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O documento discute como Octavio Ianni analisou a transição da economia cafeeira para a economia canavieira no Brasil no século XX. Ele argumenta que (1) a cafeicultura estabeleceu as bases do capitalismo no campo brasileiro com o uso de mão de obra escrava e imigrante, (2) crises econômicas levaram ao desenvolvimento de outras culturas como cana-de-açúcar, e (3) a agroindústria açucareira transformou as relações sociais no campo com a urbanização e
O documento discute como Octavio Ianni analisou a transição da economia cafeeira para a economia canavieira no Brasil no século XX. Ele argumenta que (1) a cafeicultura estabeleceu as bases do capitalismo no campo brasileiro com o uso de mão de obra escrava e imigrante, (2) crises econômicas levaram ao desenvolvimento de outras culturas como cana-de-açúcar, e (3) a agroindústria açucareira transformou as relações sociais no campo com a urbanização e
O documento discute como Octavio Ianni analisou a transição da economia cafeeira para a economia canavieira no Brasil no século XX. Ele argumenta que (1) a cafeicultura estabeleceu as bases do capitalismo no campo brasileiro com o uso de mão de obra escrava e imigrante, (2) crises econômicas levaram ao desenvolvimento de outras culturas como cana-de-açúcar, e (3) a agroindústria açucareira transformou as relações sociais no campo com a urbanização e
A quarta aula de Espao Agrrio e Relaes de Poder discutiu parte da
obra do socilogo paulista Octavio Ianni, intitulada Origens Agrrias do Estado Brasileiro, publicada em 1984 e reimpressa em 2004. No livro, o autor faz reflexes profundas sobre o Brasil agrrio e as relaes econmicas e sociais que aqui se estabeleceram desde o incio do ciclo do caf, no ano de 1880. A primeira parte da obra - A Classe Operria vai ao Campo - foi debatida durante essa aula e os principais pontos so apresentados no decorrer deste memorial. 2 A CAFEICULTURA, O NEGRO E O IMIGRANTE Ianni fundamenta sua teoria tendo como corpus o municpio de Sertozinho, que despontou como o Segundo Oeste Paulista no final do sculo XIX em razo do rpido crescimento da cafeicultura. O autor acredita que nesse cenrio de fazendas e cafezais j existia uma sociedade agrria de base capitalista. medida que avanava, a monocultura cafeeira provocava a reorganizao e a dinamizao das foras produtivas. Ao mesmo tempo em que se instaurava o regime de trabalho livre, criava-se o mercado local, vinculado ao da regio e aos centros dinmicos do pas. Nesse processo a terra devoluta transformada em propriedade privada (IANNI, 2004, p.13). Nesse aspecto, ele reflete sobre a ocupao e a concentrao da propriedade fundiria que s aumentou aps o desenvolvimento acelerado da cafeicultura, facilitando a formao das grandes empresas agrcolas. Aps a abolio da escravatura em 1888, os negros tambm participaram da fora de trabalho para a constituio dos cafezais, e ao contrrio do que aconteceu em outros pases que registraram prejuzos econmicos em funo da libertao dos escravos, no Brasil isso no ocorreu justamente porque os imigrantes italianos reforaram a fora de trabalho livre. Impossibilitados de comprarem terras por conta do alto valor, os imigrantes que aqui chegaram, venderam sua fora de trabalho e transformaram-se em colonos. A organizao dos negcios do caf, desde a apropriao das terras devolutas venda dos produtos nos mercados externos, envolvia colonos, fazendeiros, comissrios, exportadores e outras categorias sociais. Desse
modo, desde o princpio, essa cafeicultura liga de alguma forma a economia
local economia do pas e do exterior, em especial, a economia local constituise, desde os seus comeos, bastante determinada pelo capital financeiro que comanda os negcios do caf (IANNI, 2004, p.17). Pelo fato de ter se tornado comercializada, a agricultura de Sertozinho e de outros municpios brasileiros que tiveram o caf como principal fonte monetria no incio dos anos de 1900, adquiriram caractersticas do modo de produo capitalista, incluindo uma dinamizao das foras produtivas formadas no s pelos colonos, mas tambm por negros. importante destacar que a legislao do Imprio tambm dificultou a compra de terras para a maioria da populao, de forma a evitar que os trabalhadores livres se tornassem proprietrios e s restasse a esses, a condio da fora