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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA


CONSTRUÇÃO CIVIL - CBIC

COMISSÃO DE ESTRATÉGIAS, INTEGRAÇÃO E


COORDENAÇÃO SETORIAL – CEICOS

COMISSÃO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS - CRI

COMISSÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA - CEE

A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
BRASILEIRA NO INÍCIO DO SÉCULO
XXI: A nálise e Perspectivas

BELO HORIZONTE
OUTUBRO DE 1998

PRESIDENTE DA CÂMARA BRASILEIRA DA


INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO - CBIC

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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Eng.º Luís Roberto Andrade Ponte

SECRETÁRIO GERAL
Eng.º Gilberto Morand Paixão

PRESIDENTE DA COMISSÃO DE RELAÇÕES


INTERNACIONAIS – CRI
Adm. Cezar Augusto Villar de Mello

PRESIDENTE DA COMISSÃO DE ESTRATÉGIAS,


INTEGRAÇÃO E COORDENAÇÃO SETORIAL -
CEICOS-CBIC
Eng.º Maurício Roscoe

PRESIDENTE DA COMISSÃO DE ECONOMIA E


ESTATÍSTICA - CEE - CBIC
Eng.º Paulo Roberto Henrique

SECRETÁRIO EXECUTIVO
Econ. Daniel Ítalo R. Furletti

EQUIPE TÉCNICA
Coordenação: Econ. Daniel Ítalo R. Furletti e Eng.º Maurício Roscoe

Elaboração: Luciene Pires Teixeira


Economista Coordenadora do Banco de Dados - CBIC

Apoio: Economista Mônica Sofia Polacco Vieira

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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SUMÁRIO

I - BALANÇO DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL NAS ÚLTIMAS


DÉCADAS ........................................................................... 4

I .1 - ORGANIZAÇÃO E DINÂMICA DOS SUBSETORES DA


CONSTRUÇÃO BRASILEIRA .....................................................................................................
7

I - 1.1 - SUBSETOR DE EDIFICAÇÕES ................................................................................


7

I -1.2 - SUBSETOR DE CONSTRUÇÃO PESADA ...................................................... 11

I-1.3 - SUBSETOR DE MONTAGEM INDUSTRIAL ...................................................................


13

I - 1.4 - TENDÊNCIAS PRESENTES NAS EMPRESAS BRASILEIRAS


E INTEGRAÇÃO REGIONAL .............................................................................
15

II - IMPORTÂNCIA DO SETOR DE CONSTRUÇÃO CIVIL NA ECONOMIA


BRASILEIRA ....................................................................................................... 19

III - ATUAL REALIDADE DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA E


PROPOSIÇÕES BÁSICAS ....................................................................................................
22

IV - PERSPECTIVAS PARA O SÉCULO XXI ..............................................................................


24

V - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS.............................................................................


26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................................


29

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I - BALANÇO DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL NAS


ÚLTIMAS DÉCADAS

Historicamente, o nível de atividades da indústria da construção brasileira apresenta

estreita correlação com o da atividade global, determinando um fluxo circular de

interdependência entre ambos tal que o setor construtor esteve sempre na subordinação

direta da performance econômica do país e das ações do poder público. A construção,

sendo particularmente sensível ao nível de renda e ao volume de crédito disponíveis,

cresce em grande parte por efeito da expansão do produto nacional, enquanto é, ao

mesmo tempo, fator de aceleração do crescimento econômico, dado seu enorme efeito

multiplicador sobre o processo produtivo e sobre os investimentos. O GRAF.1, a seguir,

ilustra bem o grau de proximidade entre o desempenho da economia nacional e das

atividades de construção, ressaltando como esta última tem acompanhado de perto todos

os ciclos econômicos brasileiros de expansão e crise nas últimas décadas.

GRÁFICO 1 - Evolução do Índice do Produto Real (Base 1980 = 100)


1970 A 1997
145,00
130,00
115,00
100,00
85,00 BRASIL
70,00 CONST. CIVIL

55,00
40,00
25,00
10,00

Fonte: IBGE e IPEA.

A década de 70 foi marcada por um período de elevado crescimento da economia

brasileira, com o PIB expandindo-se anualmente, em termos reais, entre 6% e 14% e a

taxa de investimento atingindo patamares médios de 22%. Esse desempenho positivo

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repercutiu diretamente no nível de atividades da construção civil, que acompanhando de

perto a boa performance econômica nacional apresentou no período uma expansão

espetacular, registrando na média um crescimento real da ordem de 10,3%. A

participação relativa do setor na formação do produto nacional elevou-se de 5,77%, em

1970, para 7,34%, em 1980.

Contudo, a chamada década perdida da economia brasileira resultou em um desempenho

desfavorável para a construção civil. Após o ciclo expansivo da década anterior, a

construção passou a vivenciar um intenso processo de desaceleração de suas atividades

entre 1981 e 1992 (FIG.1). Esse longo período recessivo só foi rapidamente interrompido

em 1985 e 1986, como reflexo da euforia econômica proporcionada pelo Plano Cruzado 1 .

O ponto de inflexão na trajetória de evolução da construção se dá mesmo a partir de 1993,

quando o PIB setorial voltou a apresentar crescimento positivo sucessivo, ganhando um

impulso maior nos anos mais recentes em função da estabilidade econômica trazida pelo

Plano Real2 . No acumulado entre 1993 e 1997 a construção cresceu 21,39%. A variação

anual da produtividade do trabalho no setor elevou-se de -0,04%, em 1992, para 2,74%,

em 1996.

