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INFECÇÃO URINÁRIA E SONDAGEM VESICAL

Artigo Original

Infecção do trato urinário relacionada ao cateter vesical de


demora: incidência e fatores de risco
A.M.N. DE F. STAMM, M.S.S. DE A. COUTINHO
Departamento de Clínica Médica do Hospital Universitário – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC.

RESUMO – O BJETIVO . Determinar a incidência e R ESULTADOS . A incidência de ITU associada a


os fatores de risco relacionados a infecção do SVD nesta amostra foi de 11 % . Na análise univa-
trato urinário (ITU) em pacientes submetidos à riada três fatores foram significativos estatisti-
sondagem vesical de demora (SVD). camente: a doença de base (clínica ou cirúrgica)
M ÉTODOS E C ASUÍSTICA . Cento e trinta e seis pa- (p=0,01), a permanência em uma clínica durante a
cientes submetidos à SVD entre maio e dezembro internação(p=0,02) e a duração (em dias) da cate-
de 1993 no Hospital Universitário(HU) da Univer- terização (p= 0,00003) Na análise multivariada,
sidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Estudo somente a duração da sondagem vesical foi predi-
observacional de coorte contemporânea, não- tiva para ITU (p = 0,03).
controlado, em pacientes submetidos a SVD, que C ONCLUSÕES . A incidência de ITU relacionada a
foram seguidos desde a inserção até a remoção da SVD na amostra analisada foi de 11,0%, porque no
sonda. Culturas de urina no ato da inserção e da HU da UFSC existe um controle dos fatores de
retirada foram realizadas em meios convencio- risco alteráveis. A duração da sondagem vesical é
nais para bactérias aeróbicas; também foi culti- um importante fator de risco para este problema.
vado material obtido com “swab” do meato uretral. Recomenda-se limitar ao mínimo necessário o
Na análise estatística usou-se métodos paramé- tempo de cateterização em pacientes internados.
tricos para variáveis categóricas e contínuas, e
análise multivariada para determinação de fato- UNITERMOS: Infecção urinária. Cateter vesical. Infecção
res de risco para ITU. nosocomial. Fatores de risco.

INTRODUÇÃO desenvolvimento de bacteriúria 10.


Através de dados obtidos com a Comissão de
A Infecção do Trato Urinário (ITU) é responsá- Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), no Hospi-
vel por 35 a 45% de todas as infecções adquiridas tal Universitário (HU), em Florianópolis, as taxas
no hospital, sendo essa a causa mais comum de anuais de incidência da ITUc oscilam entre 10,8%
infecção nosocomial. 1-5,46 Entre os pacientes que a 12,7%, 11-16 provavelmente porque há um controle
são hospitalizados, mais de 10% são expostos tem- dos fatores de risco considerados alteráveis.
porariamente à cateterização vesical de demora, o Pressupondo uma indicação criteriosa para o
fator isolado mais importante que predispõe esses cateterismo vesical de demora, em um hospital
pacientes à infecção. 6 Em unidade de terapia in- onde é utilizado o sistema de drenagem fechado,
tensiva, também é expressivo o seu uso 7. com padronizações e normas dos Centros de Con-
Existem vários fatores de risco associados à trole de Doenças (CDC), do Sistema Nacional de
infecção durante o uso do cateter vesical de demora, Vigilância das Infecções Nosocomiais (NNISS) e
entre eles, a colonização do meato uretral e a Ministério da Saúde, propusemos esse estudo, que
duração da cateterização. A colonização do meato teve como objetivo determinar a incidência da
uretral por bactérias potencialmente patogênicas ITUc e os fatores de risco a ela associados, na
foi considerada em uma análise univariada como o população adulta internada no Hospital Universi-
mais importante fator de risco para a bacteriúria tário da Universidade Federal de Santa Catarina
relacionada à cateterização urinária 8. (UFSC), no ano de 1993.
A incidência de Infecção do Trato Urinário
relacionado à cateterização vesical (ITUc) tem MÉTODOS E CASUÍSTICA
relação direta com a duração da cateterização,
estando esse fator sempre presente em análises Desenho do estudo - População
multivariadas. 9,4 Entre os fatores de risco, este Através de estudo observacional de coorte
tem sido considerado o mais importante para o contemporânea, não controlado, realizado no

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STAMM, AMNF et al.

