Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Stuart Hall dirigiu o Centro de Estudos 1950 e 1960 o popular era pensado como im-
Culturais Contemporâneos de 1968 a 1979, portante categoria na busca de uma identidade
período em que publica o clássico ensaio “En- nacional, agora, com a presença de um merca-
coding/Decoding” gerando uma considerável do de bens simbólicos em expansão, a questão
polêmica no período. Posteriormente, Hall do nacional-popular era acompanhada da dis-
destacou que o seu objetivo era contrapor-se cussão cultura popular/indústria cultural.
ao tipo de pesquisa realizada pelo Centro de Ao mesmo tempo que se publicavam di-
Pesquisa em Comunicação de Massa da Uni- versas traduções de ensaios de Adorno (e,
versidade Leicester, um centro bastante con- conseqüentemente, diversas leituras redu-
servador nos estudos dos meios de comuni- cionistas da teoria crítica, apoiadas basica-
cação. Por meio do artigo, Hall mostrava que mente em alguns de seus escritos), para um
diversas camadas de significados abriam-se conjunto de pesquisadores, sua concepção da
nos atos de fruição produzida pelos leitores indústria cultural parecia inadequada para
em seus processos de apropriação dos con- representar o que estava acontecendo com
teúdos e formas representadas nos meios de as novas práticas midiáticas dos movimentos
comunicação mediada, destacando o seu ca- sociais (rádios comunitárias, rádios livres,
ráter multireferencial (Hall, 2003:354). reestruturação da imprensa sindical, greve
As representações, os textos, os discursos dos jornalistas etc.). O “povo” encontrava
estariam diretamente relacionados a certos formas alternativas de participação política
mapas de significados que permitiriam aos direta, ganhando visibilidade nos meios de
agentes sociais interpretar, conhecer, reco- comunicação quando tudo parecia monoli-
nhecer, contestar e agir no mundo social. ticamente controlado.
As condições sociais, ideológicas e políticas Em um primeiro momento, sob influ-
desiguais experimentadas por esses mesmos ência de Victor Turner e Geertz (Durham,
agentes no mundo social constituem as re- 1977) e do impacto dos pioneiros do que
presentações que se objetivam nesse mundo veio a se chamar, posteriormente, de “estudos
e nelas são constituídas por meio da práxis. culturais” ingleses (Richard Hoggart, 1973;
Nesses mapas de significados, produzidos Raymond Williams, 1969), a antropologia
pela fruição cultural, encontra-se uma estru- desloca a concentração de estudos (marxis-
tura em dominância, capaz de impor certas tas) focados na fábrica para um conjunto de
regras performativas, regras que sinalizam práticas culturais populares centradas nos
competências e usos dominantes e legítimos bairros e nas formas de consumo cultural
na sua interpretação. O trabalho interpretati- dessa população.
vo enfrentaria com maior ou menor intensi- O atual destaque que a antropologia ad-
dade uma situação de dominância simbólica. quiriu nos estudos de comunicação e nos es-
Essas mudanças no entendimento do pro- tudos culturais tem, portanto, uma história.2
cesso de comunicação terão, também, conse- Aqui pode ser encontrada uma das mudanças
qüências importantes nas pesquisas da teoria que marcarão profundamente o pensamento
das mediações no contexto latino-americano. latino-americano e terão conseqüências im-
No caso brasileiro, a emergência de novos portantes na teoria das mediações.
sujeitos sociais em um contexto de expansão Trata-se da “ponte” estabelecida entre
dos meios de comunicação sob censura (Ortiz, os estudos de cultura popular e os estudos
1989), em um processo de modernização con-
servadora e autoritária, impulsionou diversos 2
Cultura e comunicação são categorias que apresentam graus
agentes e cientistas sociais a pensarem o sig- de generalidade semelhantes, capazes de abranger quase tudo o
nificado dessas novas práticas, isto é, a refletir que existe no mundo social. Quanto aos primeiros ensaios de
aproximação entre essas áreas, ver as obras de Edmund Leach,
sobre as características e o papel histórico dos de 1976, Cultura e comunicação, e A situação negligenciada, de
“novos movimentos sociais”. Se até os anos Erving Goffman, que é de 1964.
