Sie sind auf Seite 1von 23
ie Psicopatologia e Psicodinamica no Trabalho | Edith Seligman Siva INTRODUGAO Cons s RAGOES GERAIS vu, CAO DE TRABALHO INVISISILIDADE E MASCARAS D0 SoFKE TO PSiQUICO REFERENCIAS E MoDELOS TEGRICOS A DIMENSAO PsicossociAL QUADROS CLiNICOS: SINDROME NEUROTICAS Fadiga Cronica Exgotamenta Profissional (Estafa; Bau out) Sindromes P6s-Traumziticas Sfnlromes Depressivas Sindrome P: angie ALTER A S DA PERSONALIDADE E TRANSTORNOS PSICOSSOMATICOS ALCOOLISMO DIAGNOSTICO A ANAMNES O REGISTRO DE DiaGNosticos CONDUTAS EVOLUCAO E PROGNOSTICO DIBLIOGRAPLA E REFERENCIAS SF INTRODUGAO. CONSIDERAGOES GERAIS O trabalho vem sendo reconhecido como importan- te instncia na patogenia, no desencadeamento e na evolugdio de disturbios psfquicos. A temiitica “psicopatologia do trabalho", a medida «que vem despertando 0 crescente interesse em diferen- tes pafses, tem dado origem também a uma copiosa produgdo de observagbes, registros clinicos e descrigao de sfndromes. Numerosas pesquisas tm sido desen- volvidas sobre o assunto, artigos cientficos e livros tém sido publicadosa respeito. O tema suscita a atengio dos, profissionais da drea da sade, dos te6ricas ¢ pesquisa- ores de diferentes reas € dos principais interessados — trahalhadores e empresas. Diante da relevincia assumida pela questo da in- ter-relagio trabalho/satide mental, surpreende que até 0 momento nao exista uma sistematizaciio das expresses clinicas do desgaste mental vinculado ao trabalho, Es- clarecendo melhor: ndo existe um consenso que tenha permitido uma classificagdo dos distirbios psiquicos vinculades ao trabalho. Por mais que exista uma con- cordiincia entre cientistas de diferentes correntes sobce ‘a importncia etiolégica, niio se criou consenso com Fespeito a0 modo como se exerce a conexio traba- Iho/psiquismo de forma suficiente a permitir fixar um quadro te6rico, E categorias diagndsticas 6 podem ser definidas a partir de um quadro teérico de reteréncia Esta falta de consenso se deve a diferentes causas, dentre as quais ressaltam as de natureza cientifica e as de ordem sociopolitica. Entre as de ordem cientifica, destacamos, em primeiro lugar, os impasses da medici- nna face aos desatios da interdisciplinaridade em ques- Wes de alta complexidade que, conforme veremos, é 0 caso desta tematica. Por outro lado, deve ser assinalado que a rapide2 com que se realizaram descobertas © elahoragdes te6ricas em geral superou a das comunica- ¢0es entre pesquisadores do assunto. Deve ser mencio- nado, ainda, quea génese de ansiedade ou outras formas de sofrimento mental em diferentes situagées de traba- ho, € noo desenvolvimento de patologias especficas, tem sido 0 objeto de estudo de pesquisadares des. tucados. Deste modo, as determinagGes coletivas do uistirbio psiquicn sao estudadas, mas é considerado que iGo se articular a modos individuais de responder, inte- ragir¢ adoccer. As razdes de ordem’saciopolitica que tornaram ificeis os avangos para um consenso dizem respeito as prOprias correlagbes de poder politico e econdmico deniro da Sociedade e passam pelas relagdes sociais de trabalho, as quais por sua vez definem em grande parte ‘organizagdo do trabalho. As criticas a organizagiio do trabalho constituem uma das maiores énfases nas con- clustes de varias pesquisas realizadas, para avaliar as determinagtes dos riscos mentais no trahalho. Torna-se assim compreensivel a resisténcia ao reconhecimento de tais tipos de estudos. Na atual fase de aceleradas transformagées sociais, organizacionais e tecnolégicas, €possivel constatar uma tendéncia A diminuigao destas resisténcias. Em sfntese: o fato de coexistirem, em nivel interna- cional, distintos modelos tedricos com relagao a0 as- ‘unto, vem trazendo dificuldades para a clinicae parua prevencdo. Em primeiro lugar, porque diferem os pon- tos de referéncia adotados para interpretar os sintomas € demais alteragSes observadss. Em segundo lugar, constata-se 0 surgimento de uma grande diversidade de designagdes para as sindromes descritas. Eem terceiro, torna-se extremamente dificil ohter umasistematizagio dos “distirbios psfquicos vinculados ao trabalho” SITUAGAO DE TRABALHO. Para 0 estudos elfnivos voltados para analisar as determinantes laborais de distirbios psiquicos, deve ser conhecida a situagdo de trabalho, compreendendo as condigdes de trabalho © a organizagao do mesmo. Os tipos de gestio e a qualidade das relagdes humanas no trabalho merecem apreciacdo especial na anilise das situagdes de traballo, Condigdes de Trabalho AS condiges fisicas, qufmicas e biolégicas vincu- ladas a execugio do trabalho — ha muito reconhecidas pa vertente orgiinica da patogenia de numerosas doen- gas — também interferem nos processos mentais e, Portanto, nas dindmivas relacionadas a satide mental Estas ages podem ocorrer quer pela via neuropsfquica, 289 quer pela psicossocial e, com freqdéncia, conjuntamen- te pelas duas vias, ‘Tomemos oexemplo dos agravos mentais causados pelo meresirio, Temos af alteragbes determinadas pela intoxicago ao nivel da esteutura do sistema nervoso, decorre wm conjunto de sintomas, Mas a percepedo da perda de capacidades (meméria, auto- Controle emocional, entre outras) ied, pela via psicolé- gia, treqilentemente ocasionar sofrimento mental, tris {eza, manifestagdes depressivas e autodepreciagaio, que indo conferir aspectos especiais aos quadros psiquidtri- cos verificados nesta intoxicagao, A presenga concomitante, em muitas situagdes de trabalho, de miittiptos componentes ambientais nocivos 20 organismo humano deve ser considerada e analisada em seus sinergismos ¢ et outras possfveis interagdes, inclusive nas que se efetivam vom os aspectos da orga- A Organizagéo do Trabatho Osestudosem satide mental do trabalho (SMT) tém encontrado na organizagdo do trabalho a esfera mais, preponderante das determinagées dos agravos psiquicos relacionados com o trabalho. ‘A amplitude ¢ 0 aprofundamento dos estudos exis- lentes respeito impedem que o assunto seja aqui trata- do em uma ahordagem mais completa. Mas dentro do, tema “organizagdo do trabalho", os que estudam a psi- copatologia e a dindmica psicossncial do trabalho tm inclufdo numerosos aspectos articulando a estruturacgéio hiersiquica & divisdo das tarefas © pasando pelo estudo da estrumira temporal do trabalho, Sdo examinadas, ainda, as politicas de pessoal e formas de gerenciamento addotadas pelas empresas. organizagio do trabalho tem sido estudada por diferentes especiatistas e em distintas abordagens, na engenharia de produyo, na sociologia do trabalho, na administragdo, na psicologia do trabatho e na ergono- mia, Todas estas disciplinas oferecem importante con- tribuigao para a SMT e torna-se indispensdvel que 03 «que desejem ampliar seu entendimento com referéncia, A SMT leiam textos basicos em que estes especialistas abordam a temética da organizagio do trabalho. Diferentes modelos de organizagio do trabalho tém sido analisados com respeito as implicagdes que apre- sentain para 0 psiquismo individual e para a sociahili dade, Asrelagdes entre distintos aspectos organizacionais precisam ser enfovudas para que se possi entender as Gindimicas pelas quis tensio, fadiga, tristeza, medo ou patia podem ser “fabricados” ou estimulados a partir de determinadas situagéies de trabalho. Assim, por exemplo, o entendimento das relagdes entreas varacteristicas das tarefas e os tempos exigidos ‘paraio cumprimento das mesmas permite compreender 290 agénese de tenséese de desgaste mental, Mas as tensd=s variardo também conforme outros aspectos organiza cionais. Por exemplo, tem sido estadado que quanto mais rfgido o controle exercido para que 0s modos ¢ tempos prescritos pela diregZo sejam cumpridos, maior serda ansiedade gerada. A ansiedade serd ainda maior, A medida que as tarefas envolvam necessidade de estar atento a riscos de acidente. ‘Tomemoso caso de um trabalhador que realiza uma atividade que exija grande concentragio de aten que deve ser executada em ritmo muito intenso. Este trabalhador est sob controle diretoe permanente de um supervisor. A atividade envotve riscos e € necessério que 0 trabathador se mantenha atento aos mesmos. A ansiedade resultante deste conjunto de aspectos poderé ser agravada ainda por outros elementos ambientais (ruido, por exemplo) ou organizacionais (politica de pessoal da empresaem que sejam estabelecidas sangdes ‘@ quem no dé a produgio exigida). Quanto maior a duragao da jornada, evidentemente maior a tensdo as- sociada ao cansago e ao simultane temor de ndo coa- seguir atender tis exigéncias de producio. Quanto 20s riscos de acidente, estes podersio ou nfo ser um agravante a mais da ansiedade, conforme os ‘mecanismos psicol6gicos e psicossociais de dafesa ja estabelecidos Aeestruturagdo temporal do trabatho diz respelto a diferentes aspectos: ~ duraco da jornada didria de trabalho; — duragio ¢ freqiiéncia das pausas destinadas a descanso e/ou tefeigies; ~ regime horério: diurno, notumo, em turnos alter- nados (lurnos de revezamento) e suas esealas; ~ ritmo (intensidade, monotonia, outras caracteris- ticas); — dimeasionamento e freqtiéneia das folgas; dias da semana em que ovorrem; ~ intervalos interjornadas. Articuladamente & estruturacdo temporal do traba- tho, assumem ainda especial valor na determinagiio de bem-estar ou mal-estar: aspecios referidos & repettivi- dade/variabilidade das tarefas, qualidade das pausas, as folgas edos intervalos interjornadas, Seri, portanto, a partir de conjungdes de componentes da situagfio de trabalho, que se poderdo avaliar os riscos mentais de \dividuos ou de equipes de trabalho. Diferentes modelos de organizagao do trabalho tém sido estudados quanto as sttas repercussbes subjetivas e psivossociais. A ampla literatura existente a respeito dificilmente poderia ser aqui resumida, pelo que nos festringimos a mencionar que quanto menor a partici- pacio do trabalhador na formulacio da organizagao de sua propria atividade © no controle sobre a mesma, aiores as probabilidades de que esta atividade seja desfavordvel 2 satide mental. Dentre os diferentes mo- delos de organizacio do trabalho-omais amplamente adotado & também o que condiciona maiores riscos. “Prata-se da chamada organizagio cientffiea do trabalho, também conhecidacomo taylorismo, porcausa donome do seu eriador, Frederick W. Taylor, Em cada situagdio de trabalho, de acordo com os conteridos das tarefas desenvolvidas pelos empregados, variain também 0s esforgos exigidos. De acordo com o Lipo de tarefa, os esforgos poderdo ser predominante- mente fisicos, cognitivos ou psicoafetivos. Mas em cada atividade geralmente hé exigéncias das trés ordens. INVISIBILIDADE E MASCARAS DO SOFRIMENTO Psiquico A Subjetividade como Desafio a uma “Outra” Leitura O espayo da subjetividade ndo é, como se afirmou por muito tempo, uma “caixa-preta” cujos processossiio inacessiveis 2 andtise, Por outro lado, estes processos 0, de fato, nem imediatamente visfveis, como uma lesio dermatolégica, nem objetivaveis em sua inteireza por intermédio de tomégrafo ou equipamento similar. Eles se expressam, de maneiras peculiares e diversifi- cadas, de modo a tornar necesséria uma “leitura” has- tante especial. Podem, evidentemente, expressar-se pe- los sintomas ¢ sfndromes classicamente reconhecidos pela Psiquiatria, Esta, em sua prética, pesquisa as alte- agies das diferentes fungGes cognitivas e afetivas para fundamentar a construgao de diagndsticas. Bxiste uma imensa hibliografia estudando as expressoes pelas quais as “distungées” mentais se evidenciam em "comporta- ‘mentos alterados”, Mas, no cotidiano de trabalho, mui- las vezes no surgem estes comportamentos tipicos deseritos nos tratados de Psiquiatria. A idéia de “distirbio mental” € geralmente as- soviada &.de uma perda de capacidade laborativa. Mas ‘neni sempre isto acontece durante os deseavolvimentos porassim dizer “silenciosos" e “invisiveis” de determi- nadas patologias, Veremos adiante que, paradoxalmen- te, existem processos mérbidos cuja exterioridade, du- ante etapas por vezes bastante prolongadas de’ sua evolugio, € de desempenhos rigorosamente corretos ¢ desacompanhados de quaisquer queixas de fadiga ou mal-estar. Outras vezes, os “quadros psiquiditricos tipicos” se instalam gradualmente, podendo eclodir de forma agu- da por certos desencadeantes diretamente ocasionados, pelo trabalho. Mas a permanéncia no local de trabatho trequente- ‘mente imprime peculiaridades as formas pelas quais a presenca do distirbio psfquico ira se manifestar. Vale ainda notar que as modificagdes de humor ou de conduta vinculadas 20 sofrimento mental podem ser consideradas como perturbadores do bom andamento, do trabalho pela interpretago do superior hierdrquivo. Este poderd ou no ter percepedo de que se trata de uma alteragdio da satide. No primeiro caso, o empregado ser talvez encaminhado para uma avaliayto médica. Mas, as alteragbes de conduta que prejudicam a ordem ¢ 0 desempenho, freqtientemente, sZo interpretadas a partir de uma outra Iégica ¢ encaradas como demonstragies de negligéncia, indisciplina, irresponsahitidade ou des- eee iat Nee ee oe “por justa causa” sem oportunidade para que abel ao diagno cn Entre as expresses do sofrimento ou do distiirbio psfquico que contribuem para manter a “invisibilidade” do mesino nos contextos de trabalho, acrescentamos algumas que sio bastante freqiientes: — incidentes ou acidentes de trabalho; — falhas de desempenho; = faltas ao trabalho (absentefsmo); — contitos interpessoais no trabalho; ~ acidentes de trajeto; = conflitos familiares/envolvimento em outros conflitos extratrahalho, Evidentemente, cada situagio individual necessi- tard ser adequadamente avaliada para que possa ser identificado se e como as ocorréncias descritas repre- sentam, de fato, expressiio de perturbagio psiquica, Para agGes «le Vigilancia Sanitiria e Vigilincia Epidemiolégica, a andlise que venha a levar em conta 08 eventos do tipo ja especificado seri certamenté de muita utilidade para indicara existénciade riscomental, desde que o significado dos dados possa ser referen- ciado 20 exame abrangente das situacdes de trabalho. Porexemplo, s¢ um aumento de incidéncia de acidentes de trajelo puder ser correlacionado a aspectos de mu- danga organizacional —em que tenha havido importan- te crescimento das exigéncias, ditatagio de jornadas ou previsiio de cortes de pessoal —, a interpretayo ser necessariamente de molde a evidenciar 0 