de trabalho. O valor do terreno, tambm aumentou em Sertozinho nas reas que possuam a melhor terra roxa, solo mais adequado para o plantio do caf, fator que dificultou a aquisio de terras para a maioria. Todas essas caractersticas so apontadas por Ianni como forma de afirmar que o desenvolvimento da economia agrria brasileira nesse perodo tem razes nos moldes capitalistas. Sendo o colonato a base da mo-de-obra na economia cafeeira, esse tinha de executar suas funes mediante um contrato que estabelecia mais deveres do que direitos. As condies precrias de trabalho e de remunerao fizeram com que o colonato entrasse constantemente em tenses com os fazendeiros, situao que lanou as bases para a organizao sindical no pas. Tantas foram as tenses, lutas e negociaes, que no Brasil, o sindicalismo rural surge nessa poca. (...) O Decreto-Lei n 979, de 6 de janeiro de 1903, praticamente inicia a formalizao do sindicalismo rural no pas. Parece evidente que responde aos problemas das relaes de produo surgidos nas regies cafeeiras (IANNI, 2004, p. 28-29). Mas as tenses no ocorreram apenas por conta das relaes entre a fora de trabalho e os fazendeiros, a cafeicultura enfrentou inmeras crises em Sertozinho e no restante do pas. Eventos de natureza climtica como a geada de 1918 e as secas de 1924 e 1926 geraram prejuzos econmicos e isso
reorganizou
as
foras
produtivas,
fato
que
contribuiu
para
desenvolvimento de outras culturas.
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3 A POLICULTURA E A REORGANIZAO DO CAMPO
A partir da tem-se incio a transio para a policultura. Como o caf produzido no Brasil abastecia o mercado externo, a Grande Depresso (19291933) tambm colaborou para a transio de um novo sistema econmico. O algodo e a cana-de-acar despontaram nesse cenrio como os candidatos a nova base da economia brasileira. O governo de Vargas tambm promovera e apoiara a policultura como uma das poucas alternativas que o Brasil tinha a seguir durante a dcada de 1930 (IANNI, 2004, p. 35). Sendo assim, o governo de Getlio Vargas passou a conceder incentivos fiscais a quem cultivasse cana-de-acar e de forma mais acelerada que o caf, esse tipo de cultura forou profundas transformaes sociais. Em 1930 o caf j estava em completa decadncia e a cana-de-acar comeava a despontar como a nova base econmica no Brasil. Em 1944, segundo o autor, a rea cultivada de cana-de-acar em Sertozinho j era maior do que a de caf. O algodo, apesar de continuar a ocupar uma rea igual ou maior que a da cana, na dcada dos anos quarenta, no chega a impor o seu domnio. Em 1951 a rea cultivada com cana-de-acar sobrepuja a do algodo. Em 1953 a cana passa a ocupar uma rea maior que as reas cultivadas com algodo e caf somadas (IANNI, 2004, p.38). E todo esse processo fez com que em 1975 a produo de acar e lcool se tornasse o carro-chefe da economia em Sertozinho, reflexo do que acontecia no restante do pas. Com a produo de acar e lcool em alta, a agroindstria foi ao campo e desenvolveu modificaes profundas no sistema econmico social e poltico. A maquinizao foi incorporada ao processo produtivo de forma a aumentar e otimizar a produo, a fora de trabalho foi redefinida e ocorreu uma maior diviso do trabalho. O incio do processo de industrializao tambm incorporou o campo cidade, fazendo com que uma parcela significativa da populao se deslocasse para a cidade de forma a preencher a mo-de-obra necessria agroindstria. Foi a agroindstria aucareira que tornou bastante urbanizados as relaes sociais, os valores e os padres de pensamento e comportamento nos canaviais e nas usinas (IANNI, 2004, p.45). Nesse contexto, o autor aponta trs formas de desenvolvimento das relaes capitalistas de produo no campo: a primeira teve incio com o ciclo 3
do caf, a segunda foi o desenvolvimento da policultura e a terceira foi a