sobre a indústria cultural que ganhou força da recepção”. A indústria cultural passa a ser
na América Latina por meio do trabalho de vista como um espaço de lutas simbólicas,
Martín-Barbero e da chamada “teoria das um espaço de reapropriações a partir de uma
mediações” (ou teoria “culturalista” da co- experiência particular do cotidiano.
municação), como pode ser identificada na García Canclini, seguindo algumas reo-
citação abaixo: rientações da antropologia produzidas por
Mary Douglas (2004), passa a tratar a produ-
Na redefinição da cultura, é fundamental a ção de sentido no mundo dos objetos a par-
compreensão de sua natureza comunicati-
va. Isto é, seu caráter de processo produtor
tir de uma teoria sociocultural do consumo,
de significações e não de mera circulação na qual o processo de apropriação do senti-
de informações, no qual o receptor, por- do, em condições sociais desiguais, aparece
tanto, não é um simples decodificador da- como demarcador da distinção, integração
quilo que o emissor depositou na mensa- e de diversidade simbólica (García Canclini,
gem, mas também um produtor. O desafio 1992, 1996).
apresentado pela indústria cultural aparece
com toda a sua densidade no cruzamento
Essa “teoria sociocultural do consumo”
dessas duas linhas de renovação que ins- seria, por natureza, multidisciplinar. Ela de-
crevem a questão cultural no interior do veria contemplar não apenas os processos
político e a comunicação, na cultura (Mar- de racionalização econômica geradas no in-
tín-Barbero, 1997:287). terior das grandes corporações por meio de
planificações e estratégias de marketing, mas
Nessa iniciativa, produz-se um reposicio- os processos de apropriação por parte da au-
namento de uma série de questões levantadas diência e dos usuários desses bens. A relação
pelas novas práticas dos movimentos sociais. entre consumo e cidadania começava a ficar
Os processos de dinâmica cultural (Durham, cada vez mais visível e o antigo espaço de “re-
1977), as novas formas de resistência produ- produção” da força de trabalho transforma-
zidas no cotidiano, os hibridismos culturais va-se, também, em um espaço de produção
(García Canclini, 1998), além da reavaliação e apropriação simbólica em meio ao qual a
do espaço doméstico e das atividades cotidia- produção social de sentido era negociada.
nas de recepção diante da indústria cultural e García Canclini critica a ênfase dada por
do consumo marcaram a ação de um conjun- Bourdieu ao aspecto distintivo do consumo
to de pesquisadores latino-americanos. (identificador de marcas distintivas entre os
Essas mudanças terão um significado agentes sociais) e procura mostrar que ele
importante no entendimento da produção também produz um espaço de integração e
social de sentido mediada pelos meios de co- de comunicação (um espaço de representa-
municação. Seguindo uma tendência muito ção das desigualdades, dos desejos, da histó-
forte na teoria literária, na lingüística e nos ria de um grupo social).3 Como destaca:
estudos culturais, a comunicação deixa de ser
pensada como um processo linear de trans- Contudo, nessas pesquisas costuma-se ver
missão muitas vezes centrada nos meios ou os comportamentos de consumo como se
só servissem para dividir. Mas se os mem-
no “texto”. O grande salto, influenciado pela
bros de uma sociedade não compartilhas-
“estética da recepção”, é a introdução do lei- sem os sentidos dos bens, se estes só fossem
tor como produtor de sentido e não apenas compreensíveis à elite ou à maioria que os
um objeto submetido aos efeitos de uma utiliza, não serviriam como instrumentos
ação comunicativa externa. de diferenciação (...) Logo, devemos ad-
O impacto dessa mudança de avaliação na
literatura foi deslocado para os meios de co- 3
Em outro momento, desenvolvi uma crítica a essa posição
de García Canclini a respeito da sociologia de Bourdieu. Ver:
municação pelos representantes latino-ame- GIRARDI JR, L. Pierre Bourdieu: questões de sociologia e co-
ricanos da “teoria das mediações” ou “teorias municação. São Paulo: Annablume, 2007.
