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JOUKAHAINEM E AINO
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liberdade. Mas a mãe estava orgulhosa de que a sua bela Aino fosse a esposa de
tão poderoso senhor, embora a jovem Aino sofresse pela sua infelicidade e não
queria unir-se a um velho como Vainamoinen, mas sabia que devia cumprir a
palavra dada pelo seu irmão para que sobre eles não caíssem as maldições do
poderoso velho. Aino aceitou resignadamente a sua sorte e depois, entre os
bosques, conheceu Vainamoinen num penoso e mágico primeiro encontro, que
quase não pôde resistir. Sobrepondo-se aos seus desejos de fugir, Aino vai para o
seu destino no longínquo Sul, mas não chegará a Kaleva, porque se afoga enquanto
nada alegremente nas águas do mar, inocente vítima de um destino que se virou
contra ela.
A DOR DE VAINAMOINEN
Foi muito triste para todos conhecer a cruel morte de Aino; choraram os
seus pais, as suas amigas, todos; mais do que ninguém chorou Vainamoinen. Mas
saiu para o mar, como tantas vezes, com o seu aparelho de pesca para esquecer a
Aino, e encontrou-a sem saber, sob a forma de um peixe desconhecido que
escapou a tempo da sua faca, dizendo-lhe quem tinha sido ela antes de converter-
se em salmão. Vainamoinen ficou ainda mais triste, ao compreender que a tinha
perdido de novo e para sempre. Mas a sua mãe, a Virgem do ar, apiedou-se da sua
pena e explicou a maneira em que devia procurar em Pohjola uma bela virgem que
fosse sua esposa. Vainamoinen obedeceu à mãe e foi para o norte, à procura da
namorada recomendada, sem saber que Joukahainen o esperava disposto a vingar-
se, preparado para matá-lo com o seu arco tenso e as suas flechas afiadas,
desobedecendo de novo os conselhos da sua mãe. Mas esses conselhos desviaram
a pontaria de Joukahainen e as suas flechas falharam; não alcançaram ao cavaleiro
mas a cavalgadura. Vainamoinen caiu no mar e foi engolido pelas suas águas,
enquanto Joukahainen julgava tê-lo morto e gabava-se disso perante a sua
horrorizada mãe, que o maldizia pelo mal cometido. Joukahainen soube, depois, por
intermédio da sombra da Justiça, que Vainamoinen, após nove dias flutuando à
deriva, tinha sido tirado das águas por uma águia e levado até Pohjola; o velho
estava vivo e mais perto do que nunca de conseguir a meta da sua viagem: a
namorada que a sua mãe Luonnotar lhe tinha designado da sua tumba marinha. O
pobre e estúpido Joukahainen não pôde superar a sua covarde angústia, o seu
medo ao castigo que, sem dúvida, lhe vinha em cima e enforcou-se nos galhos de
uma árvore que ia cortar.
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não teve mais remédio que abandonar a desejada donzela e sair à procura de
alguém que pudesse fechar a sua ferida, pois ele tinha perdido todo o seu poder
mágico. Curado e reposto, Vainamoinen prosseguiu a sua rota até Kalevala, para
chegar à oficina do ferreiro Ilmarinen e convencê-lo de que devia ir a Pohjola forjar
o sampo; não o conseguiu e teve que recorrer à sua recuperada magia para fazer
com que um tornardo o arrebatasse da sua forja e o levasse até a escura e fria
terra do norte.
