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De jovens a adultos: a transição em transição


Karina Negreiros

Em tempos de fluidez e pós-modernidade, estamos vivendo um aumento da fragilidade e


individualização nas relações, inclusive as laborais, o que determina uma transição nas antigas
formas de inserção do jovem na vida adulta

A cultura de massa dá forma à promoção dos valores juvenis e assimila uma


parte das experiências adolescentes. Sua máxima é “sejam belos, sejam
amorosos, sejam jovens”. Historicamente, ela acelera o vir-a-ser, ele mesmo
acelerado de uma civilização. Sociologicamente, ela contribui para o
rejuvenescimento da sociedade. Antropologicamente, ela prolonga a infância
e a juventude junto ao adulto. Metafisicamente, ela é um protesto ilimitado
contra o mal irremediável da velhice. (Edgar Morin)

Há pouco mais de cem anos, na França, a escolarização se tornou obrigatória. No Brasil, isso
aconteceu há cerca de 70, mas, só para o ensino primário, pois, somente na década de 1990 é que
fomos ter a universalização do ensino. É relevante pensar nesses fatos para entender quando a
transição do jovem estudante para o jovem trabalhador começou a acontecer. Considerando a
vastidão de nossa história, podemos afirmar que é relativamente jovem o sentido social desse
processo. E é nesse jovem aspecto da juventude que encontramos a justificativa para que a
transição para a vida adulta ainda esteja tão “em transição”.

É certo que existem diversas outras formas de o jovem


se inserir na vida adulta, se é que se pode delimitar de
maneira tão linear os processos na vida de um
indivíduo. Porém, partindo de uma delimitação
necessária à compreensão, podemos lembrar que,
segundo a demógrafa Ana Amélia Camarano¹, “entre o
nascimento e a morte, freqüenta-se a escola, trabalha-
se, casa-se, constitui-se o próprio domicílio, têm-se
filhos, aposenta-se, envelhece-se e morre-se”. Desse
conjunto, a maioria dos eventos começam a ser vividos
na juventude, não necessariamente nessa ordem,
embora seja essa a ordem socialmente esperada.

Ainda nesse conjunto, podemos destacar os eventos que normalmente marcam a transição do “ser
jovem” para o “ser adulto”, como a inserção no mercado de trabalho, o casamento e a conseqüente
constituição de família e/ou de um domicílio próprio. Mas, esses marcos transitivos não têm
acontecido de maneira linear, e, em alguns casos, não têm sequer acontecido.

Exemplos disso, são os jovens que casam e/ou têm filhos, mas não saem da casa dos pais, ou
mesmo aqueles que lá permanecem porque estão adiando a entrada para o mercado de trabalho.
Um emblema mais desanimador dessa alinearidade é o do jovem, que morre ainda nessa condição,
na maioria das vezes violentamente. Jovens, cujas trajetórias de transição “viraram hipótese”, de
acordo com a paráfrase de Monteiro Lobato, citada no livro “Transição para a vida adulta ou vida
adulta em transição?” (Camarano, 2006: 320). É possível, então, pensar essas transições para e da
vida adulta à luz de um olhar que foge ao tradicional, buscando entender os fatores geradores
dessa ausência de uma linearidade concretada, como o aumento do número de mulheres no
mercado de trabalho, o aumento da freqüência à escola, o prolongamento dos estudos (na casa
dos pais), a gravidez precoce, entre outros.

O que, de fato, faz um jovem vir a ser adulto? Quando é que se deixa de ser jovem? A resposta
para essas perguntas não é única, nem absoluta. Não é poética, nem científica. Pode ser que nem
exista. Mas, em tempos produtivos como os nossos, há que se levar fortemente em consideração,
no amadurecimento dos jovens, a independência financeira, por mais frágil e incerta que possa
ser, tanto no início da vida profissional, quanto rumo à aposentadoria.
A sociedade só se preocupa com o indivíduo na medida em que ele produz.
Sabem-no muito bem os jovens. Sua ansiedade no momento de abordar a
vida social é simétrica à angústia dos velhos na hora de serem dela
excluídos. No ínterim, a rotina se encarrega de mascarar os problemas. O
jovem teme a máquina que o vai abocanhar e procura, de quando em
quando, defender-se a golpes de paralelepípedos; ao velho, por ela repelido,
esgotado e nu, só lhe restam os olhos para chorar. (Simone de Beauvoir,
A velhice, 1970)

No supracitado livro do IPEA, capítulo 6, intitulado “Trajetórias inseguras, autonomização incerta:


os jovens e o trabalho em mercados sob intensas transições ocupacionais”², a pesquisadora do
CEM, Nadya Araújo Guimarães, nos fala da inserção laboral nos dias de hoje e de sua fragilidade,
que irá marcar toda uma trajetória não apenas profissional, mas da vida a ser construída a partir
dessa inserção.

Ora, incerteza, fragilidade e insegurança têm sido, frequentemente, palavras expressadas para
caracterizar traços juvenis. Mas, num contexto de alto desemprego e subemprego, tanto para os
jovens quanto para os adultos, como poderemos caracterizar o mercado de trabalho e a, quase
sempre, inexorável inserção do indivíduo nesse mercado?

(...)nossos grandes mercados urbanos de trabalho parecem estruturados de


forma a ameaçar os trabalhadores jovens com a reprodução duradoura da
instabilidade dos empregos precários e da recorrência do desemprego.
Longe de se afigurarem como tormentos da inserção “juvenil” a serem
ultrapassados com a maturidade profissional, esses riscos estão presentes
na ordem do dia do mercado de trabalho também para grande parte dos
adultos. (Guimarães, 2006: 173)

Mas, nossos tempos são marcados pela fragilidade e individualização. É assim na inserção familiar.
É assim na laboral. É também dessa forma que fluem nossos processos. Casamentos não são mais
tão sólidos e inquebráveis como antigamente. Empregos não são mais para toda a vida. A fluidez
das relações pós-modernas não iria faltar às etapas do ciclo de vida do cidadão desse tempos.

Há no entanto, uma diferenciação que acontece apesar desse compartilhamento de trajetórias


inseguras. Como conclui o estudo de Guimarães, essa mesma fragilização de vínculos que todos
vivemos contemporaneamente acontece de formas diferentes para faixas etárias diferentes. Isso
tem que ser levado em consideração para que apreendamos sua relevância no entendimento e
alívio dos problemas sociais daí derivados.

Mas, a certeza reside justamente no incerto. Sabemos que há diferentes transições, de diferentes
maneiras, mas, mais importante, reconhecemos que a própria vida é pautada pela transição.
Resumindo e em concordância com a conclusão do livro³, enquanto há vida, há transição. A própria
vida é uma transição, não importa a idade que temos.

1. Diretora de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).


Organizou o livro “Transição para a vida adulta ou vida adulta em transição?”, lançado pelo
Institutoe no qual este texto é baseado. O livro também conta com a colaboração de diversos
pesquisadores, dentre eles, a socióloga Nadya AraújoGuimarães, pesquisadora do Centro de
Estudos da Métropole (CEM).

2. Este capítulo foi escrito com base na pesquisa de Nadya Guimarães, junto ao Centro de Estudos
da Metrópole (CEM). A pesquisa envolveu o maior mercado metropolitano de trabalho no Brasil, o
de São Paulo.

3. Transição para a vida adulta ou vida adulta em transição? / Organizadora Ana Amélia Camarano
– Rio de Janeiro: Ipea, 2006.

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