mitir que no consumo se constrói parte da Por meio dos rituais, dizem Mary Douglas
racionalidade integrativa e comunicativa de e Baron Isherwood, os grupos selecionam
uma sociedade (García Canclini, 1996:56). e fixam – graças a acordos coletivos – os
significados que regulam sua vida. Os ri-
As noções de consumo cultural, recepção tuais servem para “conter o curso dos sig-
e usos sociais dos bens simbólicos produzi- nificados” e tornar explícitas as definições
dos pelos meios de comunicação (Cantú; Ci- públicas do que o consenso geral julga
valioso. Os rituais eficazes são os que uti-
madevilla, 1998) passam a circular nos meios lizam objetos materiais para estabelecer o
acadêmicos como indicação de um novo sentido e as práticas que os preservam. (...)
modo de se pensar a indústria cultural nas Consumir é tornar inteligível um mundo
sociedades latino-americanas. Por “consu- onde o sólido se evapora. Por isso, além de
mo” pode-se entender o “conjunto de proces- serem úteis para a expansão do mercado
sos socioculturais nos quais se realiza a apro- e a reprodução da força de trabalho, para
nos distinguirmos dos demais e nos comu-
priação dos produtos”, condições de acesso e nicarmos com eles, como afirmam Douglas
controle sobre a produção e circulação dos e Isherwood, “as mercadorias servem para
bens culturais, acesso aos meios e equipa- pensar” (García Canclini, 1996:59).
mentos necessários para isso etc.; por “recep-
ção” pode-se entender um modo particular
de consumo dos meios, o ato de ver televisão, O interlocutor produz
ouvir o rádio ou ler o jornal, que envolve a
produção e negociação de sentidos.
uma “atitude responsi-
Embora não possam ser considerados va ativa”, pois o pro-
como “momentos” diferenciados do proces- cesso de interpretação
so de produção de sentido, é o “uso social” obriga-o a se “posicio-
dos meios e seus textos que integra a expe- nar” no universo das
riência cultural ao mundo da vida e permi- trocas simbólicas
te a negociação de sentido entre os textos e
as práticas sociais cotidianas. Sobre a lógica
dos usos sociais dos meios de comunicação,
Martin-Barbero observa: “Enquanto uma O próprio processo de produção dos bens
classe normalmente só pede informação à simbólicos também pressupõe o seu pro-
televisão, porque vai buscar em outra parte o cesso de consumo. Como observa Bakhtin
entretenimento e a cultura – no esporte, no (1997), a enunciação pressupõe um auditó-
teatro, no livro e no concerto –, outras classes rio e enreda-se a um conjunto de outros tex-
pedem tudo isso só à televisão” (1997:301). tos já produzidos. O grande erro das teorias
Essa experiência marcada por processos de da comunicação consistia em considerar o
consumo, recepção e usos sociais dos bens locutor de um modo isolado, ignorando que
simbólicos no cotidiano institui-se por um a presença do outro, do interlocutor, da au-
complexo campo de mediações. diência, é fundamental na produção de qual-
A influência de Mary Douglas é marcante quer enunciado. O interlocutor produz uma
no trabalho de García Canclini. Inicialmente, “atitude responsiva ativa”, socialmente ativa,
ao mostrar que o consumo “é bom para pen- pois o processo de interpretação obriga-o a
sar”, retoma uma célebre afirmação de Levi- se “posicionar” no universo das trocas sim-
Strauss a respeito da importância das trocas bólicas, concordando ou discordando com
e da reciprocidade nas sociedades humanas. o que foi dito, ignorando-o, complementan-
Por outro lado, essa influência também pode do-o, adaptando-o.
ser encontrada na ênfase dada ao aspecto ritu- “O locutor postula esta compreensão res-
alístico dos processos de consumo cultural: ponsiva ativa”, observa Bakhtin. Além disso,
funcionam como mediações no processo de mesma forma, nem toda forma de consumo
produção de sentido dos bens culturais, o é interiorização dos valores de outras classes.
