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Esta publicação contém os trabalhos apresentados no 8º Ciclo de

Estudos em Ciência da Informação (CECI), organizado pelo Sistema de


Bibliotecas e Informação da UFRJ, realizado no período de 9 a 11 de
agosto de 2006, com o tema Unidades de informação: idéias e ideais.

Estes trabalhos foram previamente analisados e selecionados pela


Comissão Técnico-Científica do evento, distribuídos entre os subtemas:
Acervos: do físico ao virtual; Memória e preservação; (Re)pensando a
gestão; Informação e sociedade, seguindo a dinâmica do evento.

O conteúdo dos trabalhos é de inteira responsabilidade dos seus


autores.
Reitor
Aloísio Teixeira

Vice-Reitora
Sylvia da Silveira de Mello Vargas

Coordenador do Fórum de Ciência e Cultura


Carlos Antônio Kalil Tannus

Coordenadora do Sistema de Bibliotecas e Informação


Presidente do 8º Ciclo de Estudos em Ciência da Informação (CECI)
Paula Maria Abrantes Cotta de Mello

Presidente de Honra do 8º CECI


Mariza Russo

Comissão Técnico-científica:
Maria José Veloso da Costa Santos
Eliana Taborda Garcia Santos
Maria de Fátima Moreira Martins
Maria das Graças Freitas Souza Filho
Mariza Russo
Jane Maria Medeiros

Comissão de Divulgação:
Elisa da Silva Amaral
Chantal Russi
Maria Angélica Brandão Varela
Maria Luiza Andrade Di Giorgi

Comissão de Infra-estrutura
Rosane da Silva Wendling Apparício
Elaine Baptista de Matos Paula
Eneida de Oliveira
Cláudia Malena Paiva Vieira Gaspar

Comissão de Finanças:
Myriam Lafayete de Sá Linden
Realização:
Sistema de Bibliotecas e Informação (SiBI)

Patrocínio:
Banco do Brasil

Apoio:
Gabinete do Reitor
Cerimonial do Gabinete do Reitor
Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
Superintendência Geral de Administração e Finanças
Prefeitura da UFRJ
Fórum de Ciência e Cultura
Decania do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza
Biblioteca do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza
Centro Cultural Horácio Macedo
Fundação Universitária José Bonifácio
Escritório Técnico da Universidade
Núcleo de Pesquisa e Documentação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira
Dot.Lib: informação profissional
Thomson Gale
Elsevier
Ex-Libris
3M

Realização da Exposição “A Universidade visível: da idéia a materialização”


Aline B. M. Paula
Antonio José Barbosa de Oliveira
Felipe Ney

Maquete do Projeto Parque Orla Fundão : Escritório Técnico da UFRJ

Design e Produção Gráfica


Alexandre Mello
Aline Pinna
designer.aline@gmail.com
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Design e Produção Gráfica:
Alexandre Mello e Aline Pinna

Edição do CD-ROM:
Alexandre
Chantal Russi
Elaine B.M.Paula
Eneida de Oliveira

Reprodução e impressão:
Clone Carioca

Ciclo de Estudos em Ciência da Informação (8. : 2006 : Rio de Janeiro, RJ)

C568a Anais do VIII Ciclo de Estudos em Ciência da Informação, Rio de


Janeiro, RJ, 9 a 11 de agosto de 2006, Centro Cultural Horácio Macedo,
Universidade Federal do Rio de Janeiro. – Rio de Janeiro : Universidade
Federal de Rio de Janeiro, Fórum de Ciência e Cultura, Sistema de Bibliotecas
e Informação, 2006.

1 CD

ISBN: 85-7108-305-3

1.Ciência da Informação – Congressos. I. Universidade Federal do Rio de


Janeiro. Fórum de Ciência e Cultura. Sistema de Bibliotecas e Informação. II.
Título.

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MAXWELL: De Centro Digital de Referência a Repositório Institucional

Ana M. B.Pavani1

Resumo

O Maxwell é um sistema da PUC-Rio que foi criado com o objetivo inicial de ser um ambiente
de educação assistida por TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação, cujo ‘núcleo’ da
gestão da informação educacional é uma biblioteca digital. As demais funções foram
previstas para fazer o ‘material educacional chegar ao aluno e o aluno chegar ao material
educacional’, apoiando-se na tutoria, para quem foram implementadas as ferramentas de
tutoria e comunicação entre os atores do processo.
Como tem mais de 10 anos, foi evoluindo com o uso e incorporando novas facetas e
funcionalidades, até chegar ao que hoje é – um sistema de apoio à educação baseado em um
repositório institucional. Este trabalho apresenta as premissas básicas do sistema, sua
evolução e como ele se tornou um repositório institucional, atuando junto a todos os
segmentos da universidade.

Palavras-chave: bibliotecas digitais; repositórios institucionais; arquivos abertos; bases


internacionais

1 Introdução – História Inicial, Contexto e Evolução

1.1 Os primeiros passos

O Maxwell é um sistema da PUC-Rio, registrado no INPI – Instituto Nacional de Propriedade


Industrial sob número 99003015 de 19/Nov/1999. Seu desenvolvimento e utilização
começaram no segundo semestre de 1995, voltados para disciplinas de graduação do
Departamento de Engenharia Elétrica e utilizando conhecimentos de bibliotecas digitais, que
na época eram desenvolvidos no Projeto Vatican Library Accessible Worldwide – uma
parceria da Biblioteca Apostólica Vaticana, da PUC-Rio e da IBM (Brasil, Itália e Estados
Unidos), coordenado gerancial e tecnicamente pelo referido departamento.

Ele foi definido, inicialmente quando criado, como um Centro Digital de Referência – um
ambiente integrado de ensino assistido por TIC, baseado na Web, com ambiente de
biblioteca/arquivo digital, recriando-se a associação de uma instituição com a sua biblioteca,
sob forma virtual. A integração entre bibliotecas digitais e educação assistida por TIC foi
apresentada por Pavani (1999, 2000 e 2002).

No início os materiais eram todos voltados às disciplinas, fossem elas totalmente a distância,
dos cursos de pós-graduação lato-sensu, ou presenciais, para as quais o Maxwell servia de
apoio.

Desde a sua implantação e em todas as versões (está na 3a), a gestão dos materiais é
totalmente baseada na biblioteca digital. Isto se deveu a necessidades específicas de
materiais educacionais – agregação, desagregação, seqüência e compartilhamento, além do
reaproveitamento de um período para o outro e entre disciplinas e/ou cursos.

1
Professora Associada e Coordenadora do LAMBDA – Laboratório de Automação de Museus,
Bibliotecas Digitais e Arquivos - Departamento de Engenharia Elétrica - Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro - apavani@lambda.ele.puc-rio.br
Essas são características muito específicas dos materiais educacionais e grande parte dos
sistemas de educação baseada na Web, na época, não as contemplava por não serem
baseado em bibliotecas digitais.

1.2 A importância do uso das bibliotecas digitais

Ainda que digitais, as bibliotecas apoiadas em ferramentas de TIC herdavam as


características de suas antecessoras tradicionais, cuja organização contempla as 5 leis
enunciadas por Shiyali Ramamrita Ranganathan (Mey, 1995). Duas das leis relacionam os
livros e os leitores, que devem se encontrar. Uma diz que os livros são para serem usados e
outra que o tempo do leitor não deve ser desperdiçado. Finalmente, a última diz que uma
biblioteca é um organismo em evolução.

Estas leis podem ser utilizadas para os materiais educacionais, ainda acrescentando que o
tempo dos criadores dos materiais, ou seja, os professores e tutores, também não deve ser
desperdiçado. Esta é a razão pela qual o reaproveitamento de materiais educacionais é de
extrema importância na educação assistida por TIC. Este aspecto do Maxwell foi apresentado
por Pavani & Luckowiecki (1999) e por Cardoso & Pavani (2000).

As bibliotecas digitais ainda trazem muitas discussões, mesmo no que diz respeito às leis de
Raganatham, como no artigo de Cloonan & Dove (2005), no qual questionam a terceira lei no
novo contexto.

A biblioteca digital é a ferramenta perfeita para a gestão dos materiais educacionais, pois
incorpora a disciplina herdada das bibliotecas à flexibilidade que o seu lado digital
proporciona.

O lado digital trouxe novidades que permitem fazer a integração (on-line) de vários tipos de
materiais, facilitar a navegação com buscas mais fáceis, ligar vários repositórios e
reaproveitar módulos de conhecimento em múltiplos cursos e/ou disciplinas. Além disso,
permitiu tratar os nascidos digitais – os conteúdos multimídias, os módulos interativos e os
simuladores – como quaisquer outros materiais em suporte tradicional, já que todos eles,
quando em formato digital viram ‘bits & bytes’.

A utilização de uma biblioteca digital deu ao material educacional uma vida própria – ele é
catalogado segundo as práticas das bibliotecas digitais, pode ser buscado e recuperado, além
de poder ser usado em disciplinas. Ao mesmo tempo, permitiu incorporar materiais que,
inicialmente, visavam a complementação do material didático – artigos, pre-prints, manuais
técnicos, etc. e que são de uso corrente pelos professores e alunos.

1.3 A rápida evolução das bibliotecas digitais, os learning objects e as ETDs

Durante a década de 1990 e nos primeiros anos da de 2000, as bibliotecas digitais evoluíram
rapidamente. Apareceram, também, novidades na área dos materiais educacionais digitais –
nasceram os learning objects.

Em 1995, realizou-se a primeira reunião para discussão de um conjunto mínimo de


metadados para a descrição dos recursos digitais e, em 2003, o Dublin Core Metadata
Element Set se tornava um padrão ISO (DCMES – ISO 15836/2003). O DCMES é coordenado
pela Dublin Core Metadata Initiative (DCMI) que atua permanentemente na extensão e no
aperfeiçoamento do padrão.

Na segunda metade da década de 1990, grupos atuantes em educação assistida por TIC
estenderam os metadados para a caracterização dos objetos educacionais (learning objects)
e cunhou-se o termo LOM – Learning Object Metadata. Remontam a esta época as iniciativas
do Instructional Management System Project (IMS Project) e dos Learning Objects Metadata
(LOM) do IEEE Learning Technology Standards Committee (IEEE LTSC). Especificações
funcionais e técnicas para sistemas foram, também, introduzidas.
Ainda nos anos 1980 e, mais fortemente, na década seguinte, a Virginia Tech (VT) iniciou o
projeto de disponibilização de teses e dissertações, on-line, em texto completo. Cunhou-se,
então, o termo ETD – Electronic Theses and Dissertations. Em 1999, a UNESCO promoveu
reunião em Paris visando integrar esforços existentes na área de ETDs e incluir novos
parceiros e projetos na atividade. A Networked Digital Library of Theses and Dissertations
(NDLTD), criada e organizada pela Virginia Tech, assumiu a liderança internacional tendo
apresentado o padrão de metadados An Interoperability Metadata Standard for Theses and
Dissertations (ETD-ms).

1.4 O que aconteceu com o Maxwell?

A cada nova especificação, o Maxwell passava por um processo de adequação. Assim, foram
introduzidos os novos metadados, as novas funções e um banco de dados completamente
neutro em termos de línguas. O sistema passou a comportar tantas interfaces quantas eram
as línguas escolhidas para a operação. Atualmente, ele está utilizando o português, o
espanhol e o inglês.

Em 2000, o Maxwell disponibilizou o seu módulo de ETDs tendo publicado a primeira em


maio e chegado ao final do ano com 7. O primeiro programa a aderir foi o de Engenharia
Civil e o segundo o de Elétrica, ambos em 2000.

Em 2002, a Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) começou o seu projeto de ETDs


incubada no Maxwell, em que permanece até hoje.

Em 2001, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) iniciou o


projeto da Biblioteca Digital Brasileira sendo um de seus modos a Biblioteca Digital de Teses
e Dissertações (BDTD). A PUC-Rio, através do Maxwell, foi uma das três universidades que
convidadas participam desde o início do projeto. A BDTD e suas atividades serão
apresentadas mais adiante neste trabalho.

2 O Caminho para o Repositório Institucional

O trabalho junto aos departamentos acadêmicos havia começado com o material educacional
e de apoio. Ele tornou-se mais próximo e mais intenso com as ETDs, já que em agosto de
2002 a PUC-Rio as tornou obrigatórias; todos os programas passaram a usar o Maxwell,
além dos 5 ou 6 que haviam aderido em 2000 e 2001.

Com o uso do sistema, percebeu-se um potencial que transcendia os materiais educacionais


voltados para a atividade docente ou o resultado do processo educacional, as teses e
dissertações.

Os projetos de módulos seguintes foram demandas da comunidade acadêmica. Eles foram:

f Artigos e pre-prints avulsos – iniciado em 2000 e disponibiliza tanto da PUC-Rio como a


UNICAP
f Monografias e projetos finais de graduação – em 2002
f Periódicos on-line – em 2003
f Livros on-line – em 2005

Assim, houve uma generalização do uso do sistema para disponibilização de conteúdos em


formato digital. Ao mesmo tempo, foi necessária uma especialização para que módulos
específicos atendessem às peculiaridades de cada tipo de conteúdo – a maneira de catalogar
e controlar periódicos on-line é bastante distinta da dos exercícios interativos on-line, por
exemplo.
Com o tempo, foi estabelecido um objetivo adicional – a inserção nos contextos nacional e
internacional, podendo integrar-se a redes que seguem padrões e práticas das áreas de
bibliotecas digitais e de educação assistida por TIC – Tecnologia de Informação e
Comunicação.

O termo Institutional Repository foi cunhado por Clifford Lynch (2003) e é definido como:

“A university-based institutional repository is a set of services that a university offers to the


members of its community for the management and dissemination of digital materials
created by the institution and its community members. It is most essentially an
organizational commitment to the stewardship of these digital materials, including long-term
preservation where appropriate, as well as organization and access or distribution.”

Ele veio como conseqüência do lançamento, por parte do Massachussets Institute of


Technology (MIT), do D-Space (D-S) em 2002.

A partir de 2003, o Maxwell deixou de ser um Centro Digital de Referência para ser um
Repositório Institucional – sem nada haver feito, visto que já tinha esta utilização. Sem
dúvida, mudou de nome devido ao cenário internacional.

3 Enquanto Isso...

Assim como o cenário internacional evoluía, o mesmo acontecia no Brasil, principalmente na


área de ETDs.

A BDTD trabalhou com as três universidades, a Biblioteca Virtual de Saúde (BIREME) e


agências do Governo Federal. De 2001 até hoje, muitos resultados positivos foram
alcançados:

f MTD-Br – em 2002 foi definido o Padrão Brasileiro de Metadados de Teses e Dissertações


f OAI-PMH – em 2002 foi implantado o Open Archives Initiative Protocol for Metadata
Harvesting (OAI-PMH) para coletar os metadados das bibliotecas digitais de ETDs,
cooperantes, em MTD-Br e para disponibilizá-lo às redes internacionais em ETD-ms
f BDTD – em 2003 foi implantado o catálogo coletivo, que hoje conta com 28 instituições e
mais de 21 mil registros de metadados em padrão MTD-Br coletados, automaticamente,
via OAI-PMH
f Sistema TEDE – em 2003 foi disponibilizado o TEDE, em software livre e aberto, para ser
utilizado por instituições que não possuem solução própria
f Revisão do MTD-Br – em 2005 para aperfeiçoar o padrão depois de três anos de operação

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi um dos


participantes iniciais da BDTD. Como criador e operador da Plataforma Lattes, estimulou a
conexão das bases de ETDs a ela.

Atualmente, a BDTD está ligada unidirecionalmente ao Lattes e preparando a ligação do


Lattes para a BDTD. O Maxwell está ligado, desde 2002, bi-direcionalmente ao Lattes, como
pode ser visto pelas telas das figuras 1 e 2.
Figura 1 – Conexão do Maxwell para o Lattes

Figura 2 – Conexão do Lattes para o Maxwell

A participação na BDTD e a abertura de seus metadados a quaisquer coletadores OAI-PMH,


com MTD-Br e DCMES, permite que os metadados das ETDs do Maxwell sejam
disponibilizados em várias bases nacionais e internacionais. Elas são:

f Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) – no Brasil e brasileira


f Biblioteca Universia (UNIVERSIA) – internacional mas na Espanha
f CyberTesis Net (CyberTesis) – internacional mas no Chile
f Elsevier-SCIRUS (SCIRUS) – internacional mas na Holanda
f Networked Digital Library of Theses and Dissertations (NDLTD) - internacional mas
baseada nos Estados Unidos
f OAISter da Universidade de Michigan (OAISter) – internacional mas nos Estados Unidos
f Universidad Nacional de La Plata Servicio de Difusión de la Creación Intelectual (UNLP
SeDiCI) – internacional mas na Argentina

Ao mesmo tempo, o Maxwell está indexado no Registry of Open Access Repositories (ROAR),
que coleta as informações sobre o sistema e seus objetos digitais, sem disponibilizar os
metadados.

A exposição aos cenários nacionais e internacionais fez com que o sistema se tornasse muito
acessado, assim como os seus conteúdos.

Para avaliar a produção dos conteúdos digitais e seus acessos, um conjunto de ferramentas
foi desenvolvido para quantificar estas características, como apresentado na próxima seção.

4 Medidas de Produção e de Acesso

As medidas de produção e de acesso foram desenvolvidas sob forma de estatísticas. A figura


3 mostra a tela de abertura do módulo de Estatísticas.

Figura 3 – Tela de abertura das estatísticas

As Estatísticas são divididas em dados de Produção dos conteúdos digitais e de Acesso aos
mesmos. A Produção apresenta um panorama geral dos conteúdos, na parte de Estatísticas
Gerais. Além disso, existem dados específicos de produção de Periódicos On-line, de
Publicações (artigos, pre-prints, relatórios técnicos, etc.), de ETDs e de Trabalhos de
Conclusão de Graduação.
As Estatísticas de Produção segmentam as instituições produtoras, suas unidades, tipos de
materiais e anos em que foram produzidos e/ou disponibilizados. Nos casos das ETDs, ainda
são avaliados os números de orientações pelo corpo docente.

As Estatísticas de Acesso, atualmente, contemplam somente ETDs, livros e periódicos on-


line. Um exame das mesmas mostra resultados surpreendentes para uma coleção que é
escrita em português, sendo somente os metadados bi ou tri-língües.

No mês de junho de 2006, 102 países acessaram ETDs no Maxwell. Os maiores resultados,
em geral, são do Brasil, dos Estados Unidos, de Portugal e dos países latino-americanos.

Todas as estatísticas estão disponíveis on-line e de forma pública. A atualização acontece a


cada hora, na hora cheia, a partir de dados do servidor do sistema. Maiores informações
podem ser obtidas na função de Help do sistema (Maxwell) e, uma análise de resultados
parciais, em Pavani (2004). Neles o procedimento de data-mining é descrito, bem como suas
suposições e limitações.

5 Outro Produto

Um outro produto é oferecido à comunidade usuária do Maxwell. É a Análise de Referências


das ETDs. Este foi um projeto patrocinado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e apoiado pela IBM com software de seu
Academic Initiative Program (IBM).

Ele analisa os conteúdos das referências bibliográficas das ETDs. No campo quantitativo, são
feitas análises por tipo (de referência), ano, língua, programa de pós-graduação e nível. No
qualitativo, examinam-se referências dos orientadores, de outros alunos do mesmo
orientador, de professores do programa e de outros professores da PUC-Rio; uma análise das
referências constantes na lista Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do
Ensino Superior (CAPES) também é feita.

Maiores informações sobre este projeto podem ser encontradas na página de Teses e
Dissertações do Maxwell, mostrada na figura 4, ou em Pavani (2006).
Figura 4 – Tela de abertura do módulo de ETDs do Maxwell

6 Conclusão

Estes são os projetos e produtos no Sistema Maxwell da PUC-Rio.

7 Referências

An Interoperability Metadata Standard for Theses and Dissertations


http://www.ndltd.org/standards/metadata/current.html

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações


http://bdtd.ibict.br/bdtd

Biblioteca Universia
http://biblioteca.universia.net/colecciones.do

Cardoso, Renata M & Pavani, Ana M B


Sharing Course Contents: a Case Study
Proceedings of the 2000 ICEE - International Conference on Engineering Education
República da China em Taiwan, 2000

Cloonan, Michèle V & Dove, John G


Raganathan Online: Do digital libraries violate the Third Law?
LIBRARYJOURNAL.com
Estados Unidos da América, 2005
http://www.libraryjournal.com/article/CA512179.html capturado em junho de 2006.

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


http://www.cnpq.org/
Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior
http://www.capes.gov.br/

CyberTesis Net
http://www.cybertesis.net/

Dublin Core Metadata Element Set


ISO 15836/2003
http://purl.org/dc/documents/rec-dces-19990702.htm

D-Space
http://dspace.org/

Dublin Core Metadata Initiative


http://purl.org/dc/
http://www.purl.oclc.org/metadata/dublin_core/

Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro


http://www.faperj.br/

IBM Academic Initiative Program


http://www.ibm.com/university/

Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia


http://www.ibict.br/

Institute of Electrical and Electronics Engineers Learning Technology Standards


Committee
http://ltsc.ieee.org/

Instructional Management System Project


http://www.imsproject.org/

Learning Object Metadata


http://ltsc.ieee.org/doc/wg12/LOM_WD4.htm/

Lynch, Clifford A
Insitutional Repositories: Essential Infrastructure for Scholarship iin the Digital Age
ARL Bimonthly Report 226
Estados Unidos da América, 2003
http://www.arl.org/newsltr/226/ir.html capturado em junho de 2006-07-05

Maxwell
http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/

Mey, Eliane S A
Introdução à catalogação
Briquet Lemos/Livros
Brasil, 1995
MIT – Massachussets Institute of Technology
http://www.mit.edu/

NDLTD – Networked Digital Library of Theses and Dissertations


http://www.ndltd.org/

OAI-PMH – Open Archives Initiative Protocol for Metadata Harvesting


http://www.openarchives.org/
Pavani, Ana M B
Digital Reference Center – the Maxwell Project
Proceedings of the 1999 ICEE – International Conference on Engineering Education
República Checa, 1999

Pavani, Ana M B
Some Considerations on the Cataloging of Learnig Objects in a Digital Library
Proceedings of the 2000 ICECE – International Conference on Computer and Engineering
Education
Brasil, 2000

Pavani, Ana M B
Some Considerations on the Cataloging of Learnig Objects in a Digital Library
In: Digital libraries and virtual workplaces: Important Initiatives for Latin America in the
Information Age organizado por Johann van Reenen
Editado pela Organização dos Estados Americanos
Estados Unidos da América, 2002

Pavani, Ana M B
International Accesses to a Digital Library of ETDs
Proceeedings of the ETD 2005 – 8th International Conference on Electronic Theses and
Dissertations
http://adt.caul.edu.au/etd2005/papers/064Pavani.pdf
Austrália, 2005

Pavani, Ana M B
Getting to Know the Contentsof Bibliographic References of ETDs
Proceeedings of the ETD 2006 – 9th International Conference on Electronic Theses and
Dissertations (ainda não publicados)
Canadá, 2006

Pavani, Ana M B & Lukowiecki, Adelaide L S


Digital Libraries and Sharing of Course Contents – the Maxwell Project
Proceedings of the 1999 ICECE – International Conference on Computer and Engineering
Education
Brasil, 1999

OAIster
http://www.oaister.org/o/oaister

Registry of Open Access Repositories


http://archives.eprints.org/

SCIRUS
http://www.scirus.com/

United Nations Education, Science and Culture Organization


http://www.unesco.org/

Universidade Católica de Pernambuco


http://www.unicap.br/

Universidad Nacional de La Plata Servicio de Difusión de la Creación Intelectual


http://www.sedici.unlp.edu.ar/

Virginia Tech – Virginia Institute of Technology and State Univeristy


http://www.vt.edu/
A CONTRIBUIÇÃO DA BIBLIOTECA DIGITAL NO PROCESSO DE DIVULGAÇÃO
E DIFUSÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DO DEPARTAMENTO DE
INFORMÁTICA DA PUC-RIO.

Rosane Teles Lins Castilho*


RESUMO

Descreve os procedimentos que vêm sendo adotados pela Biblioteca Setorial de Informática -
BS/INF para disponibilizar os relatórios de pesquisa e as teses e dissertações apresentadas ao
programa de pós-graduação do Departamento de Informática – DI da PUC-Rio em sua home-
page, com o objetivo de divulgar, mais amplamente, o conhecimento gerado pelo Programa,
em seus mais de 35 anos do funcionamento. Pioneiro na pós-graduação em Informática, na
América Latina, e classificado com o “melhor programa” em Ciência da Computação, no país,
pela avaliação trienal da CAPES de 2004, esta é também uma maneira de dar maior destaque
ao seu relevante valor histórico, apresentando um panorama significativo da evolução da
pesquisa científica e tecnológica na área, através da análise dos temas e da profundidade do
seu tratamento, desde as origens do Programa. A proposta para a constituição de uma política
nacional de memória da ciência e tecnologia veio reforçar esta ação, no sentido de que cada
instituição envolvida na produção do conhecimento científico e tecnológico, entre elas
universidade e centro de pesquisa, precisa preservar seus acervos, desenvolver seus próprios
arquivos ou centros de memória e difundir o conhecimento gerado. A memória técnico-
científica do DI sempre foi considerada atividade importante pela Congregação e pela
biblioteca setorial, a quem foi confiada a responsabilidade pela publicação da série de
relatórios de pesquisa, pelo repertório das teses e dissertações aprovadas pelo programa de
pós-graduação do DI e, ainda, pelo inventário da produção acadêmica, visando ao preparo de
relatórios de atividades, levantamentos e estudos da produção científica. São apresentados os
procedimentos adotados em um processo que culmina com a disponibilização dos textos
completos dos trabalhos, em meio digital, em páginas vinculadas à home-page do DI. Ao final,
contribuindo com os esforços da Biblioteca Setorial de Informática nesta empreitada, são
destacados o apoio da Biblioteca Central da PUC-Rio, na qualidade de memória da produção
da científica da universidade, impressa e digital, e do Projeto Maxwell, Centro Digital de
Referência da PUC-Rio. Os resultados dessas ações, visando a divulgação e difusão do
conhecimento gerado no Departamento, já podem ser observados, através da recuperação de
informações e de documentos, em resposta a buscas realizadas na World Wide Web e do
crescimento em número de consultas às teses e dissertações do DI, revelado por estatísticas
do Projeto Maxwell.

Palavras-chave: produção científica; coleções digitais; difusão do conhecimento

_____________________________________________________
* Bibliotecária (UNIRIO), Mestre em Ciência da Informação (IBICT/UFRJ), Assessora de Biblioteca,
Documentação e Informação do Departamento de Informática – PUC-Rio e Bibliotecária Supervisora
da Biblioteca Setorial de Informática no Sistema de Bibliotecas da PUC-Rio. E-mail: rosane@inf.puc-
rio.br
1 INTRODUÇÃO

Objetivando divulgar, mais amplamente, o conhecimento gerado na pós-


graduação do Departamento de Informática – DI da Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro - PUC-Rio, a Biblioteca Setorial de Informática - BS/INF vem
disponibilizando na home-page do departamento os relatórios de pesquisa e as
teses e dissertações apresentadas ao Programa, em seus mais de 35 anos do
funcionamento. Pioneiro na pós-graduação em Informática, na América Latina, e
classificado como o “melhor programa” em Ciência da Computação, no país, pela
avaliação trienal da CAPES de 2004, esta é também uma forma de dar maior
destaque ao seu relevante valor histórico, apresentando um panorama significativo
da evolução da pesquisa científica e tecnológica na área, através da análise dos
temas e da profundidade do seu tratamento, desde as origens do Programa.

Na área da Ciência da Computação, é uma tradição divulgar a


produção técnico-científica das comunidades através de séries de relatórios
técnicos, ou de pesquisa, memorandos, etc, como são também denominados. Esses
relatórios podem conter desde material semi-publicado sobre pesquisas em
processo, relatórios de pesquisas em estágios intermediários ou parciais, preprints,
até mesmo, dissertações de mestrado e teses de doutorado na íntegra. Conhecida
como literatura cinzenta, seus métodos de divulgação vêm evoluindo, se adaptando
às novas tecnologias e mídias, e sendo incorporados ao cotidiano das comunidades.

Neste trabalho, apresentamos os diversos estágios pelos quais passou


o processo de divulgação do conhecimento gerado pelo Departamento de
Informática da PUC-Rio, realizado pela Biblioteca Setorial de Informática da PUC-
Rio, apontando elementos que sugerem o crescimento sensível das consultas aos
trabalhos produzidos pela comunidade, após a publicação das referências e
resumos dos trabalhos, juntamente com a oferta de acesso aos textos completos, na
página criada especificamente para esse fim – Publicações -, vinculada à home-
page do DI. De fato, essas páginas, ao contarem com hiperlinks nas referências
para os textos completos dos trabalhos arquivados no repositório de documentos
eletrônicos de acesso público - ftp-site - do Departamento, nos servidores da
Biblioteca Central da PUC-Rio - na qualidade de memória da produção da científica
da universidade, impressa e digital – e nos servidores do Projeto Maxwell – que
disponibiliza também as teses e dissertações da PUC-Rio, on-line, integrado ao
esforço da BDTD (Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – IBICT) da NDLTD
(Networked Digital Library of Theses and Dissertations – Virginia Tech) e da
UNESCO (ETD Programs) -, têm contribuído para a inclusão da produção
acadêmica do DI na “arena científica”, dando-lhe maior visibilidade e acesso,
conforme é revelado adiante, em especial, através de relatórios estatísticos do
Maxwell.

2 A IMPORTÂNCIA DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO DI E NA PUC-RIO

Desde a sua criação, em 1968, o programa de pós-graduação em Informática


da PUC-Rio vem adotando uma política de incentivo ao desenvolvimento de
metodologias que possibilitem a sua inclusão e a divulgação do conhecimento
gerado pela comunidade nos meios científicos nacionais e estrangeiros, visando
garantir para si uma posição de destaque no “rank” da pesquisa científica da área.
Igualmente importante, essas ações vêm assegurando o reconhecimento da autoria
dos resultados das pesquisas realizadas no âmbito do Programa, no processo de
produção do conhecimento, que resultam em premiações e maiores possibilidades
de obtenção de financiamento para dar continuidade às pesquisas (Machado, 2005).
Com o início das atividades de biblioteca no departamento, concomitante às
atividades de documentação e informação, em 1971, esforços têm sido despendidos
no sentido de organizar e gerir a difusão dos resultados das pesquisas e, como
conseqüência, alcançar uma mais ampla socialização das informações

A recente proposta para a constituição de uma Política Nacional de Memória


da Ciência e Tecnologia (CNPq) veio reforçar essas ações, pois segundo ela, “toda
instituição envolvida na produção do conhecimento científico e tecnológico, entre
elas universidade e centro de pesquisa, cada vez mais se conscientiza da
importância em preservar seus acervos, desenvolver seus próprios arquivos ou
centros de memória e difundir o conhecimento gerado”.
Na PUC-Rio, as recentes comemorações do 40 anos de vários Programas de
Pós-Graduação mostraram a importância da memória dos Programas e das
atividades por eles desenvolvidas. Conscientes do significado dessa memória, a
Coordenação Central de Pós-Graduação decidiu, com o apoio do Departamento de
História, empenhar-se em um projeto de Memória da Pós-Graduação na PUC-Rio.
Para tal, diversos departamentos já foram contatados, tendo o Departamento de
Informática sido selecionado com um dos primeiros a ser estudados, em função da
sua tradição na estruturação e organização de sua informação.

3 UM POUCO DE HISTÓRIA

A produção, o controle, a preservação e a divulgação da memória técnico-


científica do DI sempre foram consideradas atividades importantes pela
Congregação e pela biblioteca setorial. Assim, quando da sua criação, em 1971, foi
conferida à Biblioteca Setorial de Informática – BS/INF a responsabilidade pelo
tratamento e manutenção da coleção de manuais técnicos do computador IBM e das
coleções científicas (livros, periódicos, etc.) pertencentes ao DI, dotando-a de
ferramentas e padrões internacionais para o tratamento da informação e de sistemas
locais para seu processamento técnico. Além disso, foi-lhe conferida também a
responsabilidade:
- pela publicação da série de relatórios de pesquisa, nas mídias impressa e
(posteriormente) digital, e a sua divulgação às outras comunidades da área,
nacionais e estrangeiras;
- pelo repertório das teses e dissertações aprovadas pelo programa de pós-
graduação do DI e, posteriormente, a sua gerência nos diretórios de servidores do
DI e, ainda;
- pelo inventário da produção acadêmica, visando principalmente à
elaboração de relatórios de atividades e estudos da produção, para própria
Universidade e para as agências de fomento à pesquisa científica, sobretudo,
CAPES e CNPq.

Essas decisões da Congregação refletem a sua percepção de que as


atividades de uma biblioteca acadêmica são indissociáveis àquelas relacionadas ao
controle e a divulgação da produção científica de uma unidade acadêmica. Esse
modelo, naturalmente, não é exclusivo, tendo sido inspirado nos modelos dos
departamentos de pós-graduação de instituições estrangeiras, como por exemplo,
Stanford University (EUA), University of Waterloo (CA), Imperial College (GB), INRIA
(FR), entre outros, pelas quais passaram diversos membros da Congregação, em
cumprimento aos requisitos para sua formação pós-graduada, e posterior retorno à
PUC-Rio, nos primórdios do Programa.

Incorporadas ao acervo da BS/INF, relatórios de pesquisa, dissertações de


mestrado e teses de doutorado passaram a ser tratados tecnicamente do mesmo
modo que as outras coleções da biblioteca. Em 1977, a nova política implantada
para as bibliotecas da instituição, ao defender a adoção de padrões comuns e a
busca por uma maior visibilidade do acervo da PUC-Rio, estabeleceu que as
coleções da BS/INF e das demais bibliotecas departamentais passassem a ser
tratadas tecnicamente, de modo centralizado, pela recém criada Divisão de
Bibliotecas e Documentação. À época, previu-se e lamentou-se a perda de
especificidade no tratamento da informação e agilidade no processamento local
dessas coleções. As coleções, desde então, são processados na DBD e retornam às
bibliotecas de origem para a realização dos serviços ligados à circulação do acervo
e ao serviço de referência, que dão suporte, ainda, aos processos de seleção e de
aquisição do acervo. A Biblioteca Central recebeu a missão de ser o repositório da
produção científica da universidade, passando a acervar, predominantemente, cópia
das teses e dissertações da instituição, permanecendo nas unidades de origem
cópias de arquivo e, naquelas que contam com bibliotecas, para circulação local.

4 A LITERATURA CINZENTA

A literatura cinzenta, denominada anteriormente publicação não convencional,


cuja principal característica é a não disponibilidade em esquemas comerciais de
venda (Gomes, 2000), “é constituída por relatórios técnicos e de pesquisa (material
predominante no conjunto de documentos que a integram), publicações não
governamentais, traduções avulsas, literatura originada em encontros científicos,
relatórios de projetos de pesquisa para instituições ou agências de fomento, teses e
dissertações, preprints. Na definição da Third Conference on Grey Literature,
organizada pela Grey Net (Grey Literature Network Services) é “aquela produzida
em todos os níveis de governo, nas áreas acadêmica, do comércio e da indústria,
nos formatos impresso e eletrônico, mas que não é controlada por editores
comerciais” (apud Gomes, 2000). São geralmente documentos de caráter provisório
ou preliminar e reproduzidos em número limitado de cópias, não recebem
numeração padronizada (ISSN e ISBN), assim como, não são objeto de depósito
legal. Outras de suas características, importantes para a comunicação e informação
científica e tecnológica, são: a veiculação de informação mais detalhada do que a
que aparece nos artigos de periódicos e nos livros, a sua atualização e rápida
disponibilização, não sendo determinada apenas por interesses comerciais.

No DI, do conjunto dessa literatura cinzenta, destacam-se os relatórios de


pesquisa, preprints, as teses e dissertações. Segue uma breve descrição das
características de cada um deles e, após, como são entendidos pela comunidade.

De acordo com a literatura (Campello, 2000), os relatórios técnicos (ou de


pesquisa) “são documentos que descrevem os resultados ou o andamento de
pesquisas para serem submetidos à instituição financiadora ou àquela para o qual o
trabalho foi feito”. Essa autora identifica três tipos de relatórios: aqueles produzidos
por empresas privadas - os mais difíceis de se obter -, por órgãos governamentais e
por instituições contratadas pelo governo, estas últimas responsáveis por uma
quantidade significativa de relatórios. São geralmente resultado de trabalho em
equipe e uma de suas características é a autoria coletiva, sendo mais conhecidos e
solicitados pela instituição onde foram gerados, as quais mantêm suas próprias
coleções”. As próprias instituições efetuam a sua divulgação, geralmente, através de
listas impressas que circulam entre as comunidades, embora, atualmente, no
ambiente Internet, essa listas possam ser encontradas em seus sítios. Também
segundo essa autora, “os relatórios costumam ser produzidos em séries,
caracterizadas por códigos alfanuméricos, criados pela entidade produtora, são
produzidos em número reduzido de cópias e seu conteúdo informacional fica
desatualizado rapidamente. Sua forma física é a de uma reprodução xerográfica e
capa mole e a linguagem utilizada não exige grandes restrições de estilo,
característica estas que o tornam muito mais ágeis como veículo de comunicação
científica. Há discussões sobre a confiabilidade e qualidade desse tipo de literatura,
por ser gerada de maneira restrita, para uma clientela específica e na qual as
informações que veiculam não passam pelo chamado sistema de referee. Por outro
lado, há aqueles que defendem este veículo com alternativa às barreiras à abertura
e à transparência no processo de comunicação científica impostas pelos periódicos”.

Preprint (Mueller, 2002) “é o nome dado à versão original de um artigo ainda


não publicado oficialmente. Surgiu da dificuldade surgida em decorrência do longo
tempo que um artigo leva para se tornar disponível e, portanto, ser lido e citado.
Assim, consiste em fazer circular entre os membros de uma comunidade científica
trabalhos submetidos para publicação em periódicos tradicionais, mas que ainda
esperam avaliação. Esses trabalhos divulgados entre as comunidades, atualmente,
são depositados em arquivos eletrônicos de livre acesso, podendo ser consultados a
qualquer momento até que sejam aceitos ou rejeitados pelas revistas, quando então
são retirados da base. Os documentos depositados podem não ser publicados como
artigo ou, se aceito para publicação por um periódico científico, ser obrigado a
passar por muitas modificações exigidas pelos avaliadores. Os documentos
depositados em bases de preprints não são normalmente sujeitos à avaliação, mas,
apesar dessa limitação, vêm obtendo muito sucesso e vêm trazendo modificações
profundas na comunicação científica”. No Brasil, o IBICT vem liderando movimento
de apoio à criação de espaços virtuais com esse fim, disponíveis na Internet, para o
registro e discussão de textos completos produzidos por pesquisadores das diversas
áreas da ciência e tecnologia.

Quanto às dissertações e teses, a literatura (Campello, 2000) os define como


“documentos originados das atividades dos cursos de pós-graduação “strictu
senso”. Esses cursos visam principalmente a capacitar professores para o ensino
superior, além de formar pesquisadores e profissionais de alta qualificação em
vários níveis. No nível de mestrado, o aluno, para obter o título de mestre, deve,
além de completar o curso formal, elaborar uma dissertação consistindo em um
trabalho de pesquisa que demonstre sua capacidade de sistematização e domínio
do tema e da metodologia científica. Já no nível de doutorado, o aluno deve
produzir uma tese que envolva uma revisão bibliográfica, adequada sistematização
das informações existentes, planejamento e realização de trabalho necessariamente
original”. A maioria das teses e dissertações mantém-se na sua forma original,
impressão xerografada, número pequeno de exemplares e normalização, até bem
recentemente, deficiente – hoje a maioria das universidade já conta com manuais de
normalização bibliográficas possibilitando uma melhor qualidade na apresentação
das teses. Teses e dissertações podem vir a ser publicadas como livros.

5 VISÃO, PRODUÇÃO E TRATAMENTO LITERATURA CINZENTA NO DI

A série de relatórios de pesquisa do DI, intitulada “Monographs in Computer


Science and Computer Applications”, foi lançada em 1969, um ano após a criação
do programa de pós-graduação do departamento. A partir de 1975, passou a ser
intitulada Monografias em Ciência da Computação e foi inscrita no ISSN (IBICT),
sob o número 0103-9741, em 1992. É uma tradição “importada” dos departamentos
de Computação estrangeiros, por onde boa parte da congregação esteve
completando a sua formação, no início das atividades do departamento, que visa à
rápida comunicação e divulgação do andamento dos resultados de pesquisas entre
os pares. Aqui, também, esses objetivos seguem a tradição, porém, nem sempre
são observadas todas as características descritas no capítulo anterior.

No DI, de um modo geral, todos os relatórios de pesquisa contêm


informações sobre pesquisas em progresso ou os resultados “finais” de pesquisas
realizadas no departamento. São trabalhos produzidos geralmente pelas equipes,
candidatos a publicação em anais de conferências e em periódicos (preprints) e,
mesmo, a se tornarem livros. Assim, integram a série:
- resultados parciais de dissertações ou teses em andamento, condensações
de teses concluídas;
- relatórios de projetos de pesquisa para agências de fomento, transformados
em literatura;
- compilação de resumos de trabalhos apresentados em eventos científicos
organizados pelo departamento;
- catálogos dos fascículos da série Monografias em Ciência da Computação,
catálogos dos trabalhos publicados na literatura branca e catálogos das teses e
dissertações apresentadas ao Programa;
- coletâneas em homenagem a pesquisadores do DI;
- trabalhos isolados cuja contribuição aos avanços da área seja reconhecida.
A série conta com um editor científico, um pesquisador sênior que cumpre o
papel de avaliador dos trabalhos, e com um editor técnico. Conta, ainda com
numeração padronizada (ISSN) e as cópias dos fascículos impressos são
encaminhadas à Biblioteca Nacional, em cumprimento Lei de Depósito Legal, e à
Biblioteca Central da PUC-Rio, na qualidade de repositório institucional da produção
científica, para processamento e incorporação ao acervo do sistema de bibliotecas

Desde 1971, a BS/INF está envolvida com a padronização, a produção, o


controle, a preservação, a divulgação e a distribuição dos fascículos da série,
processos esses que, ao longo dos anos, acompanharam a evolução nos campos
da normalização, da mídia e das tecnologias de informação e comunicação.
Partindo-se, nos primeiros anos de sua publicação, de um processo rudimentar em
todas as suas etapas – de texto manuscrito pelo autor e datilografado por
secretárias, passando pela produção dos fascículos na gráfica da Universidade, à
divulgação através de listas impressas contendo as referências e os resumos da
produção enviadas a uma extensa e seletiva mailing-list de instituições e de
bibliotecas, nas quais eram assinalados os fascículos de interesse, e o envio do
texto completo do trabalhos através do correio tradicional -, conta-se atualmente
com novas técnicas e tecnologias que facilitam e agilizam mais ainda a comunicação
dos desenvolvimentos das pesquisas entre os pares, cumprindo, dessa forma, uma
das suas principais funções, na qualidade de literatura cinzenta.

Em 1969, a primeira dissertação de mestrado foi defendida no recém criado


Departamento de Informática – DI e, em 1975, demonstrando o amadurecimento e
a consolidação do Programa de pós-graduação, foi defendida a primeira tese de
doutorado. A preocupação local da equipe da BS/INF com a padronização da
apresentação desse tipo de produção chegou ao conhecimento da Vice-Reitoria
Acadêmica – VRAc, surgindo dali um convite para a elaboração das primeiras
Normas para a Apresentação de Teses e Dissertações da PUC-Rio (1976), trabalho
esse que foi realizado em conjunto com a Biblioteca Central. O repertório dessa
literatura, cujos processos de controle, preservação, e divulgação acompanharam a
evolução da mídia e das tecnologias de informação e comunicação, passou também
a ser de sua incumbência.
Outras atividades com as quais a BS/INF encontra-se envolvida, consiste no
inventário, em levantamentos e estudos da produção acadêmica, visando à
elaboração de relatórios para própria Universidade e para agências de fomento à
pesquisa científica, que são tema de trabalho a ser apresentado em outro evento.

6 EM TEMPOS DE INTERNET

No mundo do texto eletrônico, a edição e a distribuição de um documento


estão interligados, ou seja, o produtor de um texto pode ser ao mesmo tempo editor,
no duplo sentido daquele que dá forma definitiva ao texto e daquele que o difunde
diante de um público de leitores: graças à rede eletrônica, esta difusão é imediata.
Estas facilidades vem se traduzindo no aumento da produção de literatura cinzenta.
O advento da Internet tem um significado especial para aqueles que lidam
com a produção, a organização e a transferência da informação (Gomes, 2000).
Através da World Wide Web, a Internet vem propiciando maior acesso à
literatura cinzenta. Assim, em 1993, a equipe da BS/INF deu início à montagem dos
repositórios de documentos eletrônicos de acesso público – ftp-site -, contendo as
versões eletrônicas dos relatórios de pesquisa e das teses e dissertações do DI,
visando à sua divulgação, difusão e acesso amplo e ainda mais rápido à
comunidade científica da área. Esta prática é também bastante difundida entre
outras instituições de pesquisa, como pode-se observar consultando-se, por
exemplo, os sítios das instituições que inspiraram as ações do DI, no passado,
listados no final deste trabalho. Além do mais, esses sítios são visitados pelos robôs
de busca, o que contribui decisivamente para a inclusão, visibilidade e acesso à
produção científica dessas instituições científicas.

O Departamento de Ciência da Computação, da Stanford University,


apresenta graficamente e disponibiliza seus relatórios de pesquisa do seguinte
modo:
Entre eles, encontram-se dissertações de mestrado (CSTR 2003-03), artigos
submetidos para publicação em outras mídias (CSTR 2003-05, relatórios para
agência de fomento, incluindo neles o no. e a agência que concedeu o Grant.
Interessante observar é que incluem até vídeos (CSTR 2002-02), entre outros
materiais, porém não há preocupação com relação ao formato de apresentação do
texto dos relatórios: há trabalhos em 2 colunas (CSTR 2000-01) e em página cheia,
etc.

Consultando o sítio da Escola de Ciência da Computação, da


University of Waterloo, observa-se uma estrutura de apresentação gráfica e
divulgação semelhante à de Stanford, embora melhor trabalhada, destacando-se
também do conjunto de documentos, não apenas um, mas diversos componentes da
literatura cinzenta, embora, sob Technical Reports, estejam abrigadas diversas
formas de comunicação cientifica, conforme a figura adiante.
Nesta página do sítio de Waterloo, entre os relatórios de pesquisa, pode-se
constatar a existência de um preprint (TR-CS-2006-01), ao se fazer a cópias
(download) do arquivo PDF.
6.1 Relatórios de Pesquisa do DI na Internet

Os relatórios de pesquisa do DI, série Monografias em Ciência da


Computação, seguem o padrão abaixo apresentado: um template, em DOC ou
LaTex, que pode ser copiado do ftp-site pelo interessado, ou solicitado à BS/INF por
quaisquer vias.

Ao desejar (ou receber a recomendação de) “publicar” na série, o autor


submete o trabalho ao editor científico no padrão recomendado e, mediante
mensagem autorizando a sua publicação, na BS/INF procede-se ao fornecimento do
número do trabalho na série e dá-se prosseguimento às demais etapas do processo
de publicação. Note-se que aos autores que submetem seus trabalhos a outras
mídias, da chamada literatura branca, com cláusulas de direitos autorais, é lhes
recomendado efetuar pequenas alterações nos títulos, resumos e, mesmo, nos
textos dos trabalhos, visando evitar problemas de copyright futuros.
Concluída a edição e conversão do trabalho em arquivos PDF ou PS, a
equipe da BS/INF faz seu upload para o servidor de ftp, inclui a referência e o
resumo do trabalho em página HTML e insere o hiperlink do arquivo correspondente
ao texto do documento no ftp. Todo esse processo leva apenas alguns minutos para
ser completado, porém, os resultados dessa ação são de grande importância para o
autor e para a comunidade, uma vez que garante a sua autoria e é alcançada uma
mais ampla socialização do conhecimento gerado no DI.

Os exemplos abaixo mostram as folhas preliminares de um fascículo da série


Monografias em Ciência da Computação, conforme o padrão recomendado e,
adiante, a página Publicações / Relatórios de Pesquisa, vinculada à home-page do
DI, onde os resumos e os textos completos podem ser consultados e copiados.
Comparando-as às páginas da Stanford University e da University of Waterloo
percebem-se as semelhanças. Note-se que a coleção digital começa a ser produzida
em 1993, assim como o seu processo de disponibilização no ftp-site do DI,
coincidindo com a popularização da Internet e da Web no departamento, buscando
assim acompanhar os avanços tecnológicos das mídias. Atualmente, os fascículos
da coleção, anteriores a essa data, encontra-se em processo de digitalização,
remontando-se ao seu início, em 1969.

É importante salientar que, atualmente, é somente através das páginas


Publicações / Relatórios de Pesquisa que se tem acesso aos relatórios publicados a
partir de 2001, já que a coleção em versão impressa, desde então, não vem
recebendo tratamento técnico pela Biblioteca Central, devido a problemas atribuídos
ao sistema Pergamum. A coleção em versão digital, por sua vez, até o momento,
não foi tratada tecnicamente pela Biblioteca Central.
6.2 Teses e Dissertações do DI na Internet

As teses e dissertações do DI percorrem um processo diferente dos relatórios


de pesquisa, até a sua incorporação à coleção digital disponibilizada em seu sítio:
os alunos as editam conforme o padrão da PUC-Rio - Normas para Apresentação de
Teses e Dissertações -, disponível em template, nos formatos DOC e LaTex,
fornecido pela VRAc, depois convertidos em PDF, e entregam a cópias impressa e
digital em CD-ROM (com certificação digital) à secretaria do Programa, juntamente
com uma declaração do nível de acesso (amplo, restrito, não autorizado) que deseja
para seu trabalho - a entrega do exemplar em meio digital passou a ser obrigatória
apenas a partir de 2002. Os exemplares são enviados ao Decanato do Centro que,
então, dá prosseguimento aos trâmites necessários à outorga do grau e diploma de
Mestre ou Doutor. Esses exemplares, acompanhados do tipo de autorização de
acesso ao trabalho, é enviado à Biblioteca Central - BC, repositório da memória da
produção científica da universidade, para processamento e recuperação da
informação e acesso à cópia, impressa ou online (a partir de 2002), via o catálogo do
Sistema Pergamum. Mediante normas definidas pelo Sistema, é possível tomar
emprestado o exemplar impresso e fazer a cópia (download) do exemplar eletrônico.
A PUC-Rio, conta com Projeto Maxwell, hospedado no Departamento de
Engenharia Elétrica, cuja abrangência é descrita em outra sessão do presente
evento. O Projeto disponibiliza também as teses e dissertações da PUC-Rio, online,
integrado ao esforço da BDTD (Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – IBICT)
da NDLTD (Networked Digital Library of Theses and Dissertations – Virginia Tech) e
da UNESCO (ETD Programs). O Maxwell implementou o Open Archives Protocol for
Metadata Harvesting (OAI-PMH) que permite que os metadados das teses e
dissertações arquivadas em seu banco de dados sejam coletados automaticamente
para integração à base da BDTD. A coleção digital do Maxwell começou a ser
reunida antes de 2002, através das doações dos Programas que anteviam o impacto
dessas ações para comunidade acadêmica. Atualmente, o Maxwell obtém uma
cópia digital certificada de cada tese ou dissertação (sua coleção se iniciou antes de
2002) junto à VRAc, faz a sua catalogação de acordo com o padrão de metadados
de teses e dissertações brasileiros - MTDBR (compatível e mais abrangente que o
OETDMS/DBTD e o Dublin Core) e disponibiliza os objetos digitais em sua base de
dados. Consultando-se a biblioteca digital de teses e dissertações do Maxwell são
recuperadas a referência e o resumo do trabalho desejado e, de acordo com o nível
de permissão de acesso dado pelo autor, o texto completo do exemplar pode ser
copiado. Uma das diferenças entre os dois sistemas, isto é, o da Biblioteca Central
e o do Maxwell, está na implementação do OAI-PHM pelo segundo, o que tem
trazido às dissertações e teses da PUC-Rio maior visibilidade, por sua integração
automática à BDTD e, dali, para o mundo acadêmico – e esta é uma questão de
importância crucial para quem faz Ciência no Brasil. Outra versatilidade do Maxwell
é que ele disponibiliza quadros comparativos e séries históricas da produção
acadêmica e das consultas e acesso às teses e dissertações da instituição, sendo
esta sua facilidade exemplificada adiante.
Assim, nos mesmos moldes dos relatórios de pesquisa, a BS/INF efetuou o
upload das tese e dissertações do DI que, em 1992, já se encontravam em meio
digital, sob a guarda da BS/INF ou dos laboratórios temáticos do departamento, para
o ftp-site do departamento. Páginas para reunir essa coleção foram editadas em
HTML, onde são incluídas além das referência e dos resumos dos trabalhos, os
hiperlinks para o fpt-site do DI – no caso, cópias digitais dos trabalhos não existentes
nas coleções do Maxwell ou da Biblioteca Central -, para a cópia digital arquivada
nos servidores da Biblioteca Central – por se tratar do repositório institucional da
memória da produção científica da PUC-Rio - e para a cópia digital arquivada nos
servidores do Maxwell, considerando os benefícios da sua integração à BDTD e
opções de levantamentos estatísticos da produção e de acesso.
A figura a seguir mostra a página de apresentação da coleção de teses e
dissertações do DI, também vinculada à home-page do DI – Publicações / Teses e
Dissertações - e, mais adiante, outra figura mostra um fragmento da página com
todas as teses e dissertações de 2005. Nesta última, onde se observa a referência
e o resumo da primeira tese da coleção do ano de 2005, o primeiro hiperlink,
colocado como âncora no código acima da referência, é reservado para o acesso ao
texto completo via Maxwell. O hiperlink para o arquivo no servidor da Biblioteca
Central, por sua vez, é colocado como âncora no título da dissertação ou tese
visando para acesso ao texto completo do trabalho, no entanto, na data em que este
trabalho foi concluído, não foi possível incluí-lo pelo fato de que o arquivo ainda não
se encontrava disponível. Em geral, a disponibilização dos arquivos das
dissertações e teses nos servidores do Maxwell é mais rápida, possivelmente, por se
tratar de um sistema em que a catalogação sendo menos detalhada torna esse
processo mais ágil ou, ainda, por questões que podem estar relacionadas às
características inerentes a cada um dos sistemas.
7.3 Comentários finais

Aliada à satisfação da comunidade em ter o seus trabalhos mais amplamente


difundidos através da página Publicações, vinculada à home-page do DI, tem sido
possível observar também em que medida cresceu a incidência das consultas aos
relatórios de pesquisa, teses e dissertações. Os contadores de acesso, incluídos
nas páginas Web, demonstram o crescimento dessa incidência, no entanto, não
possibilitam obter uma medida confiável do tipo de aproximação e, mesmo, de sua
categorização. Através do Maxwell, isto parece ser possível, uma vez que o sistema
dispõe de mecanismos que fazem essa identificação, fornece quadros
comparativos e séries históricas das consultas e dos acessos às teses e
dissertações da instituição. Além disso, parece ser bem simples produzir relatórios
estatísticos variados através do sistema. Seguem alguns exemplos de informações
sobre a produção do DI que puderam ser levantadas junto ao Maxwell: em janeiro de
2006, 51 países fizeram consultas à coleção, entre eles, os Estados Unidos
consultaram 169 teses , o Brasil 96, Portugal 46; em junho, o número de países que
fizeram consultas aumentou para 64, os Estados Unidos consultaram 191 teses, o
Brasil 132 e Portugal 57 – isto representa cerca de 30 % de aumento das consultas
no geral, 12% de aumento das consultas dos Estados Unidos, 28% do Brasil e 23%
de Portugal – aqui, é possível ainda saber quais foram as teses consultadas. Segue
outro exemplo de informação que pôde ser levantada: uma tese depositada no
Maxwell, há menos de 6 meses, recebeu 77 “visitas” dos Estados Unidos, 8 delas
completas (copiadas). E, mais outro exemplo: o trabalho na coleção com maiores
índices de consulta é uma dissertação de mestrado da área de Engenharia de
Software, defendida em agosto de 2005 e disponibilizada pelo Maxwell em
setembro do mesmo ano. Vê-se, portanto, que há possibilidades desse sistema vir a
obter levantamentos úteis e confiáveis sobre a produção científica da instituição para
a comunidade.

8 CONCLUSÕES

A tradição de excelência do Departamento de Informática, no âmbito nacional


e internacional, e a sua classificação como “melhor programa” em Ciência da
Computação, no país, pela avaliação trienal da CAPES de 2004, exigia que o
conhecimento gerado pela comunidade fosse mais amplamente difundido e se
tornasse mais acessível. Isto está sendo possível com a criação de uma página
específica para esse fim, vinculada à home-page do DI, contendo uma expressiva
parcela da produção acadêmica do DI, os relatórios de pesquisa e as teses e
dissertações: são, aproximadamente, 1000 relatórios de pesquisa e 1050 teses e
dissertações, cujos resumos podem ser consultados e cujos textos, em grande
parte, já podem ser copiados integralmente, a partir de sua home-page.
A associação das atividades da biblioteca acadêmica às atividades
relacionadas à produção científica de uma unidade acadêmica, na realização de
trabalhos desta natureza, revela-se muito positiva, enriquecedora e possibilita novas
modalidades de interação, trazendo benefícios para toda a comunidade.
Finalmente, apoiada em ferramentas eficazes na construção de indicadores
da produção científica e de seu uso, a PUC-Rio poderá contar com informações
estratégicas sobre o conhecimento gerado pela comunidade que poderão subsidiar
ações em prol da manutenção da excelência dos seus programas.
REFERÊNCIAS

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Disponível em: < http://www.cs.uwaterloo.ca/research/ >. Acesso em: 28 jun. 2006.
COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO: BUSCA, ACESSO, AVALIAÇÃO,
ORGANIZAÇÃO, PRODUÇÃO E DIFUSÃO DA INFORMAÇÃO E DO
CONHECIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO NA UFRJ

Vânia Lisbôa da Silveira Guedes1


Ana Maria de Carvalho Carreiro2

RESUMO

Trata-se de um curso sobre competência em informação, ministrado aos alunos da pós-graduação da


Escola de Química da UFRJ, integrantes do projeto PRH13, da Agência Nacional de Petróleo.
Inicialmente, discorre-se sobre a pesquisa bibliográfica científica e sua importância, como tópico de
metodologia científica, em projetos científicos e tecnológicos. A seguir, conceituam-se: informação,
informação científica, metadado, conhecimento, ciência, tecnologia, periódico científico, patente, gestão
da informação e do conhecimento. Após isso, destaca-se a competência em informação, seu conceito,
relevância, dinâmica e as áreas integrantes. A partir daí, conceitua-se Sistema de Informação e
apresenta-se o Sistema de Busca Bibliográfica, para o acesso físico e eletrônico à informação científica
e tecnológica, sob a gestão do SiBI, que permite a recuperação, o acesso, a avaliação, a organização,
a produção e a difusão do conhecimento científico e tecnológico na UFRJ, em bases de dados
referenciais e textuais.

PALAVRAS-CHAVE: Pesquisa Bibliográfica. Competência em Informação. Bases de Dados


Referenciais e Textuais. Sistema de Recuperação da Informação. Informação Científica e Tecnológica.

ABSTRACT

This is a course on Information Competence offered to all graduate students of the School of Chemistry
(Escola de Química) / UFRJ who take part in the PRH13 program, sponsored by the Petroleum National
Agency (Agência Nacional de Petróleo). A presentation of bibliographical search for scientific purposes,
as well as its importance as a research tool for scientific and technological projects is initially covered.
The concepts of Information, Scientific Information, Metadata, Knowledge, Science, Technology,
Scientific Journals, Patents, Information and Knowledge Management are then discussed. Information
Competence, its concept, importance, dynamics and encompassed subjects are further detailed.
Finally, the students are introduced to the concept of Information Systems and to the Bibliographical
Search System (Sistema de Busca Bibliográfica), maintained by the SiBI for physical and electronic
access to scientific and technological information in the UFRJ, and allowing evaluation, organization,
production and distribution of scientific and technological knowledge, both through referential and
textual databases.

KEYWORDS: Bibliographic Search System. Information Literacy. Referential and Textual Databases.
Information Research System. Scientific and Technology Information.

1
Vânia Lisbôa da Silveira Guedes, M.Sc. em Ciência da Informação – UFRJ, Doutoranda em
Lingüística – UFRJ, Membro da Comissão de Implantação do CBG e Coordenadora das Atividades da
Biblioteca da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Cidade Universitária –
Centro de Tecnologia – Bloco E, Rio de Janeiro – RJ – Brasil, guedes@eq.ufrj.br
2
Ana Maria de Carvalho Carreiro, M. Sc. em Ciência da Computação – UFF, Coordenadora de
Informática da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Cidade Universitária –
Centro de Tecnologia – Bloco E, Rio de Janeiro – RJ – Brasil, carreiro@eq.ufrj.br
1 INTRODUÇÃO

No final do ano 2000 e início de 2001, enquanto, no âmbito da Escola de Química da


Universidade Federal do Rio de Janeiro, se discutia como melhor capacitar alunos
para a busca e a recuperação de informações relevantes e pertinentes a seus focos
de estudo, desenvolviam-se, internacionalmente, a área de Information Literacy
(Competência em Informação) e as sub-áreas que a integram. Nessa época, o aluno
da Escola de Química que quisesse fazer pesquisa, necessitava de paciência, tempo
e dinheiro para o levantamento bibliográfico, restrito a orientações individuais e à
disponibilidade dos sete computadores, instalados na Biblioteca da EQ/UFRJ, e dos
vinte e oito, no Laboratório de Informática da EQ/UFRJ.

O conceito de Information Literacy tem sido amplamente adotado e difundido em


países como os Estados Unidos, Canadá e Austrália e pode ser definido como
processo de interiorização de valores, conhecimentos e habilidades ligadas ao
universo informacional e à competência em informação.

Segundo Dudziak (2006), Information Literacy refere-se ao “domínio sobre o


universo informacional, incorporando habilidades, conhecimentos e valores
relacionados à busca, acesso, avaliação, organização e difusão da informação e do
conhecimento”. Em verdade, ela “envolve desde questões relacionadas às bibliotecas,
seu papel no ensino-aprendizagem, conceitos e princípios de alfabetização
informativa, habilidades e competência [...], até o planejamento e implementação de
programas de desenvolvimento de competências informativas na sociedade
contemporânea” (REITZ, 2006). O Presential Comittee on Information Literacy da
American Library Association apud DUDZIAK, 2006) ressalta que, para ser
competente em informação, uma pessoa deve ser capaz de reconhecer quando uma
informação é necessária e deve ter habilidade de localizar, avaliar e usar efetivamente
esta informação.
Figura 1 - Representação espacial da information literacy como uma área do conhecimento que
agrega "multi-literacies“.
Fonte: OTIS College of Arts and Design, [s.d.]. Disponível em:
http:// library.otis.edu/informationliteracy.html. Acesso em: 03/03/2006

Com essa perspectiva, a partir de março de 2001, iniciavam-se, na Escola de


Química, como tópicos das disciplinas Introdução aos Processos Químicos e
Bioquímicos (EQW-112) e Metodologia da Pesquisa Científica (EQE-040), aulas sobre
competência em informação. Os docentes, então responsáveis por essas disciplinas,
a coordenadora da biblioteca e a coordenadora de informática da EQ, sentiram a
necessidade de orientar os alunos, recém-chegados ao ambiente universitário, sobre
a infra-estrutura universitária disponível para a realização de pesquisas bibliográficas.
Essas aulas tinham, então, como objetivo, apresentar aos alunos o sistema de buscas
bibliográficas e de acessos físico e eletrônico à informação científica e tecnológica,
sob a gestão do SiBI/UFRJ, e implantar o treinamento periódico e sistemático desses
alunos, contribuindo para um maior nível de competência no desenvolvimento de
buscas bibliográficas, acesso, avaliação, uso e produção de informações científicas e
tecnológicas, na Escola de Química.

Este estudo refere-se ao conteúdo do curso intitulado Competência em Informação:


busca, acesso, avaliação, organização, produção e difusão da informação e do
conhecimento científico e tecnológico na UFRJ, ministrado para os alunos de pós-
graduação da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
integrantes do projeto PRH13 da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Trata-se de
uma evolução da aula, acima mencionada, intitulada Sistema de Busca
Bibliográfica: o acesso físico e eletrônico à informação científica e tecnológica
na UFRJ, oferecida pela primeira vez no ano de 2001. A partir dessa experiência,
vivenciada em cinco anos, fomos convidadas pelo Coordenador do Programa PRH13
da Agência Nacional de Petróleo, para desenvolver um curso visando à capacitação
dos alunos de pós-graduação, para a busca, acesso, avaliação, organização,
produção e difusão da informação do conhecimento científico e tecnológico. A
palestra inicial, então, evoluiu para um curso com dois dias de duração, num total de
oito horas/aula, divididas em quatro módulos de 2 horas/aula cada um, focando
especificamente a questão da competência em informação e as demais áreas que a
integram, a importância da pesquisa bibliográfica no desenvolvimento de projetos em
ciência e tecnologia, os sistemas de informação, o Sistema de Busca Bibliográfica de
acesso físico e eletrônico à informação científica e tecnológica na UFRJ e, finalmente,
com especial destaque, o Portal de Periódicos da CAPES, o Portal de Livre Acesso
da CAPES e a ferramenta de busca em desktop, SciFinder.

2 OBJETIVO

O principal objetivo deste curso é proporcionar aos alunos conhecimento teórico e


técnico sobre a pesquisa bibliográfica, evidenciando a técnica e as estratégias de
busca, de recuperação e de avaliação da informação científica e tecnológica, sobre
seus temas de pesquisa, em bases de dados físicas e eletrônicas, disponíveis na
UFRJ.

3 METODOLOGIA

O curso foi desenvolvido em quatro módulos de 2 horas/aula cada um, sendo


apresentados dois módulos por dia. Em cada dia, o primeiro módulo consiste em aula
teórica, abrangendo os tópicos mencionados no programa, enquanto que o segundo
módulo consiste em aula prática de acesso físico e eletrônico à informação científica e
tecnológica, em bases de dados disponíveis na página do Sistema de Bibliotecas e a
Informação (SiBI) da UFRJ e na web, assim como nas bases CAS e MEDILINE, que
utilizam o SciFinder, como ferramenta de busca.

No primeiro módulo, discorre-se sobre a pesquisa bibliográfica e sua importância


como tópico da metodologia científica. Ela consiste, como diria Alessio (2004), em
pesquisar o que está disponível, em termos de informações e conhecimentos sobre
determinada área do conhecimento, em artigos de periódicos, livros, monografias,
dissertações, teses, anais de congressos e publicações avulsas. A pesquisa
bibliográfica evita a duplicação de trabalhos já realizados, minimiza o consumo de
tempo, os recursos materiais, humanos e financeiros. Além disso, ela pode servir para
a criação ou para o desenvolvimento de uma idéia, ou seja, como fonte de inspiração
para o aluno, professor ou pesquisador (MEADOWS, 1999). O uso regular e efetivo
de fontes de informação apropriadas, impressas ou eletrônicas, é a chave para se
alcançar o sucesso na pesquisa e desenvolvimento, como também em quaisquer
outras atividades ligadas à ciência e à tecnologia. Mas, segundo Dudziak (2006),
diante da atual explosão informacional, torna-se cada vez mais necessário “dominar”
o universo informacional. Para que possamos construir conhecimento e aprender,
algumas tarefas tornam-se imprescindíveis:

a) reconhecer nossas necessidades informacionais;


b) definir essas necessidades;
c) buscar e acessar a informação, física e intelectualmente;
d) avaliá-la;
e) organizá-la;
f) transformá-la em conhecimento;
g) aprender a aprender;
h) aprender, ao longo da vida.

Ainda neste primeiro módulo, para fins de contextualização, apresentam-se os


conceitos de informação, informação científica, metadado, conhecimento, ciência e
tecnologia, periódico científico, patente, gestão da informação e do conhecimento. A
partir daí, conceitua-se Sistema de Informação, focado na Recuperação da
Informação, evidenciando seu objetivo, input/output. São exemplificados um modelo
de engenharia de busca conceitual em um Sistema de Informação (figura 2), isto é,
interpreta as buscas em linguagem natural, processa as palavras que têm vários
significados, busca palavras-chave, avalia a quantidade de informação em cada
palavra-chave, expande a busca por thesaurus e indica o nível de relevância de cada
página e um modelo de buscas focadas na necessidade do usuário (figura 3).
Figura 2 - Representação espacial da engenharia de busca conceitual de um Sistema de
Informação. Fonte: GAUCH, S.; MADRID, J M.; INDURI, S, RAVINDRAN, D et al., [s.d.].
Disponível em: http://www.ittc.ku.edu/ keyconcept/home.html. Acesso em: 20/11/2005

Figura 3 - Representação espacial de um Sistema de Recuperação da Informação, focado na busca e


na necessidade de informação do usuário.
Fonte: APPLE. Adding search to your application (preliminary): formulating a query, [s.d.]. Disponível
em:https://developer.apple.com/ documentation/UserExperience/Conceptual/SearchKitConcepts/
SearchKitConcepts.pdf. Acesso em: 20/11/2005

Dando seqüência ao primeiro módulo, apresenta-se o sistema de bibliotecas e


informação da UFRJ e, nesse contexto, os sistemas de busca bibliográfica, sob a
gestão do SiBI, que permitem a recuperação, o acesso, a avaliação, a organização, a
produção e a difusão do conhecimento científico e tecnológico na UFRJ, em bases de
dados referenciais e textuais. Dentre as bases de dados, apresenta-se com maior
nível de exaustividade o Portal de Periódicos da Capes, destacando o ScienceDirect,
Base Scirus, Web of Science, Derwent World Patents Index, Open Archives, O Portal
de Livre Acesso da Capes e a Rede Scielo. Este portal recebe especial destaque,
pois se tornou, nos últimos 5 anos, a ferramenta essencial, em instituições de ensino
e pesquisa para a busca, recuperação, acesso, avaliação, produção e divulgação da
informação científica e tecnológica, atualizada e on-line. Docentes e pesquisadores
das IFES, das instituições de pesquisa, dos programas de pós-graduação brasileiros
que, há pelo menos dez anos atrás, não imaginariam acessar informações
atualizadas, em sua área de pesquisa, agora passam a ter acesso a informações,
igualmente a pesquisadores de centros de pesquisa avançados, em países do
primeiro mundo. Dentre as principais vantagens, obtidas com a criação do Portal de
Periódicos da Capes, podemos citar como exemplo, a agilidade no acesso à
informação, a atualidade dos periódicos, o acesso a títulos nacionais e internacionais,
a democratização do acesso à literatura científica e tecnológica. Hoje em dia, sem
dúvida, é uma ferramenta indispensável aos quase 3.000 cursos, pertencentes a
cerca de 2.000 programas de pós-graduação do país.

Cada base de dados, aqui mencionada, é apresentada com detalhes, evidenciando


suas características, com relação à retroação na obtenção dos dados, característica
esta que muitas vezes determina o volume de informações contidas, em cada uma
dessas bases.

Inicia-se a apresentação pela Base Minerva (www.minerva.ufrj.br), que integra o


acervo das 46 unidades de informação da UFRJ. Essa base, referencial e textual,
oferece a busca por bibliotecas, periódicos, teses, coleções especiais, autores, títulos,
assuntos, entre outros, através da utilização do Software Aleph, específico para
serviços de biblioteca, em ambiente de pesquisa e ensino. Segue-se o Portal de
Periódico da CAPES, com especial atenção ao Science Direct (http://www.
sciencedirect.com), base textual com maior acervo de artigos científicos, disponível na
Internet, cerca de 1.500 títulos de periódicos em ciência de tecnologia. Logo após,
apresenta-se a base de dados referencial Web of Science (http://isiknowledge.com/),
com retroação a 1945, contendo artigos publicados em mais 8.700 periódicos
especializados, em todas as áreas do conhecimento, e através da qual é possível o
acesso ao texto integral de alguns documentos, mediante uma rede de citações.
Outras bases citadas, que são de grande importância dentro do estudo das
Engenharias, são as bases de patentes. Nesse curso, são apresentadas a Derwent
World Patents Index® (http://scientific.thomson. com/products/dwpi/), que possui
cerca 13,5 milhões de registros de patentes, com a inclusão de cerca de 1,5 milhão
de patentes por ano e a Base de Dados de Patentes, disponibilizada pelo Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI)
(http://www.inpi.gov.br/MarcaPatente/jsp/servimg/), com informações científicas e
tecnológicas sobre mais de 20 milhões de documentos em patentes.

