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O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 17 de Abril de 2010
único da vida não é outro que não o o seu espírito e acção, tenho sido, A abnegação, para além do que
de dar. Dar quanto? A resposta foi porém, um leitor atento do pensa- transporta de dedicação, é o antídoto
clara: ¿dar até que doa¿. mento e do caminho que o seu funda- para o individualismo predador. A
dor propôs para a purificação e santi- família é o útero social que conjuga,
3. Na verdade, quando um homem é ficação na vida de cada um. na plenitude da sua natureza, vida e
capaz de se dar com radicalidade, ou trabalho, ter e ser, dar e transmitir.
seja, até à raiz, essa atitude resulta 2. Também na minha formação cristã
do sofrido domínio da vontade sobre e na minha vida pessoal e profissional 4. Mas muito mais do que as minhas
o instinto. Mas é aí, nesse preciso tenho vindo a aprofundar ensinamen- palavras aqui alinhavadas vale a pena
instante em que se alcança aquela tos e a extrair lições da experiência, terminar com algumas citações que,
prevalência, que a capacidade para cada vez mais consciente da grandeza iluminadamente, melhor resumem
pensar se funde com a liberdade para da vida de todos os dias. Por isso, me tudo o que quis dizer.
dar. E enquanto dura tal momento o atrevo aqui a formular, de um modo Na encíclica Mater et Magistra está
homem é-o plenamente, deixando de muito pessoal e sintético, algumas escrito que é necessário «assumir o
ser só um animal racional. ideias em que creio, sentindo-me, ao homem, na sua realidade concreta,
mesmo tempo, identificado com o de espírito e matéria, de inteligência
4. Porque não acredito no mito do que conheço do património religioso, e vontade».
bom selvagem, tenho uma concepção moral e humano que ele nos deixou. No Catecismo Católico se afirma que
pessimista do estado humano natural. «o trabalho pode ser um meio de
Não é, evidentemente, a sociedade 3. Assim: santificação e uma animação das
que perverte o homem, ao invés do realidades terrestres no espírito de
que julgava a ingenuidade iluminista. O mais difícil de alcançar é o simples. Cristo» (CC n.º 2427).
Antes é devido aos outros, mais do O mais possível de alcançar é o que Pio XII, na sua «Mensagem» no Natal
que a si próprios, que os homens mais impossível parece. O maior de 1957, proclamou que «o trabalho
modernos são animais domesticados e alimento do direito é o dever. O mais prolonga a obra começada pelo Cria-
não puros selvagens. Ainda e sempre pequeno sacrifício pode ser o mais dor».
capazes de todos os horrores, com virtuoso. A maior recompensa do Por fim, Josemaría Escrivá alertou-
toda a certeza. Mas também, por corpo é a serenidade da alma. A mais nos: «Se afirmas que queres imitar
vezes, capazes da generosidade. E consistente felicidade é a que está Cristo e te sobra tempo, andas por
são estas oportunidades, mesmo que para além da luz que os nossos olhos caminhos de tibieza.»
raras, que fazem toda a diferença. A atingem. Ou ainda: «As obras ao serviço de
lucidez permite, apesar de tudo, uma A humildade é irmã gémea da beleza. Deus nunca se perdem por falta de
atitude optimista perante a vida. O A sinceridade é irmã gémea da ver- dinheiro; perdem-se por falta de
que é melhor que se pode ter quando dade. A perseverança é irmã gémea espírito.»
se não conhece a Esperança. da bondade. O heroísmo é a perseve-
rança na luta de cada dia. A autenti- 5. Agora, que o Padre Josemaría
5. Mas mesmo quando procura o bem, cidade é a verdade do comportamen- Escrivá foi canonizado como Santo da
o homem só o faz, normalmente, to. A fidelidade é o coração do com- Igreja Universal, vale a pena conti-
porque foi educado para tal ou por- portamento. O erro é a constatação nuar a aprofundar, na vida de cada
que atendeu a uma inclinação para da nossa debilidade, mas ao mesmo um, os seus ensinamentos.
aquilo que o transcende. Ao contrário tempo, a bússola da nossa capacida- Espírito e família. Família e trabalho.
do pelicano, a quem a simbologia de. A persistência no erro, porém, é Trabalho e espírito. Para uma pessoa
profana ou sagrada venera pela sua já arrogância e soberba. A mais com fé, o trabalho, a doação familiar
natural apetência para o sacrifício de minúscula verdade supera as mais e social, o sacrifício, o perdão são,
si em benefício de outrem. Porque poderosas mentiras. afinal, diferentes formas de oração.
quando o pelicano bica a própria O importante não é dissolvido no De, com Deus, partilhar o Mistério da
carne para dar de comer às crias do urgente, avulso ou superficial, porque Vida.