Luohi viu chegar magicamente o ferreiro Ilmarinen a sua casa e quase não
se surpreendeu quando soube que se tratava dele. Ordenou imediatamente que lhe
preparassem a melhor acomodação e até fez com que a sua bela filha virgem se
adornasse com as melhores galas, para ser depois mostrada a Ilmarinen e
oferecida como recompensa em troca do sampo ansiado. À vista da preciosa
criatura Ilmarinen foi procurando por Pohjola o lugar onde realizar o seu trabalho e
pôs-se a trabalhar febrilmente na construção daquela forja, primeiro, e na
realização do sampo pedido, depois. Ilmarinen demorou três dias em preparar a
forja e três dias em forjar o moinho de tampa suntuosa, que era moinho de farinha
por um lado, moinho de sal por outro e moinho de moenda pelo terceiro. No seu
primeiro trabalho, o sampo moeu uma medida para ser comida, outra medida para
ser vendida e uma terceira para ser guardada. Entregue o moinho a Luohi, esta
guardou-o no lugar mais recôndito da sua casa. Foi nessa altura, cumprida o seu
parte, que Ilmarinen reclamou aquela virgem prometida, mas ela negou-se a
acompanhá-lo, porque não estava disposta a ser sua esposa. Ilmarinen abateu-se,
sem forças para nada, até tal ponto que a mãe da virgem, a anciã Luohi, se
compadeceu da sua tristeza e o enviou numa barca de regresso para o sul,
envolvido na força mágica de um vento que ela convocou para que fosse
transportado sem perigo em três singraduras até à sua ansiada Kalevala. Lá, na
margem, esperava-o o velho e ele disse que o sampo tinha sido construído e
entregue a Luohi, segundo se tinha acordado, mas também fez saber que a donzela
prometida não cumpriu a sua parte do pacto e que ele, Ilmarinen, tanto como
Vainamoinen, tinham sido duplamente burlados pela virgem de Pohjola.
LEMMINKÄINEM O AMANTE
Ahti Lemminkäinen nasceu em Kauko e foi um jovem tímido até que pescou
uma tenca e esta, para salvar a sua vida, prometeu ensinar-lhe a palavra
encantada que o tornaria no homem mais amado pelas mulheres. Mas não havia tal
palavra, era necessário comer o peixe para conseguir esse encanto e Ahti comeu-a.
Certamente, em breve Ahti começou a ser querido por todos, especialmente pelas
mulheres, como o demonstra a sua primeira aventura com Kylliki, a preciosa jovem
de famosa beleza que rapta e apaixona; mas Ahti Lemminkäinen pensa que a sua
mulher não lhe guardou a devida ausência e vai para Pohjola, pretendendo desta
vez a filha de Louhi e tendo que cumprir uma dura prova para conseguí-la: a
captura do alce de Hiisi, caça que lhe custaria a vida nas águas do rio Tuoni,
assassinado pela vingança de um velho que tinha humilhado. Ahti caiu no reino da
morte, no reino de Tuoni e Tuonetar, no meio do horror e o sofrimento.
Desaparecido Ahti, a sua mãe inicia a penosa procura do filho perdido,
submergindo-se nas águas, cruzando as terras do norte, perguntando à Lua e, por
fim, ouvindo o que o Sol lhe contava, que Ahti tinha sido arrastado para o Tuoni. A
mãe pediu a Ilmarinen que forjasse um ancinho de cem braças para tirar o seu filho
do fundo do rio; com ele resgatou o seu amado filho e, com o seu amor, devolveu-
lhe a vida. Voltaram para casa, mas Kylliki tinha-se ido embora para sempre. Então
Ahti partiu de novo para Pohjola, esta vez irado por não ter sido convidado às
faustosas celebrações da casamento da filha de Louhi com Ilmarinen. Chegado ao
norte, Ahti Lemmikäinen vai provocar o Filho do Norte, o anfitrião, desafiando-o
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para um duelo à morte, no qual vence Ahti, mas a satisfação pela sua vitória é
breve, porque tem que fugir, dado que todos os homens de Pohjola, ao saber que o
seu chefe morreu pelas mãos de Ahti, se lançam na sua perseguição. Durante três
anos refugiou-se na Ilha das Mulheres, sendo amado por todas e amando quase
todas, mas chegou a hora de voltar para junto da sua mãe e não houve mais
remédio que abandonar tão doce refúgio. Quando conseguiu chegar às suas terras,
viu só destruição e cinzas mas o que via não era tudo; também pôde ver, pouco
tempo depois, a sua doce mãe, escondida entre as ruínas, sempre à espera do seu
regresso, convencida de que ele voltaria junto da ela outra vez, sabendo que ainda
restava muito que fazer ao filho, o alegre herói Ahti Lemminkäinen.