Outro tópico, também apresentado neste curso, refere-se à iniciativa do Open


Archives, ou arquivos abertos. A iniciativa pode representar uma revolução na
disseminação da informação científica e tecnológica, no Brasil e no mundo. Ela
oferece aos pesquisadores maior facilidade para publicar seus trabalhos, ao mesmo
tempo em que permite, ao público em geral, acesso ao conhecimento, produzido nas
universidades e centros de pesquisa. Desenvolvida a partir de programas de código
aberto (software open source), oferece o acesso livre às informações armazenadas
em suas bases, utilizando padrões que permitem sua interoperabilidade.

Segundo o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT),


responsável por comandar essa iniciativa no Brasil, somos o quarto país do mundo a
implantar repositórios digitais, para base de Open Archives. O IBICT acrescenta que
caminhamos, rapidamente, para ampliar essas fontes de informação, liberando o
acesso a revistas eletrônicas, a teses e dissertações, a relatórios técnicos e a anais
de congressos científicos. É uma porta aberta para toda e qualquer informação
tecnológica e científica.

As primeiras iniciativas de Open Archives são contemporâneas ao surgimento da


Internet, na década de 90. O objetivo era oferecer uma alternativa de comunicação
científica, onde os próprios pesquisadores publicassem seus trabalhos, armazenados
e disponibilizados em formato digital, permitindo que a comunidade, como um todo,
tivesse acesso às pesquisas realizadas e pudesse tecer comentários àqueles
trabalhos publicados. Essa iniciativa foi desenvolvida nos Estados Unidos, no
Laboratório Nacional de Los Alamos. Foram criados repositórios de acesso livre para
as áreas de matemática, física e ciência da computação, facilitando a disseminação
pública de informações científicas, através do acesso gratuito aos metadados, aos
seus conteúdos e à interface, entre repositórios e provedores de serviços.

Dando continuidade a esse trabalho, a CAPES disponibilizou o Portal de Acesso Livre


da CAPES. Por meio do portal, é possível acessar, gratuitamente, periódicos com
textos completos, bases de dados referenciais com resumos, patentes, teses e
dissertações, estatísticas e outras publicações de acesso gratuito na Internet,
selecionadas pelo nível acadêmico e mantidas por instituições científicas e
profissionais e por organismos governamentais e internacionais. Outra iniciativa de
Open Archive, apresentada no curso, é a Rede Scielo, que disponibiliza um conteúdo
bibliográfico de abrangência internacional. A Base de Dados ScieloBrasil -
http://www.scielo.br consiste em uma Biblioteca Virtual de periódicos científicos
brasileiros, que se dedica à preparação, armazenamento, disseminação e avaliação
da produção científica, em formato eletrônico, enquanto que a ScieloChile:
http://www.scielo.cl indexa cerca de 300 títulos de revistas científicas chilenas, de
texto completo.

No segundo módulo, temos a parte prática do curso, onde se faz o treinamento do


uso dessas bases, com exemplos de buscas relacionadas aos temas de trabalhos dos
alunos participantes do curso. Desta forma, faz-se a utilização de operadores
booleanos e critérios de busca, que melhor se ajustam a cada situação, para
recuperação de informações mais relevantes. Nesse momento, os alunos têm a
oportunidade de utilizar as bases e as técnicas de busca, até aqui apresentadas, para
recuperar documentos, que poderão ser utilizados posteriormente, em sua pesquisa,
na elaboração de dissertações ou teses.

Os dois últimos módulos do curso ficam reservados para tratar de uma ferramenta de
busca em desktop: SciFinder Scholar. Trata-se de um serviço de acesso ao
Chemical Abstracts On-line, base de dados da American Chemical Society – ACS,
para pesquisa científica publicada, em especial, na área de química e outras, como:
Engenharia, Física, Ciências Médicas, Polímeros, Ciências dos Materiais, Ciências
Geológicas, Agricultura. Sua cobertura retroage a 1907, incluindo referências de
artigos de periódicos, patentes, palestras, teses, relatórios técnicos entre outros. A
base de dados contém mais de 25 milhões de substâncias orgânicas e inorgânicas,
milhões de seqüências de aminoácidos e de proteínas, fontes comerciais de mais de
6 milhões de substâncias químicas e mais de 228 mil registros de substâncias
catalogadas, em inventários de diversos países. Diferente das demais bases de
dados, apresentadas até o momento, que utilizam a interface web para seu acesso, o
SciFinder consiste em uma ferramenta de busca em desktop, ou seja, um software
especial, disponibilizado para as instituições devidamente cadastradas como usuárias
do sistema. Este software deve ser instalado, localmente, em um computador
pertencente à rede de computadores das instituições cadastradas e, assim, o usuário
terá disponíveis, os recursos especiais, que proporcionam, por exemplo, a busca na
base de dados, a partir de estrutura e subestrutura de molécula das substâncias,
entre outros. O módulo adicional, que permite a pesquisa de estruturas e
subestruturas químicas (SSM – SciFinder Substructure Module) (Figura 4) é um
diferencial nesta base, em relação às demais apresentadas, pois ele oferece aos
usuários a possibilidade de desenhar uma estrutura química e recuperar documentos
que, por exemplo, tratem da própria estrutura desenhada, ou de estruturas mais
complexas, que possuam a estrutura desenhada, ou ainda reações que envolvam
esta estrutura. Além das possibilidades de buscas tradicionais, por nome de autor,
título do documento, assunto, etc, esta base permite a recuperação de informação, a
partir de nome de empresas, organizações, institutos e universidades. O Software
SciFinder Scholar recupera as informações contidas nos bancos de dados produzidos
pelo Chemical Abstracts Service (CAS) e pelo MEDLINE®, da Biblioteca Nacional de
Medicina dos Estados Unidos. Todos os registros estão em idioma inglês. O banco de
dados CAplus contém mais de 23 milhões de documentos, de mais de 9.000
periódicos, de 150 países.
Segue, abaixo, a figura 4 apresentando a janela do módulo de pesquisa por estrutura e
subestrutura química do SciFinder (SCIFINDER, 2005).

Figura 4 - Janela do módulo de pesquisa por estrutura e subestrutura química do SciFinder


Fonte: SciFinder Guia do Usuário, 2005. Disponível em:
http://www.periodicos.capes.gov.br/portugues/documentos/CAS/guiaUsuario.pdf. Acesso em
20/03/2006.
Assim, o terceiro módulo do curso trata principalmente das questões teóricas sobre a
utilização desta ferramenta, apresentando sua interface e as várias possibilidades de
recuperação da informação, utilizando a variedade de recursos para o refinamento da
busca e a apresentação dos resultados. Esta ferramenta de busca, apesar de se
tratar de uma base de dados referenciais, nos permite o acesso a alguns documentos
de texto completo, através do portal ChemPort. Ela realmente impressiona pelo
volume de informação disponível e pela sua versatilidade, da qual podemos ressaltar
inclusive a rede de citações que nos permitir recuperar resultados, tais como a
quantidade de documentos citados em determinado trabalho assim como a
quantidade de documentos que um determinado trabalho cita. É interessante observar
que esses resultados podem e são utilizados como indicadores de produção e status
científico, em sistemas de avaliação científica e tecnológica. Assim, esses resultados
de buscas são, não somente insumos para a produção de informação científica, mas
também instrumentos de avaliação, utilizados pelos órgãos e instituições, privadas e
governamentais, de ciência e tecnologia.

Finalmente, no quarto módulo, os alunos são incentivados a praticar o uso da


ferramenta SciFinder, para a realização de buscas relacionadas aos temas de seus
trabalhos acadêmicos e, desta forma, fixando o conhecimento adquirido na aula
teórica.

Segue, abaixo, o cronograma com a distribuição em módulos dos tópicos


relacionados no programa do curso:
Quadro 1
Cronograma, com a distribuição em módulos, dos tópicos relacionados no programa do curso

Data Conteúdo Programático Professores


1o. módulo Noções de sistema de informação, Vânia Lisbôa da Silveira
28/03/06 – 10h às 12h information literacy, pesquisa Guedes
bibliográfica. Apresentação das
principais bases de dados científicas e
tecnológicas do portal de periódicos da
CAPES e dos sites de instituições da
área de C&T, com sistemas de busca de
informação científica e tecnológica.
2o. módulo Prática de acesso às bases de dados, Vânia Lisbôa da Silveira
28/03/06 – 14h às 16h apresentadas no 1o. módulo, Guedes
desenvolvendo a busca, a recuperação
e a avaliação da informação.
3o. módulo Apresentação da ferramenta de busca Ana Maria de Carvalho
29/03/06 – 10h às 12h em desktop, SciFinder: Apresentação Carreiro
das bases de dados do CAS: Base de
Dados Referencial CAPlus, Base de
Dados de Estruturas Registry e Base de
Dados de Reações CasReact.
Apresentação da Base de dados
Medline. Tutorial, mostrando as diversas
formas de busca e apresentação de
resultados obtidos.
4o. módulo Prática de busca, utilizando a Ana Maria de Carvalho
29/03/06 – 14h às 16h ferramenta desktop Scifinder. Busca, Carreiro
recuperação e avaliação da informação,
baseada nos temas dos trabalhos que
estão sendo desenvolvidos pelos
alunos, em conjunto com o professor
orientador.

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Inicialmente, foram oferecidas vinte vagas aos alunos bolsistas do projeto PRH13 da
ANP. Entretanto, foram aceitas inscrições de alunos não participantes do referido
programa, inclusive de um professor da Escola de Química.

Ao propormos o curso, nossos objetivos constituíam-se, basicamente, em:


proporcionar aos alunos o conhecimento teórico e técnico de pesquisa bibliográfica e
de técnicas de busca e de recuperação da informação, em bases científicas e
tecnológicas de dados.

Após o término do curso, constatamos que as atividades desenvolvidas com os


participantes permitiram que os objetivos fossem alcançados. Através das aulas
práticas, observamos que os alunos selecionaram as bases de dados, desenvolveram
estratégias de busca e recuperaram informações relevantes, de acordo com seus
temas de trabalho. Além disso, a análise dos levantamentos bibliográficos,
apresentados como trabalho final de curso pelos alunos, evidenciou essa avaliação.

Além desse objetivo, a experiência revelou o quanto tais treinamentos, aulas ou


cursos podem contribuir para maior qualidade do processo de educação na UFRJ.
Com muitas pessoas sendo treinadas para o uso otimizado das bibliotecas, dos
laboratórios e das bases de dados eletrônicas, o empréstimo de livros e o uso das
bases cresceu sensivelmente. Nessas aulas, destacamos os resultados de buscas
bibliográficas como indicadores de produção e status científico, em sistemas de
avaliação cientifica e tecnológica. Assim, esses resultados de buscas são insumos,
para a produção de informação científica e instrumentos de avaliação, utilizados pelos
órgãos e instituições, privadas e governamentais, de ciência e tecnologia. Em
sistemas de comunicação científica, servem de feedback para o tipo de informação a
produzir, assunto, frente de pesquisa em determinada área, periódicos mais
relevantes, entre outros. Ainda sobre a questão da avaliação, destacamos o sistema
QUALIS da CAPES, com o ranking e conceitos dos periódicos científicos mais
relevantes, nacionais e internacionais, em cada área de assunto, que servem de
informação norteadora para buscas, uso e publicação de artigos científicos e
tecnológicos.

5 CONCLUSÃO

Após o término do Curso, constatou-se que as atividades desenvolvidas com os


participantes permitiram que os objetivos fossem alcançados. Através das aulas
práticas, observou-se que os alunos, com competência, souberam selecionar as
bases de dados e desenvolveram estratégias de busca e recuperaram informações
relevantes, de acordo com seus temas de trabalho. Além disso, a análise dos
levantamentos bibliográficos, desenvolvida pelas autoras desse trabalho, em parceria
com os professores orientadores dos alunos, apresentada como trabalho final de
curso, evidenciou essa avaliação.

Além desse objetivo, a experiência revelou o quanto tais treinamentos, aulas ou


cursos podem contribuir para maior qualidade do processo de educação na UFRJ.
Com uma equipe mais abrangente sendo treinada para o uso otimizado das
bibliotecas e do laboratório de informática, o número de usuários, o acesso à base de
dados eletrônicos e o empréstimo de livros também se intensificaram.
REFERÊNCIAS

ALESSIO, P. A. Informação e conhecimento: um modelo de gestão para


potencializar a inovação e a cooperação universidade-empresa. 341 f. Tese
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DUDZIAK, E. A. Information literacy education: integração pedagógica entre


bibliotecários e docentes visando a competência em informação e o aprendizado ao
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OTIS College of Arts and Design. Millard Sheets Library : Information Literacy. What
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03/03/2006

REITZ, Joan M. ODLIS Online Dictionary forLibrary and Information Science.


Disponível em: http://lu.com/odlis/. Acesso: 20/03/2006
A UNIVERSIDADE INVISÍVEL: UMA CIDADE UNIVERSITÁRIA PARA A
UNIVERSIDADE DO BRASIL

Antonio José Barbosa de Oliveira1

RESUMO

Foram necessários quatro séculos de história para surgirem, no Brasil, nossas Universidades.
Dos debates iniciais para a definição do local , à efetivação das obras daquele que seria
nosso primeiro modelo de Cidade Universitária, passaram-se ainda quatro décadas. A
“inauguração” de nossa cidade universitária, na ilha do Fundão, deu-se “simbolicamente” em
duas datas : em 01 de outubro de 1953, por Getúlio Vargas e, posteriormente, a 7 de
setembro de 1972, pelo General Médici. Este longo período de discussões, obras e
interrupções já evidencia a problemática deste empreendimento. Num período de embates e
polarizações ideológicas, a construção do campus de nossa universidade se mistura à própria
história de nosso país.

Palavras-chave: Universidade Federal do Rio de Janeiro; História

1 O IDEAL DE CIDADE UNIVERSITÁRIA

As milhares de pessoas que circulam diariamente pela Cidade


Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão,
não imaginam a longa história que se desenrolou por quase três décadas para
a sua construção. Ainda nos anos trinta, longas foram as discussões para a
definição do local onde o campus seria construído. Dentre aqueles, os mais
diversos e díspares foram cogitados : Praia Vermelha, Quinta da Boa Vista,
Lagoa Rodrigo de Freitas, Niterói, Vila Valqueire e Manguinhos foram alguns
dos “concorrentes” na disputada escolha. Causa espanto que esta recente
história seja de tantos desconhecida, embora haja vasto material para
pesquisas, distribuídos de forma dispersa pelos diversos centros e unidades
da Universidade.
Por ser desconhecida a história da construção do campus, o senso
comum – presente, inclusive, no meio acadêmico-, atribui à obra características
que a ligam somente às políticas e táticas implementadas pelo regime militar,
nas décadas de 1960 e 1970. São comuns os argumentos que sustentam a
tese de que a forma adotada espacialmente para a instalação dos diversos
centros, ou seja, o grande distanciamento entre estes e a “frieza” reinante no
campus , decorrente dos vazios existentes, seriam características principais da

1
Sistema de Bibliotecas e Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (SIBI/UFRJ),
Bacharel e Licenciado em História, Especialista em História do Brasil e Mestre em História
Comparada.
cidade universitária da Ilha do Fundão e denotariam intenções claras dos
governos militares. Nesta perspectiva, a cidade universitária da Ilha do Fundão
é vista somente como uma construção intencional que levasse ao
enfraquecimento do movimento estudantil e da própria instituição universitária,
através de um “isolacionismo” premeditado. Os que assim pensam,
desconsideram (ou desconhecem) as intenções daqueles que a projetaram,
bem como a distribuição espacial previstas nos projetos originais, datados dos
anos de 1950. Desta forma, as idéias esparsas que se tem a respeito da
construção , consideram somente um dado período – década de 60 - e ,
desconsiderando um outro que lhe é anterior e substancialmente rico,
escondem importantes conhecimentos a respeito das intenções e expectativas
que aquela grandiosa obra despertava, bem como de aspectos contraditórios
da própria organização da instituição universitária em nosso país.
Pioneira e modelar para as demais universidades, já criadas ou que
viessem a sê-lo, a construção da cidade universitária da Universidade do Brasil
ocupou, sistematicamente, espaços nos mais diversos jornais cariocas por,
pelo menos duas décadas. Durante um período (anos de 1950) , pela sua
grandiosidade e pelos benefícios que traria ao moderno ensino universitário do
país. Em outro período, menos grandioso (toda a década de 1960), pelas
sucessivas interrupções e paralisações, que fizeram da futura cidade
universitária uma “cidade fantasma”. Em jornais cariocas como O Globo, O
Popular, A Manhã, Jornal do Comércio, Diário do Povo, O Nacional e A Noite, o
tema da construção da cidade universitária foi manchete em diversas edições.2
No conceito de universidade que se tinha já nos anos 30, era consenso
entre autoridades políticas e acadêmicas, a opinião de que faltava à
universidade, no Brasil, um corpo que, unindo espacialmente seus centros,
viesse finalmente possibilitar a existência do espírito universitário, ainda
inexistente à época. Além disso, as faculdades e institutos que foram sendo
incorporados à universidade, funcionavam precariamente , com instalações
inadequadas, espaços insuficientes para alunos e inexistência de laboratórios
para a prática da pesquisa, aspecto fundamental na produção de novos
conhecimentos. Pretendia a universidade constituir-se não mais somente num

2
Estamos organizando a transcrição de matérias de jornais cariocas dos anos de 1950 a 1955
com a temática da construção da cidade universitária .
espaço de transmissão de saberes, como também em pólo de produção de
novos conhecimentos, padrões culturais e tecnologias, num momento em que o
Estado brasileiro procura desenvolver-se industrialmente. Sem condições
materiais adequadas e sistematizadas seria a universidade apenas uma
expressão burocrática.3
A adoção do modelo de centralização das universidades, através do
ideal de cidade universitária, baseava-se nos seguintes argumentos:4a)
centralização das fontes bibliográficas, já que diversas tinham caráter múltiplo,
interessando a várias unidades de ensino; b) reconhecimento de que o ensino
não pode deixar de ser aliado à pesquisa científica e, nestas condições, é
indispensável o intercâmbio entre professores; c) conveniência de intercâmbio
entre estudantes como único meio de se formar o espírito universitário; d)
vantagem de intercâmbio de material científico; e) possibilidade de
centralização de alguns serviços hoje duplicados ou multiplicados, como por
exemplo: no Instituto de Matemática, Astronomia e Física poderiam ser feitos
todos os cursos de física e matemática da Universidade. Será criada, nestes
casos, uma grande organização com aparelhamento necessário, de custo
elevadíssimo; f) centralização do esporte. Os jovens, justamente quando estão
no período da educação superior e também em função dos horários de estudo,
têm mais necessidade de esporte. Os esportes seriam conduzidos e
coordenados pela Escola de Educação Física e pelo Departamento de
Biotipologia, conhecido também como Ciência da Individualidade ; e, finalmente
g) possibilidade de maior ação da Reitoria.
Em 1930, antes mesmo de Capanema chegar ao Ministério da
Educação e Saúde, o urbanista francês Alfred Agache apresentou seu plano de
urbanização da cidade do Rio de Janeiro, onde já se encontrava registrada a
área da Praia Vermelha como local propício a sediar a cidade universitária,

3
Estas críticas eram formuladas, principalmente, à Universidade do Rio de Janeiro (URJ),
criada em 1920, pela união “fictícia” das Faculdades de Mecina, Engenharia e Direito.
4
Argumentos apresentados por Ernesto de Souza Campos, à Comissão de Professores do
Plano da Universidade, em 1935. Sob o nome de cidade universitária, o professor não
considera o conceito francês, isto é, do lugar onde habitam os estudantes e sim como o
conjunto de todos os edifícios universitários: reitoria, faculdades e zonas residenciais. Este
conceito estaria bem representado no tipo das Universidades dos Estados Unidos da América
do Norte e da Europa (Espanha e, particularmente, nas novas instalações da Universidade de
Roma.)
ainda a ser construída. Sobre os motivos justificadores para a escolha,
argumentava Agache sobre as condições favoráveis :
proximidades e comunicações fáceis com o centro da cidade,
permanecendo, ao mesmo tempo, afastados do barulho e do tráfego
em consequência da configuração topográfica dos sítios; benefícios
de uma situação pitoresca maravilhosa ao pé do Pão de Assucar,
aproveitando os esportes náuticos oferecidos pelo oceano e a baía,
terão à sua disposição exclusiva uma praia que ocupa um dos mais
belos recantos da margem e são, além disso, favorecidos pela
constante frescura proveniente da correnteza de ar que passa entre o
morro da Babilônia e o penedo da Urca.5[sic]

Foi durante o período em que Gustavo Capanema esteve à frente do


Ministério da Educação e Saúde, mais precisamente entre 1934 e 1945, que a
consciência da necessidade de um campus para a universidade tornou-se mais
presente. Já em 13 de maio de 1935, reconhecendo que as instalações dos
institutos, além de inadequadas e mal adaptadas, eram distantes umas das
outras, Capanema envia carta ao Ministro da Agricultura6, declarando sua
intenção inicial de construir a cidade universitária na Praia Vermelha.7 Para tal,
envia carta a 15 de junho do mesmo ano ao diretor do Hospício Psiquiátrico,
comunicando-lhe da intenção de mudança de localização daquela instituição e
aproveitamento da área para a construção da cidade universitária8. O ministro
também declara sua intenção de obter também os terrenos compreendidos no
triângulo formado entre a Rua do Túnel, Rua da Passagem e do Morro da
Babilônia. 9

2 AS COMISSÕES ENCARREGADAS DO PROJETO : DIVERGÊNCIAS


IDEOLÓGICAS EM CONFRONTO ?

Em portaria de 19 de julho de 1935, Capanema mandou elaborar o


“plano da futura Universidade Nacional”, que viesse a permitir a instalação de
sua cidade universitária. Para tal, designou uma comissão de professores

5
REVISTA DA DIRECTORIA DE ENGENHARIA, Rio de Janeiro:s.n.t In ALBERTO, Klaus
Chaves. Três Projetos para uma Universidade do Brasil. Dissertação de Mestrado apresentado
no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ
(PROARQ/UFRJ), 2002.
6
O Ministério da Agricultura estava instalado no prédio projetado em 1881 pelo Engenheiro
Antônio de Paula Freitas para sediar a Universidade Pedro II, nas proximidades da Praia
Vermelha. Hoje é sede da Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM).
7
CPDOC /FGV – Arquivo Gustavo Capanema - GC g 1935..03.09 r. 29 f.516
8
O prédio que abrigava o antigo Hospício de Alienados foi restaurado e transformou-se no
Palácio Universitário, sede da Reitoria da Universidade até a década de 1960. Hoje abriga o
Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, bem como diversas de suas unidades acadêmicas.
9
CPDOC /FGV – Arquivo Gustavo Capanema – GC g 1935.03.09 r. 29 f. 519
incumbida de elaborar o plano de organização da “Universidade padrão dos
institutos universitários brasileiros.” A comissão foi instalada em 22 de julho,
tendo o próprio Capanema como Presidente da 1ª Sessão. Em discurso,
afirmava “ser propósito do Governo, positivo e simples, fazer uma Universidade
que deixe de ser o que tem sido até hoje no Brasil : um postulado
regulamentar, uma aspiração de lei. Quer que ela se converta em uma
realidade viva, em uma comunidade escolar verdadeira. Para isso torna-se
necessária a criação daquilo que hoje se tem chamado de uma cidade
universitária. Portanto, a comissão vai elaborar as bases da Universidade...”
(MELLO JR.,1985, p.54) Caberia à comissão conceituar a universidade,
localizá-la espacialmente e , finalmente, projetar a sua construção. Inicialmente
a Comissão foi composta pelos seguinte professores: Raul Leitão da Cunha ,
reitor da Universidade do Rio de Janeiro; Juvenil da Rocha Vaz, professor da
Faculdade Medicina;Philadelfo de Azevedo, professor da Faculdade de Direito;
Inácio de Azevedo do Amaral; professor da Escola de Engenharia; José
Carneiro Felipe, professor da Escola de Química; Flexa Ribeiro, professor da
Escola Nacional de Belas-Artes; Antônio de Sá Pereira, professor do Instituto
Nacional de Música; M.B Lourenço Filho, professor da Faculdade Nacional de
Filosofia (ex-diretor do Instituto de Educação do Rio de Janeiro); Edgar
Roquette, ex-diretor do Museu Nacional; Ernesto de Souza Campos, da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ex-diretor da Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras da USP); Jonathas Serrano, professor do
Colégio Pedro II e Newton Cavalcante, General do Exército (para o setor de
esporte).
A Comissão deveria ser composta de pessoas que representassem todos
os setores da cultura brasileira, sendo presidida pelo Reitor da Universidade do
Rio de Janeiro. Todos os professores, exceto o Prof. Ernesto de Souza
Campos, eram da própria Universidade. Na ata da sessão de sua instalação,
já podemos observar as preocupações referentes à definição do modelo da
universidade-modelo, bem como das características centrais da instituição
universitária a se consolidar.

O conceito de universidade, no momento presente, perdeu o sentido


tradicional, mas não tomou, ainda, um sentido positivo e definitivo.
Em meio desse desencontro de conceitos é preciso que firmemos,
ainda que provisoriamente, o conceito que nos convém : o que
devemos definir como universidade, o que devemos nella incluir, o
que devemos nella excluir [grifos meus]. Feito esse conceito de
universidade, no seu mais amplo sentido, a Commissão entrará a
planejar a universidade, a localizal-a, a fazer o programa de sua
estructura completa. A Universidade a organizar deve ser completa
no sentido de abranger tudo quanto uma Universidade possa conter.
Admitte [o Presidente] a hypothese de que, pelo Brasil afora
numerosas Universidades se façam menos perfeitas e sejam
Universidades(...) Mas a Universidade Central, a que quer ser a
primeira na qualidade e o espelho das demais, precisa abranger tudo
quanto deve entrar na estructura universitária.(...) 10
Ainda segundo a Comissão, o Governo não pretendia realizar uma obra
gigantesca, que viesse a impressionar pelo grandioso e espetacular,
pretendendo, sim, consolidar uma estrutura modelar às demais instituições de
ensino superior no país :

o que deseja fazer é uma obra modesta e singela, chã, que seja um
padrão, mas ao alcance de nossas possibilidades. (...) Mesmo uma
obra simples como esta, não pode ser obra de um governo, nem de
uma geração ou de uma época. Uma Universidade é uma
construcção permanente. O Governo actual quer lançar as bases
dessa Universidade.(...)

E sobre a capacidade, público alvo, localização e tamanho da


Universidade, concordava-se que “não pode ser obra gigantesca. Ela [União]
se contenta com o padrão, com a boa qualidade.(...) Será uma uma
Universidade de matrícula limitada e de pequena capacidade.”11 A limitação,
além de financeira, passava também pela questão espacial : inexistiam
espaços físicos muito extensos para a construção do campus.

Ficou, assim, reforçada a opção inicial da Comissão pela construção no


bairro da Urca, seguida pela região compreendida nas proximidades da Quinta
da Boa Vista, no bairro de São Cristóvão. (Por outro lado, pode-se já observar
o prenúncio das futuras discordâncias que serão travadas com a Comissão de
Engenheiros e Arquitetos, a ser criada pelo próprio Ministro Capanema.)
Defendendo a opção pela construção da cidade universitária na Praia
Vermelha, argumentava a Comissão de professores ser o Rio de Janeiro:

uma cidade muito espalhada, muito povoada, onde as grandes areas


estão todas occupadas. Construir a Universidade nos subúrbios é
tornal-a não procurada, é trahir o seu destino. Ella se destina a ser

10
CPDOC/FGV – Arquivo Gustavo Capanema – GC g 1935.03.09 r.33 f.273
11
CPDOC/FGV – Arquivo Gustavo Capanema – GC g 1935.03.09 r.33 f. 274
um instituto de elite. Por isso deve ficar no centro, onde a população
é mais densa e mais culta.12

Registre-se, também, a intenção inicial de constituir-se em centro para uma


elite, já que propõe-se a ser modelo às demais, fato, aliás, recorrente na
história da Educação no Brasil, que , até então, sempre havia privilegiado o
ensino superior. Sobre os privilégios dados, historicamente, à Educação
Superior no Brasil, defendia o Prof. Ernesto de Souza Campos que:

há quem pense que pela alfabetização tudo se resolve. Sem decurar


este lado do problema, o nosso maior empenho deve ser o da
formação das elites. Sem elas não poderemos, com eficiência,
explorar, dirigir e fomentar nossas riquezas. Considerem que os
Estados Unidos, com 130 milhões de habitantes, teem quase 400 mil
universitários. Com os nossos 40 milhões, estamos muito longe de
alcançar os 30% que deveríamos ter para ficarmos no mesmo nível. A
França, com quasi a mesma população (42 milhões), tem 82 mil
universitários. O Canadá, com 9 milhões, quase 35 mil e assim por
diante. Que poderá fazer o Brasil se tiver toda a sua população
alfabetizada, mas uma elite insuficiente?(CAMPOS,1940, p.461)

É importante frisarmos que esta concepção de educação superior como


formadora de uma elite dirigente é compartilhada por educadores de diversas
tendências ideológicas. Fernando de Azevedo, representante dos educadores
liberais da Escola Nova , principal redator do manifesto dos Pioneiros da
Educação e organizador da Universidade de São Paulo, também afirmava que
“a preparação das elites intelectuais precedeu, sempre e em toda a parte, à
instrução das massas e que não há salvação para a democracia, senão na
escolha e pela escolha de capacidades.” (PILETTI, 2002, p.80)

Seriam características da Universidade central a qualidade, o tamanho


reduzido e o fato de servir de modelo às demais , já que o Governo federal
não se propunha, com o empreendimento, "satisfazer as necessidades de
ensino da Capital da República, e muito menos, do Brasil. Estas necessidades
devem ser satisfeitas pelos poderes locaes, daqui e dos Estados. O Governo
se propõe a crear um instituto de demonstração do que venha a ser um bom
ensino, um instituto de investigação cultural, de alto padrão, destinado a um
pequeno número de alunos. Deve-se, portanto, começar a investigar, primeiro,
quaes os estabelecimentos de ensino, quaes as escolas, quaes os cursos que
devem fazer parte dessa Universidade. Ahi surge uma questão importante,
12
idem
dado o conceito diverso do que de Universidade se tem feito. Si ficamos na
tradição européia, temos de excluir os cursos de engenharia e todos os
demais cursos chamados technicos, firmando um conceito muito restricto. Si ,
porém, fôr adoptado o conceito americano, teremos de abranger muito mais
cousas”.13

Como elementos de auxílio, estudos e análises à Comissão de


professores, Capenama criou, também, uma subcomissão que organizaria o
Plano da Universidade. Esta subcomissão e o escritório técnico seriam
compostos por arquitetos e engenheiros. As sessões das reuniões eram
sempre presididas pelo próprio ministro Capanema. Em portaria de 17 de
setembro de 1935, a comissão de professores passou a ser denominada
Comissão de Estudos do Plano da Universidade. A subcomissão
organizadora do Plano da Universidade, passou a ser Comissão de
Organização do Plano da Universidade. Comissões especializadas de
caráter consultivo foram também necessárias, dada a complexidade da obra
que deveria receber as faculdades de Direito, Medicina, Engenharia, Belas-
Artes, Filosofia e Educação e Música. Nesta mesma portaria também surgiu
um Escritório do Plano da Universidade, de caráter técnico, onde deveria
funcionar uma comissão composta por arquitetos que cuidariam das questões
pertinentes à parte construtiva dos projetos aprovados.
A existência de diversas comissões para um mesmo empreendimento já
nos sinaliza para os problemas que daí adviriam. Professores, políticos,
engenheiros e arquitetos , com diversas ideologias, interesses e
posicionamentos políticos, muitas das vezes, antagônicos. Estas divergências
não tardariam a se manifestar nas diferentes visões que se tinham de
universidade, e conseqüentemente, do campus que a abrigaria, pois “não há
empreendimento político que, por muito monolítico que possa parecer, não
deixe de ser lugar de defrontações entre tendências e interesses divergentes.”
(BORDIEU, 2001, p.196)

13
Idem
3 UM ARQUITETO E UM LUGAR PARA A CIDADE UNIVERSITÁRIA DA
UNIVERSIDADE DO BRASIL: NAS PRANCHETAS, AS IDEOLOGIAS SE
MATERIALIZAM.

A 13 de junho de 1935, Capanema enviou carta ao Prof. Aloysio Castro,


Embaixador do Brasil em Roma, solicitando indicação de arquiteto para vir ao
Brasil tratar de tão “relevante assunto”, cogitando o nome de Marcello
Piacentini, arquiteto responsável pela construção da cidade universitária da
Universidade de Roma e do prédio do Ministério da Aeronáutica da capital
italiana. Faz referência, ainda, à existência de recursos para o início das obras,
ainda naquele mesmo ano. Em correspondência de 24 de junho de 193514, o
Secretário firmava as orientações que deveriam nortear as informações e
negociações com Piacentini: a intenção do Brasil em instalar na capital “um
núcleo universitário verdadeiramente nacional, aberto aos brasileiros de todos
os Estados”, que seria materializado no bairro da Praia Vermelha, onde deveria
ser “levantada a futura cidade universitária, no molde das que já existem em
alguns países, entre os quaes a Itália”. Para tal empreendimento fazia-se
necessária a presença de um “arquiteto especialista neste gênero de
construção”, que fosse “não somente uma notabilidade de fama universal na
matéria”, como que tivesse ainda, a seu lado, um corpo de técnicos-
profissionais competentes para levar a contento a empreitada. Reconhecendo
que tal profissional inexistia no Brasil, recorria o Ministro à pessoa de Marcello
Piacentini e, por isso, deveria a Secretaria de Relações Exteriores empenhar-
se no convite. O arquiteto deveria estar ciente da “seriedade com que o encara
o Governo Federal, e a disposição em que está de dar ao referido Senhor, para
a fiel execução do plano que se há de assentar, o mais decidido e completo
apoio, fornecendo-lhe, para tanto, todas as facilidades ou recursos
necessários.” Os trabalhos seriam imediatamente iniciados, já que o Governo
Brasileiro tinha intenção de terminar a obra até o final do mandato, em 1938.
Prevendo a possibilidade de compromissos outros por parte do arquiteto,
Macedo Soares sugere que sejam consideradas as possibilidades de técnicos
auxiliares a fim de permitirem a presença do arquiteto no Brasil por períodos

14
CPDOC/FGV – Arquivo Gustavo Capanema – GC g 1935.03.09 r.29 f 530/532
específicos, não necessitando, assim, de sua permanência ininterrupta durante
toda a obra.
Com relação ao Governo Italiano, deveriam ser reforçadas as vantagens
do empreendimento , já que teria “alto e expressivo significado, para a Itália em
geral , e do regime fascista, em particular, uma obra do vulto e da natureza da
que se projecta levantar no Brasil, como a cidade universitária, traçada e
executada pela mão de um architecto italiano.” Não haveria “melhor e mais
duradoura propaganda para a cultura italiana no Brasil do que essa, que
deverá impressionar não somente a geração actual dos nossos universitários,
mas ainda as que de futuro virão, dado o caracter por assim dizer imperecível
da futura cidade dos estudantes brasileiros.” O desejo pela presença de
Marcello Piacentini é tão definido que, terminando o Despacho, Macedo Soares
autoriza os interlocutores com o arquiteto a recorrerem a quaisquer outros
meios de persuasão, “que viessem alcançar o fim desejado.”
O convite feito a Piacentini gerou contestações junto à comissão de
arquitetos e engenheiros. O Presidente do Sindicato Nacional de Engenheiros,
Sampaio Lacerda, encaminhou telegrama a Capanema, em 19 de julho de
1935, protestando contra o pedido do governo brasileiro para a autorização da
vinda de Piacentini, já que no Brasil existiam “técnicos nacionais capazes de
realizarem tal projeto, honrando qualquer nação.”15O Conselho Regional de
Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro encaminhou carta ao Ministro
Capanema referindo-se ao Decreto nº 23.569, de 11 de dezembro de 1933,
que estabelecia que o governo, em todos os seus níveis, só poderia contratar,
para serviços de engenharia, arquitetura e agrimensura, profissionais
diplomados pelas escolas oficiais ou equiparadas no país e que a Constituição
de 1934 vedava aos estrangeiros o exercício de profissões liberais no país.”
Em telegrama de 25 de julho, Capanema informava ao Dr. Sampaio Lacerda
que Piacentini havia sido “convidado a visitar o nosso país para expor-nos os
trabalhos que realizou ao projectar a Cidade Universitária de Roma,
offerecendo assim, dados e sugestões para iniciativa a ser levada affeito, com
os mais altos propósitos do Governo Brasileiro.”16 Vê-se, facilmente, que esta
justificativa de Capanema, na verdade, ocultava as suas reais intenções em

15
CPDOC /FGV – Arquivo Gustavo Capanema – GC g 1935.03.09 r. 29 f. 543
16
CPDOC /FGV – Arquivo Gustavo Capanema - GC g 1935..03.09 r. 29 f.547.
relação aos serviços profissionais do arquiteto, já expressas desde os primeiros
contatos junto a Embaixada Brasileira em Roma, através de Macedo Soares.
O arquiteto Marcello Piacentini chegou ao Rio de Janeiro em 13 de
agosto de 1935, expondo suas idéias e experiências já no mesmo dia à
Comissão de Professores. Após visitar as diversas áreas cogitadas, Piacentini
considerou ser a Praia Vermelha, no bairro da Urca, o local ideal para receber
a Cidade Universitária, embora ressaltando a insuficiência de seu terreno.
Voltou à Itália em 24 do mesmo mês, com o compromisso de retornar ao Brasil
em outubro. Considerando que o bairro da Urca, já durante muitos anos, era
visto como “naturalmente destinado” a receber a Universidade Pedro II, a
indicação de Piacentini não trouxe maiores inovações. Era este local, inclusive,
o preferido pelo próprio Capanema. Além de Piacentini, o engenheiro José
Otacílio de Saboya Ribeiro, em maio de 1935, já afirmava que a Praia
Vermelha seria o local mais indicado “pela tendência histórica, pelas vastas
áreas disponíveis para a instalação dos prédios escolares, campos de
esportes, pavilhões de estudantes, bibliotecas, pelo seu isolamento natural,
pelas proximidades do Centro e pela facilidade de comunicação.” (MELLO
JR.,1985, p.55). Considerando-se que a região preferida apresentava alguns
inconvenientes, sobretudo aqueles referentes à exigüidade do terreno e altos
custos com desapropriações, foi sugerida como segunda possibilidade de
localização, a área próxima à Quinta da Boa Vista.
Para se contrapor à reação negativa junto aos profissionais de
engenharia e arquitetura quanto à vinda de Piacentini, Capanema constituiu
uma Comissão de Arquitetos e Engenheiros brasileiros que deveria dar forma
final ao projeto proposto pelo arquiteto italiano. Esta comissão, que deveria
trabalhar em consonância com a Comissão de Professores, tomou a iniciativa
de sugerir a vinda ao Brasil do arquiteto francês Le Corbusier, grande
influenciador de arquitetos brasileiros, como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
Após diversas análises, a Comissão de Estudos do Plano da Universidade
reconheceu que o local mais adequado à construção seria aquele
compreendido pelas áreas próximas à Quinta da Boa Vista.
As características do terreno da Quinta que a colocariam em posição
privilegiada em relação à Praia Vermelha seriam a maior extensão da área; a
economia no custo de aquisição e de preparação do tereno, quase todo já
pertencente à União; a facilidade de execução do trabalho por estar quase todo
o terreno livre; a posição em relação à cidade, já que a região era quase o
baricentro da metrópole; e facilidades de vida mais barata para os estudantes
pela comunicação com os subúrbios, já que haveria uma estação ferroviária no
interior da Cidade Universitária.
Em 02 de junho de 1936, o Ministro Gustavo Capanema apresentou sua
Exposição de Motivos ao Presidente da República, Getúlio Vargas, a fim de
obter autorização para os trabalhos iniciais da construção da Cidade
Universitária, o que se deu em 16 de junho do mesmo ano. Procurou,
sobretudo, fundamentar a necessidade da autorização para a vinda de
arquitetos como Piacentinni e Le Corbusier, o que possibilitaria maiores
conhecimentos à nossa arquitetura e engenharia. Ainda aqui o padrão
civilizatório europeu influenciava o Estado brasileiro, que procurava expressar
na arquitetura os valores da civilidade e , sobretudo, da modernidade.
Há que se observar, no entanto, que, “dado o clima político da época, é
obvio que o confronto entre as duas comissões, (Professores e Arquitetos e
Engenheiros) , que se reflete no convite duplo a Piacentini e a Le Corbusier,
não era somente em função das diferenças estilísticas entre os dois arquitetos
– o italiano com um estilo tradicional, monumental e pesado, o francês
revolucionando a arquitetura moderna em tantos aspectos, em sua busca de
formas puras e funcionais. Havia um componente profissional, já que Le
Corbusier mantinha contatos com o grupo de arquitetos brasileiros liderados
por Lúcio Costa; e um componente ideológico inegável, dada a dificuldade de
separar a arquitetura italiana daqueles anos do fascismo.”
(SCHWARTZMAN,2000, p.117)
Não foi fácil conseguir a permissão para a vinda de Le Corbusier, já que,
no ano anterior, Piacentini aqui estivera, retornando à Itália com compromissos
firmados junto ao Ministro Capanema. Entretanto, o Ministro, pelas suas
relações próximas a Lúcio Costa, (que participava dos projetos para a
construção do Palácio da Cultura, Sede do Ministério da Educação e Saúde e
era Diretor da Escola de Belas Artes) acabou por levá-lo à presença do
Presidente que, “entre divertido e perplexo diante de tanta obstinação, acabou
por concordar, como se cedesse a um capricho.” (MALHANO,2002, p.166) Le
Corbusier chegou ao Brasil em 13 de julho de 1936. Sua vinda também esteve
ligada à construção do plano do edifício destinado a sediar o Ministério da
Educação e Saúde.17 Suas conferências, orientações e contatos com arquitetos
admiradores de seus trabalhos foram bastante produtivos. Entre eles estava
Jorge Machado Moreira, que anos mais tarde, se tornaria o arquiteto
responsável pela construção dos prédios da Cidade Universitária, na Ilha do
Fundão. Foram diversos os encontros e apresentações entre Le Corbusier e as
Comissões de Arquitetos e Professores da Universidade.
Após diversas análises o arquiteto francês emite parecer sobre a
construção da Cidade Universitária nos terrenos próximos à Quinta da Boa
Vista:

o terreno ocupa um dos anéis do estreito vale de aluviões que


desemboca no rio, entre montanhas muito íngremes. A parte central
está, pois, atravessada pela totalidade de circulações ferroviárias e
rodoviárias que se fundem no interior do Brasil. O primeiro trabalho,
portanto, consistiu em encontrar uma solução impecável para o
grande tráfego e para as conexões com a própria cidade universitária:
trens que levam aos subúrbios, automóveis, caminhões. Uma ampla
plataforma de distribuição, rede de rotas (carros e pedestres) de
distribuição geral da cidade. A conexão com o antigo parque imperial;
o respeito à vegetação existente foram considerados. A busca do eixo
dos edifícios no centro da ampla paisagem (através do vale,
permitindo às montanhas surgirem por todos os lados.·).

Não foi possível o diálogo entre o arquiteto e a Comissão do Plano da


Universidade, composta pelos professores, a despeito de todas as tentativas e
explicações de projetos para a construção do campus nos terrenos da Quinta
da Boa Vista. Alguns destes projetos podem ser encontrados em arquivos do
atual Escritório Técnico da UFRJ (ETU). Foram criticados pela Comissão de
professores o sistema de viadutos previsto, a necessidade de instalação de
aparelhos de ar condicionado em todos os edifícios, a construção destes sobre
pilares, além da criação, no projeto, de institutos não previstos no plano da
universidade. Finalizando o parecer, acrescentou a comissão que por diversas
vezes já havia sido salientado que o problema de composição do organismo
universitário era de ordem educativa. Desta forma, as questões de arquitetura
estariam em plano inferior , principalmente no que se referisse aos aspectos de
doutrina arquitetônica.

17
Atual Palácio Gustavo Capanema, no Castelo, área central da cidade do Rio de Janeiro.
Trata-se de símbolo mundial da arquitetura modernista.
Em setembro de 1936, representando o Instituto Central de Arquitetos,
Lúcio Costa apresentou projeto para a construção da cidade universitária sobre
a Lagoa Rodrigo de Freitas. Para tal, não seriam necessários aterros, já que os
edifícios seriam suspensos sobre estacas, devendo ter a mesma altura
standard com jardins suspensos, sendo cada um dos prédios ligado aos outros
por meio de pontes. Os jardins suspensos seriam cortados por uma grande
avenida aérea que, partindo da rua Humaitá, atravessaria todo o “maciço
universitário lacustre”.
Em carta enviada a Le Corbusier, assim relatou Lúcia Costa sobre seu
intento:

Ontem propus o seguinte ao Ministro Capanema: ao invés de


construir a universidade no terreno escolhido, edificá-la, pura e
simplesmente, sobre a água – como uma verdadeira cidade lacustre,
na Lagoa Rodrigo de Freitas, de que talvez você ainda se lembre. Ele
olhou-me apreensivo: ‘ na água ?’ É que as idéias muito puras – isto
é, sem ligação com o terra a terra das soluções usuais – e muito
precisas, têm o Dom de escandalizar todo mundo. Você o sabe
melhor que nós.
Expliquei-lhe, mais uma vez, seus projetos de urbanização
contemporânea, mostrando que seria a coisa mais fácil do mundo
colocar tudo isso sobre a água, onde os pilotis e viadutos estariam
completamente à vontade, e também que os imensos jardins, nas
coberturas dos prédios protegidos do sol por grandes marquises,
serviriam maravilhosamente para passeios nos intervalos das aulas;
que faríamos, para o lazer dos estudantes e em contraste com a
pureza da arquitetura, ilhas, onde a exuberância da vegetação
tropical poderia espalhar-se livremente – tudo ligado por viadutos e
pontes e naturalmente delimitado pelas bordas da lagoa, além do
quadro magnifíco das montanhas, do céu, do sol, das águas – enfim,
algo de único no mundo e com uma potencialidade lírica digna de
você.
O Ministro citou-me Veneza – mostrei a ele que seria precisamente o
oposto de Veneza e seus corredores aquáticos, pois aqui a superfície
não seria interrompida, prolongando-se, antes, sob as edificações (de
resto, a lagoa tem quase 3 milhões de metros quadrados para os
10.000 m2 previstos para a construção).
Foi ver o lugar comigo esta tarde. A inteligência muito lúcida do
Ministro Capanema parece-me inclinada a aceitar, em princípio, a
idéia. Teme apenas o escândalo da imprensa, a reação da opinião
pública, pouco preparada para aceitar sem gritar propostas tão pouco
convenientes.18

O Escritório do Plano da Universidade, alegando dificuldades técnicas e


o alto custo necessário para tal construção, rejeitou a proposta de Lúcio Costa.
Obviamente o ineditismo da proposta causou surpresa. Uma das objeções

18
O Rio Jamais Visto – Exposição CCBB – 29/10/1998 a 03/01/1999. Concepção e
Coordenação Geral : Alfredo Britto, Ana Luiz Nobre e Lidia Kosovski.
referia-se à péssima qualidade do fundo da Lagoa para fundações, que iriam a
30 metros.
Ainda neste mesmo mês de setembro de 1936, Capanema designou
comissões para que definissem a localização, face as indecisões entre a Praia
Vermelha e a Quinta da Boa Vista. Para a primeira, foram considerados os
custos com aterros, transferências, construções, desapropriações de
propriedades particulares do bairro, remoções e demolições. Para os terrenos
próximos à Quinta da Boa Vista foram considerados os custos com construção
de um túnel, necessidade de desmonte do morro dos Telégrafos, remoções de
imóveis municipais e federais, além de desapropriações e remoções de favela.
Sobre esta área, a despeito da sua superioridade em extensão territorial, foram
muito consideradas as dificuldades com as desapropriações de imóveis
federais, a topografia irregular e, sobretudo, a malha ferroviária da Estrada de
Ferro Central do Brasil. Quanto à Praia Vermelha, pesavam negativamente a
escassez do terreno e o alto custo das desapropriações.
Os estudos implementados pela comissão concluíram que ambos os
locais estariam aptos a sediarem a cidade universitária, conforme também já
havia sido assinalado por Piacentini. Para tal, seriam gastos aproximadamente
41.000 contos com desapropriações na Praia Vermelha, contra 18.000 na
Quinta. Além deste aspecto, a área disponível na Quinta era de 2.300.000
metros quadrados, contra 1.300.000 da Praia Vermelha. Acrescente que o
preparo de terreno na primeira giraria em torno de 55.000 contos, e de 85 a
95.000 contos na segunda. Após estes levantamentos, a Comissão optou pela
construção nos terrenos da Quinta da Boa Vista : “Fazendo um balanço geral
das vantagens e desvantagens peculiares a cada um dos dois pontos indicados
a Comissão Especial inclinou-se para a solução dos terrenos anexados à
Quinta da Boa Vista19, atendendo sobretudo às condições práticas de
execução, naquele local, do programa construtivo elaborado. (...) São nossos
votos, porém, que estas realizações se efetivem dentro do mais breve prazo
possível.” (CAMPOS,1940)

19
Quinta da Boa Vista e adjacências : refere-se à zona compreendida entre a própria Quinta,
as ruas São Francisco Xavier, são Luiz Gonzaga e morro do Telégrafo, sendo este totalmente
ocupado.
Após a definição do local, foi instituída nova Comissão, formada por
engenheiros e arquitetos, a quem caberia a elaboração dos projetos e
orçamentos relativos à construção. Também foram designados juristas que se
encarregariam dos estudos legais sobre a questão de desapropriações das
áreas e imóveis. A subcomissão do Escritório do Plano da Universidade passou
a elaborar uma série de programas para a construção, distribuídos em diversas
fases. Na primeira fase estariam sendo providenciados os estudos e projetos
para as construções dos prédios da Escola de Filosofia, Ciências e Letras;
Escola de Educação; do Instituto de Psicologia Experimental; do Instituto de
Fonética; da Escola de Direito; Escola de Ciências Sociais, Políticas e
Econômicas; Escola de Medicina; Escola de Farmácia; Escola de Odontologia;
Escola de Saúde Pública; Escola de Enfermagem; do Instituto das Ciências
da Individualidade; Escola de Engenharia; Escola de Química; Instituto de
Física; Escola de Arquitetura; Escola de Belas Artes; Escola de Música;
Edifício da Reitoria; Edifícios da Biblioteca e da Imprensa Universitária; e
finalmente, dos Clubes e do Diretório Central dos Estudantes.
Após o retorno de Le Corbusier, à França, Lúcio Costa, e sua equipe20
apresentaram, em 1937, anteprojeto para a construção, ainda na Quinta:
Primeiro, um conjunto de edifícios de caráter monumental, ricos de
expressão plástica; a seguir, entre a Quinta e o morro, em cadência,
as escolas, e, fechando a composição, a massa imponente do
hospital. (...) Diante de um partido tão simples, poder-se-ia recear
certa monotonia. Tal não se dá, porque, sem embargo da
uniformidade do conjunto – e na paisagem atormentada do Rio a
maior sobriedade plástica, com o predomínio do horizontal, se impõe
– a variedade de impressões para quem percorre a Universidade
desde o pórtico até o hospital, é grande. (...) A esquina da av.
Maracanã com a rua Derby é, evidentemente, mesquinha para dar
acesso à Cidade Universitária. Torna-se necessário criar ali uma
grande praça, ao fundo da qual será então erguido o pórtico de
grandes proporções e singeleza, marcado apenas por um figura de
caráter monumental. Já nos foi perguntado que significa tal figura.
Pode significar qualquer coisa – desde todo o Brasil até “um homem”,
simplesmente – é-nos completamente indiferente e se entrarmos
nestes detalhes é porque ilustram as considerações acima expostas:
o que nos interessa como arquitetos é que naquele ponto –
precisamente naquele ponto e não em outro qualquer – exista
determinado volume marcando a entrada (...) e esta figura não esta
ali apenas para enfeitar, como um simples objeto, mas porque não se
pode dela prescindir. Vencido o pórtico, estamos na grande praça
onde sobressaem o edifício da Reitoria e a Biblioteca, e o grande
Auditório de Le Corbusier e P. Jeanneret, vendo-se no último plano a
horizontal das primeiras escolas. A impressão de serenidade e

20
Lúcio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer, Firmino Saldanha, José de Souza
Reis, Jorge Machado Moreira e Angelo Brunhs.
grandeza que se tem revela, ainda aqui, a presença da arquitetura.
Obedece o projeto à técnica contemporânea, por sua própria
natureza eminentemente internacional – poderá no entanto adquirir,
naturalmente, graças às particularidades de planta, como as galerias
abertas, os pátios etc., à escolha dos materiais a empregar e
respectivo acabamento (muros de alvenaria de pedra rústica, placas
lisas de gnaiss, azulejos sob os pilotis, caiação ou pintura adequada
sobre o concreto aparente, etc) e graças, finalmente, ao emprego da
vegetação apropriada – um caráter local inconfundível, cuja
simplicidade, derramada e despretensiosa, muito deve aos bons
princípios das velhas construções que nos são familiares.21

A proposta de Lúcio Costa e sua equipe foi novamente recusada pelas


comissões. Já se observava que, diante da estrutura montada em diversas
comissões, o empreendimento poderia não se concretizar. Comissões
diferentes tratando do mesmo assunto. Estavam no ar e na prancheta
diferentes ideologias e as idéias refletiam aí os interesses de grupos que se
confrontavam. O modelo de universidade a se criar e a escolha definitiva do
local a se construir a sua cidade universitária também se colocavam como um
ato político e ideológico, e assim, revelavam relações de forças definidas,
medidas e reguladas pela pressão dos grupos envolvidos no empreendimento.
Desapontado e revoltado com a nova recusa, em carta enviada ao
ministro Capanema, em setembro de 1937, desabafou Lúcio Costa :

Agora que tudo já parece bem “arrumado”, venho lhe dizer o quando
dói ver uma idéia alta e pura como essa da criação da Cidade
Universitária, tomar corpo e se desenvolver assim desse jeito.
Quando, há dias, tomei conhecimento do relatório e verifiquei que
tudo não passava de pura mistificação, quis exigir um inquérito,
protestar, gritar contra tamanha injustiça e tanta má fé. Logo
compreendi, porém, a inutilidade de qualquer reação e que, quando
muito iria servir mais uma vez de divertimento à maldade treinada dos
“medalhões”. Não vejo, portanto, Dr. Capanema, neste meu
alheamento, a aceitação das críticas absurdas que o relatório contém,
nem a intenção, em outras circunstâncias louvável, de querer evitar
maiores embaraços à sua ação, mas, tão-somente, a certeza –
desamparado como me sentia- de que tudo seria vão. E o mais triste
é que enquanto se perseverar, durante anos e anos, na construção
dessa coisa errada, estará dormindo em qualquer prateleira de
arquiteto a solução “verdadeira” – a coisa certa. (SCHWARTZMAN,
2000, p.119)

A 5 de julho de 1937, a partir da Lei nº 452, nasceu oficialmente a


Universidade do Brasil, criada a partir de transformações na Universidade do
Rio de Janeiro. Seria composta de 15 escolas e Faculdades22, além de 16

21
O Rio Jamais Visto – Exposição CCBB
22
As Escolas e Faculdades eram : Filosofia, Ciências e Letras, Educação, Engenharia, Minas e
Metalurgia, Química, Medicina, Odontologia, Farmácia, Direito, Política e Economia,
Institutos colaboradores, que deveriam estar reunidos em um mesmo lugar,
mais precisamente, nas áreas da Quinta da Boa Vista, com cerca de dois
milhões e trezentos mil metros quadrados. Em sua Cidade Universitária
estariam também presentes a Reitoria, Biblioteca, Auditório, bem como as
áreas destinadas à Educação Física (incluindo um estádio e piscinas), além da
área residencial para funcionários e o equivalente a um décimo do corpo
discente. Os jardins da Quinta seriam incorporados à Universidade.
A mesma Lei, em seu artigo 15 do Capítulo IV – Da edificação
progressiva da Universidade do Brasil - também instituiu a Comissão do Plano
da Universidade do Brasil, composta de professores catedráticos e outros
técnicos. Caberia a esta comissão a superintendência da elaboração dos
programas, a organização dos projetos e a excecução das obras necessárias à
edificação dos prédios da Universidade. Tais projetos, dispunha a Lei,
deveriam ser feitos por engenheiros civis, arquitetos e urbanistas brasileiros.
Em outubro de 1937, já nas vésperas do golpe que instituiu o Estado
Novo, Capanema extinguiu a comissão de engenheiros e arquitetos. Retomou,
a partir daí, contatos com Marcello Piacentini, solicitando a elaboração final do
projeto para a construção da Cidade Universitária na Quinta da Boa Vista.
Piacentini, impedido de retornar ao Brasil, recomendou a Capanema o arquiteto
Vittorio Morpurgo, que aqui chegou em fins de 1937. Deveria ele rever os
projetos já apresentandos ou em andamento, elaborando os planos finais da
Cidade Universitária. Previu o arquiteto italiano em seu anteprojeto que a
Praça da Reitoria seria grandiosa, medindo 225 x 160 metros, em torno da qual
estariam organizados, além do Palácio da Reitoria, os edifícios das Faculdades
de Ciências e Letras , constituindo o centro urbanístico fundamental da Cidade
Universitária. Haveria também um Estádio Olímpico, com capacidade para
cinquenta mil espectadores, podendo chegar a setenta mil. Já na parte mais
alta do Morro do Telégrafo, seria construído um observatório astronômico.
No entanto, ainda voltaram à tona as discussões para que novos
estudos de localizações fossem reiniciados. Referindo-se à Lei 452, de 5 de

Agronomia, Veterinária, Arquitetura, Belas Artes e Música. Os Institutos colaboradores eram :


Museu Nacional, Física, Eletrotécnica, Hidro-Aéreo-Dinâmica, Mecânica Industrial, Ensaio de
Materiais, Química e Eletroquímica, Metalurgia, Nutrição, Eletro-Radiologia, Biotipologia,
Psicologia, Criminologia, Psiquiatria, História e Geografia e ainda o Instituto de Organização
Política e Econômica.
julho de 1937, que instituiu a Comissão do Plano da Universidade do Brasil,
definindo o local para a construção na Quinta da Boa Vista, o Diretor da
Estrada de Ferro Central do Brasil colocou-se contrário à localização, alegando
que tal escolha restringiria as possibilidades de ampliação do principal tronco
da malha ferroviária, já deficiente naquela época. Também pronunciou-se
contrário à localização o Ministério da Viação e Obras Públicas, que considerou
tecnicamente desaconselhável o deslocamento das subestações
transformadoras e das oficinas da Via Permanente da Estrada de Ferro.
Grandes também foram considerados os gastos necessários à construção de
novas sedes para todos os órgãos públicos federais, municipais, civis e
militares, que teriam seu deslocamento forçado pela grande obra. Além do
mais, seriam necessárias as desapropriações de mais de mil famílias (“378
residências particulares e 883 barracões de famílias pobres”).
Diante dos fatos sucedidos, Victorio Mopurgo retorna à Itália e Piacentini
demonstra, em carta ao ministro, grande insatisfação com a demora e a
sucessão de contratempos. Foram, assim, reiniciados novos estudos para a
definição da escolha do local a ser destinado ao campus da Universidade do
Brasil. Foram reconsiderados os terrenos da própria Quinta, Gávea23, Piedade,
Niterói24 Manguinhos, Jacarepaguá25 e, agora também, Vila Valqueire26 , bairro
do subúrbio carioca próximo à região Militar do campo dos Afonsos, que ainda
não fora cogitado anteriormente. Manguinhos e Vila Valqueire passaram a ser
considerados como áreas tecnicamente mais adequadas.27 No entanto, a
Comissão do Plano da Universidade, após análises de todos os pareceres,
continuou optando pela construção na área da Quinta da Boa Vista.
Em 1943, o Ministro Capanema dirigiu-se ao Presidente da República
através de mais uma Exposição de Motivos. Afirmando que nenhum dos locais

23
Área compreendida pelas imediações da Praça Comandante Celso Pestana, Rua Golf Club,
Rua Capury e Estrada da Gávea.
24
Estrada de Maricá
25
Área de 1.210.640 m2 compreendida entre as ruas Cândido Benício, Maranga, Baronzeza,
Adelaide, Florianópolis e Albano.
26
Região compreendida pela Estrada Intendente Magalhães, Ruas da Camélia, Dhalias,
Verbenas, Jasmins, Azaléas, Luís Beltrão, Rosas, Bore, Aruanã, Urucuia, incluindo área de
Reserva Florestal.
27
Merecem pesquisas mais aprofundadas as razões “técnicas” que consideraram a melhor
adequação de Manguinhos e Vila Valqueire ao projeto. A primeira, naquele momento, estava
próxima à maior concentração industrial da cidade. Já a segunda área, mais distante, poderia
ter, com a Cidade Universitária, maiores possibilidades de desenvolvimento local num contexto
de expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro.
indicados atendiam satisfatoriamente aos seus objetivos, somente as áreas
próximas a Manguinhos e Vila Valqueire poderiam comportar a cidade
univeristária, sendo que a primeira perderia para a segunda em função de
serem necessários trabalhos especializados de aterramento, com aparelhagem
mecânica difícil de se conseguir . É conveniente ressaltarmos que, nesse
período, o mundo passava por sua II Grande Guerra e as importações de bens
de capital foram severamente restringidas. Na capital brasileira, estavam em
andamento as obras para a construção da Avenida Brasil, principal artéria que
ligaria as áreas centrais da cidade aos subúrbios, bem como permitiria o
melhor fluxo de mercadorias para as estradas que ligavam o Rio de Janeiro a
São Paulo e à Região Serrana do Estado do Rio. Projetos de urbanização
remodelavam o espaço, sobretudo nas áreas centrais da cidade. Ampliando e
procurando modernizar o centro da cidade, a Avenida Presidente Vargas traria
profundas transformações ao espaço, expulsando parcela significativa da
população pobre da Praça Onze e do Estácio, que se dirigiriam para os
subúrbios ou para as favelas.
Em março de 1944, Capanema enviou nova Exposição de Motivos à
Presidência da República, sugerindo novas alterações na organização e
composição das estruturas definidoras da construção da Cidade Universitária.
Propunha que : I) fosse organizado, sob direta dependência do DASP, um
escritório especial para assumir o encargo de plena realização dos projetos de
construção da Cidade Universitária; II) junto a esse escritório funcionasse uma
delegação do Ministério da Educação e Saúde para apresentação de dados e
estudos de natureza propriamente universitária; e III) fosse consignada dotação
apropriada no orçamento de 1945 para atender às despesas.
A 8 de junho de 1944, o Decreto 6.574, dispondo sobre a localização
da Cidade Universitária, declarou de utilidade pública os prédios e terrenos da
área de Vila Valqueire, local agora escolhido para o empreendimento. Estava
revogado o artigo 10, parágrafo único, da Lei 452, de 5 de julho de 1937. A 21
de junho, o Ministro da Fazenda opinou pelo adiamento das obras, em virtude
dos pesados encargos do Tesouro, a necessidade premente de se combater a
inflação em tempos de guerra, bem como ao fato de “serem altamente anti-
econômicos todos os investimentos realizados nesta fase.”
Gustavo Capanema não conseguiu iniciar os trabalhos de construção da
cidade universitária, talvez seu maior desafio durante o tempo em que esteve à
frente do Ministério da Educação e Saúde. Não conseguiu superar a
burocracia estatal , as dificuldades econômicas decorrentes da Guerra, bem
como – e talvez, principalmente - as reações provenientes dos diversos grupos
envolvidos no projeto, sobretudo aquelas decorrentes dos “embates” entre
acadêmicos e engenheiros e arquitetos. Por outro lado, não conseguiu
encontrar um local que satisfizesse todas as exigências impostas pelas
diversas comissões, mas sua contribuição foi fundamental para a longa história
de implantação da instituição universitária no país.
Diante de tantas dificuldades,28 expressas na Exposição de Motivos de
Capanema a Vargas, em 30 de dezembro de 1944, foi assinado o Decreto
7.217, que extinguia, no Ministério da Educação e Saúde, a Comissão do Plano
da Universidade do Brasil, e criava na Divisão de Edifícios Públicos do
Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), o Escritório Técnico
da Cidade Universitária da Universidade do Brasil (ETUB)29. As decisões,
agora, além de técnicas, estariam submetidas diretamente ao Governo. Para a
direção do ETUB, foi nomeado o engenheiro civil Luiz Hildebrando de Barros
Horta Barbosa.
Foram reavaliados pelo diretor todos os estudos já feitos, passando o
mesmo a ouvir novamente diversas personalidades e autoridades no assunto.
Foi aí que ganhou força a opinião de especialistas, representados por Jorge
Oscar de Melo Flores, de se construir , não somente a cidade universitária,
como também o próprio terreno que a receberia, já que todos aqueles
analisados até então, se mostraram inadequados. Para tal, apontou-se uma
solução : a unificação de várias ilhas fronteiras à área de Manguinhos :
Catalão, Cabras, Baiacú, Fundão, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Bom
Jesus e Sapucaia. Nascia, assim, a idéia de construção da Ilha Universitária.
Tal idéia foi reforçada pelas próprias transformações urbanas que se
processavam na cidade do Rio de Janeiro. Além da construção da Avenida
Brasil , toda a área da Ilha do Governador passava por grandes

28
O processo para a escolha já se arrastava desde 1935, portanto há quase 10 anos.
29
A vinculação direta do ETUB ao DASP durou quase 20 anos. Somente em 10 de setembro
de 1964, pela Lei 4.402, o escritório passou a fazer parte da própria Universidade.
transformações, principalmente com a construção da Base Aérea do Ministério
da Aeronáutica. As reações contrárias foram novamente capitaneadas pelo
novo Ministro da Educação e Saúde, Ernesto Souza Campos, ex-membro da
Comissão de Professores do Plano da Universidade. Mas, a 20 de outubro de
1948, a Lei nº 447, oficializou a escolha insular para receber, finalmente, o
campus da Universidade do Brasil.

REFERÊNCIAS

As Fontes primárias (documentos de arquivo) foram pesquisadas no Arquivo


Gustavo Capanema , do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação
Getúlio Vargas (CPDOC/FGV)

BORDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2001.

CAMPOS, Francisco. Educação e Cultura. Rio de Janeiro: José Olympio,


1940.

CHAVES, Klauss Alberto. Três Projetos para uma Universidade do Brasil.


Rio de Janeiro, 2002. 250f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2002.

MALHANO, Clara Emília Sanches M. Da materialização à legitimação do


passado. Rio de Janeiro: Lucena/ FAPERJ, 2002.

MELLO JÚNIOR.,Donato. Um campus universitário para a cidade. Do histórico


campus da Praia Vermelha à Ilha Universitária da UFRJ: a busca de um corpo
para alojar a alma da universidade brasileira. Arquitetura Revista, Rio de
Janeiro, v.2, 1º semestre.1985.

PILLETTI, Nelson. História da Educação no Brasil. São Paulo: Ática, 2002.

SCHWARTZMAN, S., BOMENY, H.M.B., COSTA, V.M.R. Tempos de


Capanema. Rio de Janeiro: FGV/Paz e Terra, 2000.
INTERFACES DA MEMÓRIA NA INTERNET: O CASO DE UM
ACERVO DIGITAL

Camila Guimarães Dantas1

RESUMO:

As novas tecnologias da informação vêm transformando não apenas a nossa relação com o
presente imediato. As formas de reelaboração do passado, próprias da memória social das
sociedades contemporâneas, também estão sendo modificadas a partir da introdução das mais
diversas formas de registro e armazenamento do passado social. Em que medida a internet
trouxe rupturas significativas com as formas tradicionamente utilizadas nas sociedades
ocidentais de perpetuar o passado? O objetivo deste trabalho é justamente aprofundar esta
questão a partir do estudo de um acervo construído exclusivamente na rede mundial de
computadores. O acervo criado pela rede BBC ( Londres) sobre a Segunda Guerra Mundial , que
hoje conta com mais de quarenta mil testemunhos, será a nossa via de acesso privilegiada para
estudarmos esta questão. A partir deste estudo concluímos que a nova tecnologia traz
simultâneamente permanências e descontinuidades, que devem ser prescrutadas de modo
interdisciplinar.

Palavras-chave: Memória, internet, acervo digital.

1
Graduada em História pela UFRJ e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Memória
Social (PPGMS) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). E-
mail:camilagdantas@yahoo.com.br.
1 INTRODUÇÃO

1 http://www.cybergeography.org/atlas/caida_AS_Network_large.gif (acessado
em julho de 2006).

A imagem acima é uma visualização do ciberespaço realizada por um


grupo de pesquisa da Universidade da Califórnia2, que contou com o
desenvolvimento de uma tecnologia específica para o mapeamento das
conexões na rede mundial de computadores. Este mapa é fruto de uma
pesquisa realizada entre 4 e 17 de abril de 2005 com uma amostragem de
926.201 endereços (IP) e mais de dois milhões de links rastreados. Esta
visualização procura mostrar as relações geográficas das conexões, apontando

2
Cooperative Association for Internet Data Analysis (CAIDA) do San Diego Supercomputer
Center.
por exemplo uma maior relação entre a América do Norte e a Europa e a Ásia do
que entre estes dois últimos continentes. Certamente, trata-se de um resultado
inicial que revela uma busca por uma linguagem visual para um espaço ainda
difícil de ser expresso através de um vocabulário geográfico já estabelecido3.
Mais do que fornecer informações, esta imagem parece nos dizer o quanto esta
rede visitada, ampliada e compartilhada neste planeta ainda é pouco conhecida.
Quais são os principais nós da rede? Que instrumentos podem ser utilizados
para mensurar um espaço que é fluido? Que sinais visuais podem ser utilizados
para descrever os fenômenos típicos do mundo virtual? Estas são algumas das
interrogações que podemos nos fazer ao olhar este mapa. Não é nosso objetivo
nesta parte enveredarmos na complexidade filosófica sobre a rede4, mas torna-
se relevante estabelecer alguns pontos de referência, pois é neste espaço
composto por bits virtuais onde se localiza o acervo digital que será o foco da
presente comunicação.
Estudos recentes sobre as tecnologias da informação estão longe de
repetir os diagnósticos apressados expressos em reportagens de algumas
décadas atrás, que apontavam para uma ruptura geral com todos os modos de
vida anteriores à internet. O sociólogo Manuel Castells, autor de uma trilogia de
fôlego sobre as sociedades contemporâneas, afirma na sua obra mais recente
“A Galáxia da internet”, que “a velocidade da transformação tornou difícil para a
pesquisa acadêmica acompanhar o ritmo da mudança com um suprimento
adequado de estudos empíricos sobre a economia e sociedade baseadas na
internet. Tirando proveito desse vácuo relativo de investigação, a ideologia e a
boataria permearam a compreensão dessa dimensão fundamental das nossas
vidas”5. Hoje, se ainda não podemos afirmar existir um vasto conhecimento
sobre a internet, por outro lado é possível indicar algumas direções a partir de
pesquisas já realizadas que não ratificam os alardes utópicos nem tampouco as
visões exageradamente pessimistas.

