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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

IARA VIDAL PEREIRA DE SOUZA

BIBLIOTECÁRIOS NO ESPELHO:

representações discursivas

RIO DE JANEIRO
2004
IARA VIDAL PEREIRA DE SOUZA

BIBLIOTECÁRIOS NO ESPELHO: representações discursivas

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Escola de Biblioteconomia da Universidade
Federal do Estado do Rio do Janeiro como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel
em Biblioteconomia

Orientadora: Profª. Drª Evelyn Goyannes Dill Orrico

RIO DE JANEIRO
2004
IARA VIDAL PEREIRA DE SOUZA

BIBLIOTECÁRIOS NO ESPELHO: representações discursivas

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Escola de Biblioteconomia da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel
em Biblioteconomia

Aprovado em de 2005.

BANCA EXAMINADORA

Profª. DRª Evelyn Goyannes Dill Orrico – Orientadora


Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Prof. MS Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda


Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Prof.ª ESP Iris Abdallah Cerqueira


Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Dedico este trabalho a Deus Pai, Filho e Espírito Santo,
pelo amor, pela salvação, e pela companhia. “Porque
dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória,
pois, a ele eternamente” (Romanos 11.36).
AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo consolo e pela força. À minha mãe Talita, pelo estímulo e por acreditar em mim

(às vezes mais do que eu mesma). À minha irmã Clara, pelo carinho. À minha família, pelo

apoio. À minha orientadora, Profª Evelyn Orrico, pela confiança e por me mostrar que

pesquisa só se faz com paixão. Aos meus professores, pelo muito que me ensinaram em toda a

minha vida. Aos meus colegas da UNIRIO, pela companhia. Aos companheiros dos ENEBDs

pelo Brasil afora pelo intercâmbio ao mesmo tempo divertido e produtivo. Aos irmãos da

Primeira Igreja Batista em Botafogo, pelo afeto e pelas orações. Aos amigos de perto e de

longe, de ontem e de hoje, pela amizade. A todos vocês, um grande abraço e muito obrigada.
“Evelyn: Olha, eu... Eu posso não ser uma exploradora,

nem uma aventureira, nem uma caçadora de tesouros,

nem uma pistoleira, senhor O'Connel, mas eu tenho

orgulho do que sou.

Rick: E o que você é?

Evelyn: Eu.... sou bibliotecária.”.

(Diálogo entre os personagens Evelyn – Rachel

Weisz – e Rick – Brendan Fraser – no filme

americano A Múmia, de 1999)


RESUMO

Aborda o perfil e a identidade do profissional bibliotecário, pela análise das representações

que faz de si e de seu trabalho. Debate o histórico da profissão de bibliotecário no Brasil e no

mundo. Apresenta considerações sobre o status social deste profissional e sobre sua (auto)

imagem. Analisa entrevistas realizadas com bibliotecárias da Rede Municipal de Bibliotecas

Populares do Rio de Janeiro. Conclui enfatizando a imagem positiva da profissão

demonstrada pelas entrevistados, sem ignorar os problemas enfrentados pela área.

Palavras-chave: Bibliotecários. Identidade profissional. Representação.


ABSTRACT

Discusses librarians’ professional identity through the analysis of the representations that

these professionals have of themselves and their work. Debates the history of librarianship as

a profession. Presents considerations about librarian’s social status and (self) image. Analyzes

interviews with librarians from the Rio de Janeiro’s public library system. It concludes

emphasizing the positive image of librarianship demonstrated by those professionals, without

ignoring the problems it has been facing.

Keywords: Librarians. Professional identity. Representation.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 9
2 REPRESENTAÇÃO.......................................................................................... 12
3 O PROFISSIONAL BIBLIOTECÁRIO.......................................................... 13
3.1 Histórico.............................................................................................................. 14
3.1.1 No Brasil............................................................................................................... 17
3.2 Considerações sobre o status e a (auto) imagem do bibliotecário.................. 21
4 METODOLOGIA............................................................................................... 25
5 BIBLIOTECÁRIOS: IDENTIDADE E REPRESENTAÇÃO....................... 26
5.1 Rede Municipal de Bibliotecas Populares do Rio de Janeiro......................... 26
5.2 Análise das entrevistas....................................................................................... 29
5.2.1 Perfil das entrevistadas........................................................................................ 29
5.2.2 Identidade e representação.................................................................................. 30
5.3 Discussão............................................................................................................. 37
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 39
REFERÊNCIAS................................................................................................. 42
9

1 INTRODUÇÃO

O advento das novas tecnologias da informação e sua aplicação na biblioteconomia

tem levado os profissionais da área a repensarem sua identidade profissional. Este movimento

pode ser sentido pela leitura de livros e artigos na área (ABBOTT, 1998; CASTRO, 2002;

PINHEIRO, 1996; SOUZA, 2004; VALENTIM, 2000; entre outros), pela análise de eventos

realizados nos últimos anos, e pela observação do que vem sendo debatido em universidades,

listas de discussão, blogs e fóruns especializados na Internet. Combater o estereótipo do

bibliotecário aparentemente enraizado no senso comum – senhoras de óculos e coque, mais

amigas dos livros e do silêncio do que das pessoas – é uma das preocupações nesse sentido.

Mas a fim de mudar – ou mesmo confirmar – a imagem negativa da sociedade em relação ao

bibliotecário, e, além disso, conhecer a percepção que o bibliotecário tem de si mesmo, torna-

se necessário conhecer como ele constrói e representa sua identidade. Assim, o objetivo do

presente trabalho de conclusão de curso é investigar o perfil e a identidade desse profissional.

Estudos culturais recentes abandonam a noção da identidade cristalizada, parte

constituinte da essência de um indivíduo, passando a entendê-la como uma construção social

e cultural. O processo de construção da identidade se relaciona intimamente com o processo

de representação, na medida em que envolve “as práticas de significação e os sistemas

simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como

sujeito. É por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentido à

nossa experiência e àquilo que somos” (WOODWARD, 2004, p. 17). Se entendemos a

identidade como um construto social, temos que considerar a influência do contexto histórico

e geográfico na sua construção e afirmação. As transformações sociais podem levar à

reconsideração de determinadas identidades.


10

Das muitas identidades assumidas pelos indivíduos – sexual, nacional, religiosa, entre

outras – destacaremos neste trabalho a identidade profissional, marcada pelas representações

que um grupo faz de suas funções e de seu papel social. Nas palavras de Souza (2004, p. 93),

“Funções, que também podem ser ditas papéis, dão a identidade social do grupo profissional.

[...] Afirmar a cada dia suas habilidades na execução das tarefas significa concretamente

oferecer de forma consciente o melhor resultado que cada usuário de seu serviço pode obter”.

Investigaremos a identidade profissional dos bibliotecários, tema que tem sido

constantemente discutido nos meios biblioteconômicos ao longo de sua história.

Recentemente, fatores como o desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação e

informação e seus efeitos no exercício da profissão levam os bibliotecários a refletir sobre seu

papel num mundo em que a informação é veiculada com cada vez mais facilidade, em

diferentes suportes. São muitas as discussões sobre a capacitação do profissional para

enfrentar os novos desafios da área e sobre a necessidade de uma nova imagem profissional.

Consideramos que a forma como o bibliotecário representa a si mesmo e a seu

trabalho pode afetar a maneira como esse profissional se relaciona com o usuário de

biblioteca. Semelhantemente, o usuário construirá sua representação do bibliotecário – e, por

associação, da biblioteca – de acordo com suas experiências com o profissional. Conhecer

como o bibliotecário se representa é, assim, um primeiro passo para compreender o seu

relacionamento com a sociedade, e para buscar o reconhecimento de sua real importância

como mediador entre o homem e o conhecimento registrado.

Nosso objetivo, portanto, é analisar o perfil e a identidade do bibliotecário, por

intermédio da(s) representação(ões) que faz de si e da percepção que tem do impacto social da

profissão. Nosso objeto de pesquisa são os profissionais de bibliotecas públicas do município

do Rio de Janeiro. A escolha pela biblioteca pública não foi fortuita. Ao contrário das

bibliotecas escolares, universitárias, infantis, especializadas e especiais, ela não se destina a


11

uma comunidade específica, mas “a toda a coletividade” (BIBLIOTECA NACIONAL, 1995,

p. 16), sem qualquer discriminação. Por esses fatores, o bibliotecário responsável por uma

biblioteca pública tem possibilidades de contato com públicos mais diferenciados e distintos

do que seus colegas de profissão. Soma-se a isso o fato de que, pela deficiência das

bibliotecas escolares, as bibliotecas públicas se tornaram a melhor opção para estudantes às

voltas com seus trabalhos escolares (MILANESI, 1995). É lá que muitos deles terão sua

primeira – e por vezes, única – impressão do bibliotecário. Desta forma, e tendo em vista que

boa parte dos usuários são crianças, o responsável por uma biblioteca pública está envolvido

na formação de público.

Este trabalho está dividido em duas partes. Inicialmente, apresentaremos o histórico da

profissão de bibliotecário, com destaque para seu desenvolvimento no Brasil; e faremos

considerações a respeito de seu status e de sua (auto)imagem. Em seguida, passaremos à

análise das entrevistas, buscando, nas marcas de linguagem nelas recuperadas, aquelas que

apontam para indicações de identidade.


