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Jacques Ranciére POLITICAS DA ESCRITA Traduc¢do de Raquel Ramalhete 4 RASS Autor: Ran Titulo: Poli a escrita. FPPREMMEDY ee PEFACIO A palavra politica, assim como a palavra escrita, ¢ certamente ja em uma multiplicidade de sentidos, e a conjungao das duas submetida a lei dessa multiplicago. No entanto, quando se fala ie politicas da escrita, nao se quer inferir da polissemia da escri- dispersao do politico que a conjungao das duas é indeterminada. trario, € um niicleo de pensamento muito definido que dirige inagao do conceito © a uma disjungao essenc ., no pode ser realizado sem significar, ao mesmo tempo, aqui- realiza: uma relacdo da mao que traga linhas ou signos com o que ela prolonga; desse corpo com a alma que o anima ¢ com 05 corpos com os quais ele forma uma comut lade; dessa co- lade com a sua propria alma. Na atengao apaixonada que as les escolarizadas dao ao aprendizado da escrita ¢ 4 posigao do corpo do jovem aluno, mais ainda que a perfeigao do que ve, transparece um valor fundamental: antes de ser 0 exerci- juma competéncia, o ato de escrever é uma maneira de ocupar Wvel e de dar sentido a essa ocupagao. Nao € porque a escrita ¢ 0 ento do poder ou a via real do saber, em primeiro lugar, que isa politica. Ela é coisa politica porque seu gesto pertence a iciio estética da comunidade e se presta, acima de tudo, a ale- sa Constituigao. lo termo de constituigao estética deve-se entender aqui a par- sensivel que da forma a comunidade. Partilha significa duas 4 participagao em um conjunto comum ¢, inversamente, a se- 4 distribuicao dos quinhées. Uma partilha do sensivel é, por- modo como se determitta no scnsfyel a relagao entre um con- mum partilhado ea divisao de partes exclusivas. Antes de ser 1 de formas constitucionais ou de relagées de poder, uma itica é uma certa divisao das ocupagdes, a qual se inscreve, Hiserita z por sua vez, em uma configuracao do sensivel: em uma relagao entre ‘os modos do fazer, os modos do ser ¢ os do dizer; entre a distribuigao dos corpos de acordo com suas atribuigées e finalidades e a circula- cao do sentido; entre a ordem do visivel e a do dizivel. Falou-se, se- guindo Benjamin, de uma “estetizacao” moderna da politica, que al- guns assimilaram a uma “espetacularizagao”. Mas a politica nao se tornou “estética” ou “espetacular” recentemente. Ela é estética desde © inicio, na medida em que é um modo de determinagao do sensfvel, uma divisio dos espacos — reais e simbélicos — destinados a essa ou Aquela ocupagao, uma forma de visibilidade e de dizibilidade do que € proprio e do que é comum. Esta mesma forma supée uma divisao entre 0 que é e o que nao é visivel, entre o que pertence a ordem do discurso e 0 que depende do simples ruido dos corpos. A escrita é politica porque traga, ¢ significa, uma re~ ivisdio entre as posic¢des dos corpos, sejam eles quais forem, e 0 poder da palavra soberana, por- que opera uma re-divisdo entre a ordem do discurso ¢ a das condigoes. £ essa re-divisdo que esta em jogo no mythos platonico que, ha vinte e cinco séculos, governa 0 pensamento ocidental sobre a escri- ta. O mythos do Fedro fixa uma dramaturgia que continuou a ser re- presentada nas mais diversas encenagées e contextos. Nele, a escrita sofre a dupla critica, aparentemente contraditéria, de ser ao mesmo tempo muda ¢ falante demais. Ela é muda. Entendamos com isso que nao ha nenhuma voz presente para dar as palavras que cla arruma o tom da verdade delas, para acompanhd-las de modo a semed-las no espirito preparado para recebé-las ¢ fazé-las frutificar. A escrita esta liberta do ato de palavra que da a um logos sua legitimidade, que 0 inscreve nos modos legitimos do falar e do ouvir, dos enunciadores e dos receptores autorizados. E por isso, também, que ela é falante demais: a letra morta vai rolar de um lado para , outro sem saber a quem se destina, a quem deve, ou nao, falar. Qualquer um pode, en- tio, apoderar-se dela, dar a ela uma voz que nao é mais “a dela”, construir com ela uma outra cena de fala, determinando uma outra divisio do sensivel. Hé escrita quando palavras ¢ frases s4o postas em disponibilidade, a disposicao, quando a referéncia do enunciado ¢ a identidade do enunciador caem na indeterminagao ao mesmo tempo. Na oposigao sublinhada entre a voz viva ¢ a eserita morta, é preciso reconhecer uma oposigao mais essencial entre dois modos de circula- gio dos enunciados: um enunciado acompanhado e um enunciado li- vre. O enunciado acompanhado — socorrido, explicado, conduzido 8 Jacques Ranciére dlo ponto de partida ao ponto de destino pelo dono — é, como