aumento das tens6es, Sempre que se constata aumento simultineo dos virios tipos de eventos apontados, convém desen- volver uma andlise da situagiio atual de trabalho para pesquisar constelagdes de risco mental, Quando os niveis de autocontrole emocional stio muito elevados © a0 mesmo tempo se encontram res- Iingidas as oportunidades de comunicagao significa tivae espontiinea no ambiente de trabalho, aumentam as chances de que se manifestem expresses do mal-es- tar fora deste ambiente, O que ndo quer dizer que simultaneamente deixem de ocorver também manifes LagSes intratrabalho (como os ineidentes e acidentes). O deslocamento das tenses parao eirculo familiar € fieqiiente, como hem confirma a experiéncia clinica de méicos e psicélogos que realizaun 0 atendimento de familiares dos empregados altamente pressionados ou profundamente insatisfeitos em sua experiéncia de tra- batho, LGNTAG 2 0 Psiquismo Ocultado pelo Corpo Visivel Os provessos de desgaste apresentam expressbes psiquicas e expressdes somiticas. A invisibilidade do ‘que ocorre no plano subjetivo faz com que muitas vezes 86 a face somiltica do softimento se apresente e motive a busca de cuidados apés decorrido tempo considervel, de evolugio mérbida. Por outro lado, para grande parte da populayio, existe a idéia de que a0 médico cabe cuidar do corpo doente ¢ a ele devem ser oferecidas informagdes sobre alteragdes claramente relacionadas com essa dimensio orgdnica, tais como dor, febre, alteragdes do funcio ‘mento dos aparelhos ou érgdos. Mesino que haja ansie- dade, tristeza, medo ou tédio insuportével, mencionar queixas a0 meédico a respeito de tais manifestagties no aureve adequado ads que mantém essa concepgiiode um “médico do corpo”. Os Ocultamentos Institucionalizados A invisibilidade do sofrimento psiquico ¢ dos dis- tuirbios mentais vinculados ao trabalho certamente pas- satambém porum conjunto de ocultamentossockalmen- te originados, A multiplicidadee complexidade em que atwam ndo permitem aqui um maior detalhamento. Po- rém, vale a pena lembrar a respeito as correlagaes de Sorgas sociais que tm sido determinantes, historica mente, para definir os conteddos dos curricutos na for- magio de profissionais de sade; as prdticas e rotinas nos Servigos que prestam atendimento/assisténcia aos trabathadlores; a Tegislago que regulamenta a satide © seguranga no trabalho esua fiscalizagao; asinformagies © a eventual “formagio em satide” proporcionada a assalariados e sous representantes; e a escala de priori- ades considerada nas polfticas de pesquis As questdes referentes 20s riscas psiquicos do tra- balho tém estado ausentes, quando nao sumamemte re ititas ¢ vagas, em todos estes t6picos. Exemplificando: no Brasil, a Consolidagae das Leis do Trabalho, ao tratar e estahelecer detinigdes e diretrizes referentes a fadi- a, especifica-a enfocando apenas a fadiga fisiea, A Cultura do Contentamento Existe, ainda, um ocultamento que deriva direta- mente de um valor fortesente cultivado na cultura das ‘empresas — a satisfaedo. Trata-se de considerar aqui o ‘que Galbraith, em obra recente, denomina “cultura do contentamenio” (Galbraith, 1992). Nesta cultura, s- pera-se que cada empregado participe mio s6 do esforeo conjunto, mas de wm contentamento geral pela conse- cugio, dia a dia, das metas fixadas pela empresa. Quem nao participa deste clima, eria para si mesino riscos de ser considerado inadequado ou indesejivel, pela equipe de trabalho e pela estrutura hierérquiea. Deste modo, 292 surge uma pressdo para que cada um demonsire seu “pique positivo” e, caso esteja desanimado ou ansioso, trate de dissimular, ocultando essas “inadequagdes”. Cria-se, desta maneira, a prética de autocontrole emo- cional, com 0 conseqiiente ocultamento das expresses de sofrimenta mental. Defesas Psicoldgicas que Escondem os Perizos A invisibilidade do softimento mental vinculado a0 trabalho possui também importantes origens em meca- nismos psicoldgicos. Af devemos considerar duns ver- tentes: a decorrente dos mecanismos psicoléicos de defesa individual e a que diz respeito aum sistema de defese coletivamente construido. “Tanto em nivel individual quanto em nfvetcoletivo, anegagdo 62 principal defesa adotada. Para agientar 0 softimento, encontrar uiia forma de conviver com 0 mesnio e com a sitwagio de trabalho que 0 provoca, a solugiio encontrada é “decretar” que 0 mal-estar 30 existe, negando a0 mesmo tempo suas causas — as, situagdes perigosas, coercitivas ou, de qualquer outro modo, penosas. ‘A mesma negagdo se faz presente também em nivel coletivo, onde as eoisas se passam como se um grande e secreto poder unisse os membros do coletivo, tornan- do-os uma espécie de comunidade ou conftaria invul- nerdvel aos perigos. Muito bem estudadas por Dejours, as estratégias, coletivas de defesa psicoldgica incluem priticas de de- safio 20 perigo que funcionam como uma espécie de batismo de fogo ou ritual de iniviagao para os traba- thadores novaios. Algo como um “trote”, onde apés detrontado com situagtes de risco, 0 “ealouro” passa a ser considerado memhro do grupo dos imunizados com trao perigo. Temos af, entao, uma dinfmica onde em primeiro lugar 0 perigo é tornado invisivel, para que, em seguida, © medo também o seja. Assim, numa situagdo em que, para a esfera cons- ciente dos trabathadores, desapareceu 0 perigo e no existe medo, por que haveriam eles de utilizar os equi- pamentos de proteyio individual (EPIs)? Utilizar tais equipamentos seria como desmentir a “verdaue”, deeretada em pacio secreto, de que pura os integrantes deste coletivo nao existe ameayaa vida, isto 6 ndio existem riscos. As empresas instituem regula- mentose formas de fiscalizaeao para que os EPIs sejam usados, Conforme o rigor destes dispositivos de contro- le, a tilizagzio dos equipamentos poder até ser Feita — mas meramente para niio haver conflito com a chefia ou com os agentes de seguranga. Pois, segundo a crenga, estabelecida coletivamente, existeuma protegiomégica que torna dispensvel esse uso. ‘Mesmo nas situagdes em que existam razGes obje- fivas para que os trabalhadores apresentean resistencias ru op ap uso dos EPIs eA adogiio de certas medidas dt seguranga, esses aspectos psicol6gicos e psicossociais precisam em geral ser considerados tanto para a andlise ‘quanto para a prevengao dos AT. ‘A questio ¢ bem precisada por Dejours (1987), que considera que o sistema defensivo coletivamente:es- truturado configura uma verdadeira “ideologia defensi va protissional”. A propésito da mesma, afirma: “A ideologia defensiva profissional, este ponto deve ser sublinhado, nfo possui nenhuma eficdcia concreta na luta contra o préprio risco. Ela visa to-somente a iatenuagdo da percepgtio do risco e 0 prosseguimento do trabalho, Inefivaz em relagdo 20 risco, ela no entanto & muito eficaz mentalmente, pois, mascarando medo, diminui o softimento dos trabathador AS configuragdes em que as defesas coletivas se apresentam em diferentes situagdes de trabalho vém sendo investigadas empiricamente, em diversos setores © grupos neupacionais. Assim, Libouban (L985),em um servigo hospitalar destinado a grandes queimados, rea- Jizow uma pesquisa com as enfermeiras. Este estudo reyelou estratégias defensivas peculiares, cuja meta era evitar 0 soirimento suscitado pelo contato continuado ‘com a dot intensa ¢, muitas vezes, com a morte destes, pacientes. A hiperatividade foi um dos comportamentos, Gefensivos registrados: mantendo-se constantemente ativas, em movimento, falando bastante e mostrando-se mesmo agressivas entre si, “evitam ficar em posiggio de passividade, de fragitidade”, numa situago em que confrontavam a agressio psfquica representada pela violéncia do sofrimento € ao mesmo tempo seus pré- prios timites para avalmar as dores dos queimados ou impedir sua morte, Em umestudo brasileiro, Araiijo (1991) analisouas defesas coletivas dos trabalhadores de uma refinaria de. petréleo, assumidas para expulsar 0 medo e permitir 0 convivio dos mesmos com os imensos riscos inerentes aa seu ambiente de trabalho, Ridicularizar verbalmente as fontes destes riscos era uma, entre outras formas, de simbolicamente dominar ¢ exorcizar ameagas em po- ten REFERENCIAS E MopeL.os TEORICOS Muito embora niio cxista uma unicidade de enfo- jd que muito antes da constituigdo do campo da ‘SMT diferentes disciplinas vinham estudando fendme- nos como fadiga, estresse, “neuroses do trabalho”, alie~ ago ¢ dominagio nos ambientes de trabalho, utilizan- do referenciais tedricos ¢ mesmo alguns modelos que Ihes eram préprios, 0 fato é que alguns destes refe- reneiuis passaram a ser ulilizados em estudos voltudos, para investigagio da relaco entre aspectos laborais & a constituigao de distérhios mentais em geral c, es- pecialmente, los psicossométicose psicossociais. Estes, estudos foram vinculados a diferentes vorrentes de pen- samento cientftico, Podemos, entdo, distinguic: 1 — 0 modelo que tem suas rafzes na teoria do estresse, formulada nos anos 30 pelo endocrinologist canadense Selye. O referencial biisico vinculado a este modelo provém da Fisiologia, sendo coerente com a petspectiva positivista dominante nos estudos da Medi cina e com a visio behaviorista. Diversos desenvol- ‘vimentos originaram modelos mais complexos do que 0 originalmente formulado dentro desta corrente. Dois desdobramentos importantes ¢ mais recentes podem ser assinalados nesta corrente: — alinha de enfoques em que aspectos psivodind- micos passam a ser inclufdos. Isto ocorreu prin- cipalmente nos estudos que vém analisando a consfituigao ¢ as caracterfsticas elfnicas de um qquadro identificado por alguns autores sob a denominagio de “esyotamento profissional” (burn out nos patses de lingua inglesa e briture interne nos de lingua francesa). ~ a linha de estudos que se volta para analisar sspectos socials, apoiada em conceitos sociol6- gicos ¢ antropoligicos de diferentes escolas. Os aspectos referentes ao ambito da empresi € organizagao do trabatho so examinados em al- ‘gumas destas pesquisas. Deste modo, “estres- sores” de natureza social tém sido identiticados, deniro e fora dos limites fisicos do local de trabalho. Outros estudos tm procurado inves- tigar especialmente 05 tipos de “apoio” social que atuam na adaptagao as situagdes estressan- tes, protegendo os empregados ‘Uma terceira linha vem ampliando abordagens de Psicologia Cognitiva. Alguns destes enfoques se as- sociam ao exame de fatores socials, Uma das erfticas apresentadias a este modelo € a de que ele seria mecanicista e unidirecional, no levando em conta a capacidade humana de modificarestressores erealidades estressantes. Outra erfticaé ade que grande parte dos estudos efetuados se vinculaaumaconcepeao de normalidade em que os paréimetros para o “compor- tamento descjdvel” — e, portanto, designado vomo “normal” — representam em verdade interesses dos donos do poder © da produgiio. Assim, também as pedticas clinicas vinculadas 2 accitagiio deste modelo seriam terapias voltadas para adaptar os individuos um trabalho inadequado 4 condigdIo humana, Ainda como restrigdo apontadaaos modelos centra- dos no estresse, esti a impossibilidade de esta aborda- gem revelar dindmicas, isto é, mostrar como ocorrem as interagdes, permitindo uma compreensio dos proves- sos. Apenas renunciando & pritica de reduzir 2 varis- veis, em lermos quantitativos, todos 0s componentes dos fendmenos estudados, toma-se possivel essa com preensio. E interessante mencionar que aqueles que ‘vem estuckindo 0 burn out em geral tém realizado essa rentincia, Mesmo assim, persiste como desafio aos pes- quisadores do estresse buscar um aperfeigoamento do modelo (Chantat, 1990). : Como oreferencial te6rico adotado pelacorrente do estresse se harmoniza a0s parimetros do modelo médi co adotadas oficialmente para a Classificagio Interna ional de Doengas (CID), 0 registro de diagnésticos, na pritica médica do atendimento de opeririose emprega- Ups de diferentes categorias, acaba sempre, forgosa- mente, por se enguadrar nos eritérios fixados por esta cortente, o que, sem dévida, dificulta 0 pleno aprovei- tamento de tais registros na vigilncia da sade — uma ver que a natureza faboral dos distérbios fica invisivel pelas designaydes adotadas 2—A corrente voltada para o estudo da psicodini- mica do trabalho utiliza o referencial psicanalitico, 20 ‘mesmo tempo que absorve contribuigdes de virias dis- Ciplinas, emespecial das que estudam a organizagio do trabalho em uma perspectiva psivossocial. Estuda a subjetividade, as relagGes interpessoais e a constituigZ0 de coletivos nos locais de trabalho, detendo-se de modo especial no exame das estratégias defensivas que estas formagGes coletivas desenvolvem. Estas estratégias di- rigem-se justamente contra a percepedo do sofrimento (ansiedade, medo, tédio, repugniincia) nas situagdes de tabatho, Analisa, ainda, como surge uma instincia também coletiva voltada para agbes solidarias, O prin- cipal marco de desenvolvimento desta corrente 6 a publica, no ano de 1980, a Franca, do livro de Christophe Dejours, que na tradugdo brasileira recebeu Co titulo de A Loueura do Trabalho. ‘Alguns pesquisadores tém procurado criar vonver- génciaentre as duas correntes, adotando abordagens nas uais associam técnicas que permitem mensuracio de éleinentos visiveis e procedimentos do tipo qualitativo, voltados para o entendimento das dinammicas que s2 processain no nivel profundo das estruturas psiquicas ¢ socials E possivel, portanto, identificar uma aproximaggo, embora persistam diferencas conceituais importantes Por outro lado, hd enfoques paras quaissao nitidamen- te diferentes os graus de interesse revelados pelas duas correntes. Assim, a dimensdo politica tem sido subtrai- dda aos exames reatizados na Corrente do estresse, no obstante ter se constitufdo desde hi muito numa das temiticas de maior relevancia no estudo das determin: ges de distisbios mentais. J4 no estudo dos apoios sociais originados forado ambiente de trabalho, interes- santes coniribuigdes tém emergido dos estudas inseri- dos na perspectiva do estresse, escapanclo essa temstica, em geral, aos estudos em psicodindmica do trabalho. E possivel, entretanto, que a passagem para yencer © impasse teérico se situe em nivel de um terveiro caminho, apresentado a seguir, 3 — Um terceiro modelo pode ser formulado a partirdo conceit de desgaste, em queeste € visualizado 204 como um produto de uma correlacdo desigual de forgas ‘no