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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO


Jor

FACULDADE DE JORNALISMO
Informantes, vazadores, e os jornais que os
1
legitimam
Por Daniel Okrent
Okrent, Daniel. Briefers and Leakers and the Newspapers Who Enable Them.
The New York Times, 8/5/2005, p. 12.

Em algum momento nos próximos dias o pessoal do The Times, será apresentado a um documento
intitulado "Preservar a confiança de nossos leitores." Preparado por uma comissão de jornalistas e
editores liderada pelo editor assistente de gestão Allan M. Siegal, o material vai oferecer recomendações
abordando temas como fontes, preconceitos, a divisão entre notícias e opinião e a comunicação com os
leitores. Os jornalistas serão convidados a comentar, e, em seguida, o editor executivo Bill KelIer irá
determinar quais recomendações serão adotadas, adaptadas ou rejeitadas.
Eu não vi as recomendações, mas suspeito que as que têm a ver com fontes anônimas serão as mais
polêmicas junto à equipe de reportagem. Repórteres que trabalham nos corredores da justiça penal, no
mundo da política externa e na comunidade de inteligência não fazem seu trabalho sem fontes não-
identificadas. Muitos dos que cobrem aqueles pântanos de ambigüidade, vaidade e traições de
Hollywood e da política são viciados nessa prática. E implícita, em boa parte das críticas destinadas a
qualquer jornalista que usa uma citação em off, é a desagradável sugestão de comportamento
desonroso.
Desde que eu comecei esse trabalho, o uso de fontes anônimas têm sido a questão de fundo levantada,
na maioria das vezes, pelos leitores. Eles contestam a autenticidade das citações. Eles contestam a
veracidade da informação nas citações. Eles acreditam que os repórteres que invocam fontes não-identificadas são preguiçosos ou,
muito pior, desonestos. Como Leonard Wortzel, de Atlanta, que escreveu: "Sempre que me deparo com uma frase como „de acordo
com um funcionário de alto escalão‟, eu traduzo-o para dizer, 'Eu, o repórter, agora apresento a minha opinião e disfarço-a de notícia ".
Repórteres se arrepiam quando ouvem esse tipo de coisa, assim como você faria se a sua integridade fosse colocada em dúvida. Mas
eu não penso que faz diferença se isso é justo ou não. Se os leitores suspeitam de engano ou de desonestidade, o The New York
Times tem um problema.
O jornal entende essa questão; e é por isso que o “Grupo Siegal”, geralmente mencionado como “A comissão de credibilidade", foi
convocado. É por isso também que Philip Taubman, o chefe do escritório de Washington, informou sua equipe, na semana passada,
que o Times tinha se juntado a um grupo de empresas jornalísticas para um amplo esforço em reverter a onda de "informantes de
bastidores" em Washington, onde os funcionários distribuem sua versão dos acontecimentos e da políticas e são autorizados a
permanecerem ocultos aos leitores do jornal.
A credibilidade é também o motivo pelo qual muitos repórteres agora reconhecem que o pior hábito da profissão deve ser quebrado –
as descrições vagas de fontes “fantasmas”, a predisposição para ignorar as suas motivações, a vontade de deixá-los dizer o que
quiserem, sem a responsabilidade das conseqüências. Para o correspondente na Casa Branca David E. Sanger, cuja maior parte do
trabalho recente tem sido na área extremamente sensível da proliferação nuclear, me disse: "No mundo pós-Iraque – no mundo em
que vazadores habilidosos convenceram os jornalistas e seus leitores de que Saddam Hussein possuía armas de destruição em
massa – definir fontes como „funcionários da inteligência‟ ou „funcionários com acesso à inteligência‟ simplesmente não pega bem.”
Mas chegar ao ponto em que os jornalistas passem a incorporar essa consciência em seu cotidiano não é fácil. As “recompensas
psíquicas” podem ainda levar o repórter na redação a querer publicar algo que a concorrência não tem. Fontes valiosas, insistindo no
anonimato, continuam a sacudir tentadores detalhes como se fossem biscoitos oferecidas a cães famintos. Mesmo fontes de bastidor
têm seu apelo principalmente quando a alternativa é uma visão bidimensional da política. O secretário-adjunto de Estado Richard A.
Boucher disse-me que ele e outros funcionários são obrigados a passar informações em off “ao expor pontos de vista sobre outros
governos, que são importantes de serem divulgados, mas para os quais esses funcionários não estão autorizados a falar. Outros
governos podem objetar quando esses pontos de vista são expressos pelos nossos porta-vozes oficiais, mas não podem se opor de
forma tão fácil quando estamos anônimos.”
David Leavy, que foi porta-voz do Conselho de Segurança Nacional durante o segundo mandato de Clinton, concorda: "É a lei da
física política. Você estará muito mais acessível e mais à vontade se seu nome não estiver associado às informações que você
passou”. E, provavelmente, jornalistas (e leitores) vão aprender muito mais. Mas os políticos querem „vender seus peixes‟ e, mesmo
sem o conforto do anonimato, creio que eles vão dar um jeito.