expanso da agroindstria aucareira. Essa ltima ganhou novo impacto aps a revoluo Cubana (1959-1960) que fez com que o mercado dos Estados Unidos fosse fechado Cuba e aberto ao Brasil. Houve um aumento da produo do produto no pas e consequente abastecimento para o mercado externo, o que tambm uma caracterstica do sistema capitalista implantado. Alm disso, a implantao das usinas, encarregadas do processamento da cana-de-acar trouxe a cidade para o campo. A usina uma fbrica fora do lugar, da cidade, no campo. Parece inserida no processo de reproduo do capital agrrio (IANNI, 2004, p. 51). A rea da usina tambm um ncleo social amplamente urbanizado, a sede possui aougue, armazns, ambulatrio, penso para alojamento de pessoas, escolas para os filhos dos trabalhadores e toda a infraestrutura de servios que a cidade oferece. A usina dessa forma polarizou as relaes econmicas e polticas na agroindstria aucareira. O trabalho coletivo tambm incorporou novas categorias profissionais. Nesse cenrio de canaviais e transformao da cana em acar e lcool surgiram os trabalhadores temporrios, conhecidos como boias-frias. Esses se agregaram massa trabalhadora existente no perodo da safra que vai de junho a dezembro. Na entressafra que vai de janeiro a maio, esses trabalhadores voltavam condio de cadastro de reserva. Com esse dinamismo de relaes Ianni aponta dois movimentos do capital que ocorreram nesse perodo. O primeiro foi provocado pela crescente mecanizao dos processos de trabalho nas usinas e nos canaviais e o segundo foi a formalizao das relaes de produo com a adoo de uma legislao trabalhista que organizou a oferta das foras de trabalho na agroindstria. Todas essas mudanas influenciaram na dissoluo do colonato e na constituio do proletariado agrrio. Entre o marco dessas intervenes do Estado nas relaes entre operrios rurais e a burguesia agrria est o Estatuto do Trabalhador Rural, de 1963 e a Lei 4.504 de 1964 que trata do Estatuto da Terra. O rigor em tentar garantir direitos para a classe operria fez em muitos casos, fazendeiros e usineiros optarem pela intensificao do uso de mquinas e do trabalho temporrio, representado pelos boias-frias. Assim, h duas categorias trabalhistas no campo: a dos trabalhadores residentes, assalariados e a de no residentes, os trabalhadores temporrios. 4
Nessas condies Ianni estabelece uma discusso sobre a prtica
sexual e a prtica social que sofreu modificaes com a implantao do modo capitalista de produo. Se antes ter filhos era baseado nas tradies religiosas de ddiva divina, o planejamento familiar passou a ser pautado em um primeiro momento na concepo de que ter filhos era ter mais mos para ajudar no trabalho. Com o fortalecimento das relaes capitalistas de produo, ter filhos passou a significar gastos e da o planejamento familiar ser presente na vida social dos trabalhadores. A prtica sexual deixou de ser biolgica, uma obrigao familiar, para se tornar lazer. Da a produo das categorias trabalhistas na agroindstria, tambm, serem compostas de critrios de planejamento familiar. Para os trabalhadores residentes mais adequado que esses sejam casados e tenham filhos, pois so mais estveis e fixos no lugar onde escolheram residir. A casa e o emprego permanente capturam o trabalhador, tornando-o mais dcil s condies do comprador da fora de trabalho (IANNI, 2004, p. 97). J para os trabalhadores temporrios mais provvel que ele seja solteiro e sem filhos. Essa condio torna-o perfeitamente ajustvel s estritas exigncias do ciclo do capital agroindustrial (IANNI, 2004, p. 97). 4 CONSIDERAES FINAIS A teoria de Ianni sobre o capitalismo na formao e desenvolvimento das razes agrrias do Estado brasileiro fundamenta como as bases econmicas do Brasil desde a abolio da escravatura, com o ciclo do caf, foram voltadas para abastecimento do mercado externo. O capital de incio agrrio tornou-se agroindustrial. Dos cafezais aos canaviais houve a formao do operariado e a dissoluo do colonato. A interveno do Estado nos modos de produo ficou cada vez mais evidente com a regulao trabalhista e os incentivos fiscais que favoreceram a mecanizao do campo. O estreitamento da cidade com o campo tornou cada vez mais urbanizadas as relaes e o planejamento familiar passou a fazer parte das prticas sociais em Sertozinho e no restante do pas.
REFERNCIAS 5
IANNI, Octavio. A Classe Operria vai ao campo. In: ______.Origens Agrrias
do Estado Brasileiro. So Paulo: Brasiliense, Primeira Parte, p.10-97, 2004.
Os imperativos do agronegócio: Histórias de trabalhadores e camponeses no processo de reorganização das relações de trabalho no campo e na luta pela reforma agrária (Oeste do Paraná, 1970-2020)
OLIVEIRA, Valéria Garcia De. Carne de Fieras, Barrios Bajos e Aurora de Esperanza - o Melodrama Anarquista Na Produção Cinematográfica Da CNT, Durante A Guerra Civil Espanhola (1936-1939)