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Capítulo 1
Edição/reimpressão: 2010
Páginas: 448 COURCHEVEL, FRANÇA
Editor: Bertrand Editora
ISBN: 9789722520836
Colecção: Grandes Romances

A invasão começou, como acontecia sempre, nos últimos dias de


Dezembro. Chegaram em caravanas de carros blindados, percorrendo a
estrada sinuosa com início no fundo do Vale do Ródano, ou aterraram na
pista no cume da montanha, vindos de helicóptero ou de avião privado.
Bilionários e banqueiros, magnatas do petróleo e senhores do metal,
supermodelos e crianças mimadas: a eli te abastada de uma Rússia em
Sinopse
A morte de um jornalista leva Allon à Rússia, onde descobre que, em ressurgimento. Inundaram as suítes do Cheval Blanc e do Bvblos e
termos das artes do ofício da espionagem, até mesmo ele tem alguma coisa requisitaram os grandes chalés privados ao longo da Rue de Bellecôte.
a aprender. Agora, está a jogar segundo as regras de Moscovo. E na cidade Reservaram o clube nocturno Les Caves para festas privadas até de madrugada
existe uma nova geração de estalinistas que conspiram para reivindicar um e saquearam as reluzentes lojas da Croisette. Deitaram a mão a todos os
império perdido e desafiar o domínio global de um velho inimigo: os melhores professores de esqui e esvaziaram as lojas de bebidas dos seus
Estados Unidos da América. Um desses homens é Ivan Kharkov, um melhores champanhes e conhaques. Na manhã do dia vinte e oito, não
antigo coronel do KGB que construiu um império de investimento global havia na povoação inteira um único cabeleireiro que aceitasse marcações e o
sobre os escombros da União Soviética. No entanto, escondido no interior Chalet de Pierres, o famoso restaurante na encosta da montanha, conhecido
desse império, está um negócio lucrativo e mortífero. Kharkov é um pela sua carne de vaca assada na brasa, já só aceitava reservas para jantar a
negociante de armas - e está prestes a entregar as armas mais sofisticadas partir de meados de Janeiro. Na véspera de Ano Novo, a conquista estava
da Rússia à al-Qaeda. A não ser que Allon consiga descobrir a hora e o completa. Courchevel, a estância de esqui de luxo bem no alto dos Alpes
local da entrega, o mundo irá assistir aos ataques terroristas mais mortais Franceses, era uma vez mais uma povoação sob ocupação russa.
desde o 09 de Setembro - e o tempo está a passar muito depressa. Cheio de Apenas o Hôtel Grand Courchevel conseguiu escapar ao ataque vindo de
prosa rica e de reviravoltas na trama de cortar a respiração, o livro As Leste. Pouco surpreendente, poderiam ter dito os seus hóspedes mais leais,
Regras de Moscovo é simultaneamente um entretenimento superior, uma já que no Grand os russos, tal como as pessoas com crianças, eram discretamente
cáustica história exemplar sobre as novas ameaças que estão a aparecer no encorajados a encontrar aloja-
Leste - e o melhor romance de Silva até ao momento.
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mento noutro lado. Ao todo, havia trinta quartos de tamanho mo desto e olhos da lista e aclarou a voz discretamente. Uma cabeça impecavelmente
mobília sóbria. Não se ia ao Grand à procura de instalações forradas a ouro e penteada surgiu de repente saída da recepção. Pertencia a Ricardo, o gerente do
de suítes do tamanho de campos de futebol. Ia-se à procura de uma pequena período da tarde.
amostra da Europa tal como ela era em tempos. Ia-se lá para se beber um — Acho que temos um problema — disse Phi lippe calmamente. Ricardo
Campari no bar do hotel com todo o tempo do mundo ou para se ficar a franziu o sobrolho. Era um espanhol do País Basco. Não gostava de
preguiçar na sala do pequeno--almoço, bebendo um café e lendo o Le Monde. problemas.
Os cavalheiros usavam casacos ao jantar e esperavam pelo fim do pequeno- — O que é?
almoço para se mudarem e vestirem a roupa de esquiar. As conversas eram Philippe mostrou-lhe a folha das chegadas.
levadas a cabo num murmúrio próprio de um confessionário e com excessiva — Lubin, Alex.
cortesia. A internet ainda não tinha chegado ao Grand e os telefones eram Ricardo carregou numas quantas teclas do computador com um dedo
temperamentais. Mas os hóspedes não pareciam incomodar-se: eram tão indicador tratado por uma manicura.
distintos como o próprio Grand e, na sua maioria, começavam a aproximar-se — Doze noites? Aluguer de esquis solicitado? Quem é que tratou desta
da terceira idade. Um gracejo vindo de um dos hotéis mais ostensivos do reserva?