seu sangue, não o faz por sacrifício. É o importante nem sempre é urgente, * Ministro da Segurança Social e do Trabalho
assim a sua natureza. E esta é, nessa raramente é avulso e nunca é superfi-
medida, superior à do bom selvagem cial. O pessimismo radica na indife- Memórias do Vaticano II
que se julga naturalmente bom. rença. O optimismo radica no traba-
lho e na formação. In: Público, 11 de Outubro de 2002
6. Felizmente que algumas vezes o A mais insignificante das perfeições é JOÃO BÉNARD DA COSTA
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às missas de monsenhor Porfírio da missa o que nela sentia antes do 22º da história da Igreja - ia fazer
Cruz Quintella, prior da Golegã, na concílio e não creio que isso se deva, parte da nossa história, quase cem
capela da casa do dr. Bustorff Silva, apenas, às minhas crises de fé, de anos depois do Vaticano I, que não
na Arrábida. A talha dourada da cape- esperança e de caridade. Como era santo do nosso altar.
la diziam-na recuperada ou desviada recordou Ficino, quinhentos anos
da nau "Portugal" da Exposição de antes do concílio, "não era sem razão 4. Reforma da Igreja como povo de
1940. O monsenhor trocava a Golegã que os antigos colocavam uma esfin- Deus. Diálogo com os outros cristãos.
pela Arrábida nos meses estivais. O ge, pintada ou esculpida, sobre as Diálogo com o mundo. Durante os
reumático apoquentava-o e andava portas dos templos. Mostrando essa trabalhos pré-conciliares, estes foram
apoiado em muletas. "Olha, o monse- imagem, demonstravam que das coi- os três grandes vectores de orienta-
nhor a remos", disse o Vasco Santana, sas de Deus não se deve falar publi- ção do pensamento de João XXIII.
que o conhecia de miúdo e do Ribate- camente, a não ser por enigmas." Marcaram igualmente a primeira
jo e já não o via há eternidades. Aos sessão conciliar (Outubro a Dezembro
fins de tarde, o bom do velho, que 3. É bom que, ao escolher-se um de 1962), a sessão que "tomou o pulso
não tinha acólitos nas redondezas, tema que muito vivemos, lhe come- à Igreja". Depois, foi a "Pacem in
ensinou alguns miúdos de casas pró- cemos por tirar os espinhos antes de Terris". Depois, a morte de João XXIII
ximas a ajudar a missa. Os estranhos o transformar em imagem e em (3 de Junho de 1963, aos 81 anos,
rituais das abluções eram-me tão memória. Foi o que fiz. No Vaticano cinco anos incompletos de pontifica-
misteriosos como essa língua, com II, o vernáculo é o meu espinho e a do). Mas quem viveu esses anos, por
que, logo de entrada, eu respondia ao minha espinha. Por isso o esconjurei exemplo em Portugal, recorda um
"Introibo ad altare Dei" do sacerdote ao principiar. clima como nunca mais se viveu na
com o "Ad Deum, qui laetificat juven- Igreja. Aqui, a política deu-lhe um
tutem meam". E Alguém ou Algo me Posso agora dizer, como é verdadei- tempero especial. O reinado de João
alegrava de facto, nesse latim que ramente digno e salutar, que se XXIII coincidiu com o exílio do bispo
primeiro me ensinaram a pronunciar comemora hoje - 11 de Outubro de do Porto, com as primeiras manifes-
(com as acentuações eclesiais) e só 2002 - o 40º aniversário do início dos tações de católicos contra o regime,
depois me ensinaram a traduzir, pelos trabalhos conciliares, em Roma, a 11 com o "Santa Maria", com o fim da
meus 8-9 anos. E em latim respondi de Outubro de 1962. Índia portuguesa e com o começo da
aos oficiantes - em Portugal e no guerra de África, com os movimentos
mundo - desde essa idade até aos 30, Outro dia perguntaram-me se eu me estudantis, com os livros da Morais,
quando o vernáculo substituiu o alfa- lembrava do que fiz nesse dia. Não com o aparecimento da "Pragma" e de
beto dos segredos. me lembro. Mas lembro-me muito "O Tempo e o Modo". A propósito de
bem que estava em casa da Maria tudo, discussões frementes e vee-
Li já não sei onde que a "revolução Leonor e do Nuno Bragança, quando, mentes. O baluarte católico era o
litúrgica" se teria inspirado numa à hora do jantar, o Nuno chegou a primeiro dos bastiões do salazarismo
frase de João XXIII: "Quando penso casa a dizer que o Papa tinha anun- a mostrar rombos. A "Seara Nova",
nas belas orações que disse e vós não ciado, em São Paulo-Fora-de-Muros a revista marxista, publicava o retrato
compreendeis..." Com a devida vénia, 18 cardeais, a sua intenção de convo- do Papa na primeira página, coisa
neste caso acompanhada por tudo car um concílio. Foi a 25 de Janeiro inimaginável nos quarenta anos de
quanto significou e significa para mim de 1959, cinco meses menos um dia vida da revista. Em meios muito con-
o "bom Papa João", neste caso não o antes do nascimento do meu filho servadores, rosnava-se que já tinha
sigo. É o que não compreendemos mais velho. havido outro João XXIII, anti-Papa.
que é o mais belo e transcendente. Quem se seguiria?