Hospital Universitário (Fpolis-SC) da UFSC, fo- caso de qualquer germe ser identificado 8, 21.
ram avaliados os pacientes internados nas enfer-
Análise estatística - Aspectos éticos
marias de Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Gine-
cologia, Emergência, Unidade de Terapia Intensi- As seguintes variáveis foram coletadas para
va e Centro Cirúrgico, no período de maio a dezem- fins de análise: sexo, idade (anos), óbito, tempo de
bro de 1993, com idade igual ou superior a 15 anos, internação, clínica onde foi realizada a inserção do
submetidos à cateterismo uretral breve (duração cateter; resultados das culturas de urina e mate-
superior a 24 horas e inferior a 30 dias).Foram rial uretral, duração e indicação da cateterização
excluídos do estudo: a) pacientes cateterizados vesical; doença de base (cirúrgica ou clínica) que
com patologia urológica ou cirurgia urológica ou motivou a indicação da sondagem urinária; proce-
de pelviperíneo; b) débito urinário menor do que dência do paciente no momento da inserção do
720 mL/24h, c) bacteriúria (> 100 unidades forma- cateter (hospital ou comunidade); presença de sin-
doras de colônias (UFC) /mL) no momento da tomas de ITU (tais como febre,disúria, polaciúria);
inserção do cateter, d) sondagem urinária nos clínicas percorridas pelo paciente (da inserção até
últimos 12 meses e/ou cateterismo de alívio prévio. a remoção do cateter) e antibioticoterapia durante
a cateterização (independente da sua indicação).
Técnicas utilizadas - Definição de critérios Utilizando o procedimento do intervalo de confian-
Na sondagem vesical de demora foi usado cate- ça para a proporção e considerando 0,05 como erro
ter de Foley de 2 vias, seguindo técnica padroniza- de estimação, determinou-se uma amostra de pelo
da pela CCIH 17 do HU. Antes da colocação do cate- menos 130 pacientes considerando-se uma inci-
ter era colhida amostra com um “swab” estéril, dência estimada de 10% .
introduzido até 1 cm no meato uretral. A seguir, Foram utilizados os testes Qui-Quadrado (χ 2) e
feita a inserção da sonda, eram colhidas 2 amos- o teste t de Student, para analisar as variáveis
tras de urina recente através de punção na parte qualitativas e quantitativas, respectivamente.
de látex do sistema coletor fechado. Este mesmo Para estimar a incidência de ITUc no HU, foi
procedimento era realizado no momento da remo- utilizado o procedimento de estimação de parâ-
ção da sonda vesical. metros. A análise estatística foi feita com o progra-
Os estudos microbiológicos foram realizados no ma STATGRAPHICS , versão 5.0 e Statistica  ,
Setor de Microbiologia do Laboratório Central do versão 5.0. Adotou-se um nível de significância α
HU, conforme rotina estabelecida pelo mesmo 18. O de 0,05, para estimar a incidência de Infecção do
material do “swab” uretral foi inoculado nos meios Trato Urinário relacionada ao cateter vesical de
de ágar Mac Conkey e ágar sangue (meio de base demora.
Casoy, com 5% de sangue de carneiro desfibri- Para análise multivariada foi usada regressão
nado); as placas foram incubadas a 36ºC durante logística, tendo a ITU como variável dependente e
48 horas. A urina foi semeada no meio de ágar 10 variáveis independentes inicialmente no mode-
C.L.E.D. (Cysteine Lactose Electrolyte-Deficient lo (sexo, idade, tempo de internação, positividade
Medium) e em ágar Mac Conkey, e quando neces- do “swab” uretral, duração da cateterização, indi-
sário em ágar sangue (meio de base Casoy com 5% cação da mesma, tipo de paciente-clínico ou cirúr-
de sangue de carneiro desfibrinado). As placas gico, sua procedência, presença de diabetes e uso
foram incubadas a 36ºC durante 24 horas, quando prévio de antibióticos). O projeto foi implantado
então a leitura da contagem de colônias foi feita após ter sido submetido e aprovado pela Comissão
através da técnica comparativa tipo “dip-slide”. Se de Ética Médica do HU; os pacientes eram infor-
houvesse crescimento precário ou ausente, as pla- mados da natureza do estudo e solicitado seu
cas eram reincubadas a mesma temperatura por consentimento.
mais 24 horas, fazendo a leitura final com 48
horas. A identificação dos microorganismos foi RESULTADOS
realizada em nível de gênero e espécie bacteriana
através de provas bioquímicas. No período de maio a dezembro de 1993, 1.727
A ITU ou bacteriúria relacionada ao cateter foi pacientes adultos foram internados no Hospital
definida com a presença de 100 ou mais UFC/ml, após Universitário da Universidade Federal de Santa
o isolamento repetido da mesma bactéria ou fungo em Catarina (UFSC). Desses, 14,1% (244) submete-
duas culturas de urina, tanto no ato da inserção ram-se à cateterização vesical de demora, e cons-
quanto na remoção do cateter urinário19, 20. A cultura tituíram a amostra inicial, da qual 108 pacientes
do material coletado no meato uretral através do foram excluídos por causas diversas (tabela 1). A
“swab” foi considerada positiva (= colonização) no amostra final foi constituída de 136 que preenchiam