1
O Plano Cruzado foi um programa econômico de estabilização proposto no Governo Sarney em Fevereiro de 1986.
2
O Plano Real foi igualmente um plano de estabilização econômica implantado a partir de Julho de 1994.

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FIGURA 1 - Taxas de Crescimento Real


Média do PIB Construção no Período

1970-1980 10,28%
1981-1992 -1,65%
1993-1997 5,02%

Fonte: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Em resumo, com a desaceleração do crescimento econômico e a conseqüente crise

fiscal e financeira dos governos, o fluxo de destinação de recursos para os gastos das

administrações públicas e empresas estatais foi interrompido. E como resultado, a

trajetória de desempenho da construção brasileira nos últimos 20 anos tem sido volátil e

distante da média histórica de seu crescimento na década de 70. Apesar do novo ciclo de

expansão iniciado em 1993, a indústria de construção continua operando bem abaixo de

sua capacidade produtiva e de seu nível histórico de emprego, uma vez que as obras e

investimentos públicos sempre constituíram grande parte da demanda do setor.

Nos anos 80, o valor adicionado da indústria da construção apresentou significativas

alterações quanto à contribuição relativa de seus segmentos (TAB.1). Enquanto o

subsetor de Construção Pesada, sustentado majoritariamente pela demanda pública, teve

ainda um bom desempenho até o auge da crise financeira do Estado na segunda metade

da década, o subsetor de Edificações, mais dependente da demanda privada, perdeu

participação nesse período, em função da recessão econômica e da desarticulação dos

esquemas de financiamento habitacional. Apesar de estatísticas pós 1994 não estarem

disponíveis, é provável que tenha havido pequenas mudanças na contribuição dos

subsetores mais recentemente, dado o corte dos investimentos públicos nos últimos anos

e as novas tendências observadas a partir das privatizações e abertura dos mercados.

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TABELA 1 - Composição Relativa do Valor Adicionado da Construção, segundo Tipos de Obras


(Em %)
Grandes Grupos e
Grupos da Construção 1980 1985 1990 1991 1992 1993 1994
Edificações 41,68 19,97 25,29 20,26 17,72 18,84 26,77
Construção Pesada * 33,73 56,06 59,58 65,13 69,32 67,72 57,00
Montagem Industrial 8,96 6,52 6,04 7,01 6,59 8,89 5,91
Serviços da Construção 15,62 8,86 9,09 7,59 6,37 4,56 10,33
Fonte: IBGE - Anuário Estatístico do Brasil 1991 a 1996.
(*) A Construção Pesada engloba as Obras Viárias, Obras de Urbanização, Grandes Estruturas e Obras de Arte e Obras de Outros Tipos.

I .1 - ORGANIZAÇÃO E DINÂMICA DOS SUBSETORES


DA
CONSTRUÇÃO BRASILEIRA

I - 1.1 - SUBSETOR DE EDIFICAÇÕES

No Brasil, o segmento de Edificações apresenta uma grande heterogeneidade interna,

tanto no tamanho quanto na capacitação tecnológica e empresarial de suas empresas.

Apesar da presença de estabelecimentos de diferentes portes e especialização, há o

predomínio das pequenas e médias empresas e, inclusive, de unidades com precária

organização empresarial. É no subsetor de Edificações que se concentra o maior número

de empresas - em torno de 57% do total dos estabelecimentos no Brasil, que somam

aproximadamente 205 mil empresas de construção civil. As maiores unidades

apresentam tamanho médio inferior ao das empresas dos subsetores de construção

pesada e montagem industrial.

Ademais, no segmento de Edificações, a utilização de mão de obra é mais elevada, devido

à menor introdução de máquinas e equipamentos e ao forte parcelamento das atividades

produtivas. Esse subsetor contribui com cerca de 68,32% do volume de empregos

gerados. O perfil da mão de obra empregada no segmento é basicamente pouco

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qualificada (baixo nível de instrução e formação profissional), com idade entre 30 e 35

anos, proveniente do mercado rural e com baixos salários (na faixa de um a três salários

mínimos).

A demanda privada é o mercado típico deste segmento, estando a evolução da construção

comercial e residencial estreitamente relacionada às condições de financiamento

prevalecentes no mercado. O setor público também atua, porém em menor grau, como

demandante de construções para programas habitacionais e de prédios públicos (escolas,

hospitais, edifícios para instalações públicas municipais, estaduais e federais).

No Brasil, o subsetor de Edificações vem perdendo participação relativa a partir de 1985,

em função da recessão e da desarticulação dos esquemas de financiamento habitacional.

Observa-se uma deterioração na sua composição relativa, que saltou de 41,68%, em

1980, para 26,77%, em 1994. Igualmente, em 1982, tem-se que o número de habitações

com licenças de “Habite-se” no total das capitais do país foi de quase 132 mil unidades.

Em 1987, este número caiu para cerca de 60 mil. A área total de edificações (em m2)

reduziu-se pela metade nos anos considerados. A justificativa básica reside no declínio da

atuação governamental no segmento de habitação, via construção de conjuntos

habitacionais e através do gerenciamento do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Se

no final dos anos 70 e início dos anos 80, o SFH proporcionava recursos para a produção

e aquisição de aproximadamente 400 mil novas moradias por ano, a partir de 1983, com

as crescentes distorções do modelo brasileiro de financiamento habitacional, observa-se

uma queda abrupta no número de unidades financiadas. Entre 1983 e 1997 o número

médio de moradias financiadas ao ano pelo SFH foi de 138 mil (TAB.2). Some-se a isto a

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queda na demanda privada resultante do baixo crescimento econômico, do aumento do

desemprego e do perfil de distribuição da renda nacional.