Quando tudo se passou a entender (se O Papa era João XXIII, eleito a 28 de
é que se entende), o mistério desapa- Outubro de 1958, aos 77 anos. Quan- Quanto rezámos para que o sucessor
receu. E desapareceu a "catolicida- do se soube dessa eleição, o mesmo fosse esse cardeal Montini que já
de", que me fazia ouvir as mesmas Nuno - sempre o mesmo Nuno - tínhamos sonhado ver suceder a Pio
palavras no Japão e na Patagónia, na comentou comigo que o Espírito Santo XII. E foi Paulo VI. No dia a seguir à
Sibéria e na Nova Zelândia. "Ad utili- talvez se tivesse distraído um bocadi- eleição, visitei Mário Dionísio, então
tatem quoque nostram totiusque nho. Depois do longo pontificado de meu colega como professor no
Ecclesiae suae sanctae" Não percebe- Pio XII (1939-1958) dizia-se que a Camões, que estava hospitalizado.
ram? Ainda bem. Igreja precisava de um "papa de tran- Marxista dos quatro costados, militan-
sição", que não reinasse muito. Um temente agnóstico, saudou-me com
2. A constituição sobre a liturgia, que papa que não fizesse ondas. Será que um largo aceno: "Vocês agora têm um
substituiu o latim pelas "línguas havia esse tempo a perder, pergunta- Papa a valer." Sorri-lhe, orgulhoso.
vivas", autorizou a concelebração, va-me e perguntava-se o Nuno. Mas a
permitiu a comunhão sob duas espé- homilia de coroação já foi uma sur- Mas cedo começaram algumas reti-
cies, reformou o missal e o breviário, presa. Ao assumir-se como bispo de cências sobre o novo Papa. "Forma
bem como o ritual dos sacramentos Roma, "irmão de todos os bispos do Pacelli, fundo Roncalli", dizia-se.
(entre muitas outras reformas meno- universo", retirando a primazia à Quando saiu a "Ecclesiam Suam",
res, como, por exemplo, a abolição chefia da Igreja universal, tão pro- primeira encíclica de Paulo VI, escre-
da missa "pro petitione lacrimarum", clamada por Pio XII, João XXIII espan- vi em "O Tempo e o Modo" um artigo
a que fiz referência na minha última tou pela vez primeira (ou pela segun- que procurava desesperadamente
crónica), foi promulgado no fim da da, já que a escolha do nome tam- provar (ou "poeticamente" provar,
segunda sessão do Concílio Vaticano bém deixara muitos perplexos, pois como me acusava, de Roma e da
II, em Dezembro de 1963. O texto foi que joões papas os não havia desde o Capela Sinistra, o Manuel Lucena, que
votado 78 vezes e aprovado, final- século XIV). me recordava que o mais poético nem
mente, com 2147 votos a favor e 4 sempre é o mais verdadeiro) que
contra. Ao que parece, os bispos Mas a 25 de Janeiro de 1959 aconte- Paulo VI evoluía na continuidade do
acharam que se acabava com "um ceu muito mais. Um concílio? Nin- seu predecessor.
isolamento sem sentido", que não guém pensava nisso. E muito menos
tinha razões bíblicas mas apenas num concílio para aproximar a Igreja Foi mais difícil sustentá-lo na 3ª ses-
históricas. Mas não serão históricas do mundo então contemporâneo. Daí são (14 de Setembro a 21 de Novem-
todas as razões incluindo as bíblicas? o nosso entusiasmo nesse dia. Algo ia bro de 1964) e na 4ª (28 de Setembro
Por mim, falo. Nunca mais "senti" na mudar. Uma nova era. Um concílio - o a 8 de Dezembro de 1965). Em 1964,
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no mesmo "O Tempo e o Modo" um candidatos aumentou vertiginosamen- nos com criar espaços protegidos,
certo Manuel Frade já via nos textos te. O governo da cidade acabou por guetos, cidadelas onde preservemos
conciliares "muito mais da multissecu- adoptar os «vouchers», transforman- uma cultura cristã, abandonando este
lar sabedoria da Igreja do que daque- do-os num programa estatal. Perante mundo à sua sorte?".