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INFECÇÃO URINÁRIA E SONDAGEM VESICAL

Tabela 1 – Distribuição das causas de exclusão na amostra


inicial

No %
Óbito (durante o período de cateterização 35 32.4
Dificuldade Técnica
(coleta/transporte/laboratório) 30 27.7
Inclusão Indevida 10 8.3
Transferência (domicílio ou outro hospital) 7 6.5
Mais de 1 cateterização/ano 6 5.5
Débito urinário < 720ml/24h 5 4.6
Duração < 24h 4 3.7
Sistema aberto 4 3.7 Fig. 2 - Germes encontrados no "SWAB" uretral
Bacteriúria na inserção 4 3.7
Mais de 1 fator de exclusão 3 2.7
Total 108 100.0 Tabela 2 – Descrição da duração (dias completos) da
cateterização em relação à presença ou ausência de ITUc.
Hospital Universitário/UFSC. Maio-Dez/1993

Medidas ITUc
Estatísticas Ausente Presente Total
No observado 121 15 136
Média 3.4 7.0* 3.8
Desvio-padrão 2.9 4.3 3.3
Mediana 2 6 2
*p = 0,00003 Hospital Universitário/UFSC-Maio/Dez de 1993

Em apenas dois casos, houve a presença conco-


mitante de duas espécies bacterianas: um com
Staphylococcus sp e também Streptococcus sp (α
hemolítico do grupo viridans), enquanto outro com
Hospital Universitário/UFSC-Maio/Dez de3 1993
Escherichia coli e Enterobacter sp (gráfico 2). Dos
Fig. 1 - Agentes etiológicos da ITUc 15 pacientes com ITUc, 8 (53,3%) tiveram “swab”
positivo; em apenas um caso, o gênero encontrado
os critérios de inclusão. Onze por cento da amostra no “swab” coincidiu com o da cultura de urina
(15/136) estudada evoluiu para o óbito durante a (Staphylococcus sp.). Não houve associacão entre
internação hospitalar. Nenhum dos óbitos teve “swab “positivo e ITUc ( p=0,7).
como causa a infecção do trato urinário. Na análise dos potenciais fatores de risco para
Dos 136 pacientes incluídos na amostra final, 15 ITU nosocomial, a análise univariada mostrou que
(11,0%) adquiriram ITUc. A incidência de infecção apenas 3 fatores foram estatisticamente significati-
na amostra analisada foi de 11,0 %, estimando-se vos: a doença de base (clínica ou cirúrgica) (p = 0,01);
uma incidência entre 5,7% a 16,3% (95% intervalo a permanência em uma clínica durante a interna-
de confiança) para os pacientes internados no HU. ção (p = 0,02) e a duração (em dias) da cateteriza-
O germe mais prevalente foi a Escherichia coli (6/ ção vesical (p= 0,00003). (tabela 2 e gráfico 3)
15), seguido por Enterobacter sp. (4/15), Staphylo- Pacientes com doença de base clínica tiveram
coccus sp. (2/15), Staphylococcus aureus (1/15) e mais ITU, da mesma forma, aqueles que permane-
Candida albicans (1/15). Apenas um paciente teve ceram em uma clínica durante o período de catete-
infecção mista, com Escherichia coli e Pseudomo- rizacão e nos pacientes que tiveram seu cateter
nas aeruginosa (gráfico 1). mantido por mais de dois dias. A análise multivariada
Os “swabs” uretrais foram positivos em 44 dos mostrou somente a variável “duração da cateteri-
136 pacientes da amostra total (44/136 (32,0%). zacão” estatisticamente significativa (p = 0,03).
Nesses, os germes encontrados foram: Staphylo- (tabela 3)
coccus sp. (15/44), Streptococcus sp (α hemolítico
do grupo viridans) (10/44), Escherichia coli (6/44), DISCUSSÃO
Staphylococcus aureus (3/44), Staphylococcus
saprophyticus (2/44), Enterobacter sp. (2/44), A presença do cateter na uretra remove os meca-
Streptococcus agalactiae (β hemolítico do grupo B) nismos de defesa intrínsecos do hospedeiro tais como
(2/44), Candida albicans (1/44) e Proteus sp (1/44). a micção e o eficiente esvaziamento da bexiga22. O