Após acordar que já não haveria mais lutas pela virgem de Pohjola e fartos
de serem inúteis rivais por esse difícil amor, Vainamoinen e Ilmarinen decidem
seguir por separado o seu caminho para Pohjola, este por terra, aquele por mar, à
procura daquela virgem tão bela e tão desejável como esquiva, sempre prometida
como recompensa ao velho e ao ferreiro e nunca recebida. Mas agora vão fazendo
com que ela diga, de uma vez por todas, por qual dos dois se decide a
escorregadiça donzela. A escolha é rápida desta vez, pois a virgem prefere
Ilmarinen, por que não é um velho como Vainamoinen, embora antes o tivesse
rejeitado de um modo tão definitivo. Mas Louhies uma velha retorcida e soberba,
que agora quer tornar tudo mais difícil ao bom ferreiro, propondo-lhe novas provas
a cada momento. Ilmarinen vê-se obrigado a decifrar os complexos (e absurdos)
problemas propostos mas a velha não conta com a cumplicidade antagonista da sua
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própria filha, da virgem sem nome que tantas páginas da história do Kalevala
encheu . Com ela o seu lado, a vitória é segura e o casamento vai celebrar-se com
todas as honras. Só ficam de fora Vainamoinen, pela sua tristeza, e Lemminkäinen,
que não foi convidado, o que vai ser motivo da sua ira e do início daquele duelo à
morte com o Filho do Norte que já relatamos antes. Mas com o casamento não vai
chegar a felicidade por muito tempo ao apaixonado Ilmarinen: a sua esposa, a sua
bela e ansiada esposa, é uma mulher malvada e a cruel brincadeira que faz ao bom
escravo Kullervo, ao dar-lhe uma pedra como única comida, faz que este ponha em
marcha a sua vingança (mágica, com certeza) com a cumplicidade do lobo e do
urso, matando quem o humilhara. É a desolação para Ilmarinen, ao ver morta a
sua amada Kullervo, já antes atraiçoado pelo seu irmão Untamo, que a tinha
vendido como escrava, e agora castigado pelo destino, ao saber que a virgem com
quem se deitou é a sua própria irmã. Kullervo, ainda mais enfurecido, mata o seu
irmão Untamo, mas esta morte também não lhe serve de consolo, e só descansará
quando se tire a vida com a sua própria espada.
O DESESPERO DE ILMARINEN
O ferreiro pensou que poderia encontrar consolo numa nova esposa que ele
próprio forjasse à imagem da desaparecida e pôs-se a trabalhar incansavelmente
na sua forja, até que conseguiu a mais bela mulher nunca construída em ouro e
prata; mas fria era a sua companhia, muda a sua presença, inútil a sua existência.
Ilmarinen quis oferecer a mulher de ouro e prata a Vainamoinen, mas ele não a
quis e recomendou a Ilmarinen que a voltasse a fundir, pois ninguém se devia
deixar deslumbrar pelo ouro ou pela prata. Ilmarinen compreendeu que devia
procurar uma nova esposa de carne e osso e pensou em Pohjola, noutra filha de
Louhi que lhe recordasse a sua perdida mulher. Mas nada conseguiu de Louhi e
teve que raptar a sua segunda filha. Também o rapto não serviu de muito, pois na
primeira noite já se deitou ela com um desconhecido. Ilmarinen, ao despertar, viu a
cena e quase que a matou, mas a sua espada negou-se a terminar com a vida
daquela vaidosa e o desgraçado Ilmarinen contentou-se com ordenar que a infiel
raptada fosse converter-se em solitária gaivota, condenada a viver sobre um
penhasco, entre as frias águas do mar. Mais sozinho do que nunca, o ferreiro
seguiu o seu interrompido caminho para o lar. Ao caminho saiu-lhe o velho
Vainamoinen e juntos propuseram-se resgatar de Pohjola aquele sampo construído
para conseguir a pretendida felicidade e que tão tristes frutos tinha deparado a
ambos. Construíram um navio poderoso, forjaram uma espada vencedora e
partiram à procura do sampo mágico, colhendo pelo caminho o retirado herói
Lemminkäinen, que se somou à expedição, feliz de poder voltar a lutar contra a
gente de Pohjola, da qual tão penosas recordações guardava a sua memória.