le pouco da 'loucura de Deus' de que o sucesso de Milwaukee, o sistema foi Na América e na Europa, e alargando-
todos os homens têm fome". E acres- adoptado depois em Cleveland, Ohio. se a todo o mundo, fazemos desde os
centou: "O milagre não se deu." Mais recentemente, foi aplicado no últimos anos sessenta uma grande
estado da Florida. mudança cultural. As primeiras análi-
Mas, se institucionalmente se não deu Os sindicatos das escolas estatais ses sobre este fenómeno falavam de
(e dos milagres aos cismas, vai às abandonadas pelos pobres declararam uma contra-cultura relativamente à
vezes um passo, como recordou outro guerra aos «vouchers». Começaram cultura tradicional ocidental euro-
padre conciliar), para mim esses anos por argumentar que estes visavam peia. Actualmente, a moda é antes
- anos da Concilium, que a Helena destruir a escola do Estado (a que falar de multiculturalismo, não raro
Vaz da Silva espalhou por Portugal e chamam pública). Mas os factos mos- com intenção relativista. Porém,
pelo Brasil - foram anos milagrosos. travam que apenas as más escolas outras análises sobre a mudança cul-
estatais eram abandonadas, não as tural na sociedade ocidental, como a
boas. da conhecida historiadora Gerthrude
Quem me tirasse esses anos não me Os sindicatos precisavam de um Himmelfarb, preferem falar de "duas
tirava tudo, mas tirava-me muito. argumento mais convincente. Desco- culturas". O pós-modernismo seria o
Como escreveu José Bergamín, esses briram que mais de 90% dos estudan- rótulo para referir a nova época aber-
foram anos em que "on respire au tes pobres de Milwaukee e Cleveland ta por esta nova cultura.
Vatican / Une aura si idyllique / Que que recebiam «vouchers» iam usá-los A questão religiosa está interior e
le Diable devient chrétien / Tout en em escolas religiosas, sobretudo cató- exteriormente confrontada com a
restant catholique". licas. Estava encontrado o argumen- mudança. Não se trata de uma ques-
to: os «vouchers» eram inconstitucio- tão nova; pelo contrário, a Igreja
E, no entanto, ela move-se... nais porque canalizavam dinheiro nasceu logo em confronto com socie-
público para instituições religiosas, dades e Estados que lhe eram intei-
In: Expresso, 14.07.2002 violando dessa forma o princípio da ramente hostis: política, cívica e
João Carlos Espada separação entre a Igreja e o Estado. culturalmente. A hostilidade actual
Foi este sofisma que o Supremo Tri- de um certo pensamento ideológico
NO PASSADO dia 27 de Junho, o bunal acabou de refutar. Não há (que invoca a laicidade do Estado,
Supremo Tribunal norte-americano qualquer violação desse princípio, mas vem das raízes dos movimentos
aprovou (por cinco votos a favor e dado que o Estado apenas dá o marxistas revolucionários que consi-
quatro contra) a constitucionalidade dinheiro às famílias. São estas que deravam a religião como ópio do
dos famosos «vouchers» escolares, ou escolhem a escola, que pode ou não povo); a persistência do laicismo
cheques-ensino. Dias depois, o Presi- ser religiosa. Por que razão deveria o iluminista (que teve sempre muito a
dente Bush celebrou o evento compa- Estado proibir as famílias de escolhe- ver com desígnios de hegemonia polí-
rando-o à histórica decisão judicial de rem escolas religiosas, se estas cum- tica); e uma certa revolta da menta-
1954 (Brown vs. Board of Education) prem os requisitos gerais de qualida- lidade relativista e hedonista corren-
que pôs termo à segregação racial nas de, iguais para todas? te contra a Igreja (assinalável por
escolas. A proposta dos «vouchers» está ainda exemplo em reacções de vários
A comparação faz todo o sentido e é longe de ter conquistado a aprovação movimentos com destaque nos
reveladora da profunda e irónica da maioria. Mas a fraude intelectual média), não são mais do que novas
mutação operada no panorama políti- dos seus opositores pode agora ser manifestações de uma recorrente
co ocidental do último meio século. vista por quem quiser ver. Retomando confrontação milenar. Perante a qual
Muitos dos que se apresentam como a célebre expressão de Galileu - cuja a Igreja sempre soube discernir, como
herdeiros do combate à segregação história, aliás, foi sempre mal conta- se reconhece na conhecida teoria da
racial nos anos 1950 e 1960 opõem-se da pelo dogmatismo secular - é caso inculturação.
hoje tenazmente aos «vouchers» para dizer: «E, no entanto, ela move- Não importa, por isso, dar, neste
escolares. No entanto, os «vouchers» se...» nosso tempo, importância prioritária
comprovadamente beneficiam em às vozes hostis; importa muito mais,
primeiro lugar os mesmos que há isso sim, dar atenção à renovação
meio século eram segregados: os A Religião e o Novo Milénio
interior da Igreja. É aqui que está o
pobres e, no caso americano, sobre- In: Público, 10 de Junho de 2002 maior problema, e não ali.
