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A ortodoxia convencional soube construir bilitar um conjunto mais harmônico de políticas

um conjunto firme e coerente de pensamento ideo- alternativas voltadas para o desenvolvimento eco-
lógico, difícil de ser combatido. Porém, pode-se nômico. Tais políticas passam, obrigatoriamente,
considerar que os artigos desse livro compõem pela reformulação e participação do Estado.
uma crítica a essa ortodoxia convencional, usan-
do argumentos também coerentes. Muito embora Jairo Abud
tais artigos sejam coerentes em si, eles não o são Professor da Escola de Economia
entre si, faltando complementaridade para possi- de São Paulo da Fundação Getulio Vargas

Mercado de Capitais e Dívida Pública - tributação, indexação, alongamento


Edmar Bacha e Luiz Chrysostomo de Oliveira (orgs.)
Rio de Janeiro: Editora Contra Capa, 2006.

Um dos grandes desafios da economia bra- rios deles diretamente ligados à condução da po-
sileira é o estabelecimento de um mercado de lon- lítica macroeconômica dos últimos anos. São dois
go prazo de títulos pré-fixados. Especialmente in- os textos-base. O primeiro, de Alkimar Moura,
trigante é a pouca relevância desse mercado, não busca apresentar uma introdução à tributação no
obstante o fato de o país vivenciar um relativo mercado financeiro e de capitais no Brasil. O se-
controle inflacionário há cerca de doze anos. Ou gundo, de Márcio Garcia e Juliana Salomão, ava-
seja, enquanto nossa estabilidade de preços se lia possíveis lições para o Brasil, tendo em vista
aproxima da adolescência, as LFT’s (Letras Fi- o processo de alongamento da dívida pública de
nanceiras do Tesouro), títulos pós-fixados e sím- Israel, México e Polônia.
bolo máximo desta questão, já gozam a maiori- A tarefa de Alkimar Moura é dificultada pe-
dade há algum tempo, tendo completado vinte lo emaranhado de detalhes tão característico de
anos em 2006. nossa tradição legal. Mesmo aqueles devidamen-
Obviamente, a comparação desses prazos te habituados aos jargões típicos dos mercados
deve ser qualificada notadamente pela ocorrên- encontram dificuldades para compreensão dos
cia de sucessivos episódios de crises financeiras pormenores estabelecidos no arcabouço do siste-
entre 1994 e 2002. Falar em alongamento e au- ma tributário. Além disso, como bem ressalta o
mento de títulos pré-fixados em meio ao turbi- autor, as especificidades relativas ao funciona-
lhão das crises seria, no mínimo, um debate fora mento do mercado financeiro devem ser de ante-
de lugar. Os últimos anos, contudo, apresentam mão salientadas, sob pena de não se obter, por
um cenário internacional altamente favorável, so- exemplo, uma estimativa precisa sobre a incidên-
bretudo pela combinação de liquidez abundante cia tributária efetiva de um dado conjunto de
e elevadas taxas de crescimento nos mercados agentes. É o caso da capacidade de arbitragem
emergentes e no G7. Tudo isso em um contexto por parte dos mercados, amplificada a partir dos
de reduzidas taxas de inflação. avanços do processo de globalização financeira,
Neste sentido, o livro Mercado de Capitais que dificulta a tributação dos mercados, mesmo
e Dívida Pública - tributação, indexação, alon- em países desenvolvidos. Daí a chamada “natu-
gamento, organizado por Edmar Bacha e Luiz reza etérea” dos produtos financeiros, citada pe-
Chrysostomo de Oliveira, resgata um debate ne- lo autor.
cessário, além de propor alternativas para efeti- Dado o alto grau de substituição entre es-
va existência de um mercado de longo-prazo. Nos ses produtos, o ônus tributário efetivo arcado pe-
moldes da publicação anterior, Mercado de Ca- los agentes pode ser completamente diferente da
pitais e Crescimento Econômico - lições interna- incidência nominal. Como exemplo, o autor men-
cionais, desafios brasileiros, o livro reúne uma ciona que um aumento do imposto de renda so-
coletânea de artigos de renomados economistas bre juros pode ser compartilhado de diversas ma-
e players do mercado financeiro e de capitais, vá- neiras por depositantes, tomadores e investidores,