12

2 REPRESENTAÇÃO

Tomás Tadeu da Silva (2004, p. 89) afirma que “a identidade é um significado –

cultural e socialmente atribuído”, e como tal, está estreitamente associada a sistemas de

representação. Segundo Dodebei (2002, p. 32), “as acepções de representação e representação

do conhecimento são inúmeras, tais como a noção de representação sob a ótica da

‘construção’ [...], ou com o significado de ‘intermediação’, considerando que as

representações se colocam entre o meio e o homem”.

A Biblioteconomia e a Ciência da Informação enfatizam a concepção de representação

como intermediação, ou seja, a representação como “um conceito mediador entre emissor e

receptor” (DODEBEI, 2002, p. 32). Essa função mediadora das representações no contexto

das atividades informacionais é reforçada por Marcondes (2001, p. 63):

as atividades de representação [de recursos informacionais] [...] envolvem


um terceiro papel além do autor e do leitor, o do profissional da informação.
Este interpreta o texto, infere as necessidades de informação de possíveis
leitores e prepara um (meta)texto que vai intermediar o acesso, a
identificação e a avaliação de relevância de um usuário com relação ao texto
original.

Neste trabalho, adotaremos a noção de identidade como construção, de acordo com os

modernos teóricos da área de Estudos Culturais. Stuart Hall (1997a, p. 4) afirma que as

linguagens – escritas, visuais, gestuais, entre outras – são sistemas de representação, no

sentido de que todas elas utilizam algum elemento (palavras, imagens, gestos, sons)

representando o que queremos dizer, para expressar ou comunicar um pensamento, uma idéia

ou um sentimento. Nessa perspectiva, a representação é entendida como “um sistema

lingüístico e cultural: arbitrário, indeterminado e estreitamente ligado a relações de poder”

(SILVA, 2004, p. 91). Assim, é por meio das representações que a identidade adquire sentido,

e se liga a sistemas de poder.


13

Outro conceito importante para este trabalho é o de performatividade. Segundo Austin

(1998 apud SILVA, 2004, p. 92-93), as sentenças performativas são aquelas que, em vez de

simplesmente descreverem um fato, fazem com que algo se concretize ao serem enunciadas –

por exemplo, a frase “Eu vos declaro marido e mulher”. Butler (1999 apud SILVA, 2004, p.

93-96) expande esta definição afirmando que determinados enunciados descritivos podem vir

a funcionar como performativos por meio de sua repetição, ajudando a tornar real a situação

que supostamente descrevem – por exemplo, frases como “Lia não consegue fazer nada

direito”.

É preciso ressaltar o papel da repetição nesse processo, já que é por ela que as

proposições performativas ganham importância na construção da identidade: “É de sua

repetição, e, sobretudo, da possibilidade de sua repetição, que vem a força que um ato

lingüístico desse tipo tem no processo da identidade” (SILVA, 2004, p. 94, grifo do autor). A

repetição não apenas fortalece as identidades, mas também representa a possibilidade de sua

interrupção e/ou transformação: “A repetição pode ser interrompida. A repetição pode ser

questionada e contestada” (SILVA, 2004, p. 95).

3 O PROFISSIONAL BIBLIOTECÁRIO

Este item apresenta um breve histórico da profissão de bibliotecário no Brasil e no

mundo, seguido de breves considerações a respeito de seu status na sociedade e da imagem

dos profissionais.
14

3.1 Histórico

A figura do bibliotecário existe desde que existem as primeiras bibliotecas, como o

responsável pela guarda e organização dos acervos. No entanto, Ortega y Gasset (1997) relata

que é apenas durante o Renascimento, quando o livro é pela primeira vez percebido como

uma necessidade social, que o bibliotecário aparece como uma figura pública. Nessa época, o

ideal de biblioteca se assemelha ao de Alexandria: um local onde se acumula todo o

conhecimento registrado pelo ser humano. Mas o advento da imprensa e o conseqüente

aumento da produção bibliográfica tornaram este ideal definitivamente inalcançável – se é

que tenha sido possível alcançá-lo em algum momento da história humana.

Segundo Ortega, é na segunda metade do século XIX que o Estado, reconhecendo a

importância social e política do livro, torna oficial a profissão de bibliotecário. Em 5 de

janeiro de 1887 foi aberta nos EUA. na Columbia College (atual Columbia University), a

primeira escola de Biblioteconomia do mundo, parte dos esforços pelo reconhecimento do

ofício de bibliotecário como profissão e da Biblioteconomia como área do saber (BASTOS,

1979, p. 182).

O avanço da ciência no final do século XIX provocou um aumento de produção da

literatura científica, e em especial de periódicos. Este tipo de material exigia profissionais

preocupados com a organização da informação, e não mais com a mera administração de

acervos bibliográficos. No entanto, fatores como a organização das bibliotecas, que não

facilitava o trabalho cooperativo (fundamental para lidar com o volume crescente de

informações disponíveis); e o interesse dos bibliotecários pela auto-educação e a cultura

popular terminaram por desviar a atenção destes profissionais das necessidades do público

mais especializado (SHERA; EGAN, 1961, p. 25-27).


15

A omissão dos bibliotecários permitiu que outros tomassem a dianteira nesse processo

de transição, e, em 1892, os advogados belgas Paul Otlet e Henry Lafontaine criaram o

Instituto Internacional de Bibliografia (MILANESI, 1995, p. 79-80). Era o embrião da

documentação, disciplina cujo desenvolvimento se aceleraria a partir da década de 1930 – em

1931, o instituto criado por Otlet e Lafontaine passaria a se chamar Instituto Internacional de

Documentação (SMIT, 1987, p. 12).

Analisando o surgimento da Documentação, Shera e Egan (1961, p. 26-27) observam

que

quando, no despontar do século XX, os problemas de organização


bibliográfica se acentuaram, os “documentalistas” não procuraram os
bibliotecários para conselho ou orientação. [...] Foi nesse período, portanto,
que as linhas de evolução da biblioteconomia e da documentação, que até
então seguiam um curso comum, começaram a se bifurcar seriamente. Os
bibliotecários continuaram a procurar uma Utopia na qual até mesmo o
homem mais pobre pudesse, através da biblioteca pública, tornar-se rico dos
conhecimentos de todas as épocas. Os documentalistas começaram a atacar
[...] alguns dos problemas bibliográficos que os deixavam cada vez mais
tontos.

Apesar do cisma inicial, a Documentação acabou sendo “absorvida” pela

Biblioteconomia, como sinaliza a afirmação de Bradford (um dos expoentes daquela

disciplina) de que “a documentação não é mais do que um aspecto da arte maior da

biblioteconomia” (1961, p. 69). Apesar disso, na prática as funções de bibliotecário e

documentalista permaneceram separadas em muitos países, em especial na Europa.

Shera e Egan (1961), Currás (c1982) e Accart (2000) debatem o desenvolvimento da

biblioteconomia e da documentação, com destaque para sua situação na Inglaterra, na

Espanha e na França, respectivamente. Os autores concordam em dizer que a Documentação

tem sua origem na Biblioteconomia, da qual se distingue por sua ênfase na informação

técnico-científica. Nas palavras de Bradford, “a tarefa do documentalista consiste em tornar

disponível a informação original registrada em artigos de periódicos, folhetos, relatórios,

especificações de patentes e outros registros semelhantes” (1961, p. 69). O volume


16

considerável destes materiais exigiria técnicas mais precisas do que as utilizados pelos

bibliotecários, ainda que baseadas nestas – um exemplo é a Classificação Decimal Universal,

desenvolvida por Otlet e LaFontaine a partir da Classificação Decimal de Dewey

(MILANESI, 1995, p. 80).

Com o passar do tempo, as bibliotecas assumem uma feição mais dinâmica,

semelhante à dos centros de documentação. Currás (c1982, p. 222-223) e Accart (2000)

observam que os bibliotecários atualmente utilizam as mesmas técnicas que os

documentalistas.

Segundo Francisco das Chagas Souza (2000, 2004), as diferenças entre bibliotecários

e documentalistas refletem hoje as filosofias de duas associações profissionais internacionais:

a Federação Internacional de Associações de Bibliotecários e Entidades (IFLA), preocupada

com o papel social, cultural e educacional da informação; e a Federação Internacional de

Informação e Documentação (FID, antigo Instituto Internacional de Bibliografia), voltada

para a informação especializada, para fins comerciais e/ou técnico-científicos. O autor destaca

que estas filosofias, longe de se excluírem mutuamente, indicam papéis complementares.

Há [...] entremeando essa discussão uma divisão que aparece bem clara para
europeus e norte-americanos. Trata-se da nítida distinção – que se polariza
pela peculiaridade da natureza dos conteúdos profissionais – dos papéis de
Bibliotecário e de Documentalista. E tal distinção decorrente destas
peculiaridades se traduz de fato, concretamente, em associações
profissionais que se distinguem em suas missões a partir das matrizes
representadas pela IFLA, com seus valores principais e pela FID, com suas
metas claras e específicas. (SOUZA, 2000, p. 129)

Souza (2004, p. 99) afirma que tanto bibliotecários como documentalistas (ou

modernos profissionais da informação) têm debatido as mudanças atualmente impostas pelo

novo contexto mundial. Segundo ele, as discussões nesse sentido têm seu foco em “como

incorporar e os modos de incorporar tecnologias e afirmar através das próprias práticas

profissionais o seu lugar social”.


