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A raça ariana David Gonçalves Nordon

A raça ariana

22/09/04

É, lá estava eu, mais uma vez, sentado em uma cadeira pequena,


quente (ainda que acolchoada e quase confortável), tentando achar uma
posição aceitável para alguém do meu tamanho naqueles assentos de
anão, enquanto um professor de história explicava a história das
olimpíadas. Eu poderia ter dormido umas cinco, seis vezes (claro, iria
acordar com uma dor nas costas que não estaria no gibi), mas me
mantive firme, prestando atenção (ou quase) ao que ele falava.
Nas olimpíadas de 1936, Hitler mandou seus exemplos perfeitos
de humanos, a raça ariana, para competir nas olimpíadas, e eles, devo
admitir, conseguiram resultados assombrosos (arremessaram uma lança
a quase 72 metros! Eu não consigo tacar ela nem a três!), mas, ainda
assim, perderam para os negros, provando que a idéia de raça perfeita
estava errada. Hitler saiu comendo o chapéu e queimando o bigodinho
de raiva.
Foi quando me perguntei: “O que teria acontecido se Hitler tivesse
ganhado a guerra, se estivesse hoje – velho, sem cabelos, mas com o
bigodinho – no poder?”. Mais: imaginei como seria uma conversa com
um Hitler do futuro, criando seus próprios “seres perfeitos”.
- Also, hier sind die Männer, die ich entdeckt habe, um zu
entwickeln, wärend die Leistung...
(Opa, esqueci a tradução...)
- Muito bem, aqui estão os homens que eu inventei, para que se
desenvolvam, enquanto o desempenho é totalmente garantido...
- Ei, espera um pouquinho, seu Hilter. Como é o esquema aqui?
- Presta atenção que eu só vou explicar uma vez! Aqui estão os
homens que eu criei, desenvolvendo-se.
Casulos como os do filme Matrix, como de romances de Aldous
Huxley, estendiam-se indefinidamente, tomando um gigantesco corredor
branco, com suas luzes vermelhas, dispostos na vertical, o interior
contendo um homem branco como leite, com eletrodos implantados em
seu peito e cabeça.
- Decidimos que a idade ideal para um ser humano é exatamente
os 25 anos. Acabaram-se os problemas de crescimento, de modificação
do cérebro, dos comportamentos, mas ainda não começaram os
problemas de adultos. Além disso, nesta idade o metabolismo ainda é
acelerado, o que os impede de engordar tão facilmente, perfeito em
uma sociedade perfeita.
- Nada de barriga de chope, então?
- Não.
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- E acabar com o estereotipo alemão? É como tirar a bola de


