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Cássia Damiani
Comitê Editorial
Cássia Damiani - SE
Gianna Lepre Perim SNEED
Leila Mirtes Santos de Magalhães Pinto - SNDEL
Marco Aurélio Ravanelli Klein - SNEAR
Colaboradores
Ana Cristina Gonçalves dos Santos
Andréa Nascimento Ewerton
Cyro Viegas
Fernando Marinho Mezzadri
Juliana de Oliveira Freire
Micheli Ortega Escobar
Rossana Valeria Souza e Silva
Palavra do Ministro................................................................................................07
Apresentação.........................................................................................................09
Documento Final da I Conferência Nacional do Esporte........................................11
Carta de Brasília..............................................................................................13
Resolução de Criação do Sistema Nacional de Esporte e Lazer..........................15
Propostas de Ação aprovadas na Plenária Final.................................................17
Política Nacional do Esporte..................................................................................25
Considerações Finais..............................................................................................49
Palavra do Ministro
O Brasil vive o momento em que o desenvolvimento social e a redução das desigualdades se concretizam
em consonância com o crescimento econômico e com ampliação de liberdades democráticas. Assim, o país
conquistou definitivamente o reconhecimento e a confiança internacional. Isso eleva a qualidade de vida e a
esperança do povo brasileiro.
Nos últimos anos, tivemos também avanços e conquistas no esporte nacional. Os resultados, antes de
serem espontâneos, espelham a determinação política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, em 2003,
pela primeira vez na nossa história, criou um ministério exclusivo para o setor e com isso, o esporte e o
lazer firmaram-se como direitos de cidadania. O Brasil definiu como centro da política de esporte a inclusão
social e o desenvolvimento humano, e criou programas esportivos e sociais que o projetaram no cenário
internacional.
A vitória do Rio de Janeiro como cidade sede para as Olimpíadas e Para-olimpíadas de 2016, concretiza os
esforços do governo federal para colocar o país no centro dos grandes eventos esportivos mundiais. Um
marco decisivo foi a realização, em 2007, no Rio, dos melhores Jogos Pan-Americanos da história. Trouxemos
a Copa de 2014 e agora as Olimpíadas 2016, um feito inédito. A conquista de sediar os maiores eventos
esportivo do mundo se sustenta no paradigma dos legados que contribui com o crescimento do Brasil, a
transformação urbana das cidades e o desenvolvimento social sustentável por meio do esporte.
Isso significa impulso às ações da Política Nacional do Esporte, maior acesso das crianças e da juventude ao
esporte e ao lazer, ampliação da formação esportiva e do desenvolvimento da carreira de atletas, elevação
dos resultados esportivos e da qualidade dos programas sociais, como o Segundo Tempo e o Esporte e Lazer
da Cidade.
O Ministério do Esporte quer consolidar o esporte e o lazer como políticas de estado que, além de fomentar
a cadeia produtiva do esporte, possibilitarão novas oportunidades de trabalho e renda, e aumentarão a
capacidade administrativa e tecnológica do país para realizar grandes eventos esportivos.
Esse conjunto de fatores torna a política do esporte estratégica para o desenvolvimento do país que pretende
ser a quinta potência econômica em 2016 e, figurar entre as dez maiores potências olímpicas do mundo.
Fazer o esporte participar do desenvolvimento do Brasil implica na estruturação do Sistema Nacional de Esporte
e Lazer, tema que merece nossa atenção porque representa mais órgãos próprios de gestão nos estados e
municípios, mais orçamento para o esporte e lazer e o aperfeiçoamento dos mecanismos democráticos e de
instâncias como a Conferência Nacional do Esporte e o Conselho Nacional do Esporte, que contribuem com
o controle social das políticas públicas.
Amadurecemos e tornamos pujante o Ministério do Esporte, agora apresentamos ao debate sua trajetória no
campo institucional. A coletânea “Esporte e Lazer: Políticas de Estado” é um convite para o leitor conhecer o
espaço de materialização da Política Nacional do Esporte.
Apresentação
O Ministério do Esporte criado em 2003 com a missão de “Formular e implementar políticas públicas inclusivas
e de afirmação do esporte e do lazer como direitos sociais dos cidadãos, colaborando para o desenvolvimento
nacional e humano”, apresenta esta coletânea, que objetiva sistematizar as experiências do Governo Federal
na gestão de políticas públicas de esporte e lazer.