Na década atual, o subsetor de Edificações ainda mostra-se claramente ressentido da

ausência de uma política específica de crédito habitacional e dos desacertos do SFH.

Entre 1992 e 1997, os recursos do SFH direcionados para a habitação totalizaram

aproximadamente R$13 bilhões. Contudo, os dados do mercado de imóveis em anos

mais recentes apontam para uma ligeira expansão da produção imobiliária, em função de

dois fatores básicos: i) o incremento nas fontes de financiamento que colocaram em

prática novos programas habitacionais e ii) a continuidade do processo de aumento de

renda da população observado desde a implantação do Real. O Plano Real conseguiu

estabilizar a taxa de inflação em níveis baixos e aumentar a renda disponível dos agentes

econômicos, restabelecendo algumas das condições propícias ao desenvolvimento do

crédito imobiliário.

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TABELA 2 - SFH: Evolução do Número de Moradias Financiadas


1970 A 1997
FGTS SBPE TOTAL
Anos No Acumulado No Acumulado No Acumulado
Período (1) Período (2) Período (1+2)
1970 ... ... ... ... 108.113 666.776
1971 ... ... ... ... 115.172 781.948
1972 ... ... ... ... 95.569 877.517
1973 ... 520.000 ... 454.000 96.483 974.000
1974 35.937 555.937 60.268 514.268 96.205 1.070.205
1975 77.417 633.354 64.512 578.780 141.929 1.212.134
1976 164.353 797.707 109.410 688.190 273.763 1.485.897
1977 209.709 1.007.416 58.008 746.194 267.713 1.753.610
1978 279.516 1.286.932 58.133 804.327 337.649 2.091.259
1979 274.238 1.561.170 108.985 913.312 383.223 2.474.482
1980 366.808 1.927.978 260.534 1.173.846 627.342 3.101.824
1981 198.514 2.126.492 266.884 1.440.730 465.398 3.567.222
1982 282.384 2.408.876 258.745 1.699.475 541.129 4.108.351
1983 32.685 2.441.561 44.562 1.744.037 77.247 4.185.598
1984 43.551 2.485.112 42.807 1.786.844 86.358 4.271.956
1985 25.005 2.510.117 34.652 1.821.496 59.657 4.331.613
1986 44.350 2.554.467 62.312 1.883.808 106.662 4.438.275
1987 99.227 2.653.694 132.005 2.015.813 231.232 4.669.507
1988 98.249 2.751.943 181.834 2.197.647 280.083 4.949.590
1989 31.617 2.783.560 68.089 2.265.736 99.706 5.049.296
1990 165.280 2.949.177 74.993 2.340.729 240.273 5.289.906
1991 353.080 3.308.896 41.050 2.381.779 394.130 5.690.675
1992 43.801 3.352.697 64.887 2.446.666 108.688 5.799.363
1993 4.256 3.356.953 53.708 2.500.374 57.964 5.857.327
1994 0 3.356.953 61.384 2.561.758 61.384 5.918.711
1995 16.200 3.373.153 46.594 2.608.352 62.794 5.981.505
1996 28.501 3.401.654 38.286 2.646.638 66.787 6.048.292
1997 100.815 3.467.925 35.487 2.673.788 136.302 6.184.594
Fontes: CEF, MPO e BACEN.
(...) Dado não disponível.

A recente flexibilização das regras do SFH e a implementação do Sistema de

Financiamento Imobiliário - SFI trazem igualmente um novo alento ao setor, na medida

em que ampliarão as fontes de recursos para a construção imobiliária nos próximos anos.

A desregulamentação do SFH cria as condições para o retorno do financiamento

imobiliário direto ao mutuário, feito pelos agentes financeiros e não mais pelos

construtores. Isso conduz a uma ampliação do mercado de imóveis, na medida em que

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aumenta a oferta de crédito e libera os construtores para suas atividades-fim (a

construção). Para 1998 a estimativa é de que serão disponibilizados recursos da ordem

de R$ 10 bilhões para aplicação nas áreas de habitação e saneamento básico, com a

expectativa de financiamento de pelo menos 300 mil imóveis.

A recente criação do SFI, formulado sem as amarras da excessiva regulamentação do

SFH, é uma das alternativas mais viáveis para o financiamento habitacional no país, pois

representa uma maior eficiência às operações de crédito imobiliário e uma ampliação dos

instrumentos de captação e formação de "funding" para o segmento de imóveis. As

perspectivas iniciais do mercado são de o SFI alavancar, já no primeiro ano de vigência,

algo em torno de R$1,0 bilhão (entre capital nacional e estrangeiro). Só com a venda dos

títulos de securitização (certificados de recebíveis imobiliários - CRI) aos investidores

externos poderão ser captados entre US$200 milhões e US$300 milhões. A estimativa é

que o volume total de recursos movimentados pelo SFI corresponderia à construção de

100 mil novas unidades. Para os próximos 3 ou 4 anos, a perspectiva é de o SFI alavancar

cerca de R$5 bilhões, podendo o número de imóveis financiados subir para cerca de 600

mil unidades por ano.

