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[1] Roberto Lyra Filho defendeu a concepção humanista dialética do Direito e incentivou estudantes a adotarem uma postura crítica ao ensino jurídico da época.
[2] Lyra Filho analisou as relações de poder na academia que ideologicamente capturavam o Direito a serviço das elites.
[3] Para Lyra Filho, deve-se estudar Direito de forma a "absorver toda abertura para alargá-la", ocupando espaços para expansão gradual de uma visão contra-hegemônica.
[1] Roberto Lyra Filho defendeu a concepção humanista dialética do Direito e incentivou estudantes a adotarem uma postura crítica ao ensino jurídico da época.
[2] Lyra Filho analisou as relações de poder na academia que ideologicamente capturavam o Direito a serviço das elites.
[3] Para Lyra Filho, deve-se estudar Direito de forma a "absorver toda abertura para alargá-la", ocupando espaços para expansão gradual de uma visão contra-hegemônica.
[1] Roberto Lyra Filho defendeu a concepção humanista dialética do Direito e incentivou estudantes a adotarem uma postura crítica ao ensino jurídico da época.
[2] Lyra Filho analisou as relações de poder na academia que ideologicamente capturavam o Direito a serviço das elites.
[3] Para Lyra Filho, deve-se estudar Direito de forma a "absorver toda abertura para alargá-la", ocupando espaços para expansão gradual de uma visão contra-hegemônica.
Resenha do texto transcrito da conferncia Por que Estudar Direito, Hoje?
escrito por Roberto Lyra Filho, lida em maro de 1984, na 1 Semana Jurdica dos Estudantes da Universidade do Distrito Federal, lanado pela Edies Nair Ltda, no mesmo ano.
A atuao de contra-mola no centro da engrenagem: da necessidade da
ocupao crtica nos cursos de Direito. Arthur Sousa Costa Graduando em Direito pela UnB
Primavera nos dentes
Joo Apolinrio Quem tem conscincia para ter coragem Quem tem a fora de saber que existe E no centro da prpria engrenagem Inventa a contra-mola que resiste Quem no vacila mesmo derrotado Quem j perdido nunca desespera E envolto em tempestade decepado Entre os dentes segura a primavera
Braslia, 05 de julho de 2016.
1
Roberto Lyra Filho, apoiado em seu dever apadrinhado de espalhar os
preceitos fundamentais da Nova Escola Jurdica Brasileira dentro do universo acadmico que o acolhia, engajou-se numa turn de apresentao e defesa da concepo poltica-filosfico do Direito que o atendia: o humanismo dialtico. Nesse contexto de extrema efervescncia de seus trabalhos no campo da produo em pesquisa de direito na Universidade de Braslia, deu-se sua apresentao na 1 Semana Jurdica dos Estudantes da Universidade do Distrito Federal, na qual, com seu brilhantismo caracterstico, foi capaz de sintetizar toda a experincia elementar da atuao de um agente de concepes contra-hegemnicas ordem na qual inserido. Como, neste contexto de extremo embate de foras, inclusive internamente ao indivduo, a um nvel psicolgico, que se encontra no centro desta peleja ideolgica se d a construo teleolgica de sua atuao combativa: ter o estudante renitente, o professor obstinado, o jurista inconformado, campo frtil de combate na poderosa mquina que se pe sobre ele? neste diapaso que Lyra Filho desenvolve seu lugar de fala, esmiuando uma poderosa anlise das relaes estruturais de poder dentro da academia, e nesse sentido, da prpria predominncia ideolgica que capta e coopta o Direito a um nvel prematuro de desenvolvimento, concentrando-o numa produo legislativa positivista de tendncias elitistas e espoliantes, ao passo que traa os possveis caminhos que possibilitam uma atuao consciente e tensionadora daqueles que se dispem a lidar com este leviat. Na traduo de seu pensamento, se utiliza de um reforo argumentativo ao trazer atual realidade dos estudantes da ordem jurdica o contexto poca de Castro Alves, ao qual se refere como um mau estudante de Direito, mas no sem explanar a estrutura do Direito estudado pelo poeta, que se arrasta pelos tempos e se entrega aos dias atuais com a mesma lgica de servido ao poder da poca, ressalvadas as homeopticas conquistas garantidas pelos grupos de tenso, na sociedade e dentro da prpria mquina. Entender, portanto, que o Direito vinha mutilado pelos cdigos e anestesiado pela ideologia1, e que este panorama se apresenta mais ou menos nos 1FILHO, Roberto Lyra. Por que estudar direito, hoje?. Edies Nair Ltda. Braslia. 1984. P. 10. 2