Nesse sentido, para qualificar e aperfeiçoar o trato com conhecimento e a execução dos programas e ações,
considerando a evolução conceitual, a formação, os instrumentos administrativos e os mecanismos de
participação social, bem como fazer resgate histórico e democratizar o acesso à informação e documentação
dessas Políticas Públicas, a presente coletânea está organizada em três volumes. Dois volumes tratam dos
debates ocorridos na Conferência Nacional do Esporte - CNE, instituída por Decreto Presidencial em 2004,
um marco histórico para área do esporte e lazer no Brasil, e o terceiro volume apresentará os programas e
ações do Ministério do Esporte.
O Caderno I - Esporte, Lazer e Desenvolvimento Humano, traz as produções da I CNE, desde a Carta de Brasília,
que sintetiza o conteúdo debatido e aprovado por milhares de pessoas em todo Brasil, indica subsídios para
construção da Política Nacional do Esporte e a resolução de Criação do Sistema Nacional de Esporte e Lazer
e finaliza esse volume com a apresentação da Política Nacional do Esporte, aprovada pelo Conselho Nacional
do Esporte no ano de 2005.
O Caderno II – Construindo o Sistema Nacional de Esporte e Lazer apresenta três textos preparatórios da II CNE,
elaborados para orientar os debates nas conferências municipais e estaduais, culminando nas deliberações da
Etapa Nacional, sendo eles: Fundamentação sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, Relatório do I Fórum
do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, Considerações sobre o Projeto de Lei do Estatuto do Esporte. Ainda
nesse volume serão apresentados: Documento final com as resoluções da II CNE, como também o documento
síntese de elaborações teóricas de Especialistas (Pesquisadores de IES e institutos, dirigentes esportivos,
professores, gestores, e outros), após os debates da Reunião sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer,
promovida pelo Ministério do Esporte, de 03 a 07 de dezembro de 2007. Esta reunião deliberou a criação de
um Fórum Virtual para problematizar o tema, que deu origem ao último texto desse volume: Subsídios para
concepção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
O Caderno III – Programas e Ações do Ministério do Esporte é um espaço de socialização das ações das
Secretarias Finalísticas do Ministério, apresentando as diretrizes, os principais programas e projetos, seus
conceitos, funcionamento, formas de acesso e abrangência. Neste Caderno preparando o debate para a III
Conferência, será apresentado um diálogo com outras áreas que construíram e/ou estão construindo seus
respectivos sistemas. E por fim apresenta as linhas para um debate em torno da construção de um Plano
Decenal do Esporte e do Lazer.
Espera-se que essa coletânea seja uma contribuição aos gestores de esporte e lazer municipais e estaduais,
bem como a todos que direta ou indiretamente formulam, implementam, pesquisam ou participam de políticas
públicas de esporte e lazer para atender com qualidade os anseios da população brasileira.
Comitê Editorial
Ministério do Esporte
Ministro: Agnelo Santos Queiroz Filho (na época)
Secretário-Executivo: Orlando Silva de Jesus Júnior (na época)
Chefe de Gabinete do Ministro: Francisco Cláudio Monteiro (na época)
Secretário Nacional de Desenvolvimento de Esporte e Lazer: Lino Castellani Filho (na época)
Secretário Nacional de Esporte Educacional: Ricardo Leyser Gonçalves (na época)
Secretário Nacional de Esporte de Alto Rendimento: André Almeida Cunha Arantes (na época)
Equipe de Apoio
Andréia Alves de Jesus, Danielle Rodrigues de Lima, Liane Santana Matsunaga, Marco Antônio da Silva Gurtler,
Nágila Marie Curi Falcão Borba, Patrícia Alves de Lima, Rodrigo Marcelo Simões.
Carta de Brasília
Momento Histórico
Este 20 de junho de 2004 já é parte importante da história do esporte e lazer brasileiros. Nós, participantes
da I Conferência Nacional do Esporte, com muita alegria em nossos corações, vemos que nossos sonhos
começam a virar realidade. Estamos criando as condições para fazer do esporte e do lazer atividades essenciais
na vida de todos os brasileiros e brasileiras.
