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QUARESMA DE LOBISOMEM

Por
Sérgio Mesquita

Registro na Biblioteca
Nacional
Nº: 429.286 Livro: 803 Folha:
446
FADE IN

EXT. REGIÃO DE CORPUS CRISTH - NOITE


Imagem noturna do nascente: o céu, parcialmente nublado.
Nele, se destaca uma lua de prata rasgada por nuvens e pouco
acima do horizonte, que é uma extensa fralda azulada de
montanhas.
O ponto de observação parece ser uma escarpa montanhosa. Um
mirante natural, donde se pode ver um amplo vale encravado
entre serras típicas da encosta da mantiqueira.
Um ligeiro flash de relâmpago é percebido no canto da tela.
Por alguns instantes, vemos alguns detalhes da região; as
fraldas e o vale embaixo envolvido por uma intensa neblina.

O barulho de trovão reverbera, ao longe.


A serra parece ter sido alvo de um recente pé-d´agua; as
nuvens correm rápido no céu, passando rapidamente e
desobstruindo a lua como fiapos de algodão.

Volta a imagem do vale,com CARACTERES sobrepostos:


"Serra de São José
Sul de Minas Gerais

final do Séc. XIX"


Os caracterem se esvaem...imagem desolada de novo.
De repente, ouvimos um grunhido rouco. Concomitantemente,
SOBE um barulho de matagal sendo rompido e transposto:
farfalhar de mato amassado... galhos quebrados... GRUNHIDOS
E RESPIRAÇÃO OFEGANTE.
Barulho de cachorro sacudindo o pêlo.
O mirante parece ter agora um expectador animalesco.

EXT. CIDADE DE CORPUS CRISTH - NOITE


Novamente vemos a lua no horizonte, mas a imagem contrasta
com a torre do sino de uma igreja barroca. É uma suntuosa
construção do Brasil-colônia, comum nas cidades históricas
de Minas Gerais.
Nos fundos do prédio imponente, mais ao lado, está a CASA
PAROQUIAL. A imagem aproxima-se, mostrando que alguns
cômodos estão iluminados.
2.

A principal rua de acesso é uma curta e acidentada ladeira


que une a igreja a uma pracinha arborizada mais embaixo. É
uma rua apertada, calçada com paralepípedos e iluminada
fracamente por alguns lampiões.

JÁ NA PRACINHA
Uma fina neblina permea o tronco de árvores.
os bancos...

jardins...
estátuas...
um chafariz.

lua cheia numa poça d´água. Um pingo cai das árvores e turva
a imagem.
Circundando a praça, os prédios tem a arquitetura imponente
do Brasil-colônia. Destaques para um escrito "PHARMÁCIA". E
outro "CARTÓRIO DE PAZ E REGISTRO".

A imagem sobe, mostrando ao longe as curvas sinuosas e


azuladas da serra de São José. Baixinho, quase inaudível,
ouvimos cachorros latindo, presumivelmente nas fazendas
limítrofes à escarpa.

Esse coro se torna cada vez mais alto e onipresente...em


efeito dominó... e logo se torna uma infernal sinfonia dos
cães das redondezas.
Caracteres sobrepõem-se à imagem
"Cidade de Corpus Christh
num primeiro dia de quaresma"

EXT. REGIÃO DE CORPUS CRISTH - NOITE

Novamente a imagem do mirante. E de novo os grunhidos.


De novo o barulho de matagal sendo transposto.
Silêncio agora... contaminado apenas com o trilado dos
grilos e os uivos que chegam ao longe na baixada.
3.

INT. CIDADE DE CORPUS CRISTH - CASA PAROQUIAL - NOITE


Vemos uma sala ampla, iluminada fracamente por um lampião. O
ambiente é decorado de forma simples e rústica. Detalhe na
janela aberta: O coro de latidos nervosos chega lá de fora e
invade o recinto de forma compassada e inquietante.

Um PADRE chega rapidamente no recinto, retira o lampião da


cômoda e encara a janela aberta.
Close: É um senhor de cabelos brancos, pele muito clara e
olhos azuis; Pe. KOOLER.
Após uma breve hesitação, ele se dirige ao pórtico.
Lentamente, põe a cabeça lá fora para perscustar o exterior.
POV do PADRE: pátio da igreja e árvores sob intensa neblina.
Não dá para ver muita coisa.
Ele demonstra repulsa e fecha a janela. Depois, evade
rapidamente da sala.

INT./EXT. CASA PAROQUIAL / CASA À BEIRA DE ESTRADA - NOITE


Padre Koller está no seu quarto agora, perto da cama, em pé
frente ao oratório. Lentamente, ele se ajoelha, olhando
contrito e segurando um terço de forma devota.

NA ESTRADA
Vemos uma casa simples do outro lado do caminho. Casinha ao
estilo daquelas fazendas antigas que vemos no interior e se
preservou no tempo, com paredes brancas, caiadas, e telhado
em bom estado de conservação. Mas algo destoa dessa
lembrança: Uma FORTE CERCA RETANGULAR de madeira guarnece a
construção e o pátio.
A imagem está se aproximando lentamente na direção do
portão. Pelas frestas das estacas de madeiras já se nota os
cães da residência passando agitados.

NA CASA PAROQUIAL
Padre Koller está ajoelhado em frente ao oratório. Reza em
voz alta. O linguajar é culto, mas o sotaque indica
nacionalidade germânica.
PE. KOLLER
Pai misericordioso, hoje é o
primeiro dia da quaresma. E essa é
a primeira minha nesta cidade
perdida no meio da serra...lugar
4.

PE. KOLLER
onde vim parar no ocaso de minha
existência por um desígnio que não
consegui ainda alcançar.

NA ESTRADA
A imagem continua se aproximando lentamente, focando a
estrada e a cerca num só plano. Nitidamente, vemos agora os
cachorros do outro lado latindo roucamente. Cães de guarda
onceiros, parecem da raça fila.
PADRE KOLLER (O.S)
...Eu já vi muita perversidade
nessa vida. Ao ponto de não me
surpreender com nada que venha do
gênio caido do ser humano...
Um grande animal passa velozmente. Os cães de guarda vão à
loucura.
Acompanhando o animal indistinguivel, alguns cachorros vem
no encalço correndo pela estrada, formando uma comitiva
bestial.
Alguns deles se desgarram e avançam na cerca, provocando os
que estão lá dentro.

PADRE KOLLER (O.S) (CONT.)


...mas agora, no final de meu
sacerdócio e da minha jornada nesse
vida, eu só peço, na sua infinita
bondade, que poupe este humilde
servo de abominações que me recuso
a aceitar... e a acreditar.
A imagem mostra em close pelas frestas, focinhos raivosos
passando por trás do portão de madeira. Sombras que latem,
babam e rosnam ensandecidamente.

NA CASA PAROQUIAL
O padre, em silêncio, de joelhos e contrito, acende uma vela
no oratório.

INT./ EXT. CASA PAROQUIAL / CEMITÉRIO - NOITE - POUCO DEPOIS


Padre Koller está sentado na beira da cama. Ele parece
terminar uma oração e faz o sinal da cruz. Depois, apaga o
lampião, deita e se cobre.

NO CEMITÉRIO
5.

PANORÂMICA DO SOLO: Barulho de grunhidos e terra arranhada.


Sombras de cachorros passando em frente à imagem, pisoteando
poças d´aguas. Indistintas. Agressivas.
Vemos TOMADAS DIVERSAS do cemitério: Lápides simples...
jazigos pomposos...cruzes brancas espalhadas em cascata...
um ambiente gótico permeado por uma fina neblina e
trespassado pelos raios do plenilunio.
latidos lúgubres formam um coro onipresente vindo das
redondezas e cercanias da região.

CRÉDITOS
TÍTULO do filme e créditos sobrepostos a imagens sacras
barrocas. Destaca-se a legenda: "inspirado no folclore
brasileiro".

EXT. MARGENS DE UM RIO - DIA


Serras de Minas Gerais...íngrimes. Sinuosas... Cortadas por
um vale, onde um riacho corre impetuosamente.
Panorâmica acompanha o rio correndo furioso morro abaixo até
chegar num trecho mais espraiado. Rio vermelho e barrento de
chuva.

Vemos uma tropa de mulas estacionadas à beira do leito.


Muitas, umas quize, e completamente pejadas com balaios
volumosos, um de cada lado.
Dois tropeiros montados a cavalo, com seus chapéus enormes,
estão à beira d´agua; parecem avaliar a correnteza.

Um deles avança cuidadosamente com a montaria. É TIÃO


(moreno, traços comuns, mais de 30 anos). Após uma olhada
avaliativa do rio, ele parece desanimar. Volta-se, encarando
o outro tropeiro, PEXOTO.

Este é uma figura imponente. Mais novo, alto, forte, moreno,


ostentando uma exuberante cabeleira comprida e encaracolada
descendo em cascatas por baixo do chapéu. Parece um cigano,
com um sorriso de belos dentes brancos estampando seu rosto
jovial.

PEXOTO
Que que adianta? Mula carregada vai
passar aí não!
6.

TIÃO
Temos que tentar,ué
(olhando o rio de forma
indecisa)
tamo afastando demais da estrada
real. Desse jeito, melhor acampar e
esperar o povo arrumar as pontes.
PEXOTO
Nessa chuvarada.. bobagem procurar
vau também. Deixa de ser turrão,
vamos buscar um atalho pela Serra.
Tião volta os olhos na direção da fralda de montanhas.
Peixoto o acompanha.

TIAO
Só tem a antiga trilha que liga
Sacramento a Corpus Cristh
(apontando com o dedo)... ali ó. E
tá fora de questão.

PEXOTO
porque?
TIÃO
mal-assombrada.

PEXOTO
Ué, o que que tem lá?
TIÃO
Na época do ouro, foi refúgio de
bandido, asilo de leproso, doido
sem familia... muita gente morreu à
míngua naquelas grutas, e na
quaresma saem em procissão pela
trilha.

PEXOTO
Você é tropeiro velho e experiente.
TIÃO
Isso. E os tropeiros velhos e
experientes construiram a ponte e
vão pela baixada, sabichão.
Tião não espera o companheiro retrucar, toca levemente as as
ancas do cavalo e avança para dentro do rio.

A montaria derrapa. O caldo é fragoroso.


Enquanto apeia, Pexoto acompanha com um riso maldoso o
esforço do companheiro para sair do leito.
7.

Tião começa a tirar a roupa molhada. Pexoto já vai


descarregando os balaios das mulas.

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