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Tabela 3 – Resultado da regressão logística mostrando as


recomendado o limiar quantitativo de 100 UFC de
razões de chance ou odds ratio (OR) com respectivos bactérias ou fungos/ml. Isso sugere que patógenos
intervalos de confiança (IC) e valor de p para cada variável presentes, mesmo em pequeno número, durante
independente usada no modelo. um cateterismo breve, representam uma real per-
manência na urina e não uma contaminação.
Variável OR (95% IC) Valor de p
Assim como nas infecções comunitárias, na In-
Sexo 1,48 (0,40-5,41) 0,55 fecção do Trato Urinário relacionada ao cateter
Idade 0,98 (0,70-1,38) 0,28
vesical de demora (ITUc), Escherichia coli é a
Tempo de internação 0,99 (0,97-1,02) 0,77
Swab positivo 2,02 (0,57-7,10) 0,28 espécie bacteriana mais comumente encontrada,
Duração da cateterização vesical 1,21 (1,02-1,44) 0,03 porém em uma percentagem menor (85% e 50%,
Indicação cateterização vesical 1,39 (0,06-30,3) 0,84 respectivamente) 25, 26.
Tipo de paciente 4,22 (0,21-84,3) 0,34 Desde a sua implantação, em 1980, o Hospital
Procedência do paciente 0,77 (0,13-4,54) 0,78
Universitário na UFSC, utiliza o sistema de dre-
Diabetes 0,64 (0,11-3,73) 0,62
Uso de antibióticos 1,40 (0,27-7,38) 0,69 nagem fechado, sendo a cateterização vesical de
demora realizada por um profissional da área de
enfermagem .
Em 1966, pesquisadores que utilizaram o siste-
uso de cateteres vesicais em pacientes internados ma de drenagem fechado, obtiveram uma incidên-
é alto e está associado com incidência aumentada cia de bacteriúria relacionada ao cateter vesical de
de infecções do trato urinário. As infecções do trato demora de 23% 27. Nessa ocasião esses índices fo-
urinário nosocomial em pacientes cirúrgicos au- ram muito expressivos, pois representaram uma
mentam o período pós-operatório na média de 2,4 significante redução da bacteriúria quando com-
dias, o que representa uma elevação no custo parada ao uso do sistema de drenagem aberto.
hospitalar em cerca de US$ 558 por paciente 23. Segundo Kunin e McCormack, 95% dos pacientes
Tem-se constatado, ainda, um aumento em três se tornam bacteriúricos nos primeiros quatro dias
vezes da taxa de mortalidade nos pacientes hospi- com o sistema aberto. A partir desse momento,
talizados que adquirem essas infecções 24. outros estudos realizados entre 1974 a 1990 mos-
O sistema coletor estéril fechado foi aperfeiçoa- traram uma tendência geral a uma redução na
do ao longo dos anos, sendo utilizado na maioria incidência de bacteriúria (em 1974, incidência de
dos hospitais de hoje, mas a bacteriúria ocorre em 23%; 1 em 1978, incidência de 17% 2;em 1984, inci-
média em 10 a 30% dos pacientes cateterizados. dência de 10% 47; em 1990, incidência de 10%) 36.
Portanto, ele retarda mas não elimina o risco de No HU, entre 1987 a 1992, a taxa de incidência
infecção. da ITUc mantém-se estável, com uma discreta
Nesse sistema, a sonda de Foley é introduzida variação entre 10,8% a 12,7% 11-16. Em 1993, essa
através do meato urinário em condições assépticas taxa foi de 12,5% 48 , bastante próxima da incidência
e ligada a um tubo coletor que, por sua vez, é ligado reportada neste estudo.
a uma bolsa de drenagem. Dessa forma, um pató- O controle da diurese durante cirurgias é uma
geno pode entrar nesse sistema fechado por via das indicações mais comuns para a sondagem
intraluminal, ocorrendo a penetração em dois pon- vesical de demora 6, 25, 28 . Essa indicação foi a mais
tos, ou seja, na junção entre o cateter e o tubo freqüente (70,6%), seguida pela determinação da
coletor, e entre este e a bolsa coletora. Outra via de diurese (29,4%), em pacientes graves ou comato-
acesso, a extraluminal, é considerada quando sos, fato esse detectado no trabalho de campo. Em
uropatógenos potenciais que colonizam a região função da metodologia adotada, creditamos a au-
periuretral penetram na bexiga, entre a bainha do sência de indicação para retenção ou incontinên-
meato uretral e a sonda vesical. Esta última é a via cia urinária.
mais freqüente pela qual um microorganismo cau- Neste estudo observamos a mesma tendência,
sa infecção urinária relacionada ao cateter, pois ficando o centro cirúrgico como a área do hospital
ocorre em 70 a 80% dos casos 6. onde a maioria dos cateteres foi inserida (71,3%),
A maioria dos episódios de bacteriúria com con- seguido da UTI (16,9%) e Emergência (5,9%), com
tagem baixa de colônias (100 a 10.000 unidades um número inexpressivo para as clínicas cirúrgi-
formadoras de colônias (UFC) de bactérias ou fun- cas e médicas. Da mesma forma, em relação à
gos/ml) rapidamente progridem para altas contagens doença de base (clínica ou cirúrgica, e esta, eletiva
(>100.000 UFC/ml) dentro de 24 a 48 horas 19. A ou de urgência) que determinou a indicação para o
partir desses dados, para se estabelecer o diagnóstico cateter vesical de demora, a doença cirúrgica foi
de bacteriúria no paciente cateterizado, tem sido preponderante (75,7%).