A própria realização da Conferência já é uma vitória. Jamais em nossa história tivemos, como temos agora,
ampla participação da sociedade no processo de formulação das políticas públicas para o esporte e o lazer. É
uma forte mobilização que se transforma num entendimento nacional pelo esporte e pelo lazer, num sentido
amplo e democrático.
Foram quatro dias de debates, deflagrados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em ato no belo Teatro Nacional
de Brasília. Vínhamos com o respaldo de 83 mil pessoas que se mobilizaram em 873 municípios, 26 estados e
Distrito Federal. Não representamos apenas o chamado segmento de esporte e lazer, mas toda sociedade.
Aprovamos a política de esporte e lazer que vem sendo implantada, com foco na inclusão social. Estamos
convictos de que é a política mais adequada para o nosso tempo.
O tema “Esporte, Lazer e Desenvolvimento Humano” propiciou um debate amplo sobre todos os aspectos
do esporte e lazer. E ficou claro: esta luta não tem donos. É de todos os brasileiros e brasileiros em favor de
uma sociedade melhor.
Desse intenso processo de debates, surgiu a vigorosa proposta de criarmos o Sistema Nacional de Esporte e
Lazer, com eixos em políticas nacionais de gestão participativa e controle social, de recursos humanos e de
financiamento. Será um sistema descentralizado e regionalizado.
No campo do financiamento, pelo momento em que vivemos, desde logo destacamos nosso apoio à criação
de uma Lei de Incentivo ao Esporte e o nosso desejo de rápida aprovação, pelo Senado Federal, da lei que
cria a Bolsa-Atleta.
Nos recursos humanos, sustentamos que todas as atividades esportivas e de lazer, quando orientadas, o sejam
por trabalhadores qualificados. Isto, em caráter multiprofissional e multidisciplinar.
No controle social, é unânime a tese de que a democracia participativa é que deve reger as ações também
neste campo da vida em nosso país.
As teses e propostas resultantes desta Conferência irão referenciar, a partir de agora, a Política Nacional do
Esporte e Lazer.
valorização do profissional de Educação Física pelo cursos públicos seja garantido percentual para o
poder público, nos diferentes níveis de ensino, com o atendimento gratuito às comunidades e ligas de
provimento de concursos públicos, garantia de melhor futebol amador.
remuneração e formação continuada. A elevação da
qualificação deverá acontecer com ações integradas • Implementar um plano de desenvolvimento
com as Instituições de Ensino Superior, facilitando do futebol feminino com especial atenção na
a participação dos profissionais em eventos desta formação de novas atletas por meio da ampliação
área, bem como, na descentralização da União para da oferta de escolinhas de futebol feminino,
os estados e municípios com o compromisso de aumentando o numero de competições e inclusão
priorizar a contratação de recursos humanos com dessa modalidade nos campeonatos, promovidos
formação na área, contribuindo para o processo por confederações, federações e ligas. Formular
de geração de emprego, elevando o número de uma política de investimento para integração
escolas e de alunos atendidos, usando como base e entre escolas, clubes e entidades comunitárias na
referência, o texto final da Conferência. formação de atletas nas categorias de base nas
esferas municipal, estadual e federal, convênios
e parcerias com empresas. Estimular a criação
Futebol de ligas de futebol feminino e departamento
específico nas confederações e federações.
• Criação de um sistema nacional de financia-
Bem como aperfeiçoar a legislação incluindo
mento do futebol amador, por meio de um fundo
a modalidade futebol feminino nos jogos
nacional, estadual e municipal que garanta o re-
passe de recursos às ligas e entidades esportivas promovidos pelo Ministério do Esporte.
