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seringueiro a desnudar-se de suas virtudes humanas, que o distingue dos demais seres,
confrontando as dificuldades abertamente, adaptando-se e transformando o meio na qual
pretende fixar seus domnios. A animalizao ocorre frente as dificuldades impostas por seu
prprio egosmo, que vem desde o perodo colonial. Estes homens que se encontram isolados
no meio do grande aglomerado de animais ferozes e uma floresta sufocante e densa,
encontram no Sbado de Aleluia o nico instante catrtico que os tornam humanos
novamente, pois o momento da redeno de seus deslizes.
A relao entre o eu e o outro, neste momento, borbulha nas intempries
soluantes do silncio. Silncio este que o seringueiro criador carrega durante a edificao do
boneco do Judas. este, torna-se sagrado em sua procisso interior, pois o caboclo esta diante
de uma divindade sacro-santa as avessas, um pecador que assume a carapua de salvador no
interior do seringal amaznico. Para Peter Burke (1995, p. 166), o silncio religioso um
misto de respeito por uma divindade; uma tcnica para abrir o ouvido interior; e um sentido
de inadequao de palavras para descrever as realidades espirituais. Logo, o silncio
proposto pelo seringueiro durante a narrativa no em vo, trata-se de um silncio solene que
faz parte do imaginrio judaico-cristo que permeia a cultura destes homens que vivem no
interior da floresta.
CUNHA, Euclides da. A margem da histria. Editora Lello Brasileira S.A., 1967.
BURKE, Peter. A arte da conversao. Trad. de lvaro Luiz Hattnher. So Paulo: Editora da
Universidade Estadual Paulista, 1995.