Jardin Alpin descreveu uma vez a clientela do Grand como sendo «os idosos e os — Penso que foi a Nadine.
seus pais». Nadine era a rapariga nova. Fazia o turno da madrugada. E, pelo crime de
O átrio era pequeno, limpo e aquecido por uma lareira bem cuidada. À ter concedido um quarto a alguém chamado Alex Lubin sem consultar
direita, perto da entrada para a sala de jantar, ficava a recepção, um recanto primeiro Ricardo, assim iria continuar por toda a eternidade.
apertado, com ganchos de latão onde se penduravam as chaves dos — Achas que ele é russo? — perguntou Ricardo.
quartos e pequenas divisórias para se deixar o correio e mensagens. Ao — Culpado de todas as acusações.
lado da recepção, junto ao único elevador do Grand, que já funcionava Ricardo aceitou o veredicto sem interpor recurso. Apesar de ocupar
com alguma dificuldade, ficava a secretária do concierge. Ao início da tarde do uma posição superior, era vinte anos mais novo que Phi lippe e aprendera a
dia dois de Janeiro, estava ocupada por Philippe, um antigo pára-quedista confiar cegamente na experiência e opinião do colega mais velho.
francês bem constituído, que exibia as chaves douradas e cruzadas do — Talvez possamos despachá-lo para a concorrência.
International Concierge Institute na lapela imaculada e sonhava abandonar de — Não é possível. Não há um único quarto disponível daqui até Albertvi lle.
vez o negócio da hotelaria e instalar-se para sempre na plantação de trufas da — Então suponho que vamos ter de levar com ele, a não ser, claro, que
família no Périgord. Com um ar pensativo e sério, estava a olhar fixamente se consiga convencê-lo a ir-se embora de livre vontade. — O que é que estás
para a lista das próximas chegadas e partidas. Continha uma única entrada: a sugerir?
Lubin, Alex. Chegada de carro, vindo de Genebra. Reservado Quarto 237. Aluguer — O plano B, claro.
de esquis solicitado. — Isso é bastante radical, não achas?
Phi lippe passou por um momento o seu olhar de concierge experimentado — Sim, mas é a única maneira.
sobre o nome na lista. Tinha um talento para os nomes. Era algo que era O antigo pára-quedista acatou as ordens com urn aceno firme da cabeça e
preciso ter naquele tipo de trabalho. Alex... diminutivo para Alexander, pensou. começou a planear a operação. Operação que começou às
Ou seria Aleksandr? Ou Aleksei? Desviou os
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16h12, quando um Mercedes grande e cinzento-escuro, com matrícula de Na verdade, iriam ser cobradas — e com grande excesso —, mas
Genebra, parou junto aos degraus da entrada e buzinou. Phi lippe deixou-se ficar Ricardo planeava avançar subitamente com essa surpresa quando as defesas de
no seu púlpito uns bons dois minutos antes de vestir o sobretudo com toda a Monsieur Lubin estivessem no seu ponto mais frágil.
calma e se dirigir lentamente para o exterior do hotel. Por essa altura, já o Infelizmente, o optimismo de Ricardo, ao confiar que o atraso seria
indesejado Monsieur Alex Lubin — doze noites, aluguer de esquis solicitado — pequeno, revelou-se desajustado. De facto, passaram mais noventa minutos
tinha saído do carro e estava parado, com um ar zangado, junto ao porta - até que Lubin fosse levado, sem a bagagem, ao seu quarto. Em conformidade
bagagens aberto. Tinha uma cara de â ngulos bem vincados e cabelo louro- com o Plano B, não havia roupão para as idas ao wellness center, não havia
claro, cuidadosamente penteado a cobrir uma cabeça larga. Tinha os olhos vodca no minibar, nem comando para a televisão. O despertador em cima da mesa-
estreitos virados para o porta- bagagens, na direcção de um par de malas de-cabeceira tinha sido programado para as 4h15. O aquecedor estava li gado no
grandes de nylon. O concierge franziu o sobrolho ao olhar para as malas, como máximo. Às escondidas, Philippe tirou o último sabonete que havia na casa
se nunca tivesse visto objectos desse género antes, e a seguir cumprimentou o de banho e, a seguir, depois de não receber qualquer gorjeta, saiu porta fora,
hóspede com um entusiasmo glacial. com a promessa de que as malas seriam entregues em pouco tempo. Quando
— Posso ajudá-lo, Monsieur? saiu do elevador, Ricardo estava à sua espera.