tudo os negros pobres. MÁRIO PINTO 2. Poderemos, contudo, estar hoje
A primeira experiência de «vouchers» perante uma diferença importante,
nos EUA teve lugar na cidade de Mil- 1. De uma excelente agência de nas relações entre a Igreja e a socie-
waukee, no início da década de 1980. informação católica, que distribui dade, se concordarmos com teólogos
Foi lançada pela Bradley Foundation, internacionalmente o seu serviço pela como Heribert Mühlen, que levantam
uma fundação privada com sede na internet (ZENIT.org), recebi, com a hipótese de uma mudança com
cidade, em colaboração com associa- data de há três dias, a notícia de um alcance epocal. E isto não tanto por-
ções de pais pobres de zonas degra- discurso do Cardeal Poupard, pronun- que o mundo no qual a Igreja hoje
dadas. A Fundação Bradley criou com ciado em Bilbau. O Cardeal Poupard é vive lhe seja mais hostil (embora se
o seu próprio dinheiro bolsas de estu- o Presidente do Conselho Pontifício deva reconhecer que a hostilidade se
do destinadas a famílias pobres que para a Cultura. Nesse discurso, terá mantém: o século XX foi um século de
quisessem pagar propinas em escolas reconhecido que se verificam hoje martírio para católicos, como se rela-
da sua escolha. O programa teve a situações graves de ruptura e dese- ta num livro recente, intitulado "os
adesão entusiástica das famílias de quilíbrio entre a fé e a cultura; e que mártires católicos do século XX). Mas
zonas degradadas, cujas escolas esta- haverá países em que a grande maio- porque é um mundo culturalmente
tais se encontravam em situação ria da população, sendo de baptiza- diferente. Que, pelo seu hedonismo
deplorável. dos e católicos confessos, vive em prático e pelo crescente relativismo,
As crianças que beneficiaram das clima de minoria cultural. A este se distancia das suas milenares matri-
bolsas inscreveram-se em escolas propósito, fez a seguinte pergunta: "é zes espirituais judeo-cristãs. Mundo
independentes e começaram a melho- possível viver a fé nesta cultura pós- no qual, por isso mesmo, a Igreja, "ad
rar os seus resultados. O número de moderna? Ou teremos de contentar- intra" e "ad extra", tem de se renovar
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- não será por acaso que o Papa (como foi por milhares e milhares de para, no exercício da sua liberdade,
cunhou para tal o conceito de "nova anos) num espaço físico e comunitário procurarem o seu destino de felicida-
evangelização". A "nova evangeliza- estável, mas antes na deslocação de. É que, sendo o homem aquele
ção" tem por isso de começar pelos contínua e na comunicação à distân- nível da Natureza, em que a Natureza
que já estão dentro da Igreja. Para cia; perdida a comunidade humana do tem consciência de si, não pode dei-
além da questão vital de uma renova- viver tradicional em troca de um xar de se interrogar sobre o nexo da
ção pessoal e comunitária, que passa viver isolado na sociedade global, a sua existência. É esta consciência
pela conversão contínua e pela reno- própria humanidade terá de refazer que, em última análise, dá um signi-
vação pentecostal, a "nova evangeli- as suas formas de comunidade, se não ficado diferente e cheio de dignidade
zação" repõe também aos católicos a quiser correr o risco de morrer. e beleza ao amor conjugal que não
questão do modelo eclesial da primei- tem nada de teórico e que misterio-
ra época apostólica e dos primeiros Mais uma vez, se os cristãos souberem samente equilibra a motivação instin-
padres. ouvir o que "o Espírito tem a dizer à tiva animal com a deliberação da
Igreja", encontrarão os caminhos do vontade por amor ao outro e em
Com efeito, e se as sociedades deste futuro. Quer dizer: se os cristãos se busca de um desejo e felicidade
nosso tempo não permitem mais deixarem conduzir pelo Espírito, comum.
(física e espiritualmente) viver a fé como crentes, mais do que quererem É esta complicação da Natureza que
em moldes análogos aos do paradigma eles conduzir o mundo, como sábios faz o Homem ser aquilo que é e que
experimentado desde há quinze sécu- políticos. desde sempre o faz interrogar-se:
los, os cristãos terão necessidade, “Que é o homem para que Te lembre
para o futuro, de recriar novas comu- Sobre a mensagem “Sexo Compli- dele? O Filho do homem para dele
nidades cristãs de vida, talvez inspi- cuidardes” (Salmo 8).
rando-se no paradigma da experiência cado”
comunitária da primeira época da Pedro Aguiar Pinto
GABRIEL
Igreja apostólica e dos primeiros In: Povo, 11.04.2002
padres. Talvez por isso renascem com In: A Capital, 20.03.2002
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a ousadia de ser verdadeiramente cado. Mas o século XX manifestou se que tinha morto Deus, para depois
bom. aquilo que o Império Romano já notar que Ele tem uma teimosa ten-
sabia: esses deuses materialistas dência para ressuscitar.
