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1. As matérias não deduzidas no juízo singular não podem ser invocadas em sede
recursal, sob pena de ofensa ao duplo grau de jurisdição.
I - RELATÓRIO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível sob nº 496.369-3, da
Comarca de Andirá - Vara Cível, Família e Anexos, em que é apelante PEDRO
ANTONIO DUARTE e apelada EMMA APARECIDA FURLAN
POSSAGNOLI.
É o relatório.
Aduz o apelante que as notas fiscais foram emitidas como "nota fiscal/fatura",
razão pela qual não podem corresponder a uma única duplicata.
Assiste-lhe razão.
De acordo com a doutrina, a duplicata é título causal, que só pode ser extraída em
decorrência de fatura que comprove a compra e venda mercantil ou a prestação de
serviços.
No caso dos autos, como o requerido não apresentou a "fatura que comprove a
relação de compra e venda mercantil" que permite a emissão da duplicata, mas
apenas as notas fiscais e o recibo de entrega de mercadorias, conclui-se que o
comerciante adotou o sistema NF-Fatura.
Ressalte-se que, apesar de a duplicata não mencionar o número das notas fiscais
fatura, a vinculação entre elas é evidente, uma vez que as notas fiscais totalizam a
soma de R$ 13.764,49 (treze mil, setecentos e sessenta e quatro reais e quarenta e
nove centavos), valor este que corresponde exatamente ao da duplicata protestada
no Cartório de Protestos de Andirá (f. 06).
Ocorre que, nos termos do art. 2º, §2º, da Lei 5.474/68, a emissão de duplicata
deve se referir a apenas uma fatura ou Nota Fiscal/Fatura, conforme se destaca:
"Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura".
Sobre o tema, Luiz Emygdio Francisco da ROSA Jr. leciona que1: "A vinculação
do título à fatura visa a evitar que a duplicata possa corresponder a mais de uma
fatura (LD, art. 2º, §2º) porque cada fatura decorre de uma compra e venda ou de
uma prestação de serviços, e a duplicata não pode ser vinculada a mais de um
negócio jurídico".
2. Recurso especial não conhecido". (STJ - REsp 577.785/SC, Rel. Ministro Carlos
Alberto Menezes Direito, DJ 17.12.2004 p. 527)
Logo, como restou demonstrado nos autos que a duplicata levada a protesto foi
sacada em decorrência de mais de uma operação mercantil de compra e venda de
materiais de construção (Notas Fiscais/ Faturas nºs 372, 373, 374 e 375), impõe-se
o reconhecimento da nulidade do título de crédito.
III - DISPOSITIVO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer
parcialmente da apelação interposta por Pedro Antonio Duarte e, na parte
conhecida, dar-lhe provimento, para: a) reconhecer a nulidade da duplicata levada
a protesto, por emissão irregular do título; b) afastar os efeitos da cambial, tornando
definitiva a ordem de sustação concedida em liminar na ação cautelar n° 333/2001;
e, c) condenar a requerida ao pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios, de acordo com o valor fixado na sentença.
Relator
1 ROSA JR, Luiz Emygdio Francisco da. Títulos de Crédito. Editora RENOVAR.
5ªed. P. 684