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Conforme dados da CBF, a esmagadora maioria dos jogadores, mais de 80% para ser
mais preciso, recebe entre um e dois salrios mnimos. Somente 13% dos jogadores alcanam
um patamar salarial entre 1000 e 9000 e, finalmente, apenas 3% recebem acima de 9000 reais
por ms.
O caso do jogador Neto Maranho um contundente e triste retrato da desigualdade do
futebol profissional no Brasil, e, de como esta, reflete as desigualdades sociais e regionais mais
amplas que assolam o pas. As ausncias de uma equipe mdica e de equipamentos de urgncia
necessrios reanimao expem, de uma s vez, e de maneira visceral, a situao de
vulnerabilidade que a maioria dos profissionais de futebol de tem arcar pra manter-se na carreira
e a discrepncia em relao infraestrutura proporcionada pelos grandes clubes aos seus
jogadores.
A razo de to gritantes diferenas e distncias no pode ser reduzida a uma simples questo de
gesto e profissionalismo por parte de dirigentes. As respostas devem de ser buscadas nas
desigualdades de tratamento e de apoio financeiro entre os clubes e de redistribuio do
dinheiro movimentado no futebol cuja grande fatia do bolo so abocanhada pela CBF,
empresrios e um punhado de clubes de futebol.
A concentrao de renda e a desigualdade do futebol so assustadoras. E estas se tornam
particularmente violentas quando so reiteradamente ofuscadas pela mis-em-scna milionria e
espetacular do mundo do futebol miditico, que encena e dramatiza a exceo. Na verdade, o
futebol um empreendimento lucrativo para alguns poucos e, com efeito, uma alternativa de
mobilidade social para outros poucos felizardos e abastados talentosos e bem assessorados. A
regra do futebol como empreendimento, profisso e esporte a concentrao, a desigualdade e a
vulnerabilidade. A tudo isso soma-se, ainda, a baixa escolarizao dos indivduos, a frustrao
recorrente pelas altas expectativas iniciais no-logradas com o decorrer da carreira e as poucas
alternativas viveis de continuar no futebol aps o encerramento da carreira de jogador,
fechando, assim, uma conta cruel e sintomtica bastante prxima da realidade social do mercado
de trabalho no Brasil.
Aps mais essa morte entre jogadores profissionais, que a sociedade em geral e as
instituies de proteo social e trabalhista em particular no se deixem seduzir pela encenao
da exceo do futebol, produzida pelas indstrias do espetculo miditico.