A segunda Páscoa levam à morte e à miséria. Agora,
com os novos meios mais poderosos, Boas notícias
In: DN,11.02.2002 isso significou a desgraça de duas
João César das Neves guerras mundiais, da grande depres- In: DN, 2001.01.01
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promessas irrealistas e desinteressan- ta, por vezes de forma inconsciente, não é alternativa, nem se confronta
tes. As que chegavam a ser publica- que só consegue agradar e atrair a com um edifício de valores seguro de
das, nunca o eram da forma que o atenção dos leitores de forma bom- si mesmo, nem polemiza com qual-
Executivo pretendia. O GoodNews bástica ou sedutora. Os instrumentos quer autoridade.
mostrava, pelo contrário, uma evi- que todos usam, dos jornais aos poli- Muitos filhos perguntam aos pais
dente preferência por relatar a vida ticos e anunciantes, é a adrenalina e «Qual é o mal?», e os pais não sabem
da sociedade, a forma humilde e a líbido. A sua atitude é encarar o o que responder, não sabem sequer o
imaginativa como as pessoas vão público como um animal, que tem de que pensar, respondem sem crença,
resolvendo as suas dificuldades, ser agredido ou assustado, surpreen- respondem, muitas das vezes, com a
mesmo as mais dramáticas. Em vez da dido ou acariciado. Nós tratamo-lo própria pergunta.
busca desenfreada dos "podres" e do como uma pessoa civilizada, que olha Nos anos 60, havia a inquietação de
culto do "anti-herói", descreviam-se o mundo de forma serena, positiva e preservar ou criar referências; hoje
serenamente os bons exemplos. Recu- inteligente, que luta com coragem e parece existir uma preocupação de
sava a pose pomposa de justiceiro esperança contra aquilo que pode aniquilar referências, como se as
mediático em busca de escândalos, mudar e se conforma sabiamente com opções individuais ficassem mais
que só aumenta a injustiça. Preferia o que tem de suportar. E tenta sem- facilitadas por essa via.
relatar a conduta virtuosa perante os pre adaptar-se, fazendo o melhor Nos anos 60, havia convicções fortes
obstáculos. Na economia, acompa- possível. Estamos conscientes dos nos dois pólos da tensão cultural da
nhava o desenvolvimento estrutural e erros e dos problemas, mas, em vez época: os pais eram consistentes na
iniciativas de mérito, desprezando o de resmungarmos e de os denunciar- sua ideia do mundo, e os filhos rebel-
saltitar financeiro e o apelo perma- mos, apresentamos bons exemplos de des eram determinados na defesa da
nente à crise. solução. Não nos indignamos hipocri- sua visão alternativa; nos anos 90,
tamente, mas procuramos compreen- nem os pais têm convicções firmes
De repente, o país tomou consciência der e ajudar. sobre a vida e a sociedade nem os
da enorme quantidade de iniciativas filhos acreditam em algo de particu-
e instituições de solidariedade e dos O mundo é um sítio extraordinário; e larmente intenso ou significativo.
seus grandes benefícios. Tornaram-se o mais extraordinário é o ser humano. Então, havia dois pólos determinados,
famosos nomes e caras de muitos E o mais extraordinário no ser huma- que sabiam, contraditoriamente, o
"heróis do quotidiano", que insistiam no é a capacidade de virar o mundo que queriam; hoje, há dois pólos
em fazer o bem em condições difí- para o bem. Vivemos tão pouco tem- hesitantes e irresolutos que procu-
ceis. Como se dizia num dos artigos, po aqui. Porque não passá-lo a ver e a ram, consensualmente, gerir o quoti-
"é impressionante quanto bem existe fazer o bem ? Por todo o lado há diano.
entre nós, e como resiste ao mal, pessoas a trabalhar para aumentar a Nos anos 60, os pais transmitiam
mesmo quando o mal é tão forte". felicidade. Nós, com humildade, valores; hoje dão opiniões. Os jovens
queremos relatar isso. Só o bem exis- tinham, no primeiro caso, o duplo
Na classe dos profissionais da infor- te. O mal é ausência. O bem é verda- privilégio de receber valores e de os
mação, o GoodNews acendeu uma de. O mal é mentira." poder contestar; hoje, os jovens têm
longa e acesa polémica. Alguns jorna- a dupla fragilidade de não receber
listas influentes declararam-se a uma orientação clara de vida e de
favor do periódico, mas a maioria foi Qual é o mal ? terem nos pais mais uns bons compa-
muito crítica. "Trata-se de uma publi- nheiros do que pais assumindo a ver-
cação ideológica, que pretende incul- IN: Expresso, 2000-11-11 dadeira dimensão da paternidade.
car uma visão doutrinal aos seus lei- António Pinto Leite Nos anos 60, havia talvez um excesso
tores", diziam muitos. Mas que visão de ideais e uma menor concentração
era essa, não era consensual. Apeli- A JUVENTUDE dos anos 60 e 70 fazia em objectivos; hoje, há um défice de
dado por muitos como "conservador", uma pergunta ao sistema de valores ideais e uma abundância de objecti-
o GoodNews era atacado pelas forças que então imperava: «Porque não?» A vos.
