Sie sind auf Seite 1von 1

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO


Jor

FACULDADE DE JORNALISMO
Procura-se manchete desesperadamente
Susana Singer, ombudsman da Folha de S. Paulo.
Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ombudsma/om0205201001.ht
m; acessado em 16/05/2010
PARA JORNALISTAS, dias estressantes, tomados por
acontecimentos inesperados -terremotos, blecautes, escândalos de
corrupção -, são melhores do que aqueles em que parece que nada
aconteceu. Policiais e bombeiros podem ir para casa mais
descansados em dias assim. O editor da Primeira Página tem uma
folha em branco, a vitrine do jornal, para preencher.
A parte mais dura é definir a manchete, promover um dos
assuntos mornos para a posição de notícia mais importante. Alguns
jornais não têm manchete diariamente (como o The New York
Times), mas, na Folha, e nos seus concorrentes, ela é obrigatória.
Quando o jornal está no piloto-automático, pinça-se uma notícia de política ou
de macroeconomia e o problema está resolvido. Um enunciado, de preferência com
número (cresceu x%), faz as vezes de manchete sem chamar muita atenção.
Nos últimos tempos, é visível o esforço da Folha de fugir dessa fórmula. Cinco
manchetes recentes giraram sobre assuntos que miravam o suposto interesse direto
do leitor: poluição, conta telefônica, imposto de renda, violência e adoção por
homossexuais.
A intenção de romper com a inércia é louvável, mas arriscada. No sábado, dia
24, a Folha alertou para o aumento da poluição por ozônio, mas esqueceu de mostrar
as regiões da Grande São Paulo com os piores índices, como notou o leitor Sergio
Moradei de Gouvêa, de Ubatuba.
Faltou o chamado "serviço". Bastaria remeter para o site da Cetesb, que traz
medição feita de hora em hora (http://www.cetesb.sp.gov.br/ar/mapa-
qualidade/mapa-qualidade-rmsp.asp).
Mas o erro maior, de avaliação, ocorreu na terça-feira, quando a violência no
Guarujá foi alçada à manchete. A notícia era que o governo dos EUA soltou alerta para
que turistas evitem algumas cidades da Baixada Santista por causa de assassinatos
recentes.
Os fatos não justificam a escolha. Embora a situação no litoral seja
preocupante, nada indica que essas cidades vivam caos semelhante ao de São Paulo
em 2006, quando ocorreram os atentados do PCC.
A manchete mostra também incongruência da Folha: quando ocorreram as
mortes, em 21 de abril, o jornal deu apenas uma chamada.
Quanto melhor o jornal, menos visceralmente dependente ele é do noticiário
quente (aquilo que aconteceu no dia anterior). O ideal seria produzir diariamente uma
reportagem exclusiva que pudesse ser manchete, mas não é isso o que acontece -na
Folha nem em nenhum diário que eu conheça.
Enquanto não se atinge esse nirvana jornalístico, de noticiário comum a todos
emoldurando uma manchete exclusiva, o melhor a fazer é não ceder ao óbvio. A Folha
está certa no caminho que busca, só precisa acertar o passo.

Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)


site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 1 de 1

Das könnte Ihnen auch gefallen