sem fins lucrativos e que participam do processo • Estimular a participação das entidades promo-
de formação e prática do futebol e que estejam
toras do futebol - federações e associações de
aptas com as suas obrigações estatutárias e de
cronistas do futebol - e das empresas que se be-
acordo com a legislação em vigor. Que nas cons-
neficiam dele, num esforço conjunto para racio-
truções e eventos que forem subsidiados por re-
nalizar e otimizar as ações capazes de melhorar
centro-oeste, onde ainda não existem cursos de lazer. Estas políticas deverão contemplar a criação
mestrado e doutorado na referida área. de uma rede nacional de documentação e informa-
ção, um diagnóstico do esporte e do lazer, apoio à
• Incentivar, apoiar e financiar políticas públicas preservação de documentos, formação de recursos
descentralizadas e desconcentradas, que promovam humanos, a criação de listas de discussões técnico-
a produção de conhecimento e estudos científicos científicas e de um banco de dados de informações
visando o desenvolvimento do lazer, da Educação do esporte e do lazer e, finalmente, apoio à criação
Física e do esporte em suas diversas manifestações. de bibliotecas virtuais que disponibilizem a produ-
Essas políticas deverão contemplar a iniciação cien- ção científica e o acervo literário.
tífica, a criação e manutenção da infra-estrutura e
• Implementar ações de políticas públicas de difu-
modernização de equipamentos para o desenvol-
são de conhecimento em Educação Física, esporte
vimento de centros, núcleos e grupos de pesquisa,
e lazer, através do financiamento de eventos cientí-
preferencialmente em universidades. O produto des-
ficos e culturais em âmbito nacional e internacional
ta ação deverá levar em conta os problemas sociais e de publicação de periódicos científicos e livros na
e a diversidade regional, promovendo a cooperação área, bem como apoiar e incentivar a implantação
técnica, científica e o intercâmbio em nível munici- de cursos de mestrado e doutorado nas regiões Nor-
pal, estadual, nacional e internacional. te, Nordeste e Centro-Oeste, na área de Educação
• Elaborar, fomentar, apoiar e incentivar políticas Física, esporte e lazer.
públicas de informação e documentação, visando • Elaborar e implementar ações que permitam maior
a socialização do conhecimento, o aperfeiçoamen- controle público dos programas do Ministério do Es-
to da gestão pública e o desenvolvimento científico porte, visando à sua democratização, desburocrati-
e tecnológico da Educação Física, do esporte e do zação e participação da sociedade.
Mais do que um preceito constitucional, o acesso favorecer o desenvolvimento social por meio de
ao esporte é um direito a ser garantido ao cidadão políticas de prática esportiva.
brasileiro. Embora a tendência histórica da legislação
O Brasil, por meio de iniciativas governamentais e
esportiva, das proposições das políticas anteriores
da sociedade em geral, já iniciou essa caminhada. A
e do desenvolvimento de ações efetivas, ao longo
potencialização desses esforços articulados em uma
dos anos, demarque esforços nessa direção, o
política consistente pode ser garantia do direito ao
esporte está longe de ser um direito de todos.
esporte a todos os cidadãos brasileiros. Além da
O Esporte brasileiro tem hoje projeção internacional necessária atualização da legislação esportiva, da
pelos resultados que vem obtendo nos eventos definição do esporte e de suas dimensões, entre
olímpicos, paraolímpicos e não olímpicos. É outras questões que a exigem, tornam-se urgentes
importante que se possa oferecer condições cada a reorganização e a articulação das ações dos
vez melhores aos atletas e paraatletas de alto governos e da sociedade de forma a traçar metas
rendimento, mas é fundamental que se ofereça adequadas às necessidades do País, que também
possibilidade de acesso à prática esportiva a toda são tratadas no Estatuto do Esporte.
a população brasileira. O olhar para a história permite reconhecer a
tendência da intervenção do Estado e o caráter
Os organismos internacionais reforçam a
das contribuições para o desenvolvimento do
importância do esporte para o desenvolvimento
Esporte. O Estado brasileiro está presente na
humano sustentável. O relatório da Força Tarefa
definição das políticas de Esporte há mais de seis
entre Agências das Nações Unidas sobre o Esporte
décadas, por meio do Decreto-Lei nº 3.199/44, que
para o Desenvolvimento e a Paz2, divulgado em
criou o Conselho Nacional de Desportos – CND
2003, coloca o esporte em uma posição estratégica
e deu poderes ao Estado para intervir nos entes
para o alcance das “Metas de Desenvolvimento
desportivos, durante o Estado Novo. Essa relação foi
do Milênio” estabelecidas pela Organização das
inaugurada no momento histórico de um conflito
Nações Unidas. O esporte, entendido como direito
bélico internacional, no qual o fenômeno esportivo
humano, reafirma seu potencial no desenvolvimento
foi utilizado, reiteradamente, como veículo para a
social e econômico de uma nação, especialmente
propagação de ideários totalitários. A alteração
nas áreas de saúde, educação e meio-ambiente.