A pergunta foi feita em inglês. A resposta foi dada na mesma lingua, — Quantas vodcas é que ele bebeu no bar?
com um distinto sotaque eslavo. — Sete — respondeu Ricardo.
— Venho instalar-me no hotel. O concierge cerrou os dentes e silvou com desprezo. Só um russo poderia
— Sim? Não fui informado de nenhuma chegada prevista para esta tarde. beber sete vodcas numa hora e meia e continuar em pé.
De certeza que foi apenas uma distracção. Porque é que não fala com o meu
— O que é achas? — perguntou Ricardo. — Mafioso, espião ou assassino
colega da recepção? Tenho a certeza de que ele poderá rectificar a situação.
profissional?
Lubin murmurou qualquer coisa baixinho e subiu os íngremes degraus
Tanto fazia, pensou Philippe sorumbaticamente. Um russo tinha aberto
pesadamente. Philippe pegou na primeira mala e quase deslocou uma vértebra
brechas nas paredes do Grand. Resistência era a palavra de ordem naquela
ao tentar tirá-la da bagageira. É um vendedor de bigornas russo e trouxe com ele uma
mala cheia de amostras. Quando conseguiu puxar as malas até ao átrio, Lubin
altura. Retiraram-se para os respectivos postos, Ricardo para a gruta que
estava a soletrar o número da sua reserva a Ricardo, que, exibindo um ar era a recepção, Philippe para o seu púlpito junto ao elevador. Dez minutos mais
perplexo, por mais que tentasse, não tinha conseguido localizar a reserva em tarde, teve lugar o primeiro telefonema do Quarto 237. Ricardo aguentou uma
questão. O problema foi finalmente resolvido — Um pequeno engano de um longa diatribe estalinista, repreendendo-o, e a seguir murmurou umas quantas
membro do nosso pessoal, Monsieur Lubin. Vou ter uma conversa com ele sem falta palavras apaziguadoras e desligou o telefone. Olhou para Philippe e sorriu.
—, mas logo de seguida surgiu outro. Devido a um descuido do pessoal da — O Monsieur Lubin queria saber quando é que prevíamos que as malas
limpeza, o quarto ainda não estava pronto. dele chegassem.
— Serão apenas alguns minutos — disse Ricardo na sua voz mais — Vou já tratar disso — respondeu Philippe, abafando um
sedosa. — O meu colega vai guardar-lhe as malas na arrecadação. Permita-me bocejo.
que o acompanhe até ao nosso bar. As bebidas não serão cobradas, claro. — Queria saber se podíamos fazer alguma coisa em relação ao a quecimento no
quarto dele. Diz que está demasiado quente e parece que o termóstato não
funciona.
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Philippe levantou o auscultador do telefone e ligou para a manutenção. bagagem e foi informado de que chegaria a todo o momento. A seguir, depois de
— Aumentem o aquecimento no Quarto 237 — ordenou. — O abrir por completo as portas da varanda, deixando entrar o ar frio do final da
Monsieur Lubin está com frio. tarde, instalou-se à secretária e tirou uma pasta de arquivo da sua mala de
couro já coçada. Tinha-lhe sido dada na noite anterior, por Boris Ostrovsky, o
editor da Ga zeta. Tinham-se encontrado não no interior da Gaz eta, que se
Se tivessem observado os primeiros momentos da estadia de Lubin, partia do princípio de que estava profusamente sob escuta, mas sim num banco
ter-se-iam sentido completamente seguros da sua crença de que havia um da estação de metro de Arbatskaya.
herege entre eles. De outra forma, como explicar que tivesse tirado todas as Vou só revelar-te parte da história, dissera Ostrovsky, entregando os
gavetas da cómoda e das mesas-de-cabeceira e desatarraxado todas as documentos a Lubin com uma indiferença adquirida com a prática.