17

Cabe aqui destacar que a diferenciação dos papéis de documentalistas e bibliotecários

não se deu tão radicalmente fora da Europa. Segundo Currás (c1982), os bibliotecários norte-

americanos tiveram desde o princípio atividades semelhantes às dos documentalistas

europeus, uma vez que nos EUA as bibliotecas nunca chegaram a ter como função principal a

conservação e a guarda de livros. Algo semelhante se deu no Brasil, devido à própria

influência americana no desenvolvimento da nossa biblioteconomia.

3.1.1 No Brasil

O decreto de criação da primeira escola de Biblioteconomia do Brasil, na Biblioteca

Nacional, data de 1911 – exatos cem anos depois da fundação da primeira biblioteca pública

brasileira, em Salvador. Este curso é considerado pela maioria dos autores o primeiro da

América Latina e o terceiro do mundo. Porém, de acordo com o documento “Analises de los

informes sobre el estado actual de la profesión bibliotecária em America Latina” (SANS,

1955 apud CASTRO, 2000, p. 53), o primeiro curso de biblioteconomia da América Latina

teria sido criado em Buenos Aires no ano de 1903, pelo Conselho de Mulheres da Argentina.

O responsável pelo curso da Biblioteca Nacional, que começou a funcionar

efetivamente em 1915, foi Manuel Cícero Peregrino da Silva, diretor da instituição no período

de 1900 a 1924. De inspiração francesa, este curso pioneiro formava profissionais de perfil

erudito, voltados para problemas culturais, de acordo com as necessidades da instituição. Um

processo semelhante se deu com a Arquivologia e a Museologia brasileiras, que nascem

vinculadas respectivamente ao Arquivo Nacional e ao Museu Histórico Nacional

(PINHEIRO, 1997, p. 33).

A influência francesa na biblioteconomia brasileira logo deu lugar ao pragmatismo

norte-americano, mais preocupado com as técnicas biblioteconômicas. A necessidade de


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profissionais com formação mais prática levou à criação de um curso elementar de

Biblioteconomia no Mackenzie College, sob a orientação da americana Dorothy Gropp. Em

1935, seria criado um curso na Prefeitura de São Paulo, dirigido por Rubens Borba Alves de

Moraes e por Adelpha Silva Rodrigues de Figueiredo, e que também seguia a linha

americana. Como sintetiza Oliveira (1983, p. 6):

O bibliotecário erudito, guardião e preocupado com problemas culturais,


formado segundo os padrões da Biblioteca Nacional, deu lugar, nessa
segunda geração, ao profissional técnico, voltado para o desempenho de
atividades técnicas, para o trabalho interno de organização da biblioteca, mas
despreparado para o trato de problemas de cultura e de auxílio aos leitores.

É durante essa segunda geração da Biblioteconomia brasileira que a Escola de São

Paulo passou a atuar como “farol” para área, apoiando o surgimento da Associação Paulista

de Bibliotecários (APB). Esta associação posteriormente desenvolveria a Federação Brasileira

de Associações de Bibliotecários (FEBAB), que por sua vez teria papel-chave na criação e

aprovação da Lei do Bibliotecário (SOUZA, 2001, p. 126).

A Documentação começou a se desenvolver efetivamente no Brasil na década de

1950, com a criação do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), em

1954. Castro (2000, p. 142) relata os conflitos que a introdução da disciplina provocou entre

os profissionais, “causando impacto e repulsa em alguns bibliotecários que se sentiam

ameaçados com a incorporação de outros saberes: reprodução de documentos, mecanização

bibliográfica, indexação, aliada à exigência de uma postura mais científica destes

profissionais”. Apesar da resistência, o ensino das técnicas de documentação acabou sendo

incorporado aos currículos das Escolas de Biblioteconomia – e a palavra “Documentação” foi

acrescentada às denominações de escolas, congressos e entidades. O IBBD, atual IBICT

(Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia), logo se tornou uma instituição

de grande importância para a biblioteconomia nacional.

Já na década de 1960 o tecnicismo excessivo dos currículos de Biblioteconomia era

considerado um problema. Isso pode ser constatado pelo exame do currículo mínimo sugerido
19

por uma comissão de bibliotecários – entre eles Edson Nery da Fonseca – em 1962. Na sua

justificativa, escrevem:

Contando meio século de existência [...] o ensino da Biblioteconomia deixou


de ser eminentemente erudito para tornar-se, no decorrer dos anos,
exclusivamente técnico. Disto resultou um visível rebaixamento do nível do
bibliotecário, reduzido a produzir fichas e a ordenar livros nas estantes, sem
participar das responsabilidades de direção das bibliotecas que estão a
reclamar, em escala crescente, a orientação de pessoas tecnicamente
habilitadas. (RUSSO, 1966, p. 23).

Merece destaque também a preocupação dos idealizadores do currículo mínimo com

as novas tecnologias, que os leva a incluir entre as habilidades desejáveis do bibliotecário a

capacidade de “lidar com processos eletrônicos de armazenagem e recuperação de

informações” (RUSSO, 1966, p. 24). Percebe-se que mesmo numa época em que a

transformação do computador em eletrodoméstico parecia um sonho distante os bibliotecários

já tinham noção do seu potencial para a área de informação.

No início da década de 1980, os bibliotecários sentiram novamente a necessidade de

repensar “os objetivos e limites de suas práticas” (Silva, 1995, p. 85). Esse repensar foi

acompanhado pelo questionamento dos currículos das escolas de Biblioteconomia,

considerados ainda excessivamente tecnicistas, e pelo reconhecimento do papel político e

social do bibliotecário. Apesar disso, na avaliação de Breglia e Rodrigues (1998, p. 109), as

mudanças provocadas por esse movimento foram apenas superficiais: “na prática a situação

que se verifica é apenas uma mudança de nomes de disciplinas e não inovação de conteúdos”.

Atualmente, as condições sociais e econômicas (neoliberalismo, globalização) e os

avanços científicos e tecnológicos (computadores, Internet) afetam não apenas aos

profissionais das áreas relacionadas à informação, mas a todos os trabalhadores. Na

perspectiva de Arruda, Marteleto e Souza (2000, p. 15), “a demanda por um novo perfil

profissional não é exclusiva da área de informação, mas se insere e se articula com as


20

mudanças introduzidas no mundo do trabalho e na demanda do setor produtivo por um

trabalhador mais qualificado”.

Nesse sentido, os bibliotecários são estimulados a reafirmarem sua importância social,

repensando suas funções tradicionais e procurando adaptar-se a uma nova realidade. No

entanto, o questionamento atual sobre o novo papel do bibliotecário corre o risco de gerar

apenas mudanças superficiais, como Breglia e Rodrigues (1998, p. 109) sugerem ter ocorrido

em décadas passadas. Souza (2004, p. 90-91) afirma que nesse debate “pode-se perceber

menos a busca da compreensão da missão que incumbe ao coletivo bibliotecário e mais uma

busca de abertura de portas, a qualquer preço, no espaço chamado mercado profissional”.

Uma das estratégias sugeridas para abrir as portas do mercado de trabalho é a mudança

do nome “bibliotecário”, que restringiria “o âmbito de atuação dos profissionais” e dificultaria

“a identificação dos mesmos [...] para atuação em outros espaços profissionais” (ARRUDA;

MARTELETO; SOUZA, 2000, p. 19). Nas palavras de Barbosa (1998, p. 54),

um dos fatores que contribuem para a posição desfavorável em que se


encontra a instituição biblioteca e os profissionais a ela vinculados, no atual
quadro de explosão de recursos informacionais e do aumento da importância
da informação como recurso estratégico nos mais diversos contextos, é a sua
própria denominação.

Em vista disso, o autor defende a adoção de novas denominações no âmbito da

Biblioteconomia, afirmando que “os termos biblioteconomia e bibliotecário evocam

equivocadamente a imagem de profissionais que trabalham exclusivamente com livros em um

local chamado biblioteca” (BARBOSA, 1998, p. 58).

Os defensores da mudança geralmente recomendam a adoção de nomes que remetam à

noção de informação. Algumas das novas denominações mais populares são “gestor da

informação” – já existe, na UFPR, um curso de Gestão da Informação 1 – e “profissional da

informação” – termo genérico, freqüentemente usado para designar bibliotecários, arquivistas,

1
A página do curso na Internet encontra-se no endereço http://www.decigi.ufpr.br/
21

museólogos e outros. Barbosa (1998, p. 53) afirma que “não há definição universalmente

aceita a respeito do que constitui um profissional de informação”.