desse Decreto, promovida por meio da Lei 6.251/755,
A UNESCO também valoriza a importância que instituiu normas gerais sobre desportos durante
do esporte no desenvolvimento dos povos na
convicção de que o esporte e a educação física
1
Constituição da República Federativa do Brasil,
promulgada em 5 de outubro de 1988.
podem contribuir positivamente nas problemáticas 2
Esporte Para o Desenvolvimento e a Paz:
de saúde e de bem-estar, na diminuição de Em Direção à Realização das Metas de
desigualdades, no resgate de valores e de Desenvolvimento do Milênio - ONU, 2003.
3
Declaração da IV Conferência Internacional de
princípios, entre outras questões. A Declaração da
Ministros, Altos Funcionários e Responsáveis pela
IV Conferência Internacional de Ministros, Altos Educação Física e Esporte, UNESCO, 2004.
Funcionários e Responsáveis pela Educação Física e 4
Decreto-Lei nº 3.199 de 14 de abril de 1941,
publicado no D.O.U., em 17 de abril de 1941.
Esporte3, realizada em Atenas, em 2004, apresenta 5
Lei 6.251 de 8 de outubro de 1975, publicada no D.O.U.,
questões prioritárias e recomenda aos governos em 09 de outubro de 1975, regulamentada dois anos
que sejam essas implementadas nos países para depois pelo Decreto 80.228 de 25 de agosto de 1977.
faixa média de 2.000 a 2.500 alunos11 por evento, não proporcionou as condições adequadas para a
para uma população estudantil que oscilou entre proteção dos clubes formadores no contexto do
30 e 40 milhões de estudantes no ensino básico12. fim do passe, bem como não fez todos os ajustes
necessários na legislação trabalhista para adequá-la
Nos marcos da democracia representativa na década às particularidades do futebol profissional.
de noventa é elaborado um novo ordenamento do
Sinais evidentes de democratização nas relações
Esporte no país, pela Lei 8.672/9313, conhecida
como Lei Zico, que propôs princípios e diretrizes do Esporte em nosso país têm lugar na instalação
para a organização e funcionamento das entidades de Comissões Parlamentares de Inquérito, tanto
esportivas, permeados pela aparente contradição na Câmara dos Deputados, quanto no Senado
entre interesses liberais e conservadores em um Federal, deflagrados pela constatação de relações
momento de ascensão explícita das políticas sociais degradadas pelos interesses do capital no interior
rumo à “modernização” conservadora. do Futebol profissional brasileiro. Nesse contexto,
A elaboração da Lei 9.615/9814, popularizada como instrumentos legais inéditos se fazem presentes:
Lei Pelé, apresentou como idéia central a eliminação a Lei 10.671/0315 – Estatuto do Torcedor –, que
do passe de atletas do Futebol, a mais expressiva
e representativa modalidade do país, criando de 11
Fonte: Arquivos do Ministério do Esporte, 2004.
fato as condições de livre arbítrio para estabelecer 12
Fonte: Censo Escolar -MEC/INEP, 2004.
relações trabalhistas, não obstante sujeitas ao jugo 13
Lei 8.672 de 06 de julho de 1993, publicada no D.O.U., em
de empresários, seus novos patrões. A superação 07 de julho de 1993, regulamentada pelo Decreto 981/93.
14
Lei 9.615 de 24 de março de 1998, publicada no D.O.U., em
da instância centralizadora, o então “Conselho
25 de março de 1998, regulamentada pelo Decreto 2.574 de 29
Nacional do Desporto”, materializa a autonomia das de abril de 1998, publicado no D.O.U., em 30 de abril de 1998.
entidades de administração e de prática do esporte, 15
Lei 10.671 de 15 de maio de 2003, publicada
bem como os direitos dos atletas. No entanto, no D.O.U., em 16 de maio de 2003.
às Atividades Físicas de Saúde e de Lazer. Sem negar a Geral e Ministério da Educação e Cultura, 1971.