pracesso biopsicossocial sadde/doenga. Nas intersegdes entre processo satide/doenga e pro- ccesso de trabalho, determinagdes de ordem sociopolit- ca e econdmica passam a atuar, Assiin se revela, nas situagdes de trabalho dominado, a desyantagem que Teyam a que 0 corpo e os potenciais psiquicos do traba- Ihador sejam consumidos pelo provesso de trabalho (Laurell, 1989; Seligman Silva, 1993), Este desgaste Se torna tanto mais grave quanto maior a precariedade das condigges de vida, No conceito de desgaste mental é posstvel integrar a idéia de um desgaste concreto em nivel orgaaico (como aquele provocado por certas substfincias neuro- t6xicas) € 0 entendimento de um desgaste que diz res- prito a0 que Mendel (1985) explicitou como “mutilagdo da personalidade psicossocial historivamente posstvel”. Omodo peto qual a pervepeio do desgaste da esperanica em relagio a0 proprio projeto de vida caminha em paralelo a deterioragiio da auto-imagem ¢ da auto-es- tima tem sido estuctado por diferentes tedricos a partir de pesquisas de campo realizadas em diferentes contex- (os de trabalho. Em muitas ocupagées, adeterioraydio da auto-imagem se faz a partir da percepga do desgaste fisica e do proprio processo de envellecimento. Este envelhecimento pode ser acelerado pelo trabalho pro- Tongado em situagoes penosas. E o que foi verificado, por exemplo, em relacdo ao trabalho em tumos alterna- dos: alguém cuja vida laboral decorreu na regime de turnos alternados, envelheceu sete anos suplementares, segundo andlises reportadas por Pépin (1987). Dest modo, 0 modelo centrado no conceito de desgaste mental pode ser tomado como um paradigma, integrador, que permite compreenderasinteragoes entre 08 “fatores” objetivados pelos estudos do work-stress, a subjetividade e diferentes esferas da vida social, a partir dos mbitos microssociais do local de trabalho & da familia, passando pelos intermedidrios (empresa comunidade), até os macrossociais que definem desde 1 divisio internacional de trabalho As politicas indus- trial, tecnologica e salarial de cada pafs, balizando as relugdes sociais de trabalho em cada realidade. ‘A indubitével complexidade destes processos rela- cionados com © desgaste mental certamente impede maior detalhamento a respeito neste capitulo, Mas acre- ditamos que possa deixar esclarecido que esse desgaste identificado pelo médico no seu paciente, a nivel indi- vidual, foi, com a participagdo do mesmo, tecido pelo enirceruzamento de determinagdes sociais originadas em diferentes instincias (Aubert, 1993). A DIMENSAO PSICossocIAL Na dimensio psicossocial referida uo trabalho, as subjetividades individuais mantém interagiio com 0 af- vel coletivo. Esta dingimica constitui uma instancia po- RAL K fo 98 ef a ORIGINAL erosa, tanto para a promogdo de sade mental quanto para as determinagbes do desgaste mental. ‘Vale assinalar: 1. 0 cardter permanente do proceso psicossocial Nada estético no ser humano, no trabalho, nem nas relagdes que se estabelecem entre membros de um, coletivo. Os processos satide-Joonga ¢ as processos de rabalho se articulam intimamente nesta dindmica, 2. A muiltiplicidade dos componentes de natureza social, cultural, psicoldgica e bioldgica presentes nessa indimic: 3. A nevessidade de considerar aelevada complexi- dade que decotre do objetivo de procurar estudar a Inter-relagiio que se estahélece entre processos por sta ‘ver também complexos: — © proceso subjetivo, intimamente inserito no corpo hiolégico ¢ ligado ao hist6rico pessoal; — 0) process de trabalho, que é sociulmente deter minado; ~ 0 provesso satide-doenga, 4. O sofrimento mental € examinado em uma pers. pectiva também dindimica, onde tanto pode dar lugar a incrementos favorecedores da saide quanto a encami- nhamento em direrioA morbidade (Dejours. & Adbou- heli 1990). Este sofrimento constitu objeto central de anise em satide:mental do trabalho. Nas pesquisas de campo quanto na clinica, torna-se_necessério cor- felacionar este soffimento com a situagdo atual de trabalho, considerando todas as interagdes das con- digdes (fisicas, quimivas e bioldgicus) e da organizagio do trabalho; 5. A importinciada perspectivadiacrdnica (estado longitudinal) Para 0 estudo do desgaste mental é indispenstvel considerar as trajerdrias de vida ¢ trabatho dos in- dividuos. Por um lado, pelos fendmenos de ordem cn -mulativa: acumulagio do cansaco; acumulayiio de agra vos determinados pelas condigtes de tribalho que, Uesgastando 0 corpo e prejudicando os processos fisio- lgicos, tanto podem deteriorar estrutura ¢ funciona- mento do sistema nervoso quanto determinar vivéncias de softimento mental a partir da propria percepeao das, perdias de capacidacle. Pelo outro lado, pela forma pela qual o proprio provesso de envethecimento sore impac- los decorreates dos desgastes vinculados ao trabalho, podends inclusive ser acelerado As transformagdes da auto-imagem e do projeto de vida conduzem a mudangas em nivel da subjetividade, que podem ser percebidas, ds vezes, como profundas modificagdes de personalidade. Deste modo, estudos longitudinais sdo indispensaveis para aferir 0 entendi- ‘mento destes processos mentais ¢ psicossoviais conee- lados A vida laboral, Isto faz.com que. histérico pessoal de vida e trabalho se tome essencial na pritica cliniea para elucidagda dos distirbios psiquicos. Vale assinalar que, também para estudos coletivos, essa perspectiva diacrOnica merece ser focatizada em relaydo 4s transformagGes operadas ao longo do tempo nas SituagGes de uma determinada empresa ou local de trabalho. ‘Um estudo que realizamos com operrios de uma sidentirgica oferece exemplo a respeito, mostcando co- MO 0S provessos que se constitufram em agravos psi- eossomiticos e psiquidtricos se correlacionam as ca- racteristicas ¢ as transformagées que, no decorrer do tempo, haviam modificado o trabalho 0 convfvio no interior desta usin. Assim, a geragdo de trabalhadores que havia passado anos trabathando em turnos aiter- nados, em jornadas digrias de 12 horas, ¢ estivera con- comitantemente exposta a um conjunto de condigies ambientais profundamente agressivas a satide, apresen- tava, anos depois, marcas profundas desta experiéncia ccoletiva, Essas marcas se revelaram tanto em seus eor- Pos quanto em distirbios psfquicos e da sociahilidade. 6. A relevaincia que assumem as formas de relacio- ‘namento interpessoa! no interior dos locais de trabalho, Pura a configuragao de uma instincia cotetiva. A ma: neira pela qual o psiquismo de cada um irdintefagir com trabalho e com os demais decorre da personalidade ¢ da experiencia singular e, 20 mesmo tempo, das “re- gras” e tradigdes do coletivo que passam a fazer parte da vida mental edas agdesde catla integrante do mesmo. Hi uma coesio que se estabelece ao longo do convivio com as pressies e riscos do trahalho. Essa coesto as- sume grande importncia na prevenefo de acidentes ¢ 6 marcuda pelos saberes acumulados e transmitidos att vyés de varias geraydes de trabathadores. Por outro lado, 8 lagos de confianga © solidariedade possuem forte significado em termos de protecio a satide mental, Nas situagdes em que existe alta rotatividade de trabalha- dores clou rigido controle paca impedir comunicayao entre os mesmos, essa protegao fica prejudicada. Diferentes t6pivos de interesse para ox processos sadde/doenga mental emergiram dos estudos ein Psico- dindmica do Trabalho, tendo originado categorias de aanttise adotadas em diversas investigayies, Podem see cestacudos, entre outros: identidade social; relagdes de poder; significados do trabalho; construgio de mitos. QUADROS CLINICOS Deversio ser considerados, agora, os quadcos clini- 0s dios distirbios psiquicos que t8m sido mais obser- vados quanto a sua vinculagdo com situugtes e trajers- rias dle vida no trabatho, Vale assinalar que nao poderemos discutir aqui todos os quadros da nosologia psiquidtrica em que tuagdes ou eventos do trabalho possam assumir carster desencadeante, Valera mais temibrar quo qualquer mu- dunga significativa, qualquer intensificagiio de presses ouexigéncias poderd, do mesmo modo que outro evento fare 295 {o a ie de vida, provocar aexpressfo sintomntica de um proves- so d2 soirimento até entio invisivel A configuragaio dos quadros clinicos dependers, a, do tipo de personalidade e de todos os componentes da singularidade hiopsfquica do individuo ede suas expe- rigncias prévias. Assituaghes de trabalho podem atuar desencadean- do crises mentais agudas, neurdticase psicdticas, Neste capftulo no trataremos de quadros psic6ticos, porém ‘varias estudos de caso constataram nos mesmos 0 papel desencadeante desempenhado por circunstancias de na- tureza laboral (Dejours, 1987; Seligman Silva, 1993), A consiituigdo de uma fragilizagso gradual da ca- pacidade de enfrentamento das agress0es ao psiquismo também pode ocorrer em associagdo direta ao que € vivenciado no trabalho, muitas vezes ao longo de anos, durante os quais 0 desgaste mental se agrava de modo progressivo. Nao se comhece ainda até que ponto e de que modo essas mudangas fazem parte da patogenta de una série de distirbios psiquicos. em sendo formukida, entretanto, a caracterizagio de alguns quaclros clinicos cuja patogenia se vincula diretamente ao trabalho. Sdo estes os quadros que pro- curaremos examinar a seg SINDROMES NEUROTICAS Acxisténcia ou nto de neuroses dé trabatho € um dos temas mais polémicos em psicopatologia do traba- Iho, Por muito tempo, a maioria dos que trataram do assunto considerou que o trabalho poderia ser t0-so- mente um desencadeante de quadras neuréiticos em pessoas cuja estnutura psiquica, a partir dasexperiéncias precoces de vida, ja apresentasse uma configuragéo ncurbtica, Outcas autores preferiam partir das observa- (Ges de que determinadas situagtes de trabalho eviden- Giavam maior prevaléneia de individuos com quadzos de caracteristicas elfnicas marcadas por sintomatologia similar d encontrada tas neuroses —ansiedsde intensa, ishirbias do sono, fendmenos conversivos, em outros casos, depressio, manifestagdes fbicas ou obsessivas. Porém, apesar de tais quadros, estes autores consi- deravam que ngo se (ratava de verdadeiras neuroses. Seriam, segundo Wisner, “sindromes neur6ticas soviadas a0 trabalho’ © carter reativa de tais sin- dromes € apontado por varios autores, destacando-se 0, vonceito de astenia reacionat do trabatho proposto pot Buyard © Crocg (1980), no qual o destnimo é um aspeeto mareante, No devorter dos tiltimos anos, entretanto, novos conceitos vém se desenvolvendo com respeito a0 as- sunto, O conceit de nenrase pds-tranmdtica é retoma- do por autores: dentro da contexio do trabalho, Ao mesmo tempo, reabre-se o debate sobre a existéncia de neuroses ocupacionais espeefficas, medida que sinto- matologias peculiares ¢ transformagées de comport 200, ‘mento e da sociahilidade passam a chamar a atenezo n0 trabalho computadorizado e automatizado, ‘Também a transformacdo das priticas organizacionais € associada auima novaneurose, que seriaa “neurose de exceléncia” (Aubert, 1993), Por outro lado, surgem preocupayoes coma expansto de manifestagdes neuréticas de cardter depressivo e de cardter parandide. Nao surpreende, portanto, que nos anos 90 estejam surgindo novas propostas de categorizagio dos dis- Lirbios de caracteristicas neurdticas. Este é 0 caso, em uma publicagdo em que Aubert (1993) propde: a adogzio da categoria “neurose profissional”, que define coma uma afecedo psicéyena persistente na qual os sintomas sio expressio simb6lica de um conflito psiquico cujo desenvolvimento se encontra vinculado auma determi- nada situagdo organizacional ou profissional”. A mes- ‘ma autora considera 1rés formas clfnicas de neurose profissional: newrose profissional atual (que seria uma neurose trauméticay; psiconeuroseprofissional, quando uma dada situagdo de trabalho funciona como desenca- deante, reativando conflitos infantis que permaneciain ng inconsciente; e neuroses de exceléncia, que se Ue- senvolvem a partir de certas situagdes organizacionais ‘que conduzemt a processos de estata (burn out), pessoas que iavestem intensamente seus esforgos ¢ ideais cm determinada atividade. As caracierfsticas de personali- dade e valores sao consideradas determinagdes impor- antes, que atuam na ctiologia articukadamente 2 caltura organizacional em que a “exceléncia” € 0 princfpio bisico. Mas a diferenga em relago a psiconeurose profissional é que ndo existe aqui umasituagao anterior, infantil, revivida a partir do trabatho. Pardimetros Clinicos Pouem ser identificados dois pontos de referéneia bisicos, adotados por aqueles que partiraim de estudas clinicos para tenlar caracterizar sindromes neurdticas etiologicamente vincutadas ao trabalho. Estes parame- tros sio: ~ afadiga; — v0 cardier reativo pés-traumético, Um tereeito ponto de referéncia a considerar é a identificagiio de um componente dominante e articul’- dor na sindrome (depressio, aspecto parandicte ou ou tro). Os fendmenos de fadiga t8m sido considerados especialmente em duas sfadromes — a sfndrome da fadiga patoldgica ¢ 0 “esgotamento profissiona” (brarn ‘out Owestafa). E digno de nota o fato de que a primeira tem sido estudada principalmente em trahathadores in- dustriais e a segunda em profissdes em que o trabalho é dominantemente mental. ‘Trataremos, a seguir, destas sfniromes € mais agiante daquelas em que 0 carter pés-trammstico tem sido assinalado, drome da Fadiga Cronica (Padiga Patolégica, Fadiga Industrial) Com as denominagdes acima, diferentes autores descrever um quadro que € interpretado como resul- tante da fadiga acumulada ao Tongo de perfodos de duragdo varitvel (meses ou mesmo anos). Diz respeito a situagdesde trabalho ¢ de vida em que as pessoas nik tém oportunidade de obter a necessdria superagao da tadiga através de sono e repouso adequados! A caracteristica mais marcante € a presenga de uma fadiga constante. Por assim dizer, o individuo “acorda cansado”. Essa fadiga é mentale fisica, simultaneamen- te, Portanto, assume o cardter dé unra fadiga geral A mn qualidade do sono & justamente outra ma- nifestagdo importante: a pessoa ndo consegue aprofun- ar o sono, desperta freqiientemente durante a noite ¢ muitas vezes tem insOnia, Para alguns, a dificuldade maior € para adormecer, quando 0 trabalho intelectual foi muito intensivo e “a cabega continua trabalhando, ado consegue desligar”, como referem muitos. Os prs- prios soahos passam a ter 0 trabatho como contetido, As