Entre os críticos, da proposta de adoção de um novo nome profissional está Souza

(2004, p. 104). O autor considera que, nas discussões em torno do nome profissional

“Bibliotecário”, “o que parece estar acontecendo é uma tentativa de mudança de ‘rótulos’ e

isso é o que o discurso liberal tem feito nos anos da década de noventa do século XX: o

desemprego passa a chamar-se flexibilização; a negação de direitos profissionais passa a

chamar-se desregulamentação, etc”. O autor lembra também o tempo já investido na

consolidação do nome profissional bibliotecário no Brasil:

Quarenta e dois anos da construção do nome profissional “bibliotecário” no


Brasil, a partir da regulamentação legal, é pouco tempo histórico para
autorizar a busca de uma mudança nesse nome profissional. Um nome
profissional, quer-se queira, quer não, é um patrimônio de um coletivo
social. Pode-se jogar fora um capital dessa dimensão, ainda em construção,
apenas pelo modismo trazido e estimulado no país pela nova onda liberal?
(SOUZA, 2004, p. 104)

3.2 Considerações sobre o status e a (auto) imagem do bibliotecário

Uma das preocupações mais constantes dos bibliotecários ao longo de sua história é o

status da profissão na sociedade. Discute-se como obter o desejado reconhecimento, e em

especial como desfazer o estereótipo do profissional que parece estar impresso no consciente

coletivo e que se apresenta em livros, quadrinhos, filmes e anúncios de tv. Citamos como

exemplo a descrição de Barry Bowes (1979 apud KNEALE, 2002, tradução nossa):

Na psique pública, um bibliotecário é uma mulher de idade indeterminada,


de óculos; uma pessoa tímida ou austera, usando uma blusa de mangas
longas abotoada até o pescoço; alguém que ama o silêncio, gosta de livros, e
se aborrece com as pessoas. Os bibliotecários não riem. São cobertos com
uma película fina de poeira. São pálidos, e, quando tocados (como se alguém
jamais pudesse) suas peles podem se desfazer, revelando serem escamas
como as de um réptil.
22

Alguns autores associam a falta de prestígio da profissão de bibliotecário ao fato de ser

esta uma “profissão feminina”. Ferreira (2002) e Abbott (1998) identificam as dificuldades

que áreas predominantemente femininas como biblioteconomia, enfermagem, magistério e

serviço social enfrentam para obter reconhecimento. Já Castro (2000, p. 156) rejeita essa

associação, lembrando que a biblioteconomia como profissão “teve sua gênese dominada

pelos homens e, nem por isso, nesse período, lhe foi dado o real valor”.

Em seu trabalho, Castro (2000) menciona outros problemas considerados por

diferentes autores brasileiros os mais graves da profissão, entre eles a falta de divulgação. O

autor, porém, julga mais significativos fatores como a postura subalterna do profissional –

também mencionada por Fonseca (1988, p. 105), que fala da “situação humilhante” em que

alguns bibliotecários se encontram “diante de usuários de alto nível” –, a falta de criatividade

para adaptar as novas tecnologias às suas necessidades, a rejeição ao novo e finalmente a

desqualificação profissional, “a causa dos demais problemas” (CASTRO, 2000, p. 156).

Denis Grogan (1995, p. 11-13) apresenta a visão de diversos autores a respeito da

(auto)imagem dos bibliotecários. Um dos pontos ressaltados por ele é que o estereótipo do

bibliotecário difundido hoje na sociedade pode ter tido “um grão de verdade”. Segundo

Steven Falk (apud GROGAN, 1995, p. 12), o status (ou a falta de status) da profissão de

bibliotecário depende de fatores como a predominância de mulheres, a baixa utilização das

bibliotecas, a passividade dos bibliotecários (no sentido de que eles não criam a informação,

apenas a repassam) e a gratuidade dos serviços da biblioteca, pouco popular numa sociedade

que valoriza o lucro.

Grogan (1995, p. 12) afirma que a transformação da imagem estereotipada do

bibliotecário não será resultado da fabricação de uma “contra-imagem”, nem da alteração do

“rótulo” profissional. Na visão do autor, a melhor estratégia é “mudar a realidade por trás da

imagem e deixar que esta cuide de si mesma”. Para que isso se concretize, é necessário que os
23

bibliotecários tomem consciência de sua própria importância. O autor, porém, cita diversos

trabalhos cujos resultados indicam a aceitação do estereótipo por parte dos profissionais. Na

opinião do bibliotecário americano Laurence Clark Powell (apud GROGAN, 1995, p. 12),

“esta concepção popular [...] passou a ser acreditada por muitos bibliotecários como se

correspondesse a si mesmos”. Segundo Grogan (1995, p. 13), a “triste ironia” é que o próprio

público passou a encarar os bibliotecários de acordo com a imagem negativa que estes têm de

si mesmos.

Em seu estudo sobre a auto-imagem de bibliotecários brasileiros, Zita Catarina Prates

de Oliveira (1983) identificou quatro fatores que afetam suas atitudes em relação à profissão:

a natureza de seu trabalho, o salário, o comportamento profissional e a sua auto-estima. Sua

análise levou em conta características como o tipo de biblioteca em que os bibliotecários

entrevistados atuavam, a(s) função(ões) que exerciam, sua formação acadêmica, o tempo de

profissão, a idade, o sexo e o estado civil.

Em relação ao primeiro fator, natureza do trabalho, os entrevistados são unânimes em

negar a concepção de que o trabalho bibliotecário seja rotineiro, monótono, não-criativo e

pouco exigente em termos intelectuais. No entanto, a autora destaca que os bibliotecários de

referência – atividade dinâmica por excelência, pelo contato direto com o usuário – não foram

especialmente incisivos na rejeição desta concepção. Na sua opinião, a falta de um

envolvimento mais intenso com o trabalho de referência prejudica a compreensão de sua

verdadeira natureza.

Parece-nos que o envolvimento do bibliotecário nestas atividades não é


muito intenso, tornando-o incapaz de perceber seus aspectos criativos e
dinâmicos, seja porque o tipo de atividade que estão desenvolvendo na
referência não exige criatividade (por exemplo, informar onde fica tal seção
ou determinada obra), seja porque está executando referência paralelamente
a outras atividades na biblioteca, ou porque suas preocupações se voltam
mais para a organização interna da biblioteca que para o serviço ao leitor
(OLIVEIRA, 1983, p. 61).
24

O segundo fator investigado por Oliveira foi o salário. É generalizada a insatisfação

dos profissionais nesta questão, embora a autora identifique um descontentamento mais

acentuado entre os que atuam em bibliotecas públicas e universitárias. Entre os fatores que

influenciariam a remuneração dos bibliotecários estaria a baixa prioridade dada pelo governo

(provavelmente o seu maior empregador) às bibliotecas.

O terceiro fator de análise diz respeito ao comportamento profissional do bibliotecário,

que priorizaria as técnicas em detrimento da participação social. Aqui a autora identifica

opiniões mais variadas, influenciadas principalmente pelo tipo de biblioteca em que os

entrevistados atuavam: os profissionais de centros/serviços de informação/documentação

concordaram com as afirmações de que o bibliotecário é omisso; os bibliotecários públicos,

especializados e que declararam trabalhar em mais de um tipo de biblioteca as negaram; e os

bibliotecários universitários e escolares e os professores foram indiferentes.

Para Oliveira, espaços como os centros de documentação exigem profissionais

atuantes. No entanto, a falta de preparação acadêmica para lidar com os materiais não-

convencionais (periódicos, mapas) e audiovisuais, típicos dessas unidades, pode levar os

bibliotecários a reconsiderarem sua formação, considerando-a falha.

A autora, lembrando que a omissão dos profissionais tem sido apontada

freqüentemente na literatura especializada, associa a rejeição dos bibliotecários públicos e

especializados a esta visão a uma “necessidade de justificativa de sua própria existência

profissional diante dos atributos negativos que lhes são assinalados” (OLIVEIRA, 1983, p.

65). Relaciona também a indiferença dos professores e dos bibliotecários universitários e

escolares a esta questão à sua ligação com a área educacional, que lhes proporcionaria um

status diferenciado.

Finalmente, Oliveira (1983, p. 67) avalia a auto-estima profissional dos bibliotecários,

com base em valores ocupacionais e pessoais, a saber: inovação, independência, cultura,


25

profundidade, criatividade, desenvoltura, espírito liberal e liderança. A autora identifica que

os profissionais possuem uma auto-estima positiva, concluindo que eles acreditam “na

natureza e na importância do trabalho bibliotecário”.

4 METODOLOGIA

A fim de alcançar nosso objetivo – conhecer o perfil e a identidade do bibliotecário –

realizamos uma pesquisa qualitativa, de cunho interpretativista, visando levantar, no discurso

produzido pelo bibliotecário, marcas de identidade. Para tal levantamento, entrevistamos

bibliotecários da Rede de Bibliotecas Populares do Município do Rio de Janeiro.

As entrevistas realizadas contaram com um roteiro semi-estruturado, dividido em duas

partes. A primeira objetivava traçar um perfil dos bibliotecários, caracterizando-os em termos

de sua experiência acadêmica e profissional. A segunda trazia perguntas mais específicas,

relativas à motivação que os levou a exercer a profissão de bibliotecário, o que projetam para

a profissão, e o que pensam que o público em geral imagina ser a profissão.

A análise das entrevistas se baseia no levantamento das marcas de linguagem que

evidenciam as representações que os profissionais fazem de si mesmos e de seu trabalho,

assim como as marcas que evidenciam o que eles crêem ser a imagem que o público em geral

tem da profissão. Essas marcas serão assinaladas em orações do tipo afirmativo compostas

com verbos como ser e representar.