futebol e as havaianas dos brasileiros!
- Olha, não reclama ou eu te mando para Auschwitz, está bem?
- Ainda existe?
- É claro, lá estão todas as párias da sociedade, para serem
eliminados. A cada leva de cem que conseguimos, matamos nas
câmaras de gás. Simples e eficaz.
- Que párias?
- Uns certos infelizes que sobreviveram, que não pertencem à raça
ariana, ou então algumas anomalias genéticas que aparecem, de vez em
quando, uma vez a cada duzentas milhões.
- Uhm... – murmurei.
- Pois bem, voltando à minha explicação. A recombinação genética
permitiu que todos tenham cabelos louros, olhos azuis, nariz perfeito,
corpo de Adonis, físico de Aquiles. Estimulamos seus cérebros desde
pequenos para que aprendam tudo em menos de um ano de
treinamento intensivo, no qual estes eletrodos que vê à sua frente criam
as ligações entre os neurônios, implantando todo o conhecimento
necessário.
- Tudo?
- Absolutamente tudo. Todos são inteligentes, todos têm
conhecimentos filosóficos, biológicos. Eliminamos lixos inúteis como
televisão e aqueles programas que filmam pessoas dentro de uma casa,
de modo que eles não têm qualquer conhecimento fútil. E o melhor, veja
só.
Ele me levou até uma janela e a abriu, mostrando-me um batalhão
de cabeças louras enfileiradas logo abaixo de si.
- Qual é a raça perfeita?
- Ariana! – responderam.
- Quem é o seu imperador favorito?
- Hitler!
- Viu só? Nenhuma diferença de opinião, nenhum pensamento
diferente, nada, tudo absolutamente perfeito, a perfeita ordem. O
mesmo credo, a mesma religião. Nenhum judeu, nenhum muçulmano,
nenhum homossexual, nada. Todos exatamente iguais. Claro, às vezes
acontece um erro nas máquinas e um certo infeliz nasce com uns
pensamentos um tanto diferentes, mas nada de que Auschwitz não
cuide.
- Meu Deus! – exclamei.
Um faxineiro loiro, alto, forte, de olhos azuis, passou por nós.
- E a divisão de trabalho, então? Perfeita. Cada um executa uma
tarefa por uma semana. Todos fazem tudo, ninguém tem nenhuma
preferência, nenhum tem nenhuma especialidade. Não temos médicos,
já que ninguém fica doente, pois podemos prever e controlar com 100%
de certeza o que virá a acontecer, e não temos advogados, pois
ninguém tem problemas de compras. Tudo é de todos. No final do dia,
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cada um pega a sua ração de comida e vai para casa, onde moram com
uma família pré-formada. Todos os dias saem à noite, para fazerem o
que quiserem, beber, dançar, qualquer coisa. Ao som dos sinos, eles
voltam. Após dez anos vivendo juntos, eles ganham um filho criado por
nós, que deve ser trazido aqui todos os dias para ser educado. E as
pessoas só morrem depois dos 150 anos, apesar de não terem
envelhecido em nada, pois as células têm uma morte programada para
tal data.
- Programada?
- Sim, elas simplesmente se desligam depois de 150 anos de uso.
E a pessoa morre. Mas não temos velório, nada de tristeza. Ela é
simplesmente cremada, e o carbono das suas cinzas é usado na
constituição de diamantes para enfeitar minha coroa.
- Têm festas de aniversário? – perguntei.
- Não.
- Casamento?
- Para quê? Não!
- Bar Mitzvá?
- O quê?!
- Nada não, esquece. Vocês não tem nada?
- Não.
- É tudo igual?
- Sim. Venha ver.
Subimos em um helicóptero (pilotado por um loiro, forte, de olhos
azuis, com profundos conhecimentos platônicos), que nos levou em um
tour pela cidade de Hitler, com cabeças douradas marchando,
trabalhando, todos juntos, ao mesmo tempo, fazendo as mesmas coisas,
sem falar nada, sem poder discutir um assunto, por terem a mesma
opinião, tendo de, dia após dia, repetir as mesmas frases assustadoras
dos mesmos assuntos. Sem conhecimento inútil. Sem fofocas sobre a
vizinha. Sem estipulações sobre o tempo. Nada diferente, tudo igual,
tudo o mesmo.
E Hitler, riu, satisfeito com sua obra.
- A raça Ariana é a mais perfeita! – exclamou.
- Socorro!! – gritei e gritei.
Por fim, me vi de volta no anfiteatro, apertado, vendo o professor
dando a sua palestra. Olhei para o meu lado, onde havia um garoto loiro
de olhos verdes. Verdes! Ao meu lado, um japonês de cabelos negros
curtos e olhos castanhos. Graças a Deus! Estava tudo normal de novo!
Com alívio, ouvi uma garota fofocando sobre uma amiga, ouvi
discussões sobre o tempo, sobre como o auditório era quente, sobre
como era chata a aula de matemática, acordos e desacordos!
Contradições!
Suspirei aliviado. Graças a Deus!
Para que uma raça perfeita e igual, se é errando que se aprende, e
fazendo diferente que se sobrevive?
A raça ariana David Gonçalves Nordon

Viva as diferenças!

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