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CAPÍTULO 2. AS VOZES DA IMPRENSA

No meio do caminho tinha uma pedra


tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra

s
no meio do caminho tinha uma pedra.

ele
Nunca me esquecerei desse acontecimento
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

eir
Nunca me esquecerei que no meio do
caminho
tinha uma pedra

M
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade

ira
O menino custou a começar a falar, e a dificuldade que tinha para

ive
pronunciar uma frase inteira provocava risos nos adultos [...] ele já beirava os três
Ol
anos quando os pais entenderam que o menino era gago (MORAIS, 1994, p. 32).
Este menino é Assis Chateaubriand – Chatô. Um grande nome no jornalismo
brasileiro e de reconhecida significância no desenvolvimento das empresas de
de

comunicação. Quando criança, gago como a infância de nossa imprensa, venceu as


barreiras da disfemia e do próprio mundo, de uma forma positiva e revolucionária,
nio

tornando-se grande.
nto

A imprensa brasileira também venceu imensas barreiras, ora contornando as


pedras do caminho, ora tropeçando nas pedras do caminho, ora gaguejando, ora
lA

calando-se porque muitas vezes o silenciamento lhe foi imposto, até chegar aos dias
de hoje, grande, imensa, maior que o próprio Chatô, pois nela falam outras vozes que
também fizeram e ainda fazem a diferença no cotidiano de cada brasileiro.
fae
Ra

2.1 O diálogo com o leitor

Segundo Sodré (1998), “é preciso, desde logo, compreender e aceitar que a


imprensa não é meio de massa, em nosso país”. Compreendendo imprensa, o jornal e
a revista, “é fácil constatar que esses meios não são de uso habitual em parcela
25

numerosa, majoritária mesmo, do nosso povo”30. Assim, de acordo com as


formulações teóricas de Pêcheux, podemos dizer que o jornal impresso é um
discurso31 que fornece legitimidade para as notícias que circulam pelas diversas
mídias. Da legitimidade falaremos com maior profundidade no quarto capítulo, pois
o que nos interessa nesse momento é ver a relação estrutural do jornal com a

s
ele
sociedade, através do sentido polifônico e dialógico constitutivo da linguagem no
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

sentido bakhtiniano.

eir
Entendemos polifonia como um coro de vozes que participam do processo

M
dialógico; e dialogismo um princípio constitutivo da linguagem (BARROS;
FIORIM, 2003) e a condição para o discurso fazer sentido.

ira
O jornal impresso não é uma única voz, mas um diálogo entre as vozes dos

ive
leitores e as vozes dos jornalistas convivendo numa interação social, revelando as
consciências independentes e as consciências eqüipolentes. Assim a notícia impressa
Ol
é polifônica e dialógica e é este princípio que garante a sustentabilidade estrutural do
jornal. Uma garantia de que a notícia é uma análise de um trabalho de um grupo
de

heterogêneo de vozes e consciências.


nio

Dessa forma, o jornal impresso no Brasil pôde e pode influenciar e fazer a


diferença em cada momento histórico da sociedade – informando, noticiando,
debatendo e fiscalizando – preparado em todos os sentidos para atuar conforme os
nto

próprios objetivos, desde a época do Império. Como exemplo de apropriação


ideológica dos jornais como vozes políticas dialogando com a sociedade, o Estado de
lA

São Paulo que, em 1902, tem Júlio de Mesquita como único proprietário e representa
fae

30
(SODRÉ, 1999, p. IX). Foram necessários o rádio e a TV para acessar aos analfabetos, por
exemplo. Mesmo assim, convencionou-se, por mérito, a utilização do termo meios de massa para
veículos de comunicação num todo. Eugênio Bucci defende que “a ética na comunicação de massa
Ra

não pode ser pensada a partir das mesmas balizas que nos guiam para discutir a ética na imprensa”.
Como primazia da imprensa, a busca pela “verdade factual, da objetividade, da transparência, da
independência editorial e do equilíbrio. Já o conceito de ‘meios de comunicação de massa’ traz em si,
desde a origem, o embaralhamento sistêmico entre fato e ficção, entre jornalismo e entretenimento,
entre interesse público, interesses privados e predileções da esfera íntima”. Bucci usa imprensa para
designar “a instituição constituída pelos veículos jornalísticos, seus profissionais e seus laços com o
público” (BUCCI, on-line. Acessado em 5 de outubro de 2006).
31
Discurso, segundo Pêcheux, etimologicamente, tem em si a idéia de curso, de percurso, de correr
por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do
discurso observa-se o homem falando. Daí a definição de discurso: o discurso é efeito de sentidos
entre locutores (ORLANDI, 2002).
26