5 BIBLIOTECÁRIOS: IDENTIDADE E REPRESENTAÇÃO

Com base nas entrevistas realizadas com bibliotecárias da Rede Municipal de

Bibliotecas Populares do Rio de Janeiro, procuramos identificar como essas profissionais se

posicionam em relação às mudanças acontecidas recentemente no campo, e em especial o que


26

pensam da inserção da profissão na sociedade. Antes de passarmos a análise das entrevistas,

apresentaremos um breve histórico da Rede.

5.1 Rede Municipal de Bibliotecas Populares do Rio de Janeiro

A atual Rede Municipal de Bibliotecas Populares do Rio de Janeiro teve sua origem

em 1940, com a criação do Serviço de Bibliotecas do antigo Distrito Federal. A primeira

unidade foi inaugurada seis anos depois, na Lagoa (a atual Biblioteca Popular do Leblon). Em

1948, foi criada a Rede de Bibliotecas Populares do Distrito Federal, cujo primeiro

regulamento foi aprovado em 1957 (RIBEIRO; SOUZA; TEIXEIRA, 1997, p. 52-53).

Em 1975, época da fusão dos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, as bibliotecas

populares do município do Rio passaram a se chamar bibliotecas regionais. O nome original

voltou a ser utilizado em 1987, e, em 1991, um decreto da Prefeitura estabeleceu que as

bibliotecas populares, que até então eram denominadas de acordo com o bairro em que se

localizavam, receberiam nomes de autores brasileiros já falecidos – preferencialmente aqueles

que tivessem, em sua vida e obra, fortes elos com a cidade do Rio e com o bairro onde se

encontrasse a biblioteca (RIBEIRO; SOUZA; TEIXEIRA, 1997, p. 53-54).

Atualmente, integram a Rede de Bibliotecas Populares do Município vinte e cinco

unidades, situadas em diversos bairros da cidade; somadas ao Serviço de Bibliotecas

Volantes, que atende áreas carentes de bibliotecas, atualmente com nove unidades; e à

Biblioteca Abgar Renault, no Centro Administrativo São Sebastião, que serve aos

funcionários da Prefeitura. A Rede é coordenada pelo Departamento Geral de Documentação

e Informação Cultural (DGDI) da Secretaria das Culturas do Rio de Janeiro. O DGDI é

responsável pela aquisição e pelo processamento técnico dos materiais recebidos pelas

unidades, cabendo aos bibliotecários da rede a atribuição da notação de autor. Apenas obras
27

eventualmente recebidas pelas bibliotecas por doação de particulares são classificadas e

catalogadas na própria unidade2.

As Bibliotecas Populares do Rio de Janeiro têm como público-alvo estudantes do

ensino fundamental e médio, crianças em geral, trabalhadores, donas de casa e aposentados.

Elas promovem diversas atividades e serviços, entre debates, exposições, contações de

histórias, sessões de cinema, atendimento a deficientes visuais, gibitecas, brinquedotecas,

cordelteca (especializada em literatura de cordel), e acesso livre à Internet para pesquisa

(RIBEIRO; SOUZA; TEIXEIRA, 1997, p. 55-58).

O quadro a seguir apresenta a distribuição das unidades pelas subprefeituras do

município.

2
Dados retirados da página da Internet da Secretaria Municipal das Culturas
(http://www2.rio.rj.gov.br/culturas/), em 30 de julho de 2004.
28

Subprefeitura Bibliotecas Populares


Cruz e Souza / Bangu
Bangu
Lúcia Benedetti / Jardim Sulacap
Joaquim Manuel de Macedo / Paquetá
Aluísio de Azevedo / Rio Comprido
Centro
José Bonifácio / Gamboa
José de Alencar / Santa Teresa
Álvaro Moreyra / Penha
Grande Irajá
João do Rio / Irajá
Agripino Grieco / Engenho Novo
Grande Méier
Lima Barreto / Méier
Euclides da Cunha / Ilha
Ilha do Governador
Juscelino Kubitschek de Oliveira / Moneró
Jacarepaguá Cecília Meireles / Jacarepaguá
Leopoldina João Ribeiro / Olaria e Ramos
Região do PAN
Clarice Lispector / Grajaú
Tijuca e Adjacências
Marques Rebelo / Tijuca
Zona Norte José Lins do Rego / Dique
João Cabral de Mello Neto / Divinéia
Zona Oeste Joaquim Nabuco / Santa Cruz
Manoel Ignácio da Silva Alvarenga / Campo Grande
Carlos Drummond de Andrade / Copacabana
Machado de Assis / Botafogo
Zona Sul Mário Lago / Rocinha
Pedro Nava / Glória
Vinícius de Moraes / Leblon
Quadro 1 – Distribuição das Bibliotecas Populares pelas subprefeituras do município do Rio de Janeiro.
Fonte: Página on-line da Prefeitura do Rio de Janeiro (http://www.rio.rj.gov.br/).

Optamos por focar a pesquisa na subprefeitura da Zona Sul, que, entre as 12

subprefeituras do Rio de Janeiro, é a que reúne o maior número de bibliotecas populares. São

cinco ao todo, discriminadas abaixo3:

• Biblioteca Popular Vinícius de Moraes – Leblon: Foi a primeira biblioteca pública

instalada num bairro residencial da cidade, em 26 de outubro de 1946, com o nome

Biblioteca da Lagoa. Atende em média 100 leitores por dia, entre estudantes, atores,

escritores e outros profissionais.

3
Dados retirados da página da Internet da Secretaria Municipal das Culturas
(http://www2.rio.rj.gov.br/culturas/), em 30 de julho de 2004.
29

• Biblioteca Popular Carlos Drummond de Andrade – Copacabana: Inagurada em 20 de

janeiro de 1954, foi pioneira no oferecimento gratuito de acesso à Internet ao público,

em 1998. A biblioteca recebe diariamente uma média de 100 pessoas, na maioria

idosos. Além do acesso gratuito à internet, realiza hora do conto e palestras.

• Biblioteca Popular Machado de Assis – Botafogo: Foi inaugurada no dia 20 de janeiro

de 1956. Recebe em média 150 pessoas por dia, na maioria estudantes e idosos. As

principais atividades desenvolvidas são os Encontros para a Terceira Idade, Encontro

de Poetas, e Pólo de Jornal em Biblioteca, além de cursos e oficinas. Por enquanto, é a

única biblioteca da prefeitura na região a funcionar nos fins de semana.

• Biblioteca Popular Pedro Nava – Glória: Foi inaugurada em 5 de março de 1975.

Atende entre 50 e 70 leitores diariamente. Seu acervo guarda a coleção da antiga

Biblioteca Central de Educação. Oferece aos seus usuários sala de vídeo, gibiteca e

exposições.

• Biblioteca Popular Mário Lago – Rocinha: A mais recente das bibliotecas populares

na Zona Sul, foi inaugurada em 7 de agosto de 2002. É a primeira biblioteca infantil

da Rede Municipal de Bibliotecas, recebendo em média 20 leitores por dia, entre

adultos e crianças. Oferece gibiteca, brinquedoteca e hora do conto.

A Biblioteca Popular da Rocinha é a única das cinco que não está sob a supervisão

direta de um bibliotecário – a Biblioteca do Leblon é a responsável indireta (informação

verbal)4. Assim, foram realizadas entrevistas com as bibliotecárias das unidades de Leblon,

Copacabana, Botafogo e Glória.

4
Informação fornecida pela funcionária responsável pela Biblioteca Popular da Rocinha, em novembro de 2004.
30

5.2 Análise das entrevistas

Este item relaciona-se à análise das entrevistas realizadas no período de outubro a

novembro deste ano, com 4 bibliotecárias, descritas pormenorizadamente a seguir.

5.2.1 Perfil das entrevistadas

Todas as profissionais entrevistadas são do sexo feminino, com idades entre 37 e 60

anos. Apenas uma delas possui outro curso de graduação além de Biblioteconomia –

Arquivologia, outra área relacionada à informação. Outra das entrevistadas, porém, declarou

ter sido professora primária antes de ingressar no curso de Biblioteconomia. O quadro abaixo

apresenta o perfil das entrevistadas.

Perfil E1 E2 E3 E4
Idade 60 anos 53 anos 49 anos 37 anos
Ano de 1976 1978 1980 1992
Graduação em
Biblioteconomia
Possui outro Não Sim Não Não
curso de (Arquivologia)
Graduação?
Formação Pós-graduação em Pós-graduação - Especialização
Acadêmica Ciência da Informação em Ciência do (área não
(maior titulação) (CNPQ/IBICT/UFRJ- Yoga (IBMR) informada)
ECO)
Ano de titulação 1994 2003 - 2001
Emprego Professora Arquivista / Bibliotecária Bibliotecária
anterior Profissional de (Biblioteca (UNIGRANRIO)
Yoga / Popular de
Bibliotecária Jacarepaguá)
Tempo na 27 anos 18 anos 24 anos 12 anos
profissão
Há quantos anos 19 anos 10 anos 18 anos 6 anos
trabalha em
biblioteca
pública?
Quadro 2 – Perfil das bibliotecárias entrevistadas.
Fonte: Informação verbal.
31

5.2.2 Identidade e representação

A segunda parte do questionário era composta de sete perguntas. Cada uma delas, e

suas respectivas respostas, serão analisadas a seguir.

