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Mudança de entendimento a respeito dos direitos fundamentais e

orçamento público
Decisão judicial pode assegurar direitos RECURSO ESPECIAL Nº 208.893 - PR
fundamentais que acarretem gastos (1999/0026216-6) RELATOR : MINISTRO
orçamentários FRANCIULLI NETTO RECORRENTE:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO
PARANÁ RECORRIDO: MUNICÍPIO DE
Em decisão unânime, a Segunda Turma do
CAMBARA ADVOGADO: ALLAYMER
Superior Tribunal de Justiça (STJ) RONALDO REGIS DOS BERNARDOS
reconheceu a possibilidade de BONESSO
determinação judicial assegurar a
efetivação de direitos fundamentais, EMENTA - RECURSO ESPECIAL - AÇÃO
mesmo que impliquem custos ao CIVIL PÚBLICA COM PRECEITOS
orçamento do Executivo. A questão teve COMINATÓRIOS DE OBRIGAÇÃO DE
origem em ação civil pública do Ministério FAZER - DISCRICIONARIEDADE DA
Público de Santa Catarina, para que o MUNICIPALIDADE - NÃO CABIMENTO DE
município de Criciúma garantisse o direito INTERFERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO
constitucional de crianças de zero a seis NAS PRIORIDADES ORÇAMENTÁRIAS DO
anos de idade serem atendidas em creches MUNICÍPIO - CONCLUSÃO DA CORTE DE
e pré-escolas. O recurso ao STJ foi ORIGEM DE AUSÊNCIA DE CONDIÇÕES
ORÇAMENTÁRIAS DE REALIZAÇÃO DA
impetrado pelo município catarinense
OBRA - INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 07/STJ
contra decisão do Tribunal de Justiça de - DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL
Santa Catarina (TJSC). AFASTADA - AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO DE DISPOSITIVOS
O TJSC entendeu que o referido direito, DO ECA APONTADOS COMO VIOLADOS.
reproduzido no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), é um dever do Estado, Requer o Ministério Público do Estado do Paraná,
sendo o direito subjetivo garantido ao autor da ação civil pública, seja determinado ao
menor. Ele assegura a todas as crianças, Município de Cambará/PR que destine um imóvel
nas condições previstas pela lei, a para a instalação de um abrigo para menores
possibilidade de exigi-lo em juízo, o que carentes, com recursos materiais e humanos
essenciais, e elabore programas de proteção às
respaldou a ação civil proposta pelo MP
crianças e aos adolescentes em regime de abrigo.
estadual, devido à homogeneidade e
transindividualidade do direito em foco.Na lição de Hely Lopes Meirelles, "só o
Ainda de acordo com a decisão do TJSC, aadministrador, em contato com a realidade, está
determinação judicial do dever pelo Estado
em condições de bem apreciar os motivos
não caracteriza ingerência do Judiciário na
ocorrentes de oportunidade e conveniência na
esfera administrativa. A atividade desseprática de certos atos, que seria impossível ao
dever é vinculada ao administrador, uma legislador, dispondo na regra jurídica - lei - de
vez que se trata de direitos consagrados.
maneira geral e abstrata, prover com justiça e
Cabe ao Judiciário, por fim, torná-lo acerto. Só os órgãos executivos é que estão, em
realidade, mesmo que para isso resulte muitos casos, em condições de sentir e decidir
administrativamente o que convém e o que não
obrigação de fazer, podendo repercutir na
esfera orçamentária. convém ao interesse coletivo" .
Dessa forma, com fulcro no princípio da
discricionariedade, a Municipalidade tem liberdade
No recurso, o município de Criciúma
para, com a finalidade de assegurar o interesse
alegou violação a artigos de lei que público, escolher onde devem ser aplicadas as
estabelecem as diretrizes e bases da verbas orçamentárias e em quais obras deve
educação nacional, bem como o princípio investir. Não cabe, assim, ao Poder Judiciário
da separação dos Poderes e a regra que interferir nas prioridades orçamentárias do
veda o início de programas ou projetos não Município e determinar a construção de obra
incluídos na Lei Orçamentária Anual especificada.
(LOA). Sustentou também que as políticas
sociais e econômicas condicionam a forma Ainda que assim não fosse, entendeu a Corte de
origem que o Município recorrido "demonstrou
com que o Estado deve garantir o direito à
não ter, no momento, condições para efetivar a
educação infantil. obra pretendida, sem prejudicar as demais
atividades do Município". No mesmo sentido, o r.
Em seu voto, o ministro relator, Juízo de primeiro grau asseverou que "a Prefeitura
Humberto Martins, ressaltou que a já destina parte considerável de sua verba
insuficiência de recursos orçamentários orçamentária aos menores carentes, não tendo
não pode ser considerada uma mera condições de ampliar essa ajuda, que, diga-se de
falácia. Para o ministro, a tese da reserva passagem, é sua atribuição e está sendo cumprida".
do possível – a qual se assenta na ideia de Adotar entendimento diverso do esposado pelo
Tribunal de origem, bem como pelo Juízo a quo,
que a obrigação do impossível não pode
envolveria, necessariamente, reexame de provas, o
ser exigida – é questão intimamente que é vedado em recurso especial pelo comando da
vinculada ao problema da escassez de Súmula n. 07/STJ.
recurso, resultando em um processo de
escolha para o administrador. Porém, a No que toca à divergência pretoriana, melhor sorte
realização dos direitos fundamentais, não assiste ao recorrente, uma vez que a tese
entre os quais se encontra o direito à defendida no julgado paradigma não prevalece,
educação, não pode ser limitada em razão diante do posicionamento adotado por este egrégio
da escassez orçamentária. O ministro Superior Tribunal de Justiça.
sustentou que os referidos direitos não
Ausência de prequestionamento dos artigos 4º,
resultam de um juízo discricionário, ou parágrafo único, alíneas "c" e "d", 86, 87, 88,
seja, independem de vontade política. incisos I a III, 90, inciso IV, e 101, incisos II, IV, V
a VII, todos da Lei n. 8.069/90.
O relator reconheceu que a real falta de
recursos deve ser demonstrada pelo poder Recurso especial não provido.
público, não se admitindo a utilização da
tese como desculpa genérica para a ACÓRDÃO
omissão estatal na efetivação dos direitos Vistos, relatados e discutidos os autos em que são
fundamentais, tendo o pleito do MP base partes as acima indicadas, acordam os Ministros da
SEGUNDA TURMA do Superior Tribunal de
legal, portanto. No entanto, o ministro fez
Justiça, por unanimidade, em negar provimento ao
uma ressalva para os casos em que a recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-
alocação dos recursos no atendimento do Relator. Os Srs. Ministros João Otávio de
mínimo existencial – o que não se resume Noronha, Castro Meira, Francisco Peçanha
no mínimo para a vida – é impossibilitada Martins e Eliana Calmon votaram com o Sr.
pela falta de orçamento, o que impossibilita Ministro Relator.
o Poder Judiciário de se imiscuir nos
planos governamentais. Nesses casos, a Brasília (DF), 19 de dezembro de 2003 (Data do
escassez não seria fruto da escolha de Julgamento)
atividades prioritárias, mas sim da real
insuficiência orçamentária. A notícia MINISTRO FRANCIULLI NETTO
Relator
refere-se ao processo REsp 1185474

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