lâmpadas dos candeeiros e das estruturas de onde saía luz? Ou que tivesse para a tua própria protecção. Compreendes, Aleksandr? Lubin tinha
arrancado por completo a roupa da cama grande e de luxo e forçado a tampa, compreendido perfeitamente. Ostrovsky estava a entregar-lhe uma missão que
até a abrir, do telefone com duas linhas e serviço de mensagens? Ou que podia fazer com que ele fosse morto.
tivesse despejado a garrafa de água mineral grátis na sanita e atirado dois
Agora estava a abrir a pasta e a examinar a fotografia que estava em cima
chocolates Touvier de Genebra para o meio da rua cheia de neve? Ou que,
do arquivo. Mostrava um homem bem vestido, com cabelo escuro cortado
depois de ter dado por finalizado o seu alvoroço, tivesse em seguida reposto
curto e as feições marcadas de um pugilista, ao lado do presidente russo,
o quarto no estado quase imaculado em que o encontrara?
numa recepção no Kremlin. Anexada à fotografia, havia uma biografia
Foi por causa da sua profissão que tomou essas medidas bastante drásticas,
concisa — completamente desnecessária, já que Aleksandr Lubin, como
mas a profissão dele não era nenhuma das sugeridas por Ricardo, o gerente.
qualquer outro jornalista em Moscovo, era capaz de enumerar todos os
Aleksandr Viktorovich Lubin não era nem mafioso, nem espião, nem
pormenores da formidável carreira de Ivan Borisovich Kharkov utilizando
assassino profissional, apenas um praticante da actividade mais perigosa que
apenas a memória. Filho de um oficial superior do KGB... licenciado pela prestigiada
se podia escolher na brava Nova Rússia: a actividade de jornalismo. E não
apenas qualquer tipo de jornalismo: jornalismo independente. A sua revista, a Universidade Estatal de Moscovo... rapa maravilha do Quinto Directorado do KGB...
Moskovsky Gazeta, era um dos últimos semanários de investigação do país e Quando o império se estava a desmoronar, Kharkov abandonara o KGB e
há muito que era uma persistente pedra no sapato do Kremlin. Os seus re - ganhara uma fortuna na banca durante os primeiros e anárquicos anos do
pórteres e fotógrafos eram vigiados e hostilizados constantemente, não só capitalismo russo. Investira com inteligência em energia, matéria-prima e
pela polícia secreta como também pelos serviços de segurança priv ados dos imobiliário, e, aquando da chegada do novo milénio, tinha-se juntado ao
poderosos oligarcas que tentavam cobrir. Nesse preciso momento, núcleo moscovita, cada vez maior, de multi-milionários novinhos em folha. Entre
Courchevel estava apinhada de homens desse género. Homens que não as suas muitas holdings, contava-se uma transportadora marítima e aérea
tinham qualquer problema em espalhar transmissores e venenos por com tentáculos que se estendiam ao longo do Médio Oriente, África e Ásia.
quartos de hotel. Homens que actuavam segundo a doutrina de Estaline: A morte Para um estranho, a verdadeira extensão do seu império financeiro era
resolve todos os problemas. Não havendo homem, não há problema. impossível de avaliar. Um relativo recém-chegado ao capitalismo, Ivan Kharkov
Com a certeza de que o quarto não sofrera interferências externas, Lubin dominara já a arte da empresa de fachada e da companhia fantasma.

telefonou novamente ao concierge para perguntar pela Lubin passou para a página seguinte do arquivo, onde havia urna
fotografia em papel de lustro, usado nas revistas, do «Château
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Kharkov», o palácio de Inverno de Ivan, na Rue de Nogentil, em queixa quando ouviu alguém bater finalmente à porta. Atravessou o pequeno
Courchevel. ha ll de entrada com duas passadas largas e cheias de ressentimento e abriu a porta
Passa as férias de Inverno lá, ao lado de todos os outros russos ricos e famosos, tinha com toda a força, sem se dar ao trabalho de perguntar quem estava do outro
dito Ostrovsky. Tem cuidado quando estiveres por perto da casa. Os capangas do Ivan lado. Um erro, pensou de imediato, já que, na semiescuridão do corredor,
são todos ex-Spetsnaz e OMON. Estás a ouvir o que te estou a diver, Aleksandr? Não estava parado um homem de estatura mediana, com um casaco de esquiar
quero que acabes como a Irina Chernova. escuro, um gorro de lã e óculos espelhados.