se sabe, 4 matriz de qualquer pedagogia. Mas ele € matriz na medida em que qualquer pedagogia é, ao mesmo tempo, uma socio-logia — uma atu- slizagao do logos da comunidade enquanto partilha do logos — que supOe, ela propria, uma ontologia -, um logos do modo como o logos y questo de ser. No Fedro, antes do mito da invengao da escrita, \um outro mito, o das cigarras, havia separado os dialéticos, que tem "4 ocasiio de trocar palavras a qualquer hora do dia, e os trabalhado- que vém, pertinho deles, fazer a sesta nas horas de calor. E, ante- mente, o mito da parelha de cavalos alados tinha legitimado, na lem da verdade, essa partilha das condigées. Tinha ligado a diver- le das identidades sociais @ capacidade ou a incapacidade de su- far a visio das verdades celestes. A inferioridade de uma condi patenteava sua exclusdo dos modos verdadeiros do ver e do di Ora, a escrita é aquilo que, ao separar 0 enunciado da voz que 0 ia legitimamente ¢ o leva a destino legitimo, vem embaralhar quer relagao ordenada do fazer, do ver e do dizer. A perturba- tedrica da escrita tem um nome politico: chama-se democracia. condicao 6rfa do escrito sem pai corresponde estado de uma po- sem pastor nem arqué. Pois a democracia nao é um modo par- 1 de governo. Ela é, bem mais radicalmente, a forma da comu- repousando sobre a circulagao de algumas palavras sem cor- pai — povo, liberdade, igualdade ... —, que determinam a propria de sua manifestacao, afastando qualquer relagao “na- * entre a ordem das palavras ¢ a das condigdes. A perturbacgao ita muda/falante é, assim, mais profunda que a da mimese tea- unciada pela Republica. Antes de ser 0 regime do teatro men- a democracia é 0 regime da escrita. E a escrita é, indisso- ite, duas coisas em uma: é 0 regime errante da letra rfa cuja de nenhum pai garante, mas é também a propria textura da rigdo imutavel do que a comunidade tem em comum. jdade moderna tornou a representar a fabula platénica, inde- nte. Fez isso nessas “autobiografias” de filhos do povo que — que alegorizam — 0 encontro com a escrita em narrativas Jberta casual e fulminante da letra 6rfa que sao, elas também, moda platénica: mitos alternativos do destino das almas. @ assim, de um modo sempre mais ou menos parecido, a ca- do encontro do pobre com o mundo do logos: o livro sem titulo comprado numa banca de rua ou achado em alguma casa abandonada; ou entdo, menos que 0 livro, 0 pedago de papel catado no chao, no qual esto inscritos os versos mais sublimes da lin- gua; ou as folhas de embalagem de compras, cuja colegao reunida por acaso compée os fragmentos fabulosos de um livro infinito.! Mas a perpetuidade da fabula platénica faz-se ouvir principalmente no lamen- to monotono, que atravessa os séculos, contra as devasta¢Ges da letra muda/ falante. Os filésofos da monarquia, de Hobbes a Burke, denun- ciam essas palavras vazias e essas frases desviadas do uso, que os in- citadores de sedigdo vao buscar no texto dos oradores antigos ou nas paginas do texto sagrado, para transformé-las em armas nas maos de homens sem importancia, que nao tém nada a ver com a politica. Os homens do Século das Luzes e os fundadores da escola republicana alarmam-se com a inquietagao da “desclassificagdo” que a circulagao aleat6ria do livro e os sonhos que ela alimenta trazem ao curso das existéncias dedicadas ao trabalho. Os idedlogos da contra-revolugao legam aos pensadores da sociologia positiva a obsessao da ruptura in- troduzida no corpo social e na religido comunitaria pelo culto “pro- testante” ao preceito de que “so vale a Escritura”. Assim se proclama, interminavelmente, a doenga da escrita: doen- ¢a da circulagao desses corpos incorporais que devolve a propria con- tingéncia qualquer posigao legitima de fala e qualquer ordem das fun- des do corpo comunitario. Contra isso, tem pouco poder a discipli- na que gostaria de atribuir a cada palavra a coisa exata que ela repre- senta ou a idéia de que ela é signo. Ao mal, sempre o mesmo, é sem- pre também o mesmo remédio que é enunciado: o que pode corrigir 0 mal da escrita é uma outra escrita, menos que escrita, mais que escri- ta, falando quando ¢ preciso falar, esquivando-se quando é preciso se esquivar. Menos que escrita: um puro trajeto do logos que nao se ex- poe a nenhum desvio, que nao passa por essas palavras/pinturas e es- ses homOnimos/simulacros que falam com todos sem serem destina- dos a ninguém. Mais que escrita: uma escrita cujo teor seja indelével, infalsificavel, pois que tracada na propria textura das coisas, desenhan- do 0 corpo mudo/falante da propria verdade. E 0 sonho dessa outra escrita, em resumo, que € alegorizado