“o grande órgão político na capital do Estado que se desenvolve rapidamente [...]; a


cidade de S. Paulo é, agora, centro industrial de grande desenvolvimento, ‘o maior
parque industrial da América Latina’ [...]” (SODRÉ, 1999, p. 323).

O que aparentemente representa tão somente a voz do único proprietário – a

s
ele
de um grande órgão político –, estava atravessada por outras vozes, assim como
qualquer voz que enuncia, pois “as palavras não são nossas. Elas significam pela
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
história e pela língua. O que é dito em outro lugar também significa nas nossas
palavras” (ORLANDI, 2002, p. 47).

M
Além disso temos que lembrar que o proprietário de um jornal impresso

ira
jamais é um autor passivo no processo polifônico do discurso jornalístico. Ele é um
autor ativo e o seu ativismo tem um caráter dialógico com a sociedade e está

ive
diretamente vinculado à consciência dos leitores-interlocutores.
Ol
Quem dá o tom discursivo da notícia, quem deixa entrever o viés ideológico
ou tendencioso do jornal impresso não é a voz do dono32, mas o som de uma
orquestra polifônica regida pelas formações discursivas33, ideológicas34 e imaginárias
de

que atravessam o discurso jornalístico. Como exemplo, podemos lembrar as vozes


nio

dos pasquins – panfletos que circulavam na época do império – que eram violentas,
chegando ao nível da calúnia e do insulto pessoal – dado o momento histórico
violento, virulento e intranqüilo.
nto

Seu conteúdo refletia o ardor das facções em divergência: direita


lA

conservadora, direita liberal e esquerda liberal (os exaltados) que


publicava os pasquins.

Liberais e conservadores travavam verdadeira guerra de palavras


fae

utilizando os pasquins que, nos próprios títulos, demonstram o que


eram: O Palhaço da Oposição, O Crioulinho, O Burro Magro, o
Caolho, entre outros. Pelos títulos dá para sentir que os pasquins
Ra

32
Em outras palavras, o sujeito não é livre para dizer o que quer, mas é levado, sem que tenha
consciência disso (e aqui reconhecemos a propriedade do conceito lacaniano de sujeito para a análise
do discurso), a ocupar seu lugar em determinada formação social e enunciar o que lhe é possível a
partir do lugar que ocupa (MUSSALIM, 2004).
33
Formações discursivas são os determinantes do que pode e deve ser dito em um dado lugar sócio-
histórico determinado. Elas mantêm uma relação básica com a formação ideológica predominante: os
textos de uma formação discursiva espelham uma mesma formação ideológica.
34
Formação ideológica, segundo Fiorin (2003), “deve ser entendida como a visão de mundo de uma
determinada classe social, isto é, um conjunto de representações, de idéias que revelam a compreensão
que uma dada classe tem do mundo”.
27

recorriam, com freqüência, ao preconceito de cor e aos apelidos


das pessoas que eram alvo desses panfletos.

O próprio imperador, D. Pedro I, que antes de voltar a Portugal era


criticado constantemente pelos pasquins, respondia com artigos
inflamados contra seus adversários. Para isso, utilizava
pseudônimos, que refletiam o conteúdo dos artigos, como: O

s
Inimigo dos Marotos, o Anglo-Maníaco, O Derrete Chumbo a

ele
Cacete, Piolho Viajante, entre outros.
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

A partir da metade do século XIX, o Império se consolida e a

eir
imprensa política, representada principalmente pelos pasquins,
esmorece. É a época da conciliação, com o arrefecimento ou fim
das lutas partidárias.35