Irina Chernova era a famosa jorna lista do principal rival da Gazeta, que Lubin estava a tentar perceber por que razão usaria alguém óculos
tinha denunciado um dos investimentos mais suspeitos de Kharkov. Duas noites daqueles dentro de um hotel e à noite, quando surgiu o primeiro golpe, de
depois de o artigo ter surgido, tinha sido morta a tiro por dois assassinos lado e violento, que lhe pareceu esmagar a traqueia. O segundo golpe, um
contratados, no elevador do seu prédio em Moscovo. Ostrovsky, por pontapé bem medido na virilha, fez-lhe o corpo dobrar-se ao meio pela
razões que apenas ele conhecia, tinha incluído uma fotografia do corpo dela, cintura. Não conseguiu soltar qualquer protesto no momento em que o
pejado de balas, no arquivo. Nesse momento, tal como já fizera antes, Lubin homem se enfiou no quarto e fechou a porta sem um único barulho. Tal
virou-a rapidamente. como não foi capaz de resistir quando o homem o obrigou a deitar-se na
cama e se escarranchou em cima das suas ancas. A faca que saiu do interior
Normalmente, o Ivan actua por trás de portas bem fechadas. Courchevel é um dos
do casaco de esquiar era do tipo das que eram manuseadas por soldados de
poucos sítios em que ele se chega a deslocar em público. Queremos que tu o sigas, Aleksandr. elite. Penetrou no abdómen de Lubin, logo abaixo das costelas, e foi-se
Queremos saber com quem é que ele se anda a encontrar. Com quem é que ele anda a enfiando cada vez mais para cima, até ao coração. À medida que a cavidade
esquiar. Com quem é que ele anda a almoçar. Tira fotografias quando puderes, mas do peito se enchia de sangue, Lubin foi forçado a sofrer a humilhação
nunca o abordes. E não digas a ninguém na povoação onde é que trabalhas. Os rapazes da adicional de assistir à própria morte no refl exo das lentes espelhadas dos
segurança do Ivan são capazes de cheirar um repórter a um quilómetro de distância. óculos do seu assassino. Este soltou a mão da faca e, com a arma ainda
A seguir, Ostrovsky entregara a Lubin um envelope com bilhetes de enfiada no peito de Lubin, levantou-se da cama pegando no arquivo com toda
avião, uma reserva num rent-a-car e alojamento num hotel. Liga para a a calma. Aleksandr Lubin sentiu o coração bater uma última vez, ao mesmo
redacção regularmente, tinha dito Ostrovsky. E tenta divertir-te um pouco, Aleksandr. tempo que o seu assassino se escapulia do quarto em silêncio. O aquecimento,
Os teus colegas estão todos cheios de inveja. Vais poder ir a Courchevel e andar na farra estava ele a pensar. O maldito aquecimento...
com os ricos e famosos, enquanto nós congelamos até aos ossos em Moscovo.
Com isso, Ostrovsky tinha-se levantado e caminhado até à borda da
plataforma. Lubin enfiou a pasta na mala e começou imediatamente a suar em Passava pouco das sete da tarde quando Philippe foi buscar finalmente as
catadupa. Agora estava a suar outra vez. O maldito aquecimento! A fornalha malas de Monsieur Lubin à arrecadação e as colocou no elevador. Ao chegar ao
continuava a funcionar no máximo. Estava a começar a esticar-se para pegar no Quarto 237, deparou-se com o sinal de NÃO PERTURBAR pendurado no trinco. De
telefone e apresentar mais uma acordo com as convenções do Plano B, bateu três vezes à porta com uma
força ribombante. Não recebendo resposta, tirou a chave-mestra do bolso e
entrou, apenas o suficiente para ver logo o par de mocassins russos, de tamanho
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quarenta e cinco e meio, a sair uns centímetros para fora da cama. Deixou a
bagagem no ha ll de entrada e regressou ao átrio, onde fez um relatório do que
tinha encontrado a Ricardo.
— Apagado de tão bêbado.
O espanhol olhou de relance para o relógio.
— É cedo, mesmo para um russo. E agora?
— Vamos deixá-lo dormir e curar a bebedeira. De manhã, quando ele já
estiver bom e de ressaca, vamos dar início à Fase Dois.
O espanhol sorriu. Nenhum hóspede tinha conseguido ainda sobreviver
à Fase Dois. A Fase Dois era sempre fatal.

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