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a depender do valor relativo das elasticidades. tério de eficiência. A experiência internacional
Outro fator derivado da natureza dos mercados aponta para reformas tributárias que enfatizem a
é sua capacidade de promover a chamada arbi- eficiência e a eqüidade, o que envolve, muitas ve-
tragem tributária, ou seja, o sistema financeiro zes, redução de alíquotas marginais, como é o ca-
potencialmente diminui a incidência de impostos so do IR. Além disso, no caso do sistema finan-
sobre si próprio. ceiro, deve prevalecer uma abordagem que
Isso posto, o autor avalia qualitativamente considere as distorções eventualmente geradas pe-
a tributação incidente sobre os três grandes gru- la tributação, assim como a capacidade de repas-
pos atuantes nos mercados, ou seja, os aplicado- se de aumentos de alíquotas para os demais par-
res ou investidores, os tomadores ou devedores, ticipantes da cadeia de intermediação financeira.
e os intermediários financeiros. Fundamentalmen- O texto de Márcio Garcia e Juliana Salo-
te, as cargas tributárias efetivas de cada agente mão tem como linha central de argumentação a
advêm não somente de sua posição dentro da ca- necessidade de uma avaliação adequada do risco
deia de intermediação financeira, mas também da sistêmico ou não-diversificável. Em uma econo-
natureza, do prazo e das demais condições da ope- mia de mercado, essa é a medida de risco relevan-
ração. te, uma vez que os agentes econômicos eliminarão
Para os aplicadores ou investidores, o im- o risco não-sistemático através da diversificação.
posto de renda (IR) tem a maior relevância em Não haverá êxito na direção do desejado alonga-
termos de arrecadação. Incidem sobre as transa- mento da dívida pública e na colocação de títu-
ções o imposto sobre operações financeiras (IOF) los de longo prazo sem a redução do risco sistê-
e a CPMF. Apesar de menos importantes do pon- mico.
to de vista de arrecadação, estes últimos acabam Partindo desse diagnóstico, os autores bus-
causando distorções no funcionamento do mer- cam comparar a evolução das variáveis econômi-
cado, principalmente por afetar a liquidez neces- cas fundamentais à caracterização do risco sistê-
sária ao desenvolvimento dos mercados secundá- mico no Brasil e em países que obtiveram sucesso
rios. Para os tomadores ou devedores, incidem no alongamento de suas dívidas (Israel, México
diretamente o IOF sobre o crédito e a CPMF, ha- e Polônia). Essa comparação mostra-se desfavo-
vendo, saliente-se, a possibilidade de dedução dos rável ao Brasil sob vários aspectos: i) a dívida pú-
juros pagos pelas pessoas jurídicas da base de cál- blica não mostrou redução significativa em rela-
culo do IR. ção ao PIB; ii) a inflação não caiu de maneira
Em relação aos intermediários, o autor res- suficiente a aproximar-se dos três países acima;
salta que grande parte das distorções e ineficiên- iii) os juros reais continuam elevados; e iv) o país
cias de nosso sistema tributário advém justamen- não é avaliado como grau de investimento.
te da taxação imposta a esse grupo. São as A abordagem analítica desenvolvida por
peculiaridades dos mercados e a natureza etérea Marcio Garcia e Juliana Salomão é especialmen-
já mencionada. Neste sentido, é importante exa- te interessante por salientar o grau de controvér-
minar a evolução das componentes de tributação sia ao qual a economia está sujeita. Tanto é ver-
sobre o sistema financeiro nos últimos anos. No- dade que Joaquim Levy, ao avaliar o trabalho dos
ta-se um aumento significativo da arrecadação autores acima, afirma que, utilizando uma meto-
através do Programa de Integração Social (PIS) e dologia de cálculo mais conservadora que leve em
Contribuição para o Financiamento da Segurida- conta o pagamento do principal e dos juros, o
de Social (COFINS), que, conjuntamente, respon- prazo médio da dívida brasileira é maior do que
deram por 40% do total de tributos pagos pelo o da dívida mexicana e polonesa. Além disso, Joa-
setor financeiro. Como a maior parte desses tri- quim Levy afirma que há uma melhora no perfil
butos é repassada para os tomadores finais, os de endividamento e uma menor sensibilidade da
efeitos sobre o spread bancário são evidentes. Por- dívida a choques na economia, fatores possivel-
tanto, é imprescindível levar em conta as parti- mente subestimados na avaliação do mercado.
cularidades do sistema financeiro, como lembra Em que pese o fato de Joaquim Levy, à épo-
Ana Novaes, a fim de obter um desenho adequa- ca, estar ocupando o cargo de secretário do te-
do de tributação do setor. souro, suas argumentações trazem à tona o fato
O grande desafio aqui reside em tributar pro- de que, no debate econômico, pode haver uma
gressivamente sem comprometer em demasia o cri- discordância em relação à própria medida de ris-