3
Sobre outras formas de visualização do ambiente virtual ver o Atlas do Ciberespaço, em:
http://www.cybergeography.org/ ( acessado em janeiro de 2006).
4
Ver sobre estas questões: Kastrup, Virginia. A rede : uma figura empírica da ontologia do
presente. In: Parente, André. (org.). Tramas da rede. Porto Alegre, Sulina, 2004 (p.80-91).
5
CASTELLS, M. A Galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
Se já é possível falar em uma “galáxia da internet” é preciso notar que
talvez ela esteja ainda numa órbita do universo de Guttenberg. Para Robert
Darnton, o futuro previsto por Marshall MacLuhan não se realizou. A internet, a
televisão e outras mídias que nos bombardeiam de informações o tempo todo
não levaram à extinção o mundo da escrita. Não se pode, portanto, falar em uma
autonomia do mundo digital frente à escrita. Esta é uma perspectiva convergente
com a maioria dos estudos recentes sobre a internet, ou seja, trata-se de tentar
mapear as novas configurações sem, no entanto, partir do princípio de que uma
nova tecnologia implique necessariamente em mudanças radicais6.
O livro de Castells apresenta um panorama do estado de conhecimento
atual sobre o que o autor denomina de “sociedade da informação” ou
“sociedade em rede”, trazendo importantes referências para um melhor
mapeamento deste território. Os dados selecionados por Castells são
fundamentais para se ter a dimensão do alcance do novo meio de comunicação.
Desde os tempos já mitificados do Vale do Silício até os dias atuais, o
crescimento vertiginoso do número de usuários correspondeu igualmente a uma
distribuição geograficamente desigual. Em 2000, dentre 2.500 cidades
selecionadas para analisar a localização dos domínios na internet, as cinco
primeiras, reunindo 1% da população mundial, abrigavam 20,4% dos domínios.
As 500 primeiras cidades, por sua vez, com 12,4% da população mundial,
representavam 70% dos domínios da internet. Estes dados mostram a
proporção da chamada “exclusão digital”. Neste mundo de economia global,
estar desconectado não representa apenas uma perda tecnológica, porque a
internet vem se tornando uma “forma organizacional que distribui informação,
poder, geração de conhecimento e capacidade de interconexão em todas as
esferas de conhecimento”7 .

6
Darton expressa, com uma certa ironia, sua posição no seguinte trecho: “The electronic age did
not drive the printed word into extinction, as McLuhan prophesied in 1962. His vision of a new
mental universe held toghether by post-printing technology now looks dated. If it fired
imaginations thirty years ago, it does not provide a map for the millenium that we are about to
enter. The ‘Guttenberg Galaxy’ still exists and ‘typographic man is still reading his way around
it”.Ver, Darton, R.”The new age of the book” The New York Review of the Book, vol. 46, n.5,
1999.Disponível em www.nybooks.com/articles/546 (acessado em dezembro de 2005)
7
Castells, M. Op. Cit. (220)
A rede mundial de computadores adquiriu proporções gigantescas nas
últimas décadas numa velocidade vertiginosa. As implicações de um avanço
tecnológico tão significativo quanto desigual tem preocupado não apenas os
pesquiadores acadêmicos. O tema do relatório anual da Unesco de 2005 –
onde são expresssas as propostas de atuação do órgão internacional - foi
8
justamente “a sociedade da informação” . Neste documento, pode-se encontrar
dados importantes sobre a expansão digital. A porcentagem da população
mundial que tem acesso a internet é de apenas 11%, de acordo com o
documento. Deste contigente, 90% são habitantes dos países mais
industrializados da Europa (30%), da Ásia (30%) e da América do Norte (30%).
Uma idéia central do relatório é que a desigualdade tecnológica acaba
ampliando as desigualdades econômicas e sociais do mundo, daí a construção
de um discurso contra a desigualdade digital. Aliás, é justo lembrar a existência
de um ativismo em prol do livre acesso às tecnologias e à informação. Não
apenas os primeiros criadores e usuários da rede eram inspirados em uma
utopia libertária, mas também ao longo das décadas é possível verificar alguns
movimentos neste sentido como as comunidades virtuais contra a desigualdade
digital9 , os grupos que defendem a suspensão do direito autoral das obras de
arte10 e o surgimento do sistema operacional Linux criado por Linus Torvalds,
então um universitário finlandês, e desenvolvido através da cooperação via
internet11.
A apreciação de alguns dados gerais sobre este universo das redes de
informação não tem por objetivo conduzir a um levantamento detalhado sobre o

8
Ver: http//www.unesco.org/publications (acessado em janeiro de 2006).
9
Ver, por exemplo o caso do Digital Divide Network que congrega membros de mais de 50
países e disponibiliza blogs, lista de discussão e interação entre aqueles que estão engajados
neste projeto político. Ver, http://www.digitaldividenetwork.org/ (acessado em janeiro de 2006).
10
Há uma ampla discussão sobre os direitos autorais, a livre circulação da informação e o
domínio público das obras digitais. No website do Instituto Brasielrio de Ciência, Tecnologia e
Informação (IBCT) encontram-se disponíveis documentos sobre o tema. Ver, http://www.ibict.br/
(acessado em janeiro de 2006). Além disso o portal da Unesco possui informes sobre a o
Programa de Informação para Todos e foruns de discussão sobre o tema. Ver,
http://www.unesco.org.br/areas/ci/ci_programas/mostra_pasta (acessado em janeiro de 2006).
11
Há um verbete sobre Linus na Wikipédia, a enciclopédia eletrônica elaborada por usuários da
internet e de livre-acesso que recentemente passou por um teste de qualidade da Revista Nature
e ficou na mesma posição da Barsa.Ver, http://en.wikipedia.org/wiki/Linux#History ( acessado em
janeiro de 2006).
tema, nem tampouco fornecer uma análise conclusiva sobre as polêmicas ainda
em curso. Ao abordar algumas facetas deste mundo digital, pensamos poder
evocar algumas referências importantes para a compreensão da nossa
problemática. Investigar as reelaborações da memória e da história presentes
em um acervo digital na internet implica estar atento as configurações que já
estão se delineando neste espaço bastante fluido.

2 TESTEMUNHOS ONLINE: O ACERVO DA BBC

A partir de um percurso de buscas na rede mundial de computadores


identificamos no arquivo digital elaborado pela BBC um material rico para ser
analisado. Trata-se de um acervo constituído de relatos realizados via internet
sobre a II Guerra Mundial. Embora o arquivo incorpore fotos e manuscritos
digitalizados, o próprio acervo só existe na rede. Não há uma instituição
depositária e a forma de coleta e organização do material está relacionada com
a tecnologia digital, como veremos a seguir.
Colocar em primeiro plano as transformações, os elementos móveis
apresentados por estas novas práticas de escrita e leitura não significa deixar de
abordar as continuidades. Aliás, importa dizer que uma navegação investigativa
na internet, tendo como alvo websites de museus, arquivos e outras instituições
relacionadas à construção da memória social, nos legou uma primeira impressão
carregada de continuidades. Longe de utilizarem a tecnologia como propulsora
de novas práticas, o que implica esforço criativo e investimentos financeiros em
equipamentos e profissionais especializados, a maior parte das páginas
consultadas constituíam-se de textos e imagens ilustrativas. Algumas
instituições colocam a disposição seus catálogos de pesquisa e é possível
encontrar um vasto manancial de documentos digitalizados. Sem dúvida alguma
a capacidade de reprodução técnica da rede vem sendo utilizada, o que propicia
uma facilidade para os pesquisadores de diversas áreas de conhecimento.
Porém, são ainda exceções as utilizações diferenciadas ou que propõem uma
descontinuidade com os modelos textuais já estabelecidos.
A proposta ao escolher este acervo é focalizar as novas configurações que o
suporte e a sua utilização podem assumir, assim como identificar as
semelhanças com as formas tradicionais de perpetuação de memórias sociais.
O WW2 People`s War (www.bbc.com.uk) foi criado em meio às comemorações
dos 60 anos do fim do conflito. Em junho de 2003, foi iniciado o projeto que
buscava ser um depositário dos testemunhos daqueles que viveram durante a
Segunda Guerra ou dos que numa segunda geração tiveram contato com as
memórias do conflito. O website foi um sucesso e obteve no final de 2004 e ao
longo de 2005 o apoio de uma rede de museus, bibliotecas e centros
comunitários que se engajaram no projeto com o principal objetivo de possibilitar
uma assistência tecnológica aqueles que não poderiam por si só executar o
registro (sobretudo os idosos que não possuíam uma familiaridade coma
informática). Além disso, uma comunidade virtual de voluntários se constituiu
com o objetivo de filtrar determinados conteúdos, principalmente os de caráter
racistas, e ao mesmo tempo de propiciar uma utilização pela comunidade e
escolas do acervo em criação.
Durante dois anos, o WW2 People`s War registrou 48 mil relatos nos quais
estão disponíveis, além de textos, 15 mil imagens (fotos e outros documentos
históricos). Neste período o portal funcionou como um acervo aberto, uma vez
que cada membro poderia reescrever ou acrescentar novos conteúdos todos os
dias. Cada entrada do acervo possuía um espaço para mensagens de outros
membros o que gerou um fluxo de diálogos e algumas polêmicas. Além dos
filtros automáticos o portal contava com moderadores e a equipe de voluntários
para arbitrar as polêmicas.
2. http://www.bbc.co.uk/ww2peopleswar (acessado em dezembro de 2005)

Como vemos no espelho de abertura do arquivo, em versão reduzida


acima, há três principais divisões que correspondem às secções de
contribuições, de leitura do arquivo e de pesquisa, que possui material
informativo (bibliografias e artigos, por exemplo). A interface do portal
possibilitava ao usuário a edição dos relatos já realizados Isso significa que este
arquivo digital possuía uma organização diversa daquela encontrada em
arquivos comuns ou mesmo em acervos que foram apenas digitalizados e
colocados na internet. A existência de fóruns para debate, por sua vez, gerava
uma circulação de informações que propiciava as releituras dos escritos. Uma
apreciação apressada deste dado poderia levar a crer que a diretriz editorial
deste arquivo estaria em sintonia com os postulados pós-modernos que
enfatizam, sobretudo a fragmentação da informação e a inexistência de uma
realidade histórica12. No entanto, o enquadramento da informação textual e
imagética do site, assim como as instruções fornecidas aos usuários
contradizem tal suposição. No editorial há uma defesa explícita da necessidade
de um relato autêntico, honesto, que conte exatamente o que aconteceu. Um
exemplo é a seguinte passagem contida numa página de instruções para os
novos membros da comunidade virtual:

This is the most important thing about any story on this site: we want it
to be a genuine account of the times. (...) We want you to tell it as it
was. The world of today is a long way from that of 1939-45. People live
differently and wars are fought differently. We hope that this website will
help future generations understand the connections between their world
and that of WW2”(grifo nosso)”

Isto é o mais importante acerca de qualquer relato deste site. Nós


queremos que ele seja um testemunho genuíno do passado…Nós
queremos que você conte como realmente aconteceu. Hoje
estamos muito distantes do mundo de 1939-45. As pessoas vivem
de um modo diferente e as guerras ocorrem também de um modo
diferente. Nós esperamos que este website ajude as futuras gerações a
entender as conexões entre o seu mundo e aquele da Segunda Guerra
Mundial.”13

Embora a equipe editorial do website explicite em várias passagens do


texto a existência de múltiplos pontos de vista, e disponibilize uma advertência
formal de que o conteúdo dos textos são de responsabilidade dos autores, está
explícito no trecho acima a crença numa verdade histórica quase absoluta. Uma
proposta deste estudo será tentar rastrear de que forma este pressuposto se faz
presente nos debates virtuais e de que forma os membros da comunidade
respondem a esta diretriz.
Outro aspecto que deverá ser cotejado são as especificidades da
interface. Por exemplo, cada relato só pode ter no máximo 3 000 palavras, ou
então estar subdividido em secções (cada uma com até 3000 palavras). A
equipe editorial recomenda, porém, que os relatos não ultrapassem duas laudas,

12
Sobre a convergência entre os usos da hipertextualidade e os postulados pós-modernos, que
abordaremos com mais atenção no segundo capítulo, ver Minuti, Rolando. “La comunication
historique `a l’age de l’internet” (p100-104) In: Internet et le métier d’historien. Paris, PUF, 2002.
13
Ver, www.bbc.com.uk. (acessado em outubro de 2005)
pois esta dimensão seria mais adequada ao meio eletrônico. Este é um ponto
fundamental para a elaboração de uma análise posterior, que possa articular a
produção de testemunhos em suporte digital às novas práticas de leitura na
tela14. Uma preocupação explícita com a recepção do texto pelos usuários da
rede é parte constitutiva da forma de organização e manejo da informação do
acervo.
Deve-se destacar também o privilégio de certos recortes temáticos dentro
do tema da Segunda Guerra Mundial. Havia uma intenção de recolher registros
do cotidiano da guerra, que fica explícita nas dicas editorias. O propósito
explicito é, mais uma vez, tornar o registro mais interessante para o público.
Até que ponto esta diretiva foi cumprida pelos membros desta comunidade
virtual? Quais os temas privilegiados e quais as formas de narrar o passado?
Estas são algumas questões que pretendemos responder a partir da análise de
uma amostragem dos relatos online, que não está prevista no escopo desta
comunicação, mas que será alvo de um aprofundamento desta pesquisa ainda
em andamento.

14
Pois o texto eletrônico é “ao mesmo tempo, uma revolução da técnica de produção dos textos,
uma revolução do suporte do escrito e uma revolução das práticas de leitura”. Ver, Chartier,R.
Os desafios da escrita. São Paulo: Unesp, 2000 (p112
3. http://www.bbc.co.uk/ww2peopleswar (acessado em dezembro de 2005)
4. http://www.bbc.co.uk/ww2peopleswar (acessado em dezembro de 2005)
5. http://www.bbc.co.uk/ww2peopleswar (acessado em dezembro de 2005)

As três imagens acima ilustram, respectivamente: a página de abertura do


arquivo, com a indexação realizada; uma página de relato regular e uma secção
de atividades para escolas com o material do acervo. O arquivo digital sofreu
entre os meses de janeiro e fevereiro de 2006 uma mudança no formato
originalmente pensado. A BBC, instiuição que promoveu o arquivo, divulgou em
nota que o projeto havia sido pensado para ter esta duração. Assim, em
dezembro de 2005 foi divulgada a transformação do arquivo para um tipo de
acervo fixo, com nova categorização. Foi recomendado aos usuários fazerem
suas últimas modificações antes da execução da configuração permanente do
acervo.
O processo de transformação de um acervo aberto, que certamente
implica em custos de operação elevados, em um corpo documental digital fixo,
coloca algumas questões interessantes. Esta mudança no portal da BBC põe em
foco a inexistência de uma evolução em linha reta rumo a um mundo permeado
pela mutabilidade e fugacidade das memórias sociais elaboradas em meio
digital. Se é verdade que a volatilidade é um elemento constitutivo de qualquer
informação veiculada na internet, deve-se notar também a ocorrência de
processos inversos. A análise das discussões sucitadas e o processo de
remodelação da interface explicitou a fugacidade de algumas configurações e,
ao mesmo tempo, a existência de uma preocupação de preservação
patrimonial15. É interessante mencionar que a BBC informou aos membros da
comunidade People`s War que o departamento jurídico está estudando uma
forma na lei de garantir que tal acervo permaneça de acesso público, com
garantias de atualização tecnológica, mesmo que a BBC se extingua ou seja
vendida.
A partir desta investigação podemos dizer que o acervo online da
BBC, WW2 People`s War, constitui-se em uma configuração de interfaces que
propiciam um determinado tipo de reelaboração da memória social; uma
reelaboração que traz, ao mesmo tempo, mudanças relacionadas ao suporte
digital e continuidades siginificativas com padrões tradicionais de apropriação do
passado, sobretudo nos modelos utilizados de construção do conhecimento
histórico acadêmico.

15
A reflexão de Vera Dodebei sobre a categoria “patrimônio digital”, enfatizando o caráter
informacional e a importância dos meta-dados na abordagem dos documentos em suporte
digital, será fundamental para o desenvolvimento da análise sobre este acervo da BBC. Ver,
Dodebei, Vera Lúcia. Patrimônio digital, memória social e teoria da informação: configurações e
conceituações.( Projeto de pesquisa para o triênio 2006 – 2008) Rio de Janeiro, Unirio/PPGMS,
2005.
REFERÊNCIAS

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politics of information. San Francisco: City Light Books, 1995.
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___________. A aventura do livro – do leitor ao navegador. São Paulo: Ed.
Unesp/ Imprensa Oficial, 1999.
___________,Roger. Os desafios da escrita. São Paulo: Unesp, 2000.
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negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,2003.
de Biblioteconomia, Documentação e Informação. Ceará, junho de 2002.
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configurações e conceituações.(Projeto de pesquisa para o triênio 2006 – 2008)
Rio de Janeiro, Unirio/PPGMS, 2005.
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tribunais, 1990 (primeira edição 1950)
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ROY, Julie. De la culture de l’imprimé à la cyberculture: quel avenir pour le livre
imprimé? Cursus(périodique électronique de l'École de bibliothéconomie et des
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(printemps 2005)
SCHITTINE, Denise. Blog: comunicação e escrita íntima na internet. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
TEDESCO, João Carlos. (2004) Nas cercanias da memória – temporalidade,
experiência e narração. Passo Fundo, UPF; Caxias so Sul, EDUCS.
MUSEU VIRTUAL DA FACULDADE DE MEDICINA DA UFRJ

Diana Maul de Carvalho1

Resumo

Desde 1808 o curso médico da atual Faculdade de Medicina da UFRJ ocupou muitos espaços na
cidade do Rio de Janeiro e sua história foi sendo guardada em registros fotográficos, escritos,
objetos. Esforços de recuperação de livros, documentos e quadros da Faculdade fizeram renascer
o sonho do Museu da Medicina. A avaliação de necessidades e usos de acervos documentais tão
diversos indicou o caminho do Museu Virtual, que tem por objetivo preservar a memória do ensino
médico na UFRJ, tornando disponíveis para pesquisadores e público em geral, documentos,
fotografias, quadros, esculturas, e outros objetos de seu acervo, e de outras instituições e
particulares, relacionados à Faculdade e seu contexto histórico, inclusive integrando ao Museu
acervos não disponíveis para visitação. Apresentamos o trabalho desenvolvido na implantação do
projeto e nos nove meses iniciais de funcionamento na rede virtual.

Palavras-chaves: museu virtual, medicina, memória, ensino médico, Rio de Janeiro.

1 INTRODUÇÃO

Em 1808, com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, foram


criados, em fevereiro e novembro, os primeiros cursos médicos no país, na Bahia
e no Rio de Janeiro (Santos Filho,1991). A Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica
do Rio de Janeiro funcionou nas dependências do Real Hospital Militar no Morro
do Castelo até 1813, quando passa a denominar-se Academia Médico Cirúrgica
do Rio de Janeiro (Lobo, 1969).
Em 1832, profunda reforma marca a fundação das Faculdades de Medicina
do Rio de Janeiro e da Bahia, e a do Rio de Janeiro passa a ministrar, além do
curso médico, os cursos de Farmácia e de Obstetrícia. No bojo desta reforma, é
organizada a Biblioteca da Faculdade de Medicina. Aos poucos, ampliando suas
atividades, passa a Faculdade a ocupar com seus cursos diversos prédios da
cidade, com destaque para a Santa Casa de Misericórdia, onde, num anexo, tem
sua sede até que em 1918 é inaugurado o edifício – sede da Praia Vermelha
(Ferreira, Fonseca e Edler, 2001).
Para este, é transferida alguns anos mais tarde a Biblioteca, e, junto à
Secretaria, é organizado o arquivo de documentos administrativos com os mais

1
Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil
Doutor em Ciências, Fiocruz dianamaul@medicina.ufrj.br
diversos registros de atos acadêmicos. Para o novo edifício foram transferidos
equipamentos e algum mobiliário, mas a maior parte foi especialmente construída
para a nova sede. Nos seus longos corredores foram expostos os retratos dos
antigos diretores e catedráticos, aos quais se foram somando os mais recentes,
formando magnífica pinacoteca (Magalhães, 1932).
O velho edifício abrigou também, a partir da década de 1930, o Centro
Acadêmico Carlos Chagas, órgão de representação dos estudantes da Faculdade
de Medicina.
A construção do prédio do Hospital de Clínicas em terreno fronteiro ao
edifício-sede na Praia Vermelha nunca se concretizou e as atividades do chamado
Ciclo Profissional continuaram a se desenvolver na Santa Casa e em inúmeros
serviços clínicos e cirúrgicos na cidade do Rio de Janeiro, em prédios próprios ou
não.
Em todos esses lugares foram ficando fragmentos da memória da antiga
Faculdade de Medicina. Esta história, quase bicentenária, também foi sendo
guardada nos registros fotográficos, nos escritos, nos objetos, conservados por
seus ex-alunos, professores e funcionários.
A última grande reforma do ensino, iniciada no final dos anos 1960, retira da
Faculdade de Medicina o chamado Ciclo Básico que passa a ser ministrado pelo
recém criado Instituto de Ciências Biomédicas e pelos Institutos de Biofísica e
Microbiologia. Logo depois, são retomadas as obras de construção da Cidade
Universitária na Ilha do Fundão onde, desde a década de 1950, já estavam o
Instituto de Puericultura e Pediatria e o esqueleto do Hospital Universitário. No
início da década de 1970, os Institutos básicos são transferidos para o campus do
Fundão e o edifício da Praia Vermelha é derrubado.
A Biblioteca da Faculdade de Medicina é incorporada à Biblioteca Central
do Centro de Ciências da Saúde que, apesar de suas amplas instalações, é
insuficiente para abrigar todas as obras - livros, periódicos e teses – e muitos
periódicos anteriores à década de 1950, incluindo toda a coleção do século XIX,
bem como livros, editados do século XVI ao início do século XX, constituindo as
chamadas “obras raras”, são precariamente acomodados no porão, sofrendo
danos, em muitos casos, irreparáveis. Há menos de dez anos, por iniciativa da
Direção da Biblioteca Central e com apoio da FAPERJ, ganham as obras raras um
espaço próprio e é iniciado o processo de recuperação. A transferência para o
Fundão, reduziu também de modo drástico, a área destinada pela antiga
Faculdade de Medicina para a guarda do acervo documental de cunho
administrativo. Nos seus quase duzentos anos de funcionamento, a Faculdade se
tornou depositária de um acervo histórico de relevância ímpar para o estudo do
ensino e da prática das ciências da saúde no Brasil. Este acervo, depositado em
área do sub-solo do edifício sede do Centro de Ciências da Saúde, em condições
inadequadas para sua conservação e praticamente inacessível aos
pesquisadores, constitui-se de aproximadamente 2000 caixas de documentos e
Livros de Registro que abarcam o período de 1815 a 1994. A documentação do
século XIX, ainda não completamente identificada, pode incluir documentos
anteriores a 1815. O mais antigo livro de registro de alunos encontrado,
provavelmente o segundo, estava “perdido” no acervo das Obras Raras.
Identificado pela equipe da Biblioteca, esteve em exibição em vitrine na entrada da
Biblioteca Central do CCS. Numa das páginas encontra-se o registro de matrícula
de um escravo do Príncipe Regente. Desde o segundo semestre de 2002, com
apoio da FUJB, está em desenvolvimento o projeto do Centro de Documentação
do Ensino das Ciências da Saúde, desenvolvido pelo Laboratório de História,
Saúde e Sociedade da Faculdade de Medicina, que tem por objetivo o tratamento
e organização do acervo documental possibilitando o acesso a pesquisadores. No
momento, parte da documentação do século XIX já passou por processo de
higienização e descrição. Com a constituição do Centro de Documentação estão
também sendo incorporados acervos particulares, principalmente de professores,
inclusive parte da documentação do Centro Acadêmico Carlos Chagas no período
de 1965 a 1969. A pinacoteca, exceto alguns poucos quadros localizados no
gabinete do Diretor da Faculdade de Medicina, e em outras Unidades do Centro
de Ciências da Saúde, foi encaixotada e assim permaneceu por mais de vinte
anos. Recentemente, por iniciativa conjunta da Faculdade de Medicina e do
Hospital Universitário, foi iniciada a recuperação deste acervo e sua catalogação.
Os esforços de recuperação de livros, documentos e quadros,
reacalentaram o antigo sonho de organização do Museu da Medicina. No entanto,
estes esforços também indicaram novos caminhos. As necessidades e usos de
acervos documentais tão diversos, indicaram que o melhor lugar para o nosso
Museu, é o espaço virtual. Neste espaço dinâmico, cada usuário pode construir
seu próprio percurso através de espaços reais contíguos ou não, públicos ou não,
e a qualquer hora. Pode também seguir viagem para outros espaços de seu
interesse, através de links temáticos.
A construção virtual permite, de forma mais ágil e com menor custo, dar
acesso a objetos e documentos e a informações complementares, e indicar novos
caminhos de pesquisa para o usuário da página.
Ao mesmo tempo, o projeto prevê a recuperação, manutenção e exposição
quando adequado, dos diversos acervos em áreas físicas diversas de acordo com
as necessidades e a disponibilidade de cada conjunto documental.
O espaço virtual permite também integrar ao Museu, acervos particulares
não disponíveis para visitação. Em levantamento preliminar identificamos grande
interesse de professores, ex-alunos, e seus familiares, em integrar ao Museu
coleções de documentos, objetos diversos, e fotografias que registram momentos
vividos na Faculdade. O trabalho de identificação e descrição dessas coleções
deve gerar também um arquivo de depoimentos orais que poderá estar acessível
através da página do Museu Virtual.
A proposta do Museu foi desenvolvida como um projeto de extensão da
Faculdade de Medicina da UFRJ através do Laboratório de História, Saúde e
Sociedade. Neste, ele se integra com os projetos de pesquisa e as atividades de
ensino de graduação e de pós-graduação, gerando demandas para a pesquisa;
divulgando os produtos de pesquisa; e servindo como ‘material didático’ para as
atividades de ensino. Coerente com a proposta, demos a este trabalho o feitio de
um relatório técnico que apresenta o desenvolvimento atual do projeto, seus
primeiros resultados, e destaca pontos que consideramos relevantes para debate.
Apresentamos o trabalho desenvolvido nos 12 meses de detalhamento e
organização do projeto e nos 9 primeiros meses de funcionamento na rede.
2 DESENVOLVIMENTO E PRIMEIROS RESULTADOS

O Museu Virtual da Faculdade de Medicina iniciou suas atividades através da


página www.museuvirtual.medicina.ufrj.br em 05 de novembro de 2005, quando
da comemoração dos 197 anos do curso médico da UFRJ.
Apresentada sua proposta um ano antes, nas comemorações dos 196 anos,
passou-se à fase de detalhamento e implantação do projeto.
Além da página, o Museu se estrutura através do trabalho de vários grupos
que, através de projetos de pesquisa e de extensão, organizam e mantêm o seu
acervo.
O Museu Virtual, espaço dinâmico da construção e preservação da
memória do ensino médico na UFRJ, está sendo desenvolvido em três vertentes e
duas etapas.
As três vertentes são:
- desenvolvimento da página
- identificação dos diversos documentos que integram o acervo permanente
do Museu
- recuperação de documentos e identificação e organização de novos acervos

Etapas:
- implantação
- expansão e manutenção

2.I Desenvolvimento da página

2.1.1 Etapa de implantação


Nesta etapa, empresa especializada definiu o web-design, foram feitos
testes iniciais de funcionamento e implantada a página, no endereço
www.museuvirtual.medicina.ufrj.br , com acesso desde 05 de novembro de 2005.
A página apresenta ao usuário textos de referência permanente:
apresentação do Diretor da Faculdade de Medicina; sobre o Museu; histórico.
Entradas ao acervo permanente em exibição: Documentos – compreendendo
documentação do arquivo do século XIX e livros; e Galeria Virtual –
compreendendo quadros da pinacoteca, fotografias, esculturas, mobiliário e outros
objetos tridimensionais. A página também oferece entrada a exposições de caráter
temporário e a uma exposição permanente – a Visita Virtual – uma reconstrução
virtual do prédio-sede da Faculdade de Medicina na Praia Vermelha, que foi
derrubado no início da década de 1970. O visitante também pode solicitar
informações adicionais, fazer comentários, etc, através do ‘Fale Conosco’;
encontrar o que procura, através de instrumento de Busca; e percorrer espaços
correlatos, através dos links da página.

2.1.2 Etapa de expansão e manutenção

Até novembro de 2007, está previsto o desdobramento da Visita Virtual, que


hoje é uma reconstituição de cunho ilustrativo dos espaços do antigo prédio,
utilizando imagens de vários momentos entre sua inauguração em 1918 e 1970. A
recuperação de fotografias antigas e entrevistas está permitindo reconstituir com
maior rigor os espaços internos do prédio primitivo de dois andares, como
inaugurado em 1918; e do prédio como estava na década de 1960. Assim, a Visita
Virtual, além do impacto emocional que já tem hoje, poderá se constituir em
documentação adequada para os pesquisadores.
Está prevista também a inclusão de acervo de história oral que está sendo
construído com as diversas entrevistas que integram os resultados do projeto de
pesquisa “Ensino médico no Rio de Janeiro”, com financiamento do CNPq, e com
outros depoimentos de interesse. Estas entrevistas e depoimentos estarão
disponíveis, de acordo com autorização dos entrevistados, como transcrições ou
através de áudio.
Há dois meses estamos computando as visitas ao ‘site’, tendo sido
registradas em 60 dias, 667 entradas na página inicial; 142 no Acervo; 112 na
Visita Virtual; 108 em Documentos; e 107 em Fale Conosco, além de consultas em
menor número aos demais itens.
A implantação do Museu Virtual conta com o apoio da Fundação
Universitária José Bonifácio (FUJB), que forneceu os equipamentos de informática
e máquinas fotográficas.

2.2 A constituição do acervo

2.2.1 Etapa de implantação

Estão sendo inicialmente objeto de identificação e incorporação ao Museu:


a pinacoteca, mobiliário, objetos, fotografias e outros documentos pertencentes à
Direção da Faculdade de Medicina; documentos do Centro de Documentação das
Ciências da Saúde; livros e documentos do setor de Obras Raras da Biblioteca
Central do Centro de Ciências da Saúde.
Este trabalho é em parte desenvolvido com apoio do CNPq e integrado ao
projeto de pesquisa “Ensino médico no Rio de Janeiro”. O Centro de
Documentação recebeu também apoio, em equipamentos, da FUJB.
Já foram cadastrados 36 itens, dos quais 15 encontram-se em exibição.
Os documentos foram digitados a partir do original e estão disponíveis em
formato pdf permitindo a impressão por parte do usuário. Há uma breve explicação
a respeito de cada documento e a informação de onde se encontra o original,
quando pertencente a acervo que assim o permita. As reproduções fotográficas de
quadros e objetos também estão em resolução que permite boa impressão a partir
da página. Em relação a cada item há um texto explicativo que, para os quadros,
inclui breve biografia do retratado e do pintor.
2.2.2 Etapa de expansão e manutenção

A identificação inicial dos retratos a óleo de diretores e catedráticos da


Faculdade de Medicina foi feita por alunos bolsistas da Escola de Belas Artes da
UFRJ coordenados por técnico em restauração, do HUCFF. De alguns retratos
não foi possível ainda estabelecer a autoria e este trabalho deverá envolver uma
colaboração com professores da Escola de Belas Artes.
Está prevista nesta etapa a identificação de acervos de interesse direto,
pertencentes a outras Unidades da UFRJ, outras instituições (Santa Casa,
Academia Nacional de Medicina, etc.), e a particulares.
A exibição desses acervos poderá se constituir em base para colaboração
permanente entre as instituições, através de projetos de pesquisa e outras
atividades. Os acervos particulares serão exibidos de acordo com autorização
explícita quanto à informação sobre a propriedade, localização e possibilidade de
visita. Para todas as obras, deverão estar disponíveis as informações necessárias
à sua utilização pelos visitantes da página.
Além da exibição permanente, estarão disponíveis a partir de agosto de
2006, exposições temporárias temáticas ou referentes à comemoração de datas
significativas para a história da medicina e seu ensino no Brasil. Para a
organização destas exposições deverão ser convidados curadores ad hoc.
A identificação de acervos e informações de interesse agregado, já
disponíveis na web, que se constituam em complemento da “visita” ao Museu
através de links apropriados é outra atividade que deverá ser expandida.
A identificação de novos acervos é uma atividade permanente do Museu
Virtual. Para isto, estamos buscando parceria com outras unidades da UFRJ que
já desenvolvem esforços importantes de preservação da memória institucional
como, por exemplo, na área da saúde, a Escola de Enfermagem Ana Néri. E, fora
da UFRJ, especialmente com a Casa de Oswaldo Cruz, que é hoje uma unidade
de referência para a história das ciências da saúde no Brasil.
3 PERSPECTIVAS

A experiência destes primeiros nove meses de funcionamento trouxe


algumas surpresas e informações cruciais para o planejamento das atividades
futuras. A ativação da página do Museu aumentou de forma significativa a
demanda por informações relativas a antigos alunos e professores, por parte de
parentes e biógrafos. Esta demanda não prevista tem sido atendida com
dificuldade e planejamos, para 2007, ter uma equipe de bolsistas de extensão
para melhor atendimento aos solicitantes. Outra demanda importante e que não
temos tido condições de atender adequadamente, é a de ex-alunos, professores e
funcionários interessados em doar documentos e objetos para incorporação ao
Museu. É fundamental que a UFRJ tenha condições adequadas para receber
acervos importantes para sua história e que, com as condições atuais, acabam
sendo encaminhados a outras instituições. É preciso portanto um esforço
coordenado para que os projetos se desenvolvam a contento e as oportunidades
de financiamento sejam otimizadas. Por outro lado, este último ano também nos
convenceu de que, a exemplo da experiência da Escola Ana Néri, o acervo deve
ser preservado e mantido junto a seus produtores. A existência da página e as
atividades a ela relacionadas têm despertado no corpo de funcionários,
professores e alunos da Faculdade de Medicina e outras unidades do CCS, um
interesse surpreendente pela história institucional. E quem se interessa pela
história, se interessa pelo futuro.
Ao longo deste primeiro ano, também nos preocupamos com a avaliação da
possibilidade de desenvolvimento de produtos que possam contribuir para
assegurar a continuidade do Museu Virtual. Como em outros Museus, diversos
produtos, como agendas, calendários, souvenirs, poderão estar à venda nas
Livrarias da UFRJ e em outros pontos de venda, gerando recursos. Este nos
parece um aspecto freqüentemente negligenciado em nossos projetos
institucionais e que, a nosso ver, merece ser cuidadosamente debatido.
REFERÊNCIAS

FERREIRA, Luiz Otávio; FONSECA, Maria Rachel Fróes da; EDLER, Flávio. A
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro no século XIX: a organização
institucional e os modelos de ensino. In: Dantes, Maria Amélia (org.), Espaços da
Ciência no Brasil 1800-1930. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2001. 208p.

LOBO, Francisco Bruno. O Ensino da Medicina no Rio de Janeiro. v.4 Rio de


Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1969. 331p.

MAGALHÃES, Fernando. O Centenário da Faculdade de Medicina do Rio de


Janeiro, 1832-1932. Rio de Janeiro: Tipografia Barthel, 1932. 431p.

SANTOS FILHO, Lycurgo História Geral da Medicina Brasileira v.1. São Paulo:
Hucitec/Edusp, 1991. 436p.
BIBLIOTECA CENTRAL DO CENTRO DE CIÊNCIAS MATEMÁTICAS E DA
NATUREZA (CCMN): PASSADO, PRESENTE E FUTURO

Claudia Malena Paiva Vieira Gaspar1


Ismar de Souza Carvalho2
Ângela Rocha dos Santos3

“Uma biblioteca é isso: o próprio universo em sua eternidade


pré-assumida e os livros, portais que unem o humano ao divino.”
Ângela Rocha dos Santos, Decana do CCMN,
no discurso por ocasião da reinauguração da
Biblioteca Central do CCMN

RESUMO:

Este trabalho visa relatar o impacto resultante das transformações da biblioteca, em sua infra-
estrutura, nas relações de trabalho e o impacto no apoio ao ensino, pesquisa e extensão da
Universidade.

Palavras-chave: Gestão; Serviços; Bibliotecas

1 INTRODUÇÃO

A Biblioteca Central do CCMN, órgão da Administração Central da


Superintendência do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (1) teve sua
origem em 1971, quando a Universidade Federal do Rio de janeiro dotou o CCMN
de edifício próprio destinado à sua implantação. Possui uma área de 1.784 m2
com um acervo que abrange periódicos e publicações no âmbito das Geociências,
Química, Física, Matemática e Ciência da Computação, contando com 18.829
volumes de livros, 95 obras raras, 1.097 teses e dissertações de mestrado, 593
censos, 623 monografias de graduação, 1.076 títulos de periódicos, 311

1
Bibliotecária, Chefe da Biblioteca do CCMN/Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro – Brasil - claudiamalena@bib.ccmn.ufrj.br
2
Professor Adjunto/UFRJ – Mestre e Doutor em Geologia – ismar@geologia.ufrj.br
3
Professor Adjunto/UFRJ – Mestre e Doutora Instituto de Matemática/UFRJ – angela@im.ufrj.br
documentos em CD-ROM e 3068 mapas com seus respectivos textos explicativos,
sendo a consulta gerenciada pelo Software Aleph. Trata-se de um dos acervos
mais expressivos de nossas instituições públicas, sendo aberta a toda a
comunidade de docentes, discentes e pesquisadores e disponibilizada na Base
Minerva (Base Bibliográfica da UFRJ).
A Biblioteca Central do CCMN, que funciona de 8h às 20h30min, atendendo
aos turnos diurnos e noturnos, tem por objetivo estabelecer uma pesquisa
documentária primária com as seguintes atribuições:
 preservar e conservar seu acervo;
 registrar, catalogar, classificar e preparar suas coleções;
 promover a adequada utilização das coleções e a divulgação de seu
acervo;
 realizar empréstimo das publicações quando permitido;
 elaborar e manter registros e catálogos;
 manter estreita colaboração com as demais bibliotecas do centro e da
universidade;
 estabelecer contato com instituições culturais, nacionais e internacionais,
mantendo serviços de permuta e empréstimo e
 colaborar com o Catálogo Coletivo Nacional de Periódicos do Instituto
Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (CCN/ IBICT).

2 HISTÓRICO

A Biblioteca foi criada em 1971 e ocupava uma área inicial de 2.653 m2.
Todavia, o início de suas atividades ocorreu em 1978, com a incorporação da
Biblioteca do Instituto de Geociências e transferência do acervo de livros e
monografias destinados aos cursos básico do CCMN (Matemática, Física e
Química), provenientes das demais Bibliotecas do Centro.
Em 1979 a Biblioteca centralizou também as coleções de periódicos na
áreas de ciência em geral, existentes nas várias bibliotecas setoriais do CCMN.
Atualmente a Biblioteca conta com 1.784 m2, distribuída na área térrea
das instalações do CCMN. O primeiro andar foi cedido provisoriamente para o
Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) e é atualmente utilizado pela comissão
de vestibular.

3 O ESPAÇO FÍSICO E SUA RECUPERAÇÃO

A Biblioteca Central do CCMN funciona em prédio próprio ,construído e


projetado atendendo as exigências específicas para abrigar o acervo de uma
biblioteca. A área. ocupada é distribuída em um salão de estudo, uma sala de
leitura, um Centro de Documentação Paleontológica, acervo e área administrativa
(processamento técnico).
Estas instalações físicas, com mais de trinta anos de uso intensivo, jamais
passaram por um estudo para modernização e nem sequer sofreram quaisquer
obras de manutenção e reparos. O desgaste do espaço físico e a sua
inadequação em relação a exigências legais e da modernidade, tais como, acesso
a deficientes físicos, rede integrada de telefonia e dados, refrigeração que nunca
existiu, chegou a tal ordem que praticamente inviabilizava o trabalho administrativo
e um atendimento eficiente ao usuário. Além disso, inúmeras goteiras ameaçarem,
a cada dia chuvoso, a integridade do acervo.
Dentro deste quadro, foi elaborado um estudo que resultou numa ampla
reforma e modernização em todo o espaço da biblioteca, finalizada em 2005.
As melhorias em infra-estrutura resultaram na total remodelação do espaço,
com instalação de novas redes elétricas e de computadores, reforma de telhados,
melhoria e adequação ao usuário dos espaços internos, além da aquisição de
mobiliário e higienização completa do acervo.
Dentre os investimentos realizados para recuperação física da Biblioteca
destacamos: recuperação da pérgula existente na entrada da biblioteca ao longo
da fachada, recuperação de rede elétrica, recuperação da rede de informática,
recuperação da fachada e parte externa, recuperação do telhado, forro e
iluminação, climatização do acervo, execução do projeto arquitetônico para a
otimização dos espaços internos, aquisição de aparelho anti-furto, aquisição de
aparelho contador de fluxo de usuário, compra de armários escaninhos para
guarda-volume, equipamentos de informática (microcomputadores impressora,
scanner, leitores de código de barras), aquisição de mobiliário para o salão de
leitura, estudo e salas administrativas, reformulação do balcão de atendimento ao
público, adaptação dos espaços dos salões e banheiros de forma a facilitar o
acesso a deficientes físicos, execução do projeto de comunicação visual,
aquisição de desumidificadores, esterilizadores e reforma de estantes e
mobiliários de aço. Além disso, está sendo feito um esforço institucional para
alocação sistemática e periódica de verba para manutenção e ampliação do
acervo.
Hoje, após sua reinauguração, a Biblioteca é parte integrante de um mini-
complexo - o Centro Cultural Professor Horácio Macedo, composto também por
um auditório, área de exposições, anfiteatro, já em funcionamento, e um pequeno
museu, sala multimídia e um mini teatro de arena a se incorporarem ao complexo,
futuramente. A biblioteca, como parte deste complexo recentemente inaugurado,
incorporará às suas atividades fins, uma outra dimensão voltada para a promoção
e difusão cultural e inclusão social.

4 A BIBLIOTECA HOJE

4.1 Infra-Estrutura Computacional

A Biblioteca Central do CCMN apresenta uma moderna rede de


microcomputadores destinados aos usuários e serviço interno. Ao todo são 25
microcomputadores, assim distribuídos:
para consulta dos usuário estão disponibilizados de 15 (quinze)
microcomputadores - 6 (seis) exclusivos para consulta à Base Minerva, 9 (nove)
para acesso ao Portal Capes, bases on-line disponibilizadas pelo SIBI e bases em
CD-rom da biblioteca) e 2 (dois) microcomputadores no Setor de Referência para
consulta pelos bibliotecários ao CCN/IBICT e levantamentos bibliográficos
solicitados pelos usuários. Os demais microcomputadores são utilizadas pelos
bibliotecários e funcionários técnico -administrativos para inclusão de dados nos
módulos da Base Minerva(catalogação, periódicos, empréstimo). Além destes
equipamentos estão disponíveis 5 (cinco) impressoras (sendo 1 térmica), 2 (dois)
leitores de código de barras e 3 (três) scanners.

4.2 Disposição das Coleções

Todas as estantes possuem identificação, que corresponde à classificação


por assunto inicial e final de cada corredor, e todas as prateleiras são identificadas
com o número de chamada do livro. As coleções da Biblioteca do CCMN estão
classificadas por assunto e dispostas por tipo de material, a saber:

 obras de referência: dicionários, enciclopédicas, manuais, bibliografias, etc;


 folhetos;
 dissertações e teses;
 livros;
 publicações periódicos;
 obras raras;
 material cartográfico;
 cd rom;
 vídeos;
 censos;
 ciranda do livro;
 monografia de paleontologia.

A obras de referência, os folhetos, as publicações seriadas monográficas, as


dissertações e teses e as obras raras são identificas, respectivamente, com R, F,
S, T, O, L e CEDOP nas fichas catalográficas e nas etiquetas de lombada. acesso
O acesso às obras raras é controlado.
As publicações periódicas estão ordenadas de acordo com uma notação alfa-
numérica para cada título, dentro da seguinte classificação de assunto:n GR –
Referência; CT - Ciência e Tecnologia; G1 – Geologia; GF – Geografia; MET –
Meteorologia; IQ – Química
As obras recém-incorporadas da biblioteca também são sinalizadas e ficam
expostas em bancadas específicas para periódicos e livros. Todos os setores
possuem placas de comunicação visual afixadas no teto da biblioteca.

4.3 Desenvolvimento da Coleção

Não existe dotação orçamentária periódica da instituição para aquisição de


acervo. Apesar de todo um esforço recente, promovido pela Decania do CCMN,
para aportar verbas, destinadas à manutenção e à ampliação do acervo, às
bibliotecas do Centro e, em particular, para a Biblioteca Central e existir uma
política no CCMN que se reflete na destinação de verbas próprias para expansão
e atualização do acervo, visando ao atendimento das demandas das linhas de
pesquisa da pós-graduação em Geologia, Geografia e Meteorologia e à
manutenção das bibliografias básicas dos cursos de graduação do CCMN, a falta
de verbas regulares compromete esse planejamento. Assim, além do acervo
adquirido com verbas próprias dentro da política de apoio às bibliotecas, seguida
pelo CCMN, e que tem se destinado, mais especificamente, à aquisição de livros
com demanda maior do que a disponibilidade de volumes existentes na biblioteca,
o incremento do acervo é realizado através de doações de professores, alunos,
bem como intercâmbio com outras bibliotecas .
Em relação aos mapas, a aquisição é feita através de doações e permuta
com outras instituições. Quanto aos periódicos e jornais a biblioteca assina 20
(vinte) periódicos nacionais de interesse geral e os jornais “O Dia” e “Folha de
São Paulo” através de recursos próprios. Os periódicos estrangeiros que
assinávamos, agora são acessados eletronicamente pelo portal de periódicos
CAPES.
4.4 Segurança

Além da vigilância humana, a biblioteca está equipada com sistema


anti-furto composto de etiquetas com dispositivos magnéticos aplicadas em cada
unidade do acervo e antena, situada em lugar estratégico que emite sinal sonoro
caso as obras não autorizadas saiam da biblioteca..Utilizamos o Sistema METO
da Advance com trafo desmagnetizador e desativador Standart composto de
etiquetas com dispositivos magnéticos aplicados.
Recentemente adquirimos mais 20.000.00 (vinte mil etiquetas), o que nos
permitirá concluir a etiquetagem em todo o acervo de livros da biblioteca e,
garantir assim a manutenção e preservação do patrimônio documental da
Biblioteca. As bibliotecas que adotaram o sistema tem diminuindo sensivelmente a
perda do acervo por furto.
Para problemas com incêndio, a biblioteca está dotada de um extintor de
incêndio para cada corredor de estantes de publicações, um extintor para cada
sala administrativa e um extintor para os salões de leitura e estudo.

4.5 Preservação do Acervo

A conservação dos livros é feita através da limpeza dos mesmos com o


aparelho L’ecologique e mensalmente são enviados para encadernação e restauro
as publicações em pior estado. Em relação às obras raras, detectamos que várias
delas necessitam de higienização, pequenos reparos e encadernação. Para isso,
solicitamos a firma Imaginarte - Preservação e memória, uma visita para
avaliação e posterior envio de orçamento.
Em 2006, com o apoio da Decania do CCMN, esperamos recuperar 3.500
(três mil e quinhentos) publicações.
Devido a área total da biblioteca ser muito extensa, ainda não estão
disponíveis aparelhos desumidificadores e esterilizadores de ar para proteção
anti-mofo em número suficiente para garantir a preservação de todo o acervo.
Atualmente contamos com 3 (três) desumidificadores e 3 (três) esterilizadores.
4.6 Serviços

O acesso às estantes é livre, ou seja, o próprio usuário tem acesso direto


ao acervo. A consulta ao acervo da BC/CCMN pode ser feita on-line através da
Base Minerva (base de dados bibliográficas das bibliotecas da UFRJ).
Além da consulta local ao acervo, do empréstimo domiciliar e entre
bibliotecas, estabelecidas no regulamento interno, a Biblioteca oferece a seus
usuários os seguintes serviços:
 Busca Bibliográfica;
 Acesso ao Portal Capes (O acesso ao portal possibilita a realização de
pesquisas bibliográficas e também disponibiliza artigos científicos em sua
íntegra.) O acesso é feito nos campi da Universidade;
 Acesso às Bases de Dados;
 Acesso eletrônico a títulos de periódicos e jornais nacionais dos quais a
Biblioteca é assinante;
 Comutação Bibliográfica (A Biblioteca participa do Programa de Comutação
Bibliográfica- COMUT, como biblioteca base, atende usuários em todo território
nacional);
 Exposição de novas aquisições;
 Normalização de documentos;
 Permuta de publicações;
 Acesso Remoto para professores, pesquisadores e pós-graduados;
 Consulta on-line ao catálogo Coletivo Nacional de Periódicos;
 Serviço de Alerta e
 Disponibilização também de outros produtos como: catálogo, folders, guia
de uso da biblioteca, quadro de alerta, novidades semanais, listas de novas
aquisições, livros e mapas, lista de separatas e pré-prints..
4.7 Permuta – Intercâmbio de Publicações

A Biblioteca Central do CCMN mantém convênio com outras universidades


e instituições de ensino no país e no exterior, cooperando na alimentação de
bases de dados, fornecimento de cópias, doações e permuta de publicações.
A permuta de publicações se dá com o apoio do Instituto de Geociências do
Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (IGEO/CCMN), que edita desde
1977 o ANUÁRIO DO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS. A BC/CCMN é a
depositária desta publicação, cujo fim é a permuta. A permuta do Anuário do
Instituto de Geociências permite enriquecer o acervo da biblioteca com um grande
número de publicações, tanto nacionais como estrangeiras. Possibilita também,
contribuir com o acervo das instituições na área de Geociências e afins, com a
doação desta publicação, considerada de relevância face aos trabalhos
apresentados e a experiência e reconhecimento dos autores a nível nacional e
internacional.
Mantém-se assim, um cadastro de instituições com as quais estabelecemos
intercâmbio de publicações. Hoje, devido ao alto custo das despesas postais,
tornou-se necessário reformular nosso cadastro de instituições, e após uma
criteriosa seleção estabelecemos um total de 48 (quarenta e oito) instituições
estrangeiras e 62 (sessenta e duas) nacionais, para mantermos o envio de
ANUÁRIO. Esperamos que brevemente possamos estar enviando-o para todas
as instituições que tenham interesse em receber a publicação.

4.8 CEDOP – Centro de Documentação Paleontológica

O Rio de Janeiro é atualmente sede do maior número de instituições


públicas e privadas do Brasil em estudos sobre Paleontologia. O Centro de
Documentação Paleontológica da Biblioteca Central do CCMN/UFRJ, tem como
objetivo a coleta, tratamento e disseminação de todo o material bibliográfico
existente no País sobre o assunto. É válido colocar que esse levantamento de
material bibliográfico não se limita apenas a artigos científicos, procuramos
também buscar esses dados em revistas de cunho mais geral (Veja, Época, Super
Interessante) e em jornais.
Em relação a coleta, já enviamos cerca de 1.931 (hum mil novecentos e
trinta e uma) correspondências a pesquisadores e instituições. Em 2005, iniciamos
a inclusão deste material bibliográfico na Base Minerva (Base Bibliográfica da
UFRJ) e em 2006 dando prosseguimento ao que foi estabelecido, com a aquisição
de um scanner para o setor, iniciamos a digitalização dos artigos.

5 IMPACTOS RESULTANTES DA RECUPERAÇÃO FÍSICA

A Biblioteca foi reaberta e entregue ao público, após a grande reforma


ocorrida em sua infra-estrutura física, em setembro de 2005 e, portanto, embora
ainda seja cedo para que possamos avaliar em sua plenitude os impactos
resultantes das transformações implementadas na biblioteca, nas relações de
trabalho, no apoio ao ensino, pesquisa e extensão da Universidade, os resultados
obtidos já nos permitem fazer uma pequena avaliação abordando aspectos de
natureza qualitativa e quantitativa.
O primeiro salto qualitativo deu-se em conseqüência da ampliação e
modernização da rede de informática, substituída, em 2005, por um novo sistema
estruturado de informática e telefonia, possibilitando assim o acesso do acervo às
redes de outras unidades e também através da Internet. Com isso atingimos a
meta de agilizar o atendimento às demandas dos usuários internos e externos, e
dessa forma melhorar as atividades de suporte à pesquisa na áreas de Geologia,
Geografia, Meteorologia, Física, Química e Ciência da Computação. Um dado
quantitativo que corrobora este impacto qualitativo se refere ao número de
consultas feitas ao Anuário do Instituto de Geociências que, em março de 2006,
multiplicou por 10 o número de acessos em relação a março de 2005.
No contexto da implementação do sistema informatizado de empréstimo, foi
dado início, em 2004, o cadastro de leitores na Base Minerva, porém somente a
partir de 2006, com a aquisição de microcomputadores, impressora térmica, web
cam e leitores de código de barras, foi possível iniciar o sistema de empréstimo
informatizado através da utilização do módulo de circulação do software ALEPH,
adotado pela UFRJ para a automação dessa e outras rotinas de bibliotecas, o que
representou um outro patamar de qualidade, tanto em relação ao atendimento ao
usuário, quanto em relação à emissão de relatórios e consultas.
Em relação à avaliação quantitativa, alguns dados numéricos já merecem
destaque por sua relevância. Em 2004, último ano completo do qual podemos
extrair dados antes de iniciada a reforma, a BC/CCMN contava com 5.674 (cinco
mil seiscentos e setenta e quatro) usuários inscritos, com um movimento de
64.409 (sessenta e quatro mil, quatrocentos e nove) usuários durante o ano. Até
maio de 2006, com apenas 113 dias trabalhados, já contamos com 4047 (quatro
mil e quarenta e sete) inscrições e um movimento de 48.391 (quarenta e oito mil,
trezentos e noventa e um) usuários. Registramos, também, um aumento
significativo no número de empréstimos e consultas: 10.742 (dez mil, setecentas e
quarenta e duas consultas) consultas e 9.473 (nove mil quatrocentos e setenta e
três) empréstimos nos primeiros cinco meses de 2006, o que numa projeção de
doze meses nos faz prever um acréscimo de cerca de 40%, em relação aos
mesmos índices apurados no ano de 2004.
Além disso, se levarmos em conta o aspecto humano e das relações de
trabalho, se não bastassem a auto-estima renovada de nossos funcionários e
alunos, a motivação para o trabalho que se reflete no aumento da produtividade e
na qualidade do atendimento ao público, nossa biblioteca se transformou, hoje, em
ponto de estudo preferencial de nossos alunos, o que se reflete pelo seu salão
externo de leitura que, embora tenha quase que triplicado sua capacidade, se
encontra permanentemente lotado de estudantes, durante todo o horário de
funcionamento da biblioteca. Este aspecto é particularmente importante se
considerarmos quão raros são os espaços de estudo para estudantes, em
especial os de graduação, disponíveis, hoje, em nossa universidade. Outro
aspecto interessante a se destacar, é que uma visita a Biblioteca fez parte das
atividades programadas para recepção aos calouros de todas as nossas unidades
e visitas espontâneas de alunos e professores de outros Centros e outras
Universidades não têm sido incomuns, promovidas, na maioria das vezes, por
membros de nossa comunidade que se orgulham em mostrar o resultado de todo
um esforço coletivo.

6 PERSPECTIVAS FUTURAS

Visando um melhor atendimento ao público e a agilização dos serviços da


biblioteca estão previstas para o corrente ano as seguintes ações:
 alimentação da Base de dados Minerva (Em desenvolvimento: material
cartográfico e CEDOP);
 implantação dos módulos da base Minerva (em desenvolvimento: módulo
de circulação). Em 2005 recebemos os equipamentos necessários e
estamos efetuando o cadastro do leitores, e colocação de código de barras
nos livros. Em agosto de 2006, estaremos ativando o empréstimo
automatizado;
 digitalização de teses, monografia de final de curso, e dissertação de
mestrado do CCMN;
 encadernação e restauração de obras raras ;
 treinamento de funcionários em cursos específicos;
 acordo junto às unidades para depósito e tratamento técnico e posterior
inclusão na base MINERVA, das monografias de final de curso e de
iniciação científica;
 treinamento de pessoal para uso de programas computacionais;
 envio e distribuição do anuário do IGEO(captação de recursos);
 inventário do acervo de livros e periódicos;
 aquisição de etiquetas anti-furto para mapas, periódicos, cds e vídeos;
 manter uma conexão on-line com as unidades do centro e suas bibliotecas
setoriais;
 divulgação do material didático produzido no centro;
 aquisição de No Breaks para segurança dos equipamentos;
 serviços de gráfica para impressão de folders, prospectos, etc. de
divulgação dos serviços oferecidos pela biblioteca;
 publicação do “ guia do usuário da biblioteca”;
 instalação de câmeras de vigilância.

Além disso, estamos planejando a estruturação de uma divisão de


Documentação na Biblioteca do Centro, como um órgão de cooperação didática e
de pesquisa, para manter serviços de informações e intercâmbio de documentos,
preparando bibliografias especializadas, e cooperando com instituições
estrangeiras, nacionais e internacionais, em estreita conexão com as unidades do
Centro e bibliotecas setorias. Caberá também a esta divisão dar assistência
técnica na elaboração de teses e promover a divulgação do material didático
produzido no Centro.
Por fim, dentro da dimensão cultural e de divulgação científica, a biblioteca,
integrada ao Centro Cultural Professor Horácio Macedo, funcionará como um
importante espaço de atividades do tipo rodas de leitura, contadores de histórias,
ciranda de livros, ouvindo poesias, abertas ao público em geral e, promovidas em
conjunto com as escolas públicas das áreas de seu entorno.

REFERÊNCIAS

UNIVERSIDADE Federal do Rio de Janeiro. Centro de Ciências Matemáticas e da


Natureza. Regimento: Art.13 e 2 do Cap. IV.

UNIVERSIDADE Federal do Rio de Janeiro. Centro de Ciências Matemáticas e da


Natureza. Regimento: Art. 22 do Cap. IV.
BUSCA E USO DA INFORMAÇÃO AMBIENTAL POR PESQUISADORES
DA ÁREA DE MEIO AMBIENTE1

SEARCH AND USE OF THE ENVIRONMENT


INFORMATION FOR RESEARCHERS OF THE ENVIRONMENT AREA

Fernando Bittencourt dos Santos2

RESUMO:

O presente trabalho apresenta como objetivo geral: analisar o comportamento de busca e uso
da informação ambiental por parte dos pesquisadores de três instituições da área ambiental,
visando conhecer com profundidade hábitos e necessidades de informação que apresentam
bem como as formas e mecanismos de obtenção da informação utilizada por eles. A
metodologia a ser utilizada será de caráter exploratório. Espera-se com isso que as instituições
possam conhecer tal opinião à informação ambiental e procurarão se necessário adequar-se as
necessidades informacionais destes pesquisadores.

Palavras-chave: comportamento de busca; informação ambiental; busca da informação; uso da


informação; meio ambiente; usuário final.

ABSTRACT:

The present work presents as objective generality: to analyze the behavior of search and use of
the environment information on the part of the researchers of three institutions of the ambient
area, aiming at to know with depth habits and necessities of information that present as well as
the forms and mechanisms of attainment of the information used for them. The methodology to
be used will be of explorer character. One expects with that the institutions can know such
opinion to the environment information and will look for if necessary to adjust the information
necessities of these researchers.

Keywords: search behavior; environment information; search of the information; use of the
information; environment; final user.

1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

A questão ambiental ocupa um importante espaço na sociedade e vem


crescendo cada vez mais em abrangência, sendo tema de discussão em
diversos contextos, inclusive em conferências em nível nacional e internacional.
Os problemas ambientais com a conseqüente degradação da qualidade de vida
podem ser identificados tanto nas áreas urbanas, pela enorme concentração de
indústrias, fábricas e a desordenada ocupação do solo, como também nas

1
Projeto de Pesquisa apresentado ao Programa de Mestrado em Ciência da Informação da
UNESP/ Campus de Marília-SP sob orientação da Profª Drª Helen de Castro Silva.
2
Bacharel em Ciência da Informação com Habilitação em Biblioteconomia pela PUC-
CAMPINAS. Mestrando em Ciência da Informação pela UNESP/ campus de Marília-SP. E-mail:
fernandoubatuba@hotmail.com
áreas rurais onde há a excessiva concentração fundiária e a agricultura voltada
para o desmatamento. A poluição, as mudanças climáticas, a criação dos
alimentos transgênicos, a desertificação e a perda da biodiversidade também
são temas de grande repercussão e relevância dentro do contexto ambiental.

No Brasil e no mundo podemos notar a atuação de ONGs (Organizações


Não Governamentais) que participam como parceiras no enfrentamento dos
problemas ambientais atuando no interesse público de forma direta, na
prestação de serviços e no desenvolvimento de projetos que têm como
objetivo: proteger o meio ambiente e lutar pelo desenvolvimento sustentável.

De acordo com Caribé (1992) a preocupação do governo brasileiro com


os problemas do meio ambiente é insuficiente e tímida. De fato o descaso do
governo federal é presenciado nos dias de hoje, quando, por exemplo, o
mesmo dá mais prioridade ao crescimento econômico e industrial, à política
interna e externa ficando quase que à inércia na luta por uma via sustentável
de desenvolvimento.

Mitterrmier et al. (1992) acrescentam que o Brasil é o país de maior


riqueza quanto à biodiversidade onde se concentra 10% de todo acervo de
recursos genéticos do planeta, mas persiste em um processo generalizado de
destruição de seu rico patrimônio ecológico. O modelo atual de
desenvolvimento, não só no Brasil, mas de muitos países, é o principal
responsável pela agravante situação que o meio ambiente se encontra. O
homem marca sua presença consumindo e poluindo os recursos naturais
quase escassos sem dar conta da destruição e os danos que são causados ao
meio ambiente. A natureza é vista muitas vezes como fonte de recursos
inesgotável e gratuita, a exploração é ilimitada e devastadora, o que acaba
deteriorando a qualidade de vida da sociedade e influindo negativamente em
seu desenvolvimento.

Em vista da importância do meio ambiente, muitos profissionais


trabalham em seu cotidiano na defesa, no estudo, na busca e utilização de
informações desta área. As necessidades de informação ambiental desses
profissionais, conforme Caribé (1992), variam segundo o grau de
desenvolvimento e a política econômica adotada pelo país em que estes
atuam.
Os pesquisadores e especialistas atrelados à área ambiental, por
exemplo, têm como principal foco de estudos o conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química e biológica que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas no planeta Terra.

Caribé (1992, p. 41) ressalta que a área de meio ambiente apresenta


facetas de difícil controle, por ser multi e interdisciplinar:

[...] a área leva em consideração conceitos científicos,


sociais, religiosos e filosóficos, inclui valores políticos e
econômicos e discute conceitos das ciências físicas e
biológicas. Os assuntos de meio ambiente estão ligados
à área científica, médica e de engenharia, tais como
Geologia, Geografia, Química, Biologia, Hidrologia,
Engenharia Química, Engenharia Ambiental, Engenharia
Sanitária, Pesquisa Operacional e outras. Envolvem
também as ciências sociais com aspectos econômicos,
política econômica, gerenciamento e administração,
política governamental e implicações sociais. Para se
desenvolver qualquer estudo sistemático na área, são
necessários parâmetros e conceitos pertencentes a
várias ramificações da ciência e tecnologia.

Devido à complexidade da área e da informação ambiental, estudos que


permitam melhor conhecer este contexto são de extrema relevância. A
presente pesquisa tem como proposição investigar o comportamento de busca
e uso da informação, bem como as necessidades informacionais de
pesquisadores de três instituições de pesquisa que atuam na área de meio
ambiente, a saber: Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM) da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), O Departamento de Ciências
Biológicas da Universidade Estadual Paulista (DCB -UNESP/BAURU) e o
Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade Estadual de São Paulo (USP).

Estes são exemplos de instituições de referência em pesquisa na área


de meio ambiente, onde a informação ambiental é buscada e utilizada pelos
pesquisadores que as compõem para geração de novos conhecimentos. O
estudo do comportamento de busca e uso da informação dos pesquisadores
destas instituições possibilitará uma visão bastante apurada e representativa
sobre o comportamento informacional de pesquisadores brasileiros desta área.

Estudos sobre o comportamento e busca e uso de diferentes grupos de


são importantes, pois os pesquisadores de cada área possuem
comportamentos informacionais que lhes são próprios (MULLER, 2005). Assim,
conforme aponta CALVA GONZALES, (2004, p. 52) “(...) os resultados obtidos nas
investigações referentes as necessidades, comportamento e satisfação permitem ter
elementos para o melhoramento contínuo das unidades de informação que atendam
as comunidades específicas de usuários.

2 OBJETIVOS
2.1 Geral
• Levantar subsídios para o desenvolvimento de produtos e
serviços de informação adequados aos pesquisadores da área
ambiental;
• Analisar o comportamento de busca e uso da informação
ambiental por parte dos pesquisadores do NEPAM (Unicamp),
DCB (Unesp) e IO (USP), visando conhecer com profundidade
hábitos e necessidades de informação que estes apresentam;

2.2 Específicos
• Caracterizar a informação ambiental incluindo aspectos históricos e
atuais, enfocando o contexto dos países do “Terceiro Mundo” e
particularmente do Brasil, características de organização e uso;

• Delinear o perfil dos pesquisadores como usuários da informação


ambiental;
• levantar a tipologia da informação utilizada pelos pesquisadores da
área ambiental, bem como formas e mecanismos de obtenção dessa
informação.

• identificar as fontes de informação consideradas fundamentais para


esses pesquisadores.

3 REVISÃO PRELIMINAR DE LITERATURA

A informação é, no mundo contemporâneo um dos fatores de maior


importância para o fortalecimento das relações entre os seres humanos,
passando por todas as atividades pessoais, intelectuais e comerciais e esta
apresenta uma diversidade de suportes e formatos. A informação está
presente de forma significativa em nossa vida e vivemos num mundo onde a
mesma é peça-chave para o desenvolvimento de uma nação.

Atualmente, o desenvolvimento dos países está significativamente ligado


à produção, organização e ao domínio da informação que é capaz de causar
mudanças que afetam a economia global. Entre suas ramificações está a
informação ecológica ou informação ambiental resultante das inquietações
crescentes quanto à preservação do meio ambiente.

Na concepção de Targino (1994), a informação ambiental pode ser


considerada como

[...] dados, informações, metodologias e processos de


representação, reflexão e transformação da realidade, os
quais facilitam a visão holística do mundo e, ademais,
contribuem para a compreensão, análise e interação
harmônica dos elementos naturais, humanos e sociais.

De acordo com Vieira (1986, p. 202) a informação ambiental é composta


por dois tipos básicos de informação:
[...] a informação tecnológica, econômica e social para a
orientação de ações tanto na esfera governamental quanto
no âmbito empresarial e a informação para
conscientização da população quanto a seus direitos e
deveres com o meio ambiente.

Tavares e Freire (2003) afirmam que


A informação ambiental é um dos tipos de informação
científica e tecnológica. Ela é conseqüente da
preocupação da sociedade com os efeitos e impactos da
produção e do consumo sobre o meio ambiente.

As definições apresentadas pelos autores conceituam e caracterizam


este tipo de informação que representa um importante aporte para os
pesquisadores no desenvolvimento de suas pesquisas e tecnologias e para
conscientização da sociedade civil sobre os problemas e soluções viáveis
sobre a questão. Há um grande volume de informações sendo produzidas
sobre esta temática, o que dificulta o controle e a armazenagem da
documentação pertinente produzida sobre os assuntos ligados ao meio
ambiente. O grande impasse então é a falta de conhecimento ou então a
dificuldade de busca e recuperação desta informação.
Mulller (1992, p. 14) afirma que a produção de informações ambientais
pretende:
[...] fornecer subsídios para a abordagem apropriada dos
impactos de fenômenos naturais e das atividades
humanas sobre o meio ambiente e sobre a qualidade de
vida do ser humano no sentido de prover informações e
análises relevantes ao planejamento e à formulação de
políticas sociais, econômicas e ambientais integradas.

Por isto, a informação ambiental pode desempenhar um papel


fundamental nas decisões político-econômicas, tendo em vista ações por
melhores condições de vida, como subsídio para o desenvolvimento de
tecnologias apropriadas e na educação, visando o uso racional dos recursos
naturais (ALMEIDA, CORDEIRO e CARIBÉ, 1987)

Albagli (1995) afirma que a informação ambiental constitui um elemento-


chave no modelo de desenvolvimento sustentável, sendo que os princípios que
regem esse modelo são: o princípio da eficácia no uso de recursos, já que a
informação é requisito básico na estruturação de um processo produtivo menos
consumidor de matérias-primas e energia; o princípio da diversidade,
considerando que a informação é fundamental no reconhecimento e
potencialização da diversidade de mercados, recursos e capital humano locais;
o princípio da descentralização, à medida que a informação é essencial para
instrumentalizar os diferentes atores para atuarem em parceria, com
responsabilidades e competências definidas.

Do ponto de vista administrativo, as responsabilidades, atribuições e


decisões sobre os aspectos ambientais encontram-se diluídas entre diversas
instituições que atuam na área. A informação ambiental, conseqüentemente,
também encontra-se dispersa entre vários órgãos (CARIBE, 1992). Além disso,
os documentos publicados sobre esses diversos assuntos estão espalhados
entre uma grande variedade de fontes, e, como resultado, a informação não
está organizada de forma que possa ser recuperada com eficácia e rapidez.

A autora ainda afirma que em numerosos assuntos na área ambiental,


há muito trabalho a ser realizado para tornar os dados disponíveis. Os próprios
organismos internacionais reconhecem dificuldades para a constituição de um
sistema de informação nessa área, principalmente em função do caráter
recente das ciências ambientais, do enfoque multidisciplinar das estatísticas
ambientais, dos recursos exigidos para a busca e obtenção dos dados.

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento (1992, p.575), aponta que:

[...] embora haja uma quantidade considerável de dados


sobre meio ambiente, é preciso reunir mais e diferentes
tipos de dados, nos planos provincial, nacional e
internacional, que indiquem os estados e tendências das
variáveis sócio-econômicas, de poluição, de recursos
naturais e do ecossistema do planeta. Em razão disso,
vem aumentando a diferença em termos de disponibilidade
dos dados entre o mundo desenvolvido, prejudicando
seriamente a capacidade dos países de tomar decisões
informadas no que concerne ao meio ambiente e
desenvolvimento.

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento (op.cit., p.575) ressalta ainda que é preciso melhorar a
coordenação entre atividades de informação e os dados ambientais,
demográficos, sociais e de desenvolvimento.

Com relação à localização desta informação, Almeida et al. (1987)


afirma que a informação ambiental encontra-se fragmentada e dispersa entre
as mais variadas instituições que fornecem informações e atuam na área de
meio ambiente dando como exemplos os centros de pesquisas, as bibliotecas,
os centros de documentação e etc. Caribé (1992) complementa essa
informação afirmando que a informação ambiental tem um importante papel de
informar os indivíduos sobre os problemas e soluções viáveis sobre a questão,
além de controlar e armazenar a documentação pertinente produzida sobre os
assuntos ligados ao meio ambiente.

Ainda de acordo com Somerville (1976) apud Caribé (1992, p. 41)


existem outras características da informação ambiental, tais como:

♣ os dados ambientais quase sempre não são publicados, e o conhecimento


de sua existência só será possível após longa e/ou exaustiva experiência na
área;

♣ grande quantidade de informações e dados relevante aparece em


publicações que não são indexadas ou o são inadequadamente;
♣ grande quantidade de informações produzidas e/ou coletadas por empresas
privadas ou pelo governo não está disponível ao público, nem tampouco foi
processada;

♣ os dados disponíveis são duvidosos no que se refere à qualidade e validade,


uma vez que os métodos de coleta não são padronizados nem amplamente
conhecidos;

♣ a informação é passível de manipulação por pressões políticas,


considerações emocionais ou conservacionistas, ou ainda pressões de grupos
econômicos;

♣ rápida obsolência dos dados e da literatura;

♣ insuficiência de fontes e de obras de referência que indiquem informações


publicadas;

♣ urgência da demanda da informação para a ação do usuário;

♣ área onde os colégios invisíveis não são estáticos

Conforme Caribé (1992), as principais dificuldades na produção e


disseminação da informação ambiental no Brasil são:

• o crescimento e a urgência da demanda;

• o desconhecimento de fontes geradoras de dados ambientais;

• as deficientes padronizações de metodologias de coleta de dados e de


indexação;

• o acesso restrito às informações produzidas por alguns setores da


sociedade, especialmente aqueles considerados estratégicos;

• as manipulações provocadas por pressões políticas, econômicas ou,


até mesmo, conservacionistas;

• a rápida obsolescência e constante risco de interrupção de séries


históricas.