Uma vez que o esporte é um conhecimento O Esporte como parte integrante da cultura, em sua
inalienável de todo cidadão, na escola todos os dimensão de lazer, tem por finalidade atender aos
alunos têm o direito de aprendê-lo, na perspectiva interesses e necessidades sociais dos cidadãos a partir
da autonomia, e praticá-lo independente de da prática das suas manifestações lúdico-esportivas,
condições físicas, de raça, de cor, sexo, idade de fruição do espetáculo esportivo e do conhecimento
ou condição social, através de atividades auto- dela emanado. A prática do Esporte Recreativo tem,
organizadas e autodeterminadas. As modalidades ainda, como finalidade atender aspectos do conceito
selecionadas devem ter um maior potencial de ampliado de saúde29 sintonizados com a Política
universalidade e compreensão dos elementos Nacional de Promoção da Saúde.
culturais brasileiros – futebol de campo e de
areia, vôlei de areia, futevôlei, capoeira e outras A partir do entendimento presente nessa Política, as
semelhantes. Portanto, o ensino na escola não práticas corporais são expressões individuais e coletivas
deve orientar-se, apenas, para a formação de 29
Conceito definido como resultado dos modos de organização
uma futura elite esportiva, o que não significa a social da produção, no contexto histórico de uma sociedade,
exigindo a formulação e a implementação de uma política que
eliminação da possibilidade do desenvolvimento
invista na melhoria da qualidade de vida de sujeitos, pois a saúde
de atletas a partir do ensinamento das práticas é um direito fundamental para a vida e garantia de cidadania.
esportivas na escola. A esse respeito, a estrutura Projeto de Núcleos de Saúde Integral. Ministério da Saúde, 2003.
30
Lei 9.615 de 24 de março de 1998, publicada no D.O.U., em
25 de março de 1998, regulamentada pelo Decreto 2.574/98.
31
Esporte como Estratégia de Desenvolvimento Social e Econômico.
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2001.
32
Esporte Para o Desenvolvimento e a Paz: Em Direção à Realização
das Metas de Desenvolvimento do Milênio, ONU, 2003
33
Portaria Interministerial nº 2.255, de 20 de novembro de
2003, publicada no D.O.U, em 26 de novembro de 2003.
LEGISLAÇÃO CONSULTADA
Decreto-Lei nº 3.199 de 14 de abril de 1941,
publicado no D.O.U. em 17 de abril de 1941.
A realização da primeira Conferência Nacional do Esporte foi um marco nas Políticas Públicas de Esporte
e Lazer. Apresentar como se deu essa iniciativa pioneira de diálogo entre o estado e a sociedade civil, é a
intenção do Caderno I. Propõe-se ainda a demonstrar como o Ministério do Esporte procedeu para organizar
as demandas da área, projetando esporte e lazer nas gestões municipais e estaduais e nas organizações não
governamentais.
O principal desdobramento dos debates da I CNE foi a aprovação da Resolução de Criação do Sistema Nacional
de Esporte e Lazer e das linhas da Política Nacional do Esporte, que se mostrou um importante instrumento
orientador das ações das diversas secretarias do Ministério do Esporte e de outras esferas de gestão.
Diante dos desafios apresentados a partir desse debate, importa saber que ações são importantes para que a
agenda política em todas as esferas de governo possa materializar o direito social ao esporte e ao lazer.
A Política Nacional do Esporte, quando aponta como centro a promoção da inclusão social e o desenvolvimento
humano, visa a alcançar a universalização do acesso ao esporte e ao lazer e pretende tornar-se uma política
estruturante, perene, uma política de estado. Tal conquista requer que se promova, ainda, o desenvolvimento
econômico, científico e tecnológico, a gestão democrática e o controle social, no campo do esporte e do
lazer. Contudo, o que determina o futuro da Política Nacional do Esporte é a qualidade e a forma com que se
materializam suas ações, projetos e programas.
Um profícuo debate é deflagrado pela I CNE, que deixa para a II CNE a relevante tarefa de estabelecer as
bases do novo Sistema Nacional de Esporte e Lazer, que avance do Sistema que se tem para aquele capaz de
atender as necessidades atuais do setor.