que poderia explicar as complexas reapro- O consumo pode falar e fala nos setores po-
pulares de suas justas aspirações a uma vida
priações produzidas no processo de inter- mais digna (Martín-Barbero, 1997:289).
pretação local de produtos culturais globa-
lizados. Em seus estudos sobre telenovelas, Deslocar-se dos meios para as mediações
por exemplo, Martín-Barbero procura defi- produz um resgate da cotidianidade e do es-
nir com maior precisão o que entende pela paço de recepção doméstico (e outros espa-
expressão “mediações”. ços de interação e sociabilidade), pressupõe
Os espaços sociais, os espaços de relações reconhecer importantes contribuições de
sociais locais e suas situações de interação Bakhtin e da “estética da recepção” quanto ao
cotidianas (a casa, a vizinhança, o bairro, a processo de encontro com o outro, de troca,
escola etc.) estabelecem mediações na pro- de apropriação cultural. Produtores e consu-
dução de sentido. Os movimentos sociais, midores precisam partilhar, estabelecer pon-
por exemplo, com suas práticas e reivindica- tes entre si por caminhos que não podem ser
ções, colocaram em questão a lógica “media- controlados com total precisão pelas estraté-
centrista” ao tornarem visíveis esse complexo gias das grandes corporações midiáticas.
universo de mediações: A própria existência dos meios tecnológi-
cos de comunicação depende de complexas
Por isso, em vez de fazer a pesquisa partir mediações culturais produzidas por socieda-
da análise das lógicas de produção e recep-
ção, para depois procurar as relações de des humanas. Caso contrário, seria possível
imbricação ou enfrentamento, propomos imaginar uma tecnologia desenvolvendo-se
partir das mediações, isto é, dos lugares dos autonomamente. Tecnologias estão inseridas
quais provêm as construções que delimi- em relações de sentido e produzem novas
tam e configuram a materialidade social e a possibilidades de produção de sentidos. Desse
expressividade cultural da televisão (Mar-
modo, destaca-se a importância de Raymond
tín-Barbero, 1997:292).
Williams ao pensar a televisão desenvolven-
Esses lugares mobilizam elementos e prá- do-se no interior de uma formação cultural e
ticas relacionadas com a cotidianidade fami- histórica muito particular (Williams, 1990).
liar (espaço cotidiano no qual a TV se insere), A televisão, por exemplo, pode ser pen-
com a temporalidade social (a cotidianidade sada como uma construção tecnológica e
e a temporalidade gerada pela TV) e com a social baseada em múltiplas mediações. A
competência cultural necessária para o reco- tecnologia cria condições para trocas des-
nhecimento prático dos gêneros televisivos. A territorializadas, produzindo um campo de
teoria das mediações produz um deslocamen- experiências culturais muito específicas. O
to importante nos estudos sobre os meios de próprio desenvolvimento do design e das
comunicação ao resgatar a “cotidianidade” funções disponíveis nos aparelhos eletrôni-
como espaço de produções simbólicas que cos (diminuição de tamanho, melhoria da
merecem consideração teórica, ao transfor- recepção, funcionalidade) abre a possibili-
má-lo em um espaço de criação e não apenas dade de novos usos e apropriações no inte-
de reprodução da força de trabalho. Assim: rior do espaço doméstico e sua integração ao
cotidiano da família. É importante notar a
Na percepção popular, o espaço doméstico convergência teórica que se desenvolve entre
não se restringe às tarefas da reprodução da a teoria das mediações e as novas gerações
força de trabalho. Pelo contrário, e frente
a um trabalho marcado pela monotonia e
dos estudos culturais, particularmente, com
despojado de qualquer atividade criativa, o os trabalhos de Morley (1992) e Silverstone
espaço doméstico representa e possibilita (1991), concentrados na construção das cha-
um mínimo de liberdade e iniciativa. Da madas “tecnologias domésticas” e de uma
sério problema que transformava a sala de es- ra interna de um gênero ou seu lugar na gra-
tar em um campo de batalhas pelo acesso às de de programação (vertical na grade da rede
maravilhas e ao torpor trazido pela televisão. ou horizontal na comparação com outras re-
É preciso lembrar que, de certo modo, des), mas as condições de suas apropriações.