Com relação à abordagem do tema na área de Ciência da Informação,


Tavares e Freire (2003, p. 209) afirma que, “estudos que abordam a
informação ambiental no campo da Ciência da Informação vêm aumentando
nos últimos anos, em decorrência da crise ambiental que se vive atualmente,
no país e no mundo”.

A busca pela informação ambiental, além de servir para fins de


pesquisa, é resultado do interesse de alguns, em sanar um problema bem mais
agravante e que está correlacionado aos problemas ambientais: o da
desinformação e da ignorância generalizada.

4 METODOLOGIA

Para auxiliar a interpretação das informações e fundamentar a pesquisa


será realizada a análise da literatura nacional e internacional disponível,
objetivando caracterizar a área em estudo sob os aspectos: histórico, de
desenvolvimento econômico e da situação dos órgãos ambientais do País, bem
como das áreas de pesquisa e ensino relacionadas com o segmento ambiental
e do escopo da área. Serão abordados também os temas de comportamento
de busca e uso da informação por grupos específicos, em particular de
especialistas e em contexto de produção de pesquisas.
Com vistas a caracterizar o perfil dos pesquisadores brasileiros como
usuários da informação ambiental e identificar o comportamento de busca e
uso da informação pelos pesquisadores do NEPAM, DCB e IO, pretende-se
nesta pesquisa empregar uma metodologia exploratória, que consiste na
aplicação de um questionário (contendo perguntas abertas e fechadas) e
aplicando-o a todos pesquisadores das três instituições selecionadas.
A construção do questionário será baseada na literatura sobre
comportamento de busca da informação (ALBRECHTTSEN, H.; HJÖRLAND,
B., 1997; JOHNSON, J. D. E. et.al., 2006; FOSTER, A. E. 2004).
Antes da aplicação do questionário será realizado um pré-teste junto a
seis pesquisadores da área ambiental das referidas instituições para a
realização de possíveis ajustes no instrumento de coleta de dados. A
aplicação do questionário será realizada por meio de correio eletrônico.
O DCB pertencente à Universidade Estadual Paulista de Bauru
(UNESP/BAURU) e figura-se como importante centro de pesquisas na área de
meio ambiente e este oferece infra-estrutura adequada para o desenvolvimento
de diversos projetos de pesquisa, tendo como objetivo a formação, científica,
tecnológica e cultural de pesquisadores e profissionais de alto nível.
Assim como o NEPAM e o DCB, o IO apresenta como diferenciais na
área de pesquisa, a capacidade de desenvolver projetos multidisciplinares
devido a diversas linhas de pesquisa que este possui e a qualificação de seus
pesquisadores no que concerne à temática ambiental centrada nos estudos de
oceanografia e biologia marinha.
Em vista da busca e utilização da informação ambiental nas instituições
citadas anteriormente, o trabalho será desenvolvido tendo como base estas
instituições, pois as mesmas constituem importantes referenciais para temática
abordada nesta pesquisa.
As instituições citadas poderão conhecer tal opinião à informação
ambiental e procurarão se necessário adequar-se às necessidades desses
pesquisadores com relação à informação, otimizando e dinamizando seus
serviços de busca e referência concernente à área de meio ambiente, sendo
que as informações poderão ser organizadas e, por conseguinte,
disseminadas, garantindo a qualidade e confiabilidade na recuperação do
conteúdo informacional, bem como dos produtos documentários deles
decorrentes, estando de fácil acesso aos pesquisadores que necessitam da
informação de qualidade e confiável.

REFERÊNCIAS

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para o século XXI. Ciência da Informação, v. 24, n. 1, 1995.

ALBRECHTTSEN, H.; HJÖRLAND, B. Information seeking and knowledge


organization. Knowledge organization, v. 24, n.3, p. 136-144, 1997.

ALMEIDA, Iêda Muniz de; CORDEIRO, Lia Prado Arrivabene; CARIBÉ, Rita de
Cássia do Vale. Estudo da necessidade de criação de uma base de dados
sobre poluição. Revista de Biblioteconomia de Brasília, Brasília, v. 15, n. 2,
p. 343-353, jul/dez. 1987.

CALVA GONZALES, Investigacion bibliotecologia, v. 37, n.18, p. 52 - , 2004.

CARIBÉ, Rita de Cássia do Vale. Informação ambiental no Brasil: subsídios


para um sistema de informação. Brasília: Universidade de Brasília, 1988,
218p. (Dissertação de Mestrado)
CARIBÉ, Rita de Cássia do Vale. Subsídios para um sistema de informação
ambiental no Brasil. Ciência da Informação, Brasília, v. 21, n. 1, p. 40-45,
jan./abr. 1992.

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Rio de janeiro, 1992. Agenda. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de
Edições Técnicas, 1996, 585p.

FOSTER, A.E. A non-linear model of information seeking behaviour. Journal of


the American Society for Information Science and Technology, 55, n.3,
2004, p.228-237.

GARCIA, R. M. ; SILVA, Helen de C. . Necessidades de otimização dos


processos de planejamento e operacionalização das estratégias de busca em
bases de dados especializada: um estudo com pós-graduandos da UNESP de
Marília. In: FUJITA, Mariângela Spotti Lopes. (Org.). A dimensão social da
Biblioteca digital na organização e acesso ao conhecimento: aspectos
teóricos e aplicados. São Paulo, 2005, v. 2.

JOHNSON, J. D. E. et.al. Fiels and pathways: contrasting or complementary


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MITTERMEIER, R. A et al. O país da megadiversidade. Ciência Hoje, Rio de


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MUELLER, Suzana Pinheiro Machado . A publicação da ciência: áreas


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da Informação, v.6 n.1 fev. 2005. Online. Disponível em:
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MULLER, C. C. Situação atual da produção de informações sistemáticas sobre


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VIEIRA, Anna da Soledade. Pra não dizer que não falei de flores: uma
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VIEIRA, Anna da Soledade. Informação para gerenciamento ambiental no


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VIEIRA, Anna da Soledade. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável:


fontes para compreensão do discurso político-ambiental do governo brasileiro.
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VIEIRA, Anna da Soledade. Política brasileira de informação ambiental.


Ciência da Informação, Brasília, v. 19, n. 1, p. 3-7, 1981.
BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA PROATIVA

MARIA DE FÁTIMA PEREIRA RAPOSO1


CARMELITA DO ESPÍRITO SANTO2

RESUMO

Visa apresentar alguns procedimentos para uma postura proativa em bibliotecas universitárias. Apresenta
aspectos do conceito de proatividade bibliotecária em um contexto de dificuldades para usar e aplicar as
tecnologias de informação (TI). Neste sentido, uma gestão eficiente da informação deve contemplar não só
a capacitação dos seus usuários, mas também a capacitação do seu corpo de bibliotecários para as ações
proativas. Como resultado, a confiança e a qualidade dos serviços nas biblioteca crescem
proporcionalmente às ações proativas adotadas pelo Sistema.

Palavras-chave: proatividade bibliotecária – biblioteca universitária – gestão da informação

1 INTRODUÇÃO

A Universidade e a Biblioteca são instituições sociais voltadas para o atendimento das


necessidades de um grupo social ou da sociedade em geral. Contudo, na sociedade do
conhecimento, a biblioteca universitária passa por um momento crucial no que se refere
ao seu papel de auxílio e apoio ao processo educacional. De acordo com a Associação
Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior – ABMES (2006) o Brasil têm cerca de
quatro milhões de estudantes em cursos de graduação, sendo 2.750.652 no setor privado.
Estes números podem refletir os subsídios de programas governamentais brasileiros que
visam levar a universidade às classes menos favorecidas, como o programa Universidade
para Todos PRO UNI e programa Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino
Superior – FIES. O PRO UNI tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo
integrais e parciais, a estudantes de cursos de graduação e seqüenciais de formação
específica, em instituições privadas de educação superior, oferecendo em contrapartida,
isenção de alguns tributos àquelas que aderirem ao Programa. O Fundo de
Financiamento ao Estudante do Ensino Superior - FIES é um programa do Ministério da
Educação - MEC destinado a financiar a graduação no Ensino Superior de estudantes
que não têm condições de arcar integralmente com os custos de sua formação.

1
Mestre em Ciência da Informação IBICT/UFRJ. Diretora do Sistema de Biblioteca do Centro Universitário
da Cidade do Rio de Janeiro – UNIVERCIDADE fatima@univercidade.br
2
Mestre em Ciência da Informação IBICT/UFRJ. Bibliotecária do Sistema de Bibliotecas do Centro
Universitário da Cidade do Rio de Janeiro – UNIVERCIDADE. csanto@univercidade.br
Este cenário evidencia um paradoxo no sistema educacional brasileiro. De um lado,
demonstra que o nível educacional do país está crescendo, mas, por outro lado evidencia
o problema da exclusão digital, pois a maioria dos novos alunos ainda tem grande
dificuldade para usar e aplicar as tecnologias de informação e comunicação (TICs). Este
problema é observado diariamente nas bibliotecas do Sistema de Bibliotecas do Centro
Universitário da Cidade do Rio de Janeiro, instituição de ensino superior da rede
particular, na qual este trabalho está ambientado.

Nosso objetivo principal é mostrar alguns procedimentos que caracterizam uma postura
pró-ativa em bibliotecas universitárias brasileiras. Para tanto, apresenta aspectos do
conceito de pró-atividade em um contexto onde o uso e a aplicação das Tecnologias de
Informação(TIs) constituem-se em ferramentas essenciais não só para o processo
educacional do universitário, mas também para ajudar na promoção da inclusão
social/digital no Brasil.

Em nossa abordagem, a missão das instituições de ensino superior deve ultrapassar o


contexto universitário. Assim, devem incluir em suas rotinas programas e/ou atividades
que possam dar aos seus usuários a devida competência informacional “Information
Literacy” para resolver os seus problemas de informação em qualquer fase da suas vidas.

2 SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNIVERCIDADE

O Sistema de Bibliotecas tem como objetivo principal assegurar infra-estrutura de


informação aos programas de ensino, pesquisa e extensão da Univercidade.

O acervo bibliográfico do Sistema de Bibliotecas da Univercidade, com aproximadamente


400.000 volumes, é composto de livros, publicações periódicas (impressos e eletrônicos) ,
monografias de conclusão de curso, CD-Rom, DVD, disquetes, fitas de vídeo, fitas
cassete, mapas, slides e discos, distribuído nas diferentes bibliotecas das unidades.
(RAPOSO, ESPÍRITO SANTO E UNGER 2005).
Além do acervo prioritário para os universitários, há um outro acervo dedicado ao Ensino
Fundamental e Médio, organizado nas Bibliotecas do Colégio Cidade. Possui também
Coleções Especiais como o acervo dos Juristas Clóvis Beviláqua e Vicente Sobrinho
Porto, parte da coleção de livros do Jornalista Paulo Francis e do Filólogo Otávio de Brito,
a série Brasiliana, acervo russo sobre cultura, arte e literatura, entre outras, perfazendo
um total de aproximadamente. Faz parte também do acervo do sistema de Bibliotecas da
UniverCidade, o arquivo particular do jornalista e colunista social Ibraim Sued, composto
de matérias publicadas em jornais e revistas e objetos pessoais. Para tratamento e
recuperação de informações do acervo foi implantada uma única base de dados para
todas as bibliotecas da UniverCidade utilizando-se o sistema Argonauta, tanto a nível
local, como remotamente, através da Web.

Entre os serviços oferecidos no Sistema de Bibliotecas da UniverCidade, destacam-se:


acesso às base de dados on-line, consulta a bases de dados especializadas, (entre as
unidades ou entre as bibliotecas de IES’s do Rio de Janeiro), comutação bibliográfica,
levantamento bibliográfico, acesso à Internet, treinamento de usuários, entre outros.
Além desses, oferece os recursos de compartilhamento através de sua participação nas
seguintes redes:
COMUT (Comutação Bibliográfica), como Biblioteca Solicitante.
REDARTE - Rede de Bibliotecas e Centros de Informação em Arte
Compartilhamento entre bibliotecas das IES do Estado do Rio de Janeiro,
GIDJ/RJ - Grupo de Profissionais em Informação e Documentação Jurídica do Rio de
Janeiro,
APCIS - Associação de Profissionais de Informação em Saúde, que congrega
bibliotecários de instituições públicas e privadas tanto acadêmicas como de pesquisa na
área de saúde,
CBBU - Comissão Brasileira de Bibliotecas Universitárias, da qual a Diretora geral de
Bibliotecas é Conselheira Regional para a Região Sudeste II (RJ).
3 CENÁRIOS PARA A CONSTRUÇÃO DA PROATIVIDADE

A Informação sempre foi importante nas universidades, mas agora parece ter assumido
importância ainda maior que no passado, quando já foi chamada de sangue que dá vida
às universidades, e considerada como parte da própria infra-estrutura da universidade. Na
atualidade, podemos dizer que os conceitos informação e universidade são indissociáveis,
pois a informação ocupa lugar central em todas as rotinas universitárias. “Tão central que
se confundiria com a própria noção de universidade”. (MUELLER, 2000)

As Instituições de Ensino Superior – IES’s de todo o mundo estão reavaliado suas formas
de reunir, processar e disseminar informações para o ensino, pesquisa, extensão e para
sua própria administração. Neste contexto, as bibliotecas universitárias desempenham
um papel crucial, pois a biblioteca universitária pode ser considerada como o espelho da
universidade. A qualidade dos serviços oferecidos na biblioteca universitária pode ser um
fator de determinação da qualidade dos serviços oferecidos na universidade como um
todo. Assim, para fazer jus ao seu papel de espelho da universidade, a biblioteca deve
estar sempre atenta para responder com qualidade as demandas informacionais de seus
clientes além de, muitas vezes, se adiantar e prover essa demanda.

Sabemos que com o surgimento da Internet, a instantaneidade, a efemeridade, a


complexidade e a rapidez com que as informações se processam e veiculam na rede,
dificultam o controle e a qualidade da informação. (FREIRE, 2004). Assim, a
sobrevivência da biblioteca e de suas atividades de apoio ao ensino e à pesquisa
depende de uma postura estratégica do gestor da informação, o que implica na
percepção, avaliação e adoção de perspectivas diferenciadas para a administração no
panorama atual. Implica dizer aqui que saber como acessar e utilizar a informação,
representa um elemento essencial na educação moderna, o que dá ao trabalho educativo,
o papel de protagonista na construção de uma sociedade emancipadora e igualitária.
Entretanto, as competências necessárias para localizar, processar e utilizar a informação,
não acompanham as tendências das “infovias’ ou “supervias” da chamada Sociedade da
Informação. (BELLUZZO, 2006). Isto é observado na rotina da maioria das bibliotecas
universitárias brasileiras, em especial nas bibliotecas do Sistema de Bibliotecas da
UniverCidade. Para se ter uma noção da questão, uma boa parcela dos alunos não
sabem, ao menos, o que é uma biblioteca, pois nunca foram apresentados a ela.
Seguem-se ainda problemas comuns na maioria das nossas bibliotecas enfrentados pelos
alunos que:

a) não sabem utilizar o computador devidamente para fazerem suas pesquisas;

b) não sabem fazer pesquisas para realizarem seus trabalhos acadêmicos


(freqüentemente copiam textos);

c) não dispõem de um ambiente próprio para estudar fora da universidade;

d) moram em lugares, aonde não existem bibliotecas.

Diante destes problemas o Sistema de Bibliotecas elaborou alguns projetos, hoje


transformados em programas, que visam manter a postura proativa do sistema mediante
as necessidades de informação de seus usuários: programa de treinamento de usuários,
competência informacional, complemente sua formação geral e programa educação
continuada dos bibliotecários, entre outros.

Para avaliar o alcance destes programas, inserimos aqui o conceito de biblioteca pró-
ativa, cuja finalidade principal está em oferecer serviços que ultrapassem os modelos
tradicionais de atendimento ao usuário. É oportuno saber como este conceito pode ser
aplicado na biblioteca universitária.

4 PROATIVIDADE BIBLIOTECÁRIA NA UNIVERCIDADE

Um dos significados do prefixo "pró" é antecipação, algo que acontece antes. Neste
contexto, a pessoa proativa está sempre se antecipando aos acontecimentos, fazendo até
mesmo alguma espécie de previsão para poder atuar de uma determinada forma
planejada Neste caso, é necessária uma análise do contexto, a identificação e a seleção
de alternativas que possam levar à previsão dos resultados de cada cenário. É claro que
isto leva algum tempo, mas, com um bom planejamento, há chances de sucesso. (LAGO,
2005)

Então ser proativo significa tomar a iniciativa. Embora a iniciativa faça parte da
proatividade, ela se apresenta apenas como uma reação e não como uma ação para
responder uma determinada demanda. A proatividade se efetiva quando, além do
planejamento, se adiciona a uma determinada demanda um questionamento positivo do
processo, conforme exemplo abaixo:

Um instrutor, dando uma palestra, pergunta quem poderia tirar cópias xerox de um artigo.
Alguém rapidamente se oferece como voluntário. A pessoa proativa se oferece como
voluntária e também sugere algo do tipo: "Podemos escanear o artigo?" ou "Que tal
pedirmos para alguém colocar o artigo no formato word ou Power Point?" Trata-se de um
questionamento visando a melhoria do processo ou do resultado. Neste sentido, um
questionamento positivo é a base para toda mudança que pode ocorrer em um
determinado setor de atividade, que pode levar a mudanças de maneira consistente.
Assim, “somando-se a iniciativa + planejamento + questionamento positivo tem-se a
proatividade. Quando acrescida da criatividade, a pró-atividade pode levar à inovação”.
Criatividade sem proatividade não passa de um monte de idéias que podem ser ou não
ser úteis. Proatividade sem criatividade resultará em mudança de pouco ou curto
impacto.(LAGO, 2005)

Neste contexto, o sentido do conceito de proatividade revela que há uma pré-disposição


pessoal para iniciar e manter ações que alteram diretamente o ambiente. Um termo
bastante recorrente nesta questão é o interacionismo, onde a abordagem proativa
considera as possibilidades de indivíduos criarem seus ambientes. A compreensão da
abordagem interacionista conduz a processos específicos, tais como seleção,
reestruturação cognitiva, evocação e a manipulação, que envolve esforços intencionais
das pessoas em moldar, alterar, explorar e mudar seu ambiente social. Através destes
processos, é possível alterar intencionalmente situações, sejam elas sociais ou não-
sociais.(POZZEBON, 1998)
Por outro lado, há conflitos em relação ao conceito de proatividade, pois muitos que
crêem serem proativos, na maioria das vezes, confundem o conceito, pois acham que ser
proativo é ter iniciativa, outras pessoas, contudo, entendem que o termo significa ter
orientação para a ação rápida. A pessoa proativa está sempre se antecipando aos
acontecimentos, fazendo até mesmo alguma espécie de previsão para poder atuar de
uma forma planejada.

Para o sistema de Bibliotecas da Universidade, o conceito de proatividade está


intrinsecamente relacionado com as rotinas bibliotecárias. Como já mencionado, o
principal problema enfrentado pela maioria das bibliotecas da UniverCidade é a
dificuldade que a maioria dos alunos enfrentam para utilizar os recursos informacionais
(TI) disponíveis na biblioteca para a realização de suas pesquisa e trabalhos
acadêmicos. Ser proativo, neste sentido implica na adoção de medidas que possam
ajudar ao aluno a resolver seus problemas de informação. Isto requer a colaboração e
cooperação não só da biblioteca, mas de diversos setores da universidade. Implica falar
aqui em negociação e articulação entre os diversos setores da Universidade, como a
coordenação acadêmica, professores, setor administrativo, setor de informática, etc...
Além disso, o bibliotecário universitário deve ser um profissional capacitado para
responder à demanda das necessidades de suas respectivas bibliotecas, o que implica no
constante aperfeiçoamento e atualização de seus conhecimentos bibliotecários. É neste
contexto que inserimos os procedimentos proativos que vem sendo aplicados no Sistema
de Bibliotecas da UniverCidade.

4.1 Programa de Treinamento de Usuários

O objetivo do programa de treinamento de usuários, aplicado pelos bibliotecários, é


mostrar ao aluno/usuário como a biblioteca funciona e como utilizar os seus serviços. O
programa engloba tópicos como organização do acervo, comportamento e serviços
oferecidos. O programa é oferecido é aplicado pelos bibliotecários. O projeto aborda os
seguintes tópicos:
a) conduta: diz respeito a apresentação das normas de comportamento no interior da
biblioteca com o propósito de mostrar ao aluno que este item influencia bastante na
qualidade dos serviços por ela oferecidos.
b) composição do acervo: neste tópico, o usuário é informado sobre os vários tipos de
documentos que compõem o acervo da biblioteca, destacando as especificidades de
obras de referência, normas técnicas, códigos, entre outros materiais de uso restrito na
biblioteca.
c) preservação do acervo: aborda as questões relacionadas ao manuseio do material do
acervo objetivando a conscientização quanto à preservação do acervo. Os alunos são
alertados em relação a problemas como colagem nos livros, anotações, grifos com
canetas lumicolor, livros rasgados, furtos e outros problemas comumente observados na
biblioteca.
d) catálogo eletrônico: objetiva mostrar ao aluno que o catálogo é o canal de comunicação
entre o usuário e o acervo. Neste sentido, são mostrados os tipos de catálogos existentes
na biblioteca (local e Internet). É apresentado também um pequeno resumo sobre a
organização do acervo, destacando o sistema de classificação adotado (CDD/Cutter)
e) biblioteca virtual: são apresentadas as principais características das bibliotecas
tradicionais e das bibliotecas virtuais, exemplificadas através da página da biblioteca no
site da UniverCidade. (periódicos eletrônicos):
f) serviços oferecidos: este item diz respeito único e exclusivamente aos serviços que a
Biblioteca oferece aos seus usuários, conforme já mencionados acima, consulta orientada
ao acervo, reserva de livros, empréstimo, empréstimo entre bibliotecas da instituição,
empréstimo entre instituições, normalização de trabalhos científicos e técnicos, serviço de
comutação bibliográfica, acesso às bases de dados eletrônicas, etc...
g) Internet: O objetivo deste tópico é mostrar que embora a Internet seja primordial para o
desenvolvimento acadêmico e profissional do usuário, o bom uso da rede depende de
uma série de fatores, que engloba, entre outros a qualidade da informação. São
apresentados alguns exemplos de busca e recuperação na Internet através do Google e
do página da biblioteca no site da UniverCidade
h) E-mail institucional: O aluno regularmente matriculado na UniverCidade recebe um e-
mail institucional. É o e-mail que possibilita receber toda espécie de comunicados que a
instituição produz. No que se refere à Biblioteca o e-mail institucional é utilizado como
canal direto entre a Biblioteca e o aluno. Por este canal, é possível fazer pedidos de
devolução de livros atrasados, fazer reservas de livros, informar ao aluno sobre a
chegada de livros solicitados para outras unidades, além de outros serviços. O usuário
também pode utilizar este serviço para fazer reclamações e dar sugestões não só para a
biblioteca na qual ele está inscrito, como também para a DGB – Diretoria Geral de
Bibliotecas.

O programa é apoiado pela Pró-Reitoria Acadêmcia e faz parte de disciplina curricular


introdutória de cada curso Da UniverCidade, como Introdução ao Direito, introdução à
Administração, etc. O alcance do programa é bastante satisfatório, pois engloba
praticamente todos os alunos do primeiro período de cada curso. Conforme já dito, os
bibliotecários, orientados pela DGB, são responsáveis pela aplicação do programa. Os
horários do Treinamento de Usuários são combinados de acordo com os professores
responsáveis pela disciplina introdutória nos primeiros períodos de cada curso e tem a
duração de aproximadamente, no mínimo, noventa minutos.

Segundo o depoimento dos bibliotecários, o programa tem sido aprovado, pois os alunos
se mostram bastante interessados, o que é demonstrado através de perguntas e
questionamentos feitos pelos mesmos. Há também uma grande participação de
professores. Contudo há alguns problemas, mas estes estão sendo resolvidos: falta de
espaço em algumas bibliotecas, aonde o fluxo de usuários é bem maior, como as
localizadas nas zonas norte e oeste. Há dificuldades para ajustar os horários dos
treinamentos com os horários das aulas, já que é aplicado durante o período letivo. Em
algumas unidades há muitas turmas de primeiro período, o que dificulta a conciliação das
atividades rotineiras da biblioteca com a aplicação do treinamento. De qualquer modo a
experiência tem sido satisfatória, conforme os resultados relatados: aumento de
freqüência na biblioteca; aumento de cadastro na biblioteca; conhecimento maior do
acervo da biblioteca; divulgação do acervo não convencional da biblioteca (monografias,
normas ABNT, periódicos, CD Rom, etc); aumento no empréstimo entre bibliotecas; maior
conscientização quanto ao uso de celulares na biblioteca; mais assinaturas no livro de
presença; e conseqüentemente, maior visibilidade para o sistema de bibliotecas da
Univercidade.
4.2 Programa de Normalização de Trabalhos Acadêmicos

Este programa visa dar orientação aluno sobre o uso e aplicação das normas da ABNT
(NBR 14724 – apresentação de trabalhos acadêmicos, NBR 6023 - referências
bibliográficas) O atendimento é feito individualmente ou em grupo.

4.3 Competência Informacional na Univercidade

A idéia de “Information Literacy” emerge com o advento das TICs no início dos anos 70 e
atualmente, está associada com práticas de informação e o pensamento crítico, no
ambiente das tecnologias de informação e comunicação. (DUDZIAK,2003). Conforme o
Colóquio Competência Informacional e Aprendizado ao longo da vida realizado na
Biblioteca de Alexandria em 2005, a competência informacional e o aprendizado ao longo
da vida são os “faróis da Sociedade, iluminando os caminhos para o desenvolvimento, a
prosperidade e a liberdade.”

A competência informacional está no cerne do aprendizado ao longo


da vida. Ele capacita as pessoas em todos os caminhos da vida para
buscar, avaliar, usar e criar a informação de forma efetiva para atingir
suas metas pessoais, sociais, ocupacionais e educacionais. É um
direito humano básico em um mundo digital e promove a inclusão
social em todas as nações”.
O aprendizado de toda a vida prepara os indivíduos, as comunidades
e as nações a atingir suas metas e a aproveitar as oportunidades que
surgem no ambiente global em evolução para um benefício
compartilhado. Auxilia-os e suas instituições a enfrentar os desafios
tecnológicos, econômicos e sociais, para reverter a desvantagem e
incrementar o bem estar de todos. (IFLA, 2005)

A inclusão digital refere-se não só a aquisição de habilidades básicas para o uso de


computadores e da Internet, mas também a capacitação para utilização dessas mídias,
em favor dos interesses e necessidades individuais e comunitários, com responsabilidade
e senso de cidadania. (FREIRE, 2004).

Segundo Belluzzo (2006), para que as pessoas adquiram “information literacy”, é preciso
que a educação insira esse aprendizado nos seus currículos. Os elementos necessários
para inclusão devem contemplar não só o acesso físico às TICs, mas também a
capacitação das pessoas para utilizá-las. A Competência em Informação pode ser
desenvolvida sob diferentes concepções: a)baseada nas tecnologias da informação;
b)baseada em fontes de informação; c) baseada na informação como processo; d)
baseada na construção do conhecimento; e) baseada na extensão do conhecimento; f)
baseada no saber. (BELLUZZO, 2006)

O Sistema de Bibliotecas da UniverCidade adota a concepção baseada em fontes de


informação visando capacitar aos seus usuários para acessá-las de forma independente.
As primeiras experiências ocorreram em 2003 na área de Ciências da saúde. Desde
aquela data, o trabalho vem sendo criteriosamente avaliado visando o seu aprimoramento
para a adequação às necessidades dos alunos. O enfoque metodológico da disciplina
propõe: a) contextualizar a informação na sociedade da informação para demonstrar a
sua importância na vida acadêmica e profissional dos alunos; b)possibilitar ao aluno o
conhecimento dos critérios que determinam a qualidade da informação; c) Possibilitar ao
aluno o conhecimento de fontes de informação; d)Possibilitar ao aluno o conhecimento
dos critérios que determinam a qualidade das fontes de informação; e) Possibilitar ao
aluno o conhecimento das normas de padronização da informação nos mais diversos
formatos. Está em fase de implantação um projeto, utilizando modelo utilizado na área de
saúde, para a área de Ciências Jurídicas.

4.4 Programa Complemente sua Formação Geral

Este programa foi adotado visando a oferecer aos alunos o acompanhamento dos fatos
recentes sobre de informação geral. Para tanto se efetiva através de consultas e leituras
a jornais e revistas on-line de informação geral. A leitura desses periódicos poderia ser
melhor aproveitada se fossem consideradas as seções que nem sempre são manchetes
tais como Educação, Arte, Filosofia, Globalização, Responsabilidade social, Ecologia e
Cidadania, etc. Assim, o Sistema de Bibliotecas criou um tipo de “clipping” sobre os
assuntos citados. As notícias, veiculadas em periódicos de grande circulação on-line,
são selecionadas, indexadas e distribuídas às bibliotecas cada Unidade. O aluno têm,
então, notícias selecionadas à sua disposição, podendo consultá-las facilmente ou copiá-
las para leitura posterior. Esse serviço é monitorado pelos professores, em sala de aula, o
que motiva os alunos na busca à informação mais detalhada e bastante atualizada,
contribuindo assim para a criação do hábito de leitura e para a sua formação geral.

4.5 Educação Continuada dos Bibliotecários

O programa foi implementado com o objetivo de aperfeiçoar e atualizar o conhecimento


dos bibliotecários do Sistema de Bibliotecas da Univercidade. O programa é desenvolvido
em duas categorias: a) técnico; b) Interatividade bibliotecária. No primeiro grupo, estão
incluídos todos os elementos que possibilitem o aperfeiçoamento técnico que a profissão
bibliotecária exige. Aqui, englobam-se cursos e eventos voltados para a capacitação e/ou
atualização sobre as ferramentas utilizadas nas rotinas bibliotecárias. O quesito
interatividade bibliotecária está direcionado basicamente para promover o encontro entre
os bibliotecários do Sistema. Para tanto, se efetiva através da divulgação e realização de
eventos da área de biblioteconomia As notícias sobre eventos e cursos são repassadas
pela Intranet a todas as bibliotecas. Os encontros entre os bibliotecários do Sistema
ocorrem mensalmente na sede da UniverCidade. Na ocasião, bibliotecários de cada
unidade expõem os problemas e conflitos ocorridos durante o mês para serem discutidos
e solucionados entre todos em “mesa redonda”. O encontro mensal é reservado também
para a leitura de textos atuais da área, que são debatidos visando a aplicação dos
conceitos nas bibliotecas. Anualmente é realizado um evento que congrega todas as
equipes do Sistema de Bibliotecas do Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro.

Nessa ocasião os funcionários que desenvolveram trabalhos científicos ou práticos têm a


oportunidade de expor para toda a comunidade da instituição a sua produção ao longo do
ano.
5 CONCLUSÃO

Os subsídios dos programas educacionais colaboraram com o aumento de inserção de


alunos carentes no ensino superior privado. Entretanto, a maioria desses alunos tem
dificuldades para usar e aplicar as tecnologias de informação no seu processo de
aprendizado universitário. Este cenário se refletiu no Sistema de Bibliotecas do Centro
Universitário da Cidade do Rio de Janeiro – UNIVER CIDADE, que começou a adotar
uma postura proativa frente à nova demanda. Os procedimentos utilizados dizem respeito
não só ao treinamento para a promoção da competência informacional dos usuários do
Sistema, mas também ao corpo de bibliotecários da instituição.

As atitudes proativas do Sistema de Bibliotecas da UniverCidade tornaram possível um


envolvimento maior na vida acadêmica trazendo visibilidade às atividades de
documentação e informação na instituição e fora dela. O trabalho criterioso e sério é visto
pela comunidade acadêmica como modelo de aplicação a ser seguido, pois os resultados,
conseguidos com esforço e dedicação, tornam a Biblioteca forte componente da estrutura
acadêmica e da sedimentação do ensino.

Embora os procedimentos adotados possam ser vistos como rotinas normais de qualquer
biblioteca do chamado primeiro mundo, no Brasil, podemos caracterizá-los como
proatividade bibliotecária, pois os resultados alcançados podem ser vistos como uma
proposta inovadora para as bibliotecas universitárias brasileiras.

Finalmente, uma administração biblioteconômica que busca a proatividade nas rotinas


bibliotecárias contribui para a formação de bons profissionais com perfil adequado ao
desempenho das suas variadas funções. As iniciativas vêm repercutindo favoravelmente
não só em relação ao profissional bibliotecário, como também do ponto de vista da
visibilidade e conceito profissional do Sistema de Bibliotecas.
REFERÊNCIAS

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Disponível em <http://www.portalmec.gov.br/arquivos/pdf/abmes.pdf.> Acesso em:
16.jan.2006.
BELLUZZO, R. C. B. Competência em Informação: um diferencial das pessoas na
sociedade contemporânea. São Paulo, 2006. Oficina de trabalho.
BRUCE, C. Seven faces of information literacy in higher education. 1997. Disponível em:
<http://sky.fit.qut.edu.au/~bruce/inflit/faces/faces1.htm> Acesso em:13 abr.2005.
DECLARAÇÃO de Alexandria sobre competência informacional e aprendizado ao longo
da vida. Disponível em <http://www.ifla.org/III/wsis/BeaconInfSoc-pt.html> Acesso em:
11.abr.2006.
DUDZIAK, E. A. Information literacy: princípios, filosofia e prática Ciência da Informação,
volume 32 (2003) Disponível em: <www.ibict.br/cienciadainformação> Acesso em:
19.dez.2005.
ESPÍRITO SANTO, C. “Quissamã somos nós”: Recursos informacionais para construção
de hipertexto sobre identidade cultural. Morpheus volume 5,(2004). Disponível em
<http://www.unirio.br/morpheusonline/carmelita_do_espirito_santo.htm> Acesso em:
28.nov.2005.
FIES - Programa de Financiamento Estudantil. Instituições de Ensino. Disponível em:
<www3.caixa.gov.br/fies/> . Acesso em: 18.abr.2006.
FREIRE, I. M. O desafio da inclusão digital. Transinformação, volume 16, p.189-194,
2004.
LAGO, A. O que é pró atividade? Disponível em
<http://www.widebiz.com.br/gente/alfredo/oqeproatividade.html.> Acesso em: 22 set.
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MUELLER, S. P. M. Universidade e informação: a biblioteca universitária e os programas
de educação a distância: uma questão ainda não resolvida. DataGramaZero - Revista de
Ciência da Informação – volume 1, .(2000) Disponível em
<http://www.dgz.org.br/ago00/Art_01.Htm> Acesso em: 22.out.2005.
POZZEBON, M. Um Modelo de EIS que Identifica Características para Comportamentos
Proativos na Recuperação de Informação. Dissertação (Mestrado PPGA) – Porto Alegre:
UFRGS, 1998.
PROUNI - Programa Universidade para Todos . Disponível em:
<prouni.mec.gov.br/prouni> Acesso em: 18.abr.2006.
RAPOSO, M. F. P.; ESPIRITO SANTO, C. A proactive university library in the Brazilian
context. In: ANNUAL CONFERENCE ON INTERNATIONAL ASSOCIATION OF
TECHNOGICAL UNIVERSITY LIBRARY, 27., 22-25 maio. 2006, Porto, Portugal.
Embedding Libraries in Learning and Research. Porto: Universidade do Porto, 2006.
Disponível em: <http://paginas.fe.up.pt/~iatu2006/authors4.html>. Acesso em: 22/06/2006
RAPOSO M. F. P., ESPÍRITO SANTO C., UNGER R. J. G. Aplicação do conceito de
proatividade no sistema de bibliotecas da univercidade in: BIBLIOCIDADE, 8., 2005, Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro: UNIVERCIDADE, 2005.
UNIVERCIDADE: obsessão pela qualidade. Disponível em: <http://www.univercidade.br>
Acesso em: 18.abr.2006.
Sistema de Bibliotecas e Informação
SIBI/UFRJ

ANA LÚCIA FERREIRA GONÇALVES

ESPAÇO INTEGRADO DAS BIBLIOTECAS DA ESCOLA DE


BELAS ARTES, DA FACULDADE DE ARQUITETURA E
URBANISMO E DO INSTITUTO DE PESQUISA E
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL

Rio de Janeiro
2006
RESUMO

O trabalho é um relato da experiência sobre a criação do Espaço


Integrado das Bibliotecas da Escola de Belas Artes, da Biblioteca Lúcio Costa
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e da Biblioteca do Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro. Apresenta-se na introdução a origem do referido
espaço seguido de uma breve descrição das três bibliotecas. Pontua-se a
seguir um programa de necessidades para a consolidação do Espaço
Integrado. Na conclusão são elencados os objetivos para sua implementação,
bem como o andamento do estudo preliminar da planta de arquitetura que está
sendo elaborada pelo Escritório Técnico da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 04
2 UM BREVE HISTÓRICO DAS BIBLIOTECAS 05
2.1 BIBLIOTECA DA FACULDADE DE ARQUITETURA E 05
URBANISMO
2.2 BIBLIOTECA DO INSTITUTO DE PESQUISA E 06
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL / UFRJ
2.3 BIBLIOTECA DA ESCOLA DE BELAS ARTES 08
3 CONSOLIDAÇÃO DO ESPAÇO INTEGRADO 10
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 11
REFERÊNCIAS 13
ANEXOS 14
4

1 Introdução

A idéia de integração das Bibliotecas da Faculdade de Arquitetura e


Urbanismo (FAU), da Escola de Belas Artes (EBA) e do Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) teve sua origem há muitos anos,
mais precisamente no documento intitulado “Projeto de Informatização das
Bibliotecas da UFRJ” elaborado no Sistema de Bibliotecas e Informação – SIBI
/ UFRJ em 1996. Este trabalho chamava atenção para alguns aspectos
relacionados à racionalização das aquisições, racionalização funcional, de
equipamentos e de espaço físico.
Em relação ao espaço físico, há muito que os espaços destinados às
bibliotecas vêm sendo comprometidos face às crescentes demandas
acadêmicas. Ter como premissa remanejar coleções e colocá-las em um
espaço físico único, desde que houvesse afinidade entre os acervos e
conteúdos, representará algo imprescindível na estrutura da UFRJ.
A integração de Bibliotecas também permitiria o uso mais eficiente de
recursos disponíveis para aquisição de coleções; uma proposta de
reorganização do quadro de pessoal, visando um melhor desempenho nas
atribuições ocupadas, podendo contar ainda com políticas de treinamento e
atualização dos funcionários no desenvolvimento de suas tarefas.
Deste estudo elaborado pelo SIBI (UFRJ) é que se começou a
questionar a possibilidade de união das Bibliotecas da FAU, EBA e IPPUR.
Ambas funcionavam no mesmo prédio e possuíam coleções extremamente
interligadas. Foi necessário um esforço político enorme por parte do SIBI no
sentido de sensibilizar os diretores das três unidades de que o projeto de
integração poderia funcionar como uma primeira e por que não dizer grande
experiência para outras ações de natureza similar.
Após muitas iniciativas, o protocolo de acordo das três unidades em
consonância com o SIBI e a Reitoria foi aprovado e chancelado em 9.11.2005.
A nova Biblioteca funcionará no 2° andar do Prédio da Reitoria da UFRJ
(Anexo A). O edifício, tido como um dos melhores exemplares arquitetônicos do
modernismo comporta atualmente as Faculdades de Arquitetura e Belas Artes,
o Museu D. João VI e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
5

Regional. Foi projetado pelo arquiteto Jorge Moreira, que recebeu o 1° Prêmio
na Exposição Internacional do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
No próximo capítulo será feita uma breve exposição sobre as bibliotecas
da EBA, FAU e IPPUR abordando aspectos como histórico, instalações físicas,
recursos humanos, acervo e produtos de informação.

2 Um breve histórico das Bibliotecas

2.1 Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Criada pela Lei 452 de 5 de julho de 1937, a Faculdade de Arquitetura e


Urbanismo da UFRJ teve sua origem na escola Real de Ciências, Artes e
Ofícios em 1816. É o mais antigo curso universitário de arquitetura no Brasil.
Em 1945 transformou-se em uma unidade da Universidade, quando se
desvinculou da Escola Nacional de Belas Artes.
Somente em 1961, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo passou a
ocupar o seu endereço atual, no Prédio da Reitoria na Ilha do Fundão.
Prevista no Regimento da FAU, a Biblioteca Lúcio Costa foi criada em
1960, com acervo remanescente da antiga Universidade do Brasil.
No projeto original do prédio de arquitetura havia previsão para uma
ampla biblioteca. Com a necessidade de abrigar a Reitoria, o Centro de Letras
e Artes e a Escola de Belas Artes no Prédio da Reitoria, o espaço previsto para
a Biblioteca da FAU foi deslocado para receber o Museu D. João VI da EBA.
Por esta razão, a Biblioteca passou a ocupar o espaço destinado originalmente
às oficinas de conservação de livros, espaço muito reduzido em relação ao
previsto inicialmente.
A Biblioteca tem seu acervo especializado em Arquitetura, Urbanismo,
Arte, Engenharia, Geometria, Uso de Materiais, Sociologia, História e Historia
da Arte. Criada para dar apoio acadêmico ao curso de Graduação em
Arquitetura, atende também aos cursos de mestrado do PROURB - Programa
de Pós-Graduação em Urbanismo e do PROARQ – Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura.
A Biblioteca Lúcio Costa da FAU situa-se no 2° andar do Prédio da
Reitoria da UFRJ, na Ilha do Fundão e seu horário de funcionamento é das
8:00 às 16:00 h, de segunda a sexta-feira.
6

No que se refere à infra-estrutura ocupa uma área de 382 m2,


distribuídos da seguinte forma: acervo geral – 107 m 2,
administração/processamento técnico – 76 m2, leitura/circulação – 199 m2.
A equipe da biblioteca é composta por 2 bibliotecários e 2 estagiários.
O acervo da biblioteca está constituído por 13.209 volumes (livros,
folhetos, dissertações e teses) e 263 títulos de periódicos nacionais e
estrangeiros, totalizando 16.327 fascículos.
No que se refere aos produtos de informação a Biblioteca disponibiliza o
Boletim de Novas Aquisições, o Catálogo de Periódicos e o Catálogo de
Dissertações e Teses do Centro de Letras e Artes.

2.2 Biblioteca do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e


Regional/UFRJ

Originário do Programa inaugurado em 1971 na Coordenação de


Programas de Pós-Graduação em Engenharia – COPPE, o Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional foi criado em 1987, como unidade
do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Agregam em seu quadro atual os cursos de Doutorado, Mestrado,
Especialização e Extensão na área de Planejamento Urbano e Regional.
A Biblioteca passou a existir a partir de março de 1987, contando
inicialmente com recursos da Fundação José Bonifácio (FUJB) e da
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Em julho de 1988, parte da
coleção que ainda se encontrava na Biblioteca Central do Centro de
Tecnologia, foi transferida para a nova sede do Instituto, no Prédio da Reitoria.
Nesse mesmo ano, ela passou a integrar o Sistema de Bibliotecas da UFRJ.
Especializada em Planejamento Urbano e Regional, a Biblioteca fornece
subsídios ao caráter multidisciplinar de ensino e pesquisa nessas áreas,
através da complementação de seu acervo com material nos mais variados
suportes informacionais de áreas afins como: Economia Urbana e Regional,
Geografia, Sociologia Urbana e Rural, Antropologia, Ciências Políticas,
Arquitetura e Urbanismo, História e Meio Ambiente.
A criação da biblioteca ocorreu, sobretudo para dar apoio acadêmico aos
cursos de Especialização, Mestrado e Doutorado do IPPUR. Paralelamente
tem dado suporte aos cursos de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-
7

Graduação em Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo –


PROURB/FAU; ao curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura da FAU-PROARQ/FAU; além de dar apoio a estudantes e docentes
da graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e da Escola de Belas
Artes.
A Biblioteca do IPPUR localiza-se no Prédio da Reitoria da UFRJ, 5°
andar sala 533 na Ilha do Fundão e seu horário de funcionamento é das 9:00
às 17:00 h, de segunda a sexta-feira.
No que se refere à infra-estrutura, a Biblioteca passou por uma reforma
nas suas instalações físicas em 2004; tendo seu espaço acrescido de 15 m2,
totalizando a área de 134,85 m2. O ambiente encontra-se dividido da seguinte
maneira: acervo geral – 46,70 m2, administração/processamento técnico – 17
m2, leitura/circulação - 42,30 m2, sala de vídeo/estudo em grupo – 8,50 m2 e
acervo de periódicos – 20,35 m2. Possui ar condicionado central nas áreas de
leitura e acervo. O espaço destinado aos usuários é de 3 mesas com 10
assentos e de uma sala de estudos individuais e em grupo composta de uma
mesa com 4 assentos. Esta sala também se destina à consulta de vídeo.
A equipe da Biblioteca é composta atualmente de 3 bibliotecários, 1
assistente em administração, contando ainda com a colaboração de 1
estagiária no atendimento aos usuários. Por ser um grupo muito reduzido, as
bibliotecárias acumulam atividades de mais de um setor, de maneira a viabilizar
a gama de serviços oferecidos.
O acervo da Biblioteca é formado a partir da coleção remanescente da
Biblioteca Central do Centro de Tecnologia, atualmente está constituído da
seguinte forma: 11.195 volumes (livros, obras de referências folhetos,
dissertações, teses, monografias, fitas cassetes, CDRoms) e 205 títulos de
periódicos nacionais e estrangeiros, totalizando 5.129 fascículos. Excetuando-
se os materiais não convencionais (CDRoms e fitas de vídeo); o restante do
acervo encontra-se disponível na Base Minerva através do site:
www.minerva.ufrj.br.
A composição do acervo é feita através de compra, doação e permuta;
sempre de acordo com as linhas de pesquisa do IPPUR e com as
recomendações das bibliografias básicas dos cursos oferecidos pelo Instituto.
8

A equipe da Biblioteca também realiza consultas às listas/catálogos de editores


para agregar valor às solicitações de compra.
A Biblioteca consolida permuta dos Cadernos IPPUR/UFRJ com 38
Instituições; permitindo dessa maneira uma atualização e crescimento
constante da sua coleção de periódicos. Vale ressaltar que boa parte da
coleção dos Cadernos IPPUR/UFRJ já se encontra com os seus artigos
indexados na Base Minerva.
A Biblioteca oferece aos seus usuários os seguintes serviços: registro de
usuários; consulta local; empréstimo domiciliar; empréstimo entre bibliotecas;
empréstimo especial; reserva de publicações; buscas e levantamentos
bibliográficos através das bases disponíveis; normalização de documentos;
treinamento nas bases de dados; consulta de vídeos do acervo.
Em relação aos produtos, a divulgação do acervo da Biblioteca é feita
através do Boletim de Novas Aquisições; Manual para Normalização de
Dissertação, Monografias e Teses; Catálogos de Dissertação e Teses do
IPPUR/UFRJ – 1982/2006; Catálogo de Vídeos da Biblioteca do IPPUR;
Catálogo de Publicações da Coleção do Professor Martim Smolka e Catálogo
dos Relatórios de Pesquisa do IPPUR.

2.3 Biblioteca da Escola de Belas Artes

A Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro só


recebeu essa denominação a partir de 1966. Funcionou inicialmente no prédio
que hoje é ocupado pelo Museu Nacional de Belas Artes, situado na Avenida
Rio Branco. A mudança da EBA para a Ilha do Fundão ocorreu em 1975.
A EBA teve algumas denominações ao longo de sua existência. Criada
em 12/08/1816 por D. João VI, recebeu o nome de Escola Real de Ciências,
Artes e Ofícios. Em 1926 passou a chamar-se Academia Imperial de Belas
Artes e, finalmente, em 1966 Escola de Belas Artes da Universidade Federal do
Rio de Janeiro – EBA/UFRJ.
Sobre a criação da Biblioteca da EBA, pode-se relatar que em
11/09/1833 o Ministro Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho concedeu o
montante de setecentos e quarenta mil e oitocentos réis para o reparo de
painéis antigos e instalação da Biblioteca e dos Arquivos. Ainda neste ano o
Secretário da Academia Imperial de Belas Artes, Felix Emilio Taunay, filho de
9

Nicolas Taunay (que veio para o Brasil com a Missão Artística Francesa) foi
quem deu início aos trabalhos de organização da Biblioteca e do Arquivo.
A origem do acervo da Biblioteca são os livros trazidos para o Brasil
pelos artistas que compunham a Missão Artística Francesa, cujo chefe era
Joaquim Lebreton (literato, jornalista e crítico de arte, e que chegou ao Brasil
em 1816). Com ele vieram, entre outros, Jean Baptiste, Garndejean de
Montigny e Nicolas Taunay. Encontram-se ainda anotações de aquisição de
livros doados por D. Pedro I.
Entre 1853 e 1857, o Diretor da Academia Imperial de Belas Artes,
Manoel de Araújo Porto – Alegre, reorganizou a Biblioteca e a Pinacoteca. A
partir de 1939 a Escola Nacional de Belas Artes ocupou o prédio do Museu
Nacional de Belas Artes onde estava instalada a Biblioteca.
Em 1976, já no Campus do Fundão, o Prof. Almir Paredes Cunha, eleito
Diretor da EBA, ampliou o espaço físico da Biblioteca.
O Prof. Paulo Pinheiro Abos, Diretor da EBA, em 1981, procedeu com
uma nova ampliação do espaço físico da Biblioteca. Esta passou a chamar-se
Biblioteca Alfredo Galvão em homenagem ao Professor Alfredo Galvão, Diretor
da EBA, entre os anos de 1955 e 1961.
Em 1991 a Biblioteca passou a ocupar um novo espaço, localizado na
sala do Prof. Lídio Bandeira de Melo, que se aposentara. Nesta mesma
ocasião ganhou novo mobiliário, estanteria e balcão.
A Professora Ângela Âncora da Luz, assumiu a Direção em 04/02/2002.
A Biblioteca passou por uma nova revisão nas suas instalações físicas,
ganhando novos aparelhos de ar condicionado, persianas, e melhorias no seu
sistema de iluminação. Em relação aos equipamentos, também contou com
achegada de computadores para consulta dos usuários e tratamento técnico da
coleção. Isto favoreceu o processo de informatização do acervo.
A Biblioteca Alfredo Galvão funciona atualmente no Prédio da Reitoria,
7° andar, de segunda a sexta das 8:00 às 17:00 h. Sua coleção é especializada
em Artes, Artes Cênicas, Desenho Industrial e Educação Artística.
No que se refere às instalações físicas a biblioteca ocupa uma área total
de 455 m2. O ambiente encontra-se dividido da seguinte maneira: acervo geral
– 251 m2, administração/processamento técnico – 24 m2, leitura/circulação –
180 m2. O espaço destinado aos usuários é de 6 mesas com 6 assentos cada
10

uma. Dispõe ainda de uma bancada com 4 computadores para consulta da


comunidade acadêmica.
A equipe da biblioteca é composta atualmente por 3 bibliotecárias, 1
assistente administrativo, 1 servente de obras, 1 carpinteiro, 1 servente de
limpeza e 1 pedreiro.
O acervo da biblioteca está constituído da seguinte forma: 21.063
volumes (livros, folhetos, dissertações e teses) e 433 títulos de periódicos
nacionais e estrangeiros, totalizando 17.114 fascículos.

3 Consolidação do Espaço Integrado

A consolidação do Espaço Integrado das Bibliotecas da EBA, FAU e


IPPUR se constituiu através de algumas etapas. A primeira etapa foi a
elaboração de um estudo preliminar de arquitetura (Anexo B) que contivesse as
demandas da concepção deste novo espaço. Esta planta passou por várias
versões até que a definitiva fosse apreciada e aprovada pelas diretorias das
unidades, chefias das bibliotecas, pelo Sistema de Bibliotecas e Informação e
pela Reitoria.
A Divisão de Projetos do Escritório Técnico da UFRJ foi encarregada de
elaborar a planta, discutindo com a coordenação do Espaço Integrado um
programa que atendesse não somente as demandas já existentes das
unidades, como também uma provável ampliação de serviços.
No programa de necessidades foram estabelecidos alguns aspectos
essenciais:

• A preservação da individualidade dos acervos (mantidos separados


fisicamente sob a responsabilidade e controle de cada unidade);
• Aumento do número de estantes (prevendo a expansão futura da
coleção);
• A criação de um espaço para uma biblioteca virtual (serviço de
informação especializada reunindo informações distribuídas via rede nas
áreas de arquitetura e urbanismo, artes, planejamento urbano e regional
e afins);
11

• Salas de vídeo (uma dentro do conceito já existente na biblioteca da


FAU, com 12 assentos, usada por docentes da graduação como
ferramenta acadêmica e a outra originária da Biblioteca do IPPUR para
consulta de vídeos);
• Salas de estudo (3 para a pós-graduação e 2 para a graduação);
• Salas das chefias das Bibliotecas (cada biblioteca terá sua chefia
mantida, salvaguardando a autonomia política e administrativa);
• Sala de Coordenação do Espaço Integrado (a função do coordenador
será a de promover as medidas cabíveis para a prestação dos serviços
compartilhados, administração do espaço comum, elaboração de
normas unificadas de atendimento, gestão e elaboração de produtos);
• Sala de Processamento Técnico (reunindo bibliotecários das 3 unidades
para favorecer a troca de informações e melhoria dos processos);
• Área de Reserva Técnica (mantendo como objetivo a guarda do material
a ser processado das 3 unidades);
• Segurança (através de circuito interno de TV e sistema anti-furto);
• Climatização e controle de umidade (serão feitos através de um sistema
de refrigeração central, com 4 grandes máquinas, além de aparelhos de
ar condicionado para as salas de coordenação, chefias, estudo,
processamento técnico).

4 Considerações finais

Após a elaboração e aprovação do estudo preliminar para a implantação


do espaço integrado, foram estabelecidos alguns objetivos que servirão de
base para a sua consolidação:
• Oferecer informações técnico-científicas como apoio aos programas de
ensino, pesquisa e extensão existentes na Universidade.
• Propiciar uma efetiva integração entre as Bibliotecas da EBA, FAU e
IPPUR, através de ações coletivas, favorecendo a comunicação e o
intercâmbio entre os diversos segmentos da Universidade.
• Promover o enriquecimento do acervo através de políticas de aquisição
de livros, periódicos, base de dados e todo tipo de material de apoio
acadêmico.
12

• Desenvolver, aperfeiçoar e disponibilizar serviços e produtos para os


usuários, com base em políticas pautadas numa maior interação com os
docentes e discentes das 3 unidades.
• Facilitar o acesso à informação através de programas cooperativos e de
racionalização por meio do compartilhamento de recursos e
padronização de rotinas administrativas.
• Ampliar o horário de funcionamento do Espaço Integrado através da
reorganização do quadro de funcionários, atendendo de forma mais
eficaz à comunidade acadêmica.
• Ampliar o espaço destinado à leitura/estudo para os usuários, através da
aquisição de mobiliário adequado e instalações físicas convenientes.

No momento atual, o Escritório Técnico da UFRJ deu início ao Projeto


de execução. Este constitui um conjunto de desenhos, especificações,
cadernos de encargos e informações necessárias para uma completa definição
do projeto que estará sendo licitado e executado.
A Coordenação do Espaço Integrado está preparando um orçamento de
mobiliário a ser reformado das Bibliotecas da FAU e da EBA, bem como do
mobiliário novo que será necessário em função das demandas do estudo
preliminar.
A perspectiva é que o início das obras para a instalação do Espaço
Integrado ocorra no início de 2007, com projeção para implantação e
funcionamento no início de 2008.
Esse projeto é um esforço coletivo envolvendo as unidades em questão,
o SIBI, a Reitoria e o Escritório Técnico da UFRJ. É através desta grande
parceria que esperamos concluir com sucesso a criação de um espaço que
trará benefícios para a comunidade acadêmica, além de servir de exemplo e
experiência para outras iniciativas de natureza semelhante.
13

REFERÊNCIAS

ALENCASTRO, Ricardo de Bicca et al. Prometo informatização das bibliotecas da


UFRJ. Rio de Janeiro, 1996. Mimeografado.

ARAÚJO JUNIOR, Rogério Henrique de; SUAIDEN, Emir José. Biblioteca pública e a
excelência nos produtos e serviços: a técnica do benchmarking. Disponível em:
<http://www.informacaoesociedade.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/viewFile/307/230>.
Acesso em: 20 jul. 2006.

DRUMOND, Vânia Regina Peres et al. Análise e reestruturação de espaço físico em


bibliotecas: estudo de caso da situação funcional e administrativa da biblioteca da
EA/UFMG: proposição de soluções emergenciais. Disponível em:
<http://snbu.bvs.br/snbu2000/docs/pt/doc/t110.doc.>. Acesso em: 20 Jul. 2006.

MORIGI, Valdir Jose; PAVAN, Cleusa. Tecnologias de informação e


comunicação: novas sociabilidades nas bibliotecas universitárias. Ciência da
Informação, Brasília, v. 33, n.1, p. 117-125, jan./abr. 2004. Disponível em: <
http://www.ibict.br/cienciadainformacao/include/getdoc.php?id=352&article=99&
mode=pdf> Acesso em: 20 jul. 2006.

OLIVEIRA, Silas Marques de. Gerenciamento organizacional de bibliotecas


universitárias. Disponível em:<http://www.ufpe.br/snbu/silas.doc>. Acesso em:
20 jul. 2006.

SANTOS, Dely Bezerra de Miranda. Condições atuais da Biblioteca “Lúcio


Costa” da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2000.

SILVA, Sueli Maria Goulart. Qualidade nas bibliotecas universitárias: a


influência dos objetivos organizacionais. Disponível em: <
http://br.geocities.com/biblioestudantes/artigos.html >. Acesso em: 20 jul. 2006.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Sistema de Bibliotecas e


Informação. Divisão de Desenvolvimento de Bibliotecas. BAGER 2005: EBA.
Rio de Janeiro, 2005.

______. BAGER 2005: FAU. Rio de Janeiro, 2005.

______. BAGER 2005: IPPUR. Rio de Janeiro, 2005.


14

Anexo A
15

Anexo B
A EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA PARA PROFISSIONAIS
DA INFORMAÇÃO: UMA INICIATIVA E-FLUÊNCIA/SESC

Andréa Paula Osório Duque1

RESUMO:
Este trabalho tem por objetivo apresentar o modelo de ambiente de aprendizagem virtual ”e-fluência”
para cursos voltados para a formação continuada de profissionais da área de informação e contribuir
para a aplicação das tecnologias de informação e comunicação na concepção e elaboração de
espaços virtuais de educação continuada. A metodologia de educação à distância desenvolvida pelo
e-fluência para aplicabilidade no Serviço Social do Comércio - SESC está sintonizada com as
demandas de educação continuada voltada para o mercado, onde o social e o desenvolvimento
econômico se beneficiam com a estratégia de adoção de espaços virtuais de conhecimento e
conciliando o retorno rápido do investimento em educação à distância às premissas de crescimento
dos negócios, com qualidade. De 2004 a 2006, os cursos à distância oferecidos pelo e-fluência para o
SESC contaram com a participação de 278 ciber-alunos, entre bibliotecários e auxiliares de
biblioteca.

Palavras-chave: bibliotecários. educação à distância. tecnologias da informação e comunicação.


cursos à distância. profissionais da informação.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente no Brasil, a modalidade educação a distância vem ampliando o


seu espaço de atuação social e econômico, principalmente com o crescimento da
demanda por cursos ancorados na Web. Esses cursos emergem então como
catalisadores de formas inovadoras no processo de ensino-aprendizagem.
Os pontos básicos e atrativos dos cursos à distância se fixam na
desterritorialidade em contraponto com a obrigatoriedade de presença; no
atendimento ao biorritmo do aluno facilitando a aquisição de saberes e atendendo
suas necessidades; na interação promovida entre tutor/ciber-
aluno/interface/conteúdo e naturalmente na fixação de objetivos e avaliações
centradas no objeto do estudo: a construção do conhecimento.
Consciente dessas novas características de mercado de disponibilização de
cursos à distância via internet, a Salencar Consultoria e Treinamento Ltda.
desenvolveu o Ambiente de Aprendizagem Virtual e-fluência.
O presente artigo traz um retrospecto dos questionamentos que antecederam
o planejamento do ambiente virtual de aprendizagem e-fluência, sua arquitetura, as

1
Consultora do Ambiente de Aprendizagem Virtual e-fluência. Mestre e Doutoranda em Ciência da
Informação (Tema: Educação à Distância) e-mail: aduque@pobox.com
etapas de planejamento e aplicabilidade e finalmente sua implementação coroada
de êxitos. Relata também a experiência da realização de cursos de atualização à
distância para profissionais da informação do Serviço Social do Comércio – SESC.

2 METODOLOGIA

As principais características do modelo e-fluência estão centradas na


metodologia pedagógica desenvolvida pela equipe de projetos da Salencar
Consultoria e Treinamento Ltda. e na plataforma de suporte com a utilização de um
Sistema Gerenciador de Aprendizagem – LMS.
A estratégia metodológica baseia-se em uma abordagem construtivista. Para
Piaget (1974), o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas
entre indivíduo e meio. O ciber-aluno irá responder aos estímulos externos para
construir e organizar seu próprio conhecimento. Esta estratégia contempla ainda
atividades ligadas ao controle e avaliação do processo ensino-aprendizagem, bem
como apoio logístico e de suporte das atividades interativas.
O fluxo da informação também foi considerado importante na criação do
ambiente virtual. A Ciência da Informação ocupa um papel importante nesse
processo. Segundo Barreto (1995, p. 122), a Ciência da Informação tem por objetivo:
criar condições para a reunião da informação
institucionalizada, sua distribuição adequada para um
público que, ao julgar sua relevância, a valorize para uso
com o intuito de semear o desenvolvimento do indivíduo
e dos espaços que este habita.

A metodologia de educação à distância desenvolvida no ambiente e-fluência


para aplicabilidade no SESC está sintonizada com as demandas de educação
continuada voltada para o mercado onde o social e o desenvolvimento econômico se
beneficiam com a estratégia de adoção de espaços virtuais de conhecimento,
conciliando o retorno rápido do investimento em educação à distância às premissas
de crescimento dos negócios, com qualidade.
O enfoque principal deste ambiente de aprendizagem contempla a arquitetura
do modelo e as estratégias metodológicas e pedagógicas que se valem das
tecnologias de informação e comunicação - TICs como propagadoras de novos
saberes em espaços do conhecimento em ambiente Web.
Em um primeiro momento, as propostas de cursos à distância via Internet
disponibilizadas no e-fluência foram pautadas em alguns questionamentos pontuais:
como utilizar, criar, disponibilizar e transferir conteúdos informacionais sem abdicar
da clareza, da síntese, da análise, do processo criativo, do juízo de valores, do
exercício da cidadania, entre outros, que integram a base de uma educação de
qualidade?; Como redesenhar a aquisição, a produção e a troca de conhecimentos
regidos por vetores de velocidade, disponibilidade e desterritorialidade da
informação, bases teórico-práticas que integram a arquitetura do modelo e-fluência?
Os pressupostos e contribuições do matemático e bibliotecário indiano Shiyali
Ramamrita Ranganathan, criador das cinco leis da Biblioteconomia (1931)
permitiram responder a estas perguntas. A importância destas leis é amplamente
reconhecida na literatura de Ciência da Informação. Segundo Lancaster (apud
Figueiredo, 1992, p. 187), as Leis da Biblioteconomia “são declarações
fundamentais para as metas que os serviços de informação deveriam perseguir”.
Estas leis foram adaptadas a Internet por Duque (2001).
Quadro 1 – Leis da Biblioteconomia aplicadas à Web

Leis da Biblioteconomia Aplicação no ambiente Web


Livros existem para serem usados. A informação existe para ser usada.
1ª lei
A cada leitor, o seu livro. A cada ciber-aluno2, sua informação.
2ª lei
A cada livro, o seu leitor. A cada informação, o seu ciber-aluno.
3ª lei
Poupe o tempo do leitor. Poupe o tempo do ciber-aluno.
4ª lei
As bibliotecas são dinâmicas e estão As informações disponibilizadas via Internet são
5ª lei
em constante crescimento. dinâmicas e estão em constante crescimento.
FONTE: Duque, 2001.

Os princípios dessas cinco leis aplicadas à Web (Id. 2001) são assim
resumidos respectivamente: universalidade de acesso à informação; democratização
do saber; atendimento às diferenças e necessidades de cada ciber-aluno; fator
temporal agregando valor à informação; e dinamismo e crescimento informacional.
Respeitados esses parâmetros, a fase seguinte foi a de construção da
arquitetura do e-fluência.
Segundo Mikhailov (1983, p. 14), a correta escolha de uma estratégia de
desenvolvimento da informação só é possível se houver uma base teórica sólida que

2
Existe uma tendência de nomear ciber-aluno ao aluno de cursos à distância via Internet e, em
sentido mais amplo, usuário que se beneficia da Web para auto-gerenciar sua aquisição de saberes.
permita tanto o entendimento de processos atuais quanto a avaliação das
possibilidades.

Em ambientes virtuais, a escolha de estratégias para viabilizar o


desenvolvimento dos conteúdos que integram os cursos à distância, recai sobre
algumas atividades próprias para utilização na Web. O aprendizado flexível, principal
característica do ensino a distância via Internet - modelo adotado pelo e-fluência -
está focado em pressupostos básicos que viabilizam a aplicabilidade do modelo.
Suas características são: assincronicidade (participação não simultânea de todos os
envolvidos), flexibilidade (qualquer hora e qualquer lugar), custo-benefício e
atendimento personalizado.
Há de se notar no esquema da Figura 1, a ênfase dada ao atendimento
personalizado ao novo ciber-aluno - com características próprias – contemplando-o
com novas responsabilidades comportamentais como agente na construção do seu
próprio conhecimento. Os cursos à distância via Internet diferem dos cursos
presenciais no quesito equipe especializada, pois os profissionais que atuam nos
primeiros são especialistas do novo mercado de trabalho, a Web.

FIGURA 1 – Aprendizado flexível


Em função das possibilidades da Rede, um conjunto diversificado de
educadores e profissionais está hoje voltado para a organização de cursos à
distância na Internet. A oferta e a demanda por essa modalidade de cursos
ancorados na Web suscitam inúmeras questões pedagógicas, políticas, econômicas,
informacionais, entre outras, nos âmbitos da Educação e da Ciência da Informação.
Cabe salientar que a educação à distância requer a participação e o
envolvimento de profissionais com competências variadas, acadêmicas e técnicas.
No que tange à estruturação e disponibilização dos cursos à distância, ou seja, à
sua “Arquitetura da Informação”, são requeridos conhecimentos relativos à geração,
organização, classificação e representação da informação na Web. Estas
competências abarcam desde o conhecimento de teorias educacionais que ancoram
o ensino a ser oferecido e o da área específica do curso, até a competência em
informação (information literacy) a qual envolve questões como direitos autorais,
expertise em fontes secundárias e em serviços referenciais; e a noção, experiência e
habilidade no manejo das inúmeras ferramentas informáticas necessárias ao
conteúdo e forma dos cursos, considerando, inclusive, a elaboração de materiais
didáticos.
A Salencar Consultoria e Treinamento Ltda. criou um Sistema Gerenciador de
Aprendizagem desenvolvido para atender às necessidades dos cursos à distância
(Figura 2). O e-fluência atua em duas áreas básicas da administração do processo-
ensino aprendizagem: a área administrativa que gerencia todas as atividades de
atendimento da demanda; seleção e matrícula, dados estatísticos, help desk (serviço
de apoio aos ciber-alunos) e a sala de aula virtual que administra todas as atividades
metodológicas planejadas e que abrangem: café virtual (espaço para interação entre
os ciber-alunos); troca de experiência (fórum de discussão sobre o conteúdo das
aulas); agenda de compromissos, link para a equipe de profissionais, acesso aos
textos complementares.
FIGURA 2 – Sistema Gerenciador de Aprendizagem - LMS

3 RELATO DE EXPERIÊNCIA

Desde 2002, o Departamento Nacional - DN do SESC realiza um significativo


trabalho de treinamento para os bibliotecários e profissionais de informação dos
regionais de todo o país no uso da Internet.
O enorme volume de informações disponíveis na Internet, aliado a rápida
evolução de programas, sites e técnicas, exige dos profissionais uma constante
atualização. Conjugando a capacitação no uso da Internet que os bibliotecários do
SESC têm, com a necessidade de atualização que a modernidade exige, foi criado o
Programa de Atualização em Fluência na Internet à Distância.
A modalidade de educação a distância é oferecida para esse treinamento
devido às características e especificidades de uma instituição do porte do SESC.
Tendo em vista a importância da educação à distância via Internet, não
apenas como disseminadora da educação continuada em nossa sociedade
industrializada e informatizada, mas também como propagadora de novos saberes
através do repasse de conteúdos por meios digitais, foram criados mecanismos que
facilitassem a construção de espaços do conhecimento em ambiente Web.
Os cursos projetados dentro do Ambiente Virtual de Aprendizagem e-fluência
foram arquitetados com as seguintes competências: interatividade, respeito ao
biorritmo do ciber-aluno, rompimento de barreiras geográficas e temporais, tutoria,
vídeo-conferência; etc.
Os cursos oferecidos pelo e-fluência via Internet, estão estruturados em seis
módulos do Programa de Atualização Profissional à Distância, sendo três já
implementados e três em fase de planejamento e aplicação.
De 2004 a 2006, 278 ciber-alunos, entre bibliotecários e auxiliares de
bibliotecas, participaram dos três primeiros cursos, que abordaram as seguintes
temáticas:
 Ferramentas para otimizar a rotina eletrônica;
 Avaliação de qualidade da informação na Web
 Técnicas de busca específicas para os eixos temáticos do SESC
Os cursos do e-fluência são ministrados à distância, utilizando uma 'Sala de
Aula Virtual'. Nesse ambiente, os alunos têm acesso a uma série de recursos que
possibilitam o estudo e o aprendizado de maneira agradável, simples, ágil e
acolhedora. Cada turma tem, em média, 25 ciber-alunos, que têm o compromisso de
acessar o ambiente 1 hora por dia.
O esquema da Figura 3 mostra as etapas para ter um bom aproveitamento no
curso à distância.

FIGURA 3 – O ciber-aluno e o e-fluência


Os módulos estão centrados nas aulas online e nas atividades realizadas no
fórum Troca de Experiências. Cada módulo tem duração de 20 dias úteis e em
média 5 aulas. Embora o Café Virtual (espaço de confraternização entre os ciber-
alunos) não faça parte da avaliação do módulo, é parte importante para socialização
dos ciber-alunos.
A equipe do e-fluência acompanha o desenvolvimento de cada ciber-aluno
durante o transcorrer do módulo. Um relatório semanal é enviado ao ciber-aluno, ao
final de cada semana de aula. Este procedimento visa auxiliá-lo a planejar,
acompanhar e controlar o seu desempenho durante o desenvolvimento do módulo.
O ciber-aluno é avaliado em dois aspectos:
a) Resolução de atividades no Troca de Experiências.
b) Interação e participação nos debates do Troca de Experiências.
O curso também é alvo de avaliação por parte dos ciber-alunos com a
finalidade promover ajustes e ou reformulação para melhoria da qualidade do
processo ensino-aprendizagem.