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção - CBIC, em conjunto com outras

entidades do setor, também propôs (através de um anteprojeto de lei) o "Sistema

Brasileiro da Habitação - SBH". O SBH constitui-se num programa de financiamento

imobiliário integrado ao sistema financeiro nacional, que visa contemplar a produção e

comercialização de imóveis para todas as classes sociais. Com este novo sistema,

espera-se um aumento significativo da disponibilidade de fundos para a habitação, em

especial a de interesse social. Numa perspectiva otimista, o projeto prevê investimentos

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em habitação social que podem chegar a R$3,2 bilhões/ano já no terceiro ano de vigência

do sistema. Somando-se os recursos do Depósito de Poupança Habitacional e do Crédito

Imobiliário, ao todo seria um investimento adicional de R$8,0 bilhões por ano

(aproximadamente 1% do PIB). Isto representaria o financiamento de cerca de 680 mil

unidades anuais e teria um impacto positivo no déficit de habitações (que em 1996 foi de

5,4 milhões de habitações), reduzindo gradativamente a carência habitacional e

praticamente eliminando o déficit em 2.015. Considerando-se perspectivas menos

favoráveis, o projeto estima investimentos de R$1,6 bilhão/ano, com o déficit sendo zerado

em 2.030.

I - 1.2 - SUBSETOR DE CONSTRUÇÃO PESADA

Este subsetor é menos heterogêneo em termos da organização interna. Há um número

significativo de grandes empresas, inclusive algumas macroempresas, que se encontram

entre as 100 maiores empresas do Brasil, considerando todos os ramos de atividades

econômicas.

Dada a maior capacitação tecnológica e tamanho médio das empresas construtoras

pertencentes a este segmento, verifica-se um alto grau de especialização e uma

diversificação interna bem acentuada, o que cria condições de atuação em todas as

atividades típicas deste ramo, em especial naquelas de maior complexidade tecnológica.

A demanda pública se constitui num importante mercado para este subsetor, dado que o

Estado tem sido o grande responsável pela montagem da infra-estrutura básica no país.

Mas, principalmente a partir do processo de privatizações e concessões dos serviços

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públicos iniciado na segunda metade da atual década, o mercado privado também passou

a ser um demandante das obras realizadas por este segmento.

Na década de 70, a expansão das atividades de construção pesada esteve diretamente

associada à ação do Estado, dependendo dos programas governamentais e Planos de

Metas para o financiamento dos grandes projetos que incentivaram e criaram demanda

para as obras de energia elétrica, rodovias, hidrovias, ferrovias, transporte público,

saneamento, etc.

Na década de 80, dada a sua característica de menos dependente do comportamento

global da economia e mais dos programas e investimentos governamentais, este subsetor

conseguiu aumentar a sua participação no total do valor adicionado pela construção. Os

bons resultados obtidos justificam-se pela realização de obras já previamente contratadas,

dado que o ciclo de execução e financiamento nesses segmentos são mais longos.

A partir de 1993, nota-se uma deterioração no desempenho deste segmento, que tem

sofrido bastante com a crise fiscal dos vários níveis de governo, com o alto grau de

inadimplência e com a pequena margem de lucro das empresas. Mas, apesar da redução

significativa dos investimentos governamentais, a construção pesada tem conseguido

sobreviver através de algumas fontes básicas de demanda: i) recuperações emergenciais

de rodovias e vias públicas; ii) os programas de concessões e privatizações de estradas,

que exigem obras de conservação, expansão e melhorias; iii) os grandes projetos de infra-

estrutura básica financiados com recursos externos e/ou privados; iv) os projetos de infra-

estrutura e saneamento previstos no Orçamento Geral da União, a exemplo do “Programa

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Brasil em Ação 3 ” ou financiados com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social - BNDES e/ou do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS.

Vale lembrar que a diversificação das atividades, expandindo os negócios para a

construção de hipermercados e grandes centros turísticos, também tem sido responsável

pela sustentação econômica das empresas brasileiras que atuam na área de construção

pesada.

Além disso, os processos de globalização e de abertura econômica tendem a melhorar a

posição relativa do subsetor de construção pesada. Os programas de privatizações e

concessões de serviços públicos igualmente têm contribuído para ampliar a demanda na

área de infra-estrutura de energia, telecomunicações e transportes, incrementando

também as obras relativas à Construção Pesada.

I - 1.3 - SUBSETOR DE MONTAGEM INDUSTRIAL

Em termos de organização interna, o subsetor de Montagem Industrial é bem mais

homogêneo do que os outros subsetores, prevalecendo um número reduzido de

empresas de grande e médio porte. Esta estrutura de mercado é condicionada pela

própria natureza das atividades, que de certa forma impõe maior capacitação tecnológica

e ganhos de escala.

3
Plano de Metas do Governo Fernando Henrique Cardoso para o triênio 1997/99, totalizando 42 projetos em vários
setores considerados prioritários. No total da infra-estrutura de energia, transporte e saneamento básico, o orçamento para
o período é de R$48,76 bilhões.

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Nos subsetores da construção pesada e montagem industrial, apesar da maior

introdução de máquinas e equipamentos, persiste ainda a característica do uso intensivo

de mão de obra, graças às chamadas obras civis associadas às atividades típicas desses

segmentos. A construção pesada e montagem Iidustrial empregaram, em 1991,

respectivamente, 12,09% e 2,6% do volume total de emprego da indústria de construção.

Já a concentração do mercado pode ser claramente demostrada pelo pequeno número de

empresas existentes (TAB.3).

TABELA 3 - Número de Empregados e Estabelecimentos por Gênero e


Subgênero de Atividade da Indústria da Construção - BRASIL
1988 e 1991

Número de Número de
Gênero e Empregados Estabelecimentos
Subgênero 1988 1991 1988 1991
Edificações 850.063 723.981 57.477 115.939
Construção Pesada 155.661 128.100 6.930 10.811
Montagem Industrial 12.921 27.810 895 1.660
Empreiteiros e Locadores de Mão de Obra 247.765 179.800 50.763 76.445
Total 1.266.410 1.059.691 116.065 204.855

Fonte Primária: RAIS 1988/1991


Tabela extraída do "Estudo Setorial da Construção Civil - Características Estruturais do Setor - SENAI - 1995.