vezes de modu repetitive e perturbador. A sindrome apresenta, além do cansago e dos dis- Uirbios do sono, outras manifestagdes, A irritabilidade © 0 dexdinimo sfo as alteragdes psicol6gicas principais ho quadto. O inlividuo passa a irritar-se mesmo por pequenas coisas que anteriormente nao 0 perturhavam. Isto con- «luz a contlitos interpessoais no ambiente de trabalho ¢ fora dele, atingindy negativamente 0 relacionamento familiar. € comum a observagdo destes trahalhadores quanto 2 sua “falta de paciéncia”, ao voltar pari casa ‘ups o trabalho, Essa imitabilidade se manifesta muitas vezes numa impossibitidade de eseutare manter didlogo com a(o) esposa(o). Também € freqtlente no conseguir se autocontrotar diante do barulho ou das solicitagdes feitas pelos filhos peyuenos. Em trabathadores que tra- hralham em turnos aiternadose sob rufdo enastante e/ou perturbador, essa irritabilicacle as vozes & ao barulho omiésticn € especialmente intensa. desiinimo que se associa av cansago faz com que desaparega 0 interesse pela vida social e a disposigao, para atividades de lazer anteriormente praticadas. Deste modo, 0 trahalhador tende a se retrair € a se isolar socialnente, Outros sintomas que tm sido descritos nesta sin- drome, com variagGes de presenca ede intensidude, sv: ores de cabega, dores no corpo (geralmente a0 nivel dos muisculos mais utilizados no trabalho), perda de ‘petite e mal-estar geral. Graus varidiveis de ansiedade podem ser notauos, Inicialmente mencionadaem vorrelagoxo trabalho industrial ¢ por isso entio denominada “fadiga indus Arial”, a sindrome foi considerada como decorrente da monotonia do trahatho repetitivo por alguns autores, Posteriormente, verificou-se que a convergéncia e a interagdo de diferentes componentes da situagdo de trabatho (e muitas vezes, também de condigdes extralie borais) € que conduziam a essa fadiga. O regime de trabalho emturnos alternados assume granderelevancia ha produgao da fadiga patol6gica, conforme demons: trado em virias pesquisas de campo, inclusive no Brasil (Magalhiies, 1989; Seligman Silva, 1993; Seligmann Silva, 1987). Atualmente sabe-se, também, que a sfn- rome nio éencontrada apenas em trabalhadores indus- triais. Foi, por exemplo, constatada em empregados do setor de transportes (Seligman Silva, 1986). ACID-10, na versdo publicada etn 1992 pela Orga- nizagio Mundial de Saide, inclui “‘sindeome da fadiga” no item F-48.0 —neurastenta. Seria impossivel, neste espago, realizar a andlise da grande polémica que tal insercflo provoca, especialmente tendo em vista que a prdpria conceituagao de neurastenia nunca obieve con- Senso entre as varias correntes da psiquiatra, Diagndstico Diferencial Atualmente, as pesquisas cientificas vém dando grande atengiio a uma outra sfndrome que tem recebidi ‘amesma denominagio de “sfndrome da fadigacrOnica e que se deseavolve depois de infevgdes virdtivas. Na CID-10, a mesma eonsta como G93.3 — sindrome de Jadiga pos-viroxe, A anélise do hist6rivo de trabalho & de grande importincia para 0 diagndstico diferencia Osantecedentes de vieose (monunueleose tem sido uma das mais relacionadas com a sindrome) também preci- sam ser pesquisados, 0 grau de astenia e as dores mius- culares parecem ser mais intensas, em geral, na sin- drome pés-virose, Nos casos de maior civida, poder ser necessério recorrer a exames de laboratério para pesquuisar os aspectos imunoldgicos referentes as viro- sessuspeitatlas. Vale assinalar que se encontraem aber- toumdesafiod pesquisa: muitos dos casosde “sindrome de faddiga erdnica pos-virose” tém sido vonfirmados (ou apenas clinicamente suspeitados, sem eonfirmagiio lax boratorial) entre profissionais da informética — es- pecialmente us que realizam trabalho mental de grande densidad, como os analistas de sistema, Até o momen- 0, a8 pesquisas 0 aprofundaram essa celago para analisar se as caracterfsticas dk trabalho influem na patogenia da sindrome da f Sindrome do Fsgotamento Profissional/Estaf/Burn Out Herbert J. Freudenherger publicow em 198(o livra Burn Out, Nessa obra, 0 tema central é colocado pelo aullor na representagio de um ineénclio devastador, um “ineéndio interno” que reduz a cinzas a energi, as expectativas ¢ a auto-imagem de alguém anies profun- damente entusiasta e dedicado ao trabalho. Essa repre- sentagiio corresponde sfndrome que Freudenberger denominou burn out ou “esgotamento profissional”. No Brasil, 0 termo estafa tem sido aplicado a quadros, clfnivos similares na prdtiea elfnica cotidiana. Caracteristicas Pessoais Indicativas de Risco Baseando-se em seus nuimerosos estudos de caso, Freudenberger identifica que especialmente dois tipos de pessoas esto expostos a estafa: pessoas particular- ‘mente dindmicas ¢ propensas a assumir papéis de lide- ranga ou de grande responsabilidade; e idealistas que colocam grande empenho em aleangar metas freqiien- temente impossiveis deserem atingidas, cxigindo muito de si mesmos, Emboraadenominago “esgotamento profissional” indique claramente uma vineulagéo com o trabalho, saree que a concepgdo original de Freudenberger é mais abrangente, uma vez que o mesmo aficma que “uma pessoa ‘queimada’ é alguém que softe de fadiga ow de uma frustragdo aguda causada por sua devogio Porummacausa, um modo de vida ou um relacionamento que niio provuziu o resultado esperado” (p. 30). A partir da perspectiva de diferentes autores que estudaram a sfndrome, Chanlat (1990) situa a mesma emt uma vertente dos estudos voltados para o estresse, Seria, em sintese, “uma sfndrome de esgotamento fisico € emocional, no qual ocorrem 0 desenvolvimento de imagens negativas de si mesmo, de atitudes desfavors- veis teferentes ao trabalho e uma pertla de interesse em relagio aos cliemtes” (p. 120). Profissdes em que é Verificada A estafa tem sido desetita principalmente em pro- fissionais que trabatham aa prestagio de cuidados a Pessoas doentes, grupos sociais carentes ¢ criangas, Assim, varios estudos foram realizados a respeito com enfermeiras, médicos, assistentes sociais e professores. Froudenberger também relaia uma situagio de estala coletiva em executivos. Mas a maior parte dos estudos diz respeito a pessoas que ao longo de anos de profisstio persistiram em tentar a soluctio de problemas humanos (Gor, softimento em geral, miséria, injustiga), atuando com grandetempenho, de forma geralmente intensivae auto-exigente, sacrificando a vida pessoal, térias ete, Estas pessoas teriam geralmente altas expectativas de suicesso em seus objetivos e, também, de obter reco- nhecimento. Freudenber veorer: — em pessoas que possuem uma posicdo profis sional que permite controle sobre a propria ativi- dade — como na drea financeira, no comércio, rassinala, ainda, queasindrome pode 298 em certas atividades da prestago de cuidados € na atividade edueacional; — em grupos que exercem ocupagdes niio qualifi- cadas e/ou que detém pouco poder de controle sobre a propria atividade. Odeseneadeante mais freqiiente seria uma situagao de sobrecarga oude frustrago no trabalho, Freudenber- ger aponta para a existéncia de uma fase prévia a es desencadeamento, na qual 0 entusiasmo & substituido por uma vivéncia de tédio, surgindo irritabilidade e mau humor, Em geral, existe uma tendéncia a negar essas, primeiras manifestagdes de desgaste por parte dapessoa afetada. Depois, eclode o quairo clinico, onde Freuden- berger assinala: = perda do autocontrole emocional; — aumento da irritagdo; manifestagdes de agres- vidade — perturbagoes do sono; ~ manifestacdes depressivas marcadas pela decep- ‘gio e pela perda de disposigdio e interesse pelo trabalho, Nas profissGes om que a atividade é de dispensar cuidados ou ensinar, tem sido Gescrita a instalagZo de uma verdadeita intolerdncia a0 contato com aqueles que antes eram alvo da dedicagio do profissional. #. como se tivesse sido atingido um estado de saneragdo emocional na qual no € mais poss{vel suportar 0 en- contro com a necessidade de uma outra pessoa, pois agora € 0 préprio profissional quem esti num estado que, inuitas vezes, é de desespero, Sindromes Pés-Trauméticas Estamos englobando sob este titulo os quadros que tém sido designados como traumiticos ou pés-traumd- ficos, sempre que o trauma considerado esteja na situa- gio de trabalho, Incluiremos aqui a sindrome residual pds-traumsti- cae as quadros neurdticas pés-traumticos. Sindrome Residual Pés-Traumética Trata-se, conforme a denominacio indica, de uma sindrome que se segue a um episédio traumitico. Este episddio € agudo ou de gravidade suficiente para deter- minar afastamento do wabalho com finalidade de trata uento e recuperacao. Este episédio pode ter sido um acidente do trabalho, uma intoxicagao ou outro evento mérbido ocasionado diretamente pelo trabalho, O que acontece € que, mesmo aps desaparecidos os agravos ” orgdnicos fesultantes do acidente ou doenga, o indi- viduo continua sentindo dores ou outros sintomas que impedem seu retorno ao trabalho, Esta sindrome é um dos majores desafios com que se deirontam as equipes de i jo, uma vez que Re o a a) x ORIGINAL prolonga eoormemente os tratamentos, frustrando com regiiéncia os esforgos dos terapeutas, Gueiros Souzt (1980), em Pernambuco, num dos primeiros trabalhos brasileiros na temética da SMT, enconirou amplamente a preseaga desta sindlrome no centro de reabilitagio cujos pacientes entrevisiou. Na Epoca, a denominagao “sindrome residual pés-traumé- tica” ainda nao era conhecica, mas os quadros de “doen- ipa dos nervos” que a autora desereve, marcados pela ansiedade, mal-estar ¢ persisténcia de. manifestagies que faziam protelaro retorno ao trabalho, correspondem A sindrome em pauta, Dejours (1987) considera que esta sfnclrome seria 0 linico quadro psicopatol6gico especificamente origina do’pelo trabalho, isto €, 0 nico que apenas pode ser causado pelo mesmo. O autor explica.o surgimento de tais quadros relacionando-os a ruptura das defesas psi- coligicas de negagio socialmente estruturadas, pelas {quais o individuo, antes do acidente ou doenga, conse- guia se manter convivendo com a penosidade ¢ com os, perigos existentes em seu trabatho. Agora 0 préprio, individuo passa a ser a prova viva e conereta de que 0 perigo existe. Portanto, no pode mais fazer parte do coletivo e pressente a isolamento em que ind se sentir, separado do grupo para o qual seré agora um elemento, perturbador, ja que sua presenga desmente 0 que a ideotogia coletiva procura afirmar —ainvulnerabilida- de ante as riscos. Quailros Neuréticos Pés-Trawndticos Os estudos referentes s neuroses reportam, em _getal, as origens das mesmas aeventos precoces dla vida infantil. A tinica excegto diz respeito As denominadas “neuroses traumiéticas” — onde aangistiase origina da vivéncia de uia intensa ameaga localizada em um evento do passado recente, Este evento, por sua violén- cia, constitu uma agressdo ao psiquismo, desencadean- do algumas alteragbes peculiares, AS neuroses traumiticas foram identificadas por virios autores também em quadros em que 0 evento traumtico se verificou no local de trabalho. ‘Aubert assinala que, em se tratando de neuroses profissionais, hd que considerar no sd uma experigneia {raumtica tnica, mas também a vivencia de experién- ‘cias (sucessivas) na dindmica originadora deste tipo de neurose. Exemplifica com 0 estudo de caso de uma enfermeira, deixando claro o risco psfquico que advém ein atividades onde repetidamente ocorre 0 encontro com situaydes que impactam de modo violento sobre o psiquismo, superanclo as possibilidade do individuo de fazer frente as mesmas, Voge (1985) identificou o mesmo quadro de neuro- ‘se traumiitica em funciondrios de estabelecimentosban- ccdrios que haviam sofrido assaltos A mo armada, Em condutores de trem metrovidrio, depoisde atropelamen- tos envolvendo os trens em que estavam, pode ser identificado também este tipo de distirbio (Seligman Silva, 1986; 1987). Cru (1989) encontrou as manifes- tagdes da neurose traumética em trabalhadores que ha- viam assistido a acidentes graves ou fatais em seus locais de trabatho. No quadto clftico da neurose traumtica temos, ~ 05 fendmenos de revivescéncia como manifes- taglo tipica: 0 individuo reve e revive mental ‘mente a(s) cena(s) traumiitica(s). Esta revives cGncia se acompanha de profundo mal-estar, as veres com sudorese e taquicardia; — pesadetas cujo contesido também repete oevento iraumstico; — distdrhios do sono; ~ irritabitidade; = um estado de tensio no qual ocdrrem sobres- ssaltos sempre que iilguin fato, ruido ou modifi- cago do ambiente possa evocar o temor de que evento traumstico se repita, Ecomo sea pessoa estivesse em permanente estado de prontidio; — distdrbios neurovegetativos diversos. Tovlas estas manifestagdes ocorcem com freqiéncia apésacidentes, assaltos, incéndios ou outras catistrotes, sem que adquiram um caréter de patologia, pois em prazo de dias, semanas ou poucos meses vio gradual ‘mente diminuindoaté desaparecer. Considera-seodiag- gstico de neurose ps-traumética apenas quando, além_ de persistirem, os sintomas se intensificarn, podendo As veres desenvolver-se até a configuragio do quadro de uma descompensigo neurdtica do tipo depressivo. Como medida profilatica, 6 recomendivel quo pos- sa haver um afastamento por alguns dias do local onde ocorrewum evento potencialmente traumstico. O médi- co do trabalho precisard manter sob observagio os empregados que tenhum assistido a acidente grave ou vivenciado outro tipo de acontecimento com o mesmo gnilicado, sendo importante oferecer apoio psivol6gi- co imediato, em sequiéncia ao evento. E imprescindivel gue 0 empregado tenha oportunidade de falar sobre 0 acontecimento, fazendo a necessiria eatarse de sua ane siedade. Quando, aps dois meses, persistem os sinto- mats, é aconselhavel insttuir psicoterapia, A descrigio clinica da neurose traumstiva encaixa- se na categoria F 43.1 da CID-10, OUTRAS SINDROMES NEUROTICAS ASSOCIADAS AO TRABALHO, Dentee outras sindromes neuréticas que também 1m sido identificadas em desenvolvimento articulado a vida Taboral, duas merecem ser destacadas: as sin- ‘romes depressivas e a sindrome paranside. Sindromes Depressivas A diversidade dos quadros clinicos em que a de- pressdo € 0 componente essencial nado permite que se realize aqui um estudo completo do assunto, Diferentes modalidades de depresstio podem ter sua Patogenia, desencadeamento e evolucio nitidamente assoviados As vivéncias do trabalho, Observagdes lon- gltudinais permitem