no estranho episddio que se segue, no Fedro, 4 hist6ria do inventor Thoth e do rei Tamos. Sécrates responde a Fedro (que faz ironias sobre as histérias egipcias que o primeiro sempre tem 4 mao, muito oportuna- mente) com um curioso argumento, diante do qual seu locutor fica es- tranhamente desarmado. Nossos ancestrais, diz ele, ouviam os ordculos 10 Jacques Ranciére dos deuses que se exprimiam através do ruido do vento nos carvalhos dle Dodona e nao se preocupavam com a origem da mensagem, con- tanto que ela fosse verdadeira. Nao devemos perguntar como é que se reconhece, com certeza, a verdade do vento no carvalho. Devemos, antes, reconhecer neste caso a extrema coeréncia de uma certa idéia verdade: um puro trajeto do félego que nao para nas palavras mu- {alantes; ordculo anterior ao de Apolo, o ambiguo, projeto de uma rita sem mentira porque nao escrita, mas sim comunicada como a jragdo imediata do verdadeiro. E devemos reconhecer também a neira pela qual essa velha hist6ria egipcia continua seu caminho na rnidade. £ ela que, nos tempos revolucionarios ¢ romanticos, ispira o sonho do jovem Wordsworth: o de um meio “mais proximo Natureza propria dele”, que permitiria ao pensamento difundir o “espirito”2, o de um ritmo que torna os movimentos livres das ns equivalentes aos movimentos da crenca comum. Esse sonho de apresenta¢ao imediata, nao mimética, do sentido no sensivel, ainda ‘a os sonhos dos vanguardistas da Europa modernista quan- jallarmé, para o livro do futuro, busca modelo na escrita silen- da dangarina ou na confrontagao do “rico mutismo” da multi- ©om o poema “tanto mais compreensivel quanto calado” da or- “onde jaz a coletiva grandeza”; ou, ainda, quando o futuris- \agina um poema apropriado ao ritmo das maquinas, a instan- de da propagacao elétrica, até mesmo ao pipocar das metra- s. Do semeamento da alma do discipulo as sementeiras do ho- novo, do oraculo da piedade ancestral ao ritmo da modernidade passando pelo signo mudo que imita “a pega escrita no félio do }, um mesmo modelo atravessa os tempos ¢ os géneros do discurso: escrita menos que escrita, puro trajeto do sentido quase-ima- do sentido “sem instrumentos de escriba”, harmonizado com vital da comunidade sa. s a boa escrita também é a escrita mais que escrita, aquela cuja 6 subtraida aos suportes frageis e aos signos ambiguos da es- sagada de modo indelével ¢ infalsificavel na propria textura das Assim, a idade romantica unir4 a uma teoria da natureza ci- ma de Schelling “encerrado em uma escrita secreta e mara- "4, uma atencao as formas mais elementares da matéria e da nos sulcos da pedra ou nas espirais da concha, deve-se ler, ja ‘em sua forma rudimentar, a escrita viva do espirito, aquela sentido nao se separa do corpo que o apresenta. As pertur- Escrita iu bagGes e tormentos da religido da escrita opde-se esse sentido lacrado nas coisas, mudo ainda para quem nao é capaz de decifrar seu senti- do, reservado a comunidade histdrica suscetivel de transforma-lo em seu principio de vida. Essa unio de uma simbélica hermética a uma geologia positiva do sentido se prolonga na utopia tecnolégica dos en- genheiros saint-simonistas das almas, tragando diretamente na terra, por estradas de trilhos e de agua, as vias da comunicagao auténtica e os signos da prosperidade futura. Mas ela se prolonga também, mais sobriamente, quando a grande utopia proposta por Michelet sobre o sentido que surge da terra e do timulo se transforma na teoria cienti- fica da “testemunha muda”, fundadora da ciéncia historica nova da longa duragao e das profundidades da vida material. Entre o sopro imaterial do ordculo € o sentido gravado na mate- rialidade das coisas fica, é claro, o grande paradigma da Escritura con- firmada pela encarnagao. O que vem, duravelmente, realizar 0 resgate da letra e sustentar todos os sonhos de uma escrita mais que escrita é a encarnagao crista do Verbo, dando 4 letra seu espirito. S6 um corpo vivo, um corpo que sofre, é capaz, em tiltima instancia, de garantir a escrita. Mas 0 grande paradigma do resgate da letra também é o lugar do pa- radoxo reconhecido como verdadeiro. Somente o livro da garantia que a verdade do livro foi apresentada pela carne. Somente as palavras vem atestar que é mesmo escrita 0 que se realiza nas chagas de uma carne como no sopro do vento, nas estrias da pedra ou na estrada de ferro. Somente um excesso de escrita “morta” pode incluir a “voz viva” na escrita morta. Para conjurar o destino da lei escrita — o de uma receita para qualquer doenga deixada por um médico desaparecido —o legis- lador platénico das Leis deve entrelagar no texto da lei, em