conservadoras por não denunciar o juventude de hoje faz uma outra Pais e filhos pactuam em torno desses
mal deste mundo progressista. Uns pergunta: «Qual é o mal?» objectivos: os pais têm esgotantes
chamavam-lhe "epicurista" e outros Há diferenças decisivas nestas duas objectivos de sucesso profissional e
"cristão". Não faltavam, até, os que o perguntas, e as diferenças resumem de bem-estar material, os filhos têm
apelidavam de "tentativa maçónica os últimos 30 anos. o objectivo de apressar a sua ascen-
de restaurar o comunismo" ou de A pergunta «Porque não?» era alter- são aos esgotantes objectivos dos
"neonazismo encapotado e populista". nativa e implicava a existência, do pais.
outro lado, de um conjunto definido Nos anos 60, os pais de hoje eram os
O director do jornal, entrevistado na de valores. Dizia-se «não» a um con- filhos de um moralismo autoritário,
televisão, respondeu a estas críticas junto de valores que não satisfazia por isso se revoltaram; a geração de
de forma bonacheirona. "É evidente mas que claramente se identificava. 90 são os filhos do poder de compra,
que temos uma visão ideológica do A juventude dos anos 60 e 70 con- e talvez daí a dificuldade em encon-
mundo. Tão parcial como a de todos. frontou-se com gerações mais velhas trar um sentido mais profundo, mais
Perante um facto, um acontecimen- de fortes convicções, com uma noção humanizante, até, para a vida.
to, uma realidade, o ser humano transparente do que estava bem e do A crise de valores e de referências,
observa-o selectivamente, raciocina que estava mal. de sonhos e de ideais que, um pouco
criteriosamente e decide o que pen- Confrontou-se ainda com noções de por toda a parte, se vai notando ser
sar sobre ele. Tudo isto é feito a autoridade muito nítidas, por vezes consciência de um número cada vez
partir dos princípios de análise, dos exageradas ou perversas; mas, em maior de pais e de jovens é um desa-
preconceitos de avaliação que cada qualquer caso, associado às convic- fio enorme.
um de nós tem. A única publicação ções fortes das gerações que domina- Um desafio positivo e que deve ser
realmente neutra que conheço é a vam, sempre foi simples perceber que vivido pela positiva e em que a gran-
lista telefónica. Só aí não existe uma existia um sistema de autoridade em de responsabilidade cabe aos pais. O
opinião para observar o mundo e que aquelas convicções se fundavam ambiente é adverso, mas não se pode
decidir o que dizer e como. e que as protegia. desistir e, sobretudo, não se pode
Os tempos de agora são bem diferen- perder a consciência do problema.
A nossa diferença não está aí. A tes. Uma juventude criada sem ideais,
comunicação social moderna acredi- A pergunta corrente «Qual é o mal?» sem referências fortes e sem confron-
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O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 17 de Abril de 2010
to é um activo social vulnerável. meu, por sermos rígidos como Tiago pecado que O matou." "Tens razão",
Há um mundo de valores para recom- ou tolerantes como Pedro, envolvidos respondeu Bartolomeu. "Esse foi o
por, desta feita em liberdade. Não é na política, como Simão, ou desinte- pior pecado de Judas Iscariotes: pen-
um regresso ao passado, é um passo ressados do mundo, como André. sar que o Senhor vinha só implantar a
no futuro. Alguns perseguirão a Igreja por ser justiça no mundo, melhorar a socie-
Uma das perguntas que um pai res- pobre e viver com os pobres, outros dade e ajudar os pobres. E se Judas,
ponsável não deve achar normal que acusar-nos-ão por alguns de nós ser- que falou tantas vezes com o Senhor
um filho, normalmente, lhe faça é, mos ricos, como José de Arimateia, e viveu tanto tempo connosco, come-
precisamente, onde está o mal. ou poderosos, como Nicodemos. Hão- teu esse pecado, muitos outros hão-
de censurar-nos por não sabermos de fazê-lo também." Bartolomeu
Só nos vêem a nós usar bem o dinheiro para ajudar os baixou a cabeça e ficou silencioso.
pobres e, pelo contrário, hão-de Madalena disse: "Haverá os que medi-
In: DN, 5 de Abril de 1999 censurar-nos por o administrarmos rão o sucesso da Igreja em números,
João César das Neves com excessivo cuidado. E em tantas porque ela também terá desse suces-
dessas críticas haverá verdade, por- so. Mas esse não interessa. Como não
No dia seguinte a Cristo ter subido ao que o que se vê da Igreja somos só se mede a luz pelo número de lâmpa-
Céu, estavam alguns reunidos numa nós. Alguns até nos perseguirão em das, porque o que conta é o Sol."
casa. Tomé, rindo baixinho, afirmou: nome do Altíssimo. Lembra-te do que Nesse momento entrou Pedro. Trazia
"Isto da Igreja, que o Senhor disse o Senhor disse: "Virá a hora em que um saco com algum peixe, pão e
para construirmos, não pode funcio- qualquer um que vos tirar a vida vinho para a refeição. Madalena e
nar!" julgará estar a prestar um serviço a Tomé levantaram-se para o ajudar e
Madalena, que estava perto, pergun- Deus" (Jo 16,2)." "E não te esqueças ela explicou-lhe do que falavam.