Vale lembrar que, embora o número total de empresas ligadas à indústria de construção

tenha aumentado em 76,50% entre 1988 e 1991, o número de empregados caiu no

mesmo período 16,32%. A desocupação maior ocorreu justamente no segmento de

construção pesada, onde o uso do capital é mais intensivo, apontando para um processo

de maior incorporação de tecnologias e métodos produtivos dispensadores de mão de

obra.

No que tange a certas atividades ligadas à construção de infra-estrutura industrial, a

iniciativa privada é certamente a grande demandante. O desempenho desse subsetor

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

acompanha diretamente o movimento dos investimentos industriais do país. Nos últimos

anos, a ampliação dos investimentos na área de infra-estrutura de energia,

telecomunicações e transportes, via programas de privatizações e concessões de

serviços públicos, tem corroborado sobremaneira para a expansão alcançada pela

construção industrial. E a julgar pelo crescente fluxo de capitais externos aportados no

país com a finalidade de investimentos produtivos, aliado à perspectiva de crescimento do

setor industrial, pode-se aferir que a performance econômica deste segmento na virada do

milênio será promissora, impulsionada pela ampliação da demanda exercida pela

implantação e/ou expansão de indústrias de transformação.

O Ministério da Indústria, Comércio e Turismo - MICT estima que no período 1995-2000

serão aplicados US$ 63 bilhões no setor industrial brasileiro e se se considera os

investimentos em infra-estrutura, o volume de inversões pode chegar a US$ 220 bilhões

até o ano 2003, distribuídos entre os setores de telecomunicações, energia, transportes,

turismo e saneamento.

I - 1.4 - TENDÊNCIAS PRESENTES NAS EMPRESAS BRASILEIRAS


E
INTEGRAÇÃO REGIONAL

Diante da incapacidade de investimentos governamentais (em nível federal, estadual e

municipal) e da situação econômica adversa, a tendência que se observa no setor de

construção nacional é a formação de consórcios e parcerias entre as empresas. No

subsetor de Construção Pesada, a associação entre empresas, inclusive estrangeiras,

sempre foi uma condição importante para o exercício da atividade, dado o volume das

obras e a tecnologia requerida.

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

No período mais recente, observa-se que esse procedimento de parcerias vem se

difundindo também entre o subsetor de Edificações, onde sempre prevaleceu o convívio

salutar entre as empresas de grande porte com as pequenas e médias empresas. Mas, a

própria flutuação econômica e a baixa produção que se observa no segmento de

construção imobiliária tendem a estimular os projetos de parcerias, como forma de diluir

custos, garantir margens de luc ro e trocar experiências tecnológicas. Os inúmeros

programas de parcerias são cada vez mais uma realidade e uma necessidade, diante do

mercado mais globalizado e competitivo, como forma de atender à maior exigência do

mercado comprador, ampliar o "market share" ou até mesmo garantir a permanência no

mercado.

Uma outra tendência presente é o aprimoramento tecnológico das empresas. Em trabalho

recente realizado pelo SENAI (1995), uma sondagem junto às empresas de construção

em nível nacional indicou que a adoção de inovações tecnológicas é hoje uma realidade

para cerca de 83% do total das empresas pesquisadas. As três áreas que mais

concentram o processo de inovação são projeto, produção e planejamento, onde foi

apontado o uso de novas tecnologias físicas e organizacionais.

Na área de produção, observa-se uma maior informatização das empresas; a adoção de

novos equipamentos; a introdução de novos materiais e produtos. Na esfera de projetos,

por exemplo, tem-se observado igualmente o maior uso da microinformática e a

associação entre empresas nacionais e internacionais. Já a área de planejamento tem

podido contar com o maior uso de metodologias de racionalização; controle de orçamento;

acompanhamento de custos e materiais; treinamento e qualificação de mão de obra.

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

As estratégias setoriais para enfrentar um cenário de maior competitividade incluem a

busca constante das inovações tecnológicas, redução dos custos, mudanças nas

relações com o fator trabalho (programas de Qualidade Total, Educação e Treinamento,

Prevenção de Acidentes, Ações de Segurança do Trabalho e Redução da Rotatividade,

dentre outras).

Na verdade, a Gestão da Qualidade em todos os níveis (planejamento e projeto,

suprimentos e materiais, execução e manutenção da obra) é uma importante ferramenta

para reduzir custos, incrementar a qualidade/produtividade e, portanto, melhorar o preço e

a satisfação para o comprador. No contexto de um mercado mais competitivo é a linha de

ação proposta para o setor de construção em nível nacional.

No subsetor de construção imobiliária, que é ainda pouco intensivo em máquinas e

equipamentos, os investimentos em pesquisas tecnológicas têm sido direcionados para

novos equipamentos de uso; introdução de novos materiais e produtos; métodos de

controle de produção e processos produtivos; e diminuição dos desperdícios. As

adaptações tecnológicas também vêm ocorrendo, na medida em que há um maior

intercâmbio com as empresas estrangeiras e uma maior troca de experiência entre as

empresas nacionais. As universidades e centros de pesquisa têm tido igualmente um

papel de crucial importância na busca e desenvolvimento de novos processos e materiais,

novas ferramentas e novas técnicas para a construção civil. Neste contexto, há de se

destacar também o significativo papel do treinamento e capacitação dos recursos

humanos das empresas construtoras, especialmente no se estrato gerencial.