P1) Por que você optou por ser bibliotecário?

A questão objetivava identificar a motivação que teria levado as entrevistadas a

seguirem a profissão de bibliotecário. Todas apontaram o amor pelos livros e pela leitura

como razão principal para sua decisão, mas só E4 disse ter tido desde cedo o hábito de

freqüentar bibliotecas. Ela contou sua fascinação infantil com o trabalho do bibliotecário, para

ela uma figura “encantada”, que parecia trazer em si todo o conhecimento. E1, que foi

professora primária, relatou que sua experiência como responsável pela biblioteca da escola

onde trabalhava despertou seu interesse pela profissão.

Bom, eu já era professora primária, então eu acho que tem muito a ver. Dentro da escola eu
já tomava conta da biblioteca também, porque eu me interessava, sempre gostei muito de ler,
gostei muito de pesquisar. Então [isso] me levou a procurar essa profissão, achei que tava
bem afim com o que eu tava querendo... (E1, 3 nov. 2004)
Eu sempre gostei muito de ler, [tinha] uma curiosidade em relação ao contexto do livro, não
só o contexto de uma forma geral, mas também o que continha os livros. E sempre gostei
muito também de escrever (E2, 4 nov. 2004)
O livro é o meu lazer preferido; a leitura sempre, pra mim, foi algo fascinante. E também
quando eu tava no segundo grau, na escola normal, teve um teste vocacional, e deu
biblioteconomia, arquivista, museólogo, sempre nessa área cultural, aí eu optei pela
biblioteconomia. Ler pra mim é a melhor coisa (E3, 5 nov. 2004)
32

Eu acho que o primeiro pensamento foi realmente gostar de livros. Eu era uma criança,
depois uma adolescente, que freqüentava muito a biblioteca. Mas nunca me passou pela
cabeça ser bibliotecária, porque eu achava intransponível ficar do outro lado do balcão,
conhecer todo aquele universo encantado. Então foi meio por acaso, eu saí da profissão de
professora e não sabia no momento o que fazer, se eu começava a estudar mais pra ter uma
especialização no magistério... Aí de repente uma tia comentou comigo ‘Por que você não
tenta Biblioteconomia?’ [Eu falei] ‘É possível, é possível’... Então eu prestei o vestibular pra
UNIRIO, passei, e gostei da experiência.”
[I: E você achava intransponível por quê]
Pela carga que a bibliotecária leva, parece que ela conhece tudo, que ela sabe tudo, que ela
abrange muito conhecimento, então a gente fica meio encantado. Então acaba que a gente
não sabe bem o que é, os trabalhos, quando a gente é criança. Agora, talvez, há um trabalho
maior de saber o que a bibliotecária faz, mas eu acho que há algum tempo atrás era sem
muito esclarecimento, então a gente ficava só imaginando o que era (E4, 8 nov. 2004)

P2) O que representa a Biblioteconomia para você?

Esta pergunta tinha por finalidade conhecer como as entrevistadas representam seu

campo de atuação. E2, que tem formação em Arquivologia, destacou a relação desta área e da

Museologia com a Biblioteconomia – as três áreas representariam caminhos para o

conhecimento. Já E1 relacionou a profissão de bibliotecário à de jornalista, ressaltando a

função de ambos como divulgadores da informação e formadores de opinião. E3 também

lembrou o papel do bibliotecário de disseminar a informação, e ainda declara seu orgulho

profissional. E4, por sua vez, enfatizou a importância do bibliotecário como “suporte” para os

profissionais das demais áreas.

Representa o meio de trabalho, o que eu gosto e que me sinto bem [...] Poderia optar por
outro tipo, ser jornalista, qualquer outra área que fosse dessa atuação de informação, de
divulgação da informação. O que eu gosto é saber que eu sou um agente de divulgação da
informação; e formador de opinião também, também isso é importante, você tem uma
responsabilidade enorme nesse sentido. (E1, 3 nov. 2004)
Biblioteconomia eu acho que é uma forma de você tomar conhecimento, a forma de chegar
ao conhecimento, saber se você realmente gosta de determinados assuntos, ou de seguir um
determinado tema, profissão. Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia, são três caminhos
(E2, 4 nov. 2004)
Eu acho que é uma profissão que, principalmente hoje, te coloca atualizada, porque a
informação hoje virou um produto de primeira necessidade. Acho que pela importância dela
[da Biblioteconomia] mesmo, de fornecer esse material àqueles que tão querendo. Acho algo
muito importante a Biblioteconomia, pra mim. Quando me perguntam, “Qual é tua
profissão”, eu encho a boca e falo “Bibliotecário” (E3, 5 nov. 2004)
33

Pra mim representa uma possibilidade muito interessante de profissão. Acho que a gente
auxilia muito as pessoas na hora das dúvidas, do que a pessoa precisa pra se desenvolver até
mesmo em outra profissão. A gente é um suporte pra todas as profissões. Isso chama muito a
atenção, eu posso ajudar qualquer pessoa, um advogado, um dentista, um médico... É uma
coisa muito gratificante (E4, 8 nov. 2004)

P3) Qual a importância do bibliotecário na sociedade?

Esta questão buscava compreender a percepção das entrevistadas sobre a atuação

social do bibliotecário. Todas concordaram que a profissão é fundamental para a sociedade,

ressaltando sua função de fornecer acesso à informação. E1 enfatizou a importância da

biblioteca pública, que não apenas divulga informação livre de censura à população, como

também lhe oferece espaços para que realize suas próprias atividades. E2 destacou o papel do

livro na construção da identidade nacional, sugerindo que o bibliotecário participaria

indiretamente desse processo. Para E3, fatores como os baixos salários e a ocupação de vagas

destinadas originalmente a bibliotecários por pessoas sem formação em Biblioteconomia

(pouco questionada por quem não é da área), demonstram a falta de reconhecimento do

profissional pela sociedade. Já E4 considera o mundo um “grande lugar de conhecimentos”,

em que o bibliotecário funcionaria como ponte entre o homem e a informação.

É uma importância muito grande, no sentido de você fornecer a informação. Você tem que
dar a informação, não a informação que você gostaria que fosse interpretada pela pessoa,
mas tem que dar tudo, pra que a pessoa consiga fazer a interpretação que deseja. O
importante é isso, você divulgar o máximo que você puder; e a biblioteca pública é bom, por
que tem também a parte – que nós não temos muito aqui, por que nós não temos espaço – de
eventos. Tudo isso é uma forma de você estar abrindo espaço, pra todo mundo que quiser
(E1, 3 nov. 2004)
É importante que você tenha essa identidade [com a nação], o ser brasileiro, e o livro dá essa
noção (E2, 4 nov. 2004)
Bom, eu acho muito importante, mas eu não vejo que a sociedade acha tão importante, não.
Eu diria pelo próprio salário, que é superdesvalorizado; e também a nossa profissão é muito
preenchida por pessoas de outras áreas. Eu acho que tinha que partir da sociedade exigir um
profissional específico naquela área. Você vê, ele é atendido por qualquer profissional, e a
pessoa não questiona, ‘você é bibliotecário?’, ‘qual é tua formação?’, então, pra eles tanto
faz. Não exige muito, eu acho que não valoriza muito a profissão. (E3, 5 nov. 2004)
é dar um suporte pra você poder entender o mundo como um grande lugar de conhecimento,
o bibliotecário auxilia isso, mostra caminhos, ajuda, ele é a ponte do outro profissional com
o conhecimento (E4, 8 nov. 2004)
34

P4) Você considera que seu trabalho é reconhecido pela comunidade?

Essa pergunta se relaciona diretamente com a anterior. Nesta, o objetivo é conhecer o

ponto de vista das entrevistadas sobre o reconhecimento da importância do bibliotecário pela

sociedade, em especial a comunidade em que trabalham. Todas consideram que seu trabalho é

reconhecido. E1 destacou que as solicitações por mais serviços que recebe de seus usuários.

Para E4, as novas tecnologias possibilitaram uma maior divulgação do trabalho do

bibliotecário, que hoje seria conhecida por todos.

Ah, eu acho que sim. Eu acho que tem que ser, primeiro que os livros estão caríssimos;
então se a comunidade não tem uma biblioteca que atenda à necessidade, ele já vai sentir
falta, já vai reclamar. A comunidade aceita bem; eu acho que de um modo geral aceita muito
bem. E até solicita mais coisa, eles reclamam aqui, ‘Poxa, a biblioteca de Botafogo tem
eventos, aqui vocês não tem’, por que lá eles têm um auditório, tem um espaço; infelizmente
aqui não tem (E1, 3 nov. 2004)
Ah, é, é sim. (E2, 4 nov. 2004)
eles elogiam, elogiam o acervo... É reconhecido (E3, 5 nov. 2004)
Considero, sim. Eu acho que quem freqüenta a biblioteca, quem sabe o que a gente tá
fazendo reconhece o nosso trabalho. [...] no mundo da tecnologia, que todo mundo conhece
um pouco de tudo, eu acho que todo mundo agora sabe mais ou menos, um com maior grau
de reconhecimento, outro com menor, o que é essa profissão. (E4, 8 nov. 2004)

P5) Na sua opinião, que imagem os usuários da sua biblioteca têm do bibliotecário?