um tecido indestrutivel, sua opiniao sobre o Belo ¢ o Feio ¢ suas exortages aos cidadaos*. Mas esse suplemento de voz nunca seré nada além de um suplemento de escrita. E é isso mesmo que a arquitetura do didlogo platénico j4 atesta, a seu modo: mimese anti-mimética, mas também dispositivo de escrita que mantém juntas a dramaturgia da recusa da escrita e 0 mito da escrita mais que escrita. Talvez seja esse 0 disposi- tivo que abre o espago textual que os modernos chamarao de literatu- ra, Plato, inventor do romance,: essa é a hipétese que Friedrich Schlegel enunciara e que o jovem Nietzsche lembraré antes que Bakhtin explo- re as relagoes entre 0 dialogo filosofico, a satira menipéia e 0 romance. O Fedro, de fato, retine quase todos os tragos que Bakhtin apontara como constitutivos da “polifonia” romanesca: dilogo, parddia, entrelagamen- 12 Jacques Ranciére to das vozes, tema amoroso ligado ao tema da viagem iniciatica. Mas talvez seja necessario ler de um modo diferente do dele a relagao que o “dialogismo” estabelece entre o “literario” e 0 “social”. Faremos aqui 4 seguinte hip6tese: o dialogismo nao é a invasio da monofonia do , discurso nobre pela multiplicidade das vozes do baixo e pelo parodismo | popular. A forma plat6nica do didlogo e da dramaturgia do persona- | gem socratico sao, inversamente, uma invengao do discurso nobre, uma imitagao do logos vivo que protege a propria reserva contra 0 que a ameaga verdadeiramente: nao o vigor da palavra “popular”, masa dis- perso e o desvio democraticos da escrita, a aventura do discurso “mu- do”, circulando sem voz que garanta sua enunciagao e a validade do que ele diz. Mas 0 dialogismo so preserva a palavra “verdadeira” dos desvios da escrita a custa de se dedicar mais radicalmente ainda aos po- deres da escrita: poderes de se desmultiplicar para imitar sua propria supressao, para relatar os prodigios do sopro imaterial, da semeadura da verdade na alma ou da inscrigao dela na carne das coisas. Entao, é um jogo muito mais complexo que é jogado entre os poderes do escrita ea ordem on a desordem social. Nao sao, de modo algum, as vozes de abaixo ou o tumulto dos corpos populares que vem irromper no palco do discurso do alto. Sao antes, na verdade, as pa- lavras e as frases evadidas desse discurso que vém separar deles mes- mos Os corpos populares e instituir neles a perturbagao democratica da letra sem corpo. No principio da democracia, ha o proprio poder da literalidade. Entendamos com isso a aventura da vida banal agar- rada pela escrita, arrancada, pelo poder de algumas palavras e algu- mas frases, 4 obscuridade do mundo onde sao produzidos e reprodu- zidos os modos de viver € 0s corpos vivos.® Entao, é com a invengdo de novas maquinas de escrita que o “discurso do alto” deve, incessan- temente, se proteger dos proprios efeitos de disseminagao. Mas essas maquinas de escrita, é claro, nao param de realimentar a inquietagao que gostariam de conjurar, na multiplicagao dos jogos entre os mitos renovados da verdadeira escrita, que dao a comunidade seu corpo glo- rioso, e as casualidades daquilo que a escrita, interminavelmente, dei- Xa escapar para maos a que elas nao sao “destinadas”. A partir dai, determina-se a dupla relagao da literatura com 0 mito da palavra viva e com as formas da politica. A literatura ¢ 0 modo do discurso que se institui quando a recusa da mentira pura e simples da _ mimese poética leva a discussao sobre a verdade ou a falsidade da es- -crita, Para além da mimese, recusada por Platao, regulamentada por Politicas da Escrita Cais Aristételes, expulsa pela revolugao estética moderna, estende-se 0 ter- reno em que a questao da semelhanga — da verdade e da falsidade da representacao — cede o lugar a uma outra questao de verdade: a do corpo que pode confirmar a letra numa escrita mais ¢ menos que escrita. E no jogo dessa outra verdade que a literatura se acha presa. Ela € essa poesia do “além da poesia”, a qual cabe a tarefa de enunciar o mito da outra escrita. Mas ela mesma nao deixa de denunciar essa tarefa, de se esquivar diante da obrigagao impossivel de escrever sobre papiro, per- gaminho ou papel, com os signos do alfabeto comum e as palavras e as frases de todo o mundo, as marcas de uma outra escrita, o testemunho do verbo vivo encarnado. E nesse ponto, talvez, que se deve determi- nara relacao tensa entre a literatura ¢ a religiao quea tradicao hegeliana colocou no centro de suas preocupagées. O que faz a ligagdo entre a “yerdade” dos testemunhos evangélicos e a ficgao quixotesca do louco do livro que dé ao romance seu emblema, nao é nem o timulo vazio do Senhor, conforme