4 CONCLUSÃO

A educação na Sociedade da Informação ocupa um nicho de grande


importância, formando o cidadão participante e responsável. Na era pós-moderna,
as tecnologias de ponta se sucedem com grande velocidade criando contrastes
díspares como povos que usufruem as conquistas dos avanços tecnológicos e
outros marginalizados e excluídos desse processo.
Nesse contexto, é valido reforçar a preocupação com o sistema educacional
inserido em ambientes de grandes contrastes tecnológicos, onde a inclusão digital e
social é, às vezes, mera figura de retórica. Essas situações díspares entre riqueza e
pobreza, analfabetismo digital e avanços tecnológicos, poder econômico e exclusão
social, entre outras, pontuam com maior ou menor intensidade não somente os
países em desenvolvimento onde parcelas da população não têm suas
necessidades básicas atendidas, mas também marcam presença em nações ricas.
Nesse ambiente de contraste, a educação tem reforçado o seu papel de
poderosa alavanca para resgatar a consciência da cidadania inserindo o cidadão no
seu contexto sócio-econômico-cultural. As mudanças promovidas pelas novas
tecnologias digitais de informação e comunicação (TICs) vêm impactando a
sociedade como um todo. Os limites temporais e as barreiras geográficas já não são
fatores impeditivos à disseminação da informação. O desafio se torna então a
utilização de novos espaços para o conhecimento, papel que a Internet vem
ocupando em uma posição singular ao permitir abrigo a formas de educação, onde a
coletividade, independente de sua territorialidade, contribui para o crescimento da
cibercultura.
As demandas por essa modalidade de curso ancorada na Web impactaram o
mercado de trabalho pela necessidade de contar com profissionais de várias
competências técnico-acadêmicas e com fundamentação teórico-prática na geração,
organização, classificação e representação da informação na Web.
A modalidade de ensino a distância adotada pelo e-fluência vem alcançando
altos índices de receptividade nas avaliações aplicadas, onde o ciber-aluno expressa
sua opinião, oferece sugestões e avalia todo processo de ensino-aprendizagem
online.
A Salencar Consultoria e Treinamento Ltda. atenta a esse promissor mercado
do uso das tecnologias de informação e comunicação na educação à distancia
projetou o Ambiente Virtual de Aprendizagem e-fluência para atender as
necessidades de seus clientes. Desde o início do projeto, o e-fluência tem se
posicionado em sintonia com as necessidades expressas por sua clientela,
buscando novas possibilidades e aprimoramento no sistema e ambiente
disponibilizados.
Podemos destacar como pontos fortes do e-fluência o desenho gráfico das
aulas, a abordagem metodológica e o atendimento personalizado ao ciber-aluno por
toda equipe do projeto, principalmente pela tutoria atuante. Esse diferencial
oferecido assume um papel importante no alcance dos objetivos propostos ao
transformar o ciber-aluno no próprio sujeito da construção do seu conhecimento.
O e-fluência está em constante evolução como resultado da troca de
experiências com os ciber-alunos e a adequação às necessidades específicas do
mercado de trabalho.
Em um período de dois anos, os profissionais da informação do SESC,
treinados pelo e-fluência, redesenharam suas áreas de atuação, priorizando e
valorizando o atendimento personalizado aos usuários das bibliotecas, integrando-se
no contexto social das comunidades para as quais prestam serviço de qualidade.
REFERÊNCIAS

BARRETO, A. Mudança estrutural no fluxo do conhecimento: a comunicação


eletrônica. Ciência da Informação, v.27, n.2, p.122-127, maio/ago. 1998. p.122.

DUQUE, Andréa Paula Osório. Modelagem de cursos à distância via Internet: à luz
da Ciência da Informação. 2001. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) -
UFRJ/ECO-MCT/IBICT, Rio de Janeiro. Orientador: Maria de Nazaré Freitas Pereira.

FIGUEIREDO, Nice Menezes de. A modernidade das cinco leis de Ranganathan.


Brasília – DF: Ciência da Informação, 21 (3): 186-191, set./dez. 1992. p. 187.

MIKHAILOV, A.I. Information science and an informed society: a Russian information


scientist looks at the role of information in society. AISI Bulletin, oct. 1983. p. 14.

PIAGET, J., GRECO, P. Aprendizagem e conhecimento. São Paulo: Freitas Bastos,


1974.

RANGANATHAN, S.R. The five laws of library science. Madras: The Madras Library
Association. London: G. Blunt and Sons, 1931.
A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA EM UNIDADES DE INFORMAÇÃO
DISTANCE EDUCATION IN INFORMATION UNITS

Rita de Cássia do Vale Caribé1

Resumo
Estudo consiste em revisão da literatura sobre educação a distância (EaD), tem como objetivo de discutir
a sua incorporação nas atividades de educação de usuários de unidades de informação. Apresenta
conceitos, características, vantagens, desvantagens, possibilidades de uso e ressalta a necessidade de
considerar os objetivos educacionais para a utilização da EaD. Inclui também uma breve revisão da
literatura sobre educação de usuários em bibliotecas. Conclui que é factível que bibliotecas de médio e
grande porte desenvolvam programas de educação de usuários utilizando EaD, de forma a possibilitar
aos seus usuários um melhor conhecimento da unidade de informação, das fontes de informação
disponíveis, dos serviços e produtos existentes e disponíveis e assim possam ampliar e intensificar seus
usos.
Palavras chave: Educação a distância - Educação de usuário - Treinamento de usuário

1 INTRODUÇÃO

Na era da informação e da economia do conhecimento as máquinas são projetadas


para operar automaticamente. Em conseqüência, a função dos indivíduos é pensar,
solucionar problemas, garantir a qualidade. As pessoas são vistas como
solucionadoras de problemas e não apenas como custos variáveis. Os funcionários
devem agregar valor pelo que sabem e pelas informações que podem fornecer. O
conhecimento que o indivíduo adquire desenvolvendo o seu trabalho, ou melhor, o
know-how de qualquer pessoa que venha executando as mesmas tarefas
reiteradamente há tempo suficientes para construir um repertório de experiências,
quase sempre é de extrema utilidade para as organizações. Assim, investir, gerenciar e
explorar o conhecimento de cada funcionário passou a ser fator crítico de sucesso para
as organizações da era da informação. (KLEIS, 2002)

As organizações para serem bem-sucedidas num mercado cada vez mais competitivo,
precisam criar condições para que seus integrantes adquiram e apliquem
constantemente novas capacidades, habilidades e atitudes exigidas pelo trabalho,
também cada vez mais complexo. A realização de trabalhos que demandam maior
conhecimento e o componente intelectual de muitos cargos vêm aumentando de
maneira considerável, dessa forma a qualificação exigida é muito mais de caráter
mental e não mais de caráter manual. (MEISTER, 1999)

1
Analista do IBAMA, Graduada em Biblioteconomia-UFMG, Mestre em Ciência da Informação-UnB,
Doutoranda em Ciência da Informação-UnB. E-mail: rcaribe@uol.com.br
A economia do conhecimento exige um aprendizado contínuo para desenvolver
qualificações mais amplas. De acordo com Meister (1999) o prazo de validade de um
diploma universitário é de menos de dois anos; e caso esse indivíduo não substitua
tudo o que sabe a cada três anos sua carreira poderá deteriorar-se. A rapidez com que
o conhecimento adquirido torna-se obsoleto exige que os indivíduos, para manterem a
sua empregabilidade, estabeleçam um processo de educação contínua.

A informação e os meios de acessá-la constituem, no momento atual, a base para o


desenvolvimento das empresas, organizações públicas e privadas, cidades, governos
etc. Até a década de 90 o grande problema era quanto à localização e a
disponibilização de informações relevantes. Atualmente, o mais importante é a sua
transformação em conhecimento útil e aproveitável em curto espaço de tempo. Diante
disso, as organizações precisam tornar-se competentes para selecionar e apreender
informações que transformadas em conhecimento possam gerar riqueza, novas idéias,
produtos, serviços ou soluções valiosas.

Por outro lado, as tecnologias de informação e comunicação vêm provocando


transformações na forma de aprender. As novas formas de comunicação possibilitam a
transmissão de dados, sons e imagens a qualquer pessoa, em qualquer local e a
qualquer hora, bastando que estejam disponíveis o equipamento computacional e o
acesso à Internet.

Nesse ambiente de mudanças, rápidas e contínuas, as unidades de informação2 de


qualquer tipo de organização (pública ou privada) têm um papel fundamental no
fornecimento de informações, porém, devem se estruturar cada vez mais buscando a
excelência no fornecimento de serviços e produtos, e agilizar a ligação/conexão do
usuário, com sua respectiva demanda, com a informação disponível. Os usuários de
sistemas de informação devem conhecer e ter domínio dos conceitos, fontes de
informação, ferramentas e metodologias adotadas pela unidade visando facilitar e
agilizar o uso da informação. Assim, a possibilidade de utilização da educação a
distância pelas unidades de informação para treinamento de usuários torna-se uma
alternativa viável.

2
Para fins deste texto entende-se por unidade de informação o termo genérico que engloba todos os
tipos de bibliotecas, centros de informação, de documentação, clearinghouse etc.
2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CONCEITOS BÁSICOS

Uma vez que o conhecimento atualizado e disponível no momento exato é que


possibilita à organização gerar produtos e serviços compatíveis com as demandas dos
seus clientes, e que as competências adquiridas pelo indivíduo no início de sua carreira
estarão obsoletas no decorrer de sua atividade profissional, a educação a distância –
EaD, e principalmente a via Internet, vem sendo amplamente utilizada por diversas
instituições de ensino, bem como por organizações que desejam implementar a
educação continuada, visando manter seus funcionários, clientes, fornecedores e
colaboradores atualizados com os conhecimentos que vêm sendo produzidos.

Inicialmente cabe registrar que diversos autores e pesquisadores apresentam que há


diferença entre “Educação a distância” e “Ensino a distância” alguns consideraram que
a educação ou aprendizagem é um processo psicológico que ocorre no nível do
indivíduo, ou seja dentro dele, portanto, só pode gerado por ele. Por esse motivo não
pode ser realizado à distância ou remotamente, já o ensino pode ser à distância. Garcia
Aretio (2002) afirma que educar e ensinar não são a mesma coisa, cita como exemplo
que podemos ensinar um indivíduo a roubar, mas não o estamos educando. Outros
autores, como Peters (2004), enfatizam que há diferentes formas de aprendizagem,
que não somente a aprendizagem receptiva, baseada não mais nos modelos
behavioristas, mas nos modelos construtivistas, em que a aprendizagem é vista, em
muitos casos como a atividade dos indivíduos na construção, desenvolvimento e
aperfeiçoamento de suas próprias estruturas cognitivas e entendida como um processo
holístico.

Garcia Aretio (2002) comenta que há dificuldade em encontrar uma definição


universalmente aceita devido a diferentes fatores. Segundo ele o ensino a distância de
hoje não é o mesmo que se fazia há 150 anos, nem tampouco será o mesmo que se
fará no futuro; acrescenta que há diversas maneiras de entendimento, variando em
diferentes contextos geográficos ou institucionais.

A educação pode ser presencial, semi-presencial ou a distância. A educação presencial


é aquela onde professores e alunos se encontram sempre num mesmo local físico, é o
ensino convencional; a semi-presencial acontece uma parte na sala de aula e outra a
distância, utilizando tecnologias aplicadas à educação e material impresso.

O ensino/educação (presencial, semi ou a distância) é uma atividade triádica que


envolve três componentes: aquele que ensina, aquele a quem se ensina ou aquele que
aprende e aquilo que o primeiro ensina ao segundo, o conteúdo. Assim, a EaD é o
processo de ensino-aprendizagem onde quem ensina e a quem se ensina ou quem
aprende estão separados no tempo ou no espaço. Essa distância é contornada por
meio do uso de materiais impressos sob várias formas, tecnologias de telecomunicação
e de transmissão de dados, voz (sons) e imagens (incluindo dinâmicas, isto é, televisão
ou vídeo), convergindo para o uso do computador. O E-learning ou ensino on-line é
mediado exclusivamente por tecnologias de informação e comunicação.

Há uma diversidade de denominações, estruturas, metodologias, organização, uso de


tecnologias etc. Na literatura podemos encontrar diversas definições para educação a
distância. Na legislação brasileira, especificamente no Decreto nº 5.622, de 19 de
dezembro de 2005, que regulamenta o art. 80 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996 encontramos a seguinte definição:

[...] caracteriza-se a educação a distância como


modalidade educacional na qual a mediação didático-
pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem
ocorre com a utilização de meios e tecnologias de
informação e comunicação, com estudantes e
professores desenvolvendo atividades educativas em
lugares ou tempos diversos. (BRASIL, 2005)
De acordo com Moore e Kearsley (1996) o conceito fundamental de EaD consiste em
professor e aluno encontrarem-se separados fisicamente e na maioria das vezes
temporalmente também. Apresentam uma definição:
Educação a distância é a aprendizagem planejada
que geralmente ocorre num local diferente do ensino,
e por causa disso requer técnicas especiais de
desenho de curso, técnicas especiais de instrução,
métodos especiais de comunicação através da
eletrônica e outras tecnologias, bem como arranjos
essenciais organizacionais e administrativos.
(MOORE; KEARSLEY, 1996, p.11)
Garcia Aretio (2002) apresenta uma série de definições de estudiosos do assunto,
dentre os quais destacamos:

a) Keegan, D. – formulou uma definição mediante a enumeração dos seguintes


pontos fundamentais: A separação do professor e do aluno; o uso de meios
técnicos usualmente impressos, para unir professor e aluno e oferecer o
conteúdo educativo do curso; a existência de uma comunicação bidirecional de
modo que o estudante possa beneficiar-se e inclusive iniciar um diálogo, o que
distingue de outros usos da tecnologia. O ensino dos estudantes mais
individualizado e raramente em grupo, com a possibilidade de encontros
ocasionais com propósitos didáticos e de socialização. A participação numa
forma mais industrializada de educação baseada na consideração de que o
ensino a distância se caracteriza pela divisão do trabalho, mecanização,
automatização, aplicação de princípios organizacionais, controle científico,
objetividade do ensino, produção em massa, concentração e centralização.
(KEEGAN, 1980, p.33; 1986, p.49-50 apud GARCIA ARETIO, 2002, p.22-27)

b) Moore, M. G. – o ensino a distância é um tipo de método de instrução em que


as condutas docentes acontecem à parte das discentes, de tal maneira que a
comunicação entre o professor e o aluno pode se realizar mediante textos
impressos, por meios eletrônicos, mecânicos ou por outras técnicas. (MOORE,
1972, p.212 apud GARCIA ARETIO, 2002, p.22-27)

c) Peters, O - o ensino a distância é um método de repartir conhecimentos,


habilidades e atitudes, racionalizando mediante a aplicação da divisão do
trabalho e de princípios organizacionais, assim como pelo uso extensivo de
meios técnicos, especialmente para o objetivo de reproduzir material de ensino
de alta qualidade, o que se faz possível instruir um grande número de
estudantes ao mesmo tempo independente de onde eles vivam. É uma forma
industrial de ensinar e aprender. (PETERS, 1983, p.111 apud GARCIA
ARETIO, 2002, p.22-27)

d) Sarramona, J. – metodologia de ensino onde as tarefas docentes acontecem


em um contexto distinto das discentes, de modo que o resultado ocorre em
diferentes espaços e tempo ou em ambas as dimensões. (SARRAMONA,
1991, p.199 apud GARCIA ARETIO, 2002, p.22-27)

De acordo com os autores citados a EaD apresenta vantagens e desvantagens.

a) Vantagens:

 Maior alcance/abertura – eliminação ou redução das barreiras de acesso aos cursos


ou níveis de estudos; diversificação e ampliação da oferta de cursos; oportunidade
de formação adaptada às exigências atuais, às pessoas que não puderem
freqüentar a escola tradicional.

 Economia – relação custo benefício mais favorável – redução de custos em


comparação com os sistemas presenciais de ensino, ao eliminar pequenos grupos,
ao evitar gastos com locomoção de alunos, ao evitar o abandono dos locais de
trabalho para o tempo extra de formação, ao permitir a economia em escala; e a
economia em escala supera os altos custos iniciais.
 Flexibilidade – ausência de rigidez quanto aos requisitos de espaço (onde estudar),
assistência às aulas e tempo (quando estudar) e ritmo (em que velocidade
aprender); eficaz combinação de estudo e trabalho; permanência do aluno em seu
ambiente profissional, cultural e familiar; formação fora do contexto da sala de aula.

 Formação permanente – atendimento às demandas e às aspirações dos diversos


grupos, por intermédio de atividades formativas ou não; aluno ativo;
desenvolvimento da iniciativa, de atitudes, interesses, valores e hábitos educativos;
capacitação para o trabalho e superação do nível cultural de cada aluno.

 Eficácia – o aluno, centro do processo de aprendizagem e sujeito ativo de sua


formação, vê respeitado o seu ritmo de aprender; formação teórico-prática,
relacionada à experiência do aluno, em contato imediato com a atividade
profissional, que se deseja melhorar; conteúdos instrucionais elaborados por
especialistas e a utilização de recursos multimídia; comunicação bidirecional
freqüente, garantindo uma aprendizagem dinâmica e inovadora.

 Possibilidade de personalização em nível que chegue à individualização.

b) Desvantagens:

 Dimensão pessoal – limitação em alcançar o objetivo da socialização pelas


escassas ocasiões para interação dos alunos com o docente e entre si. Há
controvérsias quanto a este item, pois já existem tecnologias que reduzem estes
inconvenientes (Chats, grupos de discussão etc.)

 Objetivos educacionais – limitação em alcançar o objetivo da área afetiva/atitudinal,


os objetivos da área psicomotora, a não ser por intermédio de momentos
presenciais previamente estabelecidos para o desenvolvimento supervisionado de
habilidades manipulativas. Há controvérsias quanto a isso, pois podem ser
utilizadas formas que atingem os objetivos afetivos e atitudinais. Para ver um
exemplo acesse:
http://www.luccaco.com/miniatureearth/miniature_earth_portugues.htm

 Troca de experiências – empobrecimento da troca direta de experiências


proporcionada pela relação educativa pessoal entre professor e aluno. Há
controvérsias, pois há tecnologias de informação e comunicação que possibilitam o
contato com o professor e com outros alunos.
 Retroalimentação – a retroalimentação ou feedback e a retificação de possíveis
erros podem ser mais lentos. Há controvérsias, existem tecnologias que reduzem
estes inconvenientes, permitindo o contato virtual, troca de informações entre aluno
e professor.

 Planejamento – necessidade de rigoroso planejamento de longo prazo, com as


desvantagens que possa ocasionar, embora com a vantagem de um repensar e de
um refletir por mais tempo.

 Homogeneidade – perigo de homogeneidade dos materiais instrucionais – todos


aprendem o mesmo, por um só pacote instrucional conjugado a poucas ocasiões de
diálogo aluno/docente – pode ser evitado e superado com a elaboração de
materiais que proporcionem a espontaneidade, a criatividade e a expressão das
idéias do aluno.

 Avaliação – excetuando-se as atividades presenciais de avaliação, os resultados da


avaliação à distância são menos confiáveis do que os da educação presencial,
considerando-se as oportunidades de plágio ou fraude, embora estes fatos também
possam ocorrer na modalidade presencial.

 Custos – os custos iniciais são muito altos para a implantação de cursos à distância,
porém esse custo pode se diluir ao longo de sua aplicação. Há controvérsias, é
discutível a economia de tal modalidade educativa.

Cabe salientar que as novas tecnologias ao se disseminarem pela sociedade, levam a


novas experiências e a novas formas de relação com o outro, com o conhecimento e
com o processo de ensino aprendizagem. Assim surgem novos aluno e professor com
novas características e papéis:

a) Professor/Tutor/Orientador

 animador de uma comunidade virtual de aprendizes;

 incentivador – procedendo de tal forma que mantenha os alunos motivados;

 orientador – de auxiliar o aluno na construção do conhecimento;

 companheiro;

 líder;

 supervisor do andamento dos trabalhos e do desenvolvimento dos alunos;

 deve ter o domínio do conteúdo e de técnicas didáticas;


 deve ter a capacidade de mobilizar a comunidade de aprendizes em torno de sua
própria aprendizagem; fomentar o debate; manter o clima de ajuda mútua;
incentivar cada um a se tornar responsável pela motivação de todo o grupo; e

 preferencialmente os professores devem vivenciar um processo de formação onde


participem de cursos de EaD. Dentro desse novo paradigma de
ensino/aprendizagem: que é mais centrado no aluno do que no professor; onde o
sentimento de autonomia e as relações de cooperação são incentivadas e todos
procuram o crescimento de todos.

b) Aluno

 deve ter autonomia;

 deve ter disciplina;

 deve ter experiência na aprendizagem individual;

 é necessário que o aluno seja co-responsável no processo de aprendizagem o que


exige um grau de maturidade;

 deve saber pesquisar;

 na grande maioria são adultos;

 não dispõe de tempo e horários para encontros presenciais;

 não dispõe de horários fixos e regulares e longos para estudos;

 prefere estudar à noite, após o expediente de trabalho;

 tem espírito de cooperação;

 percebe o outro e suas necessidades;

 considera o bem-estar da comunidade como parte fundamental do seu próprio bem-


estar;

 é capaz de perceber-se como parte de uma comunidade virtual de aprendizagem


colaborativa e desempenhar o novo papel a ele reservado nesta comunidade; e

 é capaz de trocas interpessoais e comunitárias sem o contato face-a-face.

3 MEIOS EMPREGADOS EM EAD

A EaD é bastante antiga e a primeira tecnologia que a tornou possível foi a escrita que
permitiu que as pessoas escrevessem o que antes só podiam transmitir oralmente,
assim surgiu a primeira forma de EaD. As epístolas de São Paulo no Novo Testamento
foram escritas com a finalidade de ensinar às comunidades cristãs da Ásia Menor como
viver como cristãos em um ambiente desfavorável. Ele usou as tecnologias da escrita e
dos meios de transporte para fazer seu trabalho missionário sem haver a necessidade
de viajar. Porém, o seu uso foi limitado até que foram transformadas em livro.

O livro é a tecnologia mais importante na EaD antes do aparecimento das modernas


tecnologias eletrônicas, especialmente as digitais. Com o livro, mesmo que manuscrito,
o alcance da EaD aumentou em relação à carta. Posteriormente, com o
desenvolvimento de novas tecnologias (imprensa, tipografia), o livro passou a ser cada
vez mais utilizado, especialmente após o aparecimento dos sistemas postais, quando
se tornou o foco do ensino por correspondência. Landim (1997) apresenta um histórico
bem detalhado de EaD e destaca o ensino por correspondência como o embrião da
EaD e o ano de 1728 como um dos primeiros registros dessa modalidade de ensino.

De acordo com Peters (2004) a experiência de educação a distância da segunda


metade do século XIX, por meio das escolas por correspondência foi uma iniciativa dos
empresários, principalmente os editores, que perceberam que poderiam lucrar
atendendo às necessidades dos indivíduos e explorar as possibilidades da produção e
da distribuição em massa e uso das tecnologias dos correios e das ferrovias. Essas
iniciativas tornaram-se importantes, pois ofereciam instrução àquelas pessoas que
eram deixadas de lado pelo sistema educacional, mas que aspiravam ascender
socialmente visando melhorar suas condições de vida.

Ainda citando Peters (2004) nesse período os trabalhadores eram desafiados na


medida em que o trabalho manual estava sendo substituído por tarefas e métodos cada
vez mais industrializados, no que resultava no acirramento da competição comercial,
que viria a se tornar uma característica importante da educação superior na era digital.

A mídia impressa, de acordo com Wills apud Abbad (2004) é fundamental na EaD, e
tem como vantagens poder ser usada em qualquer lugar, ser pedagogicamente clara,
fácil de usar, de se referenciar e revisar, porém, por ser um meio unidirecional possui
limitações como a falta de interação e por prover ao aluno uma visão limitada da
realidade uma vez que não tem movimento.

Outras tecnologias permitiram a introdução de novos elementos a EaD. O rádio,


inventado por Guglielmo Marconi em 1892, passou a ser utilizado dentro da escola
como apoio ao ensino tradicional e a partir da década de 40 passou a ser utilizado
como veículo de educação a distância. Este meio tecnológico segue, em importância o
material impresso. Outra tecnologia bastante utilizada foram as fitas de áudio
(audiocassetes) por serem baratas e fáceis de reproduzir, porém a sua desvantagem
está na falta de interatividade e de elementos visuais.

O vídeo é um complemento importante para o material impresso, pois muitos assuntos


podem ser melhor explicados por meio de imagens em movimento. Permite a sua
reprodução quantas vezes for preciso e no âmbito da EaD as suas aplicações estão
mais próximas dos aspectos motivacionais ou comportamentais, ou seja, podem ser
utilizados para: amenizar o isolamento do aluno; mostrar mudanças de atitude ou
opinião; criar uma empatia por pessoas ou procedimentos; encorajar e inspirar
persistência e entreter, envolver e divertir.

Outra tecnologia utilizada é a teleconferência que consiste na geração via satélite de


palestras, apresentações e aulas ao vivo, com a possibilidade de o público interagir via
fax, telefone ou Internet. O professor ou palestrante faz a apresentação de dentro de
um estúdio de televisão e a transmissão pode ser codificada – somente terão acesso
os pontos habilitados, que receberão o sinal – ou sem codificação – qualquer pessoa
pode sintonizar no canal e horário pré-determinado, nesse caso o acesso estará
limitado ao alcance do satélite.

A videoconferência permite a conversa em duas vias, o que possibilita que o processo


de ensino-aprendizagem ocorra em tempo real e com interatividade, com pessoas que
podem se ver e ouvir simultaneamente.

O computador, juntamente com a Internet, pode ser considerado a grande mídia


potencializadora da EaD, pois todas as outras mídias apresentadas podem ser
reproduzidas no computador, além da grande capacidade de armazenamento e a
interatividade possibilitada pela Internet.

O treinamento baseado na WEB (TBW) é uma composição de recursos baseada nas


ferramentas disponíveis na Internet que pode ser desenvolvido para instrução individual
ou para grupos. Apresenta como vantagens a redução de custos envolvidos em cursos
presenciais; os instrutores podem participar do curso de qualquer lugar e tempo; o
treinando se auto-desenvolve fazendo o treinamento no seu ritmo, no seu tempo e
onde achar melhor, desde que possua um computador conectado à Internet.

Outra tecnologia que está sendo utilizada é a realidade virtual, que consiste numa
tecnologia emergente cujo objetivo é a geração da percepção da realidade em
pessoas, usando dispositivos que estimulam mais de um órgão dos sentidos em um
modelo de um ambiente real ou fictício. A realidade virtual permite aos usuários a
interação instrutiva com o ambiente virtual e seus objetos como se fossem reais, por
imersão, na simulação tridimensional gerada por computador. Realidade virtual é uma
forma de os indivíduos visualizarem, manipularem e interagirem com computadores e
dados extremamente complexos; é a simulação do espaço e tempo (4D); é a animação
do ponto de observação apresentada em um contexto interativo, em tempo real; é uma
forma de interagir com um ambiente 3D.

Moore e Kearsley (1996) apresentaram a evolução da EaD em três gerações de acordo


com a tecnologia utilizada: textual, analógica e digital. A textual vai até a década de
1960, está baseada essencialmente na auto-instrução utilizando material impresso. A
analógica corresponde ao período entre 1960 e 1980 também baseada na auto-
instrução, utilizando material impresso, mas também recursos visuais de áudio e vídeo.
A geração digital corresponde de 1980 até apresente data, baseada na auto-instrução
com suporte de recursos tecnológicos digitais, utilizando desde o texto impresso até a
videoconferência com apoio da Internet e do uso de satélites.

Evans (2002) classifica em quatro as gerações de tecnologias educacionais utilizadas


pela EaD, sendo a primeira por correspondência, a segunda utilizando áudio e vídeo, a
terceira utilizando áudio visual e tutoria, e a quarta mediada por computador.

Habert, Plonski, Mascarenhas, e Slade citados por Jacomini (2003) entendem que as
novas tecnologias da informação e comunicação aplicadas a EaD proporcionam maior
flexibilidade e acessibilidade à oferta educativa, promove transformações na prática da
pesquisa e da transferência do conhecimento, poderá possibilitar a criação de uma
nova universidade com muitas características desejáveis como interdisciplinaridade,
inovação, interatividade com a sociedade, capacidade de renovação e adaptação
dinâmica e contínua, fazendo-as avançar na direção das redes de distribuição de
conhecimentos e de métodos de aprendizagem inovativos, revolucionando conceitos
tradicionais e contribuindo para a criação dos sistemas educacionais do futuro.

4 PREPARANDO O MATERIAL DE EAD

A EaD requer formação específica e uma estrutura de produção de aulas e materiais


didáticos diferentes daqueles utilizados no ensino presencial. A Ead não é uma mera
transposição do material didático utilizado em aulas do tipo expositivas para o
computador, pois os ambientes informatizados de aprendizagem proporcionam
oportunidades especiais. De acordo com Peters (2004):
[...] oportunidades completamente desconhecidas
baseadas nas tecnologias do computador, da mídia,
da rede e do hipertexto/hipermídia estão sendo
disponibilizadas. Uma delas é o desenvolvimento
intensificado da aprendizagem autônoma como
aprendizagem auto-planejada, auto-organizada e
automontada [...] (Peters, 2004, p.114)
Ainda de acordo com Peters (2004) na pedagogia termos - velhos conhecidos da
biblioteconomia - como o browse3 e o browsing começam a ser utilizados. Segundo o
autor os estudantes procuram unidades cognitivas de informação, com a ajuda das
quais a informação já conseguida pode ser desenvolvida ainda mais. O estudante é
guiado por seus próprios interesses, necessidades e objetivos, ativam elementos
coordenados dos arquivos de texto, imagens, animação gráfica e vídeo. Assim, todas
as unidades cognitivas que têm links umas com as outras formam uma rede, e
presume-se que isso ajude na formação de redes semânticas na mente do próprio
estudante. Desta forma a seqüência em que foram organizadas as informações pode
ser manipulada de acordo com a vontade do estudante e, portanto a interatividade
torna-se acessível.

A aprendizagem é um processo psicológico que ocorre no nível do indivíduo. É um


fenômeno complexo que envolve diversas variáveis. De acordo com Rodrigues Júnior
(1997) para fins didáticos foram definidas três áreas ou domínios nos quais a
aprendizagem ocorre: afetivo, cognitivo e psicomotor. Cabe ressaltar no entanto que,
durante o processo de aprendizagem ocorre uma interação entre esses domínios, ou
seja, se o foco está no domínio cognitivo, também o afetivo e psicomotor estarão
sendo, de alguma forma, acionados. O autor apresenta os três princípios ordenadores
da taxionomia: a) resultados de aprendizagem, ou seja, cada taxionomia representa o
que o indivíduo aprende; b) os processos são por definição cumulativos, uma categoria
depende da outra e, c) as categorias de processos mentais têm um fio condutor que é
a complexidade dos processos mentais, ou seja, uma categoria é mais complexa que a
anterior.

Belluzzo (1989) afirma que é possível estabelecer conteúdos programáticos e definir

3
Segundo Peters browse significa pastar, o que nos lembra animais pastando, comendo aqui e ali, da
mesma forma os indivíduos buscam informações aqui e ali por meio das redes, computadores etc.
métodos de ensino e recursos instrucionais necessários para a educação do usuário,
considerando-se que a formação deve atingir todos os domínios: cognitivo, sócio-
emocional e psicomotor, de conformidade com a taxionomia de objetivos de Bloom4.

Rodrigues Júnior (1997) apresenta a taxionomia dos objetivos educacionais,


elaborados com base na Taxionomia de Bloom, cuja síntese encontra-se nos quadros a
seguir:

DOMÍNIO
Categorias Características
COGNITIVO

Atividades Representa os processos cognitivos mais complexos, predizer,


intelectuais Avaliação explicar, prospectar, emitir julgamento de valor.
envolvidas no
processo de É o nível onde o indivíduo cria algo a partir da reunião com aquilo
aprendizagem Síntese que ele aprendeu.

É mais complexo separar a informação nos seus elementos


Análise componentes e estabelecer relações entre eles, decompor uma
teoria em partes, estabelecer relações entre teorias.
C O aluno será capaz de transportar uma informação genérica para
O uma situação nova e específica, ou seja, será capaz de identificar
M Aplicação
situações em que poderá aplicar o conteúdo transmitido.
P
L
E Requer elaboração ou modificação da informação que recebeu, é
X um nível de interpretação, onde o aluno poderá dizer aquilo que
Compreensão ele entendeu do conteúdo transmitido, parafraseando o
I
D professor.
A
D O aluno é capaz de reproduzir com exatidão a informação que
E Conhecimento recebeu, ou seja, ele recebe as informações, decodifica e as
armazena sem modificações. É o nível mais simples.

DOMINIO
Categoria Características
AFETIVO

Atitudes, valores, O indivíduo passa a ser identificado pela sua comunidade -


interesses, Caracterização imediata ou distante – como um símbolo ou representante do
tendências valor que ele incorporou. Ex. Madre Tereza; Mandela etc.
emocionais
É um nível mais profundo, envolve comparações e análises do
I Organização qual resulta uma síntese pessoal. Implica em reorganização
N da vida do indivíduo, modifica rotinas, reorganiza dos valores.
T
E
R
N
A
4 L
Bloom, B. S. Et Ial. Taxionomia de objetivos educacionais. 7.ed. Porto Alegre: Globo, 1979. 2v.
Z
A
Ç
Ã
O
DOMINIO
Categoria Características
AFETIVO

O valor comunicado é internalizado no indivíduo e isso é


Valorização constatado pela resposta: consistência, persistência e
persuasão.

Presume-se alguma ação por parte do indivíduo, ele reage, se


Resposta mobiliza em relação ao valor que está sendo repassado, mas
a ação do indivíduo é esporádica ou intermitente.
É um nível quase cognitivo, apesar do processo ocorrer no
nível interno do indivíduo, este não muda o seu
comportamento. O indivíduo porta-se passivamente diante da
Receptividade
informação que está sendo repassada, a sua atenção é
seletiva e proposital. É o caso das campanhas na TV,
palestras etc.

DOMÍNIO
Categoria Características
PSICOMOTOR

Atividades motoras Completo O indivíduo executa sozinho todas as ações.


ou musculares, domínio dos
envolvem movimentos
predominante-
mente o corpo. A O aluno irá repetir várias vezes com o instrutor até fazer tudo
U Mecanização sozinho, executa integralmente o ciclo de movimentos, porém
T com o instrutor próximo.
O
M Execução O aluno executa a ação acompanhado por um instrutor.
A acompanhada
T
I O aluno se posiciona, se coloca dentro, porém ainda não
Z Posicionamento executa os movimentos.
A
Ç É quase cognitivo, o aluno percebe o local, presta atenção
à Percepção aos movimentos relacionados com a ação, conhece as partes
O do objeto com o qual irá lidar.

A EaD deve ser encarada como instrumento para reduzir distâncias, caracteriza-se
pela auto-instrução e pela conversação didática, guiada, bidirecional, fazendo com que
o perfil, o nível e as necessidades da clientela conduzam à elaboração do material
didático. Assim, os professores devem preparar o material de forma que os alunos
recebam mensagens que correspondam às competências que deverão adquirir, aos
objetivos educacionais que desejam alcançar e assim escolher e definir os recursos a
serem utilizados visando alcançar estes objetivos.

De acordo com a literatura, a EaD é mais adequada para utilização na educação de


adultos, principalmente para aqueles que já têm experiência consolidada de
aprendizagem individual, pois as crianças, pela especificidade de suas necessidades
de desenvolvimento e socialização, não podem prescindir do contato físico, da
interação.

Na literatura podem ser encontradas diversas experiências em EaD tanto para cursos
de graduação, pós-graduação como para cursos de curta duração. Cursos mais
complexos e de longa duração exigem o uso de tutoria para acompanhamento e
incentivo dos alunos. Porém, cursos com duração entre 20 e 40 horas têm funcionado
bem e há casos de sucesso sem o uso de tutoria5.

Landim (1997) enfatiza que educação é comunicação e que por esse motivo implica em
interatividade, conceitua comunicação como o ato intencional de apresentar idéias,
desejos e emoções, de forma clara, atraente e direta. A EaD significa pensar um novo
modelo de comunicação capaz de fundamentar e instrumentalizar a estratégia didática.
Considerando que os meios de comunicação possuem três funções básicas - informar,
ensinar e entreter - também o texto produzido para a modalidade a distância não pode
ser apenas informativo. Ele deve ter um discurso persuasivo, com estímulos para
realização de operações intelectuais complexas, além de possibilitar a integração de
conhecimentos anteriores com a experiência pessoal do aluno e de identificar as
formas possíveis de aplicação em seu meio.

5 USO DA EAD NA EDUCAÇÃO DE USUÁRIOS DE UNIDADES DE INFORMAÇÃO

A biblioteca, de acordo com Lancaster (2004), deveria desenvolver instrumentos de


auto-ajuda para ensinar aos usuários como usar os serviços oferecidos com a
finalidade de alcançar as metas de atendimento aos usuários, tendo em vista a
avaliação de serviços de informação. O uso dos recursos informacionais existentes nas
unidades de informação é prova fundamental de que a sua coleção foi desenvolvida de
acordo com as necessidades dos clientes/usuários e que o tratamento dispensado a
essa coleção foi adequado para viabilizar o seu acesso.

O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação e o incremento da


sua utilização vêm influenciando o comportamento dos indivíduos que hoje podem
acessar informações de qualquer lugar, por meio das bibliotecas virtuais e digitais,
bancos de dados etc., necessitando cada vez menos de um intermediário para
encontrar a informação que busca. Atualmente, conforme Stormont (2001), Garcez e

5
Notas de aula com Profa. Dra. Gardênia Abbad. Curso arquitetura educacional elaborado para equipe
do Banco Central do Brasil em junho de 2004.
Rados (2002) os usuários que preferem os serviços disponíveis na Internet, não têm
todo o tempo disponível, por isso preferem interfaces amigáveis, serviços facilitadores
com valor agregado.

O profissional da informação tem dentre os seus papéis o de auxiliar o usuário a


aprender a pesquisar, a localizar a fonte mais adequada, a elaborar o perfil da busca
bibliográfica e a encontrar a informação que precisa com eficiência e eficácia. Cuenca
(1999) corrobora essa afirmativa, cita diversos autores que compararam os resultados
de buscas obtidas diretamente pelo usuário com outras obtidas por intermédio do
bibliotecário, concluindo que há controvérsias sobre quando o usuário deve fazer sua
própria busca ou quando deve se valer de um intermediário. Apresenta também
resultados de estudos realizados nos Estados Unidos onde, em bibliotecas
especializadas, os usuários afirmaram preferir realizar sozinhos suas pesquisas,
porém, quando a pesquisa é muito complexa há a necessidade de recorrer ao
bibliotecário.

Estudo realizado por Belluzzo (1989) demonstra que há um uso indiscriminado de


termos como treinamento de usuários, instrução bibliográfica, orientação bibliográfica,
educação de usuários etc. A autora apresentou um quadro síntese comparando os
conceitos desses diferentes termos nas áreas de educação, psicologia, administração e
biblioteconomia, propondo um conceito-síntese produzido a partir da literatura
consultada. A seguir transcrevemos apenas os conceitos-síntese apresentados pela
autora. (BELLUZZO, 1989, p.37, 84-85)

Termo Conceito-síntese

Processo pelo qual o usuário interioriza comportamentos adequados com relação ao


Educação uso da biblioteca e desenvolve habilidades de interação permanente com os sistemas
de informação

Parte do processo de educação compreende ações e/ou estratégias para desenvolver


determinadas habilidades do usuário por desconhecer situações específicas de uso
Treinamento
da biblioteca e de seus recursos informacionais, envolvendo o conjunto de meios
necessários para tal.

Descrição rigorosa de procedimentos acompanhada de pormenores, para o usuário


Instrução
manejar eficientemente os recursos informacionais da biblioteca.

Ação de esclarecer o usuário sobre a organização da biblioteca, layout e serviços


Orientação
oferecidos, tem um sentido mais abrangente do que a instrução.

Diante do conceito de educação de usuário acima descrito a mesma autora enfatiza


que a ação educadora na biblioteca deverá deslocar o seu interesse do conteúdo do
simples uso da informação para a formação de atitudes de valorização da mesma.
Conforme afirma Belluzzo (1989) e Silva (1996) há muito pouca literatura brasileira
sobre educação de usuários e os cursos de graduação em biblioteconomia e ciência da
informação não dedicam atenção ao tema educação de usuários. Poucas dissertações
foram encontradas sobre o tema, e nenhuma tese em nível de doutorado.

Na literatura há relatos de experiências de utilização de material audiovisual, de cd-


roms, de cartilhas, de tutoriais, de vídeos, enfim, diferentes tecnologias vêm sendo
utilizadas visando levar ao usuário o conhecimento dos serviços oferecidos e a melhor
forma de utilizá-los.

Dentre essas experiências apresentamos uma de utilização de tutorial de consulta para


utilização do Chemical Abstracts. Este trabalho foi desenvolvido por um grupo de
bibliotecários da UNESP, e abordou os aspectos de organização da publicação e
orientação passo a passo quanto à utilização e realização de pesquisas bibliográficas.
O tutorial foi desenvolvido em flash, e armazenado em cd-rom e disponibilizado no
Instituto de Química. (SARTI, s.d.)

Outra experiência foi desenvolvida pela Biblioteca Central da UNICAMP por meio do
Programa de Educação de Usuários a Distância que utiliza o correio eletrônico como
meio de comunicação. Cada funcionário da Área de Serviço ao Público possui um
equipamento de informática com configuração de correio eletrônico próprio e existe
uma rotina de trabalho onde as solicitações são direcionadas e agrupadas por tipo de
questionamento. Essa Biblioteca realizou um estudo visando avaliar quais eram as
demandas encaminhadas por e-mail : a) 36,98 % foram com relação à orientação e
solicitação de pesquisa e localização de material bibliográfico no SBU (Base Acervus)
bem como em outras instituições, Internet, orientação na formulação da pesquisa e no
acesso ao documento primário no SBU, levantamento bibliográfico em bases de dados
on-line e em cd-rom; b) 17,84 % com relação à localização e obtenção de material
bibliográfico, solicitação de documento via programas de comutação bibliográfica,
empréstimo entre bibliotecas, aquisição de documentos em outras instituições; c) 7%
em relação ao programa de treinamento de usuários, agendamento de cursos,
treinamentos de uso da base Acervus, Internet, ProBe-Programa de Biblioteca
Eletrônica, bases de dados on-line e em cd-rom, orientação na elaboração de trabalhos
científicos e normalização de referências bibliográficas. (MELLO; MARTINS, s.d.)

A UNESCO, em 1977, apresentou no âmbito do Programa UNISIST, um guia para


professores que iriam desenvolver cursos de educação de usuários. (UNESCO, 1977)
Esse tema foi tratado novamente pela UNESCO em 1980 por meio da publicação de
guidelines para implementação de planos nacionais de treinamento e educação de
usuários no uso da informação. De acordo com essa proposta o referido plano deveria
estar articulado com os planos nacionais de informação e de educação do país.
Apresentou o conceito de educação voltado para valores, atitudes e motivação de
usuários efetivos e potenciais em relação à unidade de informação e que o treinamento
estaria voltado para os instrumentos e metodologias utilizadas para encontrar a
informação. Apresentou proposta de conteúdo para estruturação de cursos detalhando
o nível de profundidade da abordagem. Os grandes tópicos foram: a) definição do
assunto ou tema a ser pesquisado; b) localização da informação – localizar o material
na unidade de informação, localizar a informação em materiais – aprender a consultar
obras de referência etc, localizar a informação fora da unidade de informação; c)
selecionar informação; d) organizar a informação; e) avaliar a informação e f)
comunicar resultados. (UNESCO, 1981)

Belluzzo (1989) apresenta uma proposta de diretrizes para elaboração de programas


de educação de usuários.

a) Diagnóstico da realidade – conhecer e definir com clareza a clientela à qual o


curso se destina, se é o público em geral, ou estudantes universitários, ou
funcionários de uma empresa etc, bem como os stakeholders.

b) Definição dos objetivos educacionais a serem alcançados – implica definir que


competências devem ser desenvolvidas, e quais os domínios e categorias
devem ser alcançados.

c) Escolha dos conteúdos e atividades que serão desenvolvidos – devem estar de


acordo com os objetivos educacionais definidos no item anterior. Porém, em se
tratando de unidade de informação conteúdos do tipo função, importância, sua
organização, as fontes principais que estão disponíveis, como elaborar buscas
etc. não podem ser esquecidos.

d) Seleção dos procedimentos e recursos mais adequados e disponíveis – de


acordo com os objetivos educacionais definidos serão escolhidos os recursos
adequados a serem utilizados.

e) Avaliação da atividade realizada – complementando o ciclo deve-se realizar uma


avaliação com o objetivo de verificar não somente a aprendizagem dos alunos,
mas se os objetivos educacionais foram atingidos.
6 CONCLUSÕES

As unidades de informação somente alcançarão suas metas de atendimento aos seus


clientes na medida que os recursos informacionais ali disponíveis forem ampla e
intensamente utilizados por seus usuários. Portanto, esses necessitam não só
conhecer a unidade, mas saber extrair o máximo de informações de que necessitam e
utilizar todo o seu potencial.

É possível para bibliotecas de médio e grande porte desenvolverem um programa de


educação de usuários utilizando EaD, por meio do qual os mesmos possam conhecer a
unidade, as fontes de informação, os serviços e produtos existentes e disponíveis, bem
como aprender a utilizá-los de forma efetiva e interativa.

Um programa de educação de usuários poderá ser disponibilizado na Internet – caso a


organização atenda também ao público externo – ou na Intranet – caso atenda apenas ao
público interno, funcionários da instituição. A EaD poderá, por meio das listas de discussão,
fóruns e chats abrir um canal de comunicação com o usuário e a unidade de informação de
forma que seja possível esclarecer dúvidas quanto à utilização dos serviços e produtos
oferecidos, bem como poderá apresentar sugestões e críticas de maneira interativa, podendo
discutir com o profissional da informação suas necessidades e maneiras de solucioná-las, pois
a unidade de informação deve estar o mais próximo do seu usuário/cliente.

REFERÊNCIAS

ABBAD, Gardênia et al. Arquitetura Educacional. Brasília: Banco Central do Brasil, 2004.
80p. Apostila do Curso: Modelagem da Universidade Corporativa do Banco Central. Módulo:
Arquitetura educacional. Ministrado pela Profa. Dra. Gardênia Abbad.
BELLUZZO, Regina Célia Baptista. Educação de usuários de bibliotecas universitárias: da
conceituação e sistematização ao estabelecimento de diretrizes. 1989. 107f. Dissertação
(Mestrado em Comunicação)- Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo.
BRASIL. Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 20 dez. 2005.
CUENCA, Angela Maria Belloni. O usuário final da busca informatizada: avaliação da
capacitação no acesso a bases de dados em biblioteca acadêmica. Ci. Inf., Brasília, v. 28, n. 3,
p. 293-301, set./dez. 1999.
EVANS, T. Educação a distância, tecnologia, interação e globalização. In: CONGRESSO DE
ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA - ESUD, 1. Petrópolis, 2002. Anais... Petrópolis: ESUD,
2002. 1v.
GARCEZ, Eliane Maria Stuar; RADOS, Gregório J. Varvakis. Biblioteca híbrido: um novo
enfoque no suporte à educação a distância. Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 2, p.44-51, maio/ago.
2002.
GARCIA ARETIO, Lorenzo. La educación a distancia: de la teoría a la prática. 2.ed.
Barcelona: Ariel, 2002. 328p.
JACOMINI, Dulcinéia Dilva. A biblioteca universitária e a educação a distância: um estudo
de caso na FEA/USP. 2003. 101f. Dissertação (Mestrado em Comunicação)- Escola de
Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.
KLEIS, Margarete Lazzaris. Desafios estratégicos para a educação continuada nas
corporações. CTAI: Revista de Automação e Tecnologia da Informação, Florianópolis, v.1, n.2,
p.51-56, jul./dez. 2002.
LANCASTER, F. W. Avaliação de serviços de bibliotecas. Brasília: Briquet de Lemos, 2004.
356p.
LANDIM, Cláudia Maria das Mercês Paes Ferreira. Educação a distância: algumas
considerações. Rio de Janeiro: Cláudia Maria das Mercês Ferreira Landim, 1997. 1v.
MEISTER, J. C. Educação corporativa: a gestão do capital intelectual através das
universidades corporativas. São Paulo: Makron Books, 1999. 296p.
MELLO, Rachel Fullin de; MARTINS, Valéria dos Santos Gouveia. Estudo do usuário não
presencial na Biblioteca central da UNICAMP. 11p. Disponível em:
http://snbu.bvs.br/snbu2000/docs/pt/doc/poster026.doc . Acesso em: 06 abr. 2005.
MOORE, Michael; KEARSLEY, Greg. Distance education: a system view. Belmont:
Wadsworth Pub., 1996. 1v.
PETERS, Otto. A educação a distância em transição: tendências e desafios. São Leopoldo:
UNISINOS, 2004. 400p.
RODRIGUES Jr., José Florêncio. A taxionomia dos objetivos educacionais: um manual
para o usuário. 2.ed. Brasília: Edunb, 1997. 66p.
SARTI, Maria Regina Catarino et al. Tutorial de consulta ao Chemical Abstracts: aliando
usuário à tecnologia multimídia. 15p. Disponível em: http://www.ufpe.br/snbu/docs/102.a.pdf
Acesso em: 06 abr. 2005.
SILVA, Rosa Zuleide Lima da. Educação de usuários de bibliotecas públicas estaduais
brasileiras: um diagnóstico e análise de programas. 1996. 110f. Dissertação (Mestrado)-
Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal da Paraíba.
STORTMONT, Sam. Going where the users are: live digital reference. Information
Technology and Libraries, Chicago, v.20, n.3, p.129-134, Sept. 2001.
UNESCO. Education and training of users of scientific and technical information: Unisist
guide for teachers. Paris: UNESCO, 1997. 143p.
UNESCO. Guidelines for developing and implementing a national plan for training and
education in information use. Paris: UNESCO, 1981. 50p.
BIBLIOTECA PÚBLICA NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

Graça Maria Fragoso1


Ursula Blattmann2
Noeli Viapiana3

RESUMO:

A Biblioteca Pública como local difusor de leitura e informação necessita ter: infra-estrutura básica
para sua manutenção, recursos humanos qualificados, espaço físico adequado, material
bibliográfico que atenda às necessidades dos leitores e projetos que visem a democratização da
leitura. O objetivo do presente estudo é apresentar o levantamento sobre a presença das
Bibliotecas Públicas Estaduais brasileiras na Internet. A metodologia consiste em: a) Levantamento
das Bibliotecas Públicas Estaduais; b) Busca das páginas ou sites oficiais das instituições pelo
mecanismo de busca Google; c) Endereço eletrônico e serviços on-line; c) Endereço tradicional.
Resultados: todas bibliotecas possuem e-mail, 17 das 26 bibliotecas apresentam sites, e destas 5
disponibilizam o catálogo online. Sugere-se a dinamizar projetos para disponibilizar serviços e
produtos na Internet das Bibliotecas Públicas para fortalecer o acesso ao direito humanitário básico
– o direito à leitura.

Palavras-chave: Biblioteca Pública Estadual; Acesso à informação – Biblioteca


Pública; Biblioteca Pública – Catálogos; Biblioteca Pública – e-mail.

1 INTRODUÇÃO

As bibliotecas públicas estaduais (BPE) são instituições fundamentais para a


preservação da cultura, estimular ações leitoras e disponibilizar serviços e
produtos de informação para a comunidade na qual está inserida. Tem como
missão a preservação da memória de um povo e de sua cultura, especificamente
a registrada em diferentes meios suportes: impressos, auditivos, visuais e digitais.
A Biblioteca Pública como local difusor de leitura e informação necessita ter:
infra-estrutura básica para sua manutenção, recursos humanos qualificados,
espaço físico adequado, material bibliográfico que atenda às necessidades dos
leitores e projetos que visem a democratização da leitura. Nesse sentido atenderá
a natureza educativa e sócio-cultural dos cidadãos.

1
Apresentadora – Diretora da Biblioteca Pública Estadual Luis de Bessa - Belo Horizonte – Minas
Gerais – e-mail: fragoso.bh@gmail.com
2
Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis
e-mail: ursula@ced.ufsc.br, Professora no Curso de Graduação Biblioteconomia e
no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (Mestrado) na UFSC.
3
Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis e-mail: noeli_viapiana@yahoo.com.br ,
Estudante do Curso de Biblioteconomia na UFSC
A Fundação Biblioteca Nacional do Brasil - FBN -
http://www.bn.br/site/default.htm desempenha atribuições fundamentais para a
preservação da memória e cultura brasileira. É imprescindível ao bibliotecário, a
utilização dos diversos catálogos produzidos pela Biblioteca Nacional disponíveis
no ambiente da Internet (http://catalogos.bn.br/ ). Estes facilitam diretamente a
consulta dos acervos e coleções da BN.(http://catalogos.bn.br/snbp/historico.html).
Por meio do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas - SNBP, observa-se ações
pautadas nos seguintes objetivos (http://catalogos.bn.br/snbp/historico.html )

a) Incentivar a implantação de serviços bibliotecários em


todo o território nacional;

b) promover a melhoria do funcionamento da atual rede de


bibliotecas, para que atuem como centros de ação cultural e
educacional permanentes;

c) desenvolver atividades de treinamento e qualificação de


recursos humanos, para o funcionamento de todas as
bibliotecas brasileiras;

d) manter atualizado o cadastramento de todas as


Bibliotecas Públicas brasileiras;

e) incentivar a criação de bibliotecas em municípios


desprovidos de Bibliotecas Públicas;
f) proporcionar, obedecida à legislação vigente, a criação
e atualização de acervos, mediante repasse de recursos
financeiros aos sistemas estaduais e municipais;

g) favorecer a ação dos coordenadores dos sistemas


estaduais e municipais, para que atuem como agentes
culturais, em favor do livro e de uma política de leitura no
país;

h) assessorar tecnicamente as bibliotecas e


coordenadorias dos sistemas estaduais e municipais, bem
como oferecer material informativo e orientador de suas
atividades;
i) firmar convênios com entidades culturais, visando a
promoção de livros e de bibliotecas.
O principal objetivo do SNBP é o fortalecimento das Bibliotecas Públicas ao
longo do território brasileiro. Em sua base de dados localiza as bibliotecas públicas
ou comunitárias cadastradas no SNBP –
http://catalogos.bn.br/scripts/odwp012k.dll?INDEXLIST=snbp_pr:snbp pelo nome
da biblioteca, cidade e sigla UF.
O presente estudo objetiva facilitar o acesso às bibliotecas públicas estaduais
buscando visibilidade e transparência dos serviços e produtos disponibilizados no
ambiente da Internet.

2 BIBLIOTECAS PÚBLICAS ESTADUAIS NO BRASIL

O presente estudo visa facilitar o acesso às bibliotecas públicas estaduais


para que se tenha visibilidade e transparência dos serviços e produtos que
disponibilizam no ambiente da Internet.
Na metodologia foram utilizados mecanismos de busca, durante os meses de
maio e junho de 2006, para apresentação das Bibliotecas Públicas Estaduais
brasileiras. Aplicaram-se critérios de seleção das fontes de informação: a)
Levantamento das Bibliotecas Públicas Estaduais; b) Busca das páginas ou sites
oficiais das instituições pelo mecanismo de busca Google – www.google.com ; c)
Instituições que possuem endereço eletrônico e serviços on-line; c) Verificação do
endereço completo e telefone. No universo de 28 (vinte e oito) bibliotecas públicas
estaduais brasileiras como resultado constatou-se: 26 (vinte e seis) bibliotecas
possuem e-mail, 14 (catorze) bibliotecas com presença em site, sendo: 1(uma) na
região norte, 6 (seis) na região nordeste, 2 (duas) na região centro-oeste, 2 (duas)
na região sudeste, 3 (três) na região sul. Abaixo relacionamos e discutidos os
resultados do levantamento.

A seguir estão apresentados e discutidos os resultados do levantamento.


Região Endereço Endereço eletrônico Serviços
Norte
Biblioteca Pública Estadual Adonay ND
Barbosa dos Santos - Av. Getúlio Vargas,
ACRE

389 – Centro Rio Branco – AC 69900-660 E-mail: sebpacre@mdnet.com.br


Tel.: (68) 223-1210; 223-6041 (direto)
helena.carloni@ac.gov.br
Tel/fax.: (68) 223-1210 Fundação Cultural
e Comunicação Elias Mansour-FEM
Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda - ND
R. São José, 1800 E-mail:
AMAPÁ

Centro - Macapá - AP bibpub@fundecap.ap.gov.br


68900-110 Tel: (96) 32125119 Tel/fax: (96
) 3212-5119
Vinculação: Fundação de Cultura do
Estado do Amapá/FUNDECAP
Biblioteca do Estado – SEC Criada em 1870.
Rua Barroso, 57 - Centro http://www.culturamazonas.am.g Com um acervo
AMAZONAS

Manaus – AM 69010-050 ov.br/programas_02.php?cod=01 de 153.580


01
Tel/fax.: (92) 3234-0588 ; (92) 3232-4503 títulos. De
E-mail:
bpublica@culturamazonas.com.gov segunda a sexta-
.br , feira, das 8h às
17h30min Não
possui catálogo
online.
Biblioteca Pública Arthur Vianna Osmar Fundada em 25
Arouck http://www.fcptn.pa.gov.br/index.ph de março de
Av. Gentil Bittencourt, 650 - CEP 66035- p?pagina=bpav 1871. De segunda
PARÁ

340 - Belém - PA E-mail: gbav@fcptn.pa.gov.br a sexta-feira das


biblioteca.fcptn@prodepa.gov.br
Tel.: (91) 3224-9923 ; 3202-4372 Fax.: 9h às 18h30min
(91) 3202-4351 , (91) 3202-4372

Secretaria do Estado de Esportes, Cultura ND


RONDÔNIA

e Lazer – SECEL - Avenida 7 de setembro, E-mail: chaviense@bol.com.br ;


nº 237,Centro Porto Velho – RO 78.900- secel.rondônia@bol.com.br
350 Tel.: (69) 3216-5131 ;3 216-5133;3
216-7301 Fax.: (69)3216-5134

Palácio da Cultura http://www.rr.gov.br/roraima.php?ar ND


Biblioteca Pública do Estado de Roraima - ea=biblioteca
RORAIMA

Praça do Centro Cívico Joaquim Nabuco, E-mail: bibpublica@osite.com.br ;


anethe@osite.com.br ;
s/n. Boa Vista – RR 69301 – 380 Tel.:
biblpublica@osite.com.br
(95)623-2629 R. 204 / 623-2280 Fax.:
(95)623-1943 (Dep. Cultura) Fax SECD:
(95)623-1676
Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas - ND
Diretoria Estadual de Cultura – SEBIS E-mail: fundacao@cultura.to.gov.br
TOCANTINS

Qda. 103 Norte, Av. LO- 02, Conj. 01, nº Secult-to@uol.com.br


acilegnamoreira@yahoo.com.br
57/59
Centro - Palmas - TO
77.001-022 Tel.: (63)3218-3300;3218-
3307;3218-3303; 3218-3330
Fax.: (63) 3218-3303; 3218-3331;3218-
3355 Sec Cultura: (63)3218-5148

As sete bibliotecas públicas estaduais da região Norte apresentam e-mail.


Apenas no Estado do Pará existe maior transparência e visibilidade da presença
da biblioteca pública estadual. Ao analisar a situação das bibliotecas da região
Norte do Brasil, observa-se que precisa haver maior participação em divulgar na
web as atividades, serviços ou até mesmo sua localização. Surgem perspectivas
de atuação para os bibliotecários realizarem atividades para dimensionar acervos
e facilitar o acesso à informação.

Região Endereço Endereço eletrônico Serviços


Nordeste
Biblioteca Pública Estadual de ND
ALAGOAS

Alagoas Endereço : Praça Dom


Pedro II – Centro CEP: 57.020-120 - E-mail: nobregawm@uol.com.br
Maceió – AL Telefone: (82) 223-
4062 • 338-2555 R. 242
Bibliotecas Públicas do Estado da http://www.fpc.ba.gov.br/bibliotec Fundada em 26 de abril de
Bahia - R. General Labatut, 27/3º a_bpeba.asp 1811. Possui acervo de
E-mail:
BAHIA

Andar-Barris Salvador – BA 40070- 127 mil exemplares.


http://www.fpc.ba.gov.br/bibliotec
100 Tel.: (71) 3328-4555 De segunda à sexta-feira
a_faleconosco.asp
Fax.: (71) 3328-3940 R 315 das 9h às 21h e sábado
das 9h às 12h.

Biblioteca Pública Governador http://www.secult.ce.gov.br/BPG Criada em 25 de março de


Menezes Pimentel MP/BPGMP.asp 1867. Cerca de 95mil
Av. Presidente Castelo Branco, volumes, em grande parte
E-mail:
nº255 Fortaleza – CEP 60120-000 informatizado através do
bpublica@secult.ce.gov.br
FAX:(85)3101-2546 Tel.: (85) 3101- software Arches-Lib de
2548;3101-2547; 3101-2544 gerenciamento de
CEARÁ

bibliotecas (não está


online), está à disposição
dos usuários que a
freqüentam em uma média
de 10.000 usuários/mês.
segunda à sexta das 8h às
21h e sábado das 14h às
18h e outros horários
conforme o setor.
Biblioteca Pública Benedito Leite Criada em 29 de setembro
http://www.cultura.ma.gov.br/site
MARANHÃO

Pç. do Panteon, s / n - Centro de 1829, e somente em 3


São Luís - MA _biblioteca/sistema.jsp de maio de 1831 é aberta
E-mail:
65020-430 ao público. Com 120.000
http://www.cultura.ma.gov.br/site
Tel.:(98)3232-9730 _biblioteca/contato.jsp obras. De segunda à
Tel/fax.: (98)3232-9688 sexta-feira, das 8h30min
E-mail: bpbl@cultura.ma.gov.br
às 19 h
Biblioteca Pública do Estado Juarez Com área de 2.500 m²
da Gama Batista http://www.funesc.pb.gov.br/bib_j 53 mil títulos
Av. Abdias Gomes Gomes de gb.shtml Utiliza o software
PARAÍBA

Almeida, 800 ArchesLib. segunda à


Bairro: Tambauzinho E-mail: sexta-feira: 7h30min às
CEP: 58.042-100 heleniseoliveira@hotmail.com 18h.
João Pessoa - Paraíba sábado: 7h30min às 18h.
Tel. (83) 3211-6262; 3211-6237 domingo: 7h30min às 13h.
Fax. (83) 3211-6209
http://www.biblioteca.pe.gov.br/ Criada em 5 de maio de
Biblioteca Pública do Estado de 1852. 200 mil livros
PERNAMBUCO

Pernambuco - R. João Lira, s/nº - Biblioteca virtual De segunda à sexta-feira


Santo Amaro Recife - PE http://www.biblioteca.pe.gov.br/vi das 8h às 21h.
50050 – 550 Tel/fax.: (81) 3221- rtual.shtml E-mail:
3716, 3423-8446, 3231-6961 gleyde@educacao.pe.gov.br

Biblioteca Estadual Desembargador ND


Cromwell Carvalho Pç. Demóstenes
Avelino, 1788-Centro Teresina - PI E-mail:
PIAUÍ

64000 – 100 - Tel.: (86)222-1350 , cromwelldecarvalho@bol.com.br


221-6597 (orelhão); 221-7666 Fax.:
(86) 221-4656 -
Fundação de Cultura 223-5577;226-
2621;221-7666
Biblioteca Pública Câmara Cascudo http://www.nataltrip.com/index.ph
A maior biblioteca do
DO NORTE

p?Fa=atr.inf&ATR_ID=33
GRANDE

Marcio Rodrigues Farias R. Potengi, estado possui um acervo


535 - Petrópolis Natal - Rio Grande E-mail: fjagabinete@rn.gov.br de 65.000 volumes. Não
RIO

do Norte 5 Tel.: (84)3232-9746 tem catálogo online. De


segunda à sexta-feira
das 7h30min às 21h
Biblioteca Pública do Estado http://200.17.141.11/enearte/arac De segunda à sexta-feira
Epifhânio Dorea -Rua Vila Cristina, aju.htm
SERGIPE

das 7h às 18h
s/n - Bairro 13 de Julho Aracaju - E-mail:
SE 49020-150 Tel.: (79) 3179-1907/ bibliotecapublica@cultura.se.gov
.br ;
3179-1907 /31791932 Fax.: (79)
3179-1923

Na região Nordeste as nove BPE apresentam e-mail. A biblioteca que mais


se destacou com informações bem estruturadas na web foi à de Maranhão. Cabe
destacar a presença das bibliotecas publicas estaduais do Ceará e da Bahia pela
organização da informação. Interessante que a da Paraíba funciona também aos
domingos.
Região Endereço Endereço eletrônico Serviços
Centro-
oeste
Biblioteca Pública Estadual http://e- Criada em junho de 1967.
Escritor Pio Vargas Pç. commerce.cultura.com.br/shopping/mo Conta com 60 mil títulos.
Cívica 2 - Centro stra_noticia.asp?txtEntidade=22575 De segunda à sexta, das 8
GOIÁS

Goiânia – GO CEP 74003- às 19h, aos sábados, das


010 Tel:(62) 201.4653 / http://goiasnet.globo.com/dossie/age_b 8h às 16h45min
201.4618 Fax:(62)201-5125 iblio.php domingos e feriados, das
Fax recado: (62) 201-5124 8h às 11h45min

Biblioteca Pública Estadual Criada em 26 de março de


Estevão de Mendonça http://www.cultura.mt.gov.br/conteudo. 1912. Conta com 35 mil
GROSSO

Praça da República, nº 151, php?sid=61&parent=0 livros.


MATO

Edif. Palácio da Instrução -


Centro - Cuiabá - MT E-mail:
78005-440 Tel/fax: (65) 613- bibliotecaestadual@cultura.com.br
9240 ; (65) 613-9235
Biblioteca Pública Estadual http://www.fundacaodecultura.ms.gov.b Criada em dezembro de
Gabriel Vandoni de Barros r/web/unidades.php?act=detalhes&proj 1983 e aberta ao público
MATO GROSSO

Casa de Cultura Luiz de =15 em março de 1987. Possui


DO SUL

Albuquerque, na Praça da um dos mais antigos


República, 119, em E-mail: fcmspatrimonio@net.ms.gov.br acervos bibliográficos de
Corumbá. telefone (0xx67) Mato Grosso do Sul.
3231- 5757. Horário das 8h30min às
11h30min e das 14h às
17h
Biblioteca Pública de http://www.sc.df.gov.br/paginas/bibliote Inaugurada em 1990.
Brasília - EQS 312/313 - cas/bibliotecas_02.htm Conta com 60 mil
FEDERAL
DISTRITO

próximo à W3 Sul. Brasília - E-mail: bibpub@sc.df.gov.br exemplares, utiliza


DF 70.361-580 Telefone: Outras bibliotecas públicas DF: software ArchesLIb. Com
(61) 3346-5560 Fax: (61) http://www.sc.df.gov.br/paginas/bibliote área de 400m2, Telecentro
3245-5022 cas/bibliotecas_03.htm com 10 computadores, de
segunda à sexta-feira, das
8h às 18h

Destaca-se na Região Centro-Oeste a biblioteca pública de Goiás que está aberta aos
domingos. E a de Mato Grosso do Sul que está localizada em Corumbá e não na capital do estado.

Região Endereço Endereço eletrônico Serviços


Sudeste

Superintendência de http://www.cultura.mg.gov.br/?task=interna Criada em 1954, pelo


Bibliotecas Públicas &sec=4&cat=52&con=576 então governador JK a
Biblioteca Pública biblioteca pública
Estadual Luiz de Bessa Consulta ao catálogo online: funciona em prédio
Pç. da Liberdade, 21 - http://200.198.51.243/biblioteca/php/opcoes projetado por Oscar
Funcionários Niemeyer. São 300 mil
MINAS GERAIS

.php
Belo Horizonte - MG livros e 1.200 títulos
30140-010 de periódicos,
Tel/fax.: (31)3269-1166 E-mail: sub@cultura.mg.gov.br informatizados pelo
Ramais 100/101 e 111 ; Sistema Pergamum.
Tel/fax.: (31) Direto 3261- Não possui site
1311 (Secretaria de próprio. Este está
Cultura) inserido no Portal da
Secretaria de Cultura.
De segunda a sexta,
das 8h às 20h
sábado, das 8h às 12h
Biblioteca Pública ND
Estadual do Espírito Santo
ESPÍRITO

Av. João Batista Parra, http://www.governo.es.gov.br/scripts/portal071.as


SANTO

165 - Praia do Suá p?pCodigo=87


Vitória - ES
29025-120 Tel.: (27) Não possui site oficial
3137-9350 Tel. e Fax.:
(27) 3137-9349
Biblioteca Pública do http://www.bperj.rj.gov.br/Principal.html Criada em 15 de
Estado do Rio de Janeiro Consulta ao catálogo online: março de 1873, e
– Denominada também http://200.163.18.182/moduloweb/Bperj.dll/pesqui aberta ao público 2 de
sadocs
Biblioteca Estadual Celso dezembro de 1874.
RIO DE JANEIRO

E-mail: bibliotecapublica@bperj.rj.gov.br
Kelly Guia de Bibliotecas públicas do Estado do Rio de Utiliza o software
Av. Pres. Vargas, 1261 - Janeiro - ArchesLib WEB. Com
Centro http://www.bperj.rj.gov.br/sebguiadebibliotecas_n 10.000m2. De
Rio de Janeiro - RJ ovo.htm segunda a sexta-feira,
20071-004 Biblioteca Estadual de Niterói – BEN, das 9h às 18h
Tel.: (21)2224-6184/ Biblioteca Estadual Infantil Anísio Teixeira –
2242-6619 /2299-1771 BEIAT
Tel/fax.: (21)2252-6810 /
2299-1769

Sistema de Bibliotecas http://www.divbibliotecas.sp.gov.br


Públicas do Estado de De segunda a sexta-
São Paulo Secretaria do E-mail: biblioteca@divbibliotecas.sp.gov.br feira, das 9h às 17h
Estado da Cultura de São
Relação das Bibliotecas Municipais do Estado de
Paulo São Paulo -
SÃO PAULO

R. Mauá, 51/2. andar, sala http://www.darc.sp.gov.br/textos/Bibliotecas%20P


204 - Praça Júlio Prestes úblicas%20Municipais%20-
São Paulo - SP %20Estado%20de%20São%20Paulo.xls
01028-900
Tel.: (11) 3351-8069; 8256
Tel/fax: (11)3351-8000;
220-0378
Fax da Secretaria: 3351-
8093
E-mail:
Biblioteca Mário de http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/cultur
Criada em 25 de
Andrade. Rua a/bibliotecas/marioandrade fevereiro de 1925, em
Consolação, 94, CEP 1939 foi incorporado
Catálogo Eletrônico das Bibliotecas de São Paulo
01302-000, Telefone (11) ao acervo da
http://www4.prefeitura.sp.gov.br/biblioteca/Pagina
3256-5270 Inicial.asp Biblioteca Pública do
Estado de São Paulo.
Acervo com mais de
3,38 milhões de itens,
sendo 350.000 livros e
11 mil títulos de
periódicos. De
segunda a sexta-feira,
das 9h às 21h
sábados, das 9h às
18 h

A região Sudeste tem características especiais quanto aos acervos, em


primeiro plano é nessa região que está também localiza a Fundação Biblioteca
Nacional, em segundo os cursos e escolas de Biblioteconomia com maior
presença e em terceiro pelos aspectos educacionais, culturais e econômicos
sempre mostrou sua importância e liderança no cenário brasileiro. As bibliotecas
disponibilizam o catálogo do acervo na Internet. A Biblioteca Mário de Andrade e o
Sistema de Bibliotecas Públicas de São Paulo, assim como a Biblioteca Pública
Estadual Luiz de Bessa, são destaques devido a dinâmica dos serviços
disponibilizados. Apenas a Biblioteca Pública Estadual do Espírito Santo não
dispõem de site na Internet.