Nesta questão, que também tem seu foco na comunidade local, procuramos identificar

a imagem que os usuários das bibliotecas visitadas teriam do bibliotecário, segundo o que

percebem as próprias profissionais. E1 ressaltou a diferença percebida na visão que crianças e

adultos têm do profissional: para os mais novos, especialmente os estudantes, o bibliotecário

seria uma espécie de professor, um auxiliar para os trabalhos escolares – e por sua vez a

biblioteca pública seria encarada como continuação da escola. E2 lembrou a necessidade de

que os bibliotecários assumam posições claras frente à comunidade, a fim de obterem dela o

reconhecimento. E4 destacou o papel do profissional como uma espécie de guia do usuário,

“traduzindo” os códigos usados na biblioteca.


35

Ah, depende, quando é criancinha é ‘tia’, é como se fosse uma professora. As crianças de
primeiro grau vêm aqui e acham que a biblioteca é a continuação da escola, eles não têm
essa diferenciação entre biblioteca pública, que não é biblioteca escolar. Quer dizer,
primeiro é como se fosse a continuação da escola, então é a professora que ta lá na biblioteca
pra te ajudar a fazer o trabalho. Quando vai crescendo, ela já pede uma orientação, qual o
livro melhor pra ler, e já começa a ler autores brasileiros. E o adulto, e aquele pós-graduado,
ou então já graduado em faculdade, eles já são mais independentes, claro, têm que ser. Eles
gostam assim, é claro, quando a gente atende bem [...] [Quando] eles perguntam a gente
mostra até alguns livros e mostra a estante, pra eles escolherem outros, pra eles terem mais
liberdade; porque às vezes você dá um livro e tem um outro do lado que você não imagina
que talvez aquele seja melhor (E1, 3 nov. 2004)
Ah, é questionável. Agora, você tem que se posicionar, você tem que estar atento à
sociedade (E2, 4 nov. 2004)
Comigo, especificamente, acho que têm uma boa imagem (E3, 5 nov. 2004)
Eu acho que as pessoas imaginam que a gente auxilia mesmo. Talvez quando a pessoa
chegue na biblioteca a quantidade de livros impressione, às vezes a pessoa fica um pouco
perdida. E o bibliotecário é essa pessoa que vai [dizer] ‘Calma, não é bicho de sete cabeças,
você quer tal assunto? Tal assunto fica aqui’, traduz um pouco desse mundo de códigos. (E4,
8 nov. 2004)

P6) O curso de Biblioteconomia mudou sua percepção do profissional bibliotecário?

Como?

Esta pergunta tinha como objetivo conhecer se e como o curso de Biblioteconomia

teria contribuído para mudar a noção que as entrevistadas tinham do bibliotecário. E2

ressaltou a preocupação com o usuário, cujos interesses o bibliotecário deve priorizar. Na

experiência de E4, a “admiração de criança” que tinha pelo bibliotecário ganhou intensidade à

medida que conheceu mais do trabalho do profissional. E1 e E4 disseram não se lembrar do

que pensavam da profissão antes de cursarem biblioteconomia. Para E1, as mudanças se

dariam mais em termos das atividades específicas em cada de tipo de biblioteca; já E4

destacou a “distância” entre o que é ensinado nas escolas e a prática profissional.


36

Eu acho que não, acho que eu tinha essa noção mesmo, que o bibliotecário é pra isso
mesmo. Por exemplo, biblioteca universitária eu sei que já é outro tipo de trabalho, é muito
mais específico, de repente você nem é muito requisitada, por que eles já têm mais
conhecimento. Na biblioteca pública muita gente nem sabe como usar a biblioteca, você tem
que dar noções primeiro. Não me lembro, tem tanto tempo que eu tô formada que eu nem
me lembro mais o que eu pensei na época. Se eu talvez mudasse pra outro tipo de biblioteca,
biblioteca especializada, eu talvez fosse sentir, fazer uma comparação, “na pública eu fazia
isso, aqui eu não posso fazer” (E1, 3 nov. 2004)
Eu acho que mudou um pouquinho. Você acaba tendo mais preocupação com a comunidade,
é oferecer pra comunidade aquele conhecimento que a comunidade quer (E2, 4 nov. 2004)
Ah, tem 24 anos... Se mudou, não mudou, não me lembro mais. Acho que não. Eu saí [da
faculdade] e não fui trabalhar na área, fiquei 10 anos fora da área. Depois é que eu vim pra
área de biblioteca popular. Então a gente vê [que] há uma diferença, uma distância, entre
aquilo que a gente aprende com a nossa realidade. A gente só identifica as diferenças, mas
não chega a mudar nada não. (E3, 5 nov. 2004)
Sim, mudou, porque antes, criança, adolescente, a gente não sabia muito bem o que era o
bibliotecário. Passando pro lado de lá, conhecendo o que ele faz, você aí tem uma noção real
do que é ser bibliotecário. Eu tinha uma admiração de criança, que ficou traduzida com mais
intensidade, realmente é interessante o trabalho. Não [é] você ser o assunto, ou você saber o
assunto. É como você chega lá, a ponte que eu te falei. (E4, 8 nov. 2004)

P7) A partir da sua experiência, como você vê sua profissão hoje?

A última pergunta visava conhecer a perspectiva das entrevistadas para a profissão no

panorama atual, considerando-se a evolução tecnológica. E1 e E3 rejeitaram o estereótipo do

profissional “fechadinho”, que consideram ultrapassado não apenas no que se refere à imagem

propriamente dita, mas também às idéias do bibliotecário que se esconde atrás dos livros e

teme os danos que o usuário lhes possa causar. E1 destacou a necessidade de atualização para

evitar que o bibliotecário vire “peça de museu”, mas ainda relaciona a permanência do

profissional e das bibliotecas à sobrevivência do livro. E3 lembrou a importância da ação

política do profissional, por meio dos conselhos, sindicatos e associações, para impedir que a

profissão seja exercida por pessoas sem a devida qualificação. E2 voltou a ressaltar a ligação

entre bibliotecários, museólogos e arquivistas, relacionada agora ao seu trabalho com a

memória. Finalmente, E4 destacou o papel do bibliotecário como facilitador das buscas por

informação no contexto gerado pelas novas teconologias.


37

Eu acho que tem que evoluir bastante, porque agora com o computador se a gente não ficar
esperto a gente vai virar uma peça de museu, você tem que compreender isso. No Brasil não
tem tanta gente com computador em casa, mas daqui a algum tempo eu acho que vai ser
quase que um utensílio doméstico. Agora, pra mim, e pra muita gente, graças a Deus, não há
nada como você pegar um livro, abrir e sentir. Nada como você ter a informação no livro, eu
acho que isso não vai acabar é nunca. Por que uma coisa é você tirar uma informação
imediata, agora o livro não, tem as gravuras, tem o cheiro, enfim... Dizem ‘Vai acabar a
biblioteca, não vai ter tanta utilidade’; eu acho que isso não vai acabar nunca. Pode ser que
mude, que a gente vá ter que mudar – mas aí eu acho que não vai ser mais comigo, vai ser já
pra nova geração – mudar realmente, talvez o atendimento, perspectiva, ter computadores...
Mas eu acho que biblioteca vai ter sempre o seu lugar, acho que o bibliotecário também. Ele
tem que se atualizar, não vai ser mais aquele bibliotecário que fica atrás de um monte de
livros, isso acabou, já tem muito tempo que acabou. Que antigamente tinha até um
estereótipo de bibliotecário, fechadinho e tal, de óculos, que agora tem que evoluir. Não é só
o tipo físico, mas as idéias. Não pode mais ter aquele silêncio absoluto [...] tem pessoas que
quando chegam ali na porta ficam olhando, não sabem o que fazem, então você tem que
deixar eles à vontade. Eles ficam assim meio temerosos, se pode falar, o que pode pedir, se
tem que pagar, eles perguntam muito isso. Eles não têm a noção que biblioteca pública é isso
mesmo. Acho que eles ficam meio temerosos de entrar no recinto, com tanto livro assim...
Mas nós não somos sisudos nem nada (E1, 3 nov. 2004)
Eu acho que o bibliotecário é importantíssimo. Como também não posso dispensar o
arquivista, que trabalha com a memória, e o museólogo, também (E2, 4 nov. 2004)
Se impor ele tem, mas tem que ter uma política, conselho preocupado com isso. Eu não sei
como é a tua perspectiva de mercado, eu acho difícil. Como eu te falei, várias pessoas
ocupam o nosso cargo. A gente vê em escola, não tem bibliotecário na biblioteca; às vezes
até em universidade mesmo, tem um bibliotecário, e o resto tudo é estudante da faculdade,
ou pessoas mesmo de outra área atuando. Não vejo uma valorização [...] essa imagem
[estereotipada] é tão antiga... Tenho 24 anos de formada, e pelo menos na minha cabeça o
livro é pra ir pra mão do leitor, não vou esconder a informação [pensando] ‘pode ser que
perca, arranque página’. Acho que hoje em dia não tem mais isso não, nem o profissional
nem a imagem. (E3, 5 nov. 2004)
Eu vejo uma profissão necessária, importantíssima prum mundo de informações que as
novas tecnologias tão colocando. É necessário você ter alguém que te esclareça certas
coisas. O número de informações é muito grande, você não pode ficar perdendo muito
tempo, tem que ter uma pessoa pra auxiliar, pra te facilitar essa busca, pra achar o que você
quer. (E4, 8 nov. 2004)

5.3 Discussão

Todas as bibliotecárias entrevistadas, que têm entre 27 e 12 anos de profissão,

percebem a importância das novas tecnologias da comunicação e da informação, e a

necessidade de que o bibliotecário domine estas ferramentas. No entanto, E1, mais experiente,

apesar de reconhecer a importância das novas tecnologias, adia para os bibliotecários da

“nova geração” a responsabilidade de se adaptar às novas condições; ao mesmo tempo em que


38

dá a entender que o destino do bibliotecário está intimamente relacionado ao futuro do livro

como existe hoje.