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

A médio prazo, o cenário é de uma maior dinamicidade de todo o processo de inovação

disposto acima. As pesquisas de melhoria da qualidade dos materiais e dos processos de

produção tendem a se ampliar.

No que tange ao relacionamento com o mercado externo, pode-se dizer que não há uma

dependência da indústria de construção nacional para com os materiais importados. Uma

característica importante da construção brasileira é o seu reduzido coeficiente de

importação. Estima-se que os requerimentos de importação da indústria de construção

alcancem menos que 2,0% de sua demanda total. A pequena importação de materiais

cumpre um papel importante de estabilizar os preços internos e aumentar o poder de

barganha das empresas construtoras junto ao mercado fornecedor, nos segmentos onde

há tendência à cartelização e oligopolização. Por outro lado, o Brasil ainda não se

posiciona como um país exportador nesta atividade, mas cabe salientar que as empresas

nacionais apresentam significativo potencial quanto às exportações de serviços de

engenharia, na medida em que dispõem de um alto grau de competitividade em nível

internacional.

Sem dúvida nenhuma, a globalização também vem aportando nas atividades de

engenharia e inaugura uma nova era para esse mercado. A abertura econômica abriu

caminho para um crescente interesse dos investidores e empresas internacionais no

Brasil, que chegam ao país com um enorme suporte tecnológico e financeiro e com uma

cultura empresarial mais dinâmica - pontos que são de crucial importância para o setor de

construção civil. Através da parceria com estes investidores, o setor de construção

nacional tem a oportunidade de se modernizar e capitalizar, melhorar a sua qualidade

produtiva e ampliar seus horizontes de negócios.

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

O Mercosul, em particular, cria a possibilidade de novos negócios para a construção civil

no Brasil. Tem-se, inclusive, casos de empresas de construção que já operam nos países

do Cone Sul ou que tiveram a participação em vários contratos externos.4

A médio prazo, a tendência é de incremento deste processo, em especial devido ao

andamento do modelo brasileiro de privatizações e concessão de serviços públicos, que

por si funciona como uma atração dos interesses externos e cria novas oportunidades de

parceria.

II - IMPORTÂNCIA DO SETOR DE CONSTRUÇÃO CIVIL NA


ECONOMIA BRASILEIRA

O perfil da indústria construtora e sua interrelação com as demais atividades econômicas

demonstram claramente a importância singular do Macro Setor da Construção para a

recuperação e expansão econômica duradoura. Esse macro setor é definido como o

setor da construção propriamente dito (edificações, obras viárias e construção pesada),

acrescido dos segmentos fornecedores de matérias-primas e equipamentos para a

construção e dos setores de serviços e distribuição ligados à construção (IPEA, 1997).

Através deste conceito mais moderno, pode-se avaliar melhor os efeitos multiplicadores

setoriais da indústria de construção sobre o processo produtivo, sua enorme capacidade

de realização de investimentos, o seu potencial de criação de empregos (diretos e

4
Como exemplo, pode-se citar a Construtora Andrade Gutierrez S.A, que há anos ocupa uma das primeiras
posições no ranking das maiores empresas do Brasil no setor de constução e cuja participação no mercado
internacional desempenha importante papel no seu faturamento anual. Em 1996, a receita auferida pela
Andrade Gutierrez com obras no exterior (em projetos em 16 países) somou US$259 milhões, ou seja, cerca de
35% de sua receita total.

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

indiretos), além de seus efeitos benéficos sobre a balança comercial e sobre o nível de

inflação.

A participação do macro setor no total do Produto Interno Bruto da economia gira em torno

de 18%. Isso equivale dizer que em 1996 o chamado construbusiness movimentou

aproximadamente R$140 bilhões5 , enquanto o setor da construção isoladamente (que

participa em média com 8% do PIB) adicionou valor à economia no montante de R$62

bilhões (GRAF.2). No que se refere ao valor gerado pela indústria como um todo, a

construção foi responsável por 39,6% do produto industrial em 1996.

GRÁFICO 2 - Participação da Construção e do Macro Setor da


Construção no PIB (Em %) - 1970 A 1996

20,00

15,00

10,00

5,00

0,00

SETOR DA CONSTRUÇÃO MACRO SETOR DA CONSTRUÇÃO

A força de impulsão dessa indústria também pode ser demonstrada pela sua participação

na formação do investimento: em média 66% da formação bruta de capital fixo da

economia são realizados pela construção. Em 1996, os investimentos em construção

contabilizaram cifras de R$98,7 bilhões, representando mais da metade dos investimentos

globais do país.

5
A taxa de câmbio (média aritmética) da moeda brasileira em relação ao dólar americano foi de 1,0051, em 1996
e 1,0780, em 1997.

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

Além disso, o construbusiness gera extraordinários efeitos multiplicadores sobre os

demais setores de atividades: o índice de encadeamento da construção ocupa o 4º lugar

no ranking da economia nacional. O setor construtor movimenta cerca de R$48,05 bilhões

na ligação com os segmentos que estão para trás de sua cadeia produtiva e R$5,05

bilhões no seu encadeamento para frente.

Em especial, vale destacar a potência do setor da construção na geração de empregos na

economia: para cada 100 postos de trabalho gerados diretamente no setor, outros 62 são

criados indiretamente na economia. Estima-se que para cada R$1,0 bilhão a mais na

demanda final da construção, sejam gerados 177 mil novos postos de trabalho na

economia, sendo 34 mil diretos e 143 mil indiretos. Em 1996, o total do pessoal ocupado

na indústria da construção foi de 5,68 milhões, sendo 3,51 milhões diretamente e 2,17

milhões indiretamente.