alegado por Hegel e Lukacs, nem 0 realismo po- pular encontrado por Auerbach na cena da negagao de Pedro. E antes, na verdade, a propria tensao entre a verdade do verbo vivo que 0 escri- to deve confirmar e a esquivanca infinita, a necessdria negacao dessa verdade nas palavras que devem dizé-la. A literatura escande esse miituo pertencer entre a verdade plena ¢ as palavras vazias, cujo reino se es- tende além do dominio balizado pelas regras ordenadas da mentira mimética. O que se opde 4 mimese, com efeito, nao é, como gostariam alguns, o puro jogo ou o puro mistério de uma linguagem que se retor- ce sobre si mesma, encantando-se com seus poderes emancipados ou afundando-se em suas trevas interiores, no puro ser de uma palavra que nao “fala” mais. E 0 confronto entre, de um lado, 0 ato singular de escrever e a palavra livre do jogo mimético com, de outro lado, as mul- tiplas formas do grande mito da “verdadeira” escrita. O século da abso- lutizagao do literario comega quando Schlegel afirma a linguagem como “poema do género humano inteiro”. Termina entrea reivindicacio, feita por Rimbaud, de um “verbo poético acessivel a todos 0s sentidos” ¢ a pretensao de Mallarmé a elevar a pagina de escrita “a altura do céu estrelado”. E 0 século que vem a seguir comega reafirmando, com Proust, a idéia de um livro em que “estilo e fabula” seriam feitos “da substan- cia transparente de nossos melhores minutos””. Esse jogo da literatura com a encarnagao que ela diz e que ela desfaz define também a relagao singular dela com a aventura demo- eratica da letra 6rfa. Alias, o estatuto do cavaleiro errante, fabula que 14 Jacques Ranciére simboliza a modernidade literdria, ¢ 0 da dispersao da letra num mundo em que o advento dos poderes da palavra impressa coincide com 0 apagamento do Verbo encarnado. A retirada da promessa da verda- de viva é, também, a aventura multiplicada dos destinos desviados pelo trajeto da letra sem pai. As narrativas de filhos do povo que nos con- tam a descoberta miraculosa do livro separado da colegao ou despen- cado, reduzido a papel de refugo, tém, todas, um modelo muito pre- ciso: 0 manuscrito arabe que o narrador do Dom Quixote, suposta- mente, encontrou por acaso nas mos de uma crianga que o estava levando para os tintureiros e que se revela ser a continuagao da histé- ria perdida de seu herdi. Que as “autobiografias” de filhos do povo repitam comportadamente alguns topoi romanescos nao é somente um caso de economia propria dos detentores de um “capital culrural” escasso. O. que estd em jogo nesses textos é uma cumplicidade mais essencial entre um modo do discurso e um modo da comunidade, en- tre literalidade e democracia. Ha democracia —e politica, conseqiien- temente — porque hd palavras sobrando, palayras sem referente e enun- ciados sem pais que desfazem qualquer lei de correspondéncia entre a ordem das palavras e a das coisas. A desergao democratica da incor- poragdo comunitaria é soliddria da desergao literdria da encarnagao. Literatura e democracia sao dois modos de invengao de quase-corpos ou de incorp6reos cujo dispositivo fragiliza as encarnagées e as iden- tificagdes que ligam uma ordem do discurso a uma ordem das condi- Ges. Essa comunidade estética da separagao é uma comunidade poli- tica da deslegitimacao. O burgués Flaubert pode continuar se enfure- cendo contra as abominagées do igualitarismo e afirmar que vale vin- te eleitores de Croisset. Nem por isso, a excepcionalidade literaria que ele reivindica é menos estritamente correlativa do principio de igual- dade de qualquer representavel e da capacidade da literatura em dar a qualquer vida obscura o brilho do Unico. A absolutizagao da litera- tura fica no mesmo nivel que o advento aleatério do anénimo. Evidentemente, essa solidariedade é, também, um antagonismo. A literatura, desde que deu a si mesma esse nome, nao deixou de que- rer desatar o n6 que prende sua unicidade a banalidade democratica. A partir dai, define-se uma outra guerra da escrita, uma guerra civil, de certa maneira. Ela pode scr feita com armas que nao ferem. E as- sim que as coisas se passam quando os escritores consagrados respon- dem com um apadrinhamento ambiguo 4s solicitagdes desses colegas inesperados que sao os escritores operdrios. Estes nao sdo, com efei- Politicas da Escrita 15 to, simplesmente epigonos inofensivos. Quando se apropriam da lin- gua elevada do poema e dividem seu tempo em duas partes, uma do trabalho diurno da ferramenta com que ganham o pao e outra do la- bor noturno da caneta que da a verdadeira vida, eles transtornam a diviso do sensivel em que também se apoiava 0 estatuto do