a própria relação dos leitores com os livros Desse modo:
inspirou a produção de uma série de “inter-
faces” (sumário, índices, manchetes, nume-
ração, a instituição do códice etc.) que ex- Produtores e consumido-
pressavam uma nova forma de organização res precisam estabelecer
do pensamento e de sua recepção mais ou
menos previsível (Lévy, 2006).
pontos entre si por ca-
Para Orozco (2005), a televisão é um meio minhos que não podem
técnico de produção e transmissão de infor- ser controlados pelas
mação, mas, ao mesmo tempo, transformou- estratégias das grandes
se em “uma instituição social produtora de corporações midiáticas
significados”. O pesquisador identifica uma
série de mediações envolvidas na relação en-
tre espectadores e as produções televisivas (e
a própria televisão como um signo do uni- Hoje se prefere falar de “roteiros” (ou
“scripts”); eles definem contextos que per-
verso sócio-midiático moderno).
mitem que o leitor integre informações do
As formas de mediação cognitiva e me- texto em encadeamentos coerentes. Têm
diação situacional, por exemplo, estão dire- ao mesmo tempo uma função de filtra-
tamente relacionadas. A recepção depende gem e de expansão. Identificar um roteiro
de um tipo de mediação baseada em scripts é “desdobrar” um leque a partir de indica-
que se ajustam a uma situação dada. A pre- ções lacunares, mas é também reduzir uma
sença dos scripts na socialização da criança indeterminação, pois a mesma ação pode
a priori participar de uma produção de
lembra muito a função dos “jogos de lingua- roteiros distintos. (...) Confrontado a indí-
gem”, identificada por Wittgenstein (1989), e cios pertinentes, o leitor ativará o roteiro
dos frames, destacados por Goffman (1986). correspondente, se sua familiaridade com
Como se pode ver: o intertexto literário for suficiente (Main-
gueneau, 1996:47-50).
Deste modo, os scripts prescrevem para o
atuante formas “adequadas”, culturalmente Esses roteiros podem ser reconhecidos
aceitas para a interação dele com os outros pelo leitor como um estereótipo genérico, isso
(...) Um script pode ser aprendido por meio
da observação de atuações específicas dos como um exemplo de um gênero (literário,
outros, ou de atuações próprias. Na medi- televisivo etc.) já conhecido, ou entendê-lo
da em que os guias podem se reproduzir como um caso “original” e “inovador”. Certas
a partir da mera observação, permitem ao produções propõem-se a ativar roteiros mais
atuante saber o que fazer em situações so- ou menos conhecidos enquanto outras “jo-
ciais novas (Orozco, 2005:32).
gam” com as suas fronteiras. Por meio dessas
Os gêneros televisivos ganham enorme mediações, o espectador ou leitor torna-se,
relevância na produção de um tipo muito de algum modo, cúmplice do autor e segue
particular de competência midiática, pois pelas indicações lacunares deixadas pelo tex-
são eles que produzem a mediação entre o to. Desse modo, ele é capaz de “enquadrar” o
sistema produtivo da mídia e a lógica dos tipo de bem cultural com o qual se relacio-
usos produzida pelos espectadores. Uma na, perceber uma mudança de rumo ou até
análise da pragmática associada aos gêneros mesmo de gêneros na grade da programação
televisivos observa não somente a arquitetu- televisiva (Eagleton, 1983:83).
mediação sócio-técnica para um novo campo Nesse caso, como deslocar o estudo das
de produções artísticas e de informação em mediações em um contexto de tecnologias
situação de convergência digital? domésticas para um novo ambiente comu-
O acesso a conteúdos em condições de nicacional, que acena com a possibilidade de
mobilidade ou em espaços públicos como uma intensa convergência midiática por meio
cafés e livrarias redimensionará considera- de novas interfaces e redes de conexão sem
velmente a “ecologia” midiática e suas me- fio? Quais serão as novas mediações encon-
diações. Como as tecnologias de informa- tradas em contextos de intervenção, mais ou
ção e entretenimento não existem isoladas, menos direta, do próprio usuário no conteú-
elas terão de se integrar a um conjunto de do comunicacional por meio de interfaces de
outras práticas encontradas no universo interação? Como pensar os usos e apropria-
social na qual estarão inseridas, ou mesmo ções de conteúdos que não terão necessaria-
reorientá-las. mente o espaço doméstico como referência?