Segundo PASTORE (1998), “ ... estimativas do Banco Mundial indicam que para cada 1%

de crescimento na infra-estrutura corresponde, em média, um crescimento de 1% do PIB.

E para cada 1% de crescimento do PIB corresponde um crescimento de cerca de 0,5%

do emprego. Portanto, uma expansão de 1% na infra-estrutura faz o emprego crescer

0,5%.” (PASTORE,1998; p. 7 e 8)

E, finalmente, uma outra característica importante da construção é o seu reduzido

coeficiente de importação, que alcança menos que 2% de sua demanda total, de modo

que o crescimento do setor não pressiona a balança comercial e o balanço de

pagamentos do país. Em princípio, a construção é uma indústria que não depende de

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

financiamentos externos. Ademais, os custos da construção são perfeitamente

compatíveis com a taxa média da inflação brasileira.

Em suma, a indústria da construção nacional impulsiona a grande maioria dos segmentos

produtivos, seja através de sua diversificada demanda industrial ou indiretamente pela

geração de emprego e renda, além de que os insumos dessa indústria “... são

responsáveis pelos ganhos de produtividade dos diferentes setores” (PASTORE, 1998;

p.10), o que justifica a sua denominação de “... poderosa alavanca para o

desenvolvimento sustentado do país“. (TREVISAN, 1998; p.17)

III - ATUAL REALIDADE DA CONSTRUÇÃO CIVIL


BRASILEIRA
E PROPOSIÇÕES BÁSICAS

Apesar dos números acima apontados serem, por si só, eloqüentes para ressaltar a

pujança dessa indústria na economia nacional, a importância estratégica do setor ainda

não foi devidamente reconhecida pelas autoridades competentes. O setor ainda padece

pela falta de recursos, pela ausência de políticas setoriais específicas e, principalmente,

pelo baixo nível de sua demanda efetiva. Os governos (em seus três níveis) têm sido

omissos na definição das modalidades e no dimensionamento dos seus gastos, deixando

de priorizar, por exemplo, importantes investimentos em obras públicas.

Com a persistência do desequilíbrio externo, aliado à ausência de uma política fiscal

adequada, a equipe econômica tem apostado na necessidade de restrição da demanda

agregada, via política de juros altos, controle do crédito, desaceleração do consumo e

redução dos gastos públicos. O reflexo tem sido um ritmo de crescimento das atividades

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

produtivas pouco satisfatório e incompatível com as necessidades do país, penalizando

sobremaneira a construção. O Brasil é um país com dimensões continentais e com

enormes necessidades de inversões em infra-estrutura econômica, o que cria potencial

de crescimento para o setor de construção. Todavia, efetivamente não há demanda

suficiente para alavancar todas as possibilidades dessa indústria.

Paradoxalmente, a estratégia de crescimento do país deveria nortear-se pela ampliação

da demanda agregada, via investimentos públicos. Para que a oferta do setor de

construção cresça e produza todos os benefícios aliados à expansão de seu produto, é

preciso que o nível da demanda agregada seja compatível e suficiente. Demanda e oferta

agregada devem crescer juntas, de modo a promover um deslocamento da função de

produção da economia capaz de ampliar o volume do produto nacional e trazer ganhos de

produtividade para a economia como um todo, resultando na melhoria do padrão de vida

da população. Ou seja, é preciso que a sociedade e os governos busquem, de modo

equilibrado, o crescimento do binômio da oferta e da demanda para níveis condizentes

com a disponibilidade dos nossos recursos reais, evitando eventuais gargalos

inflacionários. (FIG. 2)

FIGURA 2 - Binômio Oferta x Demanda: Paradoxo e Estratégia

OFERTA X DEMANDA

Fonte: ROSCOE, 1997

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

Enquanto perdurar esse desequilíbrio entre demanda e oferta, o resultado será a perda de

eficiência econômica e o aumento do “custo Brasil”, dado que o incremento da

produtividade de nossa economia está estreitamente correlacionado à construção da infra-

estrutura do país. A escassez de investimentos em construção é, na verdade, um viés aos

objetivos de crescimento continuado da nação, principalmente quando se considera a

capacidade do setor de impactar e melhorar a base produtiva da economia, gerando um

acréscimo expressivo de postos de trabalho, sem pressionar a balança comercial e a

inflação.

IV - PERSPECTIVAS PARA O SÉCULO XXI

A globalização implica em um processo de mudanças em escala mundial e impõe como

dinâmica inexorável a busca da colaboração e a constituição de parcerias estratégicas ,

em detrimento ao antigo jogo da concorrência selvagem. O mundo, hoje, orienta-se pela

defesa de uma cooperação internacional que assegure o pleno exercício do livre comércio

e do fluxo de capitais, de modo a garantir a expansão da produção mundial e a

transferência de tecnologias. Só a colaboração mútua faz com que ocorra crescimento

em conjunto.

Há uma nítida tendência ao entendimento entre as partes, visando “... identificar nichos de

convergências e complementariedades” (SAE, 1997; p.19) que possibilitem a

maximização dos ganhos de produtividade e qualidade. É dentro deste contexto que se

esboçam a regionalização dos mercados e a formação de blocos econômicos, tais como

o MERCOSUL (Mercado Comum do Cone Sul), o NAFTA (North American Free Trade

Association) e a União Européia, dentre outros. Os recursos reais da sociedade moderna

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

são os conhecimentos técnicos e científicos, a formação do capital humano e a prática

efetiva da colaboração produtiva.