constatar o peso da dimenstio “tra. balho” na patogenia de quadros depressivos, A depressio pode se manifestarem quadros tipivos, aagudos ou erOnicos. Surgem af claranente a tristeza, as vivéncias de perda ou fracasso e a falta de esperanca, As dificuldades em relagio 4 tomada de inieiativa e no esempenho lahoral ficain em geral bem evidenciadas estes casos. Mas os quads depressivos associados ao trabalho uitas vezes niio so tipicos e se revelam com maior Sutileza. A postura de desdnimo diante da vida e do futuro aparece como sua principal marca, Esse desfini- tho pode set expresso com amargura ou revestido por conformismo fatalista, O mais freqiiente 6 que a depressio oculta trans- Parega assumindo outras formas: expressdes somiiticas de mal-estar ou doengas; acidentes de trabalho; alcoo- lismo; absentefsmo. Pode ser notado, em alguns casos, que comportamentos de aparente cuforia e/ou hiperati. vidade representam em verde reagio contra a depres- slo, Como veremos adiante, a depressio também esté relacionada com as alteragties da personalidade que se eonstrocm na din mica psicossovial, fazendo p ine vido se isola dos seus prdprios sentimentos depres. sivos, sob way manto de “comportamento bem adapt do” Nilo € possivel isolar a dimenstio “trabalho” de uma indmica em que geralmente o relacionamento familiar © todos ox demais nfveis da vida ¢ participagso social Sio atingidos. Em um primeira momento, estes outros espagus © relacionamentos so afetados a partir do PrOprio trabatho, por exemplo, por hordtios que dimi- uct o convivio, pelo cansayo e pela iritabitidade que fambém prejudicam as inter-relagaes Entio, nesta fase podem ser despertadas reagdes da fanilia através de queixas, acusagdes, demanclas, que Por sua vez acionam sentimentos de culpa do traha. {hador, influindo assim parao desenvolvimento do qui ro depressivo. Instalada adepressio, esta pode ds vezes serinterpretada pela familia com indiferenga ou menos. revo, uma vez que a pessoa deprimida geralmente sé retrai, tala menose nao sente disposigdo para participar depasseios ou outros programas de lazer sugeridos pela famflia, Na dindmiva assim instaurada, oaborrecimento "manifestado pelos familiares poder agravar mais ainda Os Sentimentas de culpa do trahalhador e, portanto, sua depressio, 300 A continuidade eo progressive agravamento de depressGes construfdas ao longo de trajetdrias de vidae trabalho marcadas por decepydes sucessivas em situa- (¢6es frustrantes de trabalho so um dos temas que ainda exige aprofundamentos emestudos elinicose epidemio- logicos. Evidentemente, o papel representado nestes Processos pela dimensio psicossocial do trabalho € relevante, porém de modo geral dificil de enfocarisola- damente, uma vez que se integra dinamicamente as outras esferas da experiencia social do inuividuo, Sindromes Parundides Toclufmos aqui quadrosdo tipo neurstico em que se Gesenvolvem fortes sentimentos de inseguranca & vie véncias de ameaga em sittagao na qual sejam identifi cdveis aspectos e presses de tipo potencial mente per- Secutério, Istoé, quando dispositivos rigidos de controle € priticas punitivas esto acopladas, as probabilidades de que os empregados se sintam inteanqiilos ¢ ameaya- dos So grandes. Nessas circunstiincias, nfo € raro que se manifestem idgias ¢ fantasias de contetido persec {6rio. Quanto maiores foremas barreicas Acomunicagio © maior o isolamento do assalarindo, maior a facilidade de que se desenvolvam essas manifestagbes, ‘Tém sido feitas observagdes demonstrativas de que corre uma correspondéncia entre grau de sofisticaco do controte instituido ¢ o aparecimento destes sentimen. {os de inseguranga, Quando existe um chefe ou super visor visivel, com © qual € possfvel falar e mesmo discutir, a situagdo é menos intranqililizadora do que quando a vigilancia se oculta, atuando através de meca- nismos de controle desconhecidos para 0 empregado, Por exemplo, quando ele nfo ¢ informado sobre os ritérios adotados pela empresa para avaliar seu de- Sempenho ou decidir sua demissio. Tambéin quando 6 © “olho” de um citcuito fechado de trunsmissfio de imagens que o submete a controle permanente, o mal- estar é incrementado, Evidentemente, certas modalidades de gestion, nas Quais so estimuladas competicées e rivalidades, do mesmo modo coniribuem para 0 desenvolvimento de descontianga, isolamento eauteloso a ponto de perturbar seria thente os relacionamentos interpessoais e desempe- + Provocando assim uma espécie de circulo vicioso, is ao pereeher que néio esta conseguindo realizar bem seu trabalho, 0 empregado passa a sentir-se ainda mais Wulnerdivel e ameagado, agravando sua ansiedside. Para- lelamente, podem surgir graus de irvitablidade, surgi do também com freqiiéncia distirbios do sono, Esta sindrome também ocorte com certa freqiigacia has situagées de mudunea organizacional, Quando se anunciam reestruturagées de grande monta, substitui. ‘GGes n0s escaldes hiericquicos ou inovagbes tecnolégi- eas poupatloras de mifio-de-obra, a ectosio de tais qua- dros parandides pode ser prevista, ALTERAGOESDA PERSONALIDADEE ‘TRANSTORNOS PSICOSSOMATICOS As transformagdes da personatidade’ relacionadas, as experigncias ¢ trajetérias da vida protissional vem merecendoatenedo em diferentes investigagtes. Varios destes estudos também examinam as correiagtes entre cessas mudangas ¢ a patogenia Ue disttithios € doengas de ordem psiquidtrica ¢ psicossomitica Investigadas por pesquisadores de diferentes pafses de distintas correntes do pensamento cientifico, as transformagGes de personalidad estudadas a partir da relagdo com o trabalho apresentamn notaveis concordan- cias quanto a viriosdos quadros, ¢ as evolugées descri- tas coincidem também 0 que se refere 2s situagbes de. trabatho correlacionadas a essas transtormacbes. As- sim, embor nio exista até aqui uma categorizagiio universalmente adotada para estes fenmenos, torna-se impresvindivel estar atento para os mesmo: Essas mudangas apresentam wm denominador co- mum: 9 empobrecimento da vida relacional. O indi- ‘viduo nfo consegue mais inter-relacionar-se comoutras, pessoas de maneira significativa, captando etransmitin- Uo sentimentos. As alieragdes da personalidade t8m sido estudadas principalmente em duas grandes modatidades de ocu- puedo: ayuelas onde o esforgo € dominantemente fisico © constante; © ocupagées em que 0 esforgo mental é intenso e continvado. Nus duas situages, a economia psicoorganica & afetada, vom sacrificindaesfera psicoafetiva. Assim, na -xirema exnustio determinada pelo trahalho dominan- temente fisico, desaparece o espago para a vivencia de relacionamentos significativos ¢ para a claborago das experigneiais afetivas. Deste modo, as reagies emocio- nais se fuzem muitas vezes abruptas e agressivas, a tolerincia as frusiragdes diminui, pasando a irrita- bilidade ea ithpaciéneiaaperturharos relacionamentos, levando os trabalhadores 20 isolamento ou, como ja \s hebidas aleodlicas Nay ocupagtes em que domina o esforgo mental cconstante e intenso, vém senddo observadas alteragdes de personalidade que se diferenciam conforme a natureza das atividades ¢ caracierfsticas da organizagao da trabalho, variando ainda conforme a cultura vigente na empresa, As Sindromes da Insensibilidade © embotanento afetivo tem sido estudado como fendmeno central, podendo estar associado em maior ou menor medida com outros tipos de alleragiio, A dimi- muigdo das demonstragies de afeto € uma alteragio geralmente mais notada pelos familiares do que pelo proprio trabathador. O eSnjuge observa um “estriamen- to” que € muitas vezes interpretaclo como desamor. A capacidade e disposigao para o prazer na inter-relagao humana se restringem. Isso inclui desde a vida sexual até os relacionamentos familiares, as amizades e os mantidos nas diferentes esferas social O embotamento afetivo coresponde a um fendme- ‘no que vem sendo considerado por autores tanto da corrente do estresse quanto dla psicandlise. Alexitimia é uma das denominagdes que tm sido usadas para expressar etimologicamente a idéia de dis tanciamento em relagdo aos proprios sentimentos. 0 individuo deixa de tomar consciéncia de seus sentimen- tos e emagées, tudo ocarrendo como se uma estera subjetiva, “habituda” por sentimentos e fantasias, Bcas- se trancada, inteiramente separada da esfera consciente das percepgdes, pensamentos, decisbes e agtles do in- dividuo. Existe, assim, uma sindrome da insensibilidade reconhevida em estudos especializados sob diferentes denominagdes: Depressdo Exsencial. Veritiea-se una correspon dGncia importante entre as observagiies referidas 3 ale- xitimiae o quadro que Pierre Marty, cm 1968, designow como “depressao essencial”. Neste quadro existe uma amputagio do mundo atetivo em relagio ao restante da vida mental e das agdes da pessoa. Eo que Marty denomina “vida operativa”, onde o existir cotidiano se resume a pensamentos e agies essencialmente operati- vos, © autor desereveu essa depressiio como carne terizada pelo desaparecimento da expresso de qui quer emoyies. A indiferenca afetiva que reveste o individuo as- sume a aparéncia de uma gélida insensibilidade. Nesta situagio, a trabalho continua sendo desempenhado de modo formalnente vorreto, embora assumtindo um ea riiter mecdnico, de trabalho sem prazer, Na “epressio ssencial” no existem sintonmsde ansiedade tristeza ndo € manifestada, ndo hi idéias de fracasso ou de stiic{dio —o que ocorte uma espécie de enregelamen- to em que desaparece 0 prazer. E apds um perfodo de extensdo varidvel desta “vida operativa”, Marty identi- ficou as dinfimicas pelas quais se estabelecem rupturas aquilo que em, verdade € uni funcionamento precdcio e regressivo do conjunto psicoorganico individual. Es- tas rupturas de equitibrio se expressam somaticamente, em diferentes quadros, conforme 0 mesmo autor expoe em obras posteriores (Marty, 1976; 1980). Normopatia. Q \ermo foi aplicato por Joyce Mac Dougall para designar um quadro caracterizado pelo rigor com que sous portadores evitam qualquer expres- sio de softimento. Mais do que isso, 08 normopatas constroem fortes barreiras psicolégicas para proteger 3 si mesmos da percepyaio de qualquer softimento psiqui- co. Dessa forma, tais pessoas nfo “metabotizam" psi- quicamente (através de fantasias, reflextio) ou através da expressio de seus sentimentos via atos ou palavras, esse mal-estar tio fortemente isolado da prépria cons cigncia. Esse intenso bloqueio as vivénciasafetivascostuma {ragilizar o equilibrio psicossomitico, que é um equilt brio mantido dinamicamente pela unidade corpo-psi- (que, através de complexos mecanismos que envolvemn, entre outros, aspectos neuroendécrinos ¢ imunitério Os estudos de Pierre Marty contribufram de modo es- pecial para esclarecer como, nos individuos que sepa- ram seus sentimentos de si mesmos, ecorre uma forte tendéncia para que a médio prazo sabrevenham doengas, vorgiinicas. Dest modo, a afetividade abafada eclode somaticamente. Existemestreitas correspondéncias entre 0s estados designados alexitimicos, 0 quadro de “depressio es- senclal” estudado por Marty ¢ as normopatias. A alexi- timia emerge como marca patognomOnica da*’sindrome a insensibilidade” reconhecida pelos que estudam 0 work-stress ¢ ao mesmo tempo por Joyee MacDougall, que esiuda sob enfogue psicanalftico a dinamica dos “normapatas”. Esta dindmica, conforme a autora, con- uz A somatizagio sem que se rompa o aspecto alexit ico (que MacDougall prefere denominar “desafeta- eo” em eseritos mais recentes — 1987, 1991). A autora explica da seguinte maneira 0 surgimento da doenga: “Quando o ensurdecimentn face as dores psfquicas se tu constante, nio € surpreendente constatarmos que a ruptura do clo entre 0 corpo € a psique propicia um tetreno favorivel as eclostes psicossométicas patol6gi- cas no lugar do arranjo psfquico que deveria ter ocor- rido(p. 158, 1987) Observagdies de MacDougall referentes i sua expe- riéneia psicanalitica com pessous que criaram em si mesmas “umespago estéril”, aparentemente desprovido ue afeto e de investimentos libidinais, conduziram-na a interpretar tal estado alexitimico como uma forma de defesa estabelecida para que os individuos se proteges setu de “uma desarticulaedo do sentimento de identida- de”. E interessante 0 quanto essa observagao, corre lacionada pela autora & situagio analitica, se aproxima Ue-situagtes de trabalho em que também ovorre a viven- cia de ameaga a identidade. No trabalho com tecnolo- ssias sofisticadas, tem sido estudada a agressio 3 identi- dade, inclusive a vivéncia em que 0 individuo se sente anukido pelo poder das “mquinas inteligentes” e, m tas vezes, ameagado de ser ele mesmo transformaclo em, maquina, robotizado (Rehecchi, 1990; Riquelme, 1987). Nestas situagées, a alexitimia pode se instalar como manifestagao defensiva, uma espécie de earapaca contraador psiguica, Nesta carapaga, 0 individuo surge diante do mundo como um ser *superadaptado”, um empregado exemplar “que no di problemas” pridor dos deveres” e eficiente. 