Região Endereço Endereço eletrônico Serviços


Sul

Biblioteca Pública do http://www.pr.gov.br/bpp/ Criada em 7 de março


Paraná - Catálogo de 1857, com área de
R. Cândido Lopes, 133 – onlinehttp://www.pr.gov.br/bibliotecas/pesqu 8.528,96 m2, cerca de
Centro - Curitiba - PR i.html 470.000 volumes a
PARANÁ

80020 – 901 Tel.: (41)224- E-mail: bppgeral@pr.gov.br ; maior parte disponível


0575, 221-4900; 221- extensão@pr.gov.br no Catálogo Librarium.
4900;221-4951; 221-4986 Sistema Estadual de Bibliotecas Telecentro. De
Fax.: (41)225-6883 http://www.pr.gov.br/bpp/sistema_estadual_ segunda a sexta-feira
bp.shtml das 8h30min às 20h
Guia de endereços das Bibliotecas sábados, das 8h30min
Municipais - às 13h
http://www.pr.gov.br/bpp/guia_enderecos.rtf
Biblioteca Pública Criada em 14 de abril
RIO GRANDE DO SUL

Estadual - R. Riachuelo http://www.bibliotecapublica.rs.gov.br/ de 1871, aberta ao


1190, - Centro Catalogo online: público em 21 de
Porto Alegre - RS http://www.bibvirtual.rs.gov.br:8080/pg_pes janeiro de 1877. Com
90010-273 Tel. (51)3224- quisa.php um acervo de 180 mil
5045 / 3286-3677 / 3225- E-mail: bpe@via-rs.net volumes, utiliza o
9426 (direção) Tel/fax(51) software CDS/ISIS. De
3225-9411 Sistema Estadual de BibliotecasPúblicas - segunda a sexta-feira
sebp@via-rs.net das 9h às 19h e aos
sábados, das 9h às
13h
Biblioteca Pública do Criada em 31 de maio
SANTA CATARINA

Estado de Santa Catarina http://www.fcc.sc.gov.br/espacos/biblioteca. de 1851, inaugurada


- Rua Tenente Silveira, htm em 7 de janeiro de
343 – Centro 88010-301 - 1855. Com um acervo
Florianópolis – SC Fone e-mail: biblio@fcc.sc.gov.br de 110 mil volumes.
(48) 3028-8063 Fax (48) De segunda à sexta-
3028-8061 feira das 8h às 19h
30min e aos sábados
das 8h às 12h.

As Bibliotecas Públicas dos Estados do Paraná e Rio Grande do Sul


apresentam serviços e produtos no site, projetos ousados e catálogos online para
consulta do acervo. Apenas Santa Catarina ainda não disponibilizou o catálogo do
acervo e nem site próprio.
O ideal seria que todas as bibliotecas públicas estaduais do Brasil
disponibilizassem seus catálogos e atualizassem as demais informações
pertinentes na Internet para facilitar a vida de quem depende da informação.
3 CONCLUSÕES

A pesquisa apresentou o levantamento das bibliotecas públicas estaduais


brasileiras com presença na Internet realizado entre os meses de maio e junho de
2006, apresentando por regiões, estados, nome e respectivo endereço físico,
presença Internet em site e e-mail e breve descrição histórica, aspectos do acervo
e horário de funcionamento.
Dos 26 estados e o Distrito Federal todas as bibliotecas possuem e-mail, 17
bibliotecas dos estados e as do Distrito Federal possuem site e destas somente
cinco bibliotecas disponibilizam o catálogo na internet: Minas Gerais (Pergamum),
Rio de Janeiro (ArchesLib Web), São Paulo (Prodam), Paraná (Librarium) e Rio
Grande do Sul (CDS/ISIS). O software ArchesLib é utilizado nas bibliotecas do
Ceará, Paraíba, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
Ao comparar o estudo realizado por Blattmann e Rados (2000) observa-se
que a presença das Bibliotecas Públicas Estaduais na Internet foi significativa
ampliada, dos 6 sites identificados em 1999, passaram para 17, ou seja quase
triplicada a presença em forma de site e todas têm um endereço para
correspondência eletrônica – e-mail.
Recomenda-se que os cursos de Biblioteconomia participem voluntariamente
ou por meio de projetos no desencadeamento de ações que objetivem melhoria
das relações entre bibliotecas públicas e a comunidade na qual estão inseridas.
Também é necessário que outros estudos sejam efetuados para verificar a
atualização das informações e uma descrição detalhada dos serviços e produtos
apresentados nos sites das BPE.
Torna-se fundamental que bibliotecário das BPE apresentem projetos para
dinamizar e disponibilizar serviços e produtos no sentido de fortalecer o acesso ao
direito humanitário básico – o direito à leitura.
REFERÊNCIAS

BIBLIOTECA Pública: princípios e diretrizes. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca


Nacional, 2000. 160p. Disponível em: <
http://consorcio.bn.br/consorcio/manuais/manualsnbp/ArquivoFinal28_08.pdf >

BLATTMANN, Ursula; RADOS, Gregório. Bibliotecas públicas na internet: serviços


e possibilidades Revista ACB,Florianópolis, v.5, n.5, p. 70-89, 2000. Disponível
em: <http://www.acbsc.org.br/revista/ojs/viewarticle.php?id=43>.

SÃO PAULO. Sistemas Estaduais de Bibliotecas Públicas. Disponível em: <


http://www.divbibliotecas.sp.gov.br/frtxt_arq/sebibp.htm >

BRASIL. BIBLIOTECA NACIONAL. Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas.


Lista de coordenadores estaduais. Rio de Janeiro, [2005]. Disponível em: <
http://catalogos.bn.br/snbp/coordenadorias.html >
CARD SORTING: TÉCNICA SIMPLES PARA TESTE E
DESENVOLVIMENTO DE VOCABULÁRIOS

MAURICIO MARQUES DE FARIA1

Resumo:

O objetivo deste trabalho é apresentar o Card Sorting, uma técnica simples de análise e
organização de vocabulários controlados que tem por finalidade explorar a relação dos usuários
com o desenvolvimento de serviços de informação. A chave de utilização do método é participação
de usuários finais no processo, permitindo entender como eles categorizam as informações
disponíveis num processo de busca, identificando qual terminologia é a mais usual, qual pode
gerar confusões e que termos são mais difíceis de se categorizar. O Card Sorting pode ser
utilizado na definição de estruturas de web sites ou a criação de taxonomias e tesauros.

Palavras-chave: Card sorting, vocabulário controlado, arquitetura da informação, taxonomia

1 INTRODUÇÃO

Card Sorting é uma técnica simples de análise e organização de uma lista de


temas. Ela pode ser aplicada e analisada de várias formas. Neste trabalho
apresentaremos uma visão geral de sua utilização.

Segundo Gaffney (2000 não paginado) “Card Sorting is a technique for exploring
how people group items”, permitindo o desenvolvimento de estruturas que
aumentem as probabilidades de usuários encontrarem o que procuram, ou seja,
ajuda a descobrir como o usuário usa e classifica uma informação em sua mente.
Baseando-se na idéia exposta por Sinha (2003 não paginado) “the assumption
with semantic domain is that there is something common to people’s
understanding of that domain” o estudo dos resultados de utilização da técnica
pode prover insights sobre os modelos mentais dos usuários, indicando o
processo tácito de grupamento, arranjo e nomeação de informações. O resultado
do processo se adequa ao conceito de findability de Morville (2005 p.4) “the quality
of being locatable or navigable”.

1
Bibliotecário com especialização em Análise de Sistemas, Administração, Gerenciamento de
Projetos (Columbia University) e Marketing (Wharton School). Atua na Gerência de Informação
Empresarial para Estratégia e Desempenho Empresarial da Petrobras. mdfaria@petrobras.com.br
A utilização do Card Sorting é apropriada quando se faz necessário identificar
itens que precisam ser categorizados e de que maneira ordená-los, como a
definição de estruturas de web sites ou a criação de taxonomias e tesauros. Para
Maurer e Warfel (2004 não paginado) “Card Sorting is a quick, inexpensive, and
reliable method, wich serves as input into your information design process”,
identificando qual terminologia é a mais usual, qual pode gerar confusões e que
termos são mais difíceis de se categorizar. Ao contar com a participação direta
dos usuários finais ela pode, segundo McGovern (2002 não paginado), “help
shortcut long, tedious and often fruitless debate. It delivers classifications that
people actually choose, not what they say they would choose”.

Segundo Rosenfeld e Morville (2002 p.101) “there are two basic varieties of card
sorts: open and closed”. Na forma aberta os participantes recebem cartões em
branco e é mais usada para levantamento/descoberta de termos. Na forma
fechada os cartões já estão rotulados sendo a forma mais utilizada para validação
de estruturas. Entre essas duas opções podem-se utilizar formas híbridas, mais
fechadas ou mais abertas, balanceadas de acordo com as necessidades de cada
projeto.

Os participantes recebem um grupo de cartões e devem montar um hierarquia


representativa daquele tipo de conhecimento. Para Robertson (2001 p. 3), ao citar
a utilização do modelo fechado, “the first step to conducting a card sorting is to
determine the list of topics.” Neste caso, os termos já estão nos cartões. No caso
do Card Sorting aberto o participante deve definir, além da estrutura, os termos a
serem utilizados.

Tomemos como exemplo de um vocabulário que pode ser desenvolvido ou


testado pela técnica de card sorting um recorte que elaboramos baseado no
diretório de sites utilizado pelo portal Yahoo! ®
<http://br.yahoo.com/info/diretorio.html> :
Artes e Cultura B2B Ciência
Arquitetura Agropecuária Aeronáutica
Arquitetos Agribusiness Astronomia
Revistas Culturas e solos Astrofísica
Softwares Brinquedos Astrônomos
Artesanato Fabricantes Espaço
Tecelagem e fiação Móveis Telescópios
Trabalhos em madeira Escritórios Matemática
Artistas Laboratórios Álgebra
Trigonometria

2 QUEM DEVE PARTICIPAR DE UMA RODADA DE CARD SORTING

Os participantes de uma rodada de Card Sorting devem ser os usuários


representativos da estrutura que está sendo elaborada.

O ideal é que o grupo de participantes varie entre 6 e 15, grupados 3 a três, mas a
técnica pode ser empregada até via e-mail, individualmente, se não houver outra
possibilidade.

Recomenda-se a utilização de pequenos grupos pois a utilização da técnica com


apenas uma pessoa impede a discussão sobre outros pontos de vista/modelos
mentais assim como grandes grupos podem dificultar o consenso ou diluir o foco
na estrutura em debate.

O tempo necessário para realização de uma rodada de Card Sorting é de duas a


três horas por rodada. Uma hora para organizar os cartões e uma a duas horas
para discussão, em média.
3 PREPARAÇÃO DE UMA RODADA DE CARD SORTING

Preparar, para cada participante, um conjunto de cartões individuais por termo da


estrutura inicial ou disponibilize cartões em branco e canetas para preenchimento
(dependendo do estilo: aberto, fechado, híbrido). Uma opção é a utilização de
papéis auto-adesivos tipo Post-it ®.

Se está sendo utilizado uma lista de termos pré-elaborada, certificar-se de que a


mesma seja o mais clara e o menos ambígua possível e que contenha todos os
termos que necessitam ser categorizados.

O local deve ter espaço suficiente para que cada membro participante possa
montar sua estrutura de termos, seja em mesas, bancadas ou murais, de forma
que não seja influenciado pelos outros participantes.

Deixar disponível alguns cartões extras, clips, taxas e elásticos para nomear e
reunir grupos de cartões.

Preparar uma lista de instruções para que todos os participantes tenham completo
entendimento do processo e o aplicador não se esqueça de todos os passos do
exercício.

4 CONDUZINDO UMA RODADA DE CARD SORTING

Para a realização de uma rodada de Card Sorting do tipo fechado ou híbrido os


nomes dos itens a serem categorizados devem estar escritos/impressos em
cartões individuais de fácil leitura e em um tamanho que permita o manuseio e
separação do conjunto pela mesa, bancada ou mural utilizado. Estes cartões
devem ser entreguem embaralhados de forma que o agrupamento inicial seja
totalmente aleatório. Quando o Card Sorting for do tipo aberto os cartões devem
permitir uma fácil escrita dos termos a serem propostos.
O passo seguinte é que cada participante organize uma estrutura que utilize todos
os cartões preenchidos que recebeu, no caso do tipo fechado, ou crie seus
próprios termos, nos casos do tipo aberto. Dependendo do escopo do trabalho
pode-se limitar o número de itens, de sub-grupos, de níveis hierárquicos.
Lembramos que durante a execução desta fase o participante não deve ver o
trabalho dos outros participantes. É importante frisar aos participantes que não há
limite de tempo para a execução da tarefa.

Ao final desta etapa os grupamento e termos são anotados para análise. Os


grupamentos repetidos pelos participantes indicam um padrão de busca por
aquele grupo de usuários.

A etapa seguinte é uma discussão sobre os trabalhos realizados individualmente.


No caso do Card Sorting fechado é importante saber se os participantes
compreenderam o conteúdo dos cartões, sem ambigüidades ou dificuldades de
conceituação. Termos que apresentem dificuldade de entendimento devem ser
anotados pela equipe de execução para que seja avaliada a necessidade de
alteração para um termo mais adequado ao entendimento do público alvo da
estrutura em elaboração. Também deve ser anotada qualquer sugestão de termos
novos ou que reflitam melhor as necessidades dos participantes. Uma alternativa
para esta fase é a colocação de questões simples no verso dos cartões, como por
exemplo se os termos são de fácil entendimento e se há sugestões para termos
alternativos.

Para o Card Sorting aberto o trabalho realizado nesta etapa é a conceituação dos
termos propostos, a busca de termos coincidentes nas várias estruturas montadas
e se elas apresentam as mesmas definições.

A etapa seguinte consiste na comparação, pelo grupo, das estruturas montadas


individualmente e a definição de qual delas reflete melhor a estrutura do
conhecimento apresentado. Tem-se, então, o ponto de partida para elaborar uma
estrutura consensual que pode não refletir especificamente as percepções
individuais mas que deve ser levada em conta como percepção do grupo.

5 ANALISANDO OS RESULTADOS DE UMA RODADA DE CARD SORTING

A primeira coisa que deve ser observada são as similaridades e diferenças entre
as várias estruturas criadas. Estruturas semelhantes indicam que os termos
utilizados são suficientemente claros e suas definições são comuns ao público
testado, o que é uma boa dica para a elaboração da estrutura definitiva. No caso
das diferenças é importante compreender se os conceitos estão ambíguos,
confusos ou desconhecidos e se os participantes do teste compõe um público
muito heterogêneo exigindo um maior cuidado na definição de termos e facetas.
As observações feitas na fase de comparação de estruturas são a principal fonte
de informação para esta avaliação.

Essas informações são utilizadas para gerar uma nova estrutura, que pode ser
novamente testada através de uma nova rodada. Os resultados obtidos no
exercício auxiliam principalmente na visão das facetas mais utilizadas (ex.
processos, assuntos, produtos), quais são os itens que devem apresentar maior
destaque ou relevância, como e quantos itens devem compor a hierarquia da
estrutura e o quão similar ou diferente são as necessidades do público dos temas
a serem categorizados.

6 CONCLUSÃO

O Card Sorting mostra-se uma ferramenta de fácil aplicação e grande poder de


análise da usabilidade de vocabulários controlados. Entretanto, é importante
salientar que o Card Sorting sozinho não gera uma estrutura final. Sempre haverá
alguma área em que os usuários vão discordar acerca do agrupamento de temas,
termos de conceituação ambígua ou que pareçam não ter onde se encaixar na
estrutura. Estes problemas devem ser decididos pelo grupo responsável pela
elaboração da estrutura definitiva através do embasamento teórico e metodológico
da .ciência da informação.

REFERÊNCIAS

GAFFNEY, Gerry. Card sorting. 2000. não paginado. Disponível em:


<http://www.infodesign.com.au/usabilityresources/design/cardsorting.asp>. Acesso
em: 08/01/2006.

MAURER, Donna & WARFEL, Todd. Card sorting: a definitive guide. 2004. não
paginado. Disponível em:
<http://www.boxesandarrows.com/view/card_sorting_a_definitive_guide>. Acesso
em: 08/01/2006.

McGOVERN, Gerry. Information architecture: using card sorting for web


classification design. 2002. não paginado. Disponível em:
<http://www.gerrymcgovern.com/nt/2002/nt_2002_09_23_card_sorting.htm>.
Acesso em 08/01/2006.

MORVILLE, Peter. Ambient findability. Sebastopol: O’Reilly, 2005. 188 p.

ROBERTSON, James. Information design using card sorting. Intranet Design


Series. Step Two Designs, 2001. 12 p.

ROSENFELD, Louis; MORVILLE, Peter. Information architeture for the Worls


Wide Web. Sebastopol: O’Reilly, 2002. 461 p.

SINHA, Rashmi. Beyond cardsorting: free-listing methods to explore user


categorizations. 2003. não paginado. Disponível em:
<http://www.boxesandarrows.com/view/beyond_cardsorting_free_listing_methods_
to_explore_user_categorizations>. Acesso em: 08/01/2006.
COLEÇÕES ESPECIAIS DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS FEDERAIS EM
SALVADOR: QUE REFLEXOS SOCIAIS E INSTITUCIONAIS
A DIGITALIZAÇÃO PODE PROMOVER?

Lívia Ferreira Tosta1


Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva2

RESUMO

Plano de trabalho integrante de projeto principal que tem como objetivo investigar os reflexos
sociais e institucionais da adoção de tecnologias de conversão digital de acervos especiais da
esfera pública na cidade do Salvador (BA). Neste sentido, identificamos instituições federais
depositárias de documentos especiais (sonoros, fotográficos e audiovisuais). Adotamos técnicas
de documentação indireta e direta. A pesquisa encontra-se em andamento, mas já podemos
indicar alguns aspectos importantes, como a precariedade de instrumentos de busca eficientes
para a identificação de instituições públicas federais em Salvador; desconhecimento dos
responsáveis com relação à tipologia dos acervos; necessidade de tratamento especial, prévio à
digitalização.

Palavras-chave: Digitalização. Coleções especiais. Instituições Públicas Soteropolitanas.

1 INTRODUÇÃO

A sociedade da informação vem propondo o reconhecimento e a ampliação das


possibilidades de compartilhamento do conhecimento. De acordo com a UNESCO
(2005), um dos elementos centrais da sociedades do conhecimento está na sua
capacidade de identificação, produção, tratamento, difusão e utilização da
informação com o objetivo de criar e aplicar o conhecimento, ou os
conhecimentos, necessários ao desenvolvimento humano.

As tecnologias de informação e comunicação constituem um valioso instrumento


que propicia o acesso universal a conteúdos informacionais, auxiliando nas
tomadas de decisões e nas atividades cotidianas dos cidadãos. Nesta perspectiva,
as técnicas de produção de materiais alternativos a consultas presenciais, tais
como os resultantes da digitalização de textos disponíveis apenas em impresso,

1
Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia (ICI/UFBA); graduanda de
Arquivologia, bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade
Federal da Bahia, em acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia
(PIBIC/UFBA/FAPESB); liviaftosta@yahoo.com.br
ou de documentos fotográficos, materiais sonoros e/ou audiovisuais, contribuem
imensamente para soluções de questões vinculadas à acessibilidade, à
usabilidade e à preservação no universo digital.

A acessibilidade no espaço digital consiste em tornar disponível ao usuário, de


forma autônoma, todo conteúdo informacional que lhe for franqueável, sem
prejuízos de sua integralidade; a usabilidade refere-se à eficiência, eficácia e
satisfação com as quais podemos alcançar nossos objetivos em ambientes
específicos, na condição de usuários, quando utilizamos determinado produto ou
serviço. Ao falarmos de preservação, particularmente com relação à preservação
dos conteúdos digitais para o futuro, nos referimos não apenas a problemas de
ajuste de variáveis técnicas. Ao contrário, trata-se de um problema maior,
relacionado à nossa própria organização ao longo do tempo como sociedade. O
esforço organizacional necessariamente envolverá inúmeros fatores ainda
desconhecidos ou ainda não muito bem definidos, ainda que modelos venham
sendo propostos com destaque.3 Estas e outras questões compõem alguns dos
aspectos que devem constituir uma investigação acerca de reflexos sociais e
institucionais da conversão digital.

Procurando atuar neste universo de pesquisa, e concentrando nosso foco em


instituições públicas federais sediadas na cidade do Salvador, no estado da Bahia,
em cujos acervos existissem documentos especiais do tipo sonoro, fotográfico e
de imagens em movimento, propusemos o desenvolvimento de um plano de
trabalho, a ser executado no período de agosto de 2005 a julho de 2006, intitulado
“Coleções especiais de instituições públicas federais em Salvador: que reflexos
sociais e institucionais a digitalização pode promover?”. No contexto de um
objetivo geral, mais amplo, caracterizador da abrangência do projeto principal, de
analisar reflexos sociais e institucionais da conversão digital de coleções especiais
depositadas em instituições públicas soteropolitanas, nosso objetivo específico foi

2
ICI/UFBA; doutor em Ciência da Informação (2002, UFRJ-ECO/IBICT); rubensri@ufba.br
3
Sobre acessibilidade, cf. Torres, Mazzoni e Alves (2002); sobre usabilidade veja Torres e
Mazzoni, (2004); sobre preservação veja Conway (1997) e Arellano (2004).
o de identificar bibliotecas, arquivos, museus e centros de documentação, da
esfera pública federal, detentoras das já referidas tipologias documentais objetos
da pesquisa.

A seguir apresentaremos a contextualização do plano de trabalho no âmbito do


projeto de pesquisa, a metodologia adotada na execução do plano de trabalho
(que ainda encontra-se em andamento), acrescida de pequenos comentários
possíveis acerca dos resultados prévios alcançados, finalizando com algumas
considerações e sugestões de continuidade da pesquisa.

2 CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA

O projeto de pesquisa principal, intitulado A conversão digital de documentos


especiais de acervos públicos e a consciência informacional. Aspectos técnicos e
teóricos no âmbito da Ciência da Informação4, constitui-se por dois módulos, com
execução prevista para o período 2005-2007. Sua perspectiva teórica, de cunho
materialista histórico, assume a compreensão acerca do processo informacional
pela ótica de uma teoria marxiana da consciência, com o objetivo de investigar as
correlações entre informação, tecnologias digitais de acesso remoto e consciência.
Este enfoque fundamenta-se no entendimento da informação como processo
orientado ao desenvolvimento da consciência acerca das possibilidades de
conhecimento e de ação num determinado contexto social.5 A vertente prática,
sócio-técnica-aplicada, tem por objetivo o reconhecimento de
coleções/documentos especiais (especificamente, discos, fitas k7, fitas em rolo,
fitas vhs, betacam, fotografias, álbuns fotográficos) dos acervos públicos
soteropolitanos, e de seus usuários, bem como a formulação de abordagens
adequadas à conversão digital desta documentação, detendo-se especificamente
nos procedimentos orientados à preservação digital e ao acesso via internet.

4
De autoria do Prof. Dr. Rubens R.G. Silva (ICI/UFBA).
5
Ver Silva, 2002.
O plano de trabalho também foi desenvolvido tendo como característica uma
vertente de iniciação teórica, cujos objetivos estavam no levantamento
bibliográfico e na realização de leituras e fichamentos correlatos ao tema dos
reflexos sociais e institucionais da adoção de tecnologias de conversão digital de
acervos públicos, e uma vertente prática, que teve como objetivos identificar
instituições da esfera FEDERAL de governo, localizadas na cidade do Salvador,
depositárias de coleções/documentos especiais, e coletar, organizar, analisar e
representar os dados relativos às referidas coleções e a seus consulentes. As
conexões do plano com o projeto de pesquisa são claras no seu segmento
específico da esfera federal institucional, já que sem a execução das atividades
previstas no plano de trabalho não haveria como reunir os dados que permitirão
caracterizar as coleções/documentos especiais públicos em Salvador e seus
usuários.

Com a execução do plano de trabalho (cuja conclusão está prevista para o final do
mês de julho de 2006) fica cada vez mais patente o desconhecimento que se tem
acerca destas coleções em Salvador, de seu estado, de suas potencialidades, das
ações que visam à sua conversão digital. Fica claro que o estado da arte somente
agora, com a execução do plano de trabalho, começará a ser conhecido. Esta é a
justificativa que mais fortemente legitima a idealização de nossa proposta: dar a
conhecer o estado da arte das coleções/documentos especiais de Salvador e de
sua necessária conversão digital.

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS DE DESENVOLVIMENTO DO PLANO DE


TRABALHO

O plano de trabalho teve início em agosto de 2005 objetivando reunir elementos


para uma posterior investigação, no âmbito geral do projeto de pesquisa principal,
dos reflexos sociais e institucionais da adoção das tecnologias de conversão
digital de acervos especiais da esfera públicas federais em Salvador. Estes
elementos reunidos no plano de trabalho que desenvolvemos adquiriram “forma e
conteúdo” a partir da aplicação da metodologia de pesquisa.

Inicialmente foram realizadas leituras de iniciação sobre a constituição de uma


pesquisa científica, definindo abordagens metodológicas, procedimentos e
técnicas. Uma leitura introdutória sobre a abordagem dialética (Konder, 2004),
bem como o fichamento do livro, foi efetuada a fim de estabelecer a aproximação
necessária com a proposta mais ampla do projeto principal. Leituras introdutórias
sobre procedimentos estatísticos e outras leituras complementares à
6
compreensão da temática também foram realizadas. Concomitantemente deu-se
início às ações de identificação das instituições federais objeto da pesquisa, ou
seja, as depositárias de coleções/documentos especiais localizadas na cidade do
Salvador. As técnicas adotadas para este levantamento foram as seguintes: a)
documentação indireta para o levantamento de fontes de estudos referente aos
possíveis reflexos sociais e institucionais resultantes de ações de digitalização de
acervos públicos; b) documentação indireta para a identificação das instituições
públicas federais em Salvador depositárias de documentação sonora, fotográfica e
audiovisual; c) documentação direta, configurada na observação intensiva nessas
instituições; d) documentação direta, na observação extensiva em que utilizamos
seis instrumentos de coleta de dados, três deles (questionários institucionais)
dirigidos aos responsáveis pelos documentos fotográficos, pelos materiais de
imagem em movimento e pela documentação sonora, e outros três (questionários
individuais) dirigidos aos consulentes de cada uma dessas tipologias documentais.
Dois relatórios bimestrais foram feitos, nos primeiros meses de desenvolvimento
do plano de trabalho, de forma a exercitar a elaboração dos relatórios requeridos
pelo PIBIC.

A metodologia originalmente adotada limitava a identificação das instituições que


seriam objeto de nossa pesquisa àquelas que estivessem cadastradas na base de

6
Sobre estatística ver Barbetta, 2005; para ampliar a compreensão do tema que pesquisamos ver
Almeida (2004); Amaral (2004); Castro (2005); Cunha (1999); Morigi (2004); Neto et alii (2004);
Silva et alii (2005); Silva, F. (2005); Silva, R (2005);
dados produzida pelo Projeto de Conservação Preventiva de Bibliotecas e
Arquivos (CPBA), criada no final dos anos 1990, em projeto desenvolvido pelo
Arquivo Nacional juntamente com outras instituições nacionais e estrangeiras.7 Ao
iniciarmos o levantamento percebemos lacunas, escassez de dados e atualização
irregular da base. Optamos, então, por rever aspectos técnicos da metodologia,
que acabaram por nos conduzir a uma análise ampla de diferentes fontes,
serviços e recursos (sítios eletrônicos variados, serviços e listas telefônicas,
boletins informativos, guias de entretenimento turístico, instrumentos de consulta
de uso interno das instituições), para então solucionar o problema e realizar
adequadamente a atividade de identificação das instituições. Vale registrar,
inclusive, que inicialmente, não iríamos trabalhar com as coleções/documentos
especiais de unidades acadêmicas, incluídas aí as da UFBA, pois considerávamos
que o tempo disponível para a execução do plano de trabalho não seria suficiente.
Aceitamos, no entanto, o auto-imposto desafio e esta decisão foi revista, com os
ajustes na metodologia, para a inclusão de unidades da UFBA. De fato, provocou
algum atraso, não prejudicial à pesquisa como um todo, em nosso cronograma,
mas sem dúvida valeu à pena a ampliação do leque das instituições investigadas.
De uma quantidade inicial de pouco mais de dez instituições passamos a
investigar quase quarenta.

Os instrumentos de coleta de dados foram pensados inicialmente para serem do


tipo “formulário” (tipologia que exige a presença do pesquisador no ato da coleta
de dados). Após a criação dos diferentes instrumentos, no entanto, e após
realizarmos os devidos testes prévios, percebemos que sua complexidade aliada à
nossa presença no ato da coleta dos dados alongaria em muito as operações
desta etapa da pesquisa. Não havia recursos humanos para estas ações
prolongadas. Fizemos, então, adaptações nos instrumentos, que facilitassem a
compreensão das questões, e que nos permitissem adotar o formato
“questionário” (que não exigem a presença do pesquisador no ato da coleta dos
dados). Esta decisão foi acertada, sem dúvida, mas não para todas as instituições.

7
Ver http://www.cpba.net.
Algumas delas solicitaram a presença da pesquisadora (da bolsista) para seu
preenchimento, basicamente por motivos de insegurança e/ou de
desconhecimento técnico do responsável pelo acervo.

Para a construção dos instrumentos destinados à documentação sonora e à


documentação áudio-visual contamos com o auxílio, via email, de técnico da
Coordenação de Documentos Áudio-Visuais e Cartográficos do Arquivo Nacional,
no Rio de Janeiro.8 Em Salvador, para o teste prévio dos questionários, contamos
com instituições das três esferas públicas. Na esfera federal, tivemos o apoio da
Divisão de Coleções Especiais da Biblioteca Central Reitor Macedo Costa, da
UFBA; na esfera estadual, contamos com a importante colaboração da Sub-
Gerência de Recursos Áudio-Visuais da Biblioteca Pública do Estado da Bahia; na
esfera municipal o apoio da Gerência de Arquivos e Bibliotecas do Arquivo
Histórico Municipal de Salvador (AHMS) foi fundamental. A etapa dos testes
prévios foi imprescindível para a validação, revisão e aperfeiçoamento dos
instrumentos de coleta de dados, permitindo-nos incorporar inúmeras sugestões e
decidir por relevantes aspectos relativos à sua aplicação prática.

Organizamos as instituições públicas federais que identificamos em Salvador em


três categorias: as autarquias (13 Conselhos), as vinculadas à UFBA (24 órgãos
em diferentes unidades da instituição) e as demais (15 instituições, dentre elas
IPHAN, IBGE, etc.). Após identificadas estas 52 instituições, os questionários
foram distribuídos a 38 instituições9 com as características específicas para o
levantamento dos dados para a pesquisa, ou seja, com documentos especiais em
seu acervo: entre as autarquias, 3 Conselhos Regionais; na UFBA, 27 bibliotecas;
e entre as demais, 8 instituições.

Durante a Mesa Redonda Nacional de Arquivos, realizada em julho de 1999,


identificou-se a necessidade de uma decisão sistematizada sobre o uso e os
usuários dos arquivos,

8
Registramos nosso agradecimento especial ao técnico Fernando Jose Fonseca Rocha.
...seja qual for o conceito de informação adotado, reconhece-
se que os processos de transferência e uso da informação
em seus diversos matizes constituem um dos cernes da
contemporaneidade. Considera-se ainda que tais processos
envolvem diversos sujeitos informativos, em especial o
profissional e o usuário da informação, sendo a satisfação
das necessidades deste último uma variável fundamental na
avaliação de qualquer serviço de informação. (JARDIM,
1999, p.1, apud JARDIM e FONSECA, 2004)

Nossa pesquisa não poderia deixar de contemplar o contexto dos usuários,


identificando suas demandas e suas reais necessidades, considerando variados
aspectos, como suas atividades profissionais, disponibilidade de infra-estrutura
tecnológica, níveis de escolaridade, procurando saber como utilizam o acervo,
dentre outros fatores.

E aqui precisamos registrar uma dificuldade que enfrentamos e que consideramos


importante citar, já que remete a um dos resultados que consideramos relevantes
de nossa observação: além da falta de tratamento de conservação e preservação
da documentação é constrangedor o desconhecimento de alguns responsáveis
com relação à tipologia do acervo existente na própria instituição. As restrições e
mesmo impossibilidades de acesso de consulentes a essa documentação
provocam o conseqüente impedimento para se efetuar pesquisas de utilização
dessa documentação: ainda que possamos conhecer a documentação, não
pudemos identificar ainda, com eficácia, os perfis dos cidadãos que as utilizam,
nem suas finalidades. Desta forma, o levantamento de dados relativos a
consulentes vê-se limitado em sua abrangência. Por outro lado, vale destacar que
no período em que deixamos exemplares dos questionários nas instituições, para
que os consulentes de coleções/documentos especiais colaborassem com a
pesquisa, preenchendo-os, não foram registradas freqüências ou consultas
relevantes ao acervo: são poucos, até o momento, os dados referentes aos
consulentes (pouco menos de 20% dos questionários). Isso não nos impede de
deixarmos os instrumentos de coleta destes dados nas instituições, pelo tempo
que considerarmos necessário, monitorando-os por um tempo maior, até que de
fato possamos ter dados suficientes para nossas análises, que poderão ser
efetuadas até que o projeto principal de pesquisa seja integralmente concluído, em
meados de 2007.

A organização dos dados coletados está sendo finalizada em planilhas eletrônicas,


que facilmente nos permitem criar gráficos representativos para divulgar com
clareza nossas análises e conclusões.10 As planilhas, num total de seis unidades,
não têm “prazo de validade”, podendo ser utilizadas e/ou continuamente
aperfeiçoadas, se quisermos ampliar a pesquisa para outros municípios da Bahia

9
Efetivamente trabalhamos com 37 instituições, já que uma delas permaneceu por longo período em greve.
10
Para a elaboração das planilhas eletrônicas contamos com a inestimável colaboração de Aurora Leonor
Freixo, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (POSICI/ICI/UFBA), membro
do Grupo de Estudos sobre Cultura, Representação e Informação Digitais (CRIDI).
ou mesmo para todo o território nacional. A análise dos dados e suas
representações gráficas, vale lembrar, estão previstas para serem concluídas ao
final do mês de julho de 2006 (até o momento, faltando cinco semanas para a
conclusão do segmento da pesquisa abrangido pelo plano de trabalho a que nos
referimos aqui, 65% dos instrumentos foram devolvidos preenchidos).

4 BREVES COMENTÁRIOS SOBRE OS RESULTADOS PARCIAIS

O plano de trabalho que vimos desenvolvendo tem contribuído positivamente com


o desenvolvimento do projeto ao qual está vinculado, executando parte relevante
da vertente prática prevista em seu primeiro módulo, através da atividade de
identificação e reconhecimento das instituições públicas federais em Salvador
depositárias de documentação especial, bem como de seus consulentes.

Vale destacar a importância do projeto principal de pesquisa para o conhecimento


e/ou re-conhecimento de coleções/documentos especiais depositados em
instituições públicas de Salvador, visto que o mesmo possui uma ampla
abrangência de investigação, cobrindo não somente a esfera federal (que foi
desenvolvida com este plano de trabalho), mas também as esferas estadual e
municipal, as quais vêm sendo pesquisadas por outros graduandos do ICI,
voluntários nesta pesquisa.

A constatação da indisponibilidade, ou mesmo inexistência, de instrumentos de


busca específicos para a identificação de instituições públicas federais em
Salvador exigiu maior investimento de tempo e aprofundamento nas ações
práticas inicialmente previstas para o levantamento destes dados de identificação.
A necessidade de recorrência às mais variadas fontes de consulta para o
preenchimento das lacunas, reveladas apenas durante a pesquisa, provocou
atraso em nosso cronograma, recuperado a contento. A certeza de que a
sociedade é a maior prejudicada com as limitações que detectamos nos leva a
propor um maior aprofundamento da investigação sobre a existência de
recursos/instrumentos que auxiliem na identificação de instituições e de seus
acervos especiais.

Conforme já indicamos, constatou-se a inexistência de um instrumento eficaz de


busca destinado a fornecer dados de localização de tais instituições na cidade.
Percebe-se também o pouco conhecimento que os responsáveis de algumas
instituições têm acerca dos acervos sobre sua guarda institucional, seja no
aspecto técnico da tipologia dos documentos, de sua identificação, de sua
conservação, de sua preservação, seja no aspecto de suas potencialidades como
recursos de ampliação do conhecimento individual e da memória soteropolitana e
nacional.

Vale ressaltar que a experiência vivenciada ao longo da pesquisa contribuiu para o


desenvolvimento de novas competências e habilidades da bolsista, relacionadas
tanto ao saber científico, especificamente no campo da Arquivologia, quanto ao
seu desenvolvimento pessoal, ao rever algumas posturas que a permitiram
compreender melhor todas as etapas caracterizadoras de uma pesquisa e a
importância da experiência da iniciação científica. Considerando que o curso de
Arquivologia tem como objetivo formar profissionais aptos a atuar no
planejamento, organização e direção da área de documentação, assim como na
orientação da avaliação e seleção de documentos para fins da preservação, os
resultados deste plano de trabalho poderão trazer contribuições em dois sentidos:
a) no sentido de permitir um melhor conhecimento do acervo público de
documentação de som, foto e imagem em movimento, e b) no sentido do estímulo
a discussões em torno da importância dos conteúdos informacionais disponíveis
nas coleções especiais mantidas pelas instituições públicas e de sua necessária
conversão digital, a partir de procedimentos orientados à preservação dos
originais e de suas versões digitais. Sem dúvida trata-se de um debate técnico-
científico que amplia significativamente as possibilidades de uso da coleção, de
grande relevância para a memória baiana e nacional e para a identidade
soteropolitana.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme reconhece Wilson (1995) quando transcreve um trecho do relatório, de


1986, do Comitê sobre Objetivos e Prioridades da Sociedade de Arquivistas
Americanos:

Arquivistas tendem a pensar no seu trabalho na ordem em


que ele é feito. Inevitavelmente, o uso por último. Desde que
o uso dos documentos é objetivo de todas as outras
atividades arquivísticas, os arquivistas precisam reexaminar
suas prioridades. (WILSON, 1995, p.71, apud JARDIM e
FONSECA, 2004)

Para Silva (2002), novas possibilidades conduzirão os usuários à descoberta de


novas relações existentes entre os diferentes documentos, permitindo a
participação do usuário comum em atividades que anteriormente eram domínio
exclusivo de curadores e outros profissionais especializados. Para o autor há dois
caminhos possíveis nesse contexto de mudanças tecnológicas: a aquisição de
uma tecnologia visando à solução de um problema específico ou sua adoção
como uma opção de preservação (neste caso, faz-se necessário um prolongado
compromisso institucional).

O esforço exigido para a organização dos grandes estoques de conteúdos


informacionais do futuro é enorme. Somente assim tornar-se-ão viáveis usos mais
adequados. Aspectos ideológicos do processo informacional podem exacerbar-se,
determinando rumos e âmbitos institucionais. Silva (op.cit.) argumenta que a
dicotomia existente em princípios tão arraigados na ideologia profissional vigente
dos chamados ‘especialistas da informação’, tais como geral/ particular,
centralizado/ descentralizado, coordenado/ autônomo, normalizado/ não
normalizado, livre acesso/ acesso controlado, será questionada em função de uma
mudança de paradigma que exige diferentes abordagens teórico-metodológicas e
novas práticas e tecnologias de ciclo de vida e reformatação de documentos.

Há, ainda, a necessidade de uma permanente atenção às


questões relacionadas a recursos e fundos para a realização
de ajustes institucionais, já que as bibliotecas e arquivos
terão de suportar, nesse período de transição, e ainda por um
longo tempo, dois sistemas diferentes, o tradicional e o
digital, cujos requisitos conflitantes, despesas e modificações
necessárias poderão de fato ser difíceis de conduzir. A
participação da equipe envolvida nos projetos será
fundamental para o sucesso do empreendimento. Para isso
serão necessários investimentos que possibilitem a aquisição
de um elevado nível de competência técnica e de experiência
que permitam o desenvolvimento de projetos e a execução
das novas iniciativas a serem incorporadas. O treinamento e
o crescimento profissional, por si só, já atuam favoravelmente
junto aos técnicos como um verdadeiro incentivo à
participação e, seguramente, constituem parte dos custos da
institucionalização da preservação digital, que deverá prever
o estabelecimento de novas responsabilidades para os
membros da equipe. Serão necessários novos modelos
institucionais de espaços informacionais, atentando para o
fato de que no contexto do universo digital um espaço
informacional digital público é também um dispositivo
institucional, no sentido de que refletem relações de
sociabilidade, comunicação e saber.

A especificidade documental de coleções especiais exige um


modelo de espaço informacional digital que não apenas
atenda ao experiente consulente deste segmento
documental, mas que seja rico em estímulos cognitivos
direcionados àqueles que procuram conhecer através de
itens especiais do acervo público – aos jovens, sobretudo –
e, ainda, que reúna elementos de apoio para o
desencadeamento de eventuais processos de cooperação
interinstitucional.(SILVA, 2002, p.194-195)

Neste sentido, com o intuito de dar continuidade à pesquisa, concorremos com


novo plano de trabalho ao PIBIC/UFBA (CNPq, aprovado para o período 2006-
2007), com proposta de elaboração de um sítio eletrônico que venha a
disponibilizar os dados de identificação e sobre os acervos e consulentes objetos
da pesquisa na esfera federal, mas também os que ainda estão sendo coletados
nas esferas estadual e municipal de governo em Salvador. Registramos que uma
segunda bolsa foi aprovada para outro plano de trabalho no âmbito do projeto
principal (PIBIC/UFBA/FAPESB). Tudo parece indicar que a pesquisa vem sendo
bem sucedida, não obstante as eventuais dificuldades que caracterizam seu
percurso.
As tecnologias de informação e comunicação vêm promovendo mudanças
significativas no cotidiano, nos hábitos e costumes da sociedade contemporânea.
Neste cenário, onde há uma produção acelerada de informações e de canais para
sua disseminação, o que se observa em Salvador é a carência de ações
orientadas à preservação de documentos especiais originais e à conversão digital
desta documentação para acesso remoto.

A realização da pesquisa e a execução deste plano de trabalho, e dos que se


seguirem, permitirão a reunião de dados inéditos e esclarecedores sobre as
coleções especiais (sonora, áudio-visual e de imagem em movimento)
depositadas nas instituições públicas da cidade do Salvador, bem como das
demandas e necessidades de seus usuários. O conhecimento acerca dos reflexos
institucionais e sociais advém da efetiva conclusão da análise dos dados
coletados, prevista para o final do mês de julho (período previsto para a pesquisa).
Podemos destacar, no entanto, que nenhuma instituição investigada (até agora
65% das instituições devolveram os questionários) desenvolveu projeto de
digitalização; a freqüência de consultas de usuários finais a estes acervos é
insignificante; há precariedade de instrumentos de busca eficientes para a
identificação de instituições públicas federais soteropolitanas; é grande o
desconhecimento dos responsáveis com relação à tipologia do acervo existente na
própria instituição; fica clara a necessidade de um tratamento especial, prévio à
digitalização, para essas coleções, particularmente caracterizadas por grande
valor sócio-histórico cultural.

Estamos certos de que o exercício contínuo de idealização de novas formas de se


disponibilizar versões digitais de documentos do acervo mantido pela esfera
pública será favorecido. Trata-se de uma busca constante de aprimoramento, a
fim de tornar o processo cada vez mais direcionado aos usuários e de contribuir
para que a tecnologia favoreça o bom desempenho do ICI/UFBA e,
particularmente, das instituições públicas de guarda de acervos, junto à
sociedade. A eficácia institucional requer a continuidade, mas também a
atualização, da disponibilização digital remota de seus acervos para um amplo
segmento da sociedade, empreendida de forma adequada, fundamentada social,
científica e tecnicamente, maximizando sua utilização e satisfazendo
necessidades e demandas, além de possibilitar um re-conhecimento da memória
social, da história e da própria sociedade onde vivemos.

Esperamos que a pesquisa científica na grande área das Ciências Sociais


Aplicadas, e mais especificamente na área da Ciência da Informação e na sub-
área da Arquivologia, seja favorecida com os resultados deste plano de trabalho,
já nesta primeira etapa do projeto de pesquisa. A recente conquista de mais duas
bolsas PIBIC/UFBA (FAPESB e CNPq) permitirá a conclusão do levantamento dos
dados nas esferas estadual e municipal, enriquecendo sobremaneira os resultados
esperados. Esperamos, ainda, que as Ciências Humanas, particularmente a
História, também se beneficiem dos dados que estamos coletando, organizando e,
em breve, disponibilizando.
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UMA LEITURA DE OBJETOS:
ANÁLISE DO ACERVO DE D. PEDRO II (RE)DESCOBERTO
NO MUSEU NACIONAL/UFRJ

REGINA M.M.C. DANTAS1

RESUMO

Apresenta os resultados iniciais da análise dos objetos que estão sendo encontrados no Museu
Nacional/UFRJ e que pertenceram a D. Pedro II (1825-1891). A pesquisa é parte integrante da
dissertação em desenvolvimento no Programa de Pós-graduação em Memória Social da UNIRIO e
pretende refletir sobre a construção da identidade do imperador a partir do processo de
colecionamento. A análise será realizada a partir da articulação entre os objetos identificados (e
categorizados respeitando as áreas do conhecimento atualmente desenvolvidas no Museu Nacional)
e os diferentes documentos relacionados a eles, como por exemplo, documentos do Arquivo do
Museu Imperial (diários, correspondências e cadernos de estudos), apresentados como uma narrativa
dos seus relatos memorialísticos, propiciando um olhar da historiadora sobre parte do acervo
(re)descoberto no antigo Paço de São Cristóvão, local que serviu de residência para D. Pedro de
Alcântara – onde nasceu e viveu por 64 anos – e sede do Museu Nacional/UFRJ desde 1892. A
análise identificou alguns objetos pessoais do Imperador; peças decorativas do Paço; material
científico e artefatos que figuraram no “Museu do Imperador”, além de equipamentos laboratoriais,
objetos esses pulverizados nos diferentes departamentos da instituição. Apresenta-se a metodologia
utilizada para a comprovação dos mesmos; parte da classificação de algumas categorias dos objetos
selecionados; e, as bases teóricas para a contextualização do trabalho tendo como enfoque central a
História e a Memória, incluindo questões sobre o esquecimento. Espera-se conseguir, com os
resultados da pesquisa, o tombamento do acervo devidamente realizado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional - IPHAN; a exposição dos objetos ao público; a geração de material
impresso; e a disponibilização eletrônica no site do conhecimento da UFRJ:
http://www.minerva.ufrj.br.

Palavras-chave: D. Pedro II; Paço de São Cristóvão; História; Memória; Coleção.

ABSTRACT

The objective of this work is to present the initial results of the analysis of the objects found in the
Museu Nacional/UFRJ that belonged to D. Pedro II (1825-1891). The research is part of the
Mastership dissertation developed at Programa de Pós-graduação em Memória Social/UNIRIO, and it
intends to reflect on the construction of the emperor’s identity using the collecting process. The
analysis will be based on the articulation of objects identified (and categorized according to the
knowledge areas currently under study in the Museu Nacional) and different documents, as for
example, of the Arquivo do Museu Imperial (agendas, letters and study records), presented as a
narrative of its memorial stories, providing the professional view of the historian on part of the
“collection” (re)found in the Paço de São Cristóvão – a place where D. Pedro de Alcântara was born
and lived for 64 years – and the current headquarters of the Museu Nacional/UFRJ. It’s possible to
identify some of his personal objects, items that decorated the Paço, devices that were exposed at the
Museu do Imperador (Emperor’s Museum), and laboratory equipments. The “collection” was
distributed to the different departments of the institution. The methodology used to check them, part of
the classification of some categories of the selected objects; and the theoric principles needed to
contextualize the work are also presented. The main focuss is to work with the History and the
Memory, there including matters of forgetfulness. Among results expected from the research are: the
due catalogation of the collection by Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/IPHAN, the
presentation of the objets to the general public on an exposition, the publication of material and the
availability of the material in electronic files in the site of the UFRJ (http://www.minerva.ufrj.br).

Key words: D. Pedro II; Paço de São Cristóvão; History; Memory; Collection.

1
Historiadora - Seção de Memória e Arquivo do Museu Nacional/UFRJ. Mestanda do Programa de
Pós-Graduação em Memória Social (PPGMS/UNIRIO). regina@pr2.ufrj.br regin@mn.ufrj.br
1 INTRODUÇÃO

Sendo historiadora do Museu Nacional/UFRJ desde os últimos dez anos,


fiquei incomodada com a falta de interesse por parte da comunidade acadêmica da
instituição em relação à história do palácio. Em paralelo, os visitantes das
exposições continuavam questionando sobre a falta de objetos que representassem
o palácio dos tempos do Paço de São Cristóvão – a residência dos imperadores do
período monárquico do Brasil.2
Os freqüentadores do museu indagavam sobre a possibilidade de serem
organizadas salas com ambientações históricas para valorizar a memória do palácio.
Tanto os visitantes quanto parte da comunidade do museu não se conformavam
com a falta de mobiliário ou de outros objetos imperiais nas salas das exposições,
principalmente, nas chamadas “Salas Históricas”, últimos vestígios do prédio
enquanto residência de D. Pedro II – o Paço de São Cristóvão.
Uma das respostas para as constantes indagações dos visitantes é pautada
no fato do Museu Nacional não ser um museu histórico e, além disso, o objetivo das
salas das exposições é retratar as pesquisas realizadas pela instituição nas áreas
das ciências naturais e antropológicas (mesmo ignorando o prédio que foi cenário de
nossa história).
Como responder ao seguinte desafio: os visitantes tentam visualizar o Paço
de São Cristóvão que está “adormecido” diante da utilização do Museu Nacional.
Como tornar visível o Paço visando identificar o cotidiano da residência do
imperador, e também contribuir para a análise de parte da sociedade do século XIX?
Diante dessa situação e com o comprovado interesse pela história do palácio
e sobre seus antigos moradores, me apropriei do desafio para pesquisar a história
da residência com o intuito de desenvolver uma reflexão sobre o local propondo
como recorte temporal o período referente ao Segundo Reinado, ou seja, o palácio
enquanto casa de D. Pedro II.
Morador que ali viveu desde seu nascimento, em 1825, recebendo uma
educação esmerada sendo construído para ser um Imperador, tendo o Paço de São
Cristóvão como cenário de atuações administrativas do governo culminando no
banimento da Família Imperial em 1889 e ocasionando a transferência do Museu
Nacional para as instalações do Palácio, em 1892.

2
Através de pesquisas realizadas com os visitantes da exposição, inclusive em 2005.
Iniciei a pesquisa a partir das seguintes hipóteses: após o leilão do Paço,
alguns objetos não teriam sido abandonados no prédio? Na transferência do Museu
Nacional para a Quinta da Boa Vista, a instituição teria se apropriado de alguns dos
objetos aqui encontrados?
O próximo passo foi a realização de pesquisa documental na Seção de
Memória e Arquivo do Museu Nacional, no qual trabalho, e no Arquivo Histórico do
Museu Imperial, visando propor um roteiro para iniciar a busca por objetos do
período referente ao Segundo Reinado, talvez existentes no interior do atual Museu
Nacional. Aos poucos foram encontrados acervos que pertenceram à D. Pedro II.
Alguns figuravam na exposição e outros estavam guardados em departamentos de
pesquisa do museu. Tornou-se necessário inventariar e digitalizar seu acervo por
todos os departamentos e seções da instituição não só com o inicial objetivo de
expô-los ao público, mas agora com a determinação de criar e tombar junto ao
IPHAN – O Patrimônio de D. Pedro II.
Cabe ressaltar que já existiam diversas mobílias do século XIX na instituição,
onde acreditávamos que fizessem parte da história do Museu Nacional quando esse
era localizado no Campo de Santana (1818-1892). No entanto, ao realizar a
pesquisa utilizando os registros do leilão do Paço3, tornou-se possível identificar o
mobiliário utilizado no gabinete do Diretor do Museu Nacional como sendo acervos
que pertenceram ao Paço de São Cristóvão. Foi uma verdadeira descoberta que
motivou à busca por “novos” objetos que pudessem estar espalhados e escondidos
pela instituição. Assim, alguns objetos foram descobertos e outros foram
redescobertos nas coleções dos departamentos e seções do museu.
Para a realização dessa busca, contamos com a imprescindível participação
de um aluno do ensino médio do Colégio Pedro II4 nas atividades de digitalização
das imagens e digitação do banco de dados específico para a identificação de todo o
material coletado, e, atualmente, é aluno de graduação em História pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro e está iniciando a pesquisa sobre os
objetos.
Esses acervos, que somam aproximadamente 400 objetos, encontram-se
catalogados em distintas categorias, contendo informações sobre descrição,
procedência e as diferentes representações dos mesmos. O resultado dessa

3
A partir da obra de Santos (1940).
4
Programa de Iniciação Científica Jr existente entre o Museu Nacional/UFRJ e o Colégio Pedro II. O
aluno envolvido chama-se Paulo Vinicius Aprígio da Silva, que teve participação na busca dos objetos
investigação preliminar transformou-se em meu objeto de estudos, visando a análise
e contextualização dos objetos com o auxílio de documentos oficiais,
correspondências, diários do Imperador (em um total de 43 volumes), além dos
relatos de viajantes na construção de uma narrativa do historiador. É a história
dialogando com a memória (LE GOFF, 2003, p. 419) para desvendar os símbolos
míticos da monarquia e de seu soberano.
A narrativa elaborada pelo historiador não pode mais ser vista como a
revelação “de um real pré-existente e de sua verdade implícita, mas como parte de
um complicado processo de elaboração e significação deste real a ser partilhado
socialmente”. (GUIMARÃES, 2003, p. 78).
O maior desafio seria: dentre os pertences do monarca, conseguiríamos
encontrar os objetos que pertenceram ao “Museu do Imperador”? Seria uma
contribuição inédita para a história do Paço e para a do Museu Nacional e seus
atuais pesquisadores. Uma verdadeira construção da procedência das relíquias
descobertas e a desconstrução em relação aos objetos redescobertos.
O recorte temporal do presente trabalho está justificado: é imprescindível
construir o cotidiano do Paço de São Cristóvão da segunda metade do século XIX
para auxiliar na problematização dos objetos. É o que chamamos de leitura de
objetos.
Além de encontrar, identificar e contextualizar os acervos para ressignificá-
los, torna-se relevante analisar a importância histórica desses objetos para entender
como sobreviveram por mais de cem anos no Museu Nacional e sua relação com a
instituição.
Através da análise simbólica desses objetos poderemos identificar como e por
que ficaram guardados por tanto tempo? Conseguiríamos construir uma outra
imagem do imperador, além da tão conhecida como sábio e mecenas?
Para responder às indagações foi necessário utilizar os documentos de
estudos do imperador e seus relatos (no Arquivo Histórico do Museu Imperial), uni-
los às narrativas dos viajantes sobre o Paço de São Cristóvão e aos objetos do
“Museu do Imperador” e, finalmente, associá-los aos documentos existentes na
Seção de Memória e Arquivo do Museu Nacional – para conseguirmos chegar aos
seus pertences.

durante os anos de 2002 3 2003. A partir de 2004, continuou auxiliando os trabalhos de digitalização
e levantamento de dados como graduando em História da UFRJ.
Entretanto, só foi possível identificar os objetos que estão diretamente ligados
às especialidades do Museu Nacional. Desse modo, não encontraríamos materiais
ligados aos seus estudos astronômicos pelo fato de muitos de seus pertences do
cotidiano terem sidos enviados para o Museu Histórico Nacional, por ocasião de sua
criação a partir de 1922.
Tornou-se imprescindível contar com o apoio dos chefes dos seis
departamentos de pesquisa do Museu Nacional na atividade de busca pelos objetos,
a partir da comprovação documental, e na elaboração do banco de dados contendo
as especificações dos materiais de cada área de especialização do museu.
As referências teóricas da presente pesquisa estão desenvolvidas em torno
de quatro eixos adaptados à minha maneira e o principal será a partir da pesquisa
de Lilia Schwarcz sobre D. Pedro II. Auxiliarão no embasamento em partes do
trabalho: Pomian com os estudos sobre as coleções; Norbert Elias com a análise da
corte e do processo civilizador, transportados para a corte do Rio de Janeiro do
século XIX; e Roger Chartier, sobre as representações e práticas culturais.
Para tornar público o resultado inicial da pesquisa, é necessário apresentar a
primeira reflexão: a ligação entre o Paço de São Cristóvão e D. Pedro II – a relação
entre o Imperador e seu espaço, problematizando os seus objetos (re)descobertos.
Pormenorizando em capítulos, temos, no primeiro, uma apresentação rápida sobre o
Paço de São Cristóvão; no segundo, o cotidiano do Paço com alguns dos objetos
pessoais de D. Pedro II; e no terceiro, os objetos que pertenceram ao “Museu do
Imperador”.
Apresentaremos o que foi identificado até o momento dos objetos que
constituíram o “Museu do Imperador”, um espaço privado repleto de materiais que
representavam as ciências naturais, incluindo o gabinete de mineralogia e o
herbário. Trata-se de um novo olhar sobre o soberano – o D. Pedro colecionista.
Com o trabalho é possível refletir sobre a ligação entre a residência e seu
proprietário, além de tornar visível o Paço de São Cristóvão. Por conseqüência, será
proposto um outro ângulo de visão sobre D. Pedro II, muito além de um homem
meramente escravocrata.
O presente trabalho foi desenvolvido inspirado na tentativa de responder ao
desconforto causado com as avaliações opostas de soberanos e suas imagens,
estamos nos referindo às visões “cínica” e “inocente” apontadas por Peter Burke em
sua obra na qual analisa a imagem pública de Luis XIV (BURKE, 1994, p. 22).
No nosso caso, deparamos com caricaturas e diferentes imagens que
evidenciam cinicamente o monarca em seu perfil político ou como cidadão “D. Pedro
Banana” (SCHWARCZ, 1998, p. 416-425). Em paralelo, podemos constatar a
preocupação do próprio monarca em construir sua imagem pública como um
erudito5.
Conseguiremos construir a imagem do imperador como um colecionador
através de seus objetos redescobertos e no viés da Memória? A motivação veio com
a indagação de Lilia Schwarcz, na conclusão de As barbas do imperador, quando
diz:
De que modo é possível interpretar o fato de um imperador de
atitudes tão dissimuladas passar para a história apenas como
um sábio e curioso mecenas? Talvez a resposta esteja
menos na “história” de D. Pedro ... e mais presa à sua
memória, e à reelaboração de determinadas imagens em
detrimento de outras. (SCHWARCZ, 1998, p. 520).

Com o objetivo de apresentar a imagem do imperador ao contrário de apenas


um mecenas ou um curioso sábio, pretendemos desenvolver a pesquisa utilizando
os estudos sobre Memória Social como principal fio condutor para a presente
construção.

2 O PAÇO DE SÃO CRISTÓVÃO

Elie Antun Lubbus (nome aportuguesado para Elias Antonio Lopes),


comerciante luso-libanês, dono da Chácara de São Cristóvão - uma quinta que tinha
uma privilegiada vista - pela ambição de ser generosamente recompensado,
apresentou sua casa-grande à D. João VI que, imediatamente, aceitou-a para ser
sua residência. O “turco Elias”, como era conhecido, recebeu de D. João “a quantia
de 21:929$000 – vinte e um contos, novecentos e vinte e nove mil réis – referente ao
pagamento das obras já realizadas e uma mensalidade para a conservação do
edifício.” (KHATLAB, 2002, p. 19).
Durante o período de D. João, a residência real foi ampliada em 1816 por
ocasião dos preparativos para o casamento de D.Pedro I (1798/1834) com D. Maria
Leopoldina (1797/1826) - austríaca apaixonada pelas ciências naturais. A Imperatriz

5
Em algumas de suas imagens ele aparece com livros, globos e penas.
teve papel de destaque incentivando D. João na criação do Museu Real6 – atual
Museu Nacional da UFRJ.
Após a proclamação da Independência do Brasil, o palácio continuava em
obra para fortalecer a imagem do Paço de São Cristóvão – a residência do soberano
– em que a arquitetura deveria servir aos imperadores de maneira funcional e
civilizatória. (PEIXOTO, 2000, p. 301). A representação dos imponentes palácios e
sua correlação com a própria imagem do Imperador era uma constante na lógica
simbólica da monarquia. (SCHWARCZ, 2001, p. 17).
A partir de 1850, o desenvolvimento arquitetônico da moradia tomou forte
impulso com D. Pedro II - o segundo Imperador do Brasil que governou por quase 50
anos utilizando o Paço de São Cristóvão como seu domicílio. É necessário observar
a estrutura de sua moradia para chegarmos à rede de interdependências sociais
típica de uma sociedade de corte. (ELIAS, 1974, p. 66).
O edifício mantém, atualmente, as mesmas formas que as do final do
Segundo Reinado, constituído de quatro torreões e dois pátios retangulares. A
residência tem uma entrada lateral que era usada para a guarda das carruagens e,
pela descrição do Leilão do Paço, a edificação era composta de: ucharias
(despensas); almoxarifado; salas de jantar; aposentos das damas; sala do Trono;
dos Embaixadores ou do Corpo Diplomático; de visitas; de música; aposentos da
Imperatriz; e os do Imperador; as salas do museu; o teatro (EWBANK, 1976, p. 117),
entre outros.
A residência também era utilizada para a realização de reuniões com
conselheiros e diplomatas – o cenário de acordos políticos – e, após 1838, os ofícios
da Casa Imperial passaram a ser despachados do Paço de São Cristóvão7. As
audiências públicas haviam sido transferidas do Paço da Cidade para o de São
Cristóvão por “ordem do imperador”8, transformando partes de sua residência em um
espaço público .
Além de lugar de trabalho, o palácio também foi utilizado para seus estudos e
acompanhamento das pesquisas científicas dentro e fora do país. O imperador
mantinha contatos com diversos pesquisadores, conforme suas correspondências
no Arquivo Histórico do Museu Imperial, e garantia - de sua dotação pessoal - bolsas
de estudos nas áreas de artes e ciências no exterior.

6
O decreto de criação do Museu Real faz parte do acervo da Seção de Memória e Arquivo do Museu
Nacional. BRMN.AO, pasta 1, doc. 2, 6/06/1818.
7
Conforme documentos do Fundo Casa Real e Imperial. BRAN. SDE 027A. 1838 a 1889.
8
BRAN.CRI, Mm, doc.73, cx. 12, pac. 06, SDE 027ª, 9/07/1846.
Dentre os espaços prediletos do monarca, destacamos: um laboratório de
física e química (EWBANK, 1976, p. 117); o gabinete de estudos, o gabinete de
astronomia9 todo em vidro, localizado no terraço; a biblioteca contendo
aproximadamente 31.000 livros, composta de obras de literatura de diversos países
e assuntos ligados às ciências naturais e sociais, cuidada pelo bibliotecário Inácio
Augusto César Raposo10; e o seu precioso museu.
O “Museu do Imperador” foi iniciado pela imperatriz Leopoldina com coleções
de numismática e mineralogia, e foi enriquecido com preciosidades científicas e
artísticas do monarca. O local era composto de objetos coletados por viajantes
estrangeiros e naturalistas brasileiros, presentes recebidos de chefes de Estado que
vinham visitá-lo e lembranças de suas viagens pelo Brasil e exterior. Alguns dos
objetos ali expostos foram utilizados para a realização de seus estudos.
Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier
de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, conhecido como D. Pedro II,
nasceu no Paço de São Cristóvão em 2 de dezembro de 1825 e teve uma educação
apurada, lapidado para ser um soberano magnânimo.
No Arquivo Histórico do Museu Imperial, estão guardados os apontamentos
de alguns de seus estudos, como por exemplo: línguas diversas, matemática,
história das civilizações antigas, botânica, zoologia, física, química e astronomia11.
Encontramos também correspondências recebidas pelos diferentes institutos de
pesquisas do exterior sobre análises dos assuntos de seu interesse, além de
convites para ser membro associado de sociedades científicas.
Após o banimento da Família Imperial, em 1889, representantes do governo
provisório, preocupados com a simpatia popular que tanto a Princesa Isabel quanto
D. Pedro II exerciam à camada popular como foi constatado por ocasião da
comemoração do aniversário do imperador em 2 de dezembro de 1888
(CARVALHO, 1987, p. 29), iniciaram um processo de apagamento da memória
coletiva de tudo que representasse o regime monárquico através da eliminação da
imagem do imperador.
Em relação ao espólio do imperador, após período de conflito entre: o Ministro
da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, Sr. Benjamin Constant12; o Ministro

9
A descrição dos objetos do observatório astronômico constam em: BRAN. CRI, Mm, doc. 80, cx.12,
pc. 01 de 1845. SDE 027ª.
10
BRAN. GB.I, Códice A6. IJJ1 566.
11
BRMI.CI, maços 29, 31, 33, 40, 41 e 42. .
12
BRAN. M, Códice IE1 145.
d`Estado dos Negócios do Interior, Sr. José Cesário de Faria Alvim13; e o procurador
do “ex-imperador”, Dr. José da Silva Costa14; os bens foram inventariados pelo
Juízo de Órfãos da 2a. Vara desta cidade, e em 8 de agosto de 1890, deu-se início
ao primeiro leilão dos Paços15. Perfizeram o total de 13 sessões realizadas no Paço
de São Cristóvão (último em 10 de novembro do corrente ano), apresentados
detalhadamente no trabalho de Francisco Marques dos Santos, o Leilão do Paço
(SANTOS, 1940, p. 167-172), incluindo o cenário de arbitrariedade dos ministros do
governo provisório em realizar a venda rápida e forçada dos bens do imperador.
As obras para adaptação do antigo Paço de São Cristóvão para sediar a
primeira Assembléia Constituinte Republicana, em 1891, também foi um marco para
garantir a ocupação do espaço para as idéias do novo regime. A questão central da
República era organizar um outro pacto de poder que viesse a substituir o modelo
imperial (CARVALHO, 1987, p. 31), além da necessidade de criar um novo herói
nacional (CARVALHO, 1990, p. 55-73).
Diante das necessidades do governo provisório, o primeiro passo para
desencadear todo o processo seria agilizar a conclusão do leilão do Paço e, por
isso, não houve interesse em solicitar orientação ao imperador sobre seus pertences
particulares antes do início do leilão.
Durante à realização do leilão do Paço de São Cristóvão, o procurador de D.
Pedro II, Sr. Silva Costa, encaminhou carta ao imperador em 1o. de outubro de 1890,
por solicitação do desembargador Manuel Pedro Villaboim - procurador da Fazenda
Nacional - solicitando seu consentimento em doar a Biblioteca, Museu e papéis
públicos ao Governo. A resposta de D. Pedro II só viria quase um ano depois, sete
meses após o término do leilão do Paço de São Cristóvão e seis meses antes de
falecer, orientando que seus artefatos de ciências naturais fossem enviados para o
então Museu Nacional.
Ao identificarmos objetos do herbário e coleções de minerais com o nome de
D. Pedro II, ficamos motivados à procurar os demais objetos que figuraram no
“Museu do Imperador”. Além disso, nem todos os pertences foram arrematados no
Leilão de 189016, tendo restado alguns objetos “esquecidos” no palácio e
apropriados pelo Museu Nacional, é o que iremos comprovar.

13
BRAN. M, Códice IJJ1 565.
14
BRMI.G-P.SC, 20/08/1890.
15
Paço de São Cristóvão e Paço Imperial ou da Cidade.
16
Constam nos registros do Leilão do Paço que nem todos os objetos foram arrematados, e alguns
deles foram encontrados agora no atual Museu Nacional.
O palácio, após ter sido utilizado pela Assembléia Constituinte da República
(1890/1891), passou a sediar o Museu Nacional a partir de 1892. Com o objetivo de
adaptar o prédio às necessidades do Museu, foi realizada uma grande reforma, em
1910, e é neste momento que o Gabinete Astronômico de D. Pedro II é demolido,
por não ter utilidade para os novos proprietários.
Em relação aos demais objetos que ficaram dispersos, encontramos
motivação através de Lilia Schwarcz em sua obra As barbas do imperador, visando
recuperar o que os mesmos “tem a nos dizer enquanto representação de uma
época”. (SCHWARCZ, 1998, p. 20).
Como resultado preliminar dos trabalhos de busca de identificação e de
classificação dos acervos do monarca encontrados no Museu Nacional, analisamos
objetos que simbolizam, em seus diferentes significados, o cotidiano do Paço de São
Cristóvão durante o Segundo Reinado, nos remetendo à monarquia ou ao próprio
soberano. Foram classificados em duas categorias: os objetos do cotidiano e o
Museu do Imperador.

3 OS OBJETOS DO COTIDIANO

Por que problematizar objetos de coleções públicas ou particulares?


Os profissionais atuantes em museus já identificam a relevância da
contextualização de acervos nos devidos “lugares de memória” (NORA, 1993) com o
objetivo de torná-los visíveis aos olhos dos observadores, de maneira a evocar
idéias, lembranças, diferentes significados, além de afastá-los do esquecimento.
Portanto, estudar coleções é penetrar no processo de construção de identidades.
Desse modo, é possível evocar a memória e, conseqüentemente, construir uma
história.
A representação do objeto é tema explorado pelos estudiosos das coleções
analisando suas diferentes apresentações e significados. Para o presente trabalho
analisaremos as coleções através da definição de Pomian:
... qualquer conjunto de objectos naturais ou artificiais,
mantidos temporária ou definitivamente fora do circuito das
actividades econômicas, sujeitos a uma protecção especial
num local fechado preparado para esse fim, e expostos ao
olhar do público. (POMIAN, 1983, p. 53).

