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Galeria Prestige – Abril 2010
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Batista-Bastos/ Cristina de Azevedo Tavares/ Amadeu Lopes Sabino/ Joaquim Saial/ Ana
Isabel Ribeiro/ José Manuel Anes/ Mário Caeiro/ Nuno Crespo/ Nuno Rebocho.
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2003- Colabora com o Arq. Cândido Chuva Gomes no Museu da Cidade de Vila Franca de
Xira, onde realiza um Biombo monumental.
2008- É seleccionado com duas instalações em pedra da calçada com luz para a LUZBOA
08 e para a LUCI D´ARTISTA/TURIM.
2009- Inicia ciclo de três exposições individuais com curadoria de Mário Caeiro (Oklahoma,
Mapas Alquímicos e Painéis de Lazarim).
A convite de Joaquim Benite, realiza o espaço cénico da peça Dois Homens, de José
Maria Vieira Mendes, coincidindo a estreia da peça com a inauguração da exposição
OKLAHOMA no Teatro Municipal de Almada. Promove actualmente uma série de parcerias
artísticas: com Pedro Sena Nunes e Gonçalo M. Tavares e João Gil (Ladrões de Deus,
projecto de vídeo-instalação no Mercado de Santa Maria da Feira, a convite do Festival
Imaginarius) com João Monge, Manuel Paulo e Nancy Vieira (Projecto o Pássaro Cego) e
com a VOÁRTE no projecto multidisciplinar «O Aqui». Em 2009, participa em Tórun/
Polónia no SKYWAY 09, com uma instalação/projecção «Lágrimas de São Lourenço».
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- SITE: http://www.joaoribeiro.paginas.sapo.pt
- VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?v=8cJs1-jof34
«OKLAHOMA, UMA PINTURA DE JOÃO RIBEIRO
No romance inacabado Amerika, de Franz Kafka, o herói – Karl Roßmann – depara-se com
um espaço de hipotética redenção humana diante de um cartaz que diz: Quem quiser ser
artista, dirija-se-nos! Somos o teatro que pode dar emprego a toda a gente, a cada qual o
seu lugar! O Grande Teatro ao Ar Livre de Oklahoma é assim uma espécie de não-lugar
utópico, disfuncional, mas onde «Todos são bem-vindos!».
Aos 25 anos de carreira, João Ribeiro apresenta-se pela primeira vez em Almada com um
projecto que abre um novo ciclo de trabalhos políticos, o primeiro de um conjunto de três
exposições individuais. O universo de Kafka, mas sobretudo a seu amargo filosofar do
risível, motivaram a realização de uma única pintura de grandes dimensões que por sua
vez se apresenta como hipótese de discurso autocrítico sobre o próprio género pictórico –
que em João Ribeiro é de matriz figurativa e narrativa – e sua função na
contemporaneidade.
N’O Grande Teatro ao Livre de Oklahoma de João Ribeiro, a figura tutelar de Andy Warhol
– supremo artista, supremo charlatão, supremo negociante e supremo ‘ídolo’ que depois
de Duchamp e com Leo Castelli reconfigurou a geografia e a topologia da arte actual –
destaca-se num fundo desértico em que pontualmente surgem representadas, num registo
simultaneamente aurático e fantasmático, perturbadoramente desmaterializado como é
característico acontecer no universo kafkiano – as figuras compósitas de um imaginário
que é o de todos nós, imersos na sociedade de consumo cultural em que se transformou o
Ocidente e, tudo indica, se transformará o Planeta.
Como no universo de outro autor marcado com a diabólica letra ‘K’ – Philip K. Dick –, algo
está errado – e não é apenas a efígie apatetada do autor imiscuindo-se celebridade junto
de Marilyn e Michael Jackson, ao som do America do musical West Side Story. O que há
de particularmente incongruente é a compósita e fluida reverberação de signos visuais que
desconcerta, num mise-en-abîme p’ra rir, as imagens feitas – e assim refeitas, tal como
nos textos de Kafka – da paisagem cultural que nos conforma os sonhos, a utopia, o
desejo.
A páginas tantas do romance inacabado do autor checo, um detalhe costuma escapar aos
leitores menos atentos. Na descrição da Estátua da Liberdade, que o autor checo conhecia
de postais que mandara vir por conhecidos, a imponente figura da Justiça segura na mão
não um facho, mas uma espada. Um índice do destino que perseguirá o jovem Karl na sua
demanda dickensiana pela felicidade? Ora João Ribeiro propõe-se, como Kafka, a operar
sobre este tipo de gestos, situações, retratos míticos, e o seu imaginário, a sua pintura, a
sua arte, responde à mesma desconcertante estratégia de desconjuntação de referências,
como que num derradeiro acto – ligeiramente tresloucado diria o nosso amigo Freddie
Mercury – de superação da sua própria condição quotidiana, contingente, enquanto Poeta,
Pintor, Artista.
O resultado não será sua pintura mais dócil – ainda que, como quase sempre em João
Ribeiro, as texturas remetam aqui para uma dimensão decorativa, que decorre do
paralelismo com a apertada tecitura específica da tapeçaria. Mas é certamente uma
primeira pintura – e uma pintura de primeira – num processo de combate – o termo é
definitivamente kafkiano – contra o que no dispositivo histórico da arte moderna por vezes
vai contra o indestrutível – ainda Kafka – que a plasticidade do Pós-modernismo, ou seja a
mal-dita Arte Contemporânea apesar de tudo procura tornar presente.
Com a série que se segue, os Mapas Alquímicos, com apresentação prevista no quadro
das celebrações do centenário da nossa República, está definitivamente lançada um nova
demanda do autor, em que poesia e política se entrelaçam de uma forma que faria Franz,
se não sorrir, pelo menos deixar-se enlaçar num atento olhar intrigado. É a forma da
colagem, da montagem, do fragmento e do superficial, mas afinal a forma como, na nossa
mente, a vida-écran da nossa temporalidade se arrisca a ficar eternamente fixada. Em
Pintura.
Mário Caeiro
Palhais, 2009
Nota: Este texto resulta de um trabalho de proximidade com o João, que tem aberto as portas da
sua garagem e da sua pintura ao autor. Corresponde a um tentativa, rara para ambos, de partilhar o
processo criativo como cartografia sensível do quotidiano e é nestes termos a celebração possível
de uma afinidade electiva que passou pelo profundo respeito e interesse pelas ideias, motivações e
universo cultural de ambos.»