2 A vulnerabilidade aumentada do organismo na ale~ xitimiatem sidoanalisada com relagio a varias doengas, A associagao significativa entre alexitimia einfarto do miveirdio foi encontrada em estudo suevo (Nirkko ecols., 1990), A propdsito, uma série de investigagses, em estudos epidemioligicos, vem demonstrando as- sociago de caracteristicas alexitimicas tanto com 0 riscode infarto como com hipertensfo arterial, inclusive ‘em pessoas javens (Sigerist ecols., 1990). Enriquez (1991) estucou as mudangas de persona lidade entre executivos, analisando a dindmiea psicos- sovial que leva ao aumento de dois tipos tirfnicas de personalidade: a perversa e a parandica. Os grandes projetos ordenadores ¢ racionalizadores seriam indu- ores de um modelo parandico de personaticade, Esto modelo tende a surgir quando a organizagio industrial ou administeativase apresenta como detento- ra da verdade e 86 pode ser aveito em seu interior o discurso da corteza e da infalihitidade, Os que sto Jevados a se identificar com a enipresa “modelar” © “infalivel” também passam a desprezar todos aqueles que néo trabalham para a grandeza dessa “empresa sagrada”, Enriquez estudou a dindmica que faz com que, nesse tipo de organizagdo, algumas pessoas se tornem inflexfvels e mesmo impiedosas comseus subordinados nao plenamente aderidos ao ideal de perfeigao. Deste modo, existiria uma certa cultura organizacional fayo- recedora da construgio destas personalidades paranti- cas, Enriquez examina, ainda, como a personalidade perversa se desenvolve na cultura organizacional e, com especial destaque, nas atividades em que as exigéncias de rucionalidade isolam a afetividade. As atividades computadorizadas oferecem um exemplo. As graves impticagdes socials da difusdo destes tipos de personaticiade na Sociedade moderna conferem enorme relevdncia a estes estudos que foram haseados em diferentes investigaybes levadas aefeito em empre- say européias, ‘A partir dos estudos que, como 0 de Enriquez, se volta para as decorréncias de uma supervalorizagai da racionalidade 2 custa do esmagamento das expres- siies de sentimentos, colocam-se questées de satide mental bastante relevantes. Pois a necessidade de res- peitar o psiquismo humano em seus aspectos nais € esseneial para a integridade deste psiquismo ¢, Portanto, para a sate (mental ¢ geral), Essa neces- sidade se faz sentir tanto do ponto de vista individual (na manttenedo no mutilada de sua unidade psivoor- gfnica) quanto do intecesse da sage coletiva. Evidentemente, a racionalidade nao 6 um mal, O riscoapontado acontece tio-somente quandose implan- tam prinefpios de gestain e de organizagao do trabalho que promovam a exclusiio € mesmo menosprezo & dimensio afetiva, ‘Uma outra questo bastante diseutida refere-se a0 peso que a propria sofisticagio tecnolégica assumiria, condicionando 0 aumento das exigéncias de racionali- dade. Virias pesquisas tém demonsirado que, muito embora exista o estfmulo da racionalidade necesséria aos desempenhos, o problema nao reside af, e sim nas presses organizacionais que exacerbam essa raciona- Tidade, ALCOOLISMO (USO ABUSIVO OU SiNDROME DE, DEPENDENCIA) O alcootismo se constitui em um dos problemas de Satide Publica de elevada magnitude em nosso tempo, E também uma das questdes que levanta grande preo- ‘cupagaio nas empresas, pelos projufzos que acarreta 2. producto. Os estutos relacionados d etiologia da sindrome de dependéncia a bebidas aleosticas (én identificado cau sas biolbgicas, psicoldgivas ¢ sociais. Os aspectos sociais que atuam na epidemiotogia do aleoolismo sdo de diferentes ordens, indo do macros- social ao microssocial. Aqui nos limitaremos a exami- har aqueles que tém sido mais estuciados no Ambito do trabalho, lembrando,-entretanto, que no é possivel dissociar tais aspectos de outeas questées sociais eriti- eas, Antes de passar ao estudo dos aspectos mais es- peefficos darelagqo SlcooV/vida Tahoral, devem ser lem- brados dois pontos que também oferecem articulagdes ‘com essa relagdo: — 0 dleool possui agdo farmacoldgica bem esti dada, que geralmente pode ser encontrada sub- Jacente as erengas, hihitos ¢ significados atri- bufdos: a bebida © a utilizagio da mesma, Especialmente 2 ago ansiolftica e x euforizante precisam ser consideradas; — existe uma dimensdo simultaneamente historica cultural concernente 20 uso das bebidas alcod- ficas, A utilizagdo de bebidas alcodlicas em ri- tuais, seu significado para a sociabilidade e 0 valor do ‘lcool como remédio poputarmente adotado para diferentes males inserem-se nessa perspectiva, Em varias culturas & estabelecida a associaco entre ingestdo de bebida alcodlica e Virilidade, Noentanto,a imagem do hébado em geral considerada com menosprezo. Existem, as- sim, pontos de vista diferentes, ¢ até conflitivos, ‘com respeito ao assunta, As vezes no interior de. uma mesma cultura, Estes dois t6picos merecem algum detalhamento tendo em vista 0 assuinto aqui tratado. O papel das bebidas alcodlicas na construgdo de uma sociabilidade significativa tem ratzes hist6ricas eé cexaminado em alguns estudos, inclusive latino-ameri- cano (Riquelne, 1987). Entre os povos mais antigos, a utilizagdo das bebidas era rigorosamente reservaita aos rituais, em que fortalecia a coestio do grupo. Por outro lado, j6entre os tupinambds, durante a cauinagens (fes tas oside se bebia.o eauim preparado com milho fermen- tado), o homemn que parasse de beber ese retirasse antes do fim da festa era considerado efeminado. Entre os astecas, fora dos rituais, as bebidas fermentadas eram proibidas, e uma das poucas excegses para essa proibi- (lo era constitufda pelos trabalhadores que executavarn 0s trabalhos mais pesados (Alvim, 1972). Portanto, 2 associagdo do uso de bebidas alcodlivas a sociabilidade, 2 virilidade e ao trabalho sao antigas também na Amé- rica Latina, igualmente como foi verificado em estudos realizados em outros continentes. Por outro lado, o rigor ‘com que o uso era reservado aos rituais,e as penalidades severas que eram impostas aos que infringissem essa regra, possivelmente demonstram que também os peri- gos da dependéncia ja eram conhecidos na Antiguidade. As palaveas whisky e aguardente significam “gua da vida" (Alvim, 1972), O dleool obtido diretamente do alambique inicialmente nfo foi bebido, tendo seu uso sido estritamente medicinal. Até hoje, as priticas de medicina popular utilizam largamente as bebidas alcos- licas, sendo bastante divulgada aidéia de que as mesinas estimulama circulacZo e “fazem bem” 20 coragio, além de terem valor afradistaco. Porém, conforme estuda Alvim (1972), a denomi- ago aguarckente “simholizaaunidlo das contrstios (..), da fgua com 0 fogo, é a soma de dois elementos antité- ticos — passivo um e outro ative — com propriedades divergentes, criadoras e destruidoras” (Citiot, 1969), E essa dualidade das bebidas aleoélicas — his- toricamente construfda e que faz das mesmas simulta- neamente um hem € um mal — que precisa ser levada em conta também 20 analisar a questio do uso das bebidas aleodlicas por aqueles que trabalham. Entre os motives que tornain difieil enfrentar os usos adoecedores das bebidas aleodlicas situa-se j tamente a forga das tradigdes que thes atribuem qua- idades altamente benéficas. Entre as fungdes popu- larmente attibufdas as bebidas alcodlicas a partir das propriedades farmacolégicas do @eool, assumem par- ticularimport€nciaem relayao ao trabalho, asseguintes: ~ calmante: tanqiiliza, proporciona bem-estar; = ensforizante: tat. alegtia; ~ estinudante: anima, "04 coragem”, propici sagiio de poder e energia; ajuda a vencer ini Sesea estabelecer contatos com outras pessoas; ~ relaxanie: descontrai, permite repousar quando Se estd tenso, 0 que se telaciona também com o atributo seguinte; — indutor do sono: ajuda a adormecer ¢ a veneer tendéncia 2 insOnia; — anestésico: agui se encontra um forte superdi- mensionamento calcado muito mais no aspecta simbélico do que em efeitos an Pois € este valor anestésico que tende a assumir cariter magico de poder apagar sofrimento psiquico, de Ievar a0 esquecimento do. softi- mento cotidiano, dos medos, do tédio, da peno= sidade, das frustrages, da percepedio do proprio desgaste; — untisséptico: desinfete; evita doengas provoca- das por microbios A conjugagio do valor “anestésico” a0 valor eufo- Fizante eexcitante confere a0 uso das bebidas alcodlicas © cariter conipensatério, um dos mais importantes a considerar quando se trata de situagses:penosas de trabalho e/ou sem perspectiva de desenvolvimento pes- soal e de carreira. Por meio da agdo farmacoldgica real, implanta-sea sensagiio de alegriae de uma momentinea iherdude curregada de perspectivas de prazer e de po- er, Quanto aos efeitos desagradiiveis ou negativos para © desempenho, vida social e sade, estes so também conhecidos, mas atendéncia € afasté-los daconsci€neia, quando, para determinado grupo, a hebida alcodtica passa a assumir papel de instrumento fundamental para agientar situagbes de trabalho (ou de vida e trabalho) que do conteirio seriam insuportiveis Alcoolismo ¢ Curacteristicas do Trabalho ‘Tem sido observada uma maior concentrigio de casos Ue alcootisme em determinadas ocupagiies. A andlise day situagdes de’ trabalho associadas a estas ‘ocupagoes permite, de modo geral, identificar e com- preender os aspectos e as interacdes que explicam verifivagdes. Mencionaremosalgumasdestas situagoes, porém convém assinalar que todas elas se apresentam ‘como situagties de risco mental, sem que se possa deli- hnitar este risco somente em termos de alcoolismo, emhora este seja freqilente em todas elas. Apenas na primeira das situagdes, que apontamos a seguir, real- ‘mente oalcoolismo tem surgido como 0 distirbio men- tal mais t 1) Atividadessocialmente desprestigindase mesmo, determinantes de certa rejeigio, porenvolverem aios ou materiais considerados desagradaveis ou repugnantes. Exemplos: trabalho em que hajacontata com cackiveres, lixo ou dejetos em geral; apreensao e sacrificio de ces. Nestas ocupagées, 0 risco de aleoolismo costuma ser tanto maior quanto menor aexpectativa de qualificagio Futura © de progressio em ina carreira, Assumem alto valor preventivo as préticas de su- pervisdo'e chetia direta em que a dignidade e a valori- zayio do trabalhador sto consideradas com especial aiengo. Fornecimento de equipamentos adequados, isponibilidade de chuyeiros ¢ material para a higiene pessoal (inclusive trocas suficientes de roupa) sao es- sengiais para prevenir a autodesvalorizagio que pode ser etapa inicial de uma depressdo ou da dependéncia 304 alcodlica, Em resumo: torna-se importante evitar que estes trabalhadores venham a se identificar com ox materiais “sujos” ou “mortos” com que entram em Contato ao longo dle suas jornadas. Pois € dessa icenti- ficayio efou dessas bumilhagées vivenciadas no traba- Tho que nasce a auto-agressio ou a raiva canalizadas através do uso das bebidas. 2) Atividades em que a tensifo gerada é vonstante ¢ clevada, Sao numerosas as situagdes em que isto ocarre. Destacamos: — trabalho perigoso: o perigo pode estar associado a.condigdes inseguras, ritmos excessivos ot ou- tros aspectos organizacionais caracterizadores de risco, em fabricas, na mineragdo ou au cons- ‘ruc civil. A vivencia de ameaga € particular ‘mente aguda ¢ ansidgena quando o perigo & de confronto violento por exemplo: agressto arma- da ou ira popular. Tais situagties podem existir ‘em diferentes ocupagdes, nos setores de seguran- ‘a pablica e privada, estabelecimentos bancérios e transportes coletivos: ~ trahatho em que a tensao resulta de altas exigen- cias cognitivas, havendo grande densidade da atividade mental. Quando se acrescenta a isto uma elevada responsabilidade com vidas huma- nas, equipamentos earos ou valores em moeda, esi tensfo & exacerbads, HA também muitas “ocupaydes em que a tensfo resulta da exigéacia cognitivasimultineaa exigéncias de autocontro- Je emocional intenso ¢ constante, em atividades que dizem respeito a atendimento ao pablico (repartigGes pablicas, estabelecimentos hancé- rigs, estahelecimentos comerciais). A busca das bebidas alvodlicas por estas pessoas € reportada geralmente como uma forma de tentar aliviar uma tensdo quase insuportdvel, procurando des- contain; — 0 trabalho monstono ¢ todo trabalho que gera 1éilio € no qual o individuo no tem oportunidadle de aplicar seus potenciais de criatividade tam- hém tém sido estudados em associagio com 0 uso de hebidas alcadticas, Estas so procuradas basicamente por seu efeito euforizante, como meio de proporeionar um prazer, compensando assim o tédio a insatisfagtio; — atividades em que 0 individuo trabalha isolado € fica alastado do coavivio humano durante a jormada. O risco, nestes easns, é especialmente ‘agravado quando o trabalho também € desinte~ fessante ou monstono e quando nilo hii possihi- lidade de comunicagdes através de telefone ou outro micio. Nestas situagdes pode ovorrer que a Utilizagio de bebidas se faga inclusive durante 0 hordtio de servigo. E o que pode ocorrer na atividade de vigias, por exemplo; — atividades que eavolvem afastamento prolonga- do do lar, por exemplo em viagens, plataformas ‘maritimas ou, ainda, em Zonas de mineragio, As situagGes descritas nfo configuram risco apenas para o desenvolvimento de dependéncia alcoélica. O sotrimento mental que nelas se origiaa pode tambéin suscitar o surgimento de depresses ¢ de diferentes processos mérbidos associados d teasio continuada (hi- pertensio arterial, dlcera péptica, gasirite nervosa). E como bem descreveu Freudenherger (1987), tanto a busca das hebidas alcodlicas, como a de diferentes Urogas, pode em muitos casos tepresentar tdo-somente a forma pela qual alguém ests procurando fiugir do contato com a propria angdstia ou da pervepgiio da pripria frustraydo, Trata-se, freqtientemente, como diz omesmo autor, de um “tratstmento equivocado”, adotae do defensivamente contra a depres Consumo Coletivo de Bebidas Alcoélicas: uma Pritica Defensiva e um Meio de Garantir Pertencimento ao Grupo ‘Quando se desenvolve a pritiea de beber conjunta- mente em certos locais e ocasibes — por exemplo, depois do final da jornada de trabalho, em determinado bar das circunvizinhangas —, a participagio nestes en- contros pde assumir um papel importante para a inte- gragdo de cada um no interior do grupo, Por outro Indo, nas situagiies em que o trahalho é especialmente peri- _g080, entediante ou por outra forma penoso, beber con- juntamente torna-se um modo de tentar buscarcoragem, disposigao, alegria ow simplesmente distensdo (relax), a0 mesmo tempo que uma fentativa de “esquecer” peri- gos incOmiodos, presses, decepeties ou mesimo humti- thagées vivenciadas no cotidiano do trabalho. Dejours interpreta as priticas de ingestio alcoistica realizadas por companheiros fora dos hordrios de traba- tha como umaoutra expresso das estratégias coletivas de delesa psivotigica, Estudos a respeito foram realiza- dos entre trabalhadores da construed civil (Dejours, 1985). Estas priivas seriam formas de manter afustada da consciéncia a lembranga das ameagas e de todos 0s, perigos do trabalho, também nas horas de naio-trabalho. Pois, sem este “entorpecimento” da mente, talvez seria, para muitos, impossfvel voltar a conviver na jornada seguinte com estes parigos. No caso de trahalhadores que migraram de ouiras rogides ou pases ¢ que vivem muifas vezes longe dos, umiliares em situaczo de desenraizamento cultural, a participagao na “roda do bar” passa a ser uma forma de voltar a pertencer 2 um grupo, ter companhia, evitar a vivéncia penosa do isolamento ¢ do seniir-se um estra- nnho num mundo de Uesconhecidos. A idéia de umacorrelagdo entre consumo de bebida atlendlica ¢ virilidade, presente em todo 0 Ocidente, se vincula a concepgdes referidas a outros atributos consi- Gerados como masculinos, algunsdos quaisreferidosao trabalho, 0 trahalho que exige muito estorgo fisico, 0 trabalho realizado em més condigdes (rufdo, gases, ca- loretc.) 