Economia
Vinicultura. Mesmo com sabor competitivo, vinhos produzidos no Estado ainda têm pouca aceitação
Genuinamente catarinenses
Danilo Duarte
redacao@noticiasdodia.com.br
Florianópolis - As temperatu-
ras mais baixas sugerem bebidas que
aqueçam e inebriem como o vinho,
seja branco, rose ou o tinto. Presente
na cultura da humanidade desde a
antiguidade, quando era associado ao
deus grego Baco, hoje o produto ga-
nha ar de romantismo. Neste domin-
go, pela primeira vez em Santa Cata-
rina, comemora-se o Dia do Vinho.
Fruto de um projeto apresentado por
produtores aos deputados estaduais,
a data serve para promover a cultura
no Estado e ampliar a participação
catarinense no mercado, ainda tímida
frente à produção nacional.
Os vitivinicultores de Santa Cata-
rina produzem cerca de 24 milhões de
litros de vinho por ano, segundo o Sin-
divinho (Sindicato das Indústrias do
Vinho Catarinense), que representa
84 vinícolas na região. As quinze cida-
des que mais produzem a bebida são
responsáveis por quase metade deste
total. As maiores produtoras de vinho
se concentram no Meio-oeste do es-
tado e abasteceram o mercado com
10,7 milhões de litros em 2009. Valor
que se distancia de longe do Rio Gran-
de do Sul, o maior produtor brasileiro,
com 341 milhões de litros fabricados
no ano passado.
A ideia de um “Dia do Vinho” se
espelha nas comemorações que já
ocorrem no Rio Grande do Sul e na
França. Durante este mês, produtores
e empresas ligadas à vitivinicultura
– cultivo das vinhas e fabricação do vi-
nho – promovem diversas atividades,
entre passeios, degustações e afins.
Ranking Produtores/litros (2009)
Alto Vale do Itajaí – Rio do Sul
– 300
Extremo-oeste – Iporã do Oeste
– 11.800
Médio Vale do Itajaí – Rodeio
– 37.200
Meio-oeste – Água Doce
– 14.800
Meio-oeste – Iomerê
– 1.629.182
Meio-oeste – Pinheiro Preto
– 6.792.185
Meio-oeste – Salto Veloso
– 169.196
Meio-oeste – Tangará – 686.616
Meio-oeste – Videira
– 1.443.079
Oeste – Chapecó – 7.055
Oeste – Cordilheira Alta – 8.660
Oeste – Palmitos – 33.490
Sul – Tubarão – 43.445
Sul – Urussanga – 96.817
Vale do Rio Tijucas – Nova
Trento – 866.548
Total: 11.840.373
fonte | Sindivinho (Sindicato das Indústrias do
Vinho Catarinense)
Diferencial. Paulo Piccoli, somelier e empresário, acredita que o associativismo é o que fortalece a produção local
Importados têm larga vantagem
Em termos de vinhos finos, a
balança é brutalmente desfavo-
rável para os produtores catari-
nenses. Enquanto são produzidas
cerca de 500 mil garrafas ao ano,
as importações do produto para
o Estado chegam a 10 milhões de
garrafas, segundo estimativas do
presidente do Sindivinho, Celso
Panceri.
Em Santa Catarina, de toda a
área plantada pelos 13 vitivinicul-
tores associados a Acavitis (Asso-
Potencial. Estado tem 84 vinícolas, concentradas na região do Meio Oeste
notícias do dia Grande Florianópolis sábado e domingo, 5 e 6 de junho de 2010
ciação Catarinense dos Produtores
de Vinhos Finos de Altitude), 51,5%
dos vinhedos fica em São Joaquim.
As outras cinco cidades que tam-
bém contribuem com o cultivo de
uvas são Água Doce, Campos No-
vos, Tangará, Urupema e Videira.
Entre as variedades mais pro-
duzidas, destaque para a Cabernet
Sauvignon (49,66%), considerada
a rainha das uvas tintas. A segunda
variedade de uvas é a Merlot, que
tem sabor mais frutado (17,14%).
cristiano andujar/nd
cristiano andujar/nd
Geografia. Lavouras existem apenas em altitude, com cinco safras anuais
Associativismo é diferencial
À procura da diversificação de
produtos no mercado nacional, os
produtores do Estado passaram a
se associar para fortalecer o setor
e poder cumprir a legislação. Para
o presidente da Acavitis, Eduardo
Bassetti, esta é a oportunidade para
mostrar que a vocação da vitivini-
cultura brasileira não está voltada
apenas para a produção de espu-
mantes. “Podemos produzir vinhos
brancos e tintos de alta qualidade,
comparados a excelentes vinhos do
mercado mundial”, afirma.
Ele lembra que a produção de
vinhos finos de altitude, em Santa
Catarina, tem apenas cinco safras.
“E somente agora, os vinhedos mais
antigos estão atingindo a maturida-
de”, diz.
É exatamente no fato de serem
considerados novos no mercado que
está o obstáculo para que aumente o
consumo do produto produzido em
Santa Catarina. Um dos especialistas
em vinhos em Florianópolis é o som-
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Novas regras
Na última semana foi aberta para
consulta pública as propostas de no-
vos padrões de identidade, qualidade
de vinhos e derivados de uva e da be-
bida. A intenção é atualizar as normas
da portaria 229/1998. Um exemplo é
a inclusão de termos qualitativos para
os vinhos, como reserva, reserva es-
pecial e gran reserva.
A atualização das normas tam-
bém possibilitará a padronização da
nomenclatura para outras bebidas
que não existiam na época da edição
da primeira lei, como as do tipo cooler
e alcoólico composto. Outra proposta
é eliminar a prática de diminuição da
quantidade de açúcar na bebida, o
que eleva o grau de álcool.
O presidente do Ibravin (Instituto
Brasileiro do Vinho), Júlio Fante, ava-
lia a proposta como positiva, pois fará
o setor debater o assunto de forma
técnica.
divulgação/nd
melier e empresário Paulo Piccolli.
Dono de uma enoteca no Canto da
Lagoa, ele explica que ainda não há
o hábito popular em comprar os vi-
nhos produzidos no Estado.
Para Piccoli, outro fator que
mostra a pouca presença da bebida
fabricada no mercado do Estado “é a
quantidade de impostos e a falta de
tradição, já que são fabricantes re-
lativamente novos”. De acordo com
o presidente do Sindivinho, Celso
Panceri, os impostos representam
cerca de 48% do preço de uma gar-
rafa da bebida.
A falta de tradição,
já que os fabricantes
são novos, e o peso dos
impostos influem.”
Paulo Piccoli,
somelier e empresário