1
A tradução é do professor Artur Araujo
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
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Naturalmente, há uma outra razão pela qual alguns repórteres da imprensa escrita são adeptos dos informantes de bastidores: assim
que o “off” vira “on”, os refletores de televisão FACULDADE
são acesos, as DE
câmeras começam a gravar e os repórteres das redes aparecem. Isso
JORNALISMO
tende a fazer os caras da imprensa escrita muito mal-humorados.
Tudo isso ajuda a explicar porque alguns planos bem-intencionados terem sido mal-sucedidos. Em março de 2004, a direção revisou
sua política sobre fontes anônimas, que incluiu esta crítica: "Quando usamos essas fontes, aceitamos a obrigação de não só
convencer o leitor da sua confiabilidade, mas também para transmitir o que podemos perceber de sua motivação."
Um par de meses depois, citei um estudo a respeito de fontes jornalísticas, realizado por Jason B. Williams, então um estudante de
pós-graduação, em um artigo publicado na primeira semana de abril de 2004, um mês após a nova política ter sido anunciada.
Williams constatou que apenas 2% de notícias citando fontes anônimas revelaram por que o anonimato foi concedido, e somente 8%
das fontes não-identificadas foram descritas de forma significativa (Modo sem sentido: "um funcionário do Congresso"; modo
significativo: "um funcionário do Congresso crítico da nomeação do Sr. Bolton").
Há algum tempo, pedi para Williams analisar a primeira semana de abril, mais uma vez, um ano depois. A orientação sobre fontes já
ocorreu há um tempo suficiente para que os editores se acostumassem com ela e para que os repórteres também se acostumassem
com a recomendação, de modo a não serem amolados pelos editores a esse respeito. Os resultados são ... bem, na melhor das
hipóteses eles estão OK. O número de fontes anônimas na edição caiu 24%. Mas o percentual de notícias citando fontes não-
identificadas caiu muito pouco, passando de 51% para 47%. Descrições significativas sobre a razão para a concessão de anonimato
evoluíram de “muito raramente” para “raramente”. Mas 46% das fontes anônimas foram identificadas apenas como “funcionários” ou
“assessores”, e os termos eram geralmente precedidos por substantivos inúteis tais como “Congresso”, “administração” ou – o meu
favorito – “diversos”.
Isso não tinha sido notado na redação até que o editor Greg Brock, de Washington, ter apontado uma coisa o que percebi também:
que muitas vezes, a responsabilidade sobre o anonimato foi atribuída à fonte, não à publicação: "Os funcionários pediram anonimato
porque. ...”, implica uma coisa, “o anonimato foi garantido porque o Times. ...” implica uma coisa muito diferente. “Se estamos
realmente empenhados em dar aos leitores o máximo de informação possível”, Brock sugere que “devemos começar por reconhecer
que tomamos a decisão.”
Estou bastante convencido de que, se a “polícia da sintaxe”, que governa as normas de redação deste jornal, insistir nesse princípio,
os números de Jason William irão despencar. Uma coisa é deixar alguém se aproveitar de você, outra é anunciar que você incentivou
o anonimato.
Há boas razões para utilizar as informações fornecidas por fontes não-identificadas. A melhor delas é que se pode levá-la a alguém
que vai confirmar isso oficialmente, então isso pode trazer algo valioso para os leitores. Mas o ônus da prova é alto quando ninguém
assume publicamente uma afirmação ousada. Essa deve ser a regra para barrar algo de ser publicado.
Há também o valor do conteúdo oficioso que vem do que o repórter Thom Shanker, que cobre o Pentágono, chama de "não é um
vazamento, mas um furo." Shanker explica: "O que pode parecer uma história coerente, baseada em informações de uma única fonte,
de fato representa dias de trabalho, de encadeamento de fatos distintos, provenientes de uma gama variada de pessoas. As fontes
são diversas, as motivações variam. Algumas não estão „motivadas‟ propriamente, pois elas nem sabiam que estavam contribuindo na
apuração de um fato importante, passaram dados que só se tornaram importantes quando colocados ao lado de outras observações
recolhidas no decurso de muitas conversas com muitas outras pessoas. "
Não se trata de excesso de confiança na fonte anônima. Isso é o que chamo de “reportagem”. É o que separa os jornalistas de
estenógrafos, o que eu apoio plenamente.
Mas eu também sou de uma cultura de redação que pode ser simbolizada por uma nova peça de decoração na parede. Imagine uma
pequena caixa com porta de vidro, por trás do vidro, um cartaz com as palavras "Permissão para usar fonte anônima." Um pequeno
martelo trava a caixa, e expõe um aviso, "Quebre o vidro em caso de emergência" - uma situação de emergência não para os editores
ou repórteres, mas para os leitores do Times.
“Precisamos implantar nossa política „linha dura‟, na mentalidade dos nossos repórteres e dos editores, de que somos obrigados a
dizer aos leitores como nós sabemos o que sabemos", disse-me Bill Keller outro dia. “Há casos em que não podemos, por razões de
excelente qualidade, mas têm de ser excepcionais e têm de ser explicadas ao leitor.”
Ele disse também, quando perguntei por que essa questão da política editorial ainda não ter “pegado” na redação: “Estamos ainda nos
acostumando.” Resposta justa, mas o problema da credibilidade está demorando para se resolver.

Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)


site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
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