Pormenorizando o conceito de coleção apresentado pelo autor, o mesmo


chama atenção para o paradoxo causado pelo valor que é atribuído a uma
determinada coleção. Mesmo que a coleção não tenha valor de uso, ou seja, não
tenha utilidade, é atribuído à coleção um valor simbólico, justificando, assim, a sua
preciosidade, mesmo sendo utilizada apenas para ser exposta e observada. Diante
da caracterização como raridade, a coleção passa a requerer cuidados especiais de
segurança, pois seu valor tornou-se alto e existe um bom mercado interessado em
sua aquisição para comercializá-lo. Eis o paradoxo.
Os objetos que vamos analisar encontram-se no Museu Nacional, tiveram
suas diferentes utilidades durante a segunda metade do século XIX por um dono - D.
Pedro II - o segundo imperador do Brasil, e perderam o significado original,
figuravam no Paço de São Cristóvão. Entretanto, eles são ricos em valor simbólico
que podem auxiliar na construção da realeza monárquica do Palácio e no perfil do
imperador. Esses semióforos17 nos ajudam a pensar o lado invisível dos objetos
(POMIAN, 1983, p. 71).
Com Le Goff, podemos entender a memória como um fenômeno individual
ligado ao social (LE GOFF, 2003, p. 419). Este será o processo que utilizaremos
para entender o perfil do cidadão D. Pedro II: partir de seu cotidiano para entender a
ligação com sua residência.
D. Pedro II representava o símbolo do poder, coroado de mitos e rituais. No
caso brasileiro, “a sociedade de corte”, parafraseando Norbert Elias, era
caracterizada pela Província do Rio de Janeiro que, utilizando o modelo francês,
ditava as normas de etiqueta e a moda, destacando o poder soberano do imperador
através do requinte da realeza. Esse processo acontecia através dos rituais que
acompanhavam os encontros diplomáticos e as demais visitações realizadas no
Paço de São Cristóvão, o palais (ELIAS, 1974, p. 68-69) do imperador.
O espaço privado também funcionava como local de trabalho em meio aos
mobiliários e objetos com decorações imperiais, e, em algumas ocasiões, em espaço
público, recebendo a população sem restrições para o ritual do beija-mão.
(SCHWARCZ, 1998, p. 210).
Na residência o jantar era servido às cinco horas, e às nove e meia da noite,
as princesas se recolhiam (SCHWARCZ, 1998, 115). Aconteceram poucos bailes na
residência e algumas apresentações teatrais restritas à família com poucos
convidados. D. Mariana de Werna (camareira-mor) foi responsável pela
administração doméstica do Paço até sua morte em 1855, tendo a Condessa de
Barral se transferido para o Paço a partir de 1856, incumbida de cuidar da educação
das filhas do monarca - Isabel e Leopoldina.
Ao iniciarmos nossa análise a partir dos objetos que representam o cotidiano
do monarca no palácio, deparamos com mobílias que ajudam a construir
simbolicamente a monarquia e sua realeza, através de consolos, jogos de sofá e
vasos decorativos com os signos do império. Estes mobiliários figuraram no
recebimento de autoridades nos espaços públicos dos salões do Paço de São
Cristóvão e foram arrematados durante o leilão em 1890, por Francisco Joaquim
Bettencourt da Silva, engenheiro responsável pelas obras de adaptação do Palácio
para sediar a primeira Assembléia Constituinte Republicana.
Bettencourt da Silva (funcionário do Ministério do Interior) arrematou um
número significativo de móveis e peças decorativas para o Salão da Constituinte, o
Liceu de Artes e Ofícios, e para ele próprio. (SANTOS, 1940, p. 120). Os objetos
selecionados para a ambientação do Salão da Constituinte foram os de menor
exuberância real.18 Seria contraditório utilizar mobílias que (no seu lado invisível)
representassem a monarquia para a ambientação da reunião que visava construir as
primeiras normas da República. Por isso, os espelhos do Salão da Constituinte
tiveram as armas do Império arrancadas. Partindo dessa análise, esses acervos
foram esquecidos no palácio e foram apropriados pelo Museu Nacional na ocasião
de sua transferência do Campo de Santana para a Quinta da Boa Vista, em 1892.
O palácio, ao ser desativado como o Salão da Constituinte, deixou de ser
objeto de responsabilidade direta do governo e passou a ser um espaço para
pesquisas científicas. As mobílias perderam seu significado original com o passar
dos anos e ficaram compondo o gabinete da direção do museu (apenas
representando o visível) até a descoberta de que haviam pertencido ao Paço de São
Cristóvão (o lado invisível), e, atualmente, estão guardados na reserva técnica da
instituição, aguardando a conclusão da pesquisa para a realização de exposição
com parte do acervo.
Os vasos faziam parte dos objetos que caracterizavam a realeza no cenário
constituído de um soberano e vários cortesãos, e no Brasil monárquico, a situação
não foi diferente. O próprio soberano, prisioneiro da etiqueta, (ELIAS, 1994, p. 132-
159), era o maior responsável pela manutenção da interdependência em torno da
nobreza, por isso a preocupação da difusão de sua imagem através dos objetos de

17
Objetos que perderam sua utilização original, mas que representam o invisível, segundo Pomian.
18
Esta afirmativa é constatada quando comparamos os mobiliários em questão com os existentes
nos Museus Mariano Procópio e Imperial de Petrópolis, todos ricos em detalhes e apliques que não
são encontrados no mobiliário selecionado por Bettencourt para a ambientação do Salão da
Constituinte.
decoração enviados (presenteados) aos seus fiéis súditos, dentre eles, o Museu
Imperial e Nacional – atual Museu Nacional.
No Leilão do Paço (SANTOS, 1940), constam registros de vasos que foram
arrematados, entretanto, os encontrados atualmente no museu não foram
comprados por Bettencourt nem abandonados após o leilão, mas sim retornados ao
palácio através de doação dos familiares dos antigos participantes do leilão e
passaram a ter a função meramente decorativa no gabinete da direção do Museu
Nacional. Além desses, dois foram enviados ao Museu Nacional por D. Pedro II e
identificados através dos documentos existentes no arquivo da instituição19,
aparentemente, para fortalecer a figura do soberano na instituição científica.
Curiosamente, destacamos a existência de um vaso fabricado em Sèvres, em
estilo bizantino de suntuosa beleza estética, sem alças e com grande emblema
representando cena mitológica. Esse vaso permaneceu por pouco tempo no espaço
social do Paço, foi providenciado o envio do mesmo ao Museu Imperial e Nacional
pelo próprio Imperador20. O presente foi primeiramente enviado do governo francês
à D. Pedro II como agradecimento pela emissão de materiais arqueológicos do
Brasil ao Museu Arqueológico de Sèvres. O Museu Imperial e Nacional havia
selecionado e remetido, à pedido do imperador, o material solicitado pelo museu
francês. Posteriormente, o monarca enviou o vaso ao Museu Nacional entendendo
ser esse o verdadeiro merecedor do presente.
O Museu Imperial e Nacional funcionava como órgão consultor do governo
imperial, inclusive, no intercâmbio entre instituições de pesquisa enviando objetos de
estudos das ciências naturais e antropológicas. Esse objeto também virou artigo de
decoração junto aos demais vasos, perdendo ao longo dos anos o seu valor
simbólico articulado à pesquisa científica.
Um objeto que retrata o alto estágio da boa maneira durante o século XIX é a
utilização da escarradeira “como utensílio para controlar esse hábito”. Esse
simbolizava um padrão de evolução de delicadeza na corte no processo civilizatório
da sociedade da época (ELIAS, 1994, p. 155-162). A etiqueta que imperava no Paço
de São Cristóvão faz crer que o utensílio foi muito utilizado no cotidiano devido ao
número considerado de escarradeiras encontradas na relação dos objetos que foram
à leilão. A escarradeira em questão foi encontrada no cofre da Direção da instituição
em ótimo estado de conservação.

19
BRMN.AO, pasta 18, doc. 99, 2/08/1879.
20
BRMN. AO. pasta 19, doc. 10ª, 18/03/1886.
O toucador utilizado na residência imperial era o que se costumava usar no
cotidiano da realeza francesa. Era constituído de uma pequena mala contendo os
principais objetos para a manutenção da aparência. Com o passar dos anos, tornou-
se necessário a transformação do toucador em um móvel (tipo penteadeira) com
grande espelho e gavetas que em sua superfície eram colocados: escovas, pentes,
frasquinhos de cheiro, porta-jóias, recipientes para talco e para pó-de-arroz.
(VIANNA, 1994, p. 29-31). O toucador, encontrado no cofre da Direção do Museu
Nacional, participou da vida diária do Paço de São Cristóvão. A mala é de couro
forrada internamente com veludo e contém cinco escovas com cabo de marfim em
diferentes tamanhos.
Foram encontrados também, no cofre da diretoria, dois objetos de uso
pessoal do imperador que são destacados por representarem a constante
preocupação com a marcação dos horários. O monarca cumpria rigidamente os
horários de seus estudos como podemos observar em trechos de seu diário:
“acordar às 6 e até 7, grego ou hebraico, passeio até 8 ou 8 ½, e de então até 10,
grego ou hebraico, 10 almoço... de meio dia até às 4, exame de negócios ou estudo
... jantar, e às 5 ½ passeio ... das 9 às 11 escrita deste livro e leitura, depois dormir
...”21 - um relógio de sol e um “canhão do meio-dia”.
Conforme registro no Leilão do Paço (SANTOS, 1940, p. 157), o relógio de sol
foi abandonado sob a bancada superior do antigo Gabinete de Astronomia do
imperador que se localizava no terraço. Com 49 cm de diâmetro e 3 cm de altura foi
confundido com um objeto de decoração ao longo dos anos pelos funcionários que
passaram pelo gabinete da direção do Museu Nacional e ficava em cima da mesa de
reunião do Diretor da instituição.
O canhão do meio dia - quadrante solar que representava a pontualidade em
Paris nos tempos de Luiz XV - funcionava da seguinte maneira: exposto ao sol
exatamente ao meio dia a pólvora era estourada através da ação dos raios solares,
fazendo barulho semelhante ao estampido de um canhão.
Tudo indica que os relógios eram utilizados pelo monarca em seu Gabinete
de Astronomia localizado acima da Sala do Trono, totalmente envidraçado onde o
imperador realizava suas observações celestes.

BRMI.CI. Diário de D. Pedro II – 5/01/1862.


4 O MUSEU DO IMPERADOR - ESPAÇO PRIVADO

Peter Burke analisou a imagem pública de Luis XIV associada aos heróis do
passado (BURKE, 1994, p. 47). Respeitando as devidas proporções, podemos
apontar que a fabricação da imagem de D. Pedro II, realizada pelo próprio
imperador, era pautada no “homem das letras”- o erudito. Em algumas de suas
imagens, o monarca aparece registrado em cenários com livros, globos e penas de
escrever (símbolos da erudição).
No presente trabalho pretendemos construir a imagem do monarca como o D.
Pedro colecionista, enfatizando a relação entre o imperador e seus objetos em sua
residência. Para isso, apresentaremos seus tesouros destacando que alguns dos
objetos serviram como signos das diferentes áreas de interesse do monarca. Será
uma articulação entre as áreas do conhecimento existentes atualmente no Museu
Nacional e os objetos que foram encontrados.
A partir dos cadernos de estudos do imperador, seus diários e
correspondências, é possível identificarmos: suas áreas de estudos; algumas das
línguas que o soberano conhecia como o latim, o francês, o inglês, o alemão, o
italiano e o árabe; desenvolvia estudos e traduções em diferentes línguas tais como
o hebraico, o grego, o sânscrito, o provençal e o tupi. Ademais, nos deu a
oportunidade de também conhecer a sua atividade colecionista que culminou em ter
em sua residência um museu particular com objetos que representavam os povos e
as culturas de diferentes regiões do mundo, além das ciências naturais.
Pormenorizando os objetos do “Museu do Imperador”, foi possível partir dos
documentos (cadernos de estudos de D. Pedro II e sua correspondência) existentes
no Arquivo Histórico do Museu Imperial, em Petrópolis, em conjunto com as
anotações do Diário do Imperador e reportagens de jornais, para conseguirmos
encontrar os objetos nos departamentos de pesquisa do Museu Nacional. Passamos
a conhecer o interior do Museu do Imperador através de relatos, pois o inventário
sobre os bens do soberano não foi encontrado em sua totalidade até o momento.
Através da narrativa do Príncipe de Joinville22, foi possível descobrir que o
Museu era distribuído em quatro salas, sendo que na primeira estava o quadro de
Felix Taunay com a imagem de D. João VI e Carlota Joaquina em carruagem
passando pelo rio Joana. Atualmente, o quadro fica exposto no Auditório Roquette
Pinto, no térreo do prédio.
As salas que compõem o museu do imperador são explicadas no clássico
biográfico de Pedro Calmon sobre D. Pedro II (CALMON, 1975, p. 458), através do
registro de D. Pedro Augusto sobre a sala de coleção de minerais, antiguidades
etruscas, peruanas com armas de Toledo e numismática, além da vasta biblioteca.
Conseguimos identificar impressões sobre o Museu do Imperador utilizando
relatos de viajantes, como a obra de Hermann Burmeister, um diário que narra sua
viagem ao Brasil em 1850, com trechos de quando conheceu o imperador por
intermédio do médico da família imperial, o Dr. Sigaud, e na oportunidade ofereceu o
livro de sua autoria “História da Criação”, que deu o tom científico na conversa
realizada entre os dois durante à visita ao “Museu do Imperador”:

Nossa conversação foi principalmente sobre o aspecto


geognóstico do solo do Brasil e as épocas geológicas que
influenciaram sua formação. Sua majestade facultou-me uma
visita à sua coleção particular de material científico de história
natural, no decorrer do qual ia chamando minha atenção para
um ou outro objeto especialmente instrutivo. Depois de meia
hora de palestra, despedi-me de Sua Majestade, levando na
lembrança a imagem agradável daquele monarca digno de
admiração e estima em todos os sentidos. (BURMEISTER,
1853, p. 82).

A visita de Burmeister comprova o prazer do monarca em receber naturalistas


em seu museu particular com direito à palestras sobre seus objetos. Entretanto, não
foi o único viajante que conheceu os tesouros do imperador. Thomas Ewbank (1792-
1870), norte-americano denominou o espaço de “lugar destinado à ciência, à
antigüidade, à mineralogia, etc” e destacou que os objetos estavam devidamente
classificados.
Na coluna do Jornal O Paíz de 6 de agosto de 1890 intitulada Acervo
Augusto, conseguimos conhecer parte dos objetos que pertenceram ao museu
particular:

... relíquias de Herculanum e Pompéia (as cidades que o


Vesúvio soterrou). Estatuetas, hermas, caçarolas ou
panelas, vasos, repuxos, trabalhos de cerâmica, de ferro e
de bronze. ... armas modernas e antigas da Ásia e da
África, yatagans recurvados dos ferozes guerreiros syrios
e árabes,
espadas e punhaes de aço legítimo de Damasco, escudos
e elmos. Ainda a gente islamita figura no museu pelos
seus instrumentos de música civil e militar. A história e a
civilização da América ali tem conspícuo lugar, desde os
Incas até os nossos dias. A anthropologia indígena tem
objectos de estudos nas múmias e nas igaçabas, nos
corpos e nas cabeças mumificadas ou pelo tempo ou pela

22
BRMI.CI.SC, AMI-5 e 6. Diário do príncipe de Joinville. (manuscrito).
arte. Há ali uma cabeça de guerreiro mumificada e tão
reduzida, que parece a de uma criança23.

Através de seus diários, é possível acompanhar as três viagens realizadas ao


exterior presenciando as suas observações e seus registros através de desenhos e,
trazendo souvenirs para serem colocados em seu museu, colecionando lembranças
em espaços determinados para as diferentes culturas.
O cotidiano de armazenamento do imperador retrata um colecionador
preocupado em selecionar e preservar suas áreas de interesses, algumas herdadas
por sua mãe (Botânica e Mineralogia) e outras sensíveis à companheira Thereza
Christina (Arqueologia), além da conservação de objetos que representavam as
culturas do Brasil e do exterior.
Em seu museu particular, os visitantes eram selecionados. Nem todos que
visitavam o imperador tinham acesso ao museu e a política dos objetos tinha como
ordenação o discurso científico ao invés do político. (CHAGAS, 1996, p. 15).
Sem perder de vista a representação do visível e do invisível de cada objeto,
na visão de Pomian inicialmente apresentada, utilizaremos para análise dos objetos
a experiência de James Cliffort, através do olhar de José Reginaldo. Cliffort,
historiador norte-americano, tem contribuído para os estudos antropológicos do
século XX, examinando as práticas do colecionamento do ocidente moderno, e, em
especial, as práticas de reapropriação dos artefatos tribais pelos museus, aponta
para “as formas específicas que essa sociedade pode assumir em diferentes
sociedades, e, especialmente, no mundo moderno”. (GONÇALVES, 2001, p. 10).
Cliffort analisa o colecionismo como prática cultural e destacando que em
relação ao ocidente moderno tornou-se uma função primordial na construção de
determinadas subjetividades individuais e coletivas, além de estar associado à
acumulação e à preservação.
D. Pedro II conseguiu construir, em seu espaço privado um lugar de memória
à sua maneira, para não deixar esquecer civilizações e culturas através de
diferentes objetos que hoje exprimem relevantes significados e, assim, fortalecem
sua singularidade.
Diante de uma bela coleção de objetos que representam suas viagens, visitas
de chefes de Estado e que retratam um cotidiano repleto de seus interesses
intelectuais, optamos por apresentar alguns dos representativos objetos em

23
O Paíz. Coluna Salada de Frutas. Rio de Janeiro, 6/08/1890.
categorias que respeitem algumas das áreas de especialidades do atual Museu
Nacional: Antropologia (Arqueologia e Etnografia), Botânica e Geologia.

4.1 Antropologia

Os estudos de Antropologia fascinavam o monarca que, em seu perfil


colecionista, conseguiu reunir várias e diferentes peças que podem comprovar seu
interesse pelo assunto. Em seu museu particular, existiam coleções arqueológicas,
verdadeiras relíquias destacando-se os objetos de Pompéia, panelas, vasos e
artefatos de bronze. Existiam materiais que registravam seu interesse por diferentes
culturas dos quatro continentes: América, Europa, Ásia e África (SANTOS, 1940, p.
155-156). Nos diários de viagens, é possível identificar a motivação em conhecer os
povos e a cultura de diferentes regiões, em suas três viagens ao exterior: Europa e
Oriente, em 1871-72; Europa, Oriente e Estados Unidos, em 1876; e Europa, em
1887-88.

4.1.1 Arqueologia

Através das correspondências particulares do imperador, guardadas no


Arquivo Grão – Pará, podemos encontrar documentos que registram o interesse do
monarca no estudo de sociedades desaparecidas através da cultura material – a
Arqueologia.

a) A Múmia indígena
A predileção do monarca pelos estudos da arqueologia indígena é constatada
na análise de seus diários e correspondências. Dentre elas, encontramos cartas do
pesquisador do Museu Imperial e Nacional (antigo Museu Nacional), Carlos
Schreiner, enviando apontamentos sobre excursões a sítios arqueológicos.
Acompanhando suas correspondências recebidas, é possível identificar diferentes
pesquisas. Uma das propulsoras excursões de Schreiner a um sítio arqueológico em
Santa Catarina é apresentada em carta24 ao imperador, anunciando a descoberta de
sambaquis com restos de peixes e conchas além de instrumentos indígenas,
próximos ao Rio Tavares (pequeno rio ao sul de Santa Catarina).

24
BRMI.CI, maço 173, doc. 7929.
O monarca costumava receber, quase que como dádiva, artefatos de
diferentes partes do país (oriundos ou não de pesquisas arqueológicas), como por
exemplo, uma índia de Minas Gerais, conservada pela ação da natureza, que
morreu de parto, segundo os especialistas do museu, pois próximo ao seu corpo foi
encontrado um bebê enrolado a um manto. D. Pedro II recebia os presentes e
preservava-os em seu museu particular.
O imperador, além de autorizar as escavações arqueológicas,
acompanhava as pesquisas do Museu Imperial e Nacional, é o que constatamos
através da correspondência de Ladislau Netto datada de junho de 1886, anunciando
a descoberta de um cemitério indígena na Província do Paraná e solicitando
autorização para prosseguir os trabalhos de escavação.
Dentre as correspondências estrangeiras sobre estudos arqueológicos
indígenas, destacamos uma carta enviada ao imperador em 1877, por Hyde Clarke,
membro do Instituto Histórico de Londres, remetendo trabalhos sobre os povos do
Brasil em relação à época pré-histórica e algumas abordagens de filologia
comparativa.
Sobre a múmia indígena, está exposta em uma das salas da exposição
permanente desde o início do mês de junho, por ocasião dos eventos
comemorativos aos 188 anos do Museu Nacional.

b) A múmia Egípcia
Dentre os seus objetos arqueológicos, destacamos a múmia egípcia Sha-
Amun-Em-Su, uma dançarina do Templo de Amon que foi enviada ao Brasil para D.
Pedro II pelo Quediva (vice-rei) Ismail Paxá (1830-1895). O imperador esteve com
Ismail na sua segunda viagem ao Egito. No governo do Quediva (1863-1879), foi
inaugurado o Canal de Suez e foi um período caracterizado pelo desenvolvimento
de políticas que procuravam ocidentalizar o Egito.
Em trechos de seu diário referente à segunda viagem ao Egito, D. Pedro II
demonstra os motivos da admiração por Ismail:

Na Ilha Elefantina... Após mais de mil anos de abandono e


esquecimento a fortaleza foi completamente desentulhada.
As antigas divisões foram respeitadas. Foi adaptada uma
nova tubulação na altura do 46o e 47o degraus no sentido
descendente e colocada à disposição do povo em 1870,
sob o governo do Quediva Ismail, o bom soberano que
soergueu o Egito, pelo astrônomo Mahmoud-Bey um dos
seus mais fiéis servidores. (DIÁRIO DE D. PEDRO II,
1876)25.

Em sua primeira viagem ao Egito, em 1871, o soberano já havia recebido o


diploma de membro honorário do Instituto de Arqueologia do Egito, localizado na
Alexandria. Ao retornar à Alexandria pela segunda vez, proferiu o comunicado “O
Vandalismo dos Viajantes”, alertando para a situação dos constantes saques
acontecidos nos templos do Egito. O Quediva Ismail sensível ao interesse do
imperador, remeteu-lhe um presente como agradecimento a sua preocupação: a
múmia Sha-Amun-Em-Su.
Além do título de membro honorário do Egito, o imperador teve seu nome
aprovado como membro associado estrangeiro da Société d‘Antropologie de Paris
em 1876, o secretário geral da Sociedade conferia o título aos “hommes de
sciencies”, conforme justificado em correspondência26.
A múmia egípcia é um dos poucos objetos expostos na atual exposição do
Museu Nacional. Cabe ressaltar que o Museu Imperial e Nacional já contava em seu
acervo com cinco múmias egípcias doadas por D. Pedro I, em 1826.
Através de seus diários, é possível acompanhar as viagens à Europa, à
América do Norte, à África e à Ásia presenciando as suas observações e seus
registros através de desenhos. No museu do imperador, ficavam expostos objetos
oriundos de suas três viagens ao exterior com espaços destinados para as culturas
dos diferentes continentes.

4.1.2 Etnografia

O antropólogo Claude Lévi-Strauss explica que a etnografia corresponde “aos


primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo”. (LÉVI-
STRAUSS, 1970, p. 377). O imperador acompanhava os trabalhos de campo
realizados pelos naturalistas do Museu Imperial e Nacional e tinha atração pelo
estudo sobre a cultura indígena.
Na construção da emblemática Exposição Antropológica de 1882, realizada
no Museu Imperial e Nacional, D. Pedro II garantiu a presença de índios botocudos
para a mostra científica, conforme relato do viajante italiano Enrico Serra, que esteve

25
Referente ao dia 25 de dezembro de 1876.
26
BRMI.CI, maço 175, doc. 7954.
no Brasil no período entre 1882 e 1885, um estudioso envolvido com as ciências
naturais.
O viajante, ao descrever a audiência que teve com o imperador, fez um
relevante relato sobre uma família de índios botocudos - trazida do Espírito Santo
para participar de uma exposição - que estavam acampados nos jardins de São
Cristóvão e logo foram retirados dali porque sofreram muito com a curiosidade
pública.
Serra descreve em seu diário um grupo composto por: um homem de cerca
de 50 anos com suas três mulheres; muitas crianças e um jovem de cerca de 18
anos. Registrou que tinham cabelos negros, sedosos e caídos pelos ombros. Achou-
os parecidos com os japoneses, com exceção das orelhas deformadas: longas,
pendentes e perfuradas; e sobre as mulheres disse que seriam bonitas se não
tivessem encaixado no lábio superior “... uma specie di grosso bottone di legno...”27
Ressaltou ainda que o grupo não fora hostil e que o mais velho pediu moedas aos
italianos e perguntou quando voltariam as suas terras. (SERRA, 1886, p. 31-32).
Diante do temperamento dócil dos imperadores em permitir o livre acesso da
população à Quinta da Boa Vista, não é de estranhar que a família de botocudos
estivesse acampada no jardim do Paço de São Cristóvão. Tudo indica que o
monarca tenha propiciado a liberação do espaço para ter mais contato com a família
e garantir a presença do grupo na exposição.
Cabe destacar que, na Exposição Antropológica, foram realizadas esculturas
indígenas com modelo vivo, ou seja, foram feitos registros em gesso de índios - em
tamanho original - que estiveram no local. Atualmente, no Museu Nacional,
encontram-se na sala de exposição etnográfica esculturas de índios botocudos, de
autoria de Almeida Reis, que participaram da mostra. Com a pesquisa foi possível
identificar os modelos vivos não apenas como “índios que visitaram a exposição”
como as etiquetas mostram, mas sim como os índios que acamparam nos jardins do
Paço de São Cristóvão com a aquiescência do imperador.

4.2 Botânica

O imperador possuía um herbário composto de exemplares de madeiras,


plantas, flores e frutos, um verdadeiro gabinete de botânica da época. No Arquivo
Histórico do Museu Imperial encontramos seus apontamentos sobre estudos
realizados na área de Botânica, incluindo os desenhos feitos de próprio punho. No
Paço de São Cristóvão ficava o “hervário do imperador”28 com exsicatas coletadas
por ele, sendo parte da coleção herdada de sua mãe, a imperatriz Leopoldina,
sensível aos estudos da natureza.
O Museu Nacional herdou o herbário do imperador que, atualmente, é
composto por 43 espécies, sendo 23 coletadas pelo próprio, e as demais pela
princesa Isabel (1846-1921), imperatriz Leopoldina, Pedro de Augusto de Saxe-
Coburgo Gota (1866-1934) e Auguste François Marie Glaziou.
Atualmente, o Departamento de Botânica do Museu Nacional reúne um
número significativo de exsicatas e, dentre a sua gigantesca coleção, encontramos
um recipiente denominado “acervo histórico”, onde o herbário do imperador foi
conservado ao longo dos anos. Os naturalistas que trabalhavam no Museu Imperial
e Nacional guardavam todas as coleções preservando o nome do doador. Esse
procedimento permitiu que a coleção de D. Pedro II fosse facilmente identificada.

4.3 Geologia

Durante os séculos XVIII e XIX, o pensamento científico valorizava o estudo


da mineralogia interagindo com os trabalhos de expansão territorial. Raro era o rei
que não possuía um gabinete de mineralogia. Tratava-se de uma filosofia criada por
Abraham Gottlob Werner, da região da Saxônia, que consistia em considerar que o
estudo da mineralogia deveria estar ligado ao conjunto da natureza, o conjunto da
história humana e o conjunto dos interesses e as aspirações da sociedade.
É provável que a influência de Werner tenha chegado ao Imperador D. Pedro
II através das experiências passadas ao primeiro mineralogista da América, José
Bonifácio de Andrada e Silva que também mantinha constantes contatos com a
Imperatriz Leopoldina. Os minerais herdados por sua mãe provavelmente possuíam
as técnicas de catalogação ensinadas por Werner. Conseqüentemente, D. Pedro
Augusto, neto do monarca, foi incentivado por seu avô para a realização de seus
estudos sobre mineralogia.

27
Uma espécie de grosso bastão de madeira.
28
Inscrição descrita na maioria das exsicatas do monarca, encontradas no Herbário do Departamento
de Botânica do Museu Nacional.
D. Pedro Augusto consta na bibliografia mineralógica do Brasil com sete
publicações. Sua formação foi mais teórica do que prática, porém, foi um
colecionador de botânica e de minerais (AZEVEDO, 1994, p. 322).
O interesse mineralógico do monarca rompia fronteiras, pois sua coleção de
mineralogia cresceu recebendo doações de diferentes regiões do mundo, da Rússia
czarista aos Estados Unidos, por ocasião de sua segunda viagem ao exterior. O
imperador da Rússia, Alexander II (1816-1881) deu, em janeiro de 1878, 146
minerais à D. Pedro II (LEINZ, 1955, p. 6) e o importante mineralogista norte-
americano William Earl Hidden (1853-1918), admirador do imperador, deu
pessoalmente em 1876 uma coleção de minerais, conforme catálogo elaborado pelo
próprio e enviado posteriormente ao Brasil. (Andrade, p. 06).
Esses materiais mineralógicos encontram-se guardados no Departamento de
Geologia e Paleontologia do atual Museu Nacional, devidamente identificados,
incluindo uma coleção de rochas do monarca. Acreditamos que os naturalistas da
antiga Divisão de Mineralogia do Museu Imperial e Nacional optaram por manter
catalogados os objetos que pertenceram ao imperador, assim que os herdaram,
proporcionando, assim, a clara identificação dos referidos objetos, o que facilitou
nossa busca. Sem nunca terem sido expostas, as coleções de minerais e rochas do
imperador continuam guardadas na reserva técnica do departamento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após essa trajetória sobre a análise da relação entre D. Pedro II e os seus


objetos que figuraram no Paço de São Cristóvão, através da (re)descoberta
realizada no Museu Nacional, é possível destacar a evidência de um estudo que
parte da História para chegar à Memória. O que nos interessa aqui é a Memória,
além de sua contribuição para a História.
Apesar das representações serem construídas historicamente pelas práticas
articuladas, é necessária a análise de imagens visando o diálogo entre o mito e a
história. Parte-se da história deixando a memória apropriar-se desta, e
transformando-a em mito.
Em relação à indagação de Lilia Schwarcz (1998, p. 520): “De que modo é
possível interpretar o fato de um imperador de atitudes tão dissimuladas passar para
a história apenas como um sábio e curioso mecenas?” podemos confirmar que a
resposta está mais na Memória e menos na História.
No nosso caso, é importante perceber que através da análise dos objetos
simbólicos existentes no Museu Nacional, é possível desvendar a imagem do
cotidiano ritualizado do imperador, suas preocupações, seus objetivos, seus
interesses e, conseqüentemente, construir sua identidade enquanto indivíduo e
monarca.
Além da importância de realizar a “leitura” dos objetos, cabe ressaltar que os
mesmos resistiram ao tempo, tendo sido guardados devido ao aspecto da beleza
estética que apresentavam. No processo de fortalecimento da República, era
importante, em um primeiro momento, que os signos do Império fossem “apagados”
para a implantação do novo regime, com suas distintas alegorias. Diante desse
“apagamento”, os objetos foram perdendo a lembrança da sua representação inicial
monárquica e passaram a ser objetos de decoração (semióforos) do gabinete da
direção do Museu Nacional.
Em relação aos artefatos que representam os estudos do imperador,
constatamos que os naturalistas do Museu Nacional dos Departamentos de Botânica
e de Mineralogia preservaram as coleções não deixando perder as características
dos objetos do imperador. Respeitaram a orientação implícita do Governo Provisório
Republicano para não cultuarem a memória de D. Pedro II, entretanto, guardaram os
acervos escondendo-os separadamente no meio das demais coleções dos
Departamentos. No caso desses dois departamentos, foi possível identificar
facilmente as coleções do monarca, apesar das mesmas terem continuado
afastadas da memória e do alcance dos observadores do museu, diferente dos
demais que optaram por pulverizar os objetos entre as coleções da instituição.
Na opinião dos dirigentes do início do século XX, a popularidade de D. Pedro
II - no país e no exterior - poderia dificultar a implantação do novo regime e, por isso,
expulsaram toda a família para a Europa. Como conseqüência, D. Pedro II - homem
- caiu, mas o mito ficou eternizado tanto pela história quanto pela memória.
Ao problematizarmos os objetos (re)descobertos no Museu Nacional, é
possível tornar visível o Paço de São Cristóvão associando a cada artefato os seus
respectivos significados e revelar as práticas do colecionismo involuntário do
Imperador. Com isso, o prédio do Museu Nacional passará a ser visto como o antigo
Paço de São Cristóvão – a casa que virou museu.
Os resultados da identificação e contextualização de TODO o acervo
identificado no Museu Nacional serão apresentados nos seguintes formatos:
inventário final que será enviado ao IPHAN para o devido tombamento de todo o
“Patrimônio do Imperador”; a dissertação de mestrado no Programa de Pós-
graduação em Memória Social da UNIRIO; a publicação de um guia dos acervos; a
disponibilização dos dados em meio digital através do site da UFRJ –
www.minerva.ufrj.br – e, finalmente, serão expostos ao público pela primeira vez em
ambientação histórica no Museu Nacional, cumprindo assim, o principal papel de um
museu.

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TURISMO, INFORMAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS:
VISIBILIDADE NA WEB

MARIA HELENA DE LIMA HATSCHBACH1

RESUMO

O turismo é um fenômeno que aborda conteúdos relacionados a valores culturais, ao desenvolvimento


local, à sustentabilidade, à geração de trabalho e renda etc. Ele está sofrendo um processo de
transformação envolvendo representantes de todos os atores envolvidos no sistema turístico (setores
público e privado) e das comunidades locais. A coordenação e integração desses agentes são facilitadas
e, muitas vezes viabilizadas, graças à utilização das novas tecnologias de comunicação e informação
(TIC’s). No Brasil, a criação do Ministério do Turismo, em 2003, reforça a importância que este setor tem
para o desenvolvimento do país, não apenas como destino turístico privilegiado mas, também, como
terreno fértil para discussões sobre a identidade cultural de nosso povo, geração de emprego e renda,
criação de redes sociais de cooperação, etc. Diante dessa nova perspectiva do turismo, este trabalho
pretende analisar a informação apresentada nas páginas Web de órgãos públicos responsáveis pelo
setor de turismo, no Brasil, visando identificar se elas vão ao encontro das diretrizes do Programa de
Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil.

Palavras-Chave: Informação. Tecnologias da Informação e Comunicação. Turismo. Políticas Públicas.


Plano Nacional de Turismo. Programa de Regionalização do Turismo.

1 INTRODUÇÃO

A partir dos anos 1990 o turismo tornou-se um dos setores mais visíveis das
novas tendências da economia e da sociedade2. Por meio de indicadores econômicos,
podemos perceber que o turismo, no Brasil, ultrapassou vários setores industriais,
apresentando um crescimento bastante dinâmico. Em 2002, “0,17% do investimento
privado foi destinado ao setor de turismo” (UnB, 2004). Esse valor seria irrelevante não
fosse o fato de que, com apenas 0,17% de investimento, foram gerados 5,56% do PIB,
ou seja, o investimento no turismo teve um resultado muito significativo, indicando o
potencial de crescimento para o setor.
As concepções sobre a área do turismo estão mudando, vêm adquirindo novas
dimensões econômicas, sociais, culturais, ambientais, políticas e de gestão,

1
Doutoranda em Ciência da Informação (Universidade Federal Fluminense- UFF/RJ), consultora em
projeto educacional na área de turismo (Fundação Roberto Marinho); Rio de Janeiro – Brasil. Email:
mhats@yahoo.com.br
2
“A produção total do setor de turismo representa 4,32% da produção total do Brasil. Ao mesmo tempo, o
PIB do turismo, calculado em 77,5 bilhões de reais em valores de 2002, representa 5,56% do PIB da
economia brasileira. Dessa forma, fica claro que o turismo é um setor que agrega mais valor que a média
dos demais setores da economia” (UnB, 2004).
ultrapassando fronteiras reais e virtuais. As transformações na compreensão de sua
natureza passam por vários atores/agentes: incluem aqueles envolvidos na cadeia
produtiva, principalmente os profissionais que estão pensando e repensando esta
atividade, no âmbito da criação e gestão de serviços e produtos voltados para o turista
como, também, aqueles envolvidos no turismo como área de estudos e pesquisas e de
desenvolvimento de políticas públicas. E isto não é tarefa fácil.
A criação do Ministério do Turismo - MTur, no Brasil, em 2003, reforça a
importância que este setor tem para o desenvolvimento do país, não apenas como
destino turístico privilegiado mas, também, como terreno fértil para discussões sobre a
identidade cultural de nosso povo, geração de emprego e renda, criação de redes
sociais de cooperação, etc.
Em relação ao ensino de turismo, para se ter uma idéia, em nosso país os
primeiros cursos de turismo, em nível superior, surgiram na década de 70. No entanto,
“ainda se encontram em fase de desenvolvimento e adequação. Fato que revela uma
das facetas inerentes à atividade turística, e sua dinâmica evolutiva” (ANTUNES et al,
2006). Pois, o turismo não é mais um fenômeno que trata apenas de questões
relacionadas ao lazer, à diversão, ao lúdico ou ao ócio. Ele aborda conteúdos
fundamentais relacionados a valores culturais, ao desenvolvimento local, à
sustentabilidade, à geração de trabalho e renda etc.
Diante deste novo cenário, o MTur lançou, em abril de 2003, o Plano Nacional do
Turismo – PNT (BRASIL, 2003), e, dentre suas premissas, destacamos: parceria e
gestão descentralizada; adoção de pensamento estratégico, exigindo planejamento,
análise, pesquisa e informações consistentes e; turismo como fator de construção da
cidadania e de integração social.
Em 2004, seguindo as orientações contidas no PNT, iniciou-se a implementação
do Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, um modelo de
política pública descentralizada, coordenada e integrada, baseada nos princípios da
flexibilidade, articulação, mobilização, cooperação intersetorial e interinstitucional, onde
é preciso:

assimilar a noção de território como espaço e lugar


de interação do homem com o ambiente, dando
origem a diversas formas de se organizar e se
relacionar com a natureza, com a cultura e com os
recursos de que dispõe...Incorpora, também, o
ordenamento dos arranjos produtivos locais e
regionais como estratégico, dado que os vínculos de
parceria, integração e cooperação dos setores geram
produtos e serviços capazes de inserir as unidades
produtivas de base familiar, formais e informais,
micro e pequenas empresas, que se reflete no
estado de bem-estar das populações (BRASIL,
2004b, p.11).

Este processo de transformação do turismo, que está se dando em plena Era da


Informação, precisa do envolvimento de representantes de todos os atores envolvidos
no sistema turístico (setores público e privado) e das comunidades locais. E a
coordenação e integração desses elos é facilitada e, muitas vezes viabilizada, graças à
utilização das novas tecnologias de comunicação e informação (TIC’s).
O Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil é formado por
09 (nove) módulos que orientam suas ações operacionais, mas que não são,
necessariamente, seqüenciais. Ou seja, cada estado e região turística irá implementá-
los de acordo com o grau do processo de regionalização em que se encontre.

Módulos (BRASIL, 2004a):


1. Sensibilização
2. Mobilização
3. Institucionalização da Instância de Governança Regional
4. Elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo
Regional
5. Implementação do Plano Estratégico de Desenvolvimento do
Turismo Regional
6. Sistema de Informações Turísticas do Programa
7. Roteirização Turística
8. Promoção e Apoio à Comercialização
9. Sistema de Monitoria e Avaliação do Programa

Dentre os Módulos relacionados, damos destaque ao Módulo 6 - Sistema de


Informações Turística do Programa (BRASIL, 2004a), que prevê a gestão de
informações criadas e coletadas no âmbito do Programa, além de dados gerados a
partir da inventariação3 da oferta turística. A proposta é reunir todas as informações em
um único banco de dados e difundi-las por meio de uma estratégia de comunicação.

2 O TURISMO E AS TIC’s

Como podemos constatar, a relação entre o turismo e as tecnologias de


informação (TIC’s) e comunicação é muito próxima. As companhias de viagem e
turismo foram as primeiras a fazerem uso sofisticado das possibilidades e capacidades
das aplicações da tecnologia eletrônica no processo e na administração de dados e
informações. No início dos anos 50, também primórdios da história da tecnologia da
informação, um dos maiores projetos que poderia ter sido concebido naquele momento
se inicia: a concepção e implementação de um sistema de processamento automático
capaz de fazer reservas de assentos em vôos instantaneamente, por meio eletrônico,
por qualquer agência, em qualquer lugar. Alguns anos mais tarde, “o Sabre foi o
primeiro sistema computadorizado de negócios, o maior sistema privado de
processamento de dados em tempo real, atrás apenas do Sistema do Governo
Americano” (CORIGLIANO, 2004).
O turismo responde rapidamente às possibilidades oferecidas pelas TIC’s. Por
exemplo, este setor é um dos que mais utiliza o comércio eletrônico, no mundo todo.
No que se refere à escolha de destinos turísticos, a Internet funciona, atualmente, como
uma das principais fontes de informação para o viajante. Tanto em relação aos
aspectos logísticos da viagem: valor de passagem, meios de transporte e hospedagem,
documentação, como em relação às informações sobre os destinos: história da
localidade, cultura, clima etc.
Em 2003, os sites que prestam serviços ao viajante, como os de agências de
viagem, páginas de guias, revistas especializadas ou companhias aéreas, foram

3
A inventariação da oferta turística é um processo pelo qual se registra ordenadamente o conjunto dos
atrativos turísticos, dos equipamentos e serviços e da infra-estrutura de apoio turístico existentes no
mercado e em pleno funcionamento. Esse processo tem por objetivo resgatar, coletar, ordenar e
sistematizar dados e informações sobre as potencialidades dos atrativos turísticos e das ofertas local e
regional.
visitados por 10,5% dos internautas ativos brasileiros, o que representa 900 mil visitas
(MARGHERITA, 2003).
Tendo em vista esta importante e fundamental atuação das tecnologias de
informação e comunicação para a área do turismo, é necessário destacar, também,
que o papel das TIC’s dentro do planejamento e execução das políticas públicas de
turismo é primordial para a consolidação das mesmas em nosso país.

3 TURISMO, TIC´S E PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO

Neste sentido, e partindo das Diretrizes Operacionais do Programa de


Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil, que estipula que: “os Estados e o
Distrito Federal, apoiados nos Fóruns Estaduais de Turismo, são os efetivos
articuladores e promotores do planejamento, execução e avaliação, no modelo da
gestão compartilhada” (BRASIL, 2004a, p.11), a proposta deste trabalho é identificar de
que maneira as instâncias estaduais responsáveis pelas políticas públicas e pelas
ações na área do turismo estão retratadas no site institucional do Mtur.
Este levantamento é um primeiro diagnóstico para coletar e analisar dados sobre
a organização, a sistematização de informações e a integração das parcerias, pois, a
forma de estruturação de informações e o nível de comprometimento dos agentes do
sistema turístico podem ter um impacto no desenvolvimento e consolidação deste setor,
no Brasil, visto que a atualidade e o dinamismo do fluxo de informação são
imprescindíveis para suas operações.

4 METODOLOGIA

Para efetuar nossa pesquisa4, partimos do site institucional do Ministério do


Turismo – Mtur5, por ser o órgão responsável, em nível nacional, pelas políticas
públicas do setor de turismo e pelo estabelecimento de “canais de interlocução com as
Unidades Federadas, por meio dos Órgãos Oficiais de Turismo da UFs, apoiados

4
Pesquisa nos sites realizada nos dias 05, 21 e 29 de junho de 2006.
5
Ministério do Turismo – Mtur. Disponível em:<http://www.turismo.gov.br>.Acesso em: 03 mar 2006.
pelos Fóruns Estaduais de Turismo e pelas Câmaras Temáticas de Regionalização
estaduais – as quais fazem parte dos Fóruns – onde estas já tenham sido
criadas”(BRASIL, 2004a, grifo nosso).

4.1 Elaboração da matriz de dados

Para análise de dados, criamos uma tabela baseada, inicialmente, em Cardoso


(2002), que elaborou uma matriz para identificação de dados cadastrais e institucionais
de sites de bibliotecas universitárias públicas brasileiras. Acrescentamos dois critérios
de avaliação de fontes de informação, definidos por Alexander & Tate (1996}, que são a
atualidade (datas de criação e atualização) e a autoridade (identificação, credenciais,
referências do autor da informação).
A matriz para o nosso estudo ficou composta pelos seguintes campos de análise:

a) Identificação da Instituição:
• Nome Secretaria/Órgão Estadual de Turismo da forma que está
apresentado no site do MTur.
• Nome da Secretaria/Órgão Estadual de Turismo, apresentada na
sua página oficial .
• Contatos (endereço/telefone/fax/email do órgão/instituição)
apresentados na página inicial e ‘Fale Conosco’.

b) Identificação do Site:
• URL6 (endereço da página) do site da Secretaria/Órgão Estadual de
Turismo (como indicada no site do MTur).
• Data de criação do site.
• Data de atualização do site.

6
URL (Uniform Resource Locator): padrão de endereçamento na Web.
5 ANÁLISE DOS DADOS

O site do MTur7, na área destinada às informações institucionais, no link


“Links,”apresenta uma relação das Secretarias/Órgãos Estaduais de Turismo, com as
respectivas URL’s.
Neste local estão relacionadas 29 Secretarias/Órgãos Estaduais de Turismo das
27 Unidades Federativas do Brasil (26 estados mais o Distrito Federal), sendo que:
• Os estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo não constam das
referências.
• Os estados da Bahia, Paraíba, Pernambuco e Santa Catarina
apresentam links para dois órgãos estaduais de turismo.
Neste aspecto, as regiões sul e sudeste do país já perdem visibilidade, na Web,
em relação às demais regiões, pois não possuem todos os seus órgãos estaduais de
turismo representados na página do MTur. Interessante observar que, de acordo com
dados referentes ao turismo doméstico, levantados pela Fipe/Mtur (BRASIL, 2006), no
período de janeiro a março de 2006, São Paulo e Rio Grande do Sul são estados
predominantemente emissivos, ou seja, mandam mais turistas para os demais estados
do que recebem. Já os estados da Bahia, Paraíba, Pernambuco e Santa Catarina são
estados receptivos, promovem mais seus atrativos e atividades turísticas e,
conseqüentemente, despertam maior interesse.

5.1 URL (endereços dos links para as Secretarias/Órgãos Estaduais de Turismo)

As URL’s das páginas das Secretarias/Órgãos Estaduais de Turismo de Alagoas,


Amapá, Espírito Santo, Mato Grosso apresentam links que não abrem (a página não
pode ser exibida)8. O link do Órgão do Amazonas é direcionado para uma página que
solicita login e senha, e o da Secretaria da Indústria, Comércio, Turismo, Ciência e
Tecnologia – SICTCT, da Paraíba, mostra a mensagem: ‘domínio não encontrado em
nossos servidores’.

7
Ministério do Turismo – Mtur. Disponível em: (http://www.turismo.gov.br). Acesso em 03 mar. 2006.
8
Foram efetuadas 03 tentativas, sem êxito, para abrir as páginas, nos dias 05, 21 e 29 de junho de
2006.
Em relação aos estados do Acre e Roraima, os links indicados pelo MTur são
das páginas dos respectivos Governos do Estado, e não conseguimos localizar, pela
navegação do site, nenhuma referência a órgãos de turismo nesses estados. Já nos
links para o PBTUR (Paraíba) e para a SANTUR e SOL (Santa Catarina) apesar de a
página indicada ser a do Governo do Estado, foi possível, por meio de navegação,
chega às páginas dos órgãos estaduais de turismo.
O link do Piauí, mesmo estando incorreto, localizamos a falha e acessamos o
site. Na página do MTur a grafia do link é: <http://www.pientur.pi.gov.br/>; o correto é:
<http://www.piemtur.pi.gov.br> (piemtur, com ‘m’). Em ambientes virtuais, qualquer falha
ou erro com os signos/linguagens utilizados, o acesso à informação fica inviabilizado.
No Distrito Federal, apesar de a URL não ser mais a apresentada, clicando no
link ele redireciona automaticamente para a página atual da Secretaria de Estado de
Turismo.
Para o estado de Minas Gerais, a URL indicada pelo MTur é a do site ‘Descubra
Minas’ , de propriedade (copyrigth) do SENAC. Como não representa um órgão
estadual, ele não será contemplado. Consideramos, então, para este levantamento, o
site da Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais
<http://www.turismo.mg.gov.br>, que possui outra URL, a qual acessamos pelo banner
do Governo do Estado, localizado na parte superior direita do site ‘Descubra Minas’.
O cuidado, a atenção e a responsabilidade em relação à representação e
organização da informação no espaço virtual, principalmente quando nos referimos a
conteúdos de órgãos governamentais, são fundamentais para estabelecer a
credibilidade da instituição autora do conteúdo.
Como podemos constatar, das 29 Secretarias/Órgãos estaduais de turismo
listados pelo MTur, 08 apresentam links que não oferecem acesso à página. A
representatividade e parceria das instâncias federal e estadual ficam comprometidas,
principalmente considerando-se que o Sistema Nacional de Informações Turísticas,
segundo as orientações das Diretrizes Operacionais do Programa de Regionalização do
Turismo, deve “resgatar e reunir dados confiáveis e atualizados sobre os municípios e
as regiões turísticas do país, permitindo sua efetiva circulação entre as diversas
instâncias” (BRASIL, 2004a, p.39).
5.2 Nomenclatura das Secretarias/Órgãos Estaduais de Turismo

No que diz respeito ao nome da Secretaria/Órgão estadual de turismo,


encontramos disparidade na nomenclatura apresentada no site do MTur em relação à
página oficial do órgão de turismo. Dos 29 órgãos, 09 estão com seus nomes indicados
de forma incorreta.
Para o DF e os estados do MA, MS, RJ, RO, SE e SC os nomes relacionados no
site do MTur são diferentes da denominação que aparece na página do órgão de
turismo. Para o estado da BA, o site do MTur apresenta apenas a sigla do órgão de
turismo, sem o nome por extenso. Na PA ocorre o inverso da BA, a página do MTur
contempla a sigla e o nome da instituição, e no site do próprio, apenas a sigla. A Tabela
1 apresenta as incompatibilidades de nomenclatura.

Tabela 1 – Nomenclatura da Secretaria/Órgão Estadual de Turismo

UF Nome no site do MTur Nome na página oficial do Órgão

DF Secretaria de Turismo do Distrito Federal Secretaria de Estado de Turismo

BA Bahiatursa Bahiatursa – Empresa de Turismo da


Bahia S/A
MA Secretaria Extraordinária para o Secretaria de Planejamento, Orçamento e
Desenvolvimento do Turismo Gestão
MS Secretaria da Produção e do Turismo do Secretaria de Estado da Produção e do
Mato Grosso do Sul Turismo
PB PBTUR- Empresa Paraibana de Turismo PBTUR (não apresenta o nome por
extenso do órgão em nenhum local da
página)
RJ Secretaria de Turismo TURISRIO – Companhia de Turismo do
Estado do Rio de Janeiro
RO Secretaria de Turismo de Rondônia Superintendência Estadual de Turismo-
SETUR
SC Secretaria de Estado da Organização do Secretaria de Estado da Cultura, Turismo
Lazer e Esporte
SE Secretaria de Turismo Secretaria de Estado de Turismo

Das 21 Secretarias/Órgãos estaduais de turismo efetivamente com páginas


disponíveis para consulta, por meio da navegação pelo site do MTur, apenas 13
possuem sua nomenclatura indicada corretamente. Para o estabelecimento de uma
gestão coordenada, descentralizada e compartilhada das ações, o ambiente virtual é
um espaço fundamental de interlocução entre os agentes envolvidos. Essa interlocução
deve ocorrer com uma linguagem uniformizada, clara e transparente.
O produtor do site (pessoas/instituições), bem como o autor de um trabalho, é
quem o legitima. A apresentação correta do seu nome e dos seus pares, parceiros,
contribui para que todos os gestores do Programa sintam-se protagonistas deste
processo.

5.3 Datas de criação e atualização dos sites

Diante da velocidade da informação, sobretudo a divulgada na Internet, da falta


de controle que o usuário têm da procedência dos conteúdos disponíveis na Web e de
sua atualidade, a indicação das datas de criação e atualização de sites serve para
auxiliar no momento da avaliação da validade da informação disponibilizada.
Neste aspecto, das 21 páginas das Secretarias/Órgãos estaduais de turismo
analisadas, apenas 07 apresentam a data de criação do site: 1 (2002); 3 (2004); 3
(2005). Destacamos que, desses, 06 foram elaborados após a criação do MTur. No
turismo, diante do dinamismo de sua evolução e das novas tendências e segmentações
que agrega, além da dimensão política que vêm apresentando no Brasil, estes
indicadores de atualidade são fundamentais quando se pensa na elaboração de
conteúdos para esta área.

5.4 Comunicação

A capacidade de integração/interação entre os segmentos envolvidos no


Programa de Regionalização do Turismo passa pelas possibilidades reais de
comunicação existentes para cumprir tal objetivo. Bordenave (2001, p.23) afirma que a
comunicação “pode ser um instrumento de legitimação de estruturas sociais e de
governos, como também a força que os contesta e os transforma.”
A conexão entre os atores/agentes envolvidos no processo de gestão de
políticas públicas de turismo, no Brasil, pode se dar por meio de diversas formas de
comunicação, desde as mais tradicionais, como o envio de correspondência por correio,
telefonemas, encontros presenciais, até o uso dos recursos oferecidos pelas TIC’s:
email, fóruns etc.
Neste trabalho, escolhemos como um indicador de comunicação, a
disponibilização dos dados de contato da Secretaria/Órgão estadual de turismo, pois
cabe a essas instituições viabilizar meios/canais que promovam a troca de informações
entre o setor público e os demais atores da cadeia produtiva do turismo.
Das 21 Secretarias/Órgãos estaduais de turismo, 08 apresentam dados de
contato na primeira página, sendo que, dessas, apenas 04 colocam todas as
informações de contato (tel, end, fax, email). Em 13 páginas iniciais encontramos link
para ‘Fale Conosco’, onde são apresentados campos para envio de mensagem sem,
necessariamente, apresentar os dados de contato da instituição.
Nas páginas de Secretaria/Órgão estadual de turismo de Goiás, Minas Gerais,
Rondônia e Tocantins não localizamos nenhum tipo de indicação de dados para contato
com a instituição.
Se o Programa de Regionalização do Turismo prevê a um sistema que mostre a
versatilidade quanto à alimentação, atualização e disponibilização de informações, esta
análise indica que é preciso rever e reavaliar os atuais ambientes de informação e
interação, para que eles possam , efetivamente se adequar às demandas.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio deste trabalho, levantamos algumas questões relacionadas à


importância da informação, disseminada na Web, para o apoio e fortalecimento de
políticas públicas na área do turismo, no Brasil.
A disponibilização das páginas na Internet das Secretarias/Órgãos Estaduais de
Turismo ainda é recente, a maioria surge após a criação do MTur, em 2003. Também
podemos identificar, pela própria elaboração e estruturação desses sites, que eles
ainda não estão atuando, como poderiam, como canal de interlocução para uma ação
cooperativa e integrada dos protagonistas do Programa de Regionalização do Turismo
– Roteiros do Brasil.
Para que o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação seja efetivo e
forneça subsídios necessários para o cumprimento de ações capazes de concretizar as
metas do setor de turismo, é necessário que os gestores dos sistemas de informação e
demais parceiros do Programa compreendam a importância e a relevância de todo o
tipo de informação disponibilizada, sobretudo no meio eletrônico, para o
desenvolvimento das atividades turísticas no país.

REFERÊNCIAS

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Disponível em: <http://www.2.widener.edu/Wolfgram-Memorial-
Library/webevaluation/inform.htm>. Acesso em: 14 jun. 2006.
ANTUNES, Aldir et al. Educação e formação profissional em turismo. Revista Aboré.
Disponível em: <http://www.revista.uea.edu.br/abore/artigos/artigo_karlaeleonia.pdf>.
Acesso em: 07 abr. 2006.
BORDENAVE, Juan E. Díaz. Além dos Meios e Mensagens. Petrópolis: Vozes, 2001.
BRASIL, Ministério do Turismo. Programa de Regionalização do Turismo: Diretrizes
Operacionais - Roteiros do Brasil . Ministério do Turismo. Brasília, 2004 (a).
BRASIL, Ministério do Turismo. Programa de Regionalização do Turismo: Diretrizes
Políticas - Roteiros do Brasil . Ministério do Turismo. Brasília, 2004 (b).
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programas 2003-2007. 2.ed. Brasília, 2003.
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doméstico - 2006. Disponível
em:<http://www.braziltour.com/site/br/dados_fatos/conteudo/lista.php?in_secao=289 >.
Acesso em: 10 jun. 2006.
CARDOSO, Ângela Lacerda. Internet em seus aspectos de comunicação,
informacionais e gráficos: estudo de caso dos "sites" de sistemas de bibliotecas de
Universidades Públicas Federais brasileiras. 2002. 99f. Dissertação (Mestrado em
Ciência da Informação). Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2002. Orientador: Profª Lena Vânia Pinheiro Ribeiro.
CORIGLIANO, Magda A.Tourism, TEcnology, information and the relationship with
custumers.Proceeding of the International Conference “Leiusure Futures". Bolzano,
Itália. 10 a 12 de nov. de 2004.
HATSCHBACH, Maria Helena de Lima. Information Literacy: aspectos conceituais e
iniciativas em ambiente digital para o estudante de nível superior. 2002. Dissertação
(Mestrado em Ciência da Informação) - UFRJ/ECO-MCT/IBICT, Rio de Janeiro.
Orientadora: Gilda Olinto.
MARGHERITA, Greice. HomeNews, 2003. Disponível em:
<http://www.homenews.com.br/article.php?sid=1924&PHPSESSID=ebf46864d5622db5
e41e0badeb15a7dc>. Acesso em: 27 maio 2006.
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, UNIVERSITY OF NOTTINGHAM. Competitividade do
Preço do Turismo no Brasil Impactos Econômicos Intersetoriais e Políticas
Públicas. Matriz de Contabilidade Social do Brasil para o Turismo – 2002. Centro de
Excelência em Turismo. Núcleo de Economia do Turismo/Christel Dehaan Tourism and
Travel Research Institute. Brasília. 2004.
PROJETOS EDUCACIONAIS EM BIBLIOTECAS DE INSTITUIÇÃO DE ENSINO
SUPERIOR: O CASO DA BIBLIOTECA DAS FACULDADES BATISTA1

WANDERSON SCAPECHI2

RESUMO

O presente trabalho consiste em refletir sobre o desenvolvimento de projetos educacionais em bibliotecas


inseridas em uma Instituição de Ensino Superior (IES) neste momento da sociedade marcado por
transformações significativas em todos os seus setores. O processo de globalização, assim como as
novas tecnologias da informação redefiniram a atuação da biblioteca contemporânea no sentido de
torná-la em um espaço de ensino e aprendizagem, de forma a conduzir os seus usuários a um
verdadeiro “aprender a aprender”. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é possibilitar aos usuários
destas bibliotecas uma maior apropriação deste espaço e de seus recursos informacionais. O local
escolhido para o estudo é a Biblioteca das Faculdades Batista e a metodologia a ser aplicada é a da
pesquisa-ação que permite ações de caráter prático dentro de uma atividade coletiva. As ações
consistem em sub-projetos que serão desenvolvidos pela biblioteca ao longo de um ano. Todas estas
ações serão avaliadas durante o processo a partir de indicadores estabelecidos. Os resultados
demonstram que existe êxito no trabalho através de projetos educacionais ao constatar que por meio de
ações educativas e culturais a biblioteca tem ampliado de seu espaço de atuação bem como possibilitado
uma maior apropriação deste pelos usuários.

Palavras-chave: Educação, Biblioteca, Ensino, Aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

Pensar em projetos educacionais, em especial para bibliotecas significa refletir e


discutir sobre as possibilidades de geração do conhecimento e de uso da informação
neste espaço.
O presente trabalho parte do pressuposto de que a biblioteca inserida em uma
Instituição de Ensino Superior (IES) deve ser por excelência um espaço de ensino e
aprendizagem de forma a garantir aos seus usuários o desenvolvimento e/ou
construção de competências que lhes garantam habilidades para um constante
“aprender a aprender”.

1
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado junto ao Centro Universitário Senac para obtenção do
título de Especialista em Educação. Este trabalho teve a orientação da Profa.Dra. Zilá P. de M. e Silva,
professora titular do curso.
2
Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP)- Campus de Marília e
Especialista em Educação pelo Centro Universitário SENAC
Bibliotecário-Chefe da Biblioteca das Faculdades Batista, mantida pela Associação Paulista de Ensino –
APE.
e-mail: scapechi1@yahoo.com.br
Desde a antiguidade, as bibliotecas se constituíram em grandes espaços, que
tinham por finalidade reunir e conservar os registros da memória histórica de um povo.
Nesta empreitada, foram os cristãos os que mais contribuíram para a preservação das
obras literárias com o objetivo de conservar os livros litúrgicos, textos das Escrituras e
escritos dos padres. Deste modo, a biblioteca trouxe para si elementos que lhe conferiu,
e ainda lhe confere, no imaginário social, a simbologia de um lugar sagrado, um espaço
de reclusão, de silêncio ou um espaço de conservação de acervos.
Com o passar do tempo, a idéia de apenas conservar não mais se sustentou
devido ao boom informacional pelo qual passou a sociedade ao longo dos anos.
Sendo assim, a biblioteca deixou de ser um mero depósito de livros para tornar-se um
centro difusor de conhecimentos na formação integral do indivíduo.
Embora se tenha hoje um novo paradigma para biblioteca e para os seus
especialistas, ainda há aquelas que se constituem em meros depósitos de livros,
enquanto os profissionais que nela atuam desempenham atividades de cunho
burocrático sem se preocupar com as atividades ligadas ao ensinar a aprender, uma
das funções primordiais da biblioteca da atualidade.
A construção de projetos educacionais apresenta-se como alternativa, tanto
teórica como metodológica, para tentar reverter este quadro que se apresenta, além de
subsidiar os esforços empreendidos pela equipe biblioteca no planejamento de práticas
pedagógicas para tornar a biblioteca em um espaço de ensino e aprendizagem.
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho consiste no desenvolvimento de ações
dentro de um projeto educacional maior elaborado para a Biblioteca das Faculdades
Batista, a fim de verificar as mudanças ocorridas no que se refere a uma maior
apropriação dos usuários do espaço da biblioteca bem como o planejamento de
atividades e/ou serviços que a biblioteca pode oferecer.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No paradigma atual do conhecimento, as ações da biblioteca devem ser


projetadas no sentido de garantir o desenvolvimento e/ou construção de competências
a fim de conduzir seus usuários a terem aprendizagens contínuas e dar-lhes condições
de “aprender a aprender”.
Segundo Perrenoud (1999), entende-se que construir uma competência é
exercer o ato de aprender, identificar e mobilizar conhecimentos pertinentes em
diversas situações. Assim biblioteca é, por excelência, um espaço de aprendizagem.
Entretanto, o que se vê na prática é o uso utilitário deste espaço, já que as pessoas a
procuram muitas vezes com interesses pontuais e imediatistas e não como espaço de
construção de conhecimento. A esse respeito, Silva (1994, p.37) afirma que:
[...] a biblioteca é potencialmente um dos espaços que mais
podem contribuir para o despertar da criatividade e do
espírito crítico do aluno, tendo em vista os diferentes tipos de
documentos que podem constituir o acervo e os variados
serviços e atividades que ela pode desenvolver [...].

Pode-se também considerar a biblioteca como mediadora do conhecimento ao


“pensar na mediação não apenas na escola, mas no lar, no trabalho, no atendimento
especial em clínicas , na perspectiva de múltiplos e diferentes ambientes de
aprendizagem” (SOUZA, 2004, p.163), o que contribui para uma prática efetiva de
investigação e pesquisa.
Com este caráter de mediação a biblioteca deve propor ações de ensino e
aprendizagem intencionais na medida em que se coloca na intersecção entre os
interesses informacionais da comunidade a qual ela serve e suas reais potencialidades.
A biblioteca inserida em um paradigma de mediação do conhecimento, tem por
missão a tarefa de disponibilizar espaços e serviços significativos que possibilitem aos
seus usuários um contato real com as formas do saber. As habilidades de pesquisa são
condição “sine qua non” para o desenvolvimento de competências essenciais em um
momento da sociedade marcado por profundas transformações em todos os seus
setores.
Segundo Milanesi (1997, p. 134) “a dinâmica de um espaço cultural está
centrada no movimento constante de ver e rever”. A biblioteca por sua vez pode
constituir-se em um espaço de ensino e aprendizagem direcionado a um verdadeiro
“aprender a aprender”, se for organizada em torno de elementos que garantam o
movimento citado pelo autor. Entenda-se esta dinâmica como a dialética entre a
autonomia e a aprendizagem como processo permanente de construção.
Para Machado (2002), projetar consiste em antecipar uma ação com vistas ao
futuro, abrir-se para o novo, para o indeterminado. Ele pode ser construído de forma
individual, mas certamente com reflexos direto na coletividade.
Hernandéz (1998, p. 67) ao escrever sobre projetos educacionais afirma:
[...] a organização de projetos de trabalho se baseia
fundamentalmente numa concepção da globalização
entendida como um processo muito mais interno do que
externo, no qual as relações entre conteúdos e áreas do
conhecimento têm lugar em função das necessidades
que traz consigo o fato de resolver uma série de
problemas que subjazem na aprendizagem. Esta seria a
idéia fundamental dos projetos [...].

Nesta perspectiva, as ações do projeto baseiam-se no pressuposto de que a


interconexão de saberes forma uma grande rede de aprendizagem ampliando as
possibilidades de conhecimento do usuário.
Em se tratando do enfoque dado a este trabalho que é de propor ações que
ampliem o espaço da biblioteca para um espaço de aprendizagem, a experiência
mediada é de vital importância por possibilitar interação e não apenas transmissão de
conteúdos.
A aprendizagem por mediação é parte de uma teoria mais ampla, a da
Modificabilidade Cognitivia Estrutural (MCE), na qual o seu idealizador – Feurstein3-
acredita que a modificabilidade está diretamente relacionada com a qualidade de
mediação e com os processos cognitivos e afetivos de uma pessoa.
Souza (2004, p.41) afirma que “a aprendizagem mediada é o caminho pelo qual
os estímulos são transformados pelo mediador por suas intenções , emoções e cultura.
O mediador seleciona os estímulos mais apropriados, filtra-os, elabora esquemas,
amplia alguns , ignora outros”.
Nesse sentido, tanto o papel a ser desempenhado pela biblioteca como pelo
profissional bibliotecário está em ser mediadores entre os produtos e serviços
informacionais e os usuários de forma a garantir-lhes aprendizagens significativas.

3
Reuven Feurstein é um educador romeno criador da teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural
(MCE)
Esta questão encontra eco na fala de Milanesi (1997) quando o autor afirma que
em um centro de cultura, leia-se aqui biblioteca, devem estar conjugados três verbos:
informar, discutir e criar.
Informar significa proporcionar acesso amplo a todas as possibilidades de
registro do conhecimento.
Discutir pressupõe convivência, conversa, reflexão e troca de idéias.
Criar, diz respeito à criação de espaços e condições para o incentivo à produção
intelectual dos usuários frente às transformações sociais.

3 CONHECENDO O LOCAL DE APLICAÇÃO DO PROJETO

A Associação Paulista de Ensino é a mantenedora das Faculdades Batista de


Administração e Informática e da Faculdade Batista de Educação. Conta hoje com
cinco cursos de graduação: Administração, Ciências Biológicas, Letras, Normal
Superior, Pedagogia e Sistemas de Informação, além de oferecer diversos cursos de
extensão. Possui aproximadamente 564 alunos matriculados na graduação e mais 70
alunos nos cursos de extensão.
A Biblioteca da Associação Paulista de Ensino, como é mais conhecida, data da
fundação das Faculdades Batista no ano de 2001. Conta com um acervo de
aproximadamente 5.000 exemplares de livros que abrangem as áreas dos cursos
oferecidos além de outros de interesse geral. Da mesma forma, possui assinaturas de
periódicos correntes4 em meio a outros não correntes. Possui cerca de 300 exemplares
de produções em diferentes mídias (CD, DVD, Disquetes, etc).
A equipe de trabalho é composta por 02 funcionários sendo um bibliotecário e
uma auxiliar de biblioteca.
Seus serviços estão totalmente automatizados facilitando o acesso por parte dos
usuários à pesquisa ao acervo. Para isso estão instalados 03 terminais específicos de
consulta. Disponibiliza ainda 01 sala de estudo individual com 09 cabines de estudo e
01 sala de estudo em grupo com 02 mesas e 08 cadeiras.

4
periódicos correntes: periódicos que possuem assinatura regular
periódicos não correntes: periódicos que não possuem mais assinatura regular
A Biblioteca tem por missão disponibilizar e subsidiar a informação junto ao
corpo docente e discente nas atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão.
Para melhor atender aos seus usuários a biblioteca oferece o serviços de
Empréstimo entre Bibliotecas (EEB) e o COMUT (Programa Nacional de Comutação
Bibliográfica). Além disso, disponibiliza outros serviços como: levantamento
bibliográfico, orientação no uso das normas da ABNT, visitadas monitoradas à
biblioteca, catalogação na publicação, empréstimo domiciliar, etc.

4 METODOLOGIA

Tendo como foco deste trabalho a propositura de ações que venham ampliar a
biblioteca como espaço educativo, o aporte metodológico para este fim tem suas bases
na pesquisa-ação pois, salvo melhor juízo, nenhuma outra metodologia se mostrou
mais adequada para atingir os objetivos propostos.
Segundo Thiollent (1992, p.15) a pesquisa-ação permite que o investigador
exerça “um papel ativo no equacionamento dos problemas, no acompanhamento e na
avaliação das ações desencadeadas em função dos problemas”. O autor define
pesquisa ação como sendo:
um tipo de pesquisa social com base empírica que é
concebida e realizada em estreita associação com uma
ação ou com a resolução de um problema coletivo e no
qual os pesquisadores e os participantes representativos
da situação ou do problema estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 1992, p.14).

Na pesquisa-ação, a proposta de ações tem um caráter prático dentro de


atividades coletivas e, uma vez que tanto o pesquisador como os sujeitos são
participantes do processo investigativo, é necessário definir com precisão, de um lado,
qual é a ação, quais os seus agentes, seus objetivos e obstáculos e, por outro lado,
qual é a exigência de conhecimento a ser produzido em função dos problemas
encontrados na ação ou entre os atores da situação.
A pesquisa-ação caracteriza-se especialmente pelo desencadeamento de ações
de caráter prático dentro de uma atividade coletiva. Nesse sentido, as questões
valorativas que a permeiam em cada local alteram sensivelmente o teor das propostas
feitas. Assim, o contexto, os atores e o processo devem ser analisados com a isenção
do pesquisador, ainda que ele também se constitua num dado da pesquisa.
Ao contrário da pesquisa social convencional, a pesquisa-ação não se prende
apenas à análise dos aspectos individuais manifestados como opiniões, atitudes,
motivações etc., mas procura observar e compreender a dinâmica dos problemas,
decisões, ações, negociações, conflitos e tomada de decisões entre os agentes do
processo de transformação da situação.
Desta forma, a pesquisa-ação como estratégia de pesquisa pode ser vista como
um modo de conceber e de organizar uma pesquisa social de finalidade prática e que
esteja de acordo com as exigências próprias da ação e da participação dos atores da
situação observada.
Os principais aspectos da pesquisa-ação enquanto estratégia metodológica que
devem ser considerados, são:
a) a interação entre pesquisador e os sujeitos implicados na questão;
b) o estabelecimento de prioridades para a resolução dos problemas
pesquisados;
c) o foco da investigação não são as pessoas e sim a situação social e os
problemas decorrentes dela;
d) o objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, em
esclarecer os problemas da situação observada;
e) a existência de um acompanhamento durante o processo das decisões a
serem tomadas levando em consideração os atores da situação;
f) a visão de que as ações desenvolvidas são amplas e visam o aumento do
conhecimento dos pesquisadores bem como do grupo envolvido.
Tais exigências podem acarretar dificuldades que vão desde a aceitação do
pesquisador pelos demais atores do processo, até a definição clara dos problemas
considerados e a participação efetiva e conjunta entre pesquisador e participantes.
Nesse sentido, Thiollent (ibid, p.16) declara que, “com a pesquisa-ação os
pesquisadores pretendem desempenhar um papel ativo na própria realidade dos fatos
observados”, a realização de levantamentos de dados e a construção de relatórios
sendo essenciais, se constituem em estratégias que devem garantir elementos
significativos de análise.
A partir deste entendimento foram selecionadas algumas ações educativas, que
se constituem em projetos, com a finalidade de obter os objetivos traçados que dão
conta da pretensão que se coloca como foco, que é ampliar o espaço educacional da
biblioteca, tornando-a também um centro de ensino-aprendizagem. São elas:

 Sensibilização dos professores e outros funcionários:


O objetivo desta ação é sensibilizar os professores e os demais envolvidos no
processo educativo dos alunos sobre a importância da utilização do espaço da
biblioteca e de seu papel em um contexto acadêmico por meio de palestras
explicativas, concursos culturais, cine-fóruns, vídeo institucional, participação em
reuniões de coordenação etc.

 Concursos literários:
Esta ação tem como objetivo promover concursos literários de forma a despertar
junto aos usuários o gosto pelas atividades literárias. As estratégias a serem utilizadas
são divulgação do concurso, nomeação da banca avaliadora, regulamento, período de
inscrição, avaliação, resultado e premiação.

 Teatro:
O objetivo desta ação consiste em proporcionar aos usuários um contato maior
com o teatro através de apresentações teatrais, workshops e oficinas de iniciação ao
teatro.

 Curso de Contação de Histórias:


O objetivo desta ação tem como público alvo os usuários da biblioteca e demais
convidados visando capacitar aos participantes para realizar contação de histórias para
interessados de diversas faixas etárias.
 Saraus literários:
Tem por finalidade possibilitar aos usuários envolvidos expressar-se por meio de
manifestações artístico-literárias.

 Oficinas de normalização bibliográfica:


O objetivo desta ação é capacitar aos participantes quanto ao uso das normas de
trabalhos acadêmicos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

 Café com o autor:


Consiste em proporcionar aos usuários da biblioteca um momento de conversa
ou discussão com um autor convidado.

 Oficinas de criatividade:
Tem como objetivo proporcionar aos usuários a realização de atividades
relacionadas às artes com vistas a sensibilização dos mesmos para apreciação do belo
enquanto estética.