poeta. E éaesse transtorno que se contrapée a resposta ambigua de Victor Hugo a dedicatéria de um cortador-de-pedras-de-cantaria-pocta: “Ha, em seus versos, mais que belos versos. Ha uma alma forte, um coracdo elevado, um espirito nobre e robusto. Em seu livro, ha um futuro. Continue; seja sempre 0 que é, poeta e operario, quer dizer, poeta e trabalhador”®. A ironia do cortador de pedras nao tem dificuldade em apontar a mé fé do “mais”. O que Hugo quer é separar os versos que sao “somente” belos versos — que sao literatura — dos que sao “mais”, quer dizer, menos que literatura: a expressao das propriedades de um espirito, do modo de ser que convém a uma ocupagao social. Mas esta guerra da escrita inscreve-se mais profundamente na propria fabula literdria ¢ na mancira como ela exilaa literatura. A auto- afirmagao da literatura se efetua através de uma fabula privilegiada: a que descreve a infelicidade do ser siuuples em cuja vida a escrita en trou, em cujas mos caiu um livro que nao era destinado a ele: Ruy Blas, Emma Bovary, Judas 0 Obscuro € seus incontaveis irmaos ¢ ir- mas, Mas a fabula tem duplo efeito. De fato, a demonstracao das in- felicidades que a letra errante traz s6 vai até 0 extremo a custa de li- gar o que é proprio da literatura, preservado desse modo, a alguma figura nova do velho mythos, da indestrutivel utopia antiliteraria da escrita nao escrita: a utopia balzaquiana do padre-engenheiro que cura as almas doentes do livro e cumpre 0 mandamento do verbo divino em obras de canalizagao e de irrigagdo ou a utopia mallarmeana do livro/sinfonia oposta ao correr democratico da tinta sobre a folha dei- tada. Figuras de uma hiperescrita que s6 pode acabar em impossibili- dade da literatura: impossibilidade de harmonizar, no livro, a mensa- gem do espirito e o sensivel da obra; recuo indefinido do livro escrito na lingua nova do espirito encarnado. Se a literatura se separa da er- rancia banal da letra, ela s6 pode se ultrapassar — se suprimir — em uma estética generalizada que da ritmo ao movimento da comunida- de nova, das sementeiras e das festas do futuro. Ela precisa, entao, re- tragar a linha divis6ria que, ao separd-la dos ritmos da vida nova, a devolve a “ela mesma”, isto é, também 4 comunhao do nome sagra do de literatura com aquele outro “tao lamuriado” de democracia.? 16 Jacques Ranciére Essa cumplicidade conflituosa fica submetida a um embarago su- plementar quando uma ciéncia — uma idéia da ciéncia — pretende romper ao mesmo tempo com a vaidade literaria e com os chavées de- mocraticos. Essa dupla ruptura marca 0 projeto da ciéncia social. Na era da radicalidade revolucionaria e da absolutizacao do literario, esta ultima pretende trazer o rigor da ciéncia, aliviada da carga das pala- vras vazias e das ficgdes, aos movimentos profundos da sociedade, que otumulto teatral do palco revolucionario e democratico exprime ¢ ocul- ta ao mesmo tempo. S6 0 principio do método cientifico certo com- preende uma guerra mais fundamental da escrita. O mal que a jovem ciéncia quer remediar é a divisao do corpo comunitario pela desordem da escrita: a desordem das palavras sem referentes e dos enunciados mudos/falantes que instituiram o palco revolucionario. A sociedade e ao regime da escrita democratica, ela opde a ciéncia que, armada com palavras exatas, deve fornecer 4 comunidade um novo corpo de cren- gas coletivas. Essa vontade, que a sociologia e a hist6ria encarnam no mais alto grau, esbarra, no entanto, no seguinte paradoxo: nem a lin- gua dos signos matemiticos nem a lingua despojada da ciéncia exata sao capazes de curar 0 excesso democratico das palavras. S6 a litera- tura € que pode curar a inquietagao da literalidade democratica. Cer- tamente a literatura é impotente para dar as palavras os referentes que clas nao tém. O que cla pode emprestar, em troca, é um corpo. E a literatura tem esse poder em fungdo de uma capacidade singular: a capacidade de representar, ela mesma, o papel de antiliteratura, de dar aos enunciados flutuantes da escrita democratica uma carne “anti teraria”, de fazer com que eles paregam carregar consigo 0 corpo vivo da sua propria enunciagao. E assim que Michelet faz para dar uma voz as letras errantes da palavra revolucionaria, um corpo a essa voz, uma terra a esse corpo. A histéria das mentalidades fara o mesmo que ele, para transformar as guerras de escrita da heresia medieval em mani- festagdes de um corpo popular enraizado em seu lugar. O paradigma da escrita que a historia “romantica” de Michelet transmite a ciéncia sObria dos Analles e da “nova hist6ria” é precisamente isso: um modo de utilizar a