensaiar 3 anos de superávit público na virada
do milênio.

Porém, as políticas de cortes de impostos para ricos e de aumento dos gastos militares durante
os 8 anos do governo de George Bush fizeram aumentar os déficits gêmeos (externo e fiscal)
e crescer as dívidas interna e externa. Os EUA só não quebram porque o dólar tem aceitação
universal, o que permite ao país emitir moeda e títulos que são adquiridos pelos países
superavitários do mundo. Os EUA são um país endividado e com baixas taxas de poupança e
investimento e que deixaram de ser uma referência positiva para o resto do mundo.

Esta realidade mostra que o povo americano e o setor público do país vivem acima das suas
posses. Isto também quer dizer que o resto do mundo está financiando e contribuindo para os
EUA terem um alto padrão de consumo e uma alta pegada ecológica. Ou, dito de forma mais
clara: o resto do mundo, ao financiar o déficit público americano, está dando sua contribuição
para sustentar um elevado padrão de consumo que está destruindo a natureza e acelerando o
aquecimento global do Planeta.

Esta situação é insustentável. Mas quais são as perspectivas para os próximos anos e décadas?

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Segundo o editorial do New York Times, de 06/02/2010, a situação vai piorar. O déficit
público americano foi de US$ 1,6 trilhão em 2009 e entre 2010 e 2020 deve ter um déficit
acumulado de US$ 8,5 trilhões, isto na hipótese de a economia se recuperar e se as taxas de
juros ficarem baixas. A teoria e a história econômica mostram que países com altos gastos
improdutivos (militares, por exemplo) e alta dívida interna estão condenados a ter baixo
crescimento econômico. Esta situação se agrava quando há um processo de envelhecimento
populacional e uma elevação da razão de dependência demográfica. A geração do baby boom
(alto número de nascimentos da década de 1955 até 1965) vai entrar no período de
aposentadoria após 2020. As despesas com o programa Medicare (seguro saúde para os
idosos) e Medicaid (seguro saúde para os pobres) vão crescer fortemente. A dívida interna dos
EUA deve atingir a percentagem de 77% do PIB em 2020 ou antes, podendo “ultrapassar as
nuvens” e chegar a impressionantes 300% em 2050. A crise financeira e do sub-prime está se
transformando em uma crise fiscal de longo prazo.

Esta situação explosiva poderia ser resolvida se as forças políticas dos EUA se unissem para
cortar gastos militares e aumentar as receitas, por meio de taxas sobre o consumo conspícuo e
sobre a energia fóssil emissora de gases do efeito estufa. Para o seu bem próprio e para
respeitar o resto do mundo, os EUA precisariam aumentar suas taxas de investimento para
gerar empregos, melhorar a infra-estrutura, aumentar a eficiência em geral, reduzir o
desperdício e fazer a transição do alto carbono para uma matriz energética renovável e limpa.

Contudo, não é isto que está acontecendo. O partido Democrata não está sabendo lidar com os
desafios do país e o governo Obama perdeu a maioria absoluta que possuía no Senado,
podendo sofrer uma derrota eleitoral em novembro de 2010, quando haverá renovação de
parte do Congresso. O partido Republicano, por seu lado, sofre de amnésia e já esqueceu os
efeitos desastrosos da política de George Bush. Mesmo com todo o déficit e a dívida pública,
o partido republicano faz um discurso ideológico de corte de impostos e de menor presença
do Estado na economia. A possível candidata à presidência em 2012, Sarah Palin, fez um
discurso conservador e autista na convenção do grupo direitista Tea Party no dia 06 de
fevereiro, onde defendeu o alto consumo, o aumento dos gastos militares para garantir a
defesa nacional, os interesses da indústria petrolífera e foi contra medidas de mitigação do
aquecimento global.

Os ânimos estão se acirrando e a divisão política está aumentando. Já existem estudiosos


dizendo que os EUA estão ficando ingovernáveis e que a democracia do país tem vivido os
seus momentos mais críticos em mais de 200 anos de história. Na verdade, os políticos de
Washington são reféns das grandes corporações e do poder de fogo do setor financeiro e do
“complexo industrial-militar”. No dia 21 de janeiro de 2010 a Suprema Corte dos EUA
determinou que o governo não pode proibir as corporações de fazerem gastos políticos
ilimitados durante as eleições. Conforme afirma o editorial do New York Times (06/02/2010),
a situação atual da política bipartidária do país é uma receita para o desastre (“That is truly a
recipe for disaster”).

Enquanto isto, o resto do mundo sofre com as consequências do aquecimento global e com o
excesso de consumo dos mais de 300 milhões de habitantes dos Estados Unidos,
especialmente com o consumo exagerado das parcelas mais ricas da população do país, que
provocam muitos danos à natureza e à saúde do Planeta. O mais irônico é que são os países e
as parcelas da população do mundo que poupam e controlam o seu consumo que estão
financiando a alta pegada ecológica e a alta emissão de CO2 dos EUA.

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O déficit público americano é, portanto, um dos principais responsáveis pela degradação do
meio ambiente mundial. O planeta Terra poderia ter um futuro mais azul, se o governo
americano não estivesse no vermelho e, ao contrário do que acontece, estivesse aumentando a
sua poupança macroeconômica, investindo adequadamente em energias renováveis, em
eficiência e em reciclagem e se os recursos do resto do mundo também estivessem indo para a
produção de alimentos orgânicos, para acabar tanto com a fome mundial quando com a
obesidade, e para os investimento na descarbonização das economias nacionais.

Portanto, quanto mais crescerem os déficits e as dívidas dos EUA, mais tempo será necessário
para se combater o padrão insustentável de consumo que está depauperando o Planeta. Um
bom caminho é o resto do mundo parar de financiar o déficit público dos EUA, que não está
contribuindo para o avanço de uma economia ecológica, mas sim para as mudanças climáticas
e o aquecimento global. Se nada for feito e a degradação da natureza continuar, a humanidade
caminhará irreversivelmente para o precipício e o ecocídio.

Referência
Editorial do New York Times (06/02/2010)
http://www.nytimes.com/2010/02/07/opinion/07sun1.html?pagewanted=1&em

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