mesmos moldes no atual panorama do ensino do direito, determinar como
pressuposto da organizao argumentativa de Lyra Filho que o Direito positivo fruto de um processo ideolgico, tornando o Direito, por si mesmo, uma ferramenta ideolgica. Resume, Lyra Filho, em sua obra O que Direito, que as formaes ideolgicas que perpassam a prpria diviso de classes numa sociedade atuam favorecendo uma que domina em detrimento de outra que dominada. Estatuise, assim, uma ideologia oficial pregada pelo Estado como a nica vlida 2 e que alega concentrar em si as verdades jurdicas do mundo, mas que na realidade, refora as estruturas de desigualdade sociais, transformando o saber (e o aprender) do Direito em uma mera ferramenta tcnica a servio das classes que historicamente se perpetuam no poder. Dir, portanto, haver um Direito e um Antidireito, sendo o primeiro reto e correto, enquanto o segundo o negar, entortando-o de acordo com os interesses de classe e de continuao de poder vigente.3 Este reducionismo das expresses jurdicas ao frio legalismo obedece lgica ideolgica que encarcera no Estado o ncleo do controle normativo, levando em conta o seu aparelhamento, enquanto figura mxima de regncia dos rgos da sociedade, pelos detentores dos meios de produo, garantindo a concentrao de poder normativo regulador nesta classe que age finalisticamente manuteno da ordem da maneira em que ela se encontra. Por isto, no de se espantar que nas situaes em que se desenha, ainda que minimamente, uma alterao dessa margem de pacificidade estrutural, as classes sobrepujantes se organizem em resistncia, ainda que para tal tenham de mudar as regras do jogo estabelecidas por elas prprias. Neste desenrolar das relaes de poder que contrapem o Direito aos interesses de classes, na qual se d a inegvel sabotagem do primeiro pelo segundo, recai sobre os agentes envolvidos no funcionamento da mquina a disposio em estud-la e entend-la em suas incoerncias e fragilidades, desfazendo-se da forte captura de influncia do meio sobre a alienao de seu trabalho, tanto externa quanto internamente academia, seja na produo de 2FILHO, Roberto Lyra. O que direito. 11 edio. 1984. P. 10. 3FILHO, Roberto Lyra. Ibidem. P. 3. 3
pesquisa acadmica, na magistratura, no exerccio da advocacia ou da prtica da
advocacia popular. , portanto, na prpria essncia da prxis libertadora, que ressignifica o operar do Direito e o desvencilha da alienao ideolgica do trabalho, eclodem as perspectivas de respostas ao questionamento de Roberto Lyra Filho, que nomeia a conferncia aqui resenhada: por que estudar o direito, hoje? Nas palavras de Lyra Filho, absorver toda abertura para alarg-la 4. S se poder vislumbrar, portanto, uma mudana de panorama na prtica e no entendimento do Direito pela ruptura da sua total subservincia aos interesses dominantes, resgatando-o e conjugando-o a uma expresso de verdadeira representao de legitimidade. Assim, dispara que: A presso libertadora no se faz, apenas, de fora para dentro, mas, inclusive, de dentro para fora, isto , ocupando todo espao que se abre na rede institucional do status quo e estabelecendo o mnimo varivel, para maximiz-lo, 5 evolutivamente.
Nesta via, sob a gide da perspectiva da evoluo revolucionria, a qual
pleiteia a ocupao gradual dos processos revolucionrios, atravs de conquistas pragmticas, se delineia a posio Lyriana acerca dos caminhos necessrios tomada do protagonismo legitimador da atuao no Direito pelos agentes contrahegemnicos, isto , pela prpria atuao intrassistemtica, atravs do avano gradual da ocupao acadmica, norteada pela dialtica, que trava dilogos pelo conflito opositivo, extraindo desses embates as ferramentas necessrias expanso ainda mais larga dos espaos j ocupados. Dispondo-se a responder Lyra Filho, diz-se, portanto, que se estuda direito, hoje, justamente pela necessidade latente que floresce em cada um daqueles dispostos a enxergar na ordem pacfica das relaes histricas de poder suas inconsistncias e nelas um ponto de reforo das espoliaes obliterantes da justia social. Estuda-se, hoje, o direito, no trampolim das palavras de Joo 4 FILHO, Roberto Lyra. Por que estudar direito, hoje?. Edies Nair Ltda. Braslia. 1984. P. 22. 5 Idem. Ibidem. P.22. 4
Apolinrio, pela conscincia que brota da coragem em ser a contra-mola no sistema
de engrenagens que nasce e persiste sobre nossas cabeas.