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INFECÇÃO URINÁRIA E SONDAGEM VESICAL

Todos esses dados, em conjunto com as observa- positivo, não se encontrando uma associação entre
ções feitas durante a pesquisa, permitem algumas “swab” positivo e ITUc. É possível que o número de
considerações. A indicação para a cateterização casos não tenha sido suficiente para estabelecer
vesical de demora em pacientes cirúrgicos, na essa relação, e, além disso, a colonização periure-
maioria das vezes, é feita de forma eletiva em tral não é seguida invariavelmente por bacte-
pacientes que já estão internados, e apenas even- riúria. 4 Encontramos 1/3 da amostra com “swab”
tualmente em situações de urgência. Nos pacien- positivo (44/136), e entre esses, apenas 1/5 desen-
tes com patologias clínicas e que na sua maioria, volveu ITUc (8/44). Alguns indivíduos têm coloni-
procediam da comunidade, a indicação da cate- zação periuretral persistente, mas nunca desen-
terização era feita quase que exclusivamente em volvem bacteriúria 4.
situações de urgência. Outro aspecto que deve ser salientado é a ausên-
A maior parte das ITU nosocomiais são adquiri- cia de um padrão que estabeleça de maneira uni-
das de forma endêmica, geralmente por auto-in- forme o nível bacteriano quantitativo a ser consi-
fecção, mas várias formas de transmissão epidêmi- derado na colonização periuretral. Entre os fato-
ca têm sido registradas 29, 25. Quando esta ocorre, há res de risco para ITUc, as análises multivariadas
um aumento importante na taxa de infecção, e as têm demonstrado de maneira constante a duração
bactérias responsáveis não são aquelas comu- aumentada da cateterização 34, 4. Foi demonstrado
mente encontradas, mas sim outras tais como um risco de 2,5% para 1 dia de cateterização, 10%
Serratia marcescens, Proteus rettgeri e Providen- para 2 a 3 dias, 12,2% para 4 a 5 dias, chegando a
cia stuartii. 25 Nesses casos, as investigações têm 26,9% com a duração igual ou maior do que 6 dias. 35
demonstrado que a infecção cruzada é a principal Na presente observação, a duração da cate-
forma de disseminação, através das mãos do pesso- terização foi o único fator que persistiu estatistica-
al hospitalar 29,25. mente significativo na análise multivarida. A me-
A maioria dos pacientes deste estudo (83,8%) diana do número de dias com o cateter foi maior no
percorreu mais de uma clínica desde a inserção do grupo de pacientes que desenvolveu ITUc. En-
cateter até a sua remoção, porém a análise univa- quanto em 75% dos pacientes não-infectados a
riada mostrou uma associação com ITU naqueles duração da cateterização esteve entre 2 a 4 dias,
pacientes que se mantiveram em uma clínica du- em 75% dos infectados cateterizados esteve a par-
rante todo o período da cateterização. Mesmo as- tir de 4 dias ou mais. Em um estudo, verificou-se
sim, esse dado deve ser avaliado com cautela, pois que a incidência de ITUc era duas vezes maior
não existem outras evidências de que a infecção quando o período de cateterização fosse superior a
adquirida tenha sido por disseminação exógena. uma semana; a duração média da cateterização
A uretra, em ambos os sexos, ou não é colonizada encontrada foi de 6,5 dias, comparada com os 3
ou tem uma microbiota pouco numerosa30. Encontra- dias entre os pacientes sem infecção 36.
mos 1/3 dos pacientes da amostra analisada com Mais ainda, os pacientes clínicos tiveram o do-
cultura do meato uretral positiva (44/136), sendo bro da duração média de cateterização em relação