A visão prevalecente é a de que somente os que participam intensamente da cadeia

produtiva podem gerar valor agregado e obter ganhos de produtividade e eficiência

econômica, sendo que os maiores ganhos potenciais resultam justamente das

interrelações setoriais, das interfaces entre as empresas e do relacionamento

empresa/mercado.

Este é, pois, o grande momento da construção. O século XXI abre janelas de

oportunidades singulares para essa indústria, cujas características e peculiaridades estão

em perfeita conformação com as novas exigências da economia mundial globalizada,

além ser o pilar básico para se construir o caminho do desenvolvimento econômico

sustentado da nação.

As perspectivas para o setor construtor brasileiro na virada do novo milênio estarão na

dependência direta do desempenho da economia nacional e da configuração da política

econômica do governo federal. Estima-se que o crescimento da economia brasileira no

período 1998-2002 poderá variar de 1,5% a 6% ao ano, considerando-se três cenários

alternativos para a taxa de juros internos (juros baixos, básicos e altos). O setor de

construção poderá acumular neste mesmo horizonte temporal um crescimento de 35%,

no cenário de juros baixos, e apenas 15%, no cenário de juros altos. (TREVISAN, 1998;

p.8)

O aumento exacerbado dos juros internos e os efeitos perservos do desequilíbrio fiscal

têm impactos desfavoráveis sobre o setor de construção pela restrição da demanda

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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interna e inibição dos investimentos produtivos, com conseqüente queda do nível de renda

e emprego. Não se pode pensar em trilhar os caminhos do desenvolvimento colocando-se

em cheque as condições de crescimento da indústria da construção. Fomentar e priorizar

este setor é, na verdade, buscar a solução para os grandes problemas da nação como o

desemprego, os déficits habitacional e de infra-estrutura básica, gerando impactos

positivos para toda a economia. A construção civil, através de um agenda positiva de

ações por parte do governo, pode estimular o mercado interno, resultando em maiores

investimentos, aumento do nível de emprego e melhoria das condições de vida da

população.

VI - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS

O desafio fundamental do Brasil no início do próximo século é, sem dúvida, a articulação

de recursos e de políticas públicas para a promoção e sustentação do seu

desenvolvimento econômico-social. E não se pode pensar em desenvolvimento de um

país sem enfocar a construção, que é a indústria do bem-estar da sociedade e a

referência quando se pretende refletir sobre os novos paradigmas em processo -

internacionalização da produção, inserção competitiva e complementaridade estratégica.

A construção é a indústria da qualidade de vida, uma vez que produz bens como soluções

de urbanismo e edificações indispensáveis ao bem-estar e à evolução da sociedade, bem

como planeja e executa soluções de infra-estrutura imprescindíveis ao aumento da

produtividade da sociedade.

Os investimentos em infra-estrutura constituem um roteiro plausível para a superação dos

gargalos críticos ao desenvolvimento e dos desafios que a globalização impõe ao país,

tornando-o mais economicamente competitivo e mais eqüitativo em termos sociais. É

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

hora de apostar nessa indústria que, além de ajudar no crescimento do mercado interno

via ampliação da renda e do emprego, pode reduzir nossas vergonhosas estatísticas de

déficit habitacional e de infra-estrutura básica. A construção deve ser considerada como

atividade estratégica para a indução do crescimento econômico sustentado também pelas

suas peculiaridades de não gerar inflação e não pressionar o balanço de pagamentos do

país.

Igualmente, não se pode traçar o caminho do desenvolvimento sustentável sem a

interação ativa e dinâmica entre empresas e sociedade, entre os setores produtivos e

entre os mercados regionais (Sinergias Regionais). É necessário que prevaleça a visão

holístico-sistêmica de que os potenciais de ganho de qualidade e produtividade estão nas

interfaces entre empresas (clientes e fornecedores) e na melhor colaboração entre essas,

a sociedade como um todo e os governos, buscando o crescimento e o progresso

econômico através de um relacionamento mais colaborativo. Na consolidação do jogo

colaborativo está a senha para o pleno aproveitamento da nova razão econômica em vigor

e dos benefícios resultantes dos mercados globais.

Para o desenvolvimento econômico com a evolução da sociedade e da cidadania, é

necessário também que se caminhe na direção da descentralização das decisões, hoje

excessivamente centralizadas. O aumento da participação da iniciativa privada na

economia gera mais dinamismo e propicia o desenvolvimento da empresa cidadã, que

percebe as interligações holístico-sistêmicas da economia e que o enorme potencial de

desenvolvimento e bem-estar só será alcançado numa sociedade de mais colaboração.

Neste contexto, as Câmaras da Indústria de Construção têm o papel de lutar a favor dessa

visão otimista de que um grande potencial de realizações e desenvolvimento se abre

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DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
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- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

diante da América Latina, cujos problemas podem se transformar em oportunidades. Às

entidades de classe cabe criar autoregulamentações em harmonia com os interesses

maiores da sociedade, procurando mostrar que a ética tem muito a ver com o dinamismo

e a produtividade da economia. É preciso que lideremos o processo de mudança rumo ao

século XXI, mais civilizado, colaborativo, ético, rico e feliz.

CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA


CONSTRUÇÃO CIVIL - CBIC

COMISSÃO DE ESTRATÉGIAS, INTEGRAÇÃO E


COORDENAÇÃO SETORIAL – CEICOS

COMISSÃO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS - CRI

COMISSÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA - CEE

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KRUGMAN, Paul R. Vendendo Prosperidade: sensatez e insensatez econômica


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