0 trabalho perigoso sao vistos como “traballia de home”. Assim, surge a associagio entre “trabalhar como homem” e “beber como homem”, de modo a fazer com que a recusa bebida possa parecer sinal de “fraqueza” para o trabalho € ao mesmo tempo para 0 desempenho sexual da masculinidade. Certamente, a pressio que isto representa no pode ser desprezaua quando se estuclt 0 alcoolismo em determinados grupos ocupacionais, Crengas sobre valor do dleool como produto capaz. de “aquecer o corpo”, em parte funcamentadas sobre @ aco vasodilatadora do mesmo, se associa a seu Uso coletivo no trahalho em locais fins ou dimidos, onde eula juntamente com a idéia de que poder proteger contra resftiados e doengas pulmonares. ‘A idéia de que 0 alcool € um hom antisséptico também concorre para “justifiear” seu uso em ambien- tes sabidamente contaminados (trabalho com Tixo & dejetos em geral), onde a fungao real da hebida parece ser bem outra: entorpecer a percepyo dos ined modes, do mau-cheiro e até dos perigos, para poder suportar 0 prosseguimento das tarefas. Prevencio Os programas de prevengo do aleoolismo na en pres seguem diferentes modelos, existinda ampla ¢ Giversificada experiéneia a respeito Os projetos de preveneao que se limitam a pritica de realizar cursos e palestras nos quais se procura trans- mitir conhecimentos cientificos ¢ conselhos a propésito das agbes prejudiciais do slcool sobre o organism sto freqiientemente indcuos. De modo geral, 56 alcangam resultados positivos os programas que identificam, em aivel das situayées de trabalho. os aspectos organizacionais e ambientais rela- ionados ao “riseo alcodtico”, procurando desenvolver ages para transformd-los (ver Tahela 12.1). DIAGNOSTICO. ‘A ANAMNES Noatendimento médico individual, para o diagnds- tivo em psicopatologia do trabalho, convém considerar alguns pontos especiais com respeito A dnamnese: 41. A histdria ocupacional e a historia clinica devem ser analisadas em correlagdo txhistOria de vida Pesquisar aspectos € marcos hiisicos da histiria de vida. Assim, merecem atengdio especial, além dos dados ‘Tabela 121 Uso Excessivo de Bebida Aleodtica e Trabalho Objetivo Consciente ou inconsciente —_Sitwacdo de Trabalho Diaainuir ensio, Relaxar Dindmica Pricoldgica/Vivencias ‘Trabalho perigoso, Bxig@oriaelevadade Tens alta atengdovrerponsabilidade—sofrer cuntole Anestsiarostrimento, Fuga Yarivel geraoracte Inportncin-angdsta- decent coufitlristagtlnedo) Auosagresta Inisszo no dessrpenbo Sitsagdo ‘Ato-scusogolatopsnigé. ik bumilbante. Dignidade ferida-autodesvalorizagao, Raiva de ‘Agressin a pesscas/oo mundo exterior Penda de statu profissional/desualifieagio si mesmo ‘As meamas do item anterior Vivéucia de serinjustigadoviaivalrevolta ccanalizadas para forafdiseeruimento prejudicado Enfremiamento ‘Trabalho mondo, Perspoctivade [Nevessidade de “busear coragem” para confitorsiouagbes novasicontrontos! enfentar efou aguentar/fadigaltélio —soidio Uisputavsiuaedo de isolamento ou repugnante —repugniacia, Focilitagio da comunicagsa Aividaules em que hi comunicagio Pereabe-se como timid inibigdo/temor de sor inverpessnal/eociabilidade Mistos _Variadavvomplesas rid de Sellars Uva 1903 ~ afumétia de origem: sua composigi0 e inserg0, social; principais eventos na infincia e juven- tude (separagdes; mortes; doencas graves na familia; aspectos relevantes do relacionamento intrafamiliar, em especial no que se tefere a0 examinado). Estudo longitudinal das transfor- magOes no convivio familiar (correlacionado as do trahalho); ~ hist6ria migrat6ria, incluinda motivos da(s) mu- daneas(s), expectativas e vivencias (satisfactio/ decepetio) correlacionadas ¢ transformagdes re- sultantes para o conyivio e situagio de moradia. Enfase nos aspectos psicoculturais e sociais em gerall b, Sinuigito amal de vida, abrangendo aspectos extratrabalho: 306, = afamilia e/ousinagio de convivio ainal. Formas elas quaiso trabalho ea vida familiar interagem {interferem mutuaniente), e modo pelo qual es- sas interaydes repercutem emocionalmente em lermos de fadiga para 0 examinado; ~ condigées atuais de vida/moradiatrajeto emi suas repercussées com respeite a0 sono (curacao © qualidade), fadiga, tenses ou bem-estar/mal- estar, Considerar af tanto extensio do trajeto quanto tipo e condigies dos transportes utiliza- dos. Pesquisar tensbes referentes 4 seguranga, femor a assalios e outras formas de violéncia correlacionadas ao trajeto e local de moradia, Incluir lazer: praticas anteriores e atuais, ativas € passivas, isoladas e grupais, bem como resul antes em termos de bem-estar e descontracio. Lombrar que 0 lazer, quando dotado de signifi- intespessoalrelevante para persuasioou __reeitado ou fracassar Duteos fins (vendas, por exemplo) A identifivar em cata caso ado positivo para a identidade, € valioso no favorecimento da satide mental; ~ ahist6ria ocupacional: além dos dados habitual. mente levantados, buscar obter uma visiio long tudinal dos fendmenos cumulativos referentes fadigae 4 tensio. Ao mesmo tempo, teatar com- preender 0 processo relacionado as expectativas profissionais e de vida (frustragdes e realiza- ges), a autopercepeito do desgaste fisico e p quico: \rata-se aqui de investigar como exami- nado pervebeu e vivenciou, ao longo de sua rajetria ocupacional, as mudangas ocorridas ‘em seu corpo ¢ em seu psiquismo. As mudangas deauto-imagem podem ser negativas sempre que acidentes, actimulo de fadiga, atividades desen- volvidas em ambientes insalubres ¢ outras expe- ri8ncias agressivas da vida labora tenham deixa- do suas marcas. E fregiiente que vivéncias de perda, por vezes bastante depressivas, estejam associadas A percepetio de que a vida de trabalho minou 0 vigor, a disposiedlo, o bom humor, a libido ¢ a capacidade para estabelecer e desen- volver relacionamentos significativos; — no estudo da situagéo de trabalho atual, actes- centar uma abordagem que permita obter infor magGese compreender as repercussies psiquicas: dos seguintes aspectos a) conhecimento do procesxo de trabalho: basica~ mente, trata-se de verificar se 0 entrevistado tem tido oportunidades de conhecer de modo mais extenso ow naio 0 processo em que se insere sua atividade. O acesso a leinamentos, cursos e outras possibilidades que sig- nificam acesso a maior desenvolvimento profissional ° S ORIGINAL .cralmente se torna positivo, do ponto de vista da satide nentals b) gran de transparéncia e qualidade das comuni- cages referentes & politica de pessoal e & produit. Evidentemente, estes aspectos dependem do tipo de gestio adotado pela empresa empregadora, € 0 assunto envolve grande complexidade. Mas poderao ser feitas algumas indagagdes esclarecedoras sobre tipo de teu- nides a que tem acesso, comunicagdes que costumam circularsobre planos, metase mudangas na empresa. AS, formas e canais de comunicagao pelos quaiso entrevis- tado possa encaminhar seus pontos de vista, queixas ou sugestes também poderdio oferecer elementos impor tantes para a avaliago da dimensio psicossocial, cv) caracterésticas das relagdes humanasno localde rrabalho ¢ na estrutura hierdrquica. As vivencias rela- ionadas a0 controle e ao reconhecimento sto pacticu- larmente importantes Controle. Quanto maior o grau de autonomia no controle das priprias tarefas, maior a possibilidade de Sublimagoe, portanta, de equilfbrioe bem-estar, Inver- saimente, quanto trais intenso controle a que se sinta submetido, tanto maior a tensdo daquele que executa uma atividade. Quando o cardter do controle € repres~ sivo, de modo a limitar seriamente os movimentos espontineos do corpo e/ou a expresso das préprias idgias © emogies, as repercussdes psfquicas © psicos- somidtivas sto negativas, do ponto de vista da saiide Sempre que ameagas de punigio estejam associadas a situagies de controle, maior seré a possihilidade de que seja atingida a sade mental, tanto cotetiva quanto in dividualmente, A qualidade dos relavionamentos passa ser prejudicada pelo medo ¢, inuilas vezes, também pelo congelamento da autenticidade. Aadesaparecerem A sinceridade € a confianga, & afetada a perspectiva de uma cooperagio prazerosa, simultaneamente importan- te para a elevacdg da qualidade do desempenho e para a savide mental. £ vatioso saher que tipo de controle 0 centrevistado percehe: de chefe visivel, de equipamen- tos, de registros de produgdo, do sistema de avaliacao de desempenho adotado ou outros tipas. Reconkecinenio. O reconhecimento € 0 provesso pelo qual se faz a articular entre a identidade e 0 mundo social. Simplificando: o reconhecimento social (por parte de outros, sejam eles chefes, companheiros de wahalho ou pessoas do mundo extratrabalho) & 0 auto-reconhecimento se “realimentam” reciprocamen- {e, mum processo onde 0 respeito (pelo outro ¢ por $i mesmo) € um dos componentes essenciais, Assim, vale pesquisar se o entrevistado foi reco- nhecido por seus desempenhos no passado e como percebe no presente 0 reconhecimento de seus chefes, colegas ou grupo de convivio por aquilo que realiza, lemhrando que presses psicossoviais que afetam a auto-estima ¢ a identidade representam agravos em potencial para a suide mental As “Queixas Vagas” e a Distonia Neurovegetativa Os médicos sio freqientemente confrontados pela seguinte situagio: win paciente se apresenta referindo mal-estar e indisposigdo geral, mas sem conseguir es pecificar sintomas nem locatizar ap afvel de seu corpo um 6rg%o ou segmento que pereeha como “sede” do softimento, As vezes,o pacienteacrescenta que se sente necvoso € que dorme mal. Ou, ainda, poderd simples- menie dizet que nfo se sente com a paciéacia que possufa antes, que tem dificuldade para controlar uma irritagdo que agora o atinge, mesmo diante de pequenos coniratempos, e que por causa disto tem ido atritos em casa. ou mesmo no trabalho. Se o paciente se restcingir a estes esclarecimentos, 0 médico, naka tendo cons- tatado ao exame fisico, poderd tender a registrar “quei- xay vagas”, oferecer alguns consclhos de ordem ge- ral ou mesmo, simplesmente, trangiilizar o paciente € orieaté-lo para voltar & consulta se identificar algum ntoma mais detinido, Dependendo da rotina do seryi- 0, talvez 0 médico solicite também alguns exames complementares de rotina, Entretanto, parao médico que realiza uma anamne- se que inclua tanto a hist6ria de trabalho quanto a situago referente ao trabalho atwal, seré possivel reali- zac uma outra leitura destas queixas, permitindo muitas ve7es interpreté-las em sua vinculagao a0 trabalho, Os to numerosos diagndsticos de distonia nenro- vegetativa (DNV) poderiam certumente. ser revistos, considerando a dimensio do trabatho e sua vinculagzo A dindmica psicofisiol6gica individual. A expresso das TensGes emocionais conectadas ao trabalho pode se fa- zer através de crises de taquicardia, de diarréias e das tantas outras manifestagdes de uma DNV. Vale obser- var que a designago adotada —distonia neurovegeta- tiva —revela a face fisioldgica deste distérbio, porém mascara suas detertninagGes sociais, que metecem re- gistro, tanto no interesse do paciente quanto do ponto de vista do interesse coletivo, uma ver que tais registros poderiio favorecer agdes de vigilincia da satide, em sua relaZio com o trabalho. Estasobscrvagdesnos conduzem a umaquesti que se torna fundamental para o reconhecimento institu- cional do nexo causal quando agravos meniais se origi- nam em situaydes de trabalho: a questa que diz respeito a registro destes diagnésticos, © REGISTRO DE DIAGNGSTICOS. A nova classifivagio de distirbios mentais publica- da pela Organizagtio Mundial de Sade em 1992 — 2 CID-10—otereve poucas possibitidades paraoregistro de diagndsticos referentes aos distithios psfquicos vin- culados ao trabalho. Nao consta nesta classificagio, ma verde, nenhum grupo sistematizado de tipox de diag- stivos reportadosauma“psicoparologia dotrabalho”. Fi TAL or ee 307 umpouco neta éstio presentes toclas as designagi que esto sondo adotadas nos textos de especialistas nna pritica cotidiana de profissionais que realizam 0 aatendimento de trabathadores de diferentes ocupagies. Do ponto de vista da necessidade social de um reconhecimento mais amplo dos disttirbios psfquicos ‘conectados ao trabalho pode-se dizer que é bem pouco ‘que oferece o Capitulo V —que trata da classificagdo dos distérhios mentais ¢ do comportamento, ‘Uma leitura mais atenta das “Deserigdes Clinicas e Diretrizes para Diagnéstico” permite, entretanto, en- ccontrar possibitidades de compatibilizar algumas rubri: as para a inseryfio de diagndsticos em psicopatologia do trabalho. A classificagio reflete bem a hegemonia das ciéncias naturais da perspeetiva positivista. ma fixagio dos critérios destinados a est rias, A perspectiva biol6gica se superpSe a social, As- sim, boa parte das denominagdes que dizem respeito & psicopatologia do trabatho possuem a patavra estresse e niio chegam a usar a palavra trabatho na designagao, principal dos itens diagndsticos, Entretanto, outros ca- pitulos da CID-10, que nao o referente aos disticbios mentais, abrem caminhos para uma uplicagzo que per- mite oferecer algamas ferramentas titeis aos propésitos de vigilancia ¢ preveneao, Nao se trata, ainda, de que tenham sido oficiatizadas categorias le diagnéstico que permitam um total desvelamento cassituagées de traba- tho que configuram “insalubridadle mental”, 0 que nem, seria possfvel no momento atual, pois conforme este capitulo procura mostrar, os estudos ainda tertio que avangar bastante, bem como os entendimentos entre pesytisadores de visOes distintas, para que estas cale- gorias sejam mais hem fixadas e sistematizadas, De Fato, 0 que é posstvel propor € que algumas das catego- rias jé mais bem definidas sejam registradas para fun- amentaragdes voltadas paraa safe dos queenfrentam riscos mentais em seu trabalho. titulo que resine maior parte dos diagnésticos em que a dimensio psicossocial do trabatho pode as- sumirreleviineia fundamental 6 0 dos " Disttirbios nen réticos, relacionados ao estresse e somatoformes”. In cluida nessa rubrica esti a categoria Reagdo a estresse severo € desordens de ajustamento (F43), que contsm contre seus subiten F 43.1. Bsiresse pés-traumdtico, onde podem ser istrados os diagndsticos de neurose pés-traumitiva, F-43,2. Distirbio da adaptacdo, com varias moda- lichades Ue reagao (depressiva breve, depressiva proton- ida, mista ansiosa — depressiva e