tou-lhe surpreendida: "Porque dizes daqueles que, justamente, nos vão Pedro, rindo, perguntou se isso não
isso?" Ele respondeu: "Então não vês? condenar pelas lutas e injustiças era mais uma das subtilezas de Tomé,
Ele foi-se e nós ficámos. As pessoas entre nós", disse Madalena. "Se tive- que ele nunca percebia.
vêm ter connosco à procura de Deus, mos discórdias enquanto o Senhor cá Tomé respondeu: "Eu tenho uma
mas só nos vêem a nós. Ele podia ter estava, como daquela vez em que confiança ilimitada no Senhor. As
ficado cá ou ter deixado, ao menos, queriam saber quem era o maior, minhas dúvidas vêm só da minha falta
alguns anjos. Em vez disso, deixou- haverá certamente muitas discussões de confiança nas nossas forças e na
nos só a nós. Isto não pode mesmo e lutas no futuro. Somos humanos, nossa capacidade de o seguir."
funcionar." E Tomé deu outra garga- iguais aos outros. A única diferença é Madalena perguntou a Pedro: "Mas tu
lhada. que trazemos nas nossas mãos indig- tens confiança nas nossas capacida-
Madalena perguntou-lhe: "Se achas nas um tesouro inimaginável. Ele des, não tens Pedro?" Nesse momento
mesmo que não vai funcionar, porque deixou-nos o tesouro, mas não nos ouviu-se um galo.
estás tão satisfeito?" Tomé riu de deixou nem guardas nem o cofre. Pedro sorriu, sentou-se à mesa e
novo e respondeu: "Eu não disse que Além do tesouro, só cá estamos nós." disse, calmamente:
não vai funcionar. Disse que não pode João, que tinha seguido a conversa Não tenho nem um bocadinho de
funcionar. Não vês que esta ideia de calado, interveio para dizer: "Estamos confiança nas nossas forças. Nisso,
nos deixar sozinhos é mesmo a prova como a Mãe do Senhor, Maria, grávida tenho ainda mais dúvidas que Tomé.
de que a Igreja só pode ser uma ideia naquela pequena casa perdida da O que eu tenho é tanta confiança no
d'Ele?! É tão típico do Senhor querer Galileia." Senhor que acho que ele consegue
mostrar-se através de nós, e não Fez-se um silêncio. fazer a sua Igreja mesmo que com a
directamente. A Igreja não pode Foi João quem voltou a falar: "Os que nossa total incapacidade de O com-
funcionar. Vai funcionar, porque não mais lamento são os muitos que irão preender e de O seguir."
estamos cá só nós. Ele também cá pensar que a Igreja é apenas uma
está, como disse. Mas a Ele ninguém o atitude e regras de moral, de amor ao
vê. A não ser através de nós." próximo e ajuda aos pobres. Muitos
"Tens razão!", disse Madalena. "Só o dos que se irão juntar a nós, alguns
Senhor se lembraria de fazer o seu muito bem-intencionados, serão des-
reino através de nós. Quantas pessoas ses."
andarão à procura de Deus e deseja- Bartolomeu deu um salto e pergun-
rão vir até Ele, mas recusarão a Igre- tou:
ja, porque só nos vêem a nós. Nós "Achas mesmo possível isso? Mas o
não somos Deus. Haverá muitos que Senhor foi tão claro quando disse que
acreditarão em Cristo, mas não acre- teríamos de "nascer de novo" e ter
ditaram na sua Igreja, por ser feita de uma "vida nova". Achas mesmo possí-
homens. E não perceberão que nós vel que alguém pertença à Igreja
nunca quereríamos que as coisas apenas para viver melhor a vida anti-
fossem assim. Foi Ele que quis. Tenho ga?! Como poderão eles entender
tanta pena deles, porque os com- estas palavras do Senhor?"
preendo bem. Percebo que não gos- João sorriu tristemente e respondeu:
tem de mim ou de ti. Mas eles esque- "Muitos dirão que a "vida nova" é uma
cem que, na Igreja, não sou eu ou tu metáfora do Senhor para significar
que contamos, mas o Senhor. Só apenas a bondade, a ajuda aos pobres
quem ama muito o Senhor pode com- e a mudança social. Pensarão que
preender a Igreja, porque a Igreja é viver com Cristo é só para depois de
Ele." morto e dedicar-se-ão a tratar bem
Tomé continuou: "Por isso nos hão-de das coisas daqui. Não percebem que
desprezar e perseguir. Haverá os que isso é, não a vida nova, mas um dos
nos desprezarão por sermos poéticos sinais da vida nova que temos no
e idealistas, como João, e os que nos Senhor. É o sinal mais visível e impor-
atacarão por sermos pragmáticos e tante, mas que nada significa se não
eficientes, como Mateus. Hão-de nascermos de novo, todos os dias, em
criticar-nos por sermos expansivos Cristo. Muitas das lutas de que Maria
como Filipe, ou sérios como Bartolo- Madalena falou virão disto. Este foi o
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