Modulação de efeitos da declaracão de inconstitucionalidade de exigências tributárias: : uma ótica sob a previsão do Anexo de Riscos Fiscais previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal como conteúdo obrigatório da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
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O artigo sustenta a impossibilidade de modulação de efeitos na espécie, tendo em vista o dever do Poder Público de planejar as finanças públicas no sentido de lidar com a concretização de riscos fiscais, dentre eles o risco de sair vencido em disputas tributárias.
O artigo sustenta a impossibilidade de modulação de efeitos na espécie, tendo em vista o dever do Poder Público de planejar as finanças públicas no sentido de lidar com a concretização de riscos fiscais, dentre eles o risco de sair vencido em disputas tributárias.
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Modulação de efeitos da declaracão de inconstitucionalidade de exigências tributárias: : uma ótica sob a previsão do Anexo de Riscos Fiscais previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal como conteúdo obrigatório da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
O artigo sustenta a impossibilidade de modulação de efeitos na espécie, tendo em vista o dever do Poder Público de planejar as finanças públicas no sentido de lidar com a concretização de riscos fiscais, dentre eles o risco de sair vencido em disputas tributárias.
Modulao de efeitos da declarao de inconstitucionalidade de exigncias
tributrias: uma tica sob a previso do Anexo de Riscos Fiscais previsto na
Lei de Responsabilidade Fiscal como contedo obrigatrio da Lei de Diretrizes Oramentrias. Frederico Menezes Breyner
Sempre que se avolumam as discusses acerca da constitucionalidade de
uma exigncia tributria a Fazenda Pblica lana mo do argumento consequencialista consistente no rombo que a fata da receita tributria em questo causar nos cofres pblicos. Mesmo que reconhecida a inconstitucionalidade do tributo por desrespeito aos conceitos delimitadores da competncia tributria ou por violao aos chamados princpios tributrios, pleiteia a Fazenda Pblica que as obrigaes tributrias decorrentes de fatos geradores j ocorridos sejam mantidas no mundo jurdico ou, caso j tenham sido adimplidas, que seja ela dispensada de restituir os valores. A ttulo de exemplo, temos que o pedido foi negado pelo STF no RE 383.852/MG, que se recusou a modular os efeitos da declarao de inconstitucionalidade da contribuio ao FUNRURAL. A nosso ver, as acertadas razes que justificam a impossibilidade de modulao de efeitos em casos como este j foram trabalhadas pela Profa. Misabel Derzi em sua obra Modificaes da jurisprudncia no Direito Tributrio (So Paulo: Editora Noeses, 2009, baseada na segurana jurdica e na proteo da confiana enquanto normas de proteo do contribuinte. No pretendemos aqui repassar os argumentos, remetendo o leitor para a referida obra. O que nos interessa aqui analisar a possibilidade de a Fazenda Pblica invocar um abalo nas finanas pblicas decorrente da ausncia da arrecadao tributria baseada na exigncia declarada inconstitucional. A nosso, ver, a partir de 2001, com o advento da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n 101), essa alegao, que j no encontrava respaldo na compreenso da Constituio como norma superior dotada de fora normativa, passou a ser incompatvel com as normas gerais de direito financeiro. A concluso que aqui pretendemos poderia ser extrada do contexto da Constituio, que enquanto norma obriga que o Estado planeje sua atividade financeira por meio do Plano Plurianual e da Lei de Diretrizes Oramentrias, materializando o ciclo de planejamento na Lei Oramentria Anual, estimando a receita e fixando a despesa tais como planejadas. Se a Fazenda Pblica tem o dever de planejar, no poderia estimar como certas receitas advindas de exigncias tributrias cuja constitucionalidade discutida judicialmente, muito menos a partir do momento em que decises favorveis aos contribuintes comeam a ser proferidas.
Mas sequer necessrio extrair essa norma por uma interpretao
sistemtica. A Constituio determina que a LDO compreender as metas e prioridades da administrao pblica (...) para o exerccio financeiro subsequente e orientar a elaborao da lei oramentria anual (art. 165, 2). E a Lei de Responsabilidade Fiscal, enquanto instituidora de normas gerais de direito financeiro, determina que ao cumprir a tarefa de indicar as metas e orientar a elaborao do oramento, a LDO dever conter um Anexo de Riscos Fiscais. ver o disposto no art. 4, 3 da LRF: Art. 4 (...) 3 A lei de diretrizes oramentrias conter Anexo de Riscos Fiscais, onde sero avaliados os passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar as contas pblicas, informando as providncias a serem tomadas, caso se concretizem. A prescrio legal nos parece clara: o ente federativo, dentro do seu dever de planejar, passa a ter o dever especfico de apurar e avaliar os riscos na perda de arrecadao. E ao fixar a despesa do exerccio financeiro seguinte na LOA, os Poderes Executivo e Legislativo tero que levar em considerao essas possveis perdas de arrecadao, que podem ter origem no risco de que as aes judiciais que contestem a constitucionalidade de uma exigncia tributria sejam julgadas em favor dos contribuintes. A ttulo de exemplo, a LDO 2014 da Unio Federal (Lei 12.919), traz no item 3.2.2 do Anexo V Riscos Fiscais as Demandas judiciais contra a unio de natureza tributria PGFN. Diante de tais discusses judiciais, o ente federativo passa ento a ter uma srie de obrigaes: a primeira de fazer constar esse risco na LDO, a segunda de prever, na LDO, providncias caso esse risco se concretize, ou seja, caso essas aes venham a ser definitivamente julgadas em favor dos contribuintes, e em terceiro lugar, que a Lei Oramentria Anual seja elaborada a partir desse possvel risco e das providncias que sero tomadas caso se concretize. Diante desse cenrio normativo, no possvel que a Fazenda Pblica alegue o rombo nas contas pblicas como fundamento para modulao de efeitos da declarao de inconstitucionalidade, pois era seu dever prever o risco e as respectivas providncias. Se isso no consta da LDO, temos uma flagrante ilegalidade por parte do ente federativo, e a consequncia de sua desdia em cumprir a LRF no pode ser a modulao dos efeitos da declarao de inconstitucionalidade, convalidando sua dupla violao ao direito: a de formular exigncias tributrias inconstitucionais e a de no se precaver contra a declarao de sua inconstitucionalidade por meio da LDO. Se o risco e as providncias a serem tomadas constam da LDO, o ente federativo est preparado para lidar com a falta da arrecadao declarada inconstitucional, sendo tambm invivel alegar que a receita seria esperada, e que por isso os efeitos da inconstitucionalidade deveriam ser modulados. A modulao de efeitos de declarao de inconstitucionalidade de exigncias tributrias, alm de corromper a segurana jurdica e a fora
normativa da Constituio com base em razes meramente arrecadatrias,
significa dizer que o Poder Pblico no tem dever de planejar, no tem dever de estimar os riscos fiscais, e no tem o dever de adotar providncias caso eles se concretizem. Afinal de contas, podero contar com as receitas tributrias ainda que declarada sua inconstitucionalidade. Com esse breve apontamento, pretendemos aqui adicionar mais um fundamento ao j extenso rol de razes formulado pela doutrina do direito tributrio contra a modulao de efeitos das declaraes de inconstitucionalidade de exigncias tributrias, confirmando assim a impossibilidade desse expediente em na matria.