A CRIAÇÃO DO KANTELE
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sua potência mágica. A horrível mãe de Pohjola chamou os seus homens para que
acudiram em seu auxílio, para que matassem Vainamoinen; de novo foi inútil o seu
magno esforço contra o imperturbável e sábio Vainamoinen; o velho runoia não
gostava de ter que matar uma e outra vez, por isso bastou-lhe sentar-se perante o
seu kantele e tocar nele; em breve os guerreiros estavam enfeitiçados pela sua
música e a sua magia. Livres os heróis para se moverem por Pohjola, foram à
procura do sampo. Vainamoinen, Ilmarinen e Lemminkäinen arrancaram-no do seu
esconderijo com a ajuda de um touro gigante; o moinho já era seu; tinha chegado
a hora de embarcar e voltar triunfantes para Kaleva com a riqueza que o sampo
representava, com a magia do moinho no seu poder.
O KANTELE DE ABEDUL
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amigo Ilmarinen que lhe forjasse uma dúzia de cunhas, umas chaves de todos os
tipos e um tridente. Mas Louhi foi ao sul, convertida em pássaro necrófago, para
espiar Ilmarinen na sua oficina. Perguntou-lhe a velha, transformada em passarão,
o que era aquilo que o famoso ferreiro estava forjando tão afanosamente na sua
bigorna e o inocente ferreiro respondeu-lhe, sem suspeitar quem era o seu
interlocutor, que se tratava de uma argola de ferro para aferrolhar a sinistra velha
de Pohjola. Louhi assustou-se com a descrição e a finalidade do seu trabalho, pois
já se via apresada pelos airados inimigos. De maneira que Louhi voou rapidamente
para o norte, para libertar a Lua e o Sol do seu encerro e devolvê-los ao sul, ao céu
de Kalevala, para, com o regresso da luz, roubar o fogo do ferreiro sem que
tivessem tempo nem ocasião de reagir. Quando quiseram reparar, o país de
Kalevala tinha de novo a sua luz no céu, mas faltava o fogo de Ilmarinen; pararam
todas as atividades, nada se podia fabricar na forja apagada, nada se podia
cozinhar nas suas lareiras sem lume. Reuniram-se os preocupados heróis,
Vainamoinen, Ilmarinen, Lemminkäinen e o seu bom amigo Tiero, aquele de quem
suspeitaram quando a sua esposa Kyllikki desapareceu, para tentar solucionar
definitivamente o constante problema que colocava a velha e malvada Louhi, a Mãe
do Norte. Todos eles bem sabiam que só Louhi podia ser a culpada daquele crime;
todos eles bem sabiam que só apresando-a e enviando-a para Manbala, o inferno
do negro rio Tuoni, podiam assegurar-se a paz de uma vez por todas.
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lo, julgando que era Pol, que vinha trazer os morangos para o banquete. Mas o
velho espetou à Louhi que se colasse à porta que Yanki-murt tinha fechado ao
entrar, enquanto Vu-vozo tinha adormecido os sequazes da velha com o seu olhar.
Lemminkäinen apontou com o seu arco à velha e disse-lhe que vinham procurar a
sua roupa e recuperar o seu fogo. Mas Louhi não estava disposta a deixar-se
vencer e negou-se a dizer-lhes o esconderijo do fogo, e Kul apressou
Lemminkäinen para que acabasse o que já estava começado, pois eles os sete
encontrariam o fogo roubado sem nenhuma outra ajuda. Então Lemminkäinen
soltou a mão que tensava o arco e a flecha voou para atravessar de morte o corpo
da velha e cravá-lo na folha da porta, como se cravam as borboletas no tronco de
um abedul, enquanto a sua negra alma ia parar ao fundo do rio Tuoni, para ficar lá
para sempre, submersa no reino da morte.
O FIM DE MARJATTA
Após este relato da luta entre o sul e o frio norte, o Kalevala estendia-se
com um canto, o qüinquagésimo poema, no qual se fala da virgem Marjatta, que dá
a luz um menino sem intervenção de homem (a imaculada concepção) e diz que
esse menino será nomeado rei de Karelia, enquanto o velho e sábio Vainamoinen,
cedendo o seu posto a esse menino prodigioso, abandona Kalevala e lega ao povo
finlandês o seu canto e a sua música.