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co sistêmico. Por exemplo, alguns argumentam que propôs a indexação das LFT’s a uma taxa mé-
que faltaria ao Brasil ampliar a abertura da con- dia de um período maior (ao invés do overnight),
ta capital como forma de diminuição de risco e soaram “rebuscadas” para alguns autores.
acesso ao grau de investimento. Entretanto, inú- Não adentrando no mérito da correta defi-
meros autores, inclusive alguns insuspeitos do nição do adjetivo acima, parece fundamental uma
ponto de vista de defesa das práticas de merca- ação ativa por parte do governo e não fazer na-
do, como é o caso de J. Bhagwatti (In Defense of da constitui um second best. Talvez, por questões
Globalization. Oxford: OUP, 2004), sustentam ideológicas, haja uma preocupação excessiva com
que a abertura da conta capital tem efeitos nega- os malefícios de qualquer ação de governo. Na
tivos e acaba por aumentar o risco sistêmico. prática, porém, as intervenções ocorrem e o pró-
O papel fundamental das LFT’s em momen- prio Fed, em diversos momentos, “solicitou” a
tos cruciais do país é cuidadosamente relatado por colaboração do mercado, visando, por exemplo,
André Lara Rezende, ressaltando sua importân- combater o risco sistêmico.1 Além disso, perma-
cia em tempos de incerteza, tendo inclusive a van- nece o argumento de que o melhor incentivo pe-
tagem de reduzir o custo da dívida em momentos lo lado da demanda para ativos de longo-prazo
adversos. Além do efeito óbvio sobre o custo da seria a redução das taxas reais de juros, embora
dívida, a predominância das LFT’s tem efeitos ne- aperfeiçoamentos de mercado sejam bem-vindos.
gativos sobre a condução da política monetária, Fica aqui a recomendação de uma leitura
notadamente pela presença do efeito riqueza de- fundamentada teórica e empiricamente e que tra-
corrente de mudanças nas taxas de juros, confor- ta de um tema que figura no topo da agenda eco-
me salientado por Afonso Pastore e resgatado por nômica brasileira.
vários autores, como Alkimar Moura.
A controvérsia ressurge, contudo, quando o Lauro Gonzalez
assunto é o fim desejado para as LFT’s. “Morte Professor do Departamento de Contabilidade,
matada ou morte morrida”, eis a questão. Em ou- Finanças e Controle da EAESP-FGV
tras palavras, trata-se de discutir o papel do go-
verno nessa empreitada. Nenhum dos autores con-
corda com artificialismos, porém não há uma
1
A esse respeito, ver o interessante livro de Lawrence Meyer
entitulado My Term at the Fed, especialmente o capítulo 5,
definição precisa sobre o que definiria tal termo. que trata da interferência do Fed no contexto das crises asiá-
Por exemplo, idéias como as de Francisco Lopes, tica e russa e da quebra do hedge fund LTCM.

Perspectivas para a Economia Brasileira: Inserção Internacional e Políticas Públicas.


Luiz Fernando de Paula, Léo da Rocha Ferreira, Milton de Assis (orgs.)
Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2006.

A presente obra, organizada e escrita por por 17 capítulos divididos em 4 seções. A primei-
professores da Faculdade de Ciências Econômi- ra seção, que aborda temas relacionados ao Co-
cas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro mércio Internacional e aos Acordos de Comércio,
(FCE/UERJ) e editada como parte das celebra- é composta por 3 capítulos. Nos dois primeiros
ções do 75º aniversário da referida faculdade, é (de autoria de Honório Kume e Octavio Touri-
uma coletânea de textos que traz uma discussão nho) discutem-se as relações comerciais envolven-
sobre diversos assuntos relevantes para o enten- do o Mercosul, a Alca e a União Européia. Nesse
dimento e desenvolvimento da economia nacio- caso, verifica-se a existência de um potencial con-
nal. São textos que analisam aspectos socioeco- flito entre Estados Unidos e Mercosul no que se
nômicos da economia brasileira e apresentam refere às negociações de acesso ao mercado na Al-
algumas preposições de políticas no âmbito eco- ca. Com base no cálculo das vantagens compara-
nômico, público e social. tivas reveladas, mostrou-se que as estruturas de
Mais especificamente, o livro é composto competitividade entre os países envolvidos são

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