M
Outro exemplo de polifonia nos jornais impressos está na imprensa escrita

ira
pelos anarquistas italianos, imigrantes que entraram no Brasil para substituir o
trabalho dos escravos recém-alforriados36. Estes imigrantes tinham uma postura

ive
ideológica heterogênea: uns eram apolíticos e outros anarquistas ou simpatizantes do
Anarquismo37.
Ol
Os anarquistas organizaram sindicatos cuja ferramenta básica ou arma de
combate era a imprensa escrita. Os jornais cumpriam a função de conscientizar os
de

trabalhadores e as suas famílias sobre a doutrina anarquista, incitando-os à liberdade,


nio

bem como sobre fatores fundamentais de mobilização operária e como uma forma de
resistência contra a exploração dos empregadores.
nto

Em síntese, o jornal funcionava como propaganda política e um organizador


social. Era tão integrado ao seu público leitor que não necessitava de repórteres para
lA

buscar notícias. Essas chegavam aos montes na redação clandestina dos jornais: eram
as vozes da sociedade operária imigrante dialogando com o jornal, com a sociedade e
com o governo.
fae

35
LOPES, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006.
Ra

36
“A introdução do trabalho europeu nas fazendas de café foi um processo lento, alcançado pela
pertinácia de cafeicultores empenhados na solução de seu maior problema: a falta de mão-de-obra,
agravada primeiro pela proibição do tráfico e depois pela abolição. As primeiras tentativas [...]
provocaram reclamação consulares e escândalos na imprensa européia, a que os brasileiros são
especialmente sensíveis” (RIBEIRO, 1994, p.399).
37
De um modo geral, anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja
livremente aceita, defendendo tipos de organizações horizontais e libertárias [...]. O anarquismo
enquanto teoria política nada tem a ver com o caos ou a bagunça [...]. No início do século XX, o
anarquismo e o anarco-sindicalismo eram tendências majoritárias entre o operariado, culminando com
as grandes greves de 1917, em São Paulo, e 1918-1919, no Rio de Janeiro. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarquia. Acessado em 2 de outubro de 2006.
28

Até hoje as vozes da sociedade se entrelaçam com as vozes do jornal


impresso dialogando com o que é de direito, exigindo afastamento legal de
presidentes corruptos, denunciando fraudes contra o povo. É esta orquestra
polifônica que dá sustentabilidade jurídica à nossa condição de cidadão, pois ela não
é um meio de comunicação de massa e sim, a nossa própria voz.

s
ele
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
2.2 Uma busca pela liberdade de expressão

M
Nas democracias liberais, a imprensa tem sido chamada de quarto
poder, um poder além do Executivo, do Legislativo e do Judiciário,

ira
[...] um poder autônomo exercido em nome do povo. [...] Ela é
tomada, por delegação implícita da sociedade, como instrumento
de defesa popular contra as injustiças, ilegalidades e
ilegitimidades.38
ive
Nas palavras de Melo (2003, p. 144), “a imprensa figura na História da
Ol
Humanidade como a inovação que alterou profundamente a marcha civilizatória”.
Ela consolidou a cidadania e deu condições para a expressão das sociedades
de

democráticas.
nio

A liberdade de expressão, sobretudo sobre política e questões


públicas é o suporte vital de qualquer democracia. Os governos
democráticos não controlam o conteúdo da maior parte dos
nto

discursos escritos ou verbais. Assim, geralmente as democracias


têm muitas vozes exprimindo idéias e opiniões diferentes e até
contrárias.39
lA

E é a liberdade de expressão40, amplamente defendida pelo mass media, que

38
fae

MOTTA (org.), 2002, p. 14


39
Escritório de Programas Internacionais de Informação, on-line, 28 de maio de 2004. Acessado em
16 de outubro de 2006.
40
- DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Adotada e proclamada pela
Ra

resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Artigo
XIX - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de,
sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer
meios e independentemente de fronteiras.
- LEI No 5.250, DE 9 DE FEVEREIRO DE 1967. CAPÍTULO I - DA LIBERDADE DE
MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E DA INFORMAÇÃO. Art . 1º - É livre a manifestação do
pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de informações ou idéias, por qualquer meio, e sem
dependência de censura, respondendo cada um, nos têrmos da lei, pelos abusos que cometer.
- CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969) - (Pacto de San José da Costa
Rica). Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expressão: 1. Toda pessoa tem o direito à liberdade
de pensamento e de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir
29

garante a liberdade de imprensa, ou seja, o poder das mídias. No entanto, o valor


ideológico, expressivo de uma liberdade, foi vendido no mercado neoliberal, assim
como Marshall coloca: “liberdade de imprensa vira um mito”:

A imprensa perde cada vez mais seu papel precípuo na sociedade.

s
As liberdades de imprensa, de informação e de expressão viram

ele
apenas testas-de-ferro para que as empresas midiáticas defendam
seus interesses econômicos. A liberdade de imprensa dá lugar à
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

liberdade de publicidade. As páginas dos jornais caminham para

eir
liberalização total, levando a informação a ser dourada com
persuasão ou entretenimento. Esvazia-se o compromisso da
imprensa com a defesa dos cidadãos, do interesse publico, da

M
verdade, do Estado-nação ou do bem-comum. A nova liberdade
vira uma liberdade econômica, que privilegia apenas o capital. As
empresas midiáticas lutam, inclusive, para liberalização total da

ira
liberdade de imprensa, permitindo contemporânea-mente
licenciosidades capitalistas não condizentes com o papel social
desempenhado pela linguagem na era do liberalismo moderno. A

ive
liberdade, embora mítica, cria o mito da transliberlizacao: tudo
passa a ser livre, menos o que possa afetar ou atingir os interesses
empresariais (MARSHALL, 2003, p. 166).
Ol
Além da liberdade de expressão ser regrada por forças econômicas, a
influência política não difere para com os meios de comunicação. No governo Lula
de

tramitou o anteprojeto para a criação de um Conselho Federal de Jornalismo. Visto


como um artifício de censura, o Jornal da Unicamp41 levanta a seguinte questão, com
nio

as respostas dos professores Roberto Romano e Reginaldo Moraes, do


IFCH/Unicamp:
nto

Jornal da Unicamp: Segundo os críticos dessas medidas, o que


está por trás do “pacote regulador” do governo é um esforço de
lA

apropriação da informação pública. Ou seja, o governo gostaria de


controlar a qualidade da informação que chega à sociedade e, ao
mesmo tempo, ter acesso livre e privilegiado a informações
sigilosas sobre os cidadãos. Como o senhor analisa essa postura? O
fae

senhor vê nisso algum risco ou os críticos estão vendo fantasmas?

Reginaldo Moraes: As palavras não são inocentes. Apropriação da


Ra

informação pública? Quem se apropria? E quem é expropriado? De


quem é, hoje, essa informação que se diz “pública”? Nesse campo,

informações e idéias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente ou por


escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha; 5. Não se pode
restringir o direito de expressão por vias e meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou
particulares de papel de imprensa, de freqüências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos
usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação
e a circulação de idéias e opiniões.
41
Jornal da UNICAMP, edição 263, 23 a 29 de agosto de 2004, on-line. Acesso em 4 de out de 2006.
30

como diz o ditado, manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Qualquer jornalista que se aventurou a ter alguma idéia na cabeça –
e que não correspondesse àquela de seu patrão – sabe do que
estamos falando. [...]

Curiosamente, também, sequer notícia breve se registrou sobre o


fato de que o Congresso Nacional de Jornalistas, recém-realizado

s
na Paraíba, apoiou unanimemente o envio do projeto de lei. TVs,

ele
jornalões e rádios não deram essa notícia, nem para dizer que esses
jornalistas são doidos: melhor não dizer, não é mesmo?
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
Os críticos não estão vendo fantasmas, não. Eles estão muito
lúcidos. Estão atirando naquilo que vêem. Mas querem que

M
pensemos que atiram em outra coisa. A “informação que chega à
sociedade” não “chega” – é levada por alguém. Alguém que quer
permanecer na sombra.

ira
Roberto Romano: [...] As investidas do atual chefe da Casa Civil,
do ministro do Trabalho, do ministro encarregado pela
Comunicação e, o mais espantoso, do próprio ministro da Justiça

ive
contra a imprensa ecoam perfeitamente as palavras emitidas em
1985 pelo então candidato à presidência da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, sobre as liberdades: “Acho que a liberdade
Ol
individual está subordinada à liberdade coletiva. Na medida em
que você cria parâmetros aceitos pela coletividade, o
individualismo desaparece. Ou seja, não há razão para a defesa da
liberdade individual. O que você precisa é criar mecanismos para
de

que a grande maioria da comunidade possa participar das decisões”


