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DO
CAPTULO
GUARDA-CAAS
QUE
SE
TORNARAM
entre ordem social e natureza encontrou sua expresso na oposio entre razo e
paixes, que, muito mais que uma oposio moral, introjeta a ideia de
indispensabilidade do Estado para assegurar o equilbrio entre os homens e de rejeio
de qualquer arrefecimento do controle estatal.
O comportamento interessado, aquele com uma finalidade, passa a ser
louvado, e a conduta auto-orientada, aquela guiada pelas paixes, passa a ser rejeitada.
Este discurso razo versus paixo reconstruiu a ideia das classes pobres como perigosas,
que devem ser orientadas/controladas para que haja a manuteno da ordem social, bem
como a ideia de que o modo de vida dos pobres fruto da selvageria, inferior vida
pautada na razo, o que resultou na deslegitimao da cultura selvagem e na
transformao dos portadores dessa cultura em sujeitos passivos da jardinagem cultural.
Desta feita, o Estado, no incio da modernidade, envidou esforos para o
controle do cotidiano de seus sditos. Neste vis, embora disfarada de cruzada cultural,
a represso poltica na Europa do sculo XVII foi sem precedentes. Como afirma o
autor, se h pouco tempo atrs, as pessoas comuns eram relativamente livres
sexualmente e emocionalmente, sob o domnio da monarquia absolutista tudo estava
mudado.
feita uma reflexo das razes da cruzada cultural. Segundo o alegado
pelos crticos instrudos da poca, a razo consistiria na ofensa ao sentido do razovel
da elite educada, tendo em vista que as velhas maneiras eram vistas agora como
supersties. Para o autor, o real sentido reduzir as massas a meros agentes passivos
de controle social.
A Igreja, que antes coabitava com outras tradies e cultos locais, renunciou
a esta condio, passando a levantar cercas em volta dos terrenos da igreja, bem como
recusando o emprstimo dos locais de igreja para feiras, danas, etc. Em geral, os
poderosos e ricos retiraram sua participao e apoio nas atividades populares, que
passaram a ser vistas como plebeias, contrrias razo e aos interesses da sociedade.
Tal fato sinalizou uma disputa pela autoridade, cuja finalidade no explcita era reduzir
o povo condio de sujeito passivo. Logo, passa a ocorrer a disputa pelo espao
pblico, cada vez mais visto como um espao policiado, vigiado, controlador, guardio
do novo poder social.