Referências
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins LEVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural. 2. ed. Rio de Ja-
Fontes, 2000. neiro: Tempo Brasileiro, 1985.
BECKER, H. S. Métodos de pesquisa em ciências sociais. 3. ed. MAINGUENEAU, D. Pragmática para o discurso literário.
São Paulo: Hucitec, 1997. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
GARCÍA CANCLINI, N. Los estudios sobre comunicación y MARTÍN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Rio de Janei-
consumo. Dialogos de la comunicación. Lima: Felafacs, v. 32, ro: Editora UFRJ, 1997.
1992. p. 8-15. MICELI, S. A noite da madrinha. São Paulo: Perspectiva,
________. Consumidores e cidadãos. Rio de Janeiro: Editora 1972.
UFRJ, 1996. MORLEY, D. Television, audiences and cultural studies. Lon-
________. Culturas Híbridas. 2. ed. São Paulo: Edusp, 1998. don: Routledge, 1992.
CANTÚ, A.; CIMADEVILLA, G. Orientación, consumo, re- MORLEY, D.; SILVERSTONE, R. Domestic communication:
cepción y uso de los medios: una propuesta de articulación technologies and meanings”. Media, Cultura and Society. Lon-
conceptual. Revista Brasileira de Ciências da Comunicação: don: Sage, v. 12, 1990. p. 31-55.
recepção & consumo, v. 21, n. 2, 1998. p. 41-54. ORTIZ, R. A moderna tradição brasileira. 2. ed. São Paulo:
COHN, G. Sociologia da comunicação: teoria e ideologia. São Brasiliense, 1989.
Paulo: Pioneira, 1973. OROZCO, G. O telespectador frente à televisão. Communica-
DOUGLAS, M.; ISHERWOOD, B. O mundo dos bens. Rio de re. São Paulo: FCL, v. 5, n. 1, 2005. p. 27-42.
Janeiro: Editora UFRJ, 2004. RÜDIGER, F. Introdução à teoria da comunicação. São Paulo:
DURHAM, E. R. A dinâmica cultural na sociedade moderna. Edicon, 1998.
Ensaios de opinião. Rio de Janeiro: Inúbia, v. 4, 1977. p. 32-35. SILVERSTONE, R. From audiences to consumers: the hou-
EAGLETON, T. Teoria da literatura: uma introdução. São sehold and consumption of communication and information
Paulo: Martins Fontes, 1983. technologies. European Journal of Communication. London:
GIRARDI JR., L. A sociologia de Pierre Bourdieu e o campo Sage, v. 6, 1991. p. 135-154.
da comunicação. Tese de Doutorado. São Paulo: USP, 2004. SOUSA, M. W. de. A recepção sendo reinterpretada. Novos
GOFFMAN, E. Frame analysis. New York: Harper&Row, 1986. Olhares. São Paulo: USP, n. 1, 1998. p. 39-46.
________. A ordem social e a interacção. In: WINKIN, Y. SOUZA, M. C. J. de. A construção social de sentidos e o fenô-
(Org.). Os momentos e os seus homens. Lisboa: Relógio meno da recepção: em questão o papel dos realizadores. Fame-
D’Água, 1999. cos. Porto Alegre: PUCRS, n. 20, 2003. p. 46-56.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. WILLIAMS, R. Cultura e sociedade. São Paulo: Editora Na-
Belo Horizonte, Editora UFMG, 2003. cional, 1969.
HOGGART, R. As utilizações da cultura. Lisboa: Editorial ________. Television: technology and cultural form. London:
Presença, 1973. Routledge, 1990.
LÉVY, P. As tecnologias da Inteligência. 14ª reimpressão. São WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas. São Paulo:
Paulo: Editora 34, 2006. Nova cultural, 1989.