outras).. Nesta categoria, por vento, 0 termo “adaptagio” Jevanta polémica, quando se trata de pessoas que adoe- ‘ceram por terem de fato estado Sob exigéncias e pres- sey de trabalho ante as quais ndo existitiam possi- hilidades humanas de adaptago, a eurto, a médio ow a Jongo prazo, conforme 0 caso, Outra questio eritica é a idéin de que a no adaptacdo pressuipde uma insu 208 via ou fatha da parte do empregado, idéia cuja ample difustio era preconceitos potencialmente prejudiciais & vida profissional de quem receber este rotulo diagnds- tico, Certamente outros aspevios eriticos, referentes 2 ‘questia da liberdade, da identidade © da dignidade do empregado, t8m sido levaniados quando se discute a “boa adaptagio” como pardimetro de saiide mental nos locals de trabalho, Pois as indagagbes, nos casos coneretos, serio sempre: adatapgaio em que termos? ‘Adaptagiio como aceitagdo de wondigbes potencialmen- te degradantes ou adoecedoras? Ou adaptagio como aprendizagem e abertura de perspectivas de desenvol- vimento pessoal ¢ soci F 45 —Distarbios somatoformes, com wirias sub- ccategorias, inclusive F45.3—a.somatoformautonomic dysfunction que corresponde 2 tao wilizaca rubrica dis- tonia neurovesetativa, Entre as causas psiquidtricas de licenga médica, a DNV costuma, no Brasil, ser ubrica diagndstica fre- giienre, Em um estudo realizado em metrovidrios, DNV foi o diagndstico de quase metade dos casos (47, 45% — Seligmann Silva, 1992), Pode-se airmar que a dis- seminago que tem tido essarotulagdo é umaimportante ‘causa das dificuldades em obter estatfsticas validas so- brea demandaem psicopatologia do trabalho aos servi- {gos de saide. Trata-se, portanto, de um importante fator de invisibilidade da problemdtica, uma vez que este & umn diagndstico eminentemente descritivo, que nada diz sobre as eausas psicossaciais do distirbio psicofisiol’- sgico a que se refere. F48— Neurasienia, que inclui “sindvome da fadi- _g0¢", cuja deserigfio corresponde & sada para a fadiga patol6gica. A CID-10 chama a ateneZo para a neces: Sidade de excluir desta categoria, no diagndstico dife- reneial, u sindrome da fadiga pés-viral (G 93.3). Como se pode verificar, em si mesmias estas rubri- ‘cas nada esclatecem quanto a natureza da causalidade O caso da distonia neurovegetativa é ilustrativo. Em Sintese A classificagio oficial de diagnésticos —atwalmen- tea CID-10 — oferece grandes dificuldades para que os registros nete baseados possam ser dteis part as de vigiliincia e prevengiio, no que se refere aos riscos ¢ distirbios mentais etiologicamente vinculadosao traba- Iho. As razGes principais so: ~ as categorias diagadsticas do capitulo V, que trata dos distirbios mentais, sio estabelecidas em sua maioria segunda caracteristicas deseriti \6 endo etiol6gicas dos quadros clfnicos. Deste mado, as rubricas no permitem distinguir mor bidade correlacionada e nao correlacionada 2s situagdes de ttahalho; — portanto, estes registrns restritos nfo podem ser vir de hase a estudos sobre a distribuigsio na popuilagdio dos agravos mentais relacionados como trabalho; ~ para realizar estudos epidemioligicds ou de ou- tra natureza sobre a morbidade em satide mental do trabalho, torna-se n ‘io utilizar registros e outros instrumentos especialmente formulados para estas iavestigagdes, tendo por base estudos, Jd desenvolvidos na area de satide mental do trabalho em nivel interracional, e as caracteris- ‘Gcas da estrutura ocupacional e das situagies de trabalho na drea ou regio a ser pesquisada; — no obstante, varios quadros elfaicos estudados ‘na veriente em que a saside mental do trabalho se volta para analisar a psicopatologia, correspon- demem seus aspectos descritivos a quadros revo rnbecidos pela psiquiatria oficial e expressos na CID-10. A diferenca essencial parece situar-se, pois, na visualizagdo da eriologiae da parogenia referentes a estes distirbios mentais; 6 possivel utilizar um importante recurso ofere- Jo por_um outro eapfiulo da CID-10 — o capitulo XXI — com a categoria Z56 “Proble- mas relacionados a0 emprego e desemprego” que pode ser associada a rubrica do diagnéstico escritivo do eapitulo V da CID-10. Outro item apresentado no capitulo X16 0 Z 73.0 que correspond ao burn-out (esgotamento profissional ou esta. ‘A utilizagao adequada destas dias rubricas poder servir de ponto de partida para que, no contexte do sistema de satide ¢ dos servicos médicos das empresas, se possa estuclar a magnitude dos distirhios psfquicos vinculados as situagdes de trabalho, ajucando assim a fuindamentar agbes preventivas. CONDUTAS Realizudo © diagndstico que evidenciou distirbio mental associado a situago de trabalho, a perspectiva (crapéutiva apresenta os seguintes desdobramentos: 1) Proporcionar cuidattos ao paciente, huscando aliviar sua sintematologia, [sto poderd ser feito utilizan- do os recursos especializados acessiveis, em coopera- ‘eo com psiquiatta ou psiedlogo, conforme a natureza do distirhio. 2) Avaliar, juntamente com o paciente, a pers- peetiva que o mesmo tena de modificar de modo mais favordvel sua imterago no local de trabatho, Em sendlo verifieado que existem condigiies albeias ao alcanee do paciemte ¢ identiticadas como relevantes naetiologia ou agrayamento, coloca-seanecessidade de agdesem nivel coletivo. A execugdo destas — pura as quais existem metodologias de intervengaio diversas — necesita, em -geral, de um acorilo negociado entre diregsio daempresa © empregados. As formas participativas de buscar a transformagaio das situagdes de trabalho potenciatmente perigosas para a satide mental ¢ psicossocial sf objeto Ge literatura espeeiatizada, e variam de acordo com os contextos politicos e graus de desenvolvimento social ¢ cidadania, 3) Nos contextos onde no se torne possivel a transformacdo participativa do trabalho “mentalmente insalubre”, cabe diminuir a exposigao a estes riscos de quem jd adoeceu, estudando possibilidades de insereo do emipregado em outro seror da empresa onde as con- dig6es sejam mais propfeias a recuperagio, Vale chamar ‘ atengiio para os casos de trabathadores em tumnos alternados ow em perfodo noturao que, quando apresen- tain manifestagéies de distirbia psiquico, necessitam como medida imediata de trnsferéncia part horirio diurno fixo. EVOLUCAO E PROGNOSTICO A diversidade dos quadros clinieos que foram aqui mencionados no permite considerar aspecios espe- efficos de evolucdo e prognésticn, Apenas é possivel dizer, em termos gerais, que para algumas das patolo- gins assinaladas, assoviar o tratamento especializado a ‘medidas dirigidas 4 mudanga dos aspectos desfavord- veis dasituagio de trabalho paderdé conduzir Aremissio da sintomatologia, em unia grande parte dos casos. Essa perspectiva serd menos favorivel quanto maior for 0 tempo devorrido apés instalagio dos sintomas. E 0 que poder ser previsto aa maioria dos casos de sindromes sssociadas a0 trabalho, Nos casos em que a modificaydio da personalidade Jd tenha se processado de modo acentuado, no existe aé aqui experiéncia de avaliagdo suficiente para prever evoluciio e progndstico. No caso do atcootismo, os desafios sto iugativos ‘aos geralmente constitufdos pela dependéncia As bebi- das alenGlicas. Mas quando a auto-estima e as expecta- tivas de desenvolvimento profissional podem ser re- construfdas, hi muitas vezes boas perspectives de recuperagi, A prevaléncia elevada de casos com determinados diagnéstivos psiquidtricos em um local de trabalho sempre deve ser avaliada em seu significado como indicador da existéncia de riscos mentais na situagiio em foco. As agdes preventivas desencadoadas a partir desss vonstatagées poderdo ser de grande eficsicia, ‘no inieresse da Sutide dos empregados, tunto na evita (0 de distérbios psiquicos quanto de acidentes € absenteismo, bem como na promegio da qualidade de vida no trabalho. NOTAS 1. O mecanismio psivot6gico de negagio é agui tomado na avepeaio “a recusa da pereepgdo de un fato ae 309 ON «que se impoe no mundo exterior” (Laplanchee Pontalis, Vocabulirio de Psicandlise, Ed. Martins Fontes, p. 293), que pode ser tomado também como “recusa”. Mas, no caso do que acontece em referéncia a0 medo, sentido da palavra negacdo expressa também aidéia de que este medo est recaicadoe, em nivel consciente,, negado, Como os dois fendmenos ocorrem nas situa- Ges de trabalho perigoso, 0 termo negacdo pode ser tusado aqui neste dupio sentido. 2. O assunio tem sido objeto de numerosas publica ‘ces. Para conhecermos methoraabordagem critica dos estudos referidos ao estresse no trabalho, recomen- damos especialmente os textos de Jocelyn Handy, Wer- ner Maschewsky e Jean-Frangois Chanlat inclufdos na Bibliografia, Chanlat reatiza um interessante estudo comparativo entre as perspectivas adotadas pela cor- rente do estresse e pela corrente dejouriana. 3. Uma andlise mais ampla do modelo centrado no cconceito de desgaste pode ser encontrada no livro Des- .gaste Mental no Trabatho Dominado, escrito pela auto- radeste capitulo (em publicacdo pela editora da Univer- sidade Federal do Rio de Janeiro), BIBLIOGRAFIA E REFERENCIAS AlvimnFasi, Aspectesantropolégins to alooliseo, Rev. Bras. Pi Vigyst61, (972, ‘Arado MD. Teabalhaderes do petslea. Convivéneia digs com o ‘too. Dsscragio de Mestad. Pontificia lawversidade CatStica de Sto Palo, 1990 3. Aubert N. A neuroseprofissonal Rev. Adm. Bmpr. 33(0:94-106, 1998, 4. Borges LH. Teanstoros ments ent tshutbadoees de une wna sideningioa, Dissetag de Mestrado. Pe. Medicina USP, 1390, ugatd F & Croeg L Existe-tl des névoses du travail I: Societ Franjase de Psychologie. Equlibreoufatizuepaelewaval. Ene Moderned' Eon. Eu. ESED. pp. 161-72, Pris, 1980 6 Cawel 1 Payehesocial processes aad aves. Tat Health Sov. 4G y471-82, 1974, CChaalatJF Théovies du stress etpsychopathologiedotravail. Prevent, (203.117-26, 1990, A. Gra D.le ne mouraiont ps tus, ms toa Zaioot Fappes. Rene de Medicine du Travail. XVI (4)1 809, 1939. DDejours CA oacara do trahatha, $0 Palo, Ea. Oboe, 1987 1, Dejours C & Adhoucheli E.Rnerire thécrigue en psyshopsthologie di avai, Pevenie 20):127-149, 1990 11, Dejeurs€ & Harlot A, Contibotio de a peychopathotopie da travail, ‘Fete de alcooisne. In: Dejoars C, Veil Ce Wister A. orgs) Peychopachologe du taval. Faris, Enreprise Moderne Bion pp. 105-11, 1085, 12, Deppe HU. Novas téniens, medicina do trabalho esate, Caderios ie Sie Pilbica 6(4):442-8, 1090. 13. Dessots D & JayetC. Méthodologie et action en peychopathatogie do travail, A propor dela sourance des Equipes de reasertion medico sociales, Preven (20)31-8, 1990. 14, Elles T. Acbeitorganisntion in der Kronkenpflegs. Zar Kriik dee Fonksonspfleae. Fart an Main, Mabmse Verlag, 190. 15. Enviquez B. Ds hoa ao Estado 2¥ ei, Rio de Jair, Jonge Zahar Ed, 191. 16, Fisher FM, Trabalho eon terns: alzuas aspects econdmnicas, asices « sia Dissertao de Mestnda-— Fan do Sade Biblio Pau tox, (7, Frese M, Greif $ & Semmer N. Indnstisile paychopathologe, Stotgar. Verog Hans Haber, (978, 8 19, 21. a. a. um, 2. 26 28 2. 0, ak 2. 3, 2. *. x. 0, 4 «2. Frankeabaeaser M. Coping with stress at wrk Int. J, Health Sev 11(4)491-510, 1981 Frendeaberger 1. L'épuisement profesionns: “a bere interne. (Otawa Gatian Morn Et, 1987 Galbraith JK. A eataa do contetaments, So Pato, Ponca 1992, (Gueiras Souza MC. Does ds nsvas comoestatégiadesobrevivérr a. Recife, 46 pp. 1980. (nie) Goetia F, Laie A, Daiollow Fetal, Compreaire le trval pve le transformer a peatigue de 'egonomie, Moraes, Ed Arsct 191 Handy JA. Theoretical and methodological problems within occupa: tional sess and baro-otreveacch. Horan Relations, 41(5}.351-69, 1988. Kalin R. Assemnent of cocapatonsl aves. la: WHO — Epilemlo- ogy of occupations health. Earonean Seis, Copenhagen, 1087 Keraek R & Thoocell T. Healthy week. New York, Basie Books Inc, 1990, Laurell AC & Noviega M. Processo de proto ¢ sae, So Palo, Hrcitec, 1089. Levi L iting work to human capacities sed neds: improverseats ia the eontent an eegaization of woe, In: Kaito R, EI-Batavi M & (Cooper CL CEs), Payehosoeial factors at werk. O.MS, Gevebra, 1987, Litton C: Un aspect souveau de a charge de teal Ia charge pychique. Ia: Deonrs C. Veil © & Wisner A, Prychepstologie da {eaval, Pari, Batepice Moderne "Eton p 7680, 1985. “MacDougall J, Em defesa de umn cera anor. Porto Alegre ‘Aries Meliss, 1987. “MacDougall. Testor do corps —opsiontsoms em psissndlie. Sto Pablo, Martins Fontes, 1991, Magilnies CCB, Sindromes ceativas em vin inddsria sider. Disseragto de Mesto — Faculdade de Medicina — USP, 198). Marty P. Le soavemont individ de vet de sore Pas, Payot, 1976, Mart Pore psychosomatque: es mouvement infividuelsde vie cede mort. Vol. 2 Pais, Payot, 1980. Meaiel G, Actepouvoie etaligastion — perspectives sociepsychaas Iythqwes, lar Dejoors C, Veil ©. Wimee A. Poyehepadhslgie do taal, Pais, Entepeita Modern dition, 140-56, 1S. Ninkko etal. Psychological isk factors felted 9 caronary beat disease, Prospective suis. pad Karasok R-& TheorellT Heakhy work. N. York, Basie Books, 1990. Din M. Liamgaagement de tore de aval Bl. Moncoase, Anat, 1980, Rehecehi E. O sjcito frente 4 nota teewagiea, Petrol, Eu Yes hase, 190. Riquelme H El proceso picocutural de sleholzaciSa ex Chile. Le Riqueline H, Ensayespsicocltres, ftueuce Aires, Bd. Bue, \oy7 Seligitana Siva E.Desgate mental no aba doninado. Eu, (ak ‘ersidade Federal do Riv de Saat, 1993 Seligman Siva E, RepereussBes das conligées de trabalho 0a vida fama 3. Beat. Pig. (upl-2)285-27S, 1980, Selignnan Silva E. Sade mentale wabalho i: Tonia S de Cast N. ‘Cidadania efoveura:pottica desde mental wo Trai. Petros, Bd, Voaaa/ Abeaseo,p. 217-88, 1997 Seligatna Silva E. A intrcelagsotwablhoisde mental. Rev, Adm. Ennp. 32¢4):70-00, 1092 gona SilvaE. Delia AA & Sato L.A sate na rea operative do © inet deS. Pao, Diesxt So Pato, Sindicato das Metoviis, B86 4a 4s (cine), 319 Sigerst J etal. Low status comes, high effort at work and ischemic hear disease. Soe Sei. Med. 31(10):1127-1134, 1990, ‘Voge C. Problemes médieaux et medica: poss pat les ares sions & main armée dans les éuablasseanentsbancates, In Dejuts C. Veil Cae Wisner A (orgs), Peychopalologi du eave, Pacis, Eee prise Moderne dBaition,p. $7.94, 1985, ‘World Health Organisation QWHO), The ICD-10.¢ twental ard behavioral disorders. Geneva, 1992, Wisner A. Por deatro do tabatho. Sao Paolo, Bd, FTD/Obers. 1987 abet 8 Inthe age ofthe smart machine N. York Bass Books, Is. Pr, 1990, sification of

Das könnte Ihnen auch gefallen