que em um estudo semelhante observou-se posi- aos pacientes cirúrgicos, com uma significante
tividade em metade deles (601/1213)8. As espécies de associação entre a duração e a doença de base do
microorganismos e a freqüência com que foram en- paciente (p=0,000001). Em 75% dos pacientes ci-
contrados na porção anterior da uretra estão de rúrgicos a duração esteve entre dois e três dias; em
acordo com os dados encontrados na literatura30-32. 75% dos pacientes clínicos o tempo de cateteri-
Em 1980 foi estabelecido em uma análise uni- zação foi superior a três dias. A prevenção perma-
variada, a colonização do meato uretral por bacté- nece como o melhor caminho para reduzir a morbi-
rias potencialmente patogênicas como o maior fa- dade, mortalidade e custos da ITUc 35, 37.
tor de risco para bacteriúria relacionada ao cateter As estratégias comprovadamente efetivas inclu-
vesical de demora 8 . Outros autores também obser- em a inserção estéril e os cuidados com o cateter,
varam susceptibilidade à infecção nos indivíduos sua pronta remoção e o uso do sistema de drena-
com aumento na densidade da colonização bacte- gem fechado 38-41,4, 42-44.“Desde a introdução do siste-
riana, porém a flora do meato uretral específica ma de drenagem fechado por Dukes, já se passaram
nem sempre predisse as espécies responsáveis 69 anos e nós aprendemos mais sobre o que não é
pela mesma 21 . Observou-se ainda que a coloniza- efetivo do que como aperfeiçoar o cuidado com o
ção retal e periuretral freqüentemente precedem a cateter. Com certeza uma única medida não será
bacteriúria associada ao cateter 33. suficiente. O desafio é desenvolver métodos que
Nesse estudo, entre os 15 pacientes que adquiri- efetivamente drenem a bexiga sem alterar os seus
ram bacteriúria, apenas 8 (53,3%) tiveram “swab” mecanismos de defesa” 41. “Na verdade, a única

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STAMM, AMNF et al.

medida mais efetiva é evitar o uso do seu maior [Rev Ass Med Brasil 1999; 45 (1): 27-33]
fator de risco: o cateter vesical de demora” 45.
KEY WORDS: Urinary tract infection. Urinary catheter.
Nosocomial infection. Risk Factors.
CONCLUSÕES

A incidência de ITUc na amostra analisada foi REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


de 11,0%, índice semelhante aos países desenvol-
vidos, porque no HU da UFSC existe um controle 1. Garibaldi RA, Burke JP, Dickman ML et al. Factors predis-
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biochemical tests for identification. Material from a 12. Comissão Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). Boletim
urethral meatus swab was also examined for Informativo 1988. Florianópolis (SC): Hospital Universitário.
bacteria. Statistical analysis using parametric 13. Comissão Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). Boletim
Informativo 1989. Florianópolis (SC): Hospital Universitário.
tests for cathegorical and continuous variables, 14. Comissão Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). Boletim
and multivariate analysis for determination of Informativo 1990. Florianópolis (SC): Hospital Universitário.
risk factors for UTI were performed. 15. Comissão Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). Boletim
R ESULTS . Incidence of UTI associated with uri- Informativo1991. Florianópolis (SC): Hospital Universitário.
nary catheter was 11,0%. Univariate analysis sho- 16. Comissão Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). Boletim
Informativo 1992. Florianópolis (SC): Hospital Universitário.
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