literatura como antiliteratura, para dar as letras mudas/ falantes da escrita o corpo mudo/vivo da verdade delas e permitir as- sim a hist6ria tornar-se ciéncia sem deixar de ser historia. Define-se, dessa maneira, um complexo palco, no qual discursos eruditos ou vulgares, filos6ficos ou poéticos se encontram e se separam, se superpdem ou se embaralham para unir e desunir, de diversos mo- Politicas da Escrita dos, a linha divis6ria dos discursos e dos saberes e a linha divis6ria das condigées. O propésito desta obra se determina a partir dai. A primei- ra parte se aplica a marcar alguns pontos de referéncia tedricos para refletir, em sua forma nuclear, sobre os desdobramentos e as disjungGes da escrita que regulamentam esse jogo. As partes seguintes tentam tra- car algumas dessas aventuras da escrita que vém atravessar as eras da politica, os modos do discurso ou as disciplinas do saber. Balizaremos, por exemplo, o encontro — solidario e conflitante — entre a revolu- Gao estética ea revolugao politica moderna através do destino: o nome de liberdade, um operador poético-politico de jungao ¢ de disjungao entre a escrita do poema e a apresentagao sensivel da politica (“Transportes da liberdade”). Observaremos, em alguns exemplos, o modo como 0 acompanhamento énunciativo do poema lirico se harmoniza ou de- sarmoniza com os modos novos segundo os quais se efetua, da Revo- lug4o Francesa a Revolugo Soviética, a presentificacdo sensfvel do sen- tido da comunidade nova: o percurso de um territério que permite re- conhecer a adequa¢ao dos conceitos ¢ das realidades; 0 canto do povo e de seus exércitos desposando o movimento do futuro. Na escrita de uma comunidade do sensfvel, 0 tragado do poema experimenta 0 pa- rentesco com a escrita sensivel da comunidade e sente a necessidade de se desviar dela, de retracar a linha divisoria e de passagem entre as pa- lavras e as coisas: na concentragao do entusiasmo revolucionario de Wordsworth sobre uma democracia Ifrica da sensa¢do comunicada, a insisténcia de Rimbaud em revestir 0 canto do futuro com os refrdes idiotas da infancia mendicante (“As vozes ¢ 0s corpos”), ou a constru- 40, por Mandelstam, de um dispositivo de escrita que reordena as re- lagées da metaforicidade poética com a metaforicidade politica, da auro- ra revolucionaria soviética com a aurora grega da liberdade e do poema. Buscaremos, em outros pontos, marcar os limites que circunscre- yem 0 territorio da narrativa-ciéncia do historiador e as formas possi- veis dessa escrita. Ele s6 pode se separar da velha “crénica” e evitar de- saparecer na ciéncia dos nimeros 4 custa de adotar um certo paradig- ma de escrita: paradigma romAntico da escrita diretamente nas coisas (“As palavras da historia”). Assim, o romantismo de Michelet desenvolve em todo seu rigor uma conceptualizagao pratica da territorializagao do sentido: modelo da “outra” escrita, da escrita do verdadeiro, em que as palavras que escaparam do livro sao reinterpretadas como vores da terra. Mas essa escrita do verdadeiro, como as outras, s6 se da por um uso especial dos recursos da escrita comum: por exemplo, um certo uso dos 18 Jacques Ranciére tempos da lingua que, paradoxalmente, privilegia o presente na escrita do passado. Buscamos mostrar como essa tensao originaria da “escri- ta” do verdadeiro transmite a s6bria historia cientifica uma imposigao paradoxal; para se preservar como narrativa-ciéncia, esta teve de se desviar de um presente politico marcado por todos os torneios democraticos da supradeterminagao escritural em diregado aos tempos perdidos da ime- diata legibilidade hipotética do sentido no sensivel. Mas ela também teve de ligar sua sorte ao modo gramatical ¢ ontoldgico do presente, o modo que suprime a dupla auséncia que ameaga, do interior, 0 objeto da his- toria: a auséncia das palavras nas coisas e a do passado no presente. A ciéncia historiadora conseguiu, dessa maneira, pér em pratica 0 para- digma romantico da verdade, tornando-o, ao mesmo tempo, invisivel no saber das “mentalidades”. Mas, ao esquecer assim 0 modo de ver- dade que lhe da base, se vé obrigada a enfrentar o limite absoluto da narrativa historiadora que é chamado de revisionismo. Nesse limite, 0 “bom” método cientifico que quer separar a realidade dos fatos e a vai- dade das palavras junta-se ao ressentimento politico contra as palavras sem referente ¢ os cnunciados “vazius”, responsaveis pela perturbacdo democratica e revoluciondria. E ele vé se erguer a caricatura do nega- cionismo como méquina propria para recusar qualquer evento, em nome da impossibilidade de se comprovar totalmente, algum dia, 0 exato