5 AVALIAÇÃO

Todo o projeto é avaliado a partir de indicadores quantitativos e qualitativos com


a finalidade de verificar a qualidade e o efeito das ações do projeto e saber se os alvos
desejados ou planejados estão sendo atingidos. Para tanto, são elaboradas fichas
avaliativas contendo critérios de avaliação. A avaliação do projeto é do tipo somativa.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do objetivo proposto deste trabalho que é ampliar o espaço da biblioteca


para um espaço de ensino e aprendizagem, conclui-se que a aplicação e o
desenvolvimento de ações educacionais por meio de projetos é uma alternativa viável
na tarefa de possibilitar aos usuários maior autonomia na busca por informações e
conseqüentemente torná-los protagonistas de sua aprendizagem. Não obstante, os
resultados demonstram que no caso da Biblioteca das Faculdades Batista, o
desenvolvimento de projetos com ações educativas tem proporcionado aos seus
usuários uma maior apropriação do espaço da biblioteca não somente para
circunstâncias pontuais como, por exemplo, realizar empréstimos e devoluções de
materiais, mas para além ao encontrar um local atrativo e diferenciado.
Da mesma forma, percebe-se que a Biblioteca vem tornando-se um local
reconhecido na instituição por seus produtos e serviços bem como por suas atividades
culturais. É salutar destacar que a tríade proposta por Milanesi (1997) para um centro
de cultura que é informar, discutir e criar tem sido a busca constante pela Biblioteca das
Faculdades Batista em suas ações visando tornar-se também um centro de cultura
dentro da própria faculdade e na comunidade local.

REFERÊNCIAS

HERNÁNDEZ, Fernando ; MONTSERRAT, Ventura. A organização do currículo por


projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Tradução de Jussara H.
Rodrigues 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
MACHADO, Nilson. Educação: projetos e valores. 3.ed. São Paulo: Escrituras, 2002.

MILANESI, Luís. A casa da invenção: biblioteca, centro de cultura. 3.ed. São Paulo:
Ateliê Editorial, 1997.
PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola. Tradução de
Bruno Charles Magne. Porto Alegre: Artmed, 1999.
SILVA, Waldeck Carneiro da. Miséria da biblioteca escolar. 2.ed. São Paulo: Cortez,
1994. (Coleção questões da nossa época, 45).
SOUZA, Ana Maria Martins de; DEPRESBITÉRIS, Lea; MACHADO, Osny Telles
Marcondes (Orgs.). A mediação como princípio educacional: bases teóricas das
abordagens de Reuven Feurstein. São Paulo: Ed. Senac, 2004.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 5.ed. São Paulo: Autores
Associados, 1992.
O PERFIL DO NOVO PROFISSIONAL DE INFORMAÇÃO VOLTADO À
PRESERVAÇÃO

INGRID BECK1

Resumo

Nas duas últimas décadas, com o advento da era da informação, as mudanças conceituais
redirecionaram os princípios da preservação. A necessidade de salvaguardar grandes massas
documentais em suportes frágeis fez mudar o modo de gerenciar e preservar a informação.
Surge uma nova mentalidade que contempla, em um cenário aberto, todos os meios que dão
suporte à informação registrada. A preservação não mais se restringe a tratar objetos
singulares, mas promove estruturas de proteção para as multimídias. Dentro deste contexto
surge um novo profissional de informação.

Palavras-chave: preservação, profissional da informação

1 INTRODUÇÃO

Segundo Dan Hazen (2001, p. 4), a preservação envolve três atividades


principais:

1) a adequação dos ambientes à preservação;

2) os tratamentos individualizados de conservação; e

3) a transferência do conteúdo intelectual de um formato para outro, no caso


microfilmagem, a digitalização e migração continuada de mídias digitais.

Como "cada uma dessas atividades encerra numerosas atividades específicas"


e os tratamentos individualizados envolvem custos altíssimos, a salvaguarda
dos acervos por meio dos "controles ambientais aperfeiçoados são
normalmente a primeira opção de preservação".

Hazen (1997, p. 3) recomenda que "além dos conhecimentos técnicos e


científicos inerentes à preservação, a seleção identifica o que deve ser
preservado e que as decisões de preservação por isto precisam "ser da
responsabilidade daqueles que definem a política e que distribuem os recursos
para implementá-la". Neste sentido, Conway (1997, p. 6) considera a

1
Museóloga, Mestre em Ciência da Informação
preservação "uma ação gerencial, que compreende políticas, procedimentos e
processos, que juntos evitam a deterioração, prorrogam o acesso à informação
e intensificam a sua importância funcional".

2 O ASPECTO GERENCIAL DA PRESERVAÇÃO

Este novo modo de reconhecer a preservação como uma atividade que


faz parte do gerenciamento de coleções surgiu na década de 1980. A mudança
principal partiu da reflexão sobre a relação de custo-benefício para instituições
detentoras de acervos culturais, entre restaurar artefatos, como peças únicas, e
preservar a longo prazo a integridade das coleções. Os programas passaram a
ser redirecionadas para ações abrangentes de conservação preventiva,
contemplando os acervos de forma global. Foi Gaël de Guichen quem definiu
da melhor maneira o que pode ser considerada uma verdadeira mudança de
mentalidade no campo da preservação do patrimônio cultural.

A conservação preventiva é um velho conceito no


mundo dos museus, mas só nos últimos 10 anos
que ela começou a se tornar reconhecida e
organizada. Ela requer uma mudança profunda de
mentalidade. Onde ontem se viam artefatos, hoje
devem ser vistas coleções. Onde se viam depósitos
devem ser vistos edifícios. Onde se pensava em
dias, agora se deve pensar em anos. Onde se via
uma pessoa, devem ser vistas equipes. Onde se via
uma despesa de curto prazo, se deve ver um
investimento de longo prazo. Onde se mostram
ações cotidianas, devem ser vistos programas e
prioridades. A conservação preventiva significa
assegurar a sobrevida das coleções. (Guichen 1995,
p.2)

A mudança está associada à visão de que a preservação só é eficiente


quando envolve um conjunto de ações planejadas que contribuem para a
salvaguarda das coleções como um todo. O que antes era um artefato passa a
valer como um mero suporte da informação. Quanto mais frágil é este suporte,
maior a prioridade para ações de preservação.

Quando ainda eram direcionadas ao artefato histórico, as prioridades de


preservação eram orientadas para a antiguidade. Posteriormente, com a
constatação da grande fragilidade dos papéis modernos, estas prioridades
foram redirecionadas para salvar a informação indiferentemente do tipo de
suporte. Esta tendência se acentuou com a introdução de novas mídias,
ampliando-se o escopo de ação para os diferentes suportes documentais. A
vulnerabilidade destes passou a exigir uma atuação mais concentrada no
planejamento de ações preventivas contra a perda da informação.

No caso dos suportes tradicionais, a preservação de longo prazo


poderia ser assegurada com medidas preventivas relacionadas ao uso
adequado de materiais em sua produção e ao manejo correto das condições
ambientais, de guarda e de segurança física. Poderiam assim ficar
armazenados por décadas, ou até séculos, sem haver uma interferência direta
em seus suportes. Já no caso dos documentos digitais, além da necessidade
de prever, a partir da criação dos registros, os sistemas funcionais que
assegurem a integridade da informação a longo prazo, faz-se necessária a
atenção permanente e a intervenção reiterada de migração para as mídias
atualizadas. Segundo Cook, (2000, p.10), com isto perde-se a "noção confortável de
valor permanente".

3 O NOVO PROFISSIONAL DE INFORMAÇÃO

A diversidade de demandas de preservação de registros documentais


em diferentes mídias cria uma nova circunstância, e exige a participação
efetiva dos profissionais de informação neste processo. Segundo Garlick (2001,
p. 22), "é necessário estabelecer uma base comum de conhecimentos,
reunindo e compartilhando informações [...] relacionadas à instituição. Uma vez
que contam com esta base de conhecimentos podem ser formuladas políticas
gerais, tanto administrativas como técnicas, para a preservação dos acervos."

Esta base comum, contemplando a missão institucional e a política de


aquisição, orienta a seleção de preservação, sobre a relevância das
informações e das condições de vulnerabilidade dos suportes. Ao reunir e
analisar estas informações em uma base interdisciplinar, a equipe assegura
que as ações planejadas adquiram uma relevância institucional e condições de
continuidade.

O profissional de informação de hoje precisa estar interado das


responsabilidades que surgem, diante do fenômeno informacional que apenas
está por se iniciar. Há que se dar atenção a um novo perfil, mais interativo e
com vocação multidisciplinar, adequado aos novos contextos institucionais.
Como as decisões de preservação exigem a participação efetiva destes
profissionais, cabe uma reflexão se a sua formação é adequadamente
contemplada pelos currículos de Biblioteconomia e Ciência da Informação. O
exercício da profissão prevê a sua atuação em planejamento, mas não
especifica o viés da preservação documental, como uma atividade em que este
profissional deva efetivamente participar. Entende-se que as atribuições deste
profissional de informação relacionadas ao planejamento de preservação não
devem ser confundidas com as atividades específicas do profissional de
conservação. Elas envolvem a interlocução, em uma base interdisciplinar.

O Decreto 56725-65, que regulamenta a Lei no 4.084, de 30 de junho de


1962, dispõe sobre o exercício da profissão de Bibliotecário, enunciando em
seu art. 5o , constante no capítulo II a Atividade Profissional, assim afirmando:

A profissão de Bibliotecário, observadas as


condições previstas neste Regulamento, se
exerce na órbita pública e na órbita privada por
meio de estudos, pesquisas, análises, relatórios,
pareceres, sinopses, resumos, bibliografias
sobre assuntos compreendidos no seu campo
profissional, inclusive por meio de
planejamento, implantação, orientação,
supervisão, direção, execução ou assistência
nos trabalhos relativos às atividades
biblioteconômicas, bibliográficas e
documentológicas, em empreendimentos
públicos, privados ou mistos, ou por outros
meios que objetivarem, tecnicamente, o
desenvolvimento das bibliotecas e centros de
documentação. (Grifo nosso)

Oliveira (2005, p.104) observa acertadamente que a Lei n° 4.084/62


limita, de certa forma, "o exercício do bibliotecário, pois não acompanha as
mudanças ocorridas no cenário profissional e não abre possibilidades para o
bibliotecário lidar com a informação nos diferentes suportes e contextos
(institucionais e sociais) em que a mesma passou a se apresentar", e ainda
considera a necessidade de se repensar tal lei. (OLIVEIRA, 2005, p.104)

De fato, a participação nas atividades gerenciais de preservação implica


considerar todos os suportes e meios de registro da informação, inclusive o
digital. A autora (p. 100) menciona como parâmetro o Bureau of Labor Statistics
– U. S. Department of Labor, em seu Occupational Outlook Handbook (2004),
que define "o bibliotecário como profissional da informação que, a partir de uma
redefinição do conceito de biblioteca, passou a redesenhar as atividades do
seu cotidiano profissional à luz da inserção das novas tecnologias." Além das
atividades técnicas assumem também funções de cunho administrativo e
gerencial, "passando a coordenar equipes de funcionários e a desenvolver e
dirigir programas e sistemas de informação, assegurando que a informação
seja organizada de maneira que atenda as necessidades dos usuários."

Segundo Oliveira (p. 104), "já o parecer CNE/CES n° 492/2001, da Lei


de Diretrizes e Bases do Ministério da Educação – MEC pode ser considerado
como um importante avanço no sentido de mudar a visão restrita." Nela, as
competências dos profissionais de informação se ampliam, incorporando a
interdisciplinaridade, a habilidade investigativa e gerencial:

Gerais:

• Gerar produtos a partir dos conhecimentos adquiridos e divulgá-los;


• formular e executar políticas institucionais;
• elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos;
• utilizar racionalmente os recursos disponíveis;
• desenvolver e utilizar novas tecnologias;
• traduzir as necessidades de indivíduos, grupos e comunidades nas
respectivas áreas de atuação;
• desenvolver atividades profissionais autônomas, de modo a orientar, dirigir,
assessorar,
• prestar consultoria, realizar perícias e emitir laudos técnicos e pareceres;
• responder a demandas sociais de informação produzidas pelas
transformações; e
• tecnológicas, que caracterizam o mundo contemporâneo.
Específicas para Biblioteconomia:

• Interagir e agregar valor nos processos de geração, transferência e uso da


informação, em todo e qualquer ambiente;
• criticar, investigar, propor, planejar, executar e avaliar recursos e produtos
de informação;
• trabalhar com fontes de informação de qualquer natureza;
• processar a informação registrada em diferentes tipos de suporte, mediante
a aplicação de conhecimentos teóricos e práticos de coleta, processamento,
armazenamento e difusão da informação;
• realizar pesquisas relativas a produtos, processamento, transferência e uso
da informação.

4 CONCLUSÃO

A inclusão do conhecimento de preservação documental na formação


dos profissionais de informação constitui, de fato, um grande desafio,
considerando a necessidade da participação destes em funções estratégicas
de planejamento integrado a políticas abrangentes de preservação.

Se a preservação deve permear todas as atividades dos profissionais de


informação, este conteúdo e a forma do seu ensino deveriam ser repensados.

Uma possibilidade coerente é que a preservação documental seja


integrada ao conteúdo central dos cursos e que adicionalmente possa ser
oferecida uma disciplina que contemple a preservação documental abordando
o gerenciamento dos recursos de preservação dos diferentes suportes, visando
o acesso continuado.
REFERÊNCIAS

BECK, Ingrid. O ensino da preservação documental nos cursos de


arquivologia e biblioteconomia: perspectivas para formar um novo
profissional.(Dissertação de Mestrado), Niterói: Universidade Federal
Fluminense/IBICT, 2006, 143 p.

COOK, Terry. Archival Science and Postmodernism: New formulations for old
concepts. Archival Science, vol.1, p. 13-24, 2000. Disponível na Base de
Dados Capes: <http://www.mybestdocs.com/cook-t-postmod-p1-00.htm>.
Acesso em: 12 outubro 2005.

GARLICK, Karen. Planejamento de um programa eficaz de manutenção de


acervos. In: Planejamento e Prioridades, pp. 21 a 30. Rio de Janeiro.
Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos. Arquivo Nacional,
2ª. ed. 2001.Disponível em: >www.cpba.net< Acesso em 13/10/2005.
Disponível em: <www.cpba.net>. Acesso em 12 janeiro 2006.

GUICHEN, Gaël de. La conservation préventive: un changement profond de


mentalité. Study series, Bruxelas: ICOM-CC/ULB, v.1, n 1, p. 4-5, 1995.
Disponível em: <http://icom.museum/study_series_pdf/1_ICOM-CC.pdf>.
Acesso em: 5 setembro 2005.

HAZEN, Dan C. Desenvolvimento, gerenciamento e preservação de coleções


Tradução José Luiz Pedersoli Junior In: Planejamento de preservação e
gerenciamento de programas. [1997 1. ed.; 2001, 2. ed.] 2. ed., 33-36, Rio de
Janeiro : Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos: Arquivo
Nacional, 2001. 58 p. Disponível em: <www.cpba.net>. Acesso em 12 janeiro
2006.

OLIVEIRA, Marlene (org). Ciência da Informação e Biblioteconomia: novos


conteúdos e espaços de atuação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. 143 p.
O TEXTO FÍLMICO NA PÓS-MODERNIDADE: SEU ESTATUTO PATRIMONIAL

LEILA BEATRIZ RIBEIRO1


VALÉRIA CRISTINA L. WILKE2
CARMEN IRENE C. DE OLIVEIRA3
WAGNER MIQUÉIAS F. DAMASCENO4

Resumo

O texto fílmico é abordado a partir do entrelaçamento de algumas questões que colocaram a relação
da memória com a informação e o patrimônio na dinâmica das transformações da sociedade dita pós-
moderna. A partir de estudos já fundamentados sobre o objeto fílmico como documento informacional,
desenvolve-se uma discussão a partir de acepções do objeto museológico e da musealidade, para
indicar as condições de possibilidade de ler os produtos culturais na esteira de transformações, que
conduzem a uma nova concepção de patrimônio atrelada às apropriações sociais.

Palavras-chave: Texto fílmico. Patrimônio. Pós-modernidade.

1 INTRODUÇÃO

A museologia como campo interdisciplinar conjuga para si diversas áreas do


conhecimento, e tanto a prática museológica quanto a teoria que a cerca não
escapam disso. Como ciência, ela dá conta dos processos do conhecimento e do
real e é “contaminada” pelas questões da sua contemporaneidade.
Ao pensarmos em museologia logo nos remetemos ao museu, seu espaço
referencial, no qual encontramos “todo tipo de objetos que apresentem interesse
histórico, arquitetônico, etnológico, antropológico, tecnológico, artístico e cultural”.
(CALDEIRA, 1998, p. 393) Nesse sentido, a museologia pode ser entendida como a
ciência que engloba a filosofia das obras de arte no museu, assim como a sua teoria
e princípios de conservação e apresentação.
No entanto, a concepção museológica contemporânea admite que se pense a
museologia descolada do seu suposto objeto – o museu –, abarcando o que

1
Doutora em Ciência da Informação pelo IBICT/ECO-UFRJ, é Professora Adjunta I da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro/Centro de Ciências Humanas e Sociais, leilabribeiro@unirio.br.
2
Graduada em Filosofia e Doutoranda em Ciência da Informação pelo IBICT/UFF, é Professora
Assistente da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro /Centro de Ciências Humanas e
Sociais, valwilke@terra.com.br
3
Graduada em Letras e Doutoranda em Ciência da Informação pelo IBICT/UFF, é Técnica-
administrativa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Centro de Ciências Humanas e
Sociais, irenecor@brfree.com.br
4
Discente de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, é Bolsista de
Iniciação Científica do projeto de pesquisa institucional Texto Fílmico, Informação e Memória.
Bellaigue (1992, p. 2) denomina “pluralidade de abordagens do real”. Assim, tanto a
teoria quanto a prática museológica procuram dar conta desta pluralidade.
Tal concepção, nós a encontramos em Scheinner (2005, p. 110), que entende
a museologia como ciência e concebe o museu como seu instrumento e não como
seu objeto, ampliando assim sua noção e tornando-a capaz de “[...] gerar novas
formas de museus.”
Os caminhos de nossa investigação arregimentam questões acerca da
concepção contemporânea de museologia, memória e documento fílmico. Nesse
sentido, nossa concepção de museologia como ciência que procura dar conta da
pluralidade de abordagens do real, cuja existência independe de um veículo
material, adequa-se a um estudo que entende o objeto fílmico como um documento
de memória, do real e do imaginário que se constitui imageticamente. Como destaca
Chagas (1994) as relações entre o documento como suporte de informação e a
memória é visceral, já que esta funciona no reconhecimento e na atribuição de
sentido quando nos encontramos diante de um objeto informacional.

2 OBJETOS INFORMACIONAIS E MUSEALIDADE

A relação que procuramos estabelecer entre o objeto fílmico e memória


passa, necessariamente, pela preservação, cuja natureza e projeto está ligada ao
esforço contínuo em retardar a perda do patrimônio. Nessa dinâmica, segundo
Ferrez (1991), a documentação museológica surge para dar conta da preservação
da informação que os acervos museológicos podem gerar, constituindo-se, em um
conjunto de informações sobre cada um dos itens em um acervo museológico,
representando-o por meio de palavras e de imagens. A documentação dos objetos
museológicos, seguida pela representação e disseminação da informação vai ao
encontro do eterno esforço do museu em preservar, além da obra em si; inclui a
possibilidade de um processo informacional, ou seja, a idéia da obra, já que “os
objetos produzidos pelo homem são portadores de informações”. (FERREZ, 1991, p.
65-66) A autora afirma que as informações são de caráter intrínseco e extrínseco e a
documentação preserva este potencial informacional do objeto museológico. Isto
parece ser uma boa solução, tendo em vista que o museu tem a árdua tarefa de
preservar obras ditas efêmeras. Entretanto, quando não há mais a matéria da qual
foi elaborada a obra, é a partir de uma persistência do processo informacional, na
manutenção da idéia da obra – mesmo que em outra forma de amostragem – que o
museu preserva a obra em si. A informação intrínseca é a que pode ser deduzida do
próprio objeto, a partir da análise das suas propriedades físicas, ao passo que as
extrínsecas são aquelas obtidas de outras fontes que não o próprio objeto em si.
(FERREZ, 1991) Tais informações são passíveis de serem apreendidas nas
relações que o objeto museológico mantém com seu entorno. Trabalhando nessa
percepção, portanto, temos no museólogo o intermediário entre os indivíduos e o
acervo museológico.
A relação do museu com seu acervo se estabelece, entre outras coisas, na
percepção dos mesmos como suportes informacionais. Tanto a prática quanto a
teoria museológica convergem em um mesmo ponto: a musealidade como condição
de distinção entre um objeto qualquer e o objeto museológico. A musealidade é o
valor imaterial que cada objeto adquire dentro do espaço museológico. Segundo
Maroevic (1997, p. 45),
[...] a musealidade é a característica de um objeto
material que, inserido numa realidade, documenta outra
realidade: no tempo presente é um documento do
passado, no museu é um documento do mundo real,
dentro de um espaço é um documento de outras
relações espaciais.

O conceito de musealidade é adotado para afirmar e criar liames na


compreensão da relação entre museologia e informação, o que muitas vezes é
embaçada pela percepção unilateral que, desde sua origem mitológica aos dias de
hoje, tende a ver o museu como espaço de contemplação. Portanto, tratamos agora
de dois “agentes” nos espaço museológico: musealidade e informação.
A musealidade surge para o objeto museológico como um valor imaterial que
o “reveste” de um significado diferente do seu originário. Para Loureiro (2000), a
discussão sobre “objeto museológico” passa necessariamente por questões acerca
do seu caráter simbólico e do seu papel de representante de uma realidade ausente,
distante ou já inexistente, de ser elemento de um conjunto artificial, uma coleção.
Ernst Cassirer (1997), ao discutir o homem e as suas formas de
relacionamento com o meio, o propõe como animal symbolicum. Na sua concepção,
além do sistema receptor e do sistema de reação, presentes em todos os animais,
há no homem um terceiro sistema, que funciona para ligá-lo ao seu meio: o
simbólico. Ele define o símbolo distinguindo-o do sinal: o primeiro é uma parte do
mundo humano do sentido e o segundo, parte do mundo físico do ser. Os sinais são
operadores e os símbolos são designadores. Um sinal está relacionado com a coisa
a que se refere, de forma fixa e única, ao passo que um símbolo humano genuíno
não se caracteriza pela uniformidade, mas pela versatilidade. O símbolo não é rígido
nem inflexível, ele é móvel.
O objeto museológico pode ser compreendido em analogia a esta noção de
símbolo do qual nos fala Cassirer, como que realizando este mesmo movimento. A
mobilidade do objeto museológico é conferida pela musealidade, na qual um objeto
qualquer passa de operador a designador, ligando-se a uma nova dimensão da
realidade.
A informação nesse contexto museológico adquire um caráter extremamente
mutável num movimento simétrico à mobilidade do símbolo. Nessa relação, entre
musealidade e informação no espaço museológico há um contínuo movimento de
perda e ganho de significações. Em Latour (2000), encontramos uma abordagem do
processo de recorte dos objetos do mundo, partes decalcadas e transformadas em
representação do todo, quando os cientistas naturalistas constroem seus acervos de
estudo. No caso, em uma coleção de pássaros, a pluralidade da espécie em seu
habitat e suas relações com seu meio agora dentro de uma coleção encontram-se
limitadas. Tal proposição torna-se bastante pertinente à medida em que abordamos
objetos que, dentro do espaço museológico se “revestem” de outros significados.
Tendo em vista a relação entre informação e objeto museológico, a nossa
abordagem considera os aspectos representacionais relacionados à intencionalidade
do qual se reveste o objeto quando trabalhado pelo sujeito. Os objetos produzidos
pelo homem trazem a conformidade material e imaterial de uma cultura como uma
“carga” informacional, latente, presente. Tal informação, intrínseca ao objeto,
externaliza-se por intermédio de uma linguagem qualquer, cuja expressividade
considera tanto as condições dos agentes envolvidos no processo de comunicação
quanto os códigos.
Dessa forma, conforme Loureiro (2000), a museologia trabalha com objetos
informacionais e o processo informacional ocorre no espaço em que ela atua.
3 O OBJETO FÍLMICO COMO DOCUMENTO/MONUMENTO PARA A MEMÓRIA

Tendo o texto fílmico como objeto de estudo pretendemos identificar os


indícios de um novo momento na história – aqui chamado de pós-modernidade –
nas representações cinematográficas e perceber sinais de um novo momento ao
qual o museu e seus processos museológicos não se encontram alheios. Tal
empreendimento torna-se viável e plausível já que apresentamos o texto fílmico
como produto cinematográfico (OLIVEIRA; RIBEIRO; WILKE, 2004). Partindo daí,
consideramos esse produto final como um documento legitimado o seu estatuto de
documento, que o estudo da pós-modernidade representada no cinema torna
possível.
O estatuto de documento/monumento é apropriado quando pensamos no
texto fílmico tanto como repositário como dinamizador da memória coletiva ou social.
A posição que adotamos alinha-se com as teorizações de Le Goff (1984) em seu
texto clássico “Documento/Monumento”. Nele, o historiador nos diz que a matéria da
memória pode apresentar-se sob duas formas: os monumentos e os documentos. O
primeiro é herança do passado enquanto o segundo é escolha do pesquisador (ele
diz historiador). Ele traça uma trajetória da utilização destes dois termos e como
oscilaram os diferentes sentidos que lhes aportaram: documento como prova, como
testemunho histórico (já no início do século XIX); monumento como elemento ligado
ao desejo de perpetuação, como grandes coleções de documentos. O início do
século XX vê uma mudança no estatuto do documento; se antes ele se referia ao
texto escrito, passa, agora, a referenciar tudo que pode ser um registro humano e
suscetível de servir à investigação científica.
A história faz-se com documento escritos, sem dúvida.
Quando estes existem. Mas pode fazer-se, deve fazer-se
sem documentos escritos, quando não existem. [...] Numa
palavra, com tudo o que, pertencendo ao homem, depende
do homem, serve o homem, exprime o homem, demonstra a
presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do
homem. (LE GOFF, 1984, p. 98)

Le Goff toma como referência Samaram: “Há que tomar a palavra


‘documento´ no sentido mais amplo, documento escrito, ilustrado, transmitido pelo
som, a imagem, ou de qualquer outra maneira.” (1961 apud LE GOFF, 1984, p. 98)
No entanto, a evolução do conceito continua. Segundo Le Goff, foi Paul Zumthor
quem descobriu o que transforma o documento em monumento: é o seu uso pelo
poder. Dessa forma o documento começa a ser problematizado com relação a sua
aparente neutralidade, ou seja, ele não é produzido sem uma intencionalidade
inconsciente (ou não?) e as análises devem dar conta deste aspecto. Esta nova
concepção de documento possibilita que se lhe pense considerando as condições
sócio-históricas de sua produção e a sua condição de documento/monumento.
As condições de problematizar a memória a partir do texto fílmico, agora
entendido como um documento/monumento, tornam-se viaáveis. Como nos diz
Dodebei,
Os documentos são constructos que se revelam a partir de
escolhas circunstanciais da sociedade que cria objetos, é
representação uma abstração temporária e circunstancial
do objeto natural ou acidental, constituído de essência
(forma ou forma/conteúdo intelectual), selecionado do
universo social para testemunhar uma ação cultural.
(DODEBEI, 1997, p. 176)

A memória, por seu turno, tem sido objeto de intensa discussão, pesquisa e
teorização nos últimos anos. Isso não significa que ela não tenha tido sua
importância outrora. Considerando nossa civilização ocidental, remonta aos gregos
o pensar a memória. Segundo Candau (1996), desde este período, Mnémosyne,
divindade grega da memória, ocupa um lugar de destaque no panteão dos deuses.
Isto porque o trabalho de memória era muito elaborado nas narrativas míticas de
uma sociedade essencialmente oral e cujas representações psicológicas de tempo e
de si estavam nelas marcadas. Candau nos diz que quatro grandes correntes
representativas deste mito puderam ser delineadas a partir do estudo dos textos
antigos.
A primeira relaciona-se aos aedos/poetas como Homero e Hesíodo, que
executavam exercícios menmotécnicos para melhor repassar os eventos e nomes
de um passado míticos e colocar em ordem o mundo dos heróis e dos deuses. Este
trabalho é feito com o auxílio das Musas, filhas da Memória.
A segunda corrente diz respeito ao mito de Mnèmosyne como elemento do
qual dependem as almas após a morte, força que organiza e determina a cadeia de
encarnações sucessivas dos homens. No Hades, é necessário que o homem beba
das águas do rio Léthé, para esquecer o passado e recomeçar sua jornada.
A terceira corrente relaciona-se ao platonismo. Com Platão, a memória torna-
se a faculdade de conhecimento, onde o esforço de rememoração se confunde com
a tarefa de buscar a verdade. Nesse sentido, procurar e aprender constituem uma
rememoração e, em contrapartida, o esquecimento é um desperdício de saber.
(PLATÃO apud CANDAU, 1996, p. 21) Finalmente, relembrar-se de um
conhecimento que já se adquiriu é unir-se, novamente, ao mundo das Idéias. Temos,
então, a memória como um dos caminhos de se atingir a perfeição humana.
A última corrente tem como representante Aristóteles e sua concepção de
memória nela estabelecida anuncia aquela mais moderna. Nesse caso, a memória
funciona para que o homem elabore representações do tempo que passa. Ela não o
libera, como no caso da primeira corrente, mas permite a lembrança e a percepção
temporal.
Desde esse período até os dias atuais, o conceito de memória foi abordado
por filósofos de diferentes escolas e alguns deles cabem ser destacados.
No século XIX, temos as concepções de Halbwachs e Bergson. Este
estabeleceu uma oposição entre perceber e lembrar, na qual a percepção é o
resultado de estímulos não devolvidos ao mundo exterior através de ações (nesse
sentido, ao perceber imagens do mundo exterior o cérebro pode retornar com
estímulos que desencadeiam ações; ou não. No último caso, dá-se a percepção). A
lembrança, por sua vez, é aquilo que estava submerso e vem à tona em função da
percepção que se dá no tempo presente. A memória possibilita que os fatos do
passado emerjam e desloquem estas percepções, já que “é do presente que parte o
chamado ao qual a lembrança responde”. (BERGSON apud BOSI, 1994, p. 47)
Bergson distingue uma memória-hábito (esquemas que o corpo guarda e utiliza de
forma automática sempre que necessário) “que se dá pelas exigências de
socialização” (BOSI, 1994, p. 49), da lembrança pura, evento independente de
qualquer hábito e que emerge trazendo um acontecimento único do passado,
constituindo uma memória evocativa e não mecânica. Em fins do século XIX,
na esteira dos trabalhos de Durkheim, Maurice Halbwachs (2004) elabora seus
estudos acerca da memória, estabelecendo um marco para aqueles que,
posteriormente, se aventuraram nesta seara. É sobretudo em “A Memória Coletiva”
que encontramos suas articulações. De início, ele estabelece a relação entre
memória individual e memória coletiva, mostrando que nossas lembranças são
coletivas; recordamos em função do(s) outro(s), mesmo quando se trata de eventos
aos quais presenciamos sozinhos e objetos que vislumbramos sem nenhuma outra
testemunha. Segundo ele, isso ocorre porque nunca estamos sozinhos, pois sempre
“carregamos conosco” uma quantidade de pessoas que não se misturam. A título de
exemplo, ele cita um passeio pela cidade de Londres. Apesar de fazê-lo sozinho,
suas lembranças ao passar por lugares conhecidos, é acionada por narrativas de
fatos que ele leu ou ouviu em outros lugares ou de outras pessoas. Tal
consideração traz conseqüências importantes à nossa investigação. É possível
pensar o texto fílmico como substrato a um trabalho de rememoração do passado
ou, também, como um elemento estruturador de identidade/memória? Halbwachs
estabelece que para o processo de lembrança, testemunhas materiais – pessoas
presentes ao evento que o sujeito presenciou – não são necessárias. Este
posicionamento leva à hipótese da existência de uma memória-diálogo (NAMER,
1987, p. 25). Esta noção reside: a) na origem social de nossa necessidade de
lembrar – lembrar em função de perguntas/situações que nos são colocadas (por
nós mesmos ou por terceiros); b) na relação de exterioridade entre a lembrança e o
objeto lembrado – daí o trabalho intelectual de reconstruir a memória com a
linguagem. A articulação entre memória individual e memória coletiva é racional; é
uma operação de inteligência e através dessa faculdade localizamos uma lembrança
e a ligamos a uma imagem e/ou a um lugar ou acontecimento. Finalmente, a
memória individual é social porque: a) o seu trabalho é intelectual – para localizar
nossas lembranças fazemos uso de nossa inteligência presente, aquela que
depende de nossa sociedade; b) a rememoração parte do presente (experiência
exterior – social) para o passado (experiência interna – individual); c) as lembranças
são compartilhadas – elas estão em relação com um conjunto de lembranças
comuns ao(s) grupo(s) do qual fazemos, fizemos ou faremos parte.
O que Halbwachs (2004) faz é centrar sua teoria sobre a memória na noção
de grupo: a memória coletiva é a memória do grupo. Seguindo este caminho, ele
apresenta três grupos dos quais o indivíduo participa: a família, o grupo religioso e a
classe social. Para além disso, teria-se a nação. Atualmente, consideramos as
questões que se colocam acerca das múltiplas identidades que atravessam o sujeito
conforme suas posições e o fim do estado-nação, podemos ter uma reconfiguração
que nos leve a pensar em “diferentes memórias” estruturando-se a partir de
“diferentes quadros”. No entanto, é importante frisar que, a despeito do número de
grupos, para Namer (1987, p. 54) o trabalho de Halbwachs (2000, p. 54) procura nos
mostrar que “[...] a memória coletiva reconstrói o passado assegurando uma
totalização, ela unifica as memórias anteriores do grupo.”
Dentro dessa concepção, a memória coletiva parece estar mais ligada à idéia
de perpetuação de representações unificadoras e identitárias que caracterizam
determinado grupo, fazendo com que a memória social esteja mais relacionada ao
trabalho manipulativo de grupos hegemônicos em projetos de alcance longo (tempo)
e abrangente (todas as camadas sociais). A construção é uma tônica nos dois
processos, no entanto, parece estar mais clara e predominante no construto da
memória social.
Outro pensador, cujas teorizações acerca da memória são, também,
basilares, é Pierre Nora (1993). Seu conceito de lugar de memória problematiza o
medo do esquecimento, na medida em que encerra um dilema do século XX: não há
mais memória (no sentido de uma memória coletiva), logo os lugares de memória
são necessários à sua perpetuação. Representações? Simulacros? Daí, em Paris,
encontrarmos placas afixadas em lugares públicos nos quais tombaram, pelas mãos
dos alemães, os heróis da resistência francesa. Memória de ações e de pessoas
eternizadas em lugares simbólicos não é exatamente uma novidade em nossa
trajetória. O que seria novo é a discussão em torno desta memória que agora é
“fixada” em suportes físicos de naturezas diversas. Sem nos lançarmos em
julgamentos ou saudosismos, lembramos que cada época desenvolve sua noção
(necessária) de memória, que cumpre o papel essencial de responder aos anseios
emergentes e às questões inquietantes.
O texto fílmico é pensado aqui como um documento peculiar do processo de
produção cultural que se inicia no século XX, alçando o status não somente de
documento informacional, somente, mas também de lugar de memória. Nesse
sentido, considerando o estatuto do texto fílmico como documento/monumento,
procuramos problematizá-lo em função das informações que podem ser
representadas por intermédio dos códigos pertinentes à sua construção. A
informação do texto fílmico é diferenciada em função somente dos códigos
envolvidos na produção desse tipo de texto?
Nesse contexto, o texto fílmico como artefato humano e construído a partir de
um sistema próprio de significação deve ser entendido, também, como um
documento capaz de ser apreendido, entendido e interpretado pelo sujeito a partir
das informações que o estruturam internamente e daquelas que o reinserem no
contexto de produção. Isso porque, dada a dimensão de nossas propostas, este
documento/monumento informacional é um traço representativo do espaço-tempo
que o produziu.
Não resta dúvida que a informação tem merecido, desde meados do século
XX, uma focalização maior e diferenciada. As razões deste movimento nos
interessam, aqui, menos do que suas conseqüências. Em virtude desta atenção, a
informação começa a ser problematizada e definida em função de seu uso,
armazenamento, potencial comunicativo, inscrição/preservação, organização,
recuperação, seleção, produção etc. Cabe ressaltar, então, que há conceitos de
informação que se diferenciam conforme o enfoque adotado. No entanto, eles
sempre oscilarão em torno da idéia de algo que fornece um diferencial em
relação a um status anterior. A informação é algo que ainda não se tem, que se
busca, mas para isso é necessário, sobretudo, identificá-la como tal; ou seja, a
informação só é informação para aquele que sabe fazer uso dela.
Como nos diz Silva (1999), a informação depende do processo que a produz,
sendo de fundamental importância nos atermos, também, aos procedimentos que
vão desde sua produção à sua materialidade pela representação.
A peculiaridade do texto fílmico, no que se refere a sua condição de produção
artística, pode ser enfocada tendo em vista a questão do imaginário, das imagens
projetivas na constituição de uma memória, articulada por meio de imagem, som e
movimento. A partir do que Chagas (2003, p. 169) propõe em sua abordagem sobre
“uma representação de memória construída com o objetivo explícito de ocupar um
lugar no imaginário social republicano”, vislumbramos as condições de interpelar o
documento fílmico em seu potencial de representação cultural.
Nos estudos acerca do texto fílmico como documento informacional para a
memória, os aspectos da linguagem cinematográfica e do contexto de produção da
obra são preponderantes na compreensão de seu estatuto como construto cultural
no horizonte da modernidade e da pós-modernidade. (OLIVEIRA, RIBEIRO, WILKE,
2002)

4 MODERNIDADE, PÓS-MODERNIDADE

O termo modernidade nasce como uma negação ao passado: à Antiguidade e


à Idade Média. Para Fouygerollas (1996), ela é caracterizada por uma convergência
de ações individuais e coletivas e se define como projeto a partir de quatro vetores:
a) tendência imperiosa para a submissão da natureza ao poder do homem; b) crença
no individuo como valor moral supremo; c) aspiração geral a um governo saído da
opinião pública; d) representação da história caracterizada pelos irresistíveis
progressos da razão. O Renascimento abriu as portas para um novo momento no
pensamento europeu, no qual artistas e pensadores promoveram o resgate do
pensamento greco-romano.
Para muitos, a obra do filósofo francês René Descartes marca o nascimento
do pensamento moderno, que, através de sua máxima cogito ergo sum (penso, logo
existo), partiu em busca de uma compreensão e mediação do mundo através da
razão, a partir do que considerava a ciência perfeita: a matemática. Outros
importantes pensadores como Copérnico, Bacon, Galileu e Newton, vão contribuir
com a pavimentação de um caminho rumo à racionalidade científica pautada,
sobretudo, no rigor metodológico e experimental. Eles criaram as condições para a
ruptura com o que havia antes, e o homem moderno se forja na crença em uma
razão aliada a uma noção peculiar de progresso, alicerçada na neutralidade
científica e no domínio da natureza para melhor decifrá-la.
A submissão da natureza ao poder humano concede ao homem papel de
censor do seu meio. Acrescido do controle dos meios científicos e técnicos tal
empreendimento torna-se mais viável. A modernidade, ideal de emancipação
humana pelo emprego da razão, através do exercício da subjetividade liberada dos
seus condicionamentos divinos ou mundanos, parece confundir-se com o cálculo
contábil, o rendimento, a eficácia, dando origem a uma realidade comandada pela
tecno-ciência e pelo lucro econômico. (MARTELETO; RIBEIRO, 1994)
O projeto moderno alicerçado pela razão buscava dentre outras coisas o
desenvolvimento das necessidades e faculdades humanas (MARCUSE, 1978). O
desencanto, entretanto, surge com o desalinho do pensamento inicial que
desemboca em uma realidade dissonante da idealizada. Como nos diz Fougeyrollas
(1996), os recentes progressos das ciências e das técnicas parecem ter-se voltado
contra a sua finalidade libertadora inicial.
A ciência, para o filósofo moderno, herdeiro do
Iluminismo, era vista como algo auto-referente, ou seja,
existia e se renovava incessantemente com base em si
mesma. Em outras palavras, era vista como atividade
“nobre”, “desinteressada”, sem finalidade
preestabelecida, sendo que sua função primordial era
romper com o mundo das “trevas”, mundo do senso
comum e das crenças tradicionais, contribuindo assim
para o desenvolvimento moral e espiritual da nação.
(LYOTARD, 1988, p. ix)

A modernidade além de gerar novas configurações sociais, suscitou novos


processos identitários, como resultantes sempre transitórios e fugazes de processos
de identificação renegando assim, a mutabilidade e a transitoriedade que as
identidades culturais assumem. (SANTOS, 2000) A sociedade moderna, portanto,
amparada pelo projeto modernizante se estruturou sobre os pilares da emancipação
e da regulação. Para o sociólogo, tanto o vínculo religioso, desestruturado pelo
homem, quanto o vínculo étnico engolfado pela emergência do sentido de Nação e o
vínculo com a natureza degradado teoricamente pela revolução científica, não
constituíram barreiras para a hegemonia do vínculo indivíduo-Estado. Na
contemporaneidade, o que temos agora, é a revisão do paradigma epistemológico
da ciência moderna. O projeto moderno com sua negação ao pensamento medieval
prometia a emancipação das faculdades humanas através de uma sociedade
racional amparada por um desenvolvimento técnico-científico. No entanto, esta
promessa não se cumpriu.
Se a modernidade trazia consigo uma promessa, a pós-modernidade, por sua
vez, não se constitui como projeto e nada promete. O que Santos indica como uma
revisão do paradigma epistemológico, Lyotard define como sendo uma mudança no
estatuto do saber, que para a sociedade moderna estava intrinsecamente ligado à
ciência. Na pós-modernidade, além de ser um instrumento de poder, ele aguça a
sensibilidade do indivíduo e reforça a “capacidade de suportar o incomensurável”
(LYOTARD, 1988, p. xvii). Este saber não encontra sua razão de ser na homologia
dos experts, mas sim na paralogia dos inventores.
Na condição pós-moderna, o mundo moderno centralizado, mediado por
processos racionais, se desfragmentou, restando ao indivíduo – também
fragmentado – uma percepção do mundo deveras fraturado. Para Harvey (2000),
isso ocorre, dentre outras coisas, na transição do fordismo para as formas de
acumulação flexível, quando as novas formas organizacionais e as novas
tecnologias descentralizaram os processos de produção, acelerando-o e provocando
acelerações paralelas nas trocas e no consumo. Os sistemas de comunicação e de
fluxo de informações aperfeiçoados possibilitam a circulação de mercadorias. O
tempo-espaço na contemporaneidade é alterado pela velocidade das novas
tecnologias e pelas novas relações delas advindas. Isso é evidenciado pela “[...]
volatilidade e efemeridade de modas, produtos, técnicas de produção, processos de
trabalho, idéias e ideologias, valores e práticas estabelecidas.” (HARVEY, 2000, p.
258)

5 CONSIDERAÇÕES INICIAIS: PENSANDO SOBRE O OBJETO NA


CONTEMPORANEIDADE...

O estudo destas transformações na contemporaneidade surge aqui dentro da


lógica que concebe a museologia como ciência e campo interdisciplinar, onde o
museu se encontra presente e atua como instrumento que tente dar conta da
“pluralidade de abordagens do real”. No entanto, é sobretudo para responder ao
estatuto do texto fílmico como objeto patrimonial, neste contexto, que procuramos
destacar as relações que se estabelecem entre o documento informacional com a
memória e o patrimônio.
Nesse sentido, a pergunta deflagradora de Jeudy (1990) se aplica: A
preservação cultural dos objetos e dos costumes muda de forma e de finalidade?
Para respondê-la, o sociólogo mostra que a mudança que ocorre com relação à
função do monumento repercute na questão patrimonial, levando a novas
representações de patrimônio. “Ao invés de ser considerado uma aquisição, o
patrimônio apresenta-se como conquista e apropriação social, desafiando assim a
regularidade burocrática da classificação em Monumentos históricos.” Tal discussão
articula a questão da conservação em um contexto mutante e fragmentado, locus de
um mosaico de identidades culturais. O novo patrimônio deve ser problematizado a
partir das funções sociais das memórias nessa sociedade cambiante, na qual os
países industrializados desenvolvem suas próprias abordagens acerca das culturas
urbanas e regionais. A idéia é interrogar os objetos culturais sobre as mutações das
sociedades que os produziram. (JEUDY, 1990, p. 7-9)
Tendo em vista a centralidade das tecnologias na dinâmica contemporânea, o
texto fílmico alça o status de documento que forma e in-forma sobre identidades
culturais sedimentadas, emergentes, projetivas, projetadas, cambiantes, etc., mas
sempre indicadoras de um período fronteiriço entre modernidade e pós-
modernidade.

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Informação. Porto: Afrontamento, 1999.
RELAÇÕES PENDULARES NA MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO:
ARQUIVO - BIBLIOTECA - MUSEU

SILVIA MARIA DO ESPÍRITO SANTO1


EDUARDO MURGUIA MARAÑON2

Resumo

Objetiva-se, aqui, refletir sobre a organização do conhecimento, como parte nuclear da ciência
da informação. É observada uma dimensão teórica dos pontos de intersecção ou de
convergência, das instituições coletoras de cultura, entre os conceitos de informação, de
papéis profissionais e da recepção pelo usuário. O resgate de fontes de produções teóricas
associadas às práticas profissionais, sustentadas por teoria proporcionada pela produção
acadêmica, busca redirecionar os estudos dessas instituições coletoras de cultura. Retoma-se,
como linguagem figurada, o espectrum, para definir os limites e aproximações institucionais do
museu, do arquivo e da biblioteca como campos de trabalho, principalmente na esfera pública.
Abre-se um diálogo a partir das necessidades do usuário. Embora seja constante a
insuficiência das referências nacionais – na prática e no conteúdo teórico – nos meios
acadêmicos, certos autores esforçam-se no sentido de encontrar outras discussões para os
problemas relativos aos usuários e testar soluções para construir novos paradigmas. Foram
utilizadas comparações entre a figuração da palavra espectro e a da palavra pêndulo. A
primeira foi aplicada por Homulos na análise do desenvolvimento do museu, do arquivo, da
biblioteca e das relações entre eles. A segunda foi adotada, neste trabalho, para melhor
caracterizar a relação institucional arquivo-biblioteca-museu, segmentos oscilantes e, muitas
vezes, colaborativos entre si.

Palavras-chave: organização do conhecimento – instituições – papéis profissionais – espectro -


pêndulo

1 APRESENTAÇÃO

A partir do ponto de vista da organização das informações e do


crescimento da Ciência da Informação, este trabalho se propõe a agregar
elementos para valorizar o estudo das instituições culturais. As justificativas
são colocadas para uma revisão teórica3 dos princípios e conceitos da Ciência
da Informação, no momento de definição de características diferenciais entre
instituições públicas e privadas. Nesta apresentação, as instituições privadas
excluem-se do alcance de preocupações teóricas ou das práticas aplicadas.

1
Docente no Curso Ciências da Informação e Documentação – Departamento de Física e
Matemática da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto/São Paulo/Brasil e Doutoranda do
Curso Ciência da Informação - UNESP/Marília, silesan@usp.br
2
Docente no Curso Ciências da Informação – Linha de pesquisa: Organização da Informação –
Universidade Estadual Paulista, Marília – murguia@marilia.unesp.br. Agradecimentos especiais
aos Profa. Dra. Adelaide de Almeida e Prof. Dr. Oswaldo Baffa Filho do Departamento de
Física e Matemática da FFCL/USP/RP.
3
A proposta do curso de pós-graduação da UNESP Marília, na disciplina Marcos Teóricos da
Ciência da Informação (coordenada pelos Prof. Dr. José Augusto Guimarães e Prof. Dr.
Eduardo Murguia Marañon) e também da ABECIN, 2005, Londrina, de “recuperar” os clássicos
no sentido da revisão teórica construída durante o século XX.
Os setores públicos já são conhecidos, pela problemática social, por
não conseguirem equilibrar soluções satisfatórias, na maioria das vezes, no
sentido de consolidar as bases da educação, da saúde e da cultura4. Em igual
proporção, as instituições coletoras de cultura, em contextos políticos
diferentes – arquivos, bibliotecas e museus – admitem sua problemática
organizacional e procuram suprir suas deficiências com dedicação e
desempenho. Na maioria das vezes, apesar dos esforços, tais instituições
ficam comprometidas em seu desenvolvimento em razão de dificuldades
semelhantes, na ordem da eficácia da aplicação conceitual, prática ou
financeira da organização das informações.

O parentesco entre as 3 profissões é analisado, de forma


muito interessante por Peter Homulos (ICOM-International
Council of Museums, Comitê de Documentação), ao situar
as bibliotecas e os museus nas extremidades de um
espectro, ou contínuo, de instituições coletoras de cultura,
e os arquivos nas posições medianas. Homulos (1990)
considera virtualmente impossível distinguir claramente, no
contínuo das 3 profissões, onde terminam as funções de
uma Maria, e começam as de outra, uma vez que, de
acordo com as especificações de acervos e públicos, cada
Maria cobrirá uma parcela diferente do espectro. Esta
análise leva Homulos a preconizar o diálogo constante e
intenso entre os profissionais atuando na família das
instituições coletoras de cultura. (SMIT, 1993).

Nos campos do arquivo, da biblioteca e do museu ainda se questionam


as concepções do valor do tempo institucional voltado para as suas práticas,
frente ao avanço tecnológico. A partir do início do século passado, com o
auxílio da história da Ciência da Informação, os marcos teóricos de tais
concepções são retomados e associados à necessidade de haver tolerância
quanto aos estágios dos desenvolvimentos teórico e prático nesses ambientes
informacionais brasileiros. Apesar das disparidades do contexto cultural e
geográfico, essas instituições culturais localizam-se no epicentro da produção
do conhecimento da memória social (KANTSTEINER, 2002) e da expansão
cultural.
Nessa medida, a proposta é observar a competência da Ciência da
Informação para questionamentos entre informação e instituição; eles poderão

4
Ao contrário, no país, há empresas privadas inseridas no movimento lucrativo globalizado do
capitalismo e certifica-se o avanço dos setores tecnológicos integrados com pesquisa, gestão e
produção.
servir de esclarecimento aos profissionais da informação, para que o ponto
convergente desse centro-problema seja a atividade de organizar o
conhecimento e a aplicação de seus métodos: teóricos, práticos ou
tecnológicos.
Inicialmente, observa-se a necessidade de serem colocados limites na
equivalência5 das instituições com outras áreas de trabalho, respeitando-se as
metodologias correspondentes. Isso é pertinente para um mundo da pós-
modernidade da ciência, multicultural e pluridimensional? Não se responde
essa questão em um pequeno texto. É necessário considerar a discussão das
abordagens relativas à sociedade da informação, concernentes à
generalização da cultura midiática no campo da comunicação, sem deixar de
focar as relações da funcionalidade da informação entre arquivo, biblioteca e
museu.
Este relato de experiência acadêmica não exclui o estudo da mídia e das
representações de informações, mas observa as mediações como processos
sutis no encontro do sujeito com a informação. O trabalho refere-se à mudança
de foco no sentido da importância do deslocamento da mediação - do papel do
profissional da informação para o de mediador da informação.
As políticas culturais, até a década de 906, estavam direcionando a ação
cultural à mediação do pesquisador. Nesse contexto, ocorreram fenômenos de
apropriação da informação que puderam ser vistos como influências simbólicas
e significações (SMOLKA, 2000) de tal processo. E mais, foi sempre
necessário o estudo do “lugar” do profissional da informação diante do termo
apropriação, para realizar-se a transmissão para outro agente ativo
transformador – o sujeito/usuário. A mudança de foco de pesquisa, do papel do
mediador para o papel da informação, aparece no momento de compreender a
ciência da informação como área multidisciplinar.
No período moderno, a representação do conhecimento reafirmou o
contexto cultural baseada em funções de rupturas políticas (pós-guerra) e

5
Baseado em Homulos (1989) e Smit (2000b), este texto procura retomar duas categorias
interessantes elaboradas pelos autores: espectrum e as 3Marias, representação adotada para
instituições como arquivo, museu e biblioteca.
6
Durante o curso de mestrado, ECA, 2000, sob orientação do Prof. Dr. Martin Grossmann,
nossa reflexão gerou em torno de limites, territórios e acessibilidade da informação, para
processamento da apropriação da informação por artista. A mediação do pesquisador estava
demarcada por esses limites.
adoção de valores e classificações a partir dos binômios: arcaico/moderno,
ciência/senso comum; nas dicotomias: popular/erudito,
conhecimento/informação e sujeito/estado.
No período pós-moderno, a apropriação da informação subverte tais
separações. Realizou-se, no século XX, o sentido do materialismo e da
apropriação nas esferas econômicas e sociais, houve a transferência e a
sistematização crítica da informação, no “emergente” discurso sobre a
multiculturalidade e surgiram soluções para admissão científica de novos
paradigmas.
O emprego do termo apropriação passou a ser mais exigente. Foucault
(1996) percebe que se restringe apropriação à influência, com o
empobrecimento do termo que tem muitas conotações. Há uma complexa
transferência de sentidos e conversão de significados para o termo; por isso,
reafirma-se a palavra apropriação como processo, advertência, abstração e
expropriação.
No cenário das várias concepções teóricas esboça-se conversão e
manipulação de culturas em novas formas de transferência: as transformações
das informações (ou mediações do conhecimento) em colaborações e diálogos.
Tais informações, ou mediações, ocorrem com características interativas,
adicionais e apropriativas caracterizadas pela identificação ou pela indefinição
com o sujeito.
No início do século XX, ainda se falava do pesquisador/mediador, aquele
que interfere na realidade para realizar a transformação possível. Nessa
medida de profundidade do problema, longe ainda das soluções definitivas,
surgem outras necessidades de reflexão, não apenas sobre o papel dos
profissionais – documentalistas administradores, gestores da informação,
analistas ou especialistas – mas também sobre suas flexões diante do
documento/informação (SMIT; TÁLAMO; KOBASHI, 2004b). A mediação das
informações passa a ser vista como apropriação com característica de interface
com o usuário/sujeito, dotada mais de posturas éticas (SMIT, 1994) do que da
pragmática-teórica. Podem-se retomar as questões: o quê é, para quê e
adiciona-se para quem estamos elaborando a informação?
1.1 Informação/documento ou documento/informação

Para um novo norte de ação contemporânea, a importância da


mediação da informação estará em nosso horizonte. Não se descartam as
práticas da ação cultural em Ciência da Informação, preocupadas com a
mediação do pesquisador ou da instituição com a sociedade. As práticas entre
organização e recuperação da informação têm sido aplicadas por profissionais
em inúmeros acervos, de formas criativa e expansiva. Invertendo a lógica
documento/informação, a utilização do termo informação/documento, que se
apresenta como certa redundância, conseguiu caracterizar o crescimento do
pesquisador quando passou a observar a informação do ponto de vista do
primeiro plano, do documento reproduzível, imerso e circulante no fluxo
documentário em contextos culturais diferenciados, com suportes tecnológicos
ultrapassados ou até os de última geração. A seleção e otimização da
transferência da informação cabe a todos profissionais das instituições –
arquivo, museu e biblioteca – com suas respectivas especializações
profissionais. (SMIT, 2000b).
Sejam quais forem as denominações para definir os locais de
armazenamento da memória social7, as instituições do patrimônio cultural e da
memória – a Arquivística, a Biblioteconomia e a Museologia – são observadas
como interfaces da lingüística, da semiologia (SMIT, 1987) e da história. Adota-
se a mediação da informação no sentido de transformação das instituições
coletoras que dão acesso à informação, ou instituições que disponibilizam a
informação (SMIT, 2000b). São as chamadas instituições culturais, as unidades
de informação, os equipamentos culturais etc.
As experiências da aplicação de diagnósticos e análises documentárias
têm se demonstrado eficientes no estudo da informação/documentação e na

7
Onde? Esta questão de questionamento do onde, porque e para quê, aconselhada por Smit
(2004a) auxilia a responder melhor as necessidades do usuário. O que era semelhante ao fim
do processo, na verdade se insere na circularidade do movimento informacional – o fluxo
documental. A pergunta do sobre o lugar de representação social remete às instituições-
memória, que, além de armazenarem fisicamente documentos, são partes da relação
indivíduo/sociedade na produção do conhecimento. A memória social é entendida como um
campo complexo das narrativas, linguagem e representatividade de diversas formas culturais,
étnicas, inseridas em determinado tempo, poder e espaço. Distinguem-se os significados
conceituais e problemas metodológicos nas áreas diversas: estudos da memória, memória
coletiva, memória, memória individual entre outros termos.
sua ampliação. A princípio, a releitura de alguns autores, como Smit e Homulos
– que analisam essas teorias da natureza da informação, da organização e a
disseminação delas – favorece a compreensão de procedimentos para
solucionar problemas que se estendem na realidade da mediação da
informação e na organização do conhecimento no contexto brasileiro.
Contextualizam-se, por fim, os processos da modernidade para a pós-
modernidade. Resta saber o que de fato interessa ao usuário do espectro das
instituições.

2 Spectrum e etapas de uma análise espectral

O museólogo Peter Homulos8 propõe realizar uma analogia da imagem


de um espectro para aprofundar as relações das instituições coletoras de
cultura. O texto Museums to libraries: a family of collecting instituions
apresentado para a IFLA, em 1989, analisa a relação das instituições coletoras
de cultura - museus, arquivos e bibliotecas. No caso, foi utilizada uma figuração
do espectro para explicar as funções e papéis diferenciados das instituições.
Homulos, nesse texto de referência, utiliza a palavra spectrum para
associar um continuum entre dois pontos, por exemplo, da decomposição da
luz, como num antigo quadro sinóptico utilizado no ensino da física. Na análise
por etapas espectrais da localização da biblioteca, do arquivo e do museu, os
museus estão num extremo e as bibliotecas, em outro. Arquivos estão no
centro, para o autor canadense.
Como no estudo da física, as etapas de um espectro são decorrentes da
decomposição de uma coisa única. Para Homulos, separam-se as etapas em
outras fases: a da natureza das coleções9, a do conteúdo da informação, e a
da automação e a da relação com o público. O espectro das instituições
colecionadoras é descrito com o uso de museus e de bibliotecas como
extremos. Os princípios dos museus e das bibliotecas são semelhantes e as

8
Peter Homulos, director general, Information Management, Department of Canadian Heritage.
Disponível em: <http://www.rlg.org/legacy/pr/9508nbd.html>. Acesso em 21 jun. 2006.
9
Retoma-se essa questão e será necessário lembrar que o autor preocupa-se com a
multicultura em seu país, a partir da diversidade étnica. A representação política de Homulos
no governo canadense está veiculada nos sites citados neste trabalho.
utilizações são diferenciadas, colecionadoras, coletoras, ou possuem funções
similares 10.
Os museus, quer sejam virtuais ou não, preocupam-se com objetos
únicos e com o universo das coleções. Até que as informações publicadas em
instrumentos de pesquisa possam ser apropriadas, os objetos museológicos
são plenos de historicidade e diferem do documento, nas bibliotecas, embora o
livro possa ser julgado como artefato, no campo do museu.
As bibliotecas pioneiras na implantação de sistemas cooperativos e
automatizados para as suas coleções dão exemplo aos museus que estão
assumindo a necessidade tecnológica. É importante lembrar que Otlet, já em
1934 (apud BUCKLAND, 1991) considerava colecionar a característica comum
às três instituições, com o sentido de proteger uma parte de nossa cultura,
administrar e dar acesso às coleções.
Tais instituições referidas (bibliotecas-arquivos-museus) formam um
espectro num continuum de necessidades e de problemas. Para os autores,
Homulos e Smit, na composição do espectro, comparado aos argumentos já
centenários de Otlet, a Ciência da Informação prevê novos paradigmas para a
pós-modernidade embora haja questionamento quanto aos métodos de
trabalhar as áreas fronteiriças dessas instituições (SMIT, 1994).
A construção de um espectro, para Homulos, talvez seja decorrente de
uma forte característica da pós-modernidade, da multiculturalidade de seu país
(Canadá)11 e da efetiva utilização tecnológica por museus, arquivos e
bibliotecas. Por essa vertente, dá-se destaque às diferentes visões do que seja
administrar a informação para povos diferenciados e multiculturais. Assim,
essa reflexão se aplicaria ao Brasil, não pelas soluções já conquistadas, mas
por possuir características da multicultura, porém, para ainda serem resolvidas
no que se refere ao acesso à informação.

10
Em que medida pode-se admitir um “espírito” conservacionista na pós-modernidade? São
questões que não cabe aqui serem respondidas, embora sejam pertinentes às preocupações
da área da Ciência da Informação, quanto à formação do profissional.
11
Há convivência e atuação em política cultural voltada para a multiculturalidade dos povos dos
grupos formados por indígenas, negros, asiáticos e experiências digitais de cooperações,
organizações não governamentais, catálogos globais (Museum Documentation Association -
MDA (SPECTRUM, 2006), Visual Resources Association - VRA, RLG e OCLC - Online
Computer Library Center , entre outros).
As definições para tais significados, nessas instituições coletoras de
cultura, talvez tenham sido originadas no espectro analítico baseado em
necessidades socioculturais antecedentes. Elas se referem à diversidade
étnica e a todo o processo de criação, de administração, de processamento e
de comunicação. Ocorre que, no ambiente informativo multicultural brasileiro,
as diferenças são garantidas (e não respeitadas), pela legislação e por códigos
de ética, no contexto da contínua carência de suportes inovadores. Acredita-se
que um nível satisfatório será atingido a partir do respeito à diversidade
institucional, em decorrência das diferenças informativas e culturais. Parte-se
do ponto de ruptura na rigidez da relação entre museu, arquivo e biblioteca,
como ambientes promotores e de descobertas de novos conhecimentos.

2.1 Como realizar o domínio desse espectro?

O papel institucional, para ser desenvolvido, depende do grau de


cooperação no desenvolvimento de melhores métodos de administração e da
capacidade de conhecer o potencial transformador do usuário. Como já
observado, o modelo de Homulos constitui-se da visão das instituições
coletoras de cultura, com a situação dos museus num extremo, os arquivos no
meio do espectro e as bibliotecas na outra extremidade – museus-arquivos-
bibliotecas. Entende-se que há, na natureza das coleções, um grau de
singularidade entre museus e bibliotecas: enquanto museus lutam por objetos
únicos, as bibliotecas possuem alto grau de duplicação entre instituições
similares. O autor destaca um diferencial que é definido, nessas instituições,
pelo seu conteúdo informacional. O domínio do espectro ocorre pela
representação do conteúdo com a utilização de diversas linguagens
documentárias (vocabulários controlados, tesauros e linguagens clássicas),
como um recurso conhecido para se realizar uma decomposição espectral,
criar caminhos de acesso para chegar ao “pote de ouro” do conhecimento
“escondido pela luz”.
2. 2 O conteúdo da informação representada nas instituições coletoras e
o espectro

Os conteúdos das informações são muito diferentes entre as


extremidades opostas desse espectro. Além das características físicas, o
objeto do museu poderá “contar” pouco sobre ele mesmo sem que haja uma
representação descritiva. Com origens na Biblioteconomia, nas classificações
da história ou da ciência, a ponte da informação, nas bibliotecas são coleções
automatizadas há muito mais tempo e de forma mais sistemática do que nos
museus12. As coleções museológicas, comumente, são usadas para interpretar
e ilustrar temas de busca do interessado.
Quanto à relação com o público, os museus, os arquivos, os centros de
documentação13 e as bibliotecas interagem de formas diversas com seus
usuários e, ainda, tais coleções são diretamente usadas pelo público que a elas
recorrem. Homulos conclui que, compreendidos pelos extremos, permanecem
os arquivos no meio desse espectro, decomposto conforme a natureza das
suas coleções, fundos e séries, razão de existência (proveniência) de toda
instituição. É necessário, então, responder: para quê e para quem.
Vantagens e desvantagens, quando se trata da natureza das coleções
pela analogia do espectro, apontam para que a biblioteca tire melhor proveito
de sua “catalogação dividida”. O museu possui, em contrapartida, uma relação
mais íntima com os visitantes, utiliza qualitativamente seu espaço para que seu
público venha realizar digressões, ter sensações auditivas, visuais, sensoriais,
nos locais de encontro íntimo com o objeto.
O conteúdo da informação, na biblioteca, insere-se na documentação
das informações, que é o seu método de acesso. Na tradição de acesso ao
museu e ao arquivo, há continuidade de conservação e de catalogação, como
recurso visual descritivo, virtual ou impresso. A automação corresponde à
demanda do conteúdo informacional, ao uso e à administração dele e
favorecem a qualidade da indexação para melhor atendimento.

12
Sobretudo no Brasil, as experiências com museus e uso tecnológico, ainda têm sido muito
tímidas.. Exemplos como o Museu Paulista da Universidade de São Paulo e o Museu de Arte
Contemporânea, aplicam softwares especializados em banco de imagens para fotografias e
descrição de obras de arte.
13
Centros de documentação, arquivos e coleções de bibliotecas são apropriadas por muitos
museus e exigem práticas que respeitem cada metodologia (BELLOTO, 2004).
Entre todas as questões diferenciais ou de aproximação levantadas por
Homulos e Smit, estão aparentes a contestação da rigidez das práticas
profissionais, por vezes limitadoras do relacionamento profissional e pouco
contribuintes para o crescimento das ciências da informação. Verifica-se que, a
partir dos contextos culturais brasileiros, ainda permanece uma força externa
conservadora, que limita, para instituições, os benefícios dos resultados da
interação, da apropriação e da transformação das informações.
Nota-se uma insistente relação pendular institucional atraída por
interesses da documentação/informação, por políticas culturais restritas ou
amplas, por trocas sistemáticas ou pelas fragilidades tecnológicas, por rupturas
de interesses nas flutuações econômicas brasileiras. Todo esse conjunto de
fatores contribui para confirmar que tais relações institucionais, situadas num
espectro são, na verdade, pendulares.

3 As relações pendulares na mediação da informação

Nesse momento de mudança de ênfase acadêmica relativa às ciências


da informação – do acervo para o documento, do documento para a informação
e recuperada a história e marcos teóricos da Ciência da Informação –, surgem
campos férteis mais voltados para o aprofundamento das mediações das
informações. Um bom exemplo disso é a presença e o uso de documentos
digitais e audiovisuais (SMIT, 1993) e uma farta tecnologia disponível para
organizar e disponibilizar documentação diferenciada. Smit alerta para que tais
instituições sejam tratadas com metodologias próprias, em função do uso e das
práticas da documentação, pelas tipologias institucionais consolidadas ao longo
de séculos.
A gestão da memória – seleção, coleta e avaliação de
documentos/objetos e estoques informacionais, a produção de informação
documentária, a representação das informações e a sua produção em bases
de dados, catálogos, resumos etc. –, localizam a mediação das informações
em campos de natureza mais exigentes, com características estéticas e
sensoriais e integram-se num quadro de comunicação com vistas à efetiva
transferência da informação.
Na informação documentária produzida por profissionais da biblioteca
em processamento técnico, na valorização da memória em arquivos e na
expansão da Museologia, não se questiona a competência da Ciência da
Informação, enquanto disciplina científica, para auxiliar e permitir um
mapeamento da gestão da memória, produção da informação e mediação, mas
indaga-se quando isso poderá acontecer de fato. O uso da figura do pêndulo
poderá indicar atrações e diagnosticar aproximações metodológicas
provocadas pela intencionalidade, colaboração e mediação das trocas
pendulares, com o romper de estruturas antigas e obsoletas.

4 Considerações Finais

Este trabalho é parte de uma discussão de autores contemporâneos da


Ciência da Informação, que toma, como exemplos, a problemática da gestão
das informações em arquivos, bibliotecas e museus (HOMULOS, 1989). Desde
a década de 70, a informação deixa de ocupar o lugar central das discussões
da Ciência da Informação, reorientando-se para a reflexão de seu papel como
objeto de uma nova ciência. Em local menos privilegiado de suas
preocupações, a Ciência da Informação elegeu, no lugar dos acervos, a
relação com o usuário como prioridade. No que tange ao espírito de fusão
dessas preocupações, há continuidade de práticas voltadas para solucionar
problemas da base social, de políticas culturais, do uso da tecnologia e da
ausência de recursos humanos especializados, na aplicação conceitual
apropriada aos contextos diferenciados. A busca de soluções, como propõe
Smit (2000a), poderá ser decorrente da ruptura da rigidez metodológica e
profissional das instituições situadas nos extremos do espectro das instituições
coletoras – bibliotecas e museus. Ou, então, a solução estará mais próxima
quando forem assumidas as atrações pendulares das instituições que
garantem, de fato, a memória social. As referências bibliográficas foram aqui
utilizadas para melhor caracterizar a relação institucional arquivo-biblioteca-
museu, espectrais ou oscilantes, embora muitas vezes colaborativas em
relações pendulares.
REFERÊNCIAS

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Janeiro: FGV, 2004.
BUCKLAND, M. K. Information as thing. Journal of de American Society for
Information Science (JASIS), v. 45, n.5, p-351-360, 1991.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
HOMULOS, P. Museums to librarieis: a family of collecting institutions. The
paper presented to the IFLA Section of Art Libraries at Paris, August 1989.
KANTSTEINER, W. Finding meaning in memory: a methodological critique of
collective memory studies. History and Theory, v.41, n.2, p.179-197, 2002.
Disponível em: <http://wos.isiknowledge.com/CIW.cgi>. Acessado em 23 jun.
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SPECTRUM Terminology. Disponível em:


<http://www.mda.org.uk/spectrum.htm>. Acesso em 21 jun. 2006.
ÍNDI CE DE AUT O R

BECK, Ingrid GONÇALVES, Ana Lúcia Ferreira

CARREIRO, Ana Maria de Carvalho GUEDES, Vânia Lisboa da Silveira

CARIBE, Rita de Cássia do Vale HATSCHBACH, Maria Helena de Lima

CARVALHO, Diana Maul de OLIVEIRA, Antonio José Barbosa de

CARVALHO, Ismar de Souza OLIVEIRA Carmen Irene C. de

CASTILHO, Rosane Teles Lins PAVANI, Ana Maria B.

DAMASCENO, Wagner Miquéias F. RAPOSO Maria de Fátima Pereira

DANTAS,Camila Guimarães RIBEIRO, Leila Beatriz

DANTAS, Regina M.M.C. SANTOS, Ângela Rocha dos

DUQUE, Andréa Paula Osório SANTOS, Fernando Bittencourt dos

ESPÍRITO SANTO, Carmelita do SCAPECHI, Wanderson

ESPÍRITO SANTO, Sílvia Maria do SILVA,Rubens Ribeiro Gonçalves da

FARIA, Mauricio de TOSTA, Lívia Ferreira

FRAGOSO, Graça Maria WILKE Valéria Cristina L.

GASPAR, Cláudia Malena Paiva Vieira


ÍNDICE DE TÍTULOS

Biblioteca Central do CCMN: passado, presente e futuro.

Biblioteca pública na sociedade do conhecimento.

Biblioteca universitária pró-ativa.

Busca e uso da informação ambiental por pesquisadores da área de meio


ambiente.

Card Sorting: técnica simples para testes e desenvolvimento de vocabulários.

Coleções especiais de instituições públicas federais em Salvador: que reflexos


sociais e institucionais a digitalização pode promover?

Competência em Informação: busca, acesso, avaliação, organização e difusão da


informação e do conhecimento científico e tecnológico na UFRJ.

A contribuição da biblioteca digital no processo de divulgação e difusão da


produção científica no Departamento de Informática da PUC-Rio.

A Educação à distância em unidades de informação.

Espaço integrado das bibliotecas da Escola de Belas Artes, da Faculdade de


Arquitetura e Urbanismo e do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional.

A Experiência de educação à distância para profissionais da informação: uma


iniciativa e-fluência/SESC.

Turismo, informação e políticas públicas: visibilidade na web

Interfaces da memória na Internet: o caso de um acervo digital.

Uma Leitura de objetos: análise do acervo de D. Pedro II (re) descoberto no


Museu Nacional /UFRJ.

MAXWELL:de centro digital de referência a repositório institucional


Museu Virtual da Faculdade de Medicina da UFRJ.

O Perfil do novo profissional de informação voltado à preservação.

Projetos Educacionais em Bibliotecas de Instituição de Ensino Superior: o caso da


Biblioteca das Faculdades Batista.

Relações pendulares na mediação da informação: arquivo–Biblioteca–museu.

O Texto fílmico na pós-modernidade: seu estatuto patrimonial.

A Universidade invisível: uma cidade universitária para a Universidade do Brasil.

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