O amor aos livros aparece como razão principal para a escolha pela biblioteconomia

como profissão, mencionada antes de qualquer outra. No entanto, não parece existir o desejo

de se “esconder” na biblioteca para viver entre livros, criticado por Edson Nery da Fonseca

(1988, p. 39). Pelo contrário, todas as entrevistadas citam o usuário como a maior de suas

preocupações. Nesse sentido destacamos a fala de E2, que declara ter aprendido no curso de

biblioteconomia a ter como prioridade as necessidades informacionais de seus usuários: “É

oferecer pra comunidade aquele conhecimento que a comunidade quer”.

Nas representações das profissionais entrevistadas, o bibliotecário aparece

fundamentalmente como intermediário entre o homem e a informação (ou o conhecimento).

Nas palavras de E4, ele é um “suporte”, ou uma “ponte”, ou ainda um “tradutor”, fazendo a

relação entre os demais profissionais e o conhecimento registrado em seus respectivos campos

de atuação.

As bibliotecárias entrevistadas neste trabalho enfatizam também o papel do

bibliotecário como guia. Nas palavras de E4, “Talvez quando a pessoa chegue na biblioteca a

quantidade de livros impressione, às vezes a pessoa fica um pouco perdida. E o bibliotecário é

essa pessoa que vai [dizer] ‘Calma, não é bicho de sete cabeças, você quer tal assunto? Tal

assunto fica aqui’, traduz um pouco desse mundo de códigos”.

Este papel de mediador do bibliotecário é amplamente difundido na literatura,

destacando-se a expressão de Ortega y Gasset no ensaio Misión del Bibliotecario (1997), que

imaginava “o futuro bibliotecário como um filtro que se interpõe entre a torrente de livros e o

homem”. A fala das entrevistadas indica a aceitação das idéias de autores como Milanesi

(1995, p. 105), para quem a tarefa do bibliotecário se realiza “mais profundamente” no

trabalho de referência. Também Denis Grogan (1995, p. 9-10), com base em pesquisas sobre
39

as dificuldades encontradas por usuários de bibliotecas no manuseio de seus catálogos

(tradicionais ou em linha), ressaltou a importância do contato direto usuário-bibliotecário. O

autor afirma que

à medida que [...] o mundo da informação se torna mais complexo, o usuário


auto-suficiente parece mais do que nunca uma miragem. O advento dos
serviços em linha, com a promessa precoce e temerária de dispensar o
intermediário [...], reforçou, ao contrário, o papel do bibliotecário de
referência (GROGAN, 1995, p. 19).

Para Jambeiro e Silva (2004), porém, o advento da internet e de suas sofisticadas

ferramentas de busca tornaram em realidade a autonomia dos usuários de informação. Os

autores defendem que o atendimento direto ao público nessa nova era pode ser realizado por

auxiliares, enquanto o bibliotecário se dedicaria exclusivamente a atividades de planejamento

e tratamento da informação. Isso representaria “um triunfal retorno à essência da profissão, tal

como nasceu e se desenvolveu: cuidar da informação em si mesma, das formas e dos meios

sociais, culturais, econômicos, científicos e tecnológicos pelos quais ela deve se tornar

disponível para o usuário”.

As bibliotecárias representam positivamente sua profissão, mesmo reconhecendo os

problemas por ela enfrentados – o que nos remete aos resultados da pesquisa de Oliveira

(1983), debatidos no item 3.2 deste estudo. Todas parecem satisfeitas com suas funções e

condições de trabalho, embora E1 reconheça a falta de espaço para realizar eventos em sua

biblioteca, e E3 reclame dos baixos salários.

Como vimos, a percepção das entrevistadas do que a sociedade pensa do profissional

é, no geral, positiva. No entanto, essa visão não é compartilhada por E3 de modo equânime.

Para ela, os baixos salários e a ausência de bibliotecários em funções que deveriam ser

exercidas exclusivamente por eles são sinais de que a sociedade ainda estaria longe de

reconhecer o profissional.
40

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cabe ressaltar que esta pesquisa é embrionária, considerando que o universo estudado

é pequeno e que, portanto, não poderia apresentar conclusões definitivas do assunto.

Neste trabalho buscamos conhecer as representações que um grupo de bibliotecárias

faz de sua profissão, a fim de identificar marcas de identidade. Paralelamente, empreendemos

uma revisão de literatura com o objetivo de traçar um histórico da profissão e compreender as

discussões em torno das recentes transformações introduzidas no campo pelo advento das

novas tecnologias.

De acordo com Ortega (1997), embora as bibliotecas existam há milênios, o ofício de

bibliotecário só foi efetivamente reconhecido como profissão por volta de 1850 – o primeiro

curso universitário de Biblioteconomia data de 1876. Ao longo de todo esse tempo, os

profissionais têm se defrontado com o crescimento acelerado, e por vezes assustador, da

produção do conhecimento registrado e com o surgimento de novos suportes e tecnologias

informacionais, o que os obriga a repensar continuamente suas funções na sociedade.

Por vezes, o avanço científico-tecnológico parece deixar os bibliotecários para trás.

Foi o que teria acontecido no final do século XIX, quando, graças aos advogados Otlet e

LaFontaine, surgiu a Documentação. A nova disciplina buscava – com base em técnicas

biblioteconômicas como a CDD e as bibliografias – auxiliar aos especialistas na tarefa cada

vez mais difícil de se manterem atualizados.

Hoje, Biblioteconomia e Documentação já não são mais consideradas áreas

independentes, mas há o reconhecimento internacional – apontado por SOUZA (2004), entre

outros – de que ambas representam campos de atuação complementares para os bibliotecários:

um, educacional e sócio-cultural; o outro, técnico-científico e comercial. Parece-nos que um


41

dos desafios para a classe hoje é conciliar os dois papéis, especialmente no que se refere à

formação dos futuros profissionais.

Atualmente, a difusão das novas tecnologias na sociedade apresenta novos desafios

para o profissional. Não há consenso na literatura quanto às implicações desses

acontecimentos para o campo da Biblioteconomia: alguns defendem que os profissionais

devem privilegiar o trabalho com os usuários, para outros, o alvo deve ser aperfeiçoar o

tratamento da informação. A controvérsia indica serem necessárias ainda muitas discussões

nesse sentido, no entanto, é importante que os profissionais estejam atentos a fim de não

serem ultrapassados pela velocidade das transformações tecnológicas.

Os bibliotecários brasileiros encontram-se novamente diante da possibilidade de

mudar os rumos da profissão. Será preciso, no entanto, um esforço comum para que as

discussões produzam resultados mais duradouros e consistentes do que as reformas anteriores.

É fundamental que as atenções estejam voltadas não apenas para o mercado, mas para as

necessidades da sociedade.

As entrevistas realizadas por nós com bibliotecárias da Rede Municipal de Bibliotecas

Populares do Rio de Janeiro indicaram que estas profissionais estão, em geral, satisfeitas com

a Biblioteconomia. Mesmo sem negar os problemas da área, parecem confiantes na

importância e no reconhecimento social do papel do bibliotecário como intermediário da

informação, reforçando em suas falas o papel sócio-cultural e educacional do bibliotecário.

E4, a de menor tempo de profissão, foi única a apontar o papel de auxiliar dos demais

profissionais na exploração do conhecimento, trabalho mais relacionado à informação para

fins técnico-científicos e/ou comerciais. Este resultado era esperado, visto que todas as

entrevistadas atuam em biblioteca pública.

As declarações de Grogan (1995) e outros autores a respeito da aceitação do

estereótipo da profissão pelos próprios bibliotecários podem ser relacionadas à teoria de


42

Butler (apud SILVA, 2004) sobre performatividade e identidade. De acordo com a autora, a

repetição de determinados enunciados a respeito de uma identidade, mesmo que

aparentemente descritivos, pode contribuir para torná-los realidade.

Considerando os resultados deste estudo e os apresentados por Oliveira (1983),

notamos que os profissionais rejeitam qualquer identificação com a imagem negativa do

bibliotecário. Acreditamos que a atenção dedicada ao problema de sua imagem, associada a

atitudes positivas como as demonstradas pelas entrevistadas nesta pesquisa, opere, mesmo que

a longo prazo, uma transformação no estereótipo do profissional.


43

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