equi- valente do que ele nomeia (“Os enunciados do fim e do nada”). Assim, as divisées politicas da escrita, de que damos aqui algumas ilustragées, deslocam tanto as divisGes habituais das disciplinas quan- to as distribuigGes comuns dos campos filos6ficos ou politicos. O “liberal” Tocqueville, ancestral reivindicado pela sociologia ¢ pela ciéncia polf- tica racional, pde em pratica‘um procedimento politico-poético, que par- tilha com Michelet, o republicano romAntico e “visionario”: aquele que, pela territorializagdo do sentido, conjura a inquietacao da palavra de- mocratica errante. Utiliza-o de modo diferente, sem diivida: sua cons- truco politico-poética do “lugar” americano dispersa aquilo que a cons- trugao que Michelet faz do lugar materno-nacional-republicano enra- iza na terra e no tamulo. Em todo caso, a propria sabedoria realista e liberal mostra-se ai como uma variedade, sem privilégios, da constru- gao utopica do lugar que apazigua a guerra da escrita (“O continente democratico”). Sob esse aspecto, a viagem ao pais onde devem ser vis- tasas marcas da “boa” democracia merece ser comparada a viagem tex- tual do filésofo marxista Althusser procurando reencontrar, no texto de Marx, ou em suas lacunas, a “verdadeira” filosofia marxista, no ponto Politicas da Escrita 19 em que ela passa do terreno da ideologia para o territorio da ciéncia (“A cena do texto”). Mas os cruzamentos nao param ai ¢ buscamos mostrar como a viagem através da textualidade marxista ¢ sua politica se encon- trava comas viagens de Dom Quixote ou como implicava um pensamento sobre o teatro que retornaya a teatralidade do texto. Redistribuindo a ordem deste livro e tornando a cruzar os trajetos que ele prope, pode- riamos fazer surgir jungdes novas ¢ significativas: a que une 0 filésofo marxista Althusser e 0 filsofo analitico Searle em uma revalorizacao anti- platénica da mimese teatral, esta mesma servindo a causa platnica da anti-escrita; ou ainda a que aproxima 0s itdlicos ¢ as aspas que drama- tizam a pagina de escrita althusseriana das virgulas e dos brancos que fazem “pensar” o espaco na pagina de escrita mallarmeana. A politica propria ao dispositivo de escrita deste livro é compre- ensivel sem grandes comentarios. Os academismos restaurados de nosso fim de século se alimentam e alimentam a ordem existente com a afir- magao monétona de que o rigor do pensamento esta ligado a divisto estrita das disciplinas e das competéncias: velha logica platénica do pindev @A0, pelo qual a ordem do discurso ¢ a ordem das ocupagées sociais selam sua comunidade. Verificaremos aqui, pelo contrario, que nenhum. discurso ou saber se fecha sobre si mesmo senao por meio de algum com- plemento ou disjungao de escrita. Ja no Fedro, é uma narrativa que mostra ser a tinica apropriada para fundar o proprio da filosofia cele- brando o préprio lugar, esta “planicie da verdade” em cuja honra ne- nhum poeta jamais cantou, nem jamais cantara, um hino adequado. Do mesmo modo, a ciéncia marxista necessita de um teatro para despachar a ideologia; a historia, de um toque de literatura suplementar para negar a literatura; o liberalismo, de uma ilha de utopia para expulsar a uto- pia. Nao se trata de ver nisso alguma fatalidade da condigao sublunar ou alguma faléncia moderna ou pos-moderna do pensamento, mas sim, ‘ao contrario, a lembranga de que o seu proprio rigor s6 resulta da sua propria paradoxalidade. O proprio de um discurso nunca ¢ dito senao de um modo impréprio. O gesto que o delimita liga-se sempre a uma decisdo quanto a divisao da lingua ea divisao dos corpos. O pensamento nao pode nem renunciar a delimitagao desse proprio nem esquivar-se A imposigao pela qual essa delimitagao, de novo, o coloca fora dele mes- mo ¢ torna a colocar seu exterior no interior dele mesmo. Traduzido por Lais E.Vilanova 20 Jacques Raneiére tt NOTAS ICE Jacques Ranciére. A noite dos proletarios, trad. Marilda Pedreira, Sao Paulo, Companhia das Letras, 1988. 2William Wordsworth. The prelude or growth of a poet’s mind, livro 5, 45/47. 3stéphane Mallarmé, “Crayonné au théatre”, Exvres Completes, Paris, Gallimard, 1945, p. 294. ‘Friedrich Schelling. Systéme de lidealisme transcendantal. SPlarao. Leis, VII, 823 a. Cf. Jacques Ranciére, Os nomes da historia, tad. Eduardo Guimaraes ¢ Eni Pulccinelli, $0 Paulo, Educ/Pontes, 1994 ¢ La mésentente, Paris, Galillé, 1995. 7Marcel Proust. Contre Sainte-Beuve, Paris, Gallimard, 1971, p. 309. SCE. Constant Hilbey. Réponse d tous mes critiques, Paris, 1847. Stéphane Mallarmé. “La cour”, op. cit, p. 415. liticas da Escrita 21

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