(Folha de São Paulo, 29/12/1985). As últimas medidas anunciadas
pelo governo são “mecanismos” supostamente para garantir a
nio

palavra à sociedade, mas de fato dirigidas para impor teses


favoráveis aos ocupantes ocasionais do governo. Todo um
programa é agora implantado sine ira et studio42, numa ideologia
nto

que se corporifica em atos normativos e reguladores [...].

Quando Lula submete a liberdade individual à coletiva, joga – dentro de seu


lA

peculiar vocabulário presidencial – a liberdade de expressão para escanteio. Neste


caso, cobra a falta, o Marshall McLuhan43, que aponta três efeitos produzidos pela
cultura tipográfica:
fae

Individualismo – libertando os componentes da tribo e


Ra

convertendo-os em cidadãos capazes de construir comunidades


autônomas.

Nacionalismo – sedimentando as línguas escritas, através da


literatura, e fomentando o sentimento nacional capaz de gerar
Estados independentes

42
sem cólera nem parcialidade [Segundo Tácito, é o modo pelo qual deve ser escrita a história.]
(Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, 2002, CD-ROM).
43
apud Melo (2003, p. 144).
31

Espírito de crítica – estimulando a reflexão privada, através da


leitura silenciosa, capaz de produzir sentidos estereotipados que
convergem para a formação da opinião pública.

A tentativa de cerceamento do atual governo é uma afronta àquilo que é


inerente à imprensa. Vista como um instrumento de poder, dada a representatividade

s
sócio-democrática, a imprensa se resguarda sob direitos adquiridos e conquistados

ele
nas lutas contra a repressão do governo. “Retira-se do Estado o privilégio de fazer
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
censura a priori dos impressos, mas cabe-lhe o dever de coibir a posteriori os abusos
cometidos” (MELO, 2003, p.145).

M
Falamos de censura política a qual funde-se e confunde-se com o próprio
grito de liberdade e autonomia do jornal. Lembramos também, do processo histórico

ira
da imprensa que nos traz a censura presente na dependência econômica44. Deste

ive
modo, a imprensa permanece silenciada à expressão dos interesses político e
econômico, e direcionada ideologicamente a uma parcela mínima representada pelos
Ol
multiplicadores de opinião – o que exclui o “restante da sociedade que, embora não
faça parte do seu grupo de leitores, também têm interesses que devem ser
preservados para o pleno funcionamento da sociedade democrática”.45
de

Como exemplo, a “manipulação feita pela Folha, [própria de uma] imprensa


nio

neoliberal” que, segundo Paixão (on-line), ocorreu em detrimento da candidatura da


oposição nas eleições para a Presidência de 1989, 1994 e 1998, quando ameaçado o
nto

poder das elites; “parte de um processo indicado por Noam Chomski como
‘construção de consenso’, onde a imprensa, por trás de uma ideologia de
lA

imparcialidade, se comporta de modo a manter as estruturas dominantes no poder” 46.


fae

44
A imprensa só pode atingir uma produção industrial por meio de anúncios, financiamentos externos
e concessões políticas - o que a torna dependente destes recursos -. Neste caso, manifestações
contrárias aos interesses econômicos são abafadas, descartdas e coibidas.
Ra

45
Novelli acredita que o jornal nega o papel de quarto poder quando defende o interesse do seu grupo
de leitores. Ao estabelecer o grupo de leitores como base social, a imprensa deixa de privilegiar a
sociedade com notícias pertinentes a todos se estas não tem “eco entre os leitores do jornal” (MOTTA
(org.), 2002, p. 194).
46
“Segundo o jornalista [Bernardo Kucinski], a Folha, ao longo dessas três eleições, teria projetado e
até mesmo criado preconceitos e estigmas contra Lula. Nas eleições de 1989, por exemplo, o jornal
contribuiu para projetar o sentimento de medo contra Lula, ao afirmar, na edição de 15 de dezembro
daquele ano, que as correntes majoritárias do PT tinham a intenção de fazer ‘tudo o que estiver ao seu
alcance para cercear e se possível suprimir a liberdade de expressão’. O objetivo seria mostrar à
população que votar em Lula poderia significar a volta do regime autoritário” (PAIXÃO, artigo, on-
line. Acessado em 4 de outubro de 2006).
32

Sob essa perspectiva, a imprensa só cumpriria fielmente seu papel


social se mantivesse a independência do poder estatal e ajudasse a
resolver os problemas da sociedade por meio da discussão de todas
as suas variáveis, ou seja, se mantivesse um posicionamento
pluralista, com total liberdade de expressão (MARSHALL, 2003,
p. 166).

s
“No entanto, apesar desse veículo orgânico47 com o poder, a imprensa foi, e

ele
ainda é, igualmente, um dos instrumentos principais da oposição e da resistência
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

política em qualquer época” (MOTTA (org.), 2002, p. 14).

eir
Se ela de fato exerce democraticamente esse quarto poder,

M
representando todos os grupos sociais, é uma questão que só o
exame de cada circunstância pode responder.

ira
E aí reside um paradoxo. A imprensa pode ser instrumento do
poder instituído ou um instrumento de resistência e de oposição a
esse poder [que pode pender] para um ou para outro lado,

ive
dependendo da situação histórica. [...] O paradoxo revela assim,
que não existe imprensa sem inserção política [desempenhando]
igualmente funções econômicas, especialmente comerciais, quando
Ol
estimula, por meio dos seus anúncios, o consumo de bens. [...]
(idem, p. 15).

Marcondes Filho48 (1989 p. 11) diz que o “jornalismo é ao mesmo tempo a


de

voz de outros conglomerados econômicos ou grupos políticos que querem dar às suas
nio

opiniões subjetivas e particulares o foro de objetividade”.

É com este ideal, de publicidade camuflada de notícia, em que “a lógica do


nto

capital e do livre mercado flexibiliza o conceito e o processo do newsmaking e a


informação transforma-se em um campo de negociação e barganha de interesses”
lA

(MARSHALL, 2003, p. 28).

A expressão que percebemos agora, segundo Marshall (2003, p. 24), é de


fae

uma “transformação generalizada dos padrões éticos, estéticos e culturais do


universo da informação, reduzindo aparentemente o jornalismo a uma simples esfera
Ra

de sustentação para interesses eminentemente comerciais”.

Esta liberdade de expressão, que encontramos, nos revela a vulnerabilidade,


ou mesmo uma crise da imprensa, implicando assim, no que o teórico espanhol José
47
Segundo Motta (2002, p. 13) “todo poder é político, precisa de visibilidade, necessita
institucionalizar-se como expressão do todo social e, por isso, precisa da imprensa”.
48
apud Marshall, 2003, p. 24
33

Martínez Albertos49, prevê: o fim do jornal impresso em 2020, além do próprio


jornalismo como linguagem.

E com o jornalismo pode desaparecer também o atual conceito


sobre liberdade de imprensa e o respeito religioso pelo direito dos
cidadãos e uma informação tecnicamente correta, entre outros

s
valores da modernidade.50

ele
Então, qual a saída para a crise da imprensa? A indagação de Sodré (1999, p.
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
428), é respondida pelo porta-voz das agências estrangeiras de publicidade:

M
Mas a não ser que as classes produtoras se compenetrem de que a
imprensa é o quarto poder dos regimes democráticos, e que sua
independência está intimamente ligada à compreensão dos

ira
anunciantes, que possibilitam sua existência, a imprensa latino-
americana irá perdendo sua liberdade de movimento, e, com ela,
seu prestígio perante a opinião pública. Este é o relevante papel

ive
esclarecedor que as Agências de Propaganda precisam
desempenhar junto aos seus clientes, sobretudo perante aqueles que
ainda não se convenceram do sentido subjetivo da propaganda.51
Ol
de
nio
nto
lA
fae
Ra

49
Considerado por Marshall como um dos mais severos críticos da imprensa.
50
Martínez Albertos, 1997, p.31 apud